Foi extinta a Companhia Indígena e criada, sua substituição, a Companhia Mista de Artilharia de Montanha e Infantaria, com sede em Bolama. Igualmente foi criado um esquadrão de dragões indígenas com sede em Farim.
1906/08/13
JOÃO AUGUSTO DE OLIVEIRA MUZANTY governador da Guiné até 29
de Junho de 1909 –
1.º
tenente da armada, provido por decreto de 8 de Junho de 1906, tomou posse em 13
de Agôsto. Veio à metrópole em 19 de Julho de 1907; regressou em 18 de
Novembro. Chamado pelo Ministro da Marinha e Ultramar, esteve em Lisboa mais
alguns meses durante o ano de 1908 e foi exonerado por decreto de 28 de Janeiro
de 1909. Durante a sua ausência, foram enearregados do governo os secretários gerais Côrte Real Pires e
Joaquim Guimarães.
O GOVERNADOR MUZANTY
João Augusto de
Oliveira Muzanty nasceu em Lisboa, na freguesia do Coração de Jesus, a 17 de
Outubro de 1872, e foi baptizado em 1 de Dezembro desse mesmo ano9. Era filho
de João Luiz Muzanty Júnior (1844-1904), então tenente do Estado-Maior, e de
Emília Cândida de Lacerda Pamplona Corte Real Betencourt de Oliveira Muzanty
(1847-1894), natural do Porto. Um tio paterno, Augusto Luiz Muzanty morreu
tenente-coronel na reserva em 14 de Janeiro de 1919. Assentou praça no corpo de
alunos da Armada em 5 de Novembro de 1888 como aspirante de 2ª classe de
Marinha e foi o 8º do seu curso, concluído em 1892. Guarda-marinha em189, foi
promovido a 2º tenente em 1895. Fez parte da guarnição da canhoneira “Liberal”
durante as campanhas contra os Namarrais e de Gaza, ambas em 1897, e foi
louvado pela forma como cumpriu o seu dever “embora não tivesse ocasião de se
distinguir durante as operações de guerra”. Foi depois comandante da
lancha-canhoneira “Capello”, no rio Limpopo, entre 17 de Março de 1897 e 8 de
Março do ano seguinte, regressando então a Lisboa. Em Janeiro de 1900. foi
nomeado chefe da comissão de limites da Guiné, tendo terminado o serviço de
delimitação, já 1º tenente (fora promovido em 1902) em Junho de 1905. Esteve
várias vezes em Lisboa, durante esses anos, por períodos longos mais ou menos
coincidentes com os períodos das chuvas na Guiné (Maio-Novembro). O profundo
conhecimento da Guiné que adquiriu durante esses anos justifica que em Junho de
1906 tivesse sido nomeado governador da Província, aonde chegou, nessa
qualidade, em 1 de Agosto seguinte. Manter-se-ia no cargo até 28 de Janeiro de
1909 (deslocou-se a Lisboa entre 20 de Julho e 17 de Novembro de 1907 e entre
15 de Julho e 1 de Dezembro de 1908).
Casara, entretanto, em Janeiro de 1907, com D. Amélia Vieira (de quem enviuvou
em Outubro de 1922).
Como governador,
Oliveira Muzanty organizou e comandou diversas operações militares (de 21 de
Março a 28 de Abril de 1907 no Oio, de 21 de Novembro de 1907 a 1 de Janeiro de
1908 no Geba, e de 19 de Março a 15 de Maio de 1908 na ilha de Bissau10, tendo
participado em combates como o de Gã-Turé (6/7 de Abril de 1908) e os travados
em Intim entre 4 e 11 de Maio de 1908, que foram os últimos das suas
expedições. Muzanty, não só foi louvado pelo “zelo, dedicação, inteligência e
infatigável esforço” com que exerceu o cargo de governador da Guiné, como lhe
foram concedidas, em 28 de Janeiro de 1909, o dia da sua exoneração, as honras
de «oficial às ordens de S. M. El-Rei “em atenção ao seu merecimento e aos
serviços que prestou como combatente da coluna de operações na Guiné em 1908”.
Por despacho publicado no Diário do Governo de 1 de Janeiro de 1910, foi
nomeado para fazer parte da comissão que ia estudar a organização da marinha
colonial e em Abril de 1910 recebeu dois louvores: a 7, “pelo zelo e
inteligência como se desempenhou na comissão que lhe foi cometida para estudar
a reorganização da Marinha na parte que diz respeito à polícia e fiscalização
das costas e rios das possessões ultramarinas” e a 22 “pelo zelo e inteligência
como se desempenhou do serviço que lhe foi cometido para estudar a
reorganização administrativa da província da Guiné”. Em 29 de Maio seguinte,
foi condecorado, juntamente com outros oficiais (de menor patente e, por isso,
em graus inferiores) com o grau de Comendador da Antiga e Muito Nobre Ordem da
Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, “por relevantes serviços prestados
nas operações realizadas na Província da Guiné em 1908”. Finalmente, a 1 de
Junho de 1910 foi encarregado do comando da canhoneira “Limpopo”, à qual seria
cometida a fiscalização da costa entre Lisboa e Viana do Castelo. O
vice-almirante Augusto de Castilho na “Informação para oficial em serviço em
terra”, com data de 5 de Julho de 1909, foi elogioso: “Este oficial, que tem
uma grande experiência do território da Guiné, esteve sempre muito afrontado
com o geral estado de guerra da província e não pôde porventura produzir o que
em condições de paz teria produzido. Tenho dele boa impressão.”
Todavia, pelo menos um
sector dos comerciantes portugueses da Guiné não apreciou a sua governação. Nos
jornais11 já haviam surgido várias insinuações, em correspondências da Guiné,
contra decisões do governador, mas o mais violento ataque foi desferido num
opúsculo12 intitulado Acudam à Guiné, dirigido “a S. M. El-Rei, aos Deputados
da Nação e Ao Povo Portuguez”, datado de Bolama 14 de Novembro de 1908,
publicado em Lisboa em Dezembro do mesmo ano e assinado pelo comerciante José
Monteiro de Macedo, que era também correspondente do Jornal do Commercio, onde
assinava com as iniciais J. B. M. M.. A publicação deste opúsculo foi provocada
– segundo diz o autor – pela notícia, “triste e desconsoladora” de que Muzanty
talvez fosse reconduzido no cargo de governador da Província, o que seria “uma
provocação lançada à face dos seus habitantes [...] a glorificação da
prepotência [...] um
UM SARGENTO DESCREVE AS
CAMPANHAS DE MUZANTY
Em 1937, o 2º sargento
reformado António dos Anjos publicou em Bragança um pequeno opúsculo com um
título longo: Resumo do que era a Guiné
Portuguesa há vinte anos e o que é hoje - Para cujo progresso muito contribuiu
o capitão de infantaria João Teixeira Pinto.
António dos Anjos – que
segundo ele mesmo diz só chegou à Guiné em Março de 1911, quase três anos
depois, portanto, do fim das campanhas de Muzanty - seguramente ouviu delas
falar e recorda-as. Embora não traga qualquer elemento novo para a sua
apreciação, não deixa de ser curioso ver como se lhe refere:
“ • Em 1907 travaram-se
divergências na povoação de Sançancuto (mais adiante escreve San-Sancuto) entre
o comandante militar de Bafatá, tenente Forte (sic) e o Régulo Infali Soncó,
chegando mesmo o régulo a prender o comandante de Bafatá, conservando-o preso
por algum tempo.
• Tendo conhecimento do
caso, um comerciante de Cabo Verde, de nome Pedro Moreira, que se encontrava
residindo próximo, dirigiu-se ao local, pedindo a Infali Soncó, para que
soltasse o referido comandante militar, o que foi prontamente atendido, sendo
desde logo posto em liberdade, o qual se dirigiu a Bambadinca e dali para
Bafatá.
• Pouco depois morreu o
régulo do Xime e o comandante então nomeou como encarregado deste regulado, um
outro indígena.
• Como os filhos do
régulo falecido não ficassem satisfeitos com a posse de um régulo estranho à
família de seu pai e à qual eles se julgavam com direito pediram ao régulo
Boncó auxílio para fazer guerra ao novo régulo, ao que este cedeu, fazendo-se
guerra um ao outro; e como neste combate não tivessem obtido bom resultado,
pediram também auxílio ao régulo Infali Soncó, o qual se prontificou a
auxiliá-los, travando-se então nova guerra, na qual andaram aproximadamente
dois dias.
• Chegaram então forças
militares vindas de Bissau pedidas pelo chefe do posto militar do Xime.
• As forças militares
começaram a fazer guerra com Boncó, na povoação de Campampe. Travou-se o
tiroteio e em pouco tempo estava tomada a povoação, tendo o Boncó de fugir com
a sua gente e ir juntar-se a Infali Soncó, para assim os dois régulos juntos
poderem oferecer maior resistência à força militar.
• A coluna atravessou o
rio Geba e foi a (sic) atacar o Infali Soncó e Boncó, travando-se o combate na
povoação de San-Sancuto, residência do Infali.
• Nesta povoação, os
dois régulos juntos ofereceram grande resistência, mas vendo que tinham certa a
derrota, fugiram indo refugiar-se no Oio. Durante a guerra, planearam uma
traição à canhoneira, com o fim de massacrarem a tripulação!
• Certo dia, indo a
canhoneira Cacheu rio abaixo no porto de Tamba Cumba, encontrou um paiolão (em
nota o autor diz que se trata de uma árvore produtora de sumauma) tombado sobre
o rio e uma corrente de ferro amarrada numa e outra margem com o fim de à
chegada da canhoneira não poder esta avançar.
• Quando ela chegou foi
alvo de muitos tiros que fizeram duma das margens. Os marinheiros deram toda a
força à máquina e a canhoneira arrebentou a corrente e seguiu viagem, mesmo
furada por um tiro.
• Em 1908 nova coluna
de operações veio da Metrópole para bater os Papeis, onde vinha incorporada uma
Companhia de Infantaria 13 de Vila Real de Trás-os-Montes.
• Esta coluna desembarcou
em Bissau e seguiu até ao alto do Intim, Bandim e Contum, mas o comandante da
artilharia terminou por dar as peças incapazes, retirando então a coluna para
Bissau.
• Nesta coluna tomou
parte também a Companhia Mixta da Guiné. A coluna esteve algum tempo acampada
em Intim.
• Durante este tempo, o
alferes Duque avançou com um destacamento em serviço de reconhecimento até à
povoação de Contum; então o gentio aproveitou a ocasião para atacar aquela
pequena força, sendo morto naquela
povoação o referido alferes Duque.
• Aquela pequena força,
mesmo já sem comando, conseguiu fazer a retirada em ordem de Contum a Intim,
além de ser perseguida pelo gentio; por isso foram retirando e combatendo
sempre à medida que o gentio se lhe aproximava.
• Nesta coluna houve as seguintes baixas: Mortos, o alferes Duque e dois
soldados indígenas. Feridos, o capitão Montalvão e 2 soldados de Infantaria 13;
um soldado europeu da Companhia Mixta e dois soldados indígenas.
• Estas operações foram
comandadas pelo governador Mozanti (sic).”
No seu opúsculo, o
sargento António dos Anjos refere ainda expedições e combates posteriores às
acções da campanha:
• Também em 1908, encontrava-se de administrador e
comandante militar na vila de Farim, o alferes Augusto José de Lima Junior
(natural de Cabo Verde).
• Os balantas como o
seu ideal era roubar, desde longo tempo vinham roubando os transeuntes, indo
mesmo roubar os mandingas às suas povoações, indo também roubar à vizinha
colónia francesa e lá mesmo assassinavam para roubar.
• Em vista disto, o
governador da colónia francesa mandava queixas ao governador da Guiné, onde
pedia providências; queixas estas que o governador transmitia ao comandante
militar de Farim, dizendo-lhe que empregasse todos os meios ao seu alcance, a
fim de pôr termo àquele estado de coisas.
• Eram chamados à
obediência pelo comandante militar, por meios suaves os balantas daquela
região, mas não obedeciam.
• Com respeito ao pagamento do imposto de palhota, nem nisso pensar!
eram baldados os esforços empregues pelo comandante, respondendo com modos
provocadores a todos os convites feitos por ele.
• O alferes Lima organizou então uma coluna de operações, composta de
todo o destacamento militar de que era comandante.
• A coluna tinha a
seguinte composição: comandante da coluna, o comandante militar e
administrador, alferes Lima; dois 2ºs. sargentos: um segundo sargento
enfermeiro, quatro cabos europeus; cinquenta soldados europeus, trinta soldados
angolenses e quinhentos auxiliares indígenas.
• A tropa estava armada
de espingardas Kropatschek e os auxiliares de espingardas Snider.
• O governador, em
vista do revés que acabava de ter a coluna, nos Papeis, receava autorizar o
alferes Lima a bater aquela região para obrigar os indígenas rebeldes a
submeterem-se à nossa soberania. No entanto, em vista das constantes
insistências que lhe eram feitas pelo referido alferes Lima, autorizou-o.
• Eram 5 horas do dia 8 de Junho.
• A coluna pôs-se em
marcha, indo pernoitar na povoação de Bubor, que encontrou despovoada, tendo-se
o gentio escondido no denso mato próximo à povoação e de lá observava todos os
movimentos que a coluna fazia.
• No dia 9, saíram para
explorar o caminho, alguns cavaleiros, encontrando o chefe da povoação de
Simbor, que foi preso e conduzido para bordo de uma lancha do Estado que se
encontrava ancorada no porto de Sam-Sancuto.
• No dia 10, levantou o
acampamento de Bubor, passando pelas povoações de Simbor, Sambuiá e Talicó, que
se achavam desertas, tendo os habitantes ido para Samage.
• Esta povoação estava
fortificada com três ordens de paliçada de pau-ferro e pau-carvão (em nota de
pé de página o autor informa que se trata de árvores de madeira muito
resistente) onde todos os indígenas da região se encontravam concentrados.
• Na altura em que a
coluna chegou à povoação de Samague, os balantas não querendo ir à fala com o
respectivo comandante, que, com intuitos pacíficos, tentava chamá-los à ordem,
responderam com ameaças, prometendo torcer o pescoço ao mesmo comandante e
correr com a força do comando deste, até ao limite das suas terras.
• Nesta altura foi dado
o ataque decisivo, travando-se renhidos
combates com as nossas forças durante 8 horas, pois que começou às 8 horas,
aproximadamente, tendo terminado às 16 com a vitória para as nossas armas e fugindo
o gentio espavorido para o norte, perseguido pelos auxiliares e, dali a pouco,
estava a povoação ardendo em chamas.
• As nossas forças tiveram 27 baixas, entre mortos e feridos, sendo 8
mortos e 19 feridos, um dos quais foi o 2º sargento António Joaquim Pereira, em
virtude do que foi reformado.
• Da parte dos rebeldes
houve cerca de 500 baixas.
• Três dias depois
apresentaram-se eles a pedir paz, prometendo não voltar mais à prática dos seus
desmandos e violências, o que efectivamente se provou ser verdade visto que não
mais deixaram de acatar as ordens dadas pelas autoridades, pagando sempre o
respectivo imposto de palhota e a multa de guerra de 300 vacas que no momento
da sua apresentação lhe fora imposta.
• Esta acção militar
que teve como efeito o sossego da região de Samoge, limítrofe do território
francês, foi muito apreciado e elogiado num jornal de Dacar, em artigos
escritos pelo então administrador de Sediu, Monsieur Brocard.
• Terminadas estas
operações, como estímulo ao grande feito de armas, foi o alferes Lima –
actualmente capitão reformado – condecorado com a medalha da Torre e Espada.”
1907
VIRIATO GOMES DA FONSECA: nasceu em 13 de Dezembro de 1863, natural da freguesia de Santo Antão. Militar, engenheiro, músico, erudito, deputado, foi o único negro que chegou ao posto de general exército português e provavelmente de um exército europeu. Fez a maior parte da sua carreira em Cabo Verde.(…). Foi nomeado Comandante Militar da Ilha de S. Vicente em 1904, onde foi indicado para membro do júri de exames da instrução primária e, em 1907. Sendo presidente da Câmara Municipal do Mindelo, coube-lhe fazer o discurso em honra de Sua Alteza real, o Príncipe D. Luíz. Foi destacado para Guiné em 1907. Em 29 de Abril de 1909 terminou a sua comissão na Guiné e foi colocado de novo na sua terra natal e nomeado administrador do concelho da ilha de S. Antão. (Cf OLIVEIRA, 1998)
1907/01/18
Ordenou Sua Majestade EI-Rei que as praças condenadas a deportação militar pelo Conselho Territorial da Guiné sejam destinadas ao batalhão disciplinar de Angola.
1907/03/00
1907/07/19
JOAQUIM CORTE REAL PIRES interino de Muzanty até 18 de Novembro de 1907
1907/07/29
A rebelião do régulo beafada lnfali Soncó, que aliciara os
régulos de Badora, Corubal, Cossé, Gussará e Pachisse, originou a declaração do
estado de guerra da
região de Cuór.
«Mas a insubordinação
mais grave foi aquela que se registou na região de Cuór, sendo necessário
declarar o estado de guerra desde 29 de Julho de 1907, em conseqüência de uma
das maiores ofensas feitas pelo gentio às nossas autoridades. (Relatório do
governador Muzanty, n'o, Arquivo Histórico Colonial).
O régulo biafare de
Cuor, Infali Soncó, promovia uma rebelião contra o nosso govêrno, de combinação
com Boncó, chefe de Badora e com aquiescência dos régulos Dembage de
Corubal, Guelage de Cossé, Ierobiri de Gussorá e Asmane de
Paxisse.
Manifestaram-se contra
estas combinações os chefes Abdulai de Xime, Cihernó Cali de
Forreá e Monjuro de Gabu. Por isso o regulado de Xime foi diversas vezes
atacado pelos seus adversários, tendo, porém, resistido com valentia.
O plano do régulo de
Cuor era impedir a navegação no rio Geba e cortar as relações comerciais com
Bissau. Para aliciar partidários a seu
favor o régulo prometia libertar a região do imposto de palhota e
estabelecer relações com os centros comerciais franceses do interior.
Este Infali Soncó foi um dos
elementos mais perniciosos.que teve a Guiné, não tanto pelo seu poder
militar, como pela sua extraordinária duplicidade e engenho com que soube
enganar as nossas autoridades durante muitos anos.
Até 1895 os biafares de uma e outra margens do rio Geba reconheciam
a autoridade do régulo Galona, que fôra um grande auxiliar nosso,
nomeadamente nas guerras contra os papéis de Bissau. Depois da morte de Galona,
o reino dos biafares desmembrou-se e, com assentimento do nosso Govêrno, foi
escolhido Infali Soncó para chefe da Cuór, na margem direita de Geba.
Já vimos no capítulo XVIII como a traição dêste beafare motivou
a retirada da coluna que foi bater o Oio em 1897. Na segunda campanha contra os
oincas, empreendida pelo governador Biker em 1903, Infali Soncó, não sómente se
absteve de auxiliar as nossas fôrças, mas até ajudou os oincas acolhendo as
mulheres, crianças e gado que os soninqués punham a seguro nas tabancas do seu
aliado.
Não obstante tudo isto Infali Soncó conseguiu enganar as
autoridades de Bolama, a pontos de o governador interino, Lapa Valente, ter-lhe
emprestado 40 espingardas modernas e 10.000 cartuchos.
Com a posse do governador Oliveira Muzanty, foi nomeado comandante de Geba o 2.º tenente Proença
Fortes. Êste oficiail procurou desarmar o régulo Soncó e convidou-o a
enviar aquele armamento para o pôsto militar sob pretexto de que ficaria ali
mais seguro do que nas palhotas.
Infali, não encontrando razões para justificar a recusa,
devolveu as armas e 3.000 cartuchos, mas não perdoou ao comandante de Geba
esta... partida. Doutro lado, vendo que o Govêrno dre Bolama mudava de atitude
a seu respeito e tencionava abater-lhe o prestígio, Infali resolveu jogar a
última cartada e assim preparou hàbilmente uma sublevação geral dos chefes
fulas a que atrás nos referimos.
Logo que se sentiu suficientemente armado o régulo de Cuór
começou a desrespeitar as nossas autoridades. Em 29 de Maio de 1907, o tenente
Fortes foi a Sambei Nhanta, tabanca do régulo, com o fim de inscrever na matriz
predial as casas dos grumetes,
acompanhado do es.crivífo de fazenda Sales, alferes Baeta, um cabo e um
comerciante.
Em. certa altura
viram-se cercados por muitos guerreiros e cruzaram com o Infali a cavalo, que
não se dignou desmontar nem interromper a sua marcha. Mas adiante encontraram um judeu que com as suas marimbas impedia a
passagem. Como o residente Fortes tentasse afastá-lo, o indígena agrediu-o,
juntando-·se, logo a seguir os guerreiros de lnfali.
O alferes Baeta caiu prostrado com uma pancada que lhe
deram. O tenente Fortes foi preso, maguado e conduzido para a casa do fanado
(circuncisão) , donde conseguiu sair após algumas horas, graças à
intervenção amigável do comerciante caboverdeano Pedro Moreira.
O castigo desta
insolência tardou alguns meses, emquanto não chegavam as fôrças expedicionárias
requisitadas para a metrópole.
Entretanto o gentio
dificultava cada vez mais a navegação entre Bissau e Bafatá, assaltando os
navios e chegando a construir abrigos ao longo do rio, com o fim de atacar a
lancha-canhonheira Cacheu que se empregava no serviço de policiamento,
sob o comando do 2.º tenente Carlos Guimarãis Marques.
Em vista do estado
alarmante da insubordinação que ameaçava propagar-se a outras tribus, o
governador Muzanty resolveu intervir imediatamente, servindo-se dos limitados
recursos que tinha na colónia. Organizou-se assim uma coluna em que entravam,
além do comandante, os oficiais Teixeira de Barros, (chefe do E. M.), tenentes
Taborda de Azevedo e Costa, José Francisco Monteiro; Albuquerque Rocha,
comandante de um destacamento de 58 praças da marinha; alferes Raul Ferreira da
Costa, comandante do trem e combóio; tenente Silveira Machado, dos serviços
administrativos.
A coluna desembarcou em
Xime no dia 28 de Novembro de 1907, juntando-se os soldados do pôsto militar e
os auxiliares do régulo Abdulai. No dia seguinte dirigiu-se para Vilingará. Em
1 de Dezembro marchou sôbrê Campape, tabanca fortificada, onde o gentio fizera
concentrar a sua resistência. Os nossos soldados caíram sôbre o inimigo
desalojando-o em pouco tempo. Os indígenas fugiram precipitadamente para o
mato, deixando na tabanca 13 cadáveres. Durante a perseguição feita pelos
auxiliares foram mortos o régulo rebelde Dembage de Corubal e um dos seus
filhos.
No dia seguinte
estabeleceram-se as comunicações com Bambadinca, tendo-se encontrado no
trajecto as aldeias abandonadas pelo inimigo, mais ou menos .fortificadas. O
régulo Boncó tinha-se refugiado com a sua melhor gente na margem.
direita do Geba, indo alojar-se no território do seu aliado lnfali Soncó.
Durante êste tempo, a
lancha-canhoneira Cacheu forçava a passagem do rio que estava cortada e
obstruída por um cabo de arame farpado, tendo sido nesta ocasião fortemente
atacada pelo gentio que perfurou o seu costado. Houve seis feridos a bordo.
O resultado da primeira
fase da campanha foi libertar os portos de Xime e Bambadinca; sufocar a
rebeliào dos régulos de Badora, Cossé, Bolóli e C-0rubal; assegurar as comunicações por terra entre Xime e Bafatá e isolar o núcleo rebelde de
Cuór. Mongurn, régulo de Gabú, e Chernó Cali, de Forreá vieram com grande
aparato apresentar-se ao governador Muzanty.
Passados três meses
logo que chegaram as fôrças .expedicionárias enviadas da metrópole e de
Moçambique, foi constituída a «coluna de operações da Guiné» com os seguintes
elementos:
Comandante: governador
Oliveira Muzanty.
Estado Maior: capitão
Ilídio Nazaré, tenentes José da Serpa Pimentel, António Taborda, Aníbal Coelho
Montalvão e alferes Raúl Costa. Administração Militar: capitão Joaquim Simões
da Costa e tenente Silveira Machado. Serviço médico : Dr. António Marques
Perdigão, Augusto Regala e Manuel Suzano.
Fôrças navais, sob o
comando do capitão-tenente António Silveira Moreno, compreendendo uma companhia
de marinha com 135 praças e oficiais Silveira Estrêla, Francisco Monteiro,
Albuquerque Rocha e· Frederico Pinheiro Chagas.
Uma bateria de
artilharia com 70 praças e os oficiais ;Viriato Fonseca, Luiz
Nunes da Ponte e Carlos Gortez.
Uma companhia de
infantaria composta de 193 praças e os oficiais Jorge Veloso Camacho, Dinisio
de A1lmeida, Raúl Sepulveda Rodrigues e Vítor Duque.
Uma companhia mixta
europeia com 101 praças tendo como oficiais Botelho Moniz, Caldeira Marques e
Afonso Henriques Xavier.
Auxiliavam a coluna as
canhoneiras D. Luiz e Zambeze, o.transporte Salvador Correia e
a esquadilha da Guiné.
O objectivo desta
coluna era castigar primeiro o régulo Infali Soncó e depois os papéis de
Bissau, pensando-se também em estender a sua acção a outros pontos, e
nomeadamente à região insubmissa de Oio.
Em 1 de Abril as fôrças
concentraram-se em Xime, seguindo dali para Bambadinca. Neste ponto
atravessaram o rio Geba e, desembarcando na região de Cuór
marcharam sôbre a povoação de Ganturé que conquistaram após alguma resistência.
No dia 7, a coluna seguiu para Sambe! Nhanta, mas encontrou a tabanca
abandonada pelo inimigo, que se refugiara na região de Oio, abrigando-se no seu
,espesso mato.
Continuando a sua acção
as fôrças tomaram a aldeia de Madina e Gam,-sapateiro, onde .foi estabelecido
um pôsto militar.
As tropas
expedicionárias permaneceram em Caranquecunda até ao dia 21 de Abril. Os outros
régulos da região aguardavam e resultado da guerra para se manifestar a favor
do vencedor..
Em vista da fuga de
Infali Soncó, trataram de enviar emissários protestando a sua obediência e
amizade ao Govêrno português.
Os régulos Ierobiri e
Sarna Iorondim apresentaram-se pessoalmente no acampamento. Como resultado
desta campanha apressou-se o pagamento do imposto de palhota na região,
cobrando-se a importância de 46 contos de réis.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ
1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 348-352
1907/08/31
Foram extintos o
Esquadrão dc Dragões Indígenas e as Companhias Mistas de
Artilharia de Montanha e Infantaria, c criada uma Companhia Indígena de Atiradores com sede em Cacheu.
1907/11/00
Em Novembro de 1907, o Governo da Guiné chegou a prender e a expulsar
dois agentes comerciais franceses (René Scheult da CFAO e Michel Charliot da
Comp" Francesa de Comercio Africano) por desobediência às ordens de
encerramento de feitorias, respectivamente em Bambadinca e em Chime.
AHDMNE, 3º P.,A.8, Maço 34. Provincia da Guiné Portuguesa. Auto de Corpo de
delicto indirecto
1907/11/20
Louvado o guarda-fios DOMINGOS CORREIA BARBOSA que, por sua
iniciativa, sozinho e com risco da vida, concertou o fio telegráfico que tinha sido cortado pelo
gentio rebelde da região de Corubal.
1907/11/21
Constituída a coluna de operações na circunscrição de Geba.
1907/12/01
A coluna de operações organizada pelo governador Muzanty cai sobre a povoação
fortificada de Campampe, desbarata os rebeldes partidários de lnfali Soncó, mata o régulo Dembage e estabelece as comunicações com Bambadinca.
1908
JOAQUIM JOSÉ DUARTE GUIMARÃES interino de Muzanty
1908/01/14
Louvados os componentes desta coluna em especial
os oficiais e praças seguintes:capitão-tenente
ALBERTO ANTÓNIO DA SILVEIRA MORENO, 1.0tenente LUÍS BERNARDO DA
SILVEIRA ESTRELA, capitão JOSÉ XAVIER TEIXEIRA DE BARROS, médicos navais de 1ª
Louvado muito
especialmente o capitão JOSÉ XAVIER
TEIXEIRA DE BARROS pelo sangue frio, coragem e valor de que deu provas no
ataque a Campampe .. Idem, idem, o 2.°
sargento do Corpo de Marinheiros FRANCISCO AVELINO, pela forma como se portou
no referido ataque, Idem, idem, o 2.°
tenente CARLOS PRIMO GUIMARÃES MARQUES, pelo valor, coragem, brio e
inteligência com que se houve no comando da lancha-canhoneira «Cacheu»
suportando o violento ataque do gentio do Cuór, que pretendia impedir a passagem
do navio, lançando no rio vários obstáculos, entre eles um cabo de arame de uma
a outra margem; e pelo mesmo serviço o médico naval JOSÉ ANTÓNIO ANDRADE SEQUEIRA, 2.° tenente SEBASTIÃO JOSÉ
DE CARVALHO DIAS, I." condutor de máquinas ANTÓNIO RODRIGUES DA COSTA,
cabo fogueiro FILIPE DE BARROS e 1.º artilheiro
JOAQUIM INÁCIO
1908/01/22
«Além das campanhas de
Cuór e Bissau, houve diversas outras operações militares durante o ano de 1908.
No mês de Janeiro,
revoltaram-se os beafares de Quínara, por instigação e auxílio do gentio
derrotado em Xime e Badora.
Começaram por atacar e
roubar as povoações submissas, prenderam um comerciante europeu e, finalmente,
cortaram a linha telefónica que ligava Bolama com o comando de Buba.
Em 15 daquele mês,
apresentou-se na capital o chefe Sanhá, úm dos régulos de Quínara, a pedir
armamento para se defender contra os revoltosos, que dizia ser um bando de
gatunos. Como até àquela data tivesse sido um chefe fiel ao Govêrno, foram-lhe entregues
20 armas Snyder's com munições.
Ao mesmo tempo, foi
organizado um destacamento mixto, sob o comando do chefe do E. M., Ilídio
Nazaré, com praças da canhoneira D. Luiz, soldados indígenas e
auxiliares.
Estas fôrças partiram
de S. ]oão no dia 22, indo pernoitar em Gansegá. No dia seguinte,
continuando a marcha, tomaram a povoação de Farancunda, desalojando dali o
inimigo. Notaram então que os beafares serviam-se de armas aperfeiçoadas,
chegando à conclusão de que o régulo de Gansanhã nos havia traído, indo
entregar aos revoltosos as espingardas recebidas em Bolama.
Não obstante as
dificuldades encontradas, a coluna marchou até Gansanhá e destruíu a
tabanca do régulo, que havia desaparecido. Regressou no dia 25, depois de uma
marcha acidentada.
Durante o mês de
Fevereiro, estando o residente de
Cacheu, tenente Anastácio Lemos, na aldeia de Bolôr no acto de cobrança do
imposto, vieram os felupes de Varela ameaçar os moradores daquela povoação,
instigando-os a não satisfazer o imposto, pois também êles o não faziam, nem
obedeciam às ordens do Govêrno.
Para castigar os
insolentes de Varela, foi constituída, sob
o comando do capitão J. C. Botelho Moniz, uma coluna mixta com 21 praças europeias (deportados), 38
atiradores indígenas e 80 auxiliares. Êste destacamento, transportado
pela canhoneira D. Luiz, chegou a Bolôr no dia 12 de Março.
Seguiu dai para a
povoação de Varela, que destruiu totalmente, incluindo uma provisão importante
de arroz e coconote armazenada pelos felupes, na impossibilidade de a
transportar para os navios. Antes de regressar, o destacamento procedeu ao
desarmamento das povoações de Jufunco e Egine.
Foi bastante eficaz a
acção contra Varela, facilitando a cobrança do imposto entre os felupes de tôda
aquela região.
Nos fins de Março, a
canhoneira Zambeze foi de Bissau a Cacheu e dali para Canja levando a
bordo o residente Lemos e. uma fôrça de guardas, que, desembarcando na povoação
que ainda ficava distante do rio, sob protecção da canhoneira, fizeram
prisioneiro um chefe, apreenderam bastante gado e destruíram a tabanca.
Juntamente com o residente iam o 2.º
tenente Weinholtz Bivar, o comissário Machado Santos, o aspirante Aranha e
algumas praças de marinhagem ... » (Guiné, por Pinheiro Chagas).
A pacificação da região
de Canja e Samoge foi depois completada pelo comandante de Farim, tenente Augusto José de Lima Júnior, que por
êsse facto foi condecorado com a Ordem da Tôrre. e Espada.
Ainda durante o ano de
1908, mas depois da partida do governador Muzanty, empreenderam-se outras acções militares.
Uma fôrça de
marinheiros e auxiliares sob o comando do 2.º tenente Casal Ribeiro, em
17 de Novembro de 1908, efectuou o desembarque nas proximidades de Góli e
atacou de surpresa os balantas de Cunhicumba e Chumbel, que como de costume
praticavam roubos e devastações sem atender à admoestação das autoridades.
As nossas fôrças
tomaram e incendiaram as aldeias de Cunhicumba, Chumbe!, Blassi, Assagre e
Nhafó. Nas refregas os balantas deixaram 110 cadáveres, tendo abandonado na
fuga o seu gado, armas e pólvora. A nossa coluna teve 8 feridos.
Esta importante
operação feita sem alarde contribuiu para que se apresentassem a bordo da
canhoneira Lurio os chefes das povoações balantas situadas entre Góli e
Bindoro.
Todavia os balantas não
se dando por vencidos definitivamente, prepararam em silêncio uma ofensiva
contra o pôsto de Góli. No dia 21 de Fevereiro de 1909 atacaram êste pôsto,
durando o tiroteio das 7 às 12 horas. Foi ferido um dos soldados.
Em 25 o pôsto foi
reforçado com novos oficiais, 70 praças, artilharia e serviço médico. Veio em
auxílio Abdul Injai que tinha sido nomeado régulo de Cuor.
Estabeleceu-se a
ligação com o pôsto de Cunhicumba. A acção mais importante foi no dia 4 de
Março em que saíu de Góli um destacamento mixto como o objectivo de bater as
povoações até Nhafó. Os balantas começaram a envolver a coluna, mas esta não
deu tempo a que o cêrco se completasse e, avançando em direcção de Blassí,
levou o inimigo à frente. Os balantas com receio de maior derrota fugiram para
o mato. Os auxiliares destruiram então várias tabancas.
Por decreto de 21 de
Maio de 1909 foram agraciados com grau de oficial da Ordem da Tôrre e Espada, o
capitão Ilídio Nazaré e o 2.º tenente Carlos Primo J. Marques, e com o grau de
cavaleiro o 2.º cabo da Companhia de Atiradores, Henrique Gomes de Almeida.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ
1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 355-358
1908/02/08
Louvados pela coragem e
sangue frio de que deram provas no
combate de Campampe em 1-12-1907e nas marchas de 29-11e 2-12os 2.os tenentes ANTÓNIO E. TABORDA DE AZEVEDO
E COSTA, JOSÉ FRANCISCO MONTEIRO e DAVID ALBUQUERQUE ROCHA, alferes RAUL C. F. DA COSTA: médico EDUARDO PEREIRA DO VALE, tenente FREDERICO SILVEIRA MACHADO,
2.° artilheiro JOSÉ DIAS e corneteiro
ANTÓNIO GOMES.
1908/02/19
Louvado o capitão-tenente ALBERTO SILVEIRA MORENO,
comandante da canhoneira «D. Luís», pela maneira como se houve nas operações
combinadas de S. João.Idem, o capitão ILÍDIO
MARINHO FALCÃO DE CASTRO NAZARETH, comandante do destacamento mixto para operar
no território de Quinará, especializando-se o valor demonstrado nos combates
de Fulacunda e nas escaramuças de Gansegá e nas marchas de 23 e 24-1,
executadas sempre debaixo de intenso fogo do inimigo.
1908/03/07
Organizado um destacamento misto, apoiado pela canhoneira
«D. Luís», para castigar o gentio de Varela.
1908/03/19
Organizada uma coluna sob o comando do governador
Muzanty para proceder à pacificação e à ocupação militar da Província.
1908/03/24
Louvado o capitão JOSÉ CARLOS BOTELHO MONIZ, comandante do destacamento misto contra
o gentio de Varela, pela coragem, acerto e inteligência e valor de que deu
provas. Idem, idem, os oficiais que tomaram parte nesse destacamento, 2.0 tenente JOSÉ FRANCISCO
MONTEIRO, tenentes RODRIGO ANASTÁCIO TEIXEIRA DE LEMOS e JOÃO CALDEIRA marques
e tenente médico ANTÓNIO DE FREITAS FERRAZ. Idem, o comandante da canhoneira
«D. Luís», capitão-tenente ALBERTO A. SILVEIRA
MORENO.
1908/05/04
Louvado o tenente RODRIGO A. TEIXEIRA DE LEMOS, residente de Cacheu, pela coragem e
energia e zelo com que conseguiu capturar
o régulo revoltado de Samoge e fazer a cobrança do imposto nas povoações da
sua circunscrição.
«Tendo deixado em
Gam-Sapateiro um destacamento de 70 homens, as fôrças concentraram-se no dia
25, em Bissau, afim de continuar o plano de operações previstas contra os
papéis.
Convidados os chefes
indígenas a fazer o pagamento do imposto em dívida, alegaram várias desculpas e
apresentaram uma quantia insignificante para satisfazer a importância de 9 contos
de réis, em que estavam arrolados.
Terminado o prazo
concedido para a resposta definitiva ,e não se notando da parte dos papéis o
mais leve sinal de boa fé e submissão, o governador resolveu .fazer o ataque
que estava projectado. As fôrças destinadas a esta acção compunham-se de 30
oficiais, 490 pracas europeias, 150 africanas, 30 auxíliares grumetes, 90
turancas, 4 peças de artilharia e 220 carregadores.
Em 4 de Maio de 1908,
depois do prévio bombardeamento feito pelas canhoneiras D. Luiz e Zambeze;
a coluna de operações saíu da praça em direcção a Intim, sendo durante o
trajecto intensamente atacada pelos papéis protegidos pelas escavações do
terreno e troncos de árvores. Depois de um combate de 3 horas alcançou as
povoações de Intim e Bandim, ·que foram desruídas. Tivemos 1 morto e 11
feridos.
No dia séguin'te, desde
as seis horas da manhã, a fôrça instalada no alto de Intim foi constantemente
atacada. Enquanto o grosso da coluna repelia estes assaltos, a companhia de
Infantaria 13, com 80 auxiliares, tomou a aldeia de Contumo, destruindo cêrca
de 400 palhotas e batendo os seus numerosos defensores. Nesta refrega houve 1
morto e 10 feridos; entre estes o tenente Montalvão, na perna, e o alferes Vítor Duque na cabeça. Êste
último, transportado· a Bissau com outros doentes, veio a falecer no dia
seguinte.
De 7 para 10 de Maio a
coluna permaneceu em Intim. Fazia parte do plano de operações a conquista da
povoação de Antula, mas havia uma nítida inferi-oridade numérica entre as
nossas fôrças e os papéis e balantas conjugados; surgia, além disso, o receio
de que o inimigo atacasse pela retaguarda a vila de Bissau, cuja defesa se
considerava insuficiente.
« ... Reuni os
comandantes das unidades, o chefe, e sub-chefe do estado maior na manhã de 9
... Todos foram unânimes em se renunciar à marcha sôbre AntuIa; e à excepção de
dois, os mais opinaram p.ela retirada imediata sôbre Bissau, atendendo a que
não havia tempo para a projectada construção do pôsto de Intim». - (Muzanty
).
Fícou, por isso,
resolvido fazer-se a retirada no dia 11. Mas, na véspera à noite, a posição foi
envolvida por um grande número de papéis, que ao mesmo tempo incendiaram o
bairro dos grumetes. O inimigo atacou a ·coluna com grande violência da
meia-noite até às 4 horas da madrugada, mas foi repelido com grandes perdas.
Pela manhã refugiou-se no mato. As nossas fôrças tiveram dois feridos, por se
encontrarem protegidas pelos abrigos e escuridão da noite.
No dia 12 a fôrça
recolheu à praça de Bissau. A maior parte dos expedicionários embarcou em 20 de
Maio para Lisboa e a coluna foi dissolvida em 2 de Junho. Em 16 de Maio
publicava o governador uma portaria mantendo o estado de sítio em toda a ilha e
proibindo as transacções comerciais com os papéis.
Entretanto, devido às
notícias alarmantes espalhadas pela via telegráfica, apresentaram-se no pôrto
de Bissau os cruzadores Mutine, da marinha britânica, .e Cassard de
nacionalidade francesa. O navio britânico retirou-se logo que foi informado da
situação pelo governador da colónia, mas o cruzador francês Cassard permaneceu
alguns dias no pôrto, sob pretexto de dar protecção aos súbditos franceses.
As fôrças
expedicionárias europeias, que já começavam a ter muitas baixas por doença,
recolheram para a metrópole, ficando apenas na colónia a Companhia dos macuas
de Moçambique.(a)
(ª) Sôbre as campanhas
de Geba e Bissau foram publicados pelos srs. F. Pinheiro Chagas e Luiz Nunes da
Ponte dois livros, Na Guiné e A Campanha da Guiné, cuja leitura
interessa sobretudo a militares e àqueles que, por dever do cargo, tenham de
intervir na organização ele expedições coloniais.
Conquanto não tivesse
sido decisivo o efeito das operações levadas a cabo durante o mês de Maio, elas
produziram uma forte depressão moral nos indígenas, sobretudb pelo grande
numero de baixas que sofreram. Seguiu-se-lhe um período de mais de um ano em
que estiveram quási interrompidas as relações entre a praça e o gentio de
Bissau.
Só depois da retirada
do governador Muzanty é que os papéis se resolveram a entrar em negociações
para um entendimento com as nossas autoridades, por intermédio de Graça Falcão
.e outros comerciantes de Bissau. Estas negociações terminaram com a celebração
do auto de vassalagem prestado pelos régulos de Intim (Tunga) e de Antula
(Oboli), perante o governador Francelino Pimentel, em 14 de Agôsto d.e 1909.
Fo'ram estabelecidas as
seguintes condições: 1) Os papéis não entrariam em guerra com outros povos sem
autorização do Govêrno. 2) Prestariam auxílio ao Govêrno quando chamados
a castigar quaisquer tríbus insubmissas,, ficando neste caso com direito a
metade das presas feitas em gado e géneros. 3) Prestariam auxílio no
estabelecimento de postos militares, abrindo caminhos mediante o salário diário
de 100 réis. 4) Pagariam o imposto de 1$500 réis por cada palhota, recebendo
os chefes 5 % da quantia cobrada. 5) Finalmente obrigavam-se a prestar
obediência ao Govêrno, defender ·e respeitar a bandeira, a qual com o
cerimonial do costume foi entregue aos dois régulos como os mais importantes da
ilha. (Boletim Oficial).
A celebração dêste
acôrdo foi festejada em Bissau com grandes manifestações de regosijo tanto da
parte dos comerciantes, como do lado dos indígenas, que apesar de tudo
se sentiam prejudicados com o corte das relações comerciais
com a praça.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ
1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 352-355
1908/05/05
Foi ferido gravemente o alferes de infantaria VÍTOR DUQUE
no assalto à «tabanca» de Contume levada a efeito pela coluna de operações cujo
efectivo de 200 homens destruíra antes 400 palhotas depois de bater os seus
defensores.1908/06/29
A pacificação da região de Canja e Samoge foi completada
pelo comandante de Farim, tenente AUGUSTO JOSÉ DE LIMA JÚNIOR, o qual, por
esse facto, foi condecorado com a ordem da Torre e Espada.
A expedição punitiva
contra os Balantas de Samoje integra-se neste contexto, visto que, no
seguimento de incidentes ocorridos, entre 14 de Abril de 1905 e 19 de Dezembro
de 1906, se realizou a pedido das
autoridades francesas. Estas acusavam os habitantes de Samoje de terem roubado
gado a populações fulas em território da África Ocidental Francesa e provocado
uma morte. No entanto, o inquérito instaurado pelas autoridades portuguesas
chegou a conclusões diferentes, isentando de culpas a maioria dos habitantes de
Samoje, mas acusando-os de cumplicidade, por não terem entregue os culpados. O
chefe de Samoje foi investido "da responsabilidade de todos os fastos que
viessem a succeder e aguardando occasião propicia para lhe dar lição de
maior vulto". A aldeia, corno veremos, acabou por sofrer um castigo
exemplar, tendo sido mortos 29 homens e preso o chefe da tabanca de Simbor,
"reconhecido ladrão d'aquelas paragens".
Encontrámos aqui o
motivo da expedição contra Samoje, organizada pelos tenente Augusto José da
Lima Júnior, administrador e comandante militar da Residência de Farirn e
que René Pélissier classifica como "a mais misteriosa das operações".
Este oficial partiu, a 29 de Junho de 1908, à frente de uma força composta
por portugueses e auxiliares africanos. Após uma marcha recheada de alguns
incidentes chegaram a Samoje onde foram recebidos por um forte tiroteio, que
durou cerca de dez minutos". Não ripostaram, porque por um lado, o
comandante português queria falar com os chefes e por outro, dada a distância
a que se encontravam da povoação o seu poder de fogo se revelava inútil. Após o
malogro das conversações travou-se uma batalha de fogo cerrado, durante duas
horas e 15 minutos, tendo as tropas expedicionárias tomado de assalto a
tabanca, que foi incendiada. O corpo expedicionário regressou a Farim, a 7 de
Julho.
Parece ter havido
grande interesse e entusiasmo da parte das populações locais de ambos os lados
da fronteira visto Samoje ser considerada como "terra de salteadores á
mão armada, que tantos trabalhos tem dado a todos." O comandante militar,
no seu relatório, menciona em especial o chefe dos Mandingas de Farim,
Bakar Baió, que sempre o auxiliara.
A propósito deste
episódio entre Fulas e Balantas, o secretário-geral do governo da Guiné referia
a dificuldade em os evitar ao longo de uma fronteira tão extensa. Aliás,
numerosos incidentes permaneciam desconhecidos das autoridades, excepto quando
revestiam um carácter internacional. Muito oportunamente, Joaquim José Duarte
de Guimarães, secretário-geral do governo da Guiné, autor deste ofício, afirma que
"um dia uma linha de delimitação separa povoações inimigas e nos
primeiros tempos esses indígenas que não attingiram a verdadeira significação
da linha de marcos, que os brancos lá foram collocar entre elles, continuaram
no systema de há muitos annos adaptado para resolver questões. Toma então este
facto uma feição de contenda internacional porque aos europeus convém que assim
seja por uma condemnavel politica."
1908/06/25
Louvados os guardas da residência de Cacheu, SUMO VAZ e
SERY, pela valentia e denodo com que se defenderam do ataque feito pelos Baiotes de Jobel, por ocasião da cobrança do imposto
1908/07/02
Louvados os oficiais e praças que compuseram a coluna
de operações da Ilha de Bissau e em especial os seguintes:
Quartel general - chefe do estado maior, LIÍDIO
NAZARETH, sub-chefe d. JOSÉ SERPA PIMENTEL : adjunto capitão JOSÉ XAVIER
TEIXEIRA DE BARROS, 2.°' tenentes ANTÓNIO E. TABORDA DE AZEVEDO E COSTA,
JERÓNIMO WEINHOLTZ BIVAR, JOSÉ E. DE CAMPOS FRANÇA e tenente do quadro privativo
LINO MARÇAL DE SANT'ANA SALDANHA; 1.0 SARGENTO
Companhia de marinha - 1.0 tenente LUÍS B. DA SILVEIRA ESTRELA ; 2.os tenentes JOSÉ FRANCISCO MONTEIRO, DAVID
ALBUQUERQUE ROCHA e FREDERICO PINHEIRO CHAGAS; 1.0ssargentos FRANCISCO AVELINO e JOÃO DUARTE, 2.~· sargentos
JÚLIO SIMPLÍCIO TELES E SOUSA e JOÃO FERREIRA DA SILVA, 1.° grumete JOSÉ
MARTINS, 1º cabo artilheiro MANUEL DAS
DORES, chegador JOAQUIM DOS SANTOS, 1ºsmarinheiros ANTÓNIO CÂNDIDO RUSSO,
ROBERTO MONTEIRO, JOAQUIM BENTO e LUÍS DA SILVA; 2.°8marinheiros JOAQUIM DA SILVA, ANTÓNIO AUGUSTO
BARBOSA e ANTÓNIO JOAQUIM DA CRUZ; 1.° marinheiro HENRIQUE JOSÉ CURVO, e
osgrumetes BENTO VAZ MOREIRA e JOSÉ LUÍS; 1.° marinheiro JOAQUIM PEREIRA DA
ROCHA, 2.° artilheiro ANTÓNIO
BERNARDO DA SILVA e o 1ºgrumete JOÃO ANTÓNIO.
Bateria de artilharia - capitão
VIRIATO GOMES DA FONSECA, tenente LUÍS MONTEIRO NUNES DA PONTE e alferes
ANTNÓIO CARLOS CORTÊS; 1.° sargento AUGUSTO MARIA DA SILVA FLORES, soldado
condutor JOAQUIM MOURA, 2.° cabo
servente MIGUEL LUÍS. ferrador MANUEL MARTINS, 2.°' sargentos ALFREDO ALVES DA SILVA, MANUEL AGUDO, ANTÓNIO
BAPTISTA AMADO e ABEL ANDRADE LONGO; 1.° cabo condutor VIRGÍLIO VIEIRA DE
VASCONCELOS, 1.0 cabo servente ALFREDO
DAMBERT, j.o cabo LUÍS VICENTE, 2.°
cabo servente DOMINGOS COSSACO, serralheiro ferreiro ALBERTO AUGUSTO DE ARAÚJO.
9ª. Companhia Indígena
de Moçambique - capitão ADELINO DE SOUSA RIPADO, tenentes ANTÓNIO
JOSÉ FERREIRA JÚNIOR e JOSÉ DIAS VELOSO e alferes ALFREDO AUGUSTO XAVIER
PERESTRELO; 2.° sargento SABINO DA CONCEIÇÃO CARVALHO VENTURA, 1.0 sargento IOÃO IOSÉ CORDEIRO, 1.°8cabos .RAJADO e
Compallhia de Infantaria 13 - capitão
JORGE PERESTRELO PESTANA VELOSO CAMACHO, tenente ANÍBAL COELHO DE MONTALVÃO e
alferes VÍTOR DUQUE e JAIME RAÚL SEPÚLVEDA RODRIGUES, 1.° sargento JOSÉ DO
ROSÁRIO FERREIRA, 2.° sargento LUÍS DE CARVALHO VALORA, 2.°8
sargentos ALEXANDRE FRANCISCO FERREIRA SARMENTO e JOSÉ PAULINO RODRIGUES, 1ºs CABOS ALFREDO AUGUSTO, MANUEL DA COSTA,
ANTÓNIO DE ALMEIDA TAVARES; soldados JOAQUIM MARIA DE CARVALHO, AFONSO MARIA
CARNEIRO, SEBASTIÃO MATOS, ANTÓNIO TEIXEIRA, MANUEL JOAQUIM LAGE, JOSÉ JOAQUIM
e ANTÓNIO; 1º cabo FRANCISCO RODRIGUES
CALARIA.
Companhia
mixta - capitão JOSÉ
CARLOS BOTELHO MONIZ e tenente JOÃO CALDEIRA MARQUES; 1ºs. sargentos JOÃO MACHADO TOLEDO e MANUEL PINTO DA FONSECA, 2.°
sargento JOSÉ JOÃO CARDOSO, JOSÉ PINTO SOUSA JÚNIOR e LOSÉ AFONSO LOMBA, soldado CARLOS DE SOUSA; 2." cabo HENRIQUE
GOMES DE ALMEIDA e soldado CIPRIANO DA SILVA, AGOSTINHO VIEIRA, JOSÉ DOS SANTOS DA SILVA CARDOSO e BABA
CALUBALY.
Seruiços de saúde - chefe
ANTÓNIO MARQUES PERDIGÃO, médicos FRANCISCO AUGUSTO REGALA e MANUEL DE JESUS
SUSANO : tenente veterinário FRANCISCO GERVÁSIO FLORES, farmacêutico MANUEL JOAQUIM MOTA e 1.° cabo
ANTÓNIO FRANCISCO DA ENCARNAÇÃO MARTINS.
Serviços administratiuos - CHEFE CAPITÃO SIMÕES DA COSTA E TENENTE FREDERICO
SILVEIRA MACHADO, SOLDADO DA COMPANHIA DE SUBSISTÊNCIA MANUEL ALVES, 2.°
SARGENTO JAIME GARCIA DE LEMOS,· 1.° CABO MANUEL MONTEIRO, 2.°· SARGENTOS
ESTÊVÃO DIAS DA CRUZ E ALFREDO ACÁCIO AFONSO, 1.N•
CABOS
Companhia de telegrafistas da praça - 2.°' sargentos
ANTÓNIO DA COSTA AFONSO E JOÃO MARIA DOS SANTOS E SOLDADO ANTÓNIO ALBINO.
Forças navais de
1ª linha - comandante da canhoneira . «D. Luís»
e comandante superior das forças navais ALBERTO ANTÓNIO DA SILVEIRA MORENO.
comandante da canhoneira «Zambeze» JÚLIO GALIS,
comandante do transporte «Salvador Correia», JORGE PARRY
PEREIRA, comandante da lancha- canhoneira «Cacheu» CARLOS PRIMO GUIMARÃES
MARQUES; 2.° tenente CARVALHO
DIAS.
Praça de Bissau - comandante
major reformado FRANCISCO XAVIER ALVARES e alferes ANTÓNIO DOS SANTOS.
Depósito de praças
adidas - 1.° sargento JOSÉ FERREIRA DE LACERDA, 2.0
sargento SALVADOR CIPRIANO FERREIRA, 1.0s cabos
JOÃO DE SOUSA, AURÉLIO FERNANDES E JOSÉ ANTUNES e 2.° cabo EUGÉNIO DA SILVA.
alferes de 2.a linha FÉLIX DIAS E DAVID; auxiliares LISBOA FRANÇOIS
e LOPES. Voluntário - FERNANDO DE JESUS LEOPOLDO.
1908/10/29
Em fins de Outubro, a instabilidade voltou ao rio Geba com os ataques dos Balantas a embarcações comerciais na região de Goli. A 29 /10 a baleeira francesa "Madaleine" da CFAO, que se dirigia a Bafatá, encalhou na margem direita, próximo da aldeia Balanta de Chungue, sendo saqueada à mão armada; na madrugada do dia 30, o mesmo aconteceu à lancha S. João Baptista, fretada pela casa Rolf, de Hamburgo. As reclamações da casa alemã pelos prejuízos sofridos, imediatamente secundadas pela sua chancelaria e prolongadas também durante dois anos, acumularam todas as acusações estrangeiras à instabilidade do poder colonial português. Em primeiro lugar, assinalavam a responsabilidade colonial visto que o .atentado se dera depois do governo de Boiama ter mais uma vez declarado livre a navegação no Geba (portaria de 10/4/1908). Em seguida, exigiam indemnizações atendendo a que, segundo o Boletim Oficial, a expedição punitiva imediatamente organizada (durante os meses de Novembro e Dezembro) tinha tido êxito, o que tomaria possível obrigar os Balantas a pagar.
A reacção das autoridades coloniais obedeceu ao referido padrão de desresponsabilização, politicamente sempre perigoso por assumir a falta de controlo de território e populações. Tentando ganhar tempo (entre a primeira nota alemã a este respeito e a resposta do Ministerio da Marinha, anunciando a chegada do inquérito realizado pelo governo da província decorreram 5 meses), o governo de Boiama alegava que, após o incidente, tinha cumprido todas as suas obrigações - socorro aos sobreviventes, seguido da habitual expedição punitiva - e distinguia as noções de liberdade de navegação no rio da submissão das respectivas margens.
É interessante notar como no auto do inquérito, conduzido pela secretaria do governo da província, a questão central colocada aos 16 deponentes (2 alemães, 1 belga, 7 cabo-verdianos e 6 grumetes) - fossem elas agentes comerciais, negociantes por conta própria, marítimos ou guardas de alfândega - era: "se sabe se o Governo tinha anteriormente occupado o territorio dos balantas". Tendo todas as respostas manifestado ser do conhecimento publico que não, o auto concluía pela não responsabilização provincial visto que: "No sitio do roubo não há operação commercial, assim como não tem porto de mar seguro, tanto que as embarcações passam um tanto afastado d' este sitio, habitado pelos balantas, que são reconhecidos por ladrões; pois o ponto nem sequer foi occupado pelo Governo, que até hoje a ninguém concedeu licença para estabelecimento commercial."
Como as expedições punitivas eram mais represálias do que operações de ocupação, o próprio Ministério do Ultramar respondeu que a reclamação alemã de obrigar os Balantas derrotados a pagar as indemnizações era impossível de satisfazer porque "os bandidos que praticavam o roubo, uns fugiram com os mesmos roubos, e não poderam ser aprisionados, e outros pagaram com a vida o crime praticado."
Durante décadas, a administração colonial portuguesa na Guiné serviu essencialmente de instrumento político à exploração comercial europeia. Dos rios da Guiné saía uma corrente de exportações cuja cotação no mercado mundial estava em alta - especialmente a borracha - e de que beneficiavam sobretudo firmas alemãs (até à 1ª Guerra Mundial) -, bem como belgas e francesas. A protecção aos circuitos comerciais e a sua ampliação implicavam despesas militares elevadas para o Estado português, mas esse era o preço a pagar para conservação da soberania sobre uma região que sucessivas erosões territoriais transformaram num enclave. Aparentemente, parece estar-se em presença de um caso de irracionalidade económica, que chegou a ser comum associar ao colonialismo português.
1908/11/17
A força de marinheiros comandada pelo 2.0 tenente CASAL RIBEIRO, tendo
desembarcado perto de Goli, ataca lapidarmente várias aldeias indígenas que são sucessivamente incendiadas, obrigando os rebeldes
Balantas a refugiar-se no mato depois de lhes fazer sofrer inúmeras baixas.
Coluna contra os Balantas de Cunhicurnba e Chumbel. Pelos serviços
prestados nestas operações foram louvados por portaria ministerial de 3-3-1909
o secretário geral JOAQUIM JOSÉ DUARTE
GUIMARÃES, 1.ªs tenentes JOSÉ MARIA DA
SILVA CARDOSO e JORGE PARRY PEREIRA, 2.° tenente JOÃO VICENTE CALDEIRA DO
CASAL RIBEIRO e médico naval de 2.a classe ANTÓNIO RUIVAL SAAVEDRA.
1908/11/19
Apresentaram-se a bordo da canhoneira «Lurio», que operava
de combinação com a coluna do comando do governador Muzanty os «grandes» das
povoações balantas revoltadas a fim de apresentarem acto de vassalagem,
entregando o comerciante OSÓRIO por eles feito prisioneiro no mês antecedente.
1908/11/28
Com a derrota dos
Balantas de Malafo foi vingada a morte
do oficial do exército Galona e seus companheiros que no mesmo local tinham
sido trucidados em 1894.
1909
At Rufisque, Galandou Diouf became the first African to be elected official during the colonial period.
1909/03/04
«Pouco tempo depois da campanha de Bissau, o chefe da província Oliveira Muzanty ,era autorizado a apresentar-se em Lisboa (Junho de 1908). Esta súbita partida foi motivada pelo facto de o referido governador ter deportado para S. Tomé, como vadio, um comerciante europeu, antigo oficial do exército.
A portaria da expulsão aplicava ao arguido uma disposição legislativa reservada aos indígenas indesejáveis e rebeldes, e neste ponto o governador foi deslealmente enganado pelo funcionário da Secretaria que redigiu o documento. Certo é que e Govêrno central não aprovou a deportação e mandou regressar à colónia o comerciante aludido, indemnizando-o dos prejuízos sofridos.
Esta resolução superior e talvez o pouco êxito da guerra de Bissau, que não correspondeu ao que se esperava, motivaram a resignação de Oliveira Muzanty. A política ministerial sacrificou um dos melhores governadores que teve a Guiné. Para o substituir foi nomeado, em 4 de Março de 1909, o capitão Flrancelino Pimentel.
Um dos primeiros actos do novo governador foi, como já vimos, o restabelecimento das comunicações e do comércio entre os papéis e a praça de Bissau, em Agôsto de 1909. Regressou-se desta forma pouco mais ou menos à situação anterior a 1908.
Em compensação, na região de Geba o êxito das campanhas de 1908 foi mais completo e duradouro. Depois das derrotas de Boncó, de Badora, e de Infali Soncó, de Cuór, ficou definitivamente firmado o prestígio das nossas armas .e autoridade em tôda aquela região de fulas até à fronteira terrestre.
Em Agôsto de 1910, houve ainda um pequeno incidente no regulado de Xime. Depois do falecimento do chefe Abdulai, o seu .filho Eli pretendeu opôr-se à nomeação do sucessor escolhido pelo povo com aprovação· do Govêrno. Como o pretendente Eli tentasse sublevar os s.eus partidários, o residente de Bafatá, Vasco Caivet de Magalhães, foi a Xime e com grande energia e sangue-frio dominou os revoltosos, apreendendo na ocasião 68 espingardas, 4.700 cartuchos e 34 barris de pólvora. Foi por este motivo louvado e promovido a tenente da 2.ª linha.
A pacificação começada pela via de armas foi completada pela acção política do administrador Calvet de Magalhães, que soube insinuar-se no ânimo dos fulas e adaptá-los ao pensamento e princípios da nossa administração. Dali para diante, os fulas da região converteram-se em auxiliares do nosso Govêrno na obra da submissão doutras tribus guineenses e hoje poderão ser a proveitados como preciosos e dedicados colaboradores do nosso exército em qualquer tempo e lugar.
Em Janeiro de 1910, graças aos esforços do tenente Lino Marçal Saldanha, sargento José Lopes e chefe indígena Malambá, foi montado o pôsto militar de Bissoram, vencendo a resistência e os ataques dos oincas.
Sob o ponto de vista de administração geral de Guiné, nas vésperas da mudança do regime político em 1910, pouco há que acrescentar. A organização dos. serviços públicos subordinava-se ainda à lei de 2.1 de Maio de 1892, com pequenas alteraçõ.es introduzidas sobretudo n·os quadros do pessoal em virtude do maior desenvolvimento do serviço. Julgamos desnecessário enumerá-las por se tratar de providências d.e carácter transitório, sempre sujeitas a serem substituidas por outras, de harmonia com as necessidades de momento e com o progresso social .e económico da província.
Em meados de 1909 as fôrças militares da Guiné compuham-se de uma secção de artilharia bastante incompleta; de uma companhia de Moçambique retida na colónia e de uma companhia indígena de atiradores com o limitado efectivo de 58 solpados, faltando nada menos de 160 praças para completar o quadro.
Em resumo estavam em serviço na colónia 26 oficiais, 25 sargentos, 80 soldados europeus e 260 praças indígenas, das quais a maior parte era estranha à colónia. Deve notar-se que uma parte dos soldados europeus era ainda o resto dos antigos deportados enviados à Guiné por crimes ou motivos disciplinares.
Em Maio de 1910 a Direcção Geral do Ultramar fixava para a Guiné os seguintes contingentes: duas Companhias Indígenas de Infantaria com 8 oficiais, 28 praças europeias e 362 indígenas, além de duas secções de artilharia com 2 subalternos, 50 praças europeias e 62 indígenas.
O govêrno do capitão Francelino Pimentel foi pouco acidentado, devendo ter contribuído para isto a circunstância de ter passado a maior parte· do seu tempo em Lisboa. A administração da colónia ficou entregue interinamente ao chefe de saúde, Dr. António Marques Perdigão que, de harmonia com a determinação ministerial, se limitou ao despacho do expediente ordinário.
O capitão Francelino Pimentel, depois da segunda viagem à Portugal, regressou à Guiné em 22 de Agôsto de 1910. Também neste período não teve oportunidade de adoptar quaisquer providências importantes porque, algumas semanas depois, foi exonerado pelo govêrno da República.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 358-360
1909/05/21
Os Balantas preparam uma ofensiva contra o posto de Goli, atacando o no dia 21 2, durando o tiroteio das 7 às 12 horas. Em 25 o posto foi reforçado com novos oficiais e praças, artilharia e serviço médico. Veio também Abdul Injai, que tinha sido nomeado régulo de Cuór.
1910
1912
1912/11/13
Desembarcou em Bolama o capitão TEIXEIRA PINTO que assumiu as funções de Chefe do Estado Maior.
1913
«Não
era fácil a um oficial ou qualquer representante da autoridade atravessar o
Oio, e por isso Teixeira Pinto serviu-se de um estratagema. Apresentou-se em
Mansôa como inspector de uma casa
comercial, B. Soller, que tinha ali uma feitoria e sob êste disfarce
atravessou aquela zona até então desconhecida, fazendo a jornada de Mansoa a
Farim acornpanhado de um comerciante. Na viagem de regresso, os oincas já desconfiados deram-lhe água e
leite envenenados, pelo que esteve bastante doente.
Feito
isto, fixou o seu plano de ataque por Mansoa e Bissoram, mandando. ao mesmo
tempo fazer um cêrco por lado de Geba. Em
Bissoram ·estava como comandante militar o tenente Augusto José de Lima,
com os chefes indígenas Alfa Mamadu Sailu e Malambá. A defesa da região de Geba e Bafatá foi confiada ao·
respectivo administrador, Vasco Calvet de Sousa Magalhães, que tornou a direcção
dos auxiliares fulas, ajudado pelo
cabo de guerra Mamadu Sissé.
Em
fins de Março de 1913, foi organizada a coluna constituída por Teixeira Pinto e
pelos tenentes Antas e Pimenta, com o sargento Vilaça e alguns soldados. O
resto da fôrça era composta dos auxiliares de Abdul Injai, ao tempo régulo de
Cuór, e por alguns fulas recrutados em Bafatá. Esta coluna era auxiliada pelas
canhoneiras Flecha e Zagaia, comandadas
respectivamente
pelos tenentes. Raúl Queimado de Sousa e Costa Santos Pedro.
A
fôrça desembarcou em Mansoa em 29 de Março e instalou-se na propriedade da casa
Soller entrincheirando-se com sacos cheios de terra, pois já se receavam
ataques da parte dos balantas.
Com
efeito, logo no dia seguinte vieram os indígenas, balantas e oincas, atacar o
acampamento, dando assim comêço· à guerra de Oio.
O
mês de Abril foi empregado em bater os balantas da margem esquerda do rio
Mansoa, até que o régulo de Jugudul apresentou-se a pedir as pazes, em 10 de
Maio. Porém os balantas da margem direita tinham-se associado aos oincas,
refugiando-se no mato. Não havia, portanto, outra solução senão começar o ataque à região de Oio, não
obstante· a oposição manifestada pelas estâncias superiores a êste projecto.
Decidido·
o golpe, Teixeira Pinto partiu, no dia 14, com a sua coluna composta de dois
sargentos, 4 cabos, 4 soldados indígenas e 400 auxiliares. A marcha fazia-se
por uma região desconhecida, por caminhos ladeados de mato tão espesso, que
quási nada se distinguia a 10 metros de distância.
Enquanto
a coluna marchava à fila indiana os balantas e oincas íam acompanhando de
flanco e atacando incessantemente.
«Tive
durante a marcha -
diz Teixeira Pinto no seu relatório - momentos angustiosos por ver muita
gente invadida de desânimo, principalmente os fulas de Sancorlá e a guarnição
europeia da peça à excepção do primeiro cabo António Ribeiro Moens».
Não
obstante tôdas as contrariedades, a coluna prosseguiu na sua marcha até ao
centro do terrível Oio, tomando e destruindo as tabancas. que .encontrava no
seu caminho. No• dia 4 de J unho, na véspera do ataque às tabancas de Mansoadé
e Mansabá, as fôrças de Teixeira Pinto compunham-se de 320 auxiliares, 6
europeus e 4 soldados indígenas. Com êstes poucos homens foi tomada a tabanca
de Mansoadé, capital e centro da resistência dois oÍncas !
No
dia seguinte, apresentavam-se os chefes de Mansabá a pedir a paz e depôr as
armas. Esta aldeia foi ocupada no dia 7 de Junho tendo-se imediatamente içado a
bandeira po.rtuguesa.
Os
dias seguintes foram empregados na construção do pôsto militar e recolha das
armas dos revoltosos. No dia 17 começava a cobrança
do imposto de palhota. O pagamento foi feito pelos indígenas em moedas de
cinco francos, tendo-se apurado, em
poucos dias, a soma de 29 contos de réis.
Estabelecido
o pôsto de Mansabá, Teixeira Pinto retirou-se para Mansoa, no dia 26, e a
coluna de operações foi dissolvida no dia seguinte. Estava destruída a lenda da
impenetrabilidade da região de Oio. Deve notar-lse que na coluna não havia
outro oficial do exército além do seu comandante. Em 4 de Agôsto acabaram de
ser arroladas 4.100 espingardas tomadas aos indígenas, além de l.200 entregues
na administração de Farim.»
João Barreto, HISTÓRIA
DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 380-382
1913/03/30
Apesar de alvejada constantemente pelos Oincas, a coluna móvel do comando do capitão TEIXEIRA PINTO penetra na região
do Oio, onde os indígenas insubmissos, bem armados e municiados, se defendem
com tenacidade, toma 16 tabancas, desarma os rebeldes até então considerados
invencíveis, conseguindo o referido oficial receber o imposto de palhota dos
últimos três anos, prova inequívoca da submissão da mesma tribo.
1913/04/12
TEIXEIRA PINTO, comandante da coluna móvelde polícia,
decide bater a região insubmissa do Oio, onde bivaca no dia 15 precedido pelas
forças de ABDUL INJAI compostas por 400 irregulares.
1913/05/13
1913/06/04
TEIXEIRA PINTO tomando a «tabanca» de Mansodé, em Oio, bate definitivamente os Oincas. Operações militares no alto Mansoa e no Oio, de 29 de Março a 27 de Junho de 1913.
1913/06/27
Pessoal da marinha colonial que de 26 de Março a 27 de Junho apoiou a coluna de operações:2.°8tenentes ANTÓNIO R. C. SANTOS PEDRO e RAÚL QUEIMADO DE SOUSA ; 1.°8artilheiros AUGUSTO VALENTE e JOSÉ FERREIRA; 2.°' artilheiros BENTO PATACO e FLAVIANO AUGUSTO ARAÚJO; cabo fagueiro FILIPE DOS SANTOS e cabo FOGUEIRA FILIPE DE BARROS; J .01 fogueiros JOSÉ MARIA CORREIA, FRANCISCO FIGUEIREDO e EDUARDO NUNES; ].0 marinheiro JAIME JOSÉ FERNANDES e 2.°8 fagueiros ANTÓNIO DE ANDRADE RUAS e JOSÉ MARIA. Mereceram também referência especial pelos seus bons serviços os mestres dos vapores «Capitania», ADOLFO DOS SANTOS, do motor «Rio Cacine», ALFREDO MARTINS e da lancha «Rio Geba», FRANCISCO MARIA.
1913/07/11
Pelos actos heróicos praticados como comandante de uma diminuta força de tropas regulares que operou nas regiões de Mansoa e Dia, pela valentia, valor e coragem inexcedíveis com que levou a cabo o estabelecimento de um posto militar em Mansabá (capital do Oio), foi louvado o capitão de infantaria JOÃO TEIXEIRA PINTO.
1913/12/26
Operações contra os indígenas de Cacheu e Churo realizadas de 28-12-1913 a Abril de 1914. Destacaram se os chefes de guerra ABDUL INJAI, 2.° sargento JOSÉ FRANCISCO ALHANDRA
«A segunda campanha empreendida por Teixeira Pinto foi contra os papéis de Xuro (ou Chôro), que tinham levado a sua ousadia ao ponto de arrastar numa cilada e massacrar o alferes Nunes e seus companheiros, em Dezembro de 1913.
O oficial Nunes era administrador de Cacheu quando alguns chefes de Xuro se apresentaram, por iniciativa própria, em Cacheu, declarando que a sua gente dispunha-s·e a pagar o imposto de palhota, para o que bastaria que a autoridade fosse àquela região proceder ao arrolamento e cobrança Houve quem, duvidando da sinceridade dos indígenas, tentasse dissuadir o alferes dessa viagem, mas um comerciante de Cacheu, Manuel Rodrigues da Fonseca, vulgo Chino, ofereceu-se para acompanhar o administrador, garantindo que não haveria nada de desagradável. O alferes seguiu, por isso, ao pôrto de Choroenque num motor, acompanhado do comerdante e alguns guardas.
Chegados ao local, o Chino dirigiu-se à povoação próxima a conferenciar com os papéis. Mal o apanharam em terra, os indígenas degolaram-no e, em seguida, vieram em grande massa atacar o barco onde se encontrava o alferes Nunes, com alguns guardas e tripulação. Por infelicidade uma avaria no motor não permitiu pôr o barco. em marcha e assim todos os que se achavam a bordo foram trucidados, com excepção de dois guardas que conseguiram fugir.
Logo que a notícia chegou a Bolama, o chefe do estado maior preparou-se para castigar os rebeldes e vingar a morte do seu camarada. Apresentou-se em Cacheu em 28 de Dezembro, com um sargento, 4 cabos, 42 soldados. e 340 auxiliares comandados por Abdul Injai, aos quais se juntaram cêrca de 60 grumetes de Cacheu. O armamento era constituído por 440 espingardas, 170:000 cartuchos e uma peça com 40 granadas.
Esta fôrça saiu de Cacheu em 2 de Janeiro, ao mesmo tempo que as duas lanchas-canhoneiras partiam também, com ordem para explorar o rio Pelundo, batendo as duas margens, e aguardar no ·pôrto de Xuroenque a chegada da coluna. Sabia-se em Cacheu que, depois do massacre do alferes Nunes, todos os papéis da região, animados por êste sucesso, se tinham associado e preparavam um ataque à vila. Dizia-se que o número dos homens que ·compunham a nossa coluna era insuficientei para vencer os revoltosos e que, uma vez internadas as nossas fôrças no caminho de Xuro, os papéis das povoações de Pecau, Capó e Cacanda procurariam cortar-lhes a retirada.
Com efeito, quando Teixeira Pinto passou por Pecau e Capó, verificou que os seus moradores estavam preparados a juntar-se aos papéis. Mas nem por isso suspendeu a marcha e pelas 13 horas foi acampar em Xuroenque, depois duma jornada acidentada de 10 horas por péssimos caminhos debaixo do ataque constante do gentio. A parte mais penosa da marcha foi a travessia duma densa e extensa floresta durante 3 horas, em que os auxiliares fulas estiveram para desertar, sem ânimo para avançar.
Foi ainda a coragem e o exemplo de Teixeira Pinto e Abdul que salvaram a situação.
Tomado o pôsto de Xuroenque, bateu-se a povoação de Xurobrique no dia 4. Estabeleceu-se ali um pôsto, onde a coluna permaneceu até 2 de Fevereiro, tendo havido nêsse tempo recontros com. os papéis, durante os quais foram feitos 230 prisioneiros e tomadas I.400 espingardas, além de 800 espadas.
Os régulos manjacos da Costa de Baixo e de Pelundo resolveram apresentar-se no· pôsto, com excepção de· alguns chefes.
Fez-se ·o arrolamento e ficou resolvido começar o pagamento do imposto de palhoita em 15 de Março. No mês de Fevereiro Teixeira Pinto, continuando a sua acção de limpeza, passou por Có e Bula, prendendo os respectivos régulos, e deu início à abertura de estradas ligando Cacheu com Pelundo, Bula, Naga e Bissoram.
Ao sul ·do rio Pelundo ficara ainda uma região de manjacos de Bassarel Canhoba, Calequisse e Bote que se conservavam em armas, fazendo ali concentrar os seus melhores elementos,· na disposição de resistir até ao extr.emo. Por êste motivo Texeira Pinto partiu de Bula com 17 soldados e 325 auxiliares. Tomada a aldeia de Bagulha, apresentaram-se os moradores da vizinhança com espingardas e pólvora. Durante os dias subseqüentes, procedeu-se à cobrança do imposto·.
Em 19 continuou a marcha sôbre Bassarel, ao mesmo tempo que o 2.º tenente Queimado e Sousa se colocava com a sua canhoneira na foz do rio para cortar a fuga aos revoltosos.
«O guia levava-nos por uma mata cerradíssima. De repente sôa uma descarga na frente. Era a vanguarda que tinha entrado numa palissada, reforçada com uma trincheira com um metro de profundidade com um parapeito, donde os manjacos atiravam sôbre os nossos. Mataram-nos logo 6 auxiliares. e feriram 7. Passada a primeira surpresa, dividi a coluna em 4 grupos e cerquei a palissada, sendo mortos na trincheira todos os 80 manjacos que a guarneciam. Continuou a marcha debaixo de fogo intenso.
Os manjacos em, número que, sem exagêro, calculei em 10.000, defendiam-se com valentia, morrendo grupos completos, sem arredar o pé. Às 11 horas chegámos à tabanca do régulo, onde houve um ataque violentíssimo. Destruída a tabanca, continuaram a atacar-nos com tal violência que foi preciso pôr-me à frente dos soldados e carregar várias vezes sôbre o inimigo». (Relatório de T . Pinto).
Vencido o centro da maior resistência dos manjacos, começaram o arrolamento e a cobrança do imposto, dando-se início à construção de 2 postos militares, em Bassarel e Caió. Foram apreendidas 4.250 espingardas antigas e 64 das modernas.
Deu-se por finda a campanha de Cacheu e Costa de Baixo em 10 de Abril de 1914. Nela se distinguiram, além do seu comandante, o sargento João Francisco Alhandra e o primeiro cabo João Rodrigues Faria. A ambulância sanitária esteve ao cargo do enfermeiro Manuel Gomes Garcia. Os operações foram auxiliadas pela canhoneira Flecha, comandada pelo segundo-tenente Raúl Queimado de Sousa, que foi um grande auxiliar de Teixeira Pinto «cumprindo com zêlo, energia e inteligência que caracterizam tão bravo oficial ... apesar de ter sido acometido por um princípio de biliosa e de ter sido proibido pelo médico de Cacheu de se levantar da cama». (T. Pinto).
Por portaria de 8 de Julho de 1914 foi criado o Comando Militar dos Manjacos, que pelo seu desenvolvimento passou a ser mais tarde a sede da Administração da Circunscrição de Canjungo.
O primeiro· comandante foi o tenente António Maria.*
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 382-385
VER pasta “Revista”
1914/01/15
Continuam as operações militares na região do Churo sob o comando de TEIXEIRA PINTO que no seu relatório diz: «A marcha foi bastante penosa, pelo calor asfixiante que caía, pela falta de água e ainda pelo caminho que era apenas um caminho irregularíssimo onde várias vezes tivemos que desarmar a peça e transportá-la às costas».
1914/02/04
TEIXEIRA PINTO, após a tomada de Churoenque, entrou finalmente em Churobrique, onde se apresentaram os régulos Manjacos, A coluna de operações teve 10 mortos e 24 feridos.
1914/02/05
Deu-se o desastre de Braia onde uma coluna de operações composta pelo alferes MANUEL AUGUSTO PEDRO, 3 cabos europeus e 20 auxiliares a cavalo, foi massacrada pelos Balantas. Os cadáveres foram retirados pela força do comando do sargento LOPES.
«Como atrás ficou dito, o pôsto de Mansoa foi instalado por Teixeira Pinto, em l de Maio de 1913, passando depois disso a permanecer ali uma fôrça regular com I ou 2 oficiais.
Em Fevereiro de 1914 encontravam-se em serviço nêsse pôsto o capitão Artur Sampaio Antas e o alferes Manuel Augusto Pedro.
No dia 5 de Fevereiro, o alferes Pedro acompanhado de 3 cabos europeus e 20 indígenas a cavalo, foi ao povoado de Brai fazer um resonhecimento para a escolha do local onde se deveria lançar um pontão.
À vista do pelotão, o·s balantas começaram a fugir, dando ao mesmo tempo sinais para o ajuntamento. O guia que acompanhava o alferes fez-lhe ver a conveniência de se precaver contra o assalto que os halantas pareciam estar a preparar; mas o oficial insistiu em continuar a marcha, tentando explicar aos gentios que não ía lá com intenção de lhes fazer mal.
O pelotão prosseguiu em direcção de Bambi, porém, antes de lá chegar, foi atacado piela gente de Brai. Arrastados na luta até ao rio, os nossos homens tentaram resistir mas o alferes Pedro foi varado com uma bala e logo a seguir o cabo ferrador Francisco Martins. Os restantes tentaram atravessar o rio, mas enterraram-se no lôdo e foram trucidados pelos balantas. Escaparam apenas 5 soldados indíg·enas e o guia
Este desastre deu ao gentio mais ânimo para desobedecer e incomodar os postos militares de Mansôa e Bissoram. A sua insolência tornou-se ainda maior com o novo incidente ocorrido em 9 de Março.
Nêsse dia o capitão Sampaio Antas enviou um grupo de 80 auxiliares para bater os balantas de Brai. Ao princípio tudo correu bem, mas depois de terem incendiado as tabancas de Brai, os nossos soldados foram cercados pelos balantas e tentando retirar foram levados contra o rio Bambi, onde· morreram cêrca de quarenta.
Emquanto êstes factos lamentáveis se passavam em Mansoa, Teixeira Pinto achava-se retido na luta contra os manjacos da Costa de Baixo. Estas operações terminaram em 10 de Abril e logo a seguir a po·rtaria do dia 14 mandava que «fosse dissofoida a coluna de Cacheu e organizada uma coluna de operações destinadas a castigar os balantas entre os rios de Farim e Geba e a construir um pôsto militar.
Determinava mais a reforida portaria que fossem agregados 400 auxiliares de Abdul Injai. Mas Teixeira Pinto tendo verificado que a revolta se estendia a todo o território habitado por aquela tríbu aguerrida e selvagem, entendeu dever contratar pelo menos 600 auxiliares. A concentração fez-se em Bula, começando a marcha no dia 13 d'e Maio de 1914 em direcçâo a Binar, destruindo as povoações que encontrava no caminho.
Depois de uma série de pequenas operações, a coluna vai ao encontro do inimigo, concentrado entre Cussano e Encheia, nas margens do rio Mansoa. Dá-se o primeiro contacto às 8 horas da manhã do dia 20 .. «Calculo, sem exagêro para cima de 20.000 os inimigos»·- diz o relatório de T. Pinto, «Não estava acostumado à táctica de balantas, mas percebi-a em pouco tempo ... .Ràpidamente dividi as minhas fôrças em cinco colunas. Na direita um grupo do meu comando procurando evitar o ataque de flanco; à minha direita uma coluna do comando de Braima Dau; à esquerda, o grupo de Abdul Injai; à esquerda dêste, outra coluna do comando de Mapiadu Sissé e na extrema esquerda, outra do comando de Modiadi, chefe dos futa-fulas, que devia parar o ataque do flanco esquerdo e envolver as reservas de Encheia.
Tôdas as colunas tinham ordem de ir avançando na direcção de Encheia, obrigando o inimigo a retirar sôbre o rio onde as canhoneiras exerceriam a sua acção. Correu tudo como previra ... Tôdas as colunas se desempenharam bem. Houve verdadeiros actos de heroísmo neste combate de I contra 30. O fogo durou até às 17 horas».
Continuando a marcha triunfante depois desta vitória, a cooluna bivacou em Bissorarn, no dia 31. Em 7 de Junho recomeçou a marcha em direcção a Mansoa, «Às 9 horas estavamos defronte de um mato cerrado. Mandei em exploração alguns cavaleiros, que foram recebidos com tiroteio cerrado. Era, porém, forçoso atravessar a mata. Puz o meu pelotão de cuanhamas e 20 fulas em linha e à frente dêles carreguei o inimigo. Valentes soldados!
... O meu sargento Faria anima-os e de baioneta armada lança-se no turbilhão! Meia hora idepois estavamos fora da mata! ... Estava-se já no território de Brai. As tabancas eram tomadas uma a uma ... Às I3 horas bivacamos em Brai, no local onde se tinham dado os massacres e onde se viam os esqueletos.
Estava vingada a morte dos meus camaradas sem ser preciso a vinda de uma expedição da Europa, conforme tôda a gente dizia! ... »
Depois de uns dias de, descanso no pôsto de Mansôa, Teixeira Pinto deu início à segunda fase da campanha contra os balantas, quere dizer, à batida da margem esquerda do rio até ao Impernal.
A coluna saiu em 25 de Junho e, depois de alguns combates, veio estabelecer o pôsto militar de Nhacra no dia 30. Em 2 de Julho embarcava Teixeira Pinto para Bolama, dando por terminada definitivamente a pacificação daquela região.
Nestas operações foram apreendidas aos. balantas 6.ooo espingardas novas além daquelas que lhes tinham sido tomadas no ano anterior. Êste facto levou o chefe do estado maior a propor no· seu relatório· o refôrço das medidas destinadas a pôr termo à venda das espingardas e pólvora, que os comerciantes da Guiné faziam ao gentio, não obstante tôdas as proibições legais.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 385-387
1914/02/25
Por ter dado sempre sobejas provas de sua dedicação
ao Governo e manifestado a mais heróica valentia foi nomeado tenente das
forças de 2.ª linha o régulo ABDUL INJAI.
1914/03/00
1914/05/07
Tomou posse do cargo de governador, o coronel de artilharia JOSÉ DE OLIVEIRA DUQUE, cujo filho, oficial do exército, sete anos antes fora neste dia sepultado em Bissau, vitima dos ferimentos recebidos na guerra contra os Papéis. - Coronel de artilharia, eleito pelo Senado e nomeado em 14 de Abril de 1914. Tomou posse em 7 de Maio e foi exonerado em 14 de Julho de 1915, tendo deixado o govêrno entregue ao secretário geral, S. Barbosa, em 24 de Agôsto·.
1914/06/07
TEIXEIRA PINTO vinga o desastre de Braia, derrotando os Balantas desse território que dias antes tinham massacrado uma pequena força militar.
1914/06/25
Foi estabelecido o posto militar de Nhacra.
1914/08/00
Operações contra os Balantas de Abril a Agosto de 1914:
Louvados os 2.0B tenentes ARTUR ARNALDO DO NASCIMENTO GOMES e RAÚL QUEIMADO DE SOUSA, o 2.° sargento JOSÉ AUGUSTO RIBEIRO, o administrador de Bissau, VIRGÍLIO ACÁCIO CARDOSO, o 1.° sargento ALBERTO SOARES; os 2.°" sargentos JOSÉ RODRIGUES FARIA e ROMUALDO ANASTÁCIO LOPES, o 1.0 artilheiro JOSÉ FERREIRA, o 2.° artilheiro ANTÓNIO FERREIRA, o 1.° fogueiro DOMINGOS MOREIRA E 2.° FOGUEIRA JOSÉ MARIA. Distinguiram-se os chefes indígenas ABDUL INJAI, tenente de 2.a linha, MAMADÚ SISSÉ, BRAIMA DAN e MAMADÚ JALÓ.
1915
Guarneceram o posto militar de Nhacra durante as operações de Bissau: tenente AGOSTINHO DO ESPÍRITO SANTO, 2.° sargento de Saúde VASCO PINTO FERNANDES, 2.° sargento da Secção do Depósito ANTÓNIO DOS ANJOS.Da Marinha Colonial tomaram parte dessas operações os seguintes: 2.°' tenentes JOSÉ FRANCISCO MONTEIRO e RAULQUEIMADO DE SOUSA; artilheiro ANTÓNIO FERREIRA, ARTUR PINA, MANUEL SEBASTIÃO, JOAQUIM DA SILVA e JOSÉ VIEIRA.
1915/05/00
Coluna de operações contra os Papéis e grumetes da Ilha de Bissau, de Maio a Agosto de 1915.
Tomaram parte : comandante, capitão TEIXEIRA PINTO
1915/05/07
JOSÉ DE OLIVEIRA DUQUE 1º mandato como governador da Guiné,
até 24 de Agosto de 1915
1915/06/02
A coluna de operações comandada pelo capitão TEIXEIRA PINTO
acampou em Intim depois de ter arrasado Bandim.
1915/06/05
Morre por ferimentos recebidos em combate contra os Papéis
o 2.° sargento ANTÓNIO RIBEIRO
MOENS.
1915/06/08
Foi tomada, após renhidos combates, a povoação de Antula.
1915/06/13
Ferido na povoação de Joalpelos rebeldes Papéis, o capitão
TEIXEIRA PINTO recolhe a Bissau. Assumiu o comando das forças que se dirigiam
em direcção a Bór o tenente SOUSA GUERRA.
1915/07/01
O capitão TEIXEIRA PINTO reassume o comando das operações
militares da Ilha de Bissau.
1915/07/03
Foi trucidado pelos Papéis um dos voluntários da coluna de
operações contra aqueles indígenas, o professor MANUEL MOREIRA que durante a
campanha dera provas de inexcedível coragem.
1915/07/10
TEIXEIRA PINTO bate os Papéis, entrando finalmente em
Biombo onde faz prisioneiro o respectivo
régulo.
1915/07/25
A Ilha de Bissau foi considerada definitivamente pacificada
após a rápida campanha de submissão levada a cabo por TEIXEIRA PINTO. Os
portugueses tiveram 47 mortos e 202 feridos.
«Depois de submetidos
os manjacos e os balantas, Teixeira Pinto veio a Portugal retemperar a saúde e
ao mesmo tempo combater junto do ministério a campanha incidiosa que lhe era
movida pelos seus inimigos pessoais e políticos.
A obra já realizada
pelo herói da Guiné deveria merecer o apoio incondicional de todos os
portugueses. No entanto, ao contrário do que era de esperar, a benéfica
actividade de Teixeira Pinto provocou um recrudescimento da política local,
formando-se um partido manifestamente adverso ao seu projecto de levar a efeito
a pacificação definitiva da ilha de Bissau.
A tenacidade de
Teixeira Pinto, que se orgulhava de ter costela transmontana, venceu tôdas
estas dificuldades e resistências, até que foi publicada a portaria proivincial
de 13 de Maio de 1915 mandando organizar a coluna de operações contra os papéis
e grumetes de Bissau e estabelecendo o estado de guerra naquela ilha.
Em 12 de Maio Teixeira
Pinto vai a Bissau dar comêço à concentração das fôrças. Toma para seu auxiliar
o tenente de infantaria Henrique Alberto de Sousa Guerra, único oficial que
faria parte da coluna, acom.panhando-a até ao fim. Na concentração de 1.600
auxiliarns de Abdul e Mamadu Sissé gastaram-se perto· de duas semanas (a)
Resolve-se começar a
marcha em 5 de Junho. Mas no dia 3 alguns auxiliares que se tinham afastado
cêrca de 200 metros além da fortaleza, são atacados pelos
papéis. Outros auxiliares, assim como os oficiais Teixeira Pinto e Sousa
Guerra, correm em seu auxílio e isto dá origem a um combate em que os papéis
chegam a avançar até às portas de Bissau. Nestas alturas os reforços vindos da
fortaleza permitem às nossas fôrças carregar sôbre o inimigo levando-o de
vencida até ao alto de Intim. Neste primeiro encontro tivemos 88 baixas,
contando-se entre· os feridos o chefe Mamadu Sissé.
Na manhã do dia 5,
conforme estava combinado, a coluna pôs-se em marcha e, não obstante a
resistência do inimigo, foi acampar na aldeia de Intim, onde foi ferido
mortalmente o 2.º sargento António Ribeiro Moens, que acompanhava
T. Pinto desde a guerra de Oio. «Neste dia de luta de 1 contra 10, com o
inimigo bem armado de armas aperfeiçoadas, cada soldado, cada irregular, cada
voluntário foi ium herói». (T. Pinto).
No dia 10, a coluna
tomou o chão sagrado de Antula. Dêste ponto continuou a marcha sôbre
Safim. No dia 12 acampou na aldeia de Joal, onde foi insistentemente incomodada
pelo inimigo abrigado na floresta... «Três vezes carreguei sôbre o inimigo
... Notei que um grumete armado de uma Mauser atirava constantemente sôbre mim.
Quando eu de binóculo seguia o movimento dos auxiliares, senti de repente como
que um grande murro nas costas. Compreerrdi que tinha sido ferido, as nada
disse, até que o enfermeiro Dias viu e me levou ao acampiamento, não podendo
mais levantar-me». (T. Pinto).
Apesar disto, o
valoroso .comandante acompanhou a coluna na sua marcha até Safim, mas,
começando a sentir febres em consequência da infecção da ferida, teve de
recolher para Bissau, na companhia do capitão-médico Francisco Augusto Regala.
Durante alguns dias, o
tenente Sousa Guerra assumiu o comando das fôrças e continuou a marcha por Bór,
Bejemita e Biombo, donde regressou novamente para Bór depois de ter infligido
sucessivas derrotas ao inimigo. Em I de Julho, Teixeira Pinto reassumiu o
comando das operações.
No dia 10 recomeçou a
marcha para a batida das restantes aldeias dos papéiis até chegar à tabanca do
régulo de Biombo, que foi prêso. As declarações feitas por êste chefe merecem
registo, porque revelam a ment'alidade e o sentimento de que os papéis estavam,
animados· ... «Disse que nunca se submeteria porque odiava os brancos; que
enquanto houvesse um papel em Biombo, haviam de fazer guerra ao Govêrno e que,
se morresse, e lá no outro mundo encontrasse brancos, havia de fazer-lhes
guerra ...»
Com, a rendição dos
régulos de Biombo e de Tór dava-se por terminada a guerra de Bissau. A coluna
foi dissolvida em 17 de Agôsto de 1915, ficando estabelecios os quatro postos
de Bór, Safira, Bijimita e Biombo.
A campanha de Bissau
foi aquela que deu maior percentagem de baixas: 284 homens entre mortos e
feridos, no total de 1.600, isto é, cêrca de 20 por cento. Da coluna faziam
parte 3voluntários civilizados, Carlos Cabral, o sírio Karam e o professor
Manuel Moreira.
Este último costumava
fazer sózinho a jornada de Bissau para Bór e vice-versa. Não obstante ter sido
avisado pelo comandante para não tornar a fazê-lo, no dia 1 de Julho
desapareceu do acampamento, como de costume, tendo sido nessa ocasião apanhado
pelos papéis , que o trucidaram, levando 3 dias a supliciá-lo, cortando-o aos
pedaços. Assim acabou um herói obscuro, vítima da sua imprudência ou excesso de
bravura!
(a)Entre os chefes
indígenas que auxiliaram Teixeira Pinto figura em primeiro lugar o cabo de
guerra Abdul Injai. Pelos relevantes serviços que prestou, o Govêrno da colónia
cedeu-lhe o regulado de Oio, além das prêsas de guerra, e, durante algum tempo,
desculpou as extorsões e abusos por êle praticados dentro daquele território.
Todavia, Abdul,
convencido talvez de que o exército da colónia não seria capaz de vencer as
suas fôrças, começou a abusar da situação, não querendo atender às admoestações
e avisos enviados pelos governadores. Tornou-se, por isso, necessário organizar
uma coluna para castigar a sua insolência.
Foi encarregado das
operações o capitão· Augusto José de Lima Júnior, auxiliado pelos oficiais
Alberto Soares, Pedro Vilas-Boas, J. L. Trindade Pereira e Afonso Figureira.
Depois de 3 dias de luta, de r a 3 de Agôsto de 1919, o aventureiro Abdul Injai
foi vencido e rendeu-se sem condições. Perdemos
nesses combates o alferes Figueira com alguns soldados e auxil.iares.
Não faltou quem
tentasse defender a atitude de Abdul. Não têm, porém, razão, os que censuraram
a acção do govêrno. O facto de Abdul ter prestado incontestáveis serviços à
colónia não o iliba das responsabilidades dos abusos cometidos e da sua traição
final. (Veja-se o Suplemento à Ordem à Fôrça Armada.,
de Guiné, n.º 3, de 1924).»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do
autor, Lisboa, 1938, pg. 387-390
1915/12/13
Foi conhecida a notícia da revolta do gentio de Churo que massacra a tripulação do motor «Cacine» e mata o administrador de Cacheu, motivo por que foi criada a coluna de operações de Cacheu chefiada por TEIXEIRA PINTO.
1916/05/15
Por despacho do governador publicado nesta data foi o chefe de guerra ABDUL INJAI, tenente de 2." linha, nomeado régulo da região do Oio, em atenção aos relevantes serviços por ele prestados, tendo dado sobejas provas de lealdade e dedicação ao Governo.
1917/00/00
1917/03/14
Foi declarado o estado de sítio no arquipélago dos Bijagós, interdito o comércio com algumas ilhas e organizada uma coluna móvel de polícia à ilha de Canhabaque, tendo por objectivo o estabelecimento na mesma de um posto militar. Assumiu o comando daquele posto o tenente SOUSA GUERRA .
1917/05/05
Relação dos oficiais que tomaram parte na coluna de operações à ilha de Canhabaque, de 15-5 a 5-VII-1917: major CARLOS IVO DE SÁ FERREIRA; tenentes HENRIQUE ALBERTO DE SOUSA GUERRA, EDUARDO CORREIA GASPAR e HORÁCIO DE OLIVEIRA MARQUES
Foi dissolvida acoluna móvel de polícia comandada pelo major CARLOS IVO DE SÁ FERREIRA que visava o estabelecimento de um posto militar em Canhabaque, o que não se efectuou, tendo todavia estado em In-Orei e Bine.
1917/05/07
As operações militares levadas a cabo em Nhambalam resultaram infrutíferas pois que o indígena continuou insubmisso.
1917/05/15
A Campanha de ''Pacificação" de 1917
A primeira campanha de
vulto deu-se em Maio de 1917, quando foi organizada uma coluna com o objectivo
explícito de estabelecer um posto militar na ilha de Canhabaque.
Nesta ilha, «as provas de desrespeito para com a a
nossa soberania» eram, aparentemente, «cada vez mais acentuadas», e o «estado
de insubmissão» tornara-se «Um péssimo exemplo para os povos das outras ilhas».
(1)
Na verdade, de acordo
com um relatório do vice-consul francês, os portugueses sofreram um «sangrento
revés» quando tentaram desembarcar uma força de 150 soldados regulares e
auxiliares, poucas semanas antes.
Os bijagós, que se diz
estarem «bem armados», opuseram uma resistência
obstinada que obrigou a força invasora a retirar-se com três mortos e vinte e
dois feridos.(2)
A derrota abalou a
confiança dos portugueses, vindo como veio depois de uma campanha de
"pacificação" vitoriosa no território continental.
Estado de Sítio
A declaração de guerra
oficial, a 15 de Maio de 1917, acentua a resistência armada dos
"gentios" ao estabelecimento de um posto militar em Canhabaque, um
objectivo considerado «necessário e indispensável» se a soberania portuguesa
era para ser respeitada e os «rebeldes» reduzidos «à obediência». (3)
Ao mesmo tempo, foi
declarado o estado de sítio cm todo o arquipélago e estritamence proibidas
todas as fonnas de comunicação com as ilhas de Canhabaque, Bubaque e João
Vieira.
A coluna era composta
por 120 soldados regulares. sob o
comando do Tenente Eduardo Correia Gaspar, e 300 auxiliares chefiados por Mamadú Sissé mas sob o comando do Tenente
Henrique Alberto de Sousa Guerra, "mão direila de Teixeira Pinto futuro govemador da
província".
De notar, a ausência do
infame Abdul Injai cujas relações com os portugueses se deterioravam
progressivamente.
Todas as operações eram
dirigidas pelo novo chefe de estado
maior, Major Carlos Ivo de Sá Ferreira, um goês que mais tarde seria governador
do território. As operações em Canhabaque duraram oito meses.
Os portugueses e seus
auxiliares, uma vez mais, encontraram uma força de "gentios" bem
annados que tirava partido absoluto da densa vegetação da ilha para infligir
considerável número de baixas. «0 gentio
disparava aqui e além com a certeza da sua pontaria tranquila e firme,
causando-nos bastantes baixas».(4)
Foi com o «troar da
artilharia» e «com um consumo abundante de munições» que a coluna invasora
conseguiu evitar a sua eliminação.
De novo, foi a vantagem
do armamento moderno que permitiu às frustradas tropas continuar a avançar,
embora vagarosamente e a muito custo.
Depois de «grandes
sacrifícios e muita persistência» (5), e apesar de uma epidemia de beri-beri
que também causou «um razoável contingente de baixas»
(6), a coluna conseguiu derrotar os "rebeldes" e estabelecer um
posto militar em Bine e Inorei.
Porém. a
submissão dos "rebeldes" só podia ser vista como um fenómeno
temporário, «pois êste gentio é, nas suas qualidades de insubmissão, muito
semelhante aos papéis».(7)
Embora os chefes de
dois povoados onde os ponugucses tinham estabelecido postos militares tenham
assinado um "acto de submissão" em Janeiro de 1918, as gentes de Canhabaque e outras ilhas
"rebeldes" continuaram, todavia, com outras formas de resistência
passiva, incluindo a evasão aos impostos de palhota e esquivança às autoridades
locais:
Os indígenas desta
Circunscrição não recorrem por enquamo à justiça das autoridades europeias, não
só porque o seu estado de atraso lh' o impede, mas também e principalmente
porque resolvem todos os conflitos de harmonia com o rito da sua religião.(8)
(1} Preâmbulo, Portaria n.º 177 (16 de Abril de 1917}.BOGP, n.º
16, 21 de Abril de 1917,p.133. Este decretoo separou da administração de Boiama
as ilhas de Bubaque, Canhabaque, Rubane e João Vieira (e os ilhéus em redor
dessas ilhas), «que constituíram um comando militar independente, com sede
provisoriamente na ilha. de Bubaque», Ibid .
(2) ANS, 2F13, Doc. n.• 96: Vice-Consul de França a Ministères
des Affaires Etrangères, Bissau, 9 de Maio de 1917.
(3) Portaria n.º 229-A (15 de Maio de 1917).BOGP, n.º 23,
9 de Junho de 1917, p. 197.
(4) A. Silva Loureiro, Tribulo de Sangue: Monografia das
Camponhas Militares para a Ocupação da Guiné, Edições da 1ª .Exposição Colonial
Portugusa, Lisboa, 1934, p. 102.
(5) lbid.
(6) Tenente-coronel Bello de Almeida, op. cir., p. 138.
(7) A. da Silva Loureiro, op. cil., p. 102.
(8) INIC, Pasta 1920, Doc. n.º 320: Administrador e Secretário
dos Negócios Indígenas, Abú, 6 de Dezembro de 1920.
1918/01/23
Perante o governador e membros do Conselho do Governo prestaram acto de submissão os régulos de In-Orei, de Ancamane, de Bine, de Bani e Canhabaque. Pediram perdão por terem aberto fogo sobre a força que desembarcara em Canhabaque, sem que esta lhe tivesse causado qualquer dano. O governador concedeu-lhes o prazo de 6 meses para pagarem a taxa de guerra respectiva.
1919/07/08
É declarado o estado de sítio nas regiões de Bissorã e Farim por motivo de ABDUL INJAI se recusar a acatar as ordens do Governo.
1919/08/16
Foi preso em Farim o régulo ABDUL INJAI, tenente de
2." linha, que se entregou às autoridades locais com a sua gente
terminando assim as operações militares de Oio. O mesmo foi mais tarde deportado
para Moçambique, tendo, porém, morrido em Cabo Verde.
1919/08/29
Foi demitido do posto de tenente das forças de 2."
linha o régulo ABDUL INJAI e destituído do cargo de régulo da região do Oio,
sendo-lhe imposto a transferência para a Ilha da Madeira pelo tempo de 1O anos.
1919/11/25
Foi imposta por deliberação do Conselho do Governo a
transferência e residência para S. Tomé e Príncipe por 1O anos a 13 indígenas cabecilhas da rebelião ocorrida na região de
Oio.
1924/08/00
1925
1925/04/20
A Campanha de "Pacificação" de 1925
Por volta de 1925, a
situação em Canhabaque mereceu ainda outra campanha de "pacificação".
Segundo o Governador Jorge F. Velez
Caroço, as condições do acto de submissão", assinado pelos chefes de Bine
e Inorei em Janeiro de 1918, nunca tinham sido observados:
Muito platónico foi
esta submissão, porque, o que é certo é que os indígenas de Canhabaque nunca
desarmaram e com relação ao imposto de palhota, só com muita diplomacia e
fechando os olhos a muitas insolências, se tem conseguido que êles paguem
alguma coisa.(1)
(1) Governador Jorge F. Vellez Caroço, “Operaçõcs a
Canhabaque", BOGP, Suplemento n.º 9, 30 deJunho de 1925, p. 1.
1935
1936, contudo, é que todo o território ficou sob a efetiva administração
portuguesa, quando todas as ilhas Bijagós foram submetidas. É neste período que se constroem estradas e algumas pontes e a Casa Gouveia (do grupo CUF) se estabelece
em Bissau.
1936/01/07
A 7 de Janeiro de 1936,
as três colunas começaram a desembarcarem Canhabaque onde tinham aumentado os
ataques bijagós aos postos militares portugueses.
Dois dias depois do
desembarque a tabanca de Menéque foi alacada. Durante o ataque, o artilheiro branco
Sargento Virgílio Correia foi estilhaçado pelo seu próprio canhão. O «desastre» o foi
atribuido ao facto de as peças usadas serem obsoletas, sendo,
consequentemente, abandonadas.
Os rebeldes enfrentavam
agora um inimigo menos poderoso, com a vegetação luxuriante da ilha a seu
favor.
Após destruirem as suas
palhotas e envenenarem a água, abalaram para a floresta espessa que era
«de penetração impossivel sem se cair em mortíferas emboscadas».
A coluna era
constantemente emboscada e sujeiia a «tlros
estrondosos e
mortíferos das longas». Como resultado, a coluna progrediu muito
vagarosamente, sendo ohrigada a retirar com umas quantas baixas.
Por exemplo, o ataque a
Inhaura, a 10 de Janeiro de 1936, encontrou uma forte resistência que obrigou
os. portugueses e os seus aliados a retlrarem-se, para voltar no dia seguinte e
esmagar os "'rcbeldes”, após luta feroz!
A rnarcha sobre
Angumuru. cinco dias depois, provou ser ainda mais esgotante. Após cinco horas
de batalha, a coluna invasora conseguiu
avançar apenas 100 metros, sendo forçada a retirar-se com dois mortos, dez
feridos e dezoito comiderados «desaparecidos» na densidade luxuriante
do mato.
No dia a seguir, a
coluna, roforçada, lançou um furioso
contra-ataque e conseguiu desalojar os defensores, depois de um
curto período de vivaz troca de fogo.