terça-feira, 2 de agosto de 2016

COLONIZAÇÃO DA GUINÉ 1941-

1941
RICARDO VAZ MONTEIRO governador da Guiné até 25 de Abril de 1945
1941/12/09
Portaria ministerial torna Bissau capital da Guiné. A capital da colónia em 1941 muda de Bolama para Bissau, que na época era já a capital económica da colónia.
1942

A capital muda de Bolama para Bissau, que já era de facto “a capital económica” da Guiné.
1943
1945/04/25
MANUEL MARIA SARMENTO RODRIGUES é governador da Guiné até 1948
1947/12/31
Os primeiros portugueses naturais da Guiné Portuguesa Elevados à categoria de Cidadão
Tomaz Gomes
Por despacho de Sua Excelência o Governador; de 31 de Dezembro de 1947, foi elevado à categoria de “cidadão" nos termos do Diploma Lcgisfativo n. º 1.3641 de Outubro de 1946, publicado no «Boletitn Cultural» n. º 4, o indígena Tomaz Gomes, solteiro, filho de José Gomes e de Maria Olímpia da Silva natural da freguesia de S. José de Bolama.
O novo cidadão – que é o primeiro indigena a beneficiar do Diploma. acima referido - é auxiliar de enfermagem do Hospital Central de Bissau.
Halime Abdulai Said
Também ascendeu à cidadania a indígena Halime Abdulai Said, filha de Abdulai Said - natural da Síria - e de Gedere Embaló.
A nova ddàdã - tem 16 anos de idade, é solteira e natural de Chitole, da Circunscrição Civil de Bafatâ.
É digno de nota o despacho exarado por Sua Excelência o Governador, no processo respectivo:
«Deferido. É a primeira cidadã portuguesa que ascendeu ao abrigo do Di-ploma dos cidadãos. Que seja muito feliz e honre a classe em que agora entrou». Peixoto Correia
1948
1948 - A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Organização das Nações Unidas, proclama no seu artigo 4.º «Ninguém será mantido em escravidão ou servidão e a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.»
MÁRIO RIBEIRO DA COSTA ZANATTI governador interino da Guiné
PEDRO JOAQUIM DA CUNHA E MENESES PINTO CARDOSO governador da Guiné até 1949
1949
1949- Convenção e Protocolo Final para a Supressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio aprovados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
RAIMUNDO ANTÓNIO RODRIGUES SERRÃO governador da Guiné até 1953
Capitão de Engenharia. Apoiante do 28 de Maio. Muitos louvores e experiência em cargos em Angola. Raimundo António Rodrigues Serrão (n. 1897) filho de António Raimundo Serrão e de Rosa da Piedade Rodrigues, foi governador da Guiné  Portuguesa de 1951 a 1953. Enquanto capitão do exército, foi director geral dos serviços do porto e caminhos de ferro, no Lobito e presidente do rádio clube do Sul de Angola.
1849/02/13
ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 13 DE FEVEREIRO DE 1949 NA GUINÉ
Segundo o recenseamento de 1950 feito à "população civilizada" que não será exactamente, é claro, mas que se aproximará muito da situação em 1949, são estes os "portugueses" da Guiné na altura:
Estão aqui incluídos os negros e mestiços "civilizados", de acordo com o Acto Colonial. Pode ser uma base para ter ideia de quantos poderiam ter votado, retirando, evidentemente os "varões" e "fêmeas" menores, que não podiam votar não está visto quantos eram).
Há que ter em conta também que nem todas as "fêmeas" já Consideradas maiores podiam votar. Embora o decreto-lei 19.694, de 5 de Maio de 1931, desse a capacidade e enoral às mulheres, só podiam votar as que fossem chefes de família (isto é, "úvas, divorciadas ou separadas de pessoas e bens, mas com família própria) e · essem completado o ensino secundário, pelo menos.
A estas eleições concorreram Óscar Carmona, para reeleição e apoiado pelo Estado ovo, e Norton de Matos, apoiado pela oposição ao regime de Salazar. Norton de Matos fez campanha mas acabou por desistir, alegando falta de liberdade no acto eleitoral.
Foram estes os resultados desta votação na Guiné, segundo informação da União acional ((o único membro nas mesas de voto, certamente ... ):
*Está assim. De acordo com o total deveriam estar 199 inscritos em Boiama. Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Volume IV, Nº 13, 1949 A UN não dá notícia dos votos brancos e nulos. Mas, segundo o que está expresso deveriam ser: 4 em Bissau, 2 em Boiama e 1 em Bafatá. Mas, numa chamada "Recapitulação", diz-se que há que deduzir aos inscritos 213 que estavam "ausentes, mortos ou presos", o que dará, de facto, 1.715. Também retira 503 que chama de "abstenções voluntárias", e já são 1.213, que é o total dos votantes. Muito longe do número referido no quadro acima, o total dos "portugueses" ... da Guiné.
Segundo as minhas contas, os inscritos que não votaram distribuem-se assim:
* Correcção minha
Pode-se concluir que estavam assim distribuídos os números de "ausentes, mortos ou presos" e de "abstenções voluntárias", com maior peso em Bissau.
1950

«Os FULAS, FULBÉ ou PEUL, 107 000 em 1950, constituem o elemento perturbador da história guineense entre 1850 e o final do século XIX. Pertencem naturalmente a esta grande família de povos que, por migrações, invasões e mestiçagem agitaram duradouramente a história da Africa Ocidental. O menos que se pode dizer é que não são homogéneos. Simplificando em extremo, distinguem-se na Guiné, segundo as designações portuguesas, -os Futa-Fulas, originários do Futa-Djalon (Guinée actual) que, por sucessivas investidas, destruirão o Estado mandinga carcomido do Gabu e, ao fazerem-no, favorecerão a ascensão em força dos seus primos, os Fulas-Forros ou Fulacundas, que os tinham chamado em socorro. Estes revoltam-se contra os seus hospedeiros mandingas, que em parte expulsarão, destruirão ou assimilarão. Os Fulas-Forros, ou quanto muito os seus chefes, conduzirão, com o apoio dos Almamy (reis) do Futa-Djalon e da sua província principal, o Labé, uma intensa política de islamização na Guiné. Não se dissocia da redução à escravatura e da absorção cultural de certos povos conquistados, como os MANDINGAS e os BIAFADAS que, quando são fulanizados e islamizados, passam a ser FULAS de «segunda classe», os chamados Fulas-Pretos ou Fulas «cativos». Nada é evidentemente automático e, sob a capa de proselitismo religioso, é muito frequentemente uma sujeição de alógenos rendibilizados que é procurada. De onde tensões sociais entre ex-senhores (Fulas-Forros) e ex-escravos (Fulas-Pretos) que, no correr das gerações, podem vir a ser políticas e transformar-se em lutas de regulados com regulados quando, por exemplo, Fulas-Pretos ousados se emanciparam e se voltam contra os Futas-Fulas e os Fulas-Forros. Evidentemente não é possível enumerar a importância das três grandes componentes no momento da conquista, mas parece que os Fulas-Forros eram muito minoritários no interior do grupo fula, assim como os Fula-Fulas que só se instalam massivamente na Guiné depois da implantação francesa na Guinée.
Às ambições dos chefes das três componentes fulas é a Guiné devedora de mais de 50 anos de conflitos intra-africanos (cerca de 1850-1900) que devastarão a parte oriental do país, das savanas do Gabu ao norte, até ao limite sul do Forria, quer dizer até aos mangroves do Sudeste guineense. Estes «bovimanos», em via de sedentarização, quebrarão ou roerão um máximo de etnias animistas mas, quando os seus interesses chegarem a contactar com os dos Europeus, a sua habilidade e a sua flexibilidade os aconselharão a conciliarem-se tanto com os Portugueses como com os Franceses. Por este facto, alguns dos seus grandes «feudais» serão bons auxiliares dos Portugueses. A não ser que se dê o contrário!
Quanto aos MANJACOS, 71 000 em 1950, levantam um problema de identificação porque, até aos anos 1910, senão mais tardiamente ainda, os Portugueses designam a sua maior parte (os que vivem no interior das terras, entre o rio Cacheu e o rio Mansoa) pelo nome de PAPÉIS, reservando o nome MANJACO às zonas costeiras desta mesma região. É verdade que a diferença entre os primeiros e os segundos é, por vezes, difícil de apanhar. Para respeitar a nomenclatura da época, diferenciando-os dos verdadeiros PAPÉIS apenas na ilha de Bissau, chamaremos aos inimigos da feitoria de Cacheu PAPÉIS DO NORTE, ficando bem entendido que são verdadeiros MANJACOS. São agricultores animistas constituídos em pequenos regulados particularmente eficazes quando se trata de proibir o seu território étnico (o chão na Guiné) aos lusitanizados de Cacheu. Quanto aos MANJACOS, no sentido restritivo anterior a 1910, a sua hostilidade em relação à colonização será essencialmente marítima (pirataria).
Os MAND!NGAS das savanas do Norte diminuíram provavelmente (64.000 em 1950) em relação ao período pré-colonial. Batidos pelos FULAS, parece que uma parte se fulanizou e fundiu no subgrupo dos Fulas-Pretos. Os que se mantêm mandingas são principalmente agricultores-criadores de gado e comerciantes: gilas (os famosos Dioulas dos autores franceses). Na sua maioria animistas no começo do período, acabam, nem chegou a duas gerações, por adaptar o Islão dos seus vencedores e dele se fazerem, por sua vez, ardorosos propagandistas na Guiné. Salvo num reduto, o Oio, que será um baluarte da resistência animista mandinga, povoado pelos Soninquês (nome com que são conhecidos pelos Portugueses os Mandingas ainda não islamizados), talvez por estar em contacto com os BALANTAS impermeáveis e por não conterem grandes regulados (contrariamente à tradição mandinga). A conquista de Oio necessitará de uma aliança dos Portugueses e dos islamizados. No restante, os MANDINGAS, já quebrados, não aparecem verdadeiramente na resistência militar.
Os PAPÉIS ou PEPÉIS estão creditados em 36 000 almas. Se os diferenciamos, como faremos, dos PAPÉIS DO NORTE (ou MANJACOS do interior), os que restam estão concentrados na ilha de Bissau onde os seus micro-regulados animistas zombarão, até 1915, de todos os governadores e dos habitantes da principal praça comercial da Guiné. Conhecendo bem o mundo europeu ou lusitanizado, por lidar com ele em Bissau, oferecem o exemplo mais puro da sua recusa absoluta, enquanto não tiverem sido dizimados pelos mercenários dos Portugueses, entre os quais os FULAS.
Dos MANCANHAS ou BRAMES (16 000 almas) pouco há a dizer, senão que é excepcional que estes excelentes e pacíficos agricultores, próximos dos PAPÉIS, entrem em conflito com os Portugueses. Constituirão com os MANJACOS e os BALANTAS a maior parte dos operários agrícolas que vão empregar-se nas pontas, plantações de amendoim do Rio Grande de Bolola! Buba.
Pela contingência das classificações quantitativas posteriores em cem anos vêm, em seguida, os BIAFADAS, de que os 12 000 recenceados em 1950 não traduzem a importância que tiveram durante perto de um século. Animistas convertidos depois pelos sabres dos FULAS, são provavelmente os que mais sofreram com as invasões dos islamizados. Compostos por mesquinhos agricultores tidos por inúteis pelos «plantadores» de amendoim, os seus micro-regulados oporão uma forte resistência às campanhas de deportação/ conversão dos FULAS. Entre eles uma proporção desconhecida teve de se fulanizar à força e só geneticamente sobreviveu no interior do subgrupo dos Fulas-Pretos. O seu chão parece ter deslizado do rio Geba para o sul do Rio Grande de Bolola!Buba e do leste (Forria) para oeste, sob a pressão dos FULAS. Antes de mais inimigos dos lusitanizados, acabarão por lhes dever não terem desaparecido completamente da Guiné.
Quanto aos BISSAGÓS ou BIJAGÓS, 10 000 almas em 1950, é de perguntar, por que aberração, esta pequena etnia de marinheiros e de agricultores, pulverizados por uma boa quinzena de ilhas habitadas, pôde conseguir ter uma reputação tão detestável (provocadores
de naufrágios e piratas) e ser a última a submeter-se à colonização portuguesa que, historicamente, começa sempre as suas conquistas pelas ilhas.
Outra micro-etnia animista, os FELUPES da Guiné (8000) ocupam principalmente a ponta (triângulo) meridional da área do grupo dos DIOLAS do Casamansa, dos quais constituem um subgrupo. Xenófobos e bem decididos a continuar a ser eles próprios, este punhado de agricultores (arroz, palma) e de pescadores, tendo por vezes alguns chefes, mas sempre feiticeiros, será causa de aborrecimentos graves para o colonizador (francês, incluido); a sua submissão será ao mesmo tempo tardia e mal garantida. Geralmente são-lhes associados os BAIOTES (4000) que figuram pouco na história da resistência.
Cai-se em seguida em parcelas de etnias sem significado demográfico, quer porque foram fagocitadas por outras mais poderosas do que elas, quer porque só estão representadas na Guiné por ramos que as fronteiras internacionais separaram do seu tronco. Citar-se-á aqui:
a)os NALUS, na fronteira meridional da Guiné;
b) os BANHUNS, na fronteira com o Casamansa. Portugueses e lusitanizados tiveram, por vezes, desavenças menores com uns e com outros.
Caleidoscópio de povos esboroados (1), de que alguns não encheriam, todos juntos, uma aldeia angolana ou moçambicana, a Guiné conta, no entanto, com um último grupo perigoso para o colonizador português. Não é étnico, mas social. É o dos GRUMETES (talvez três a quatro mil no seu apogeu), quer dizer Africanos «lusitanizados» e «cristianizados» mais ou menos seriamente. Vivem nas feitorias portuguesas ou gravitam na sua periferia em funções de marinheiros, de operários e de pequenos bufarinheiros negociando na sua etnia de origem. Para as mulheres, a ausência de brancas até uma época recente, dispensa comentários quanto ao papel de algumas delas. O problema com eles é nunca se saber antecipadamente para que lado penderão em caso de conflito. Segundo o seu grau de integração, mesmo de mestiçagem, são, quer auxiliares corajosos e muito úteis aos Portugueses contra os seus irmãos - ou primos - de raça, quer aliados destes últimos. Várias feitorias quase caem aos seus embates, enquanto outros estabelecimentos (ou os mesmos) lhes devem a sobrevivência. Julgados ainda indispensáveis no começo do século XX, tendem, em Bissau, a deixar-se influenciar pelas elites luso-guineenses e cabo-verdianas mestiças, implantadas na praça e que querem desempenhar um papel político com o advento da República (1910). A este título, os GRUMETES são também proto-nacionalistas guineenses.
Os mestiços LUSO-GUINEENSES e os CABO-VERDIANOS, estes últimos cada vez mais numerosos na Guiné antes da independência, têm em comum a vontade de se insinuar na Administração e nos serviços. No limite dos cruzamentos biológicos, estes intermediários, precursores dos assimilados locais, desempenharão um papel económico e político importante, ainda que ameaçado pelos progressos da implantação metropolitana que se consolida à medida que recua a insalubridade desta costa.
(1) Restaria ainda uma boa dezena de outras etnias a evocar.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936,Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 27-36
Em 1950, dos 512.225 residentes só 8.520 eram considerados civilizados (2.273 brancos, 4.568 mestiços, 1.478 negros e 11 indianos) e destes 3.824 eram analfabetos (541 brancos, 2.311 mestiços e 772 negros).
Os "portugueses" segundo o censo feito à "população civilizada" da Guiné Portuguesa em 1950
Baseado no censo à "população civilizada" realizado em 1950, o artigo de António Carreira publicado no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa (Volume XIV, nº 56 de Outubro 1959) é interessante para avaliar, mais uma vez, se os guineenses eram, na sua generalidade, considerados "portugueses".
Segundo a naturalidade a população portuguesa tinha a seguinte composição:
Isto é, dos 510.777 habitantes que a Guiné tinha na altura (segundo dados da Delegação da UE em Bissau), só 4.644 (Varões e Fêmeas) é que eram civilizados e, portanto, portugueses.
Na mesma óptica, refere ele, na página 550, que: «Só os naturais da Guiné expressam mais de 58,3% da população nacional [o sublinhado é meu], seguindo-se Cabo Verde com 21,4%, a Metrópole com 18,8% e as outras províncias com 1,3%».
A população total segundo a nacionalidade e por sexos e Circunsçrições era:
Eram estes os "portugueses" nestas circunscnçoes. E refere que os libaneses representam cerca de 81,1 % da população estrangeira. Já não eram muitos no meu tempo, mas sei que era assim. Tem outros quadros depois com o número de “portugueses" nas principais localidades de cada circunscrição. Refiro só as que, anos mais tarde, conheci:
- em Geba havia 8 (V e F) e em Barro havia 19 (V e F).
Significou que, nesta estatística de «civilizados», não contaram os muitos milhares de habitantes das inúmeras tabancas do mato. Esses não eram «civilizados», não eram considerados "portugueses".
Não eram preconceitos de António Carreira. Era a ideia oficial dos governantes das colónias, embora lhes chamassem já províncias.
Aliás, a certa altura, diz o autor do artigo: «Arrependi-me de fazer esta enumeração de problemas porque o leitor da Guiné, depois de a ler, dirá logo ao primeiro amigo que tudo isso é desnecessário (se não disser qualquer nome feio) porque sempre se viveu sem saber das condições de vida do preto e a Guiné progrediu sem isso e até porque desses inquéritos não resultará aumento de volume de negócios ou de riqueza material.»
E os problemas por ele levantados foram estes:
- saber dos movimentos migratórios da principal riqueza da Guiné, o seu nativo:
- o êxodo das populações rurais sobre as concentrações urbanas de tipo civilizado:
- a falta de trabalho ou de ocupação ou actividades dos destribalizados;
- as condições de vida dos aglomerados populacionais das zonas suburbanas;
- a prostituição;
- a influência do islamismo sobre as populações animistas;
- as dietas e orçamentos domésticos das populações rurais e suas condições ·e habitação;
- as possíveis influências das tributações na vida económica e social;
- etc, etc
Claro que nada disto importava a quem apenas queria explorar o que desse dinheiro na colónia.
Finalmente, para se ter uma ideia do grau de «civilização» dos inquiridos no censo:
1951
1953
1953- Aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas o protocolo de emenda à convenção de 1926 relativa à escravatura.
FERNAMDO PIMENTEL governador da Guiné até 1954













sexta-feira, 15 de julho de 2016

GUERRAS 1884/04/03-

1884/04/03
Em 28 de Março de 1884, o vapor português "Cassini"VER passa per Carabane para exigir aos habitantes de M'Béring a entrega de quinze pessoas que eles tinham seqüestrado perto de Zrguinchor. Aterrorizados com as histórias de razias feitas por Fodé Kaba a norte do rio, tinham deixado as suas tabancas para refugiar-se em Ziguinchor. Os régulos de M'Béring recusaram entregá-los ao comandante do presídio, o qual os ameaçou de represálias.
A 3 de Abril, a canhoneira “Bengo", tendo a bordo o governador da Guiné Portuguesa, Pedro Inácio de Gouveia, passa por Garabane em direcção a Ziguinchor, onde chegou na noite do dia 4, atrasando-se por um encalhamento sofrido. O sargento Tellier, chefe de posto de Carabane, vai à noite a M'Béring em visita às suas três tabancas, Jirel, Jiguero e Butemol. Os régulos dizem-lhe que o governador tinha enviado um delegado, António Pereira de Carvalho, para reclamar as pessoas que tinham sido sequestradas. Eles responderam-lhe que tinham sido os da tabanca vizinha de Jibonker os raptores e que tinham tentado que eles fossem devolvidos. Furioso, Carvalho ameaçou pegar fogo às tabancas. Eles responderam, então, que pertenciam aos franceses. Tellier decidiu ficar em M'Béring no dia 5 de Abril para tranquilizar a população e esperar pela eventual chegada dos portugueses. Voltou para Carabane no dia 6. E, é claro, os portugueses incendiaram e saquearam as três tabancas de M'Béring. A canhoneira "Bengo" torna a passar dia 8 em frente de Carabane. Tellier vai dia 9 a M'Béring para ver os estragos. A 10 visita os régulos de Jibonker que lhe mostram um papel com o carimbo da canhoneira '"Bengo" e assinado por Pedro Inácio de Gouveia. Os portugueses tinham escrito que os habitantes de Jibonker, a conselho dos de Jibelor, tinham pedido perdão ao governador pelas ofensas feitas ao presídio. E prometido, como indemnização, vinte vacas e cem alqueires de arroz para ser distribuído pela população de Ziguinchor. Mas apressaram-se a dizer que esta “indemnização" era uma imposição e que não tinham intenção de a pagar.
Com mais sorte que M'Béring, Jibonker escapou de ser incendiada. Mas não foi por acaso. A decisão dos portugueses foi alterada por uma carta do vice-governador Bayol enviada por Tellier e que chegou a Ziguinchor a 6 de Abril às 22h15. Entre outras coisas, continha uma cópia do tratado assinado a 30 de Março de 1828 entre o comandante do aviso "Le Serpent" e o régulo de M'Béring e das regiões vizinhas. O governador da Guiné Portuguesa respondeu na manhã de 7 de Abril. Declarou que esse tratado não era do conhecimento dos habitantes de Ziguinchor, nem dos de M'Béring, os quais nunca tinham feito alusão a um protectorado francês. Em conclusão manifestou o desejo de ser mantido o statu-quo até que os governos de Paris e de Lisboa decidam de maneira definitrva a questão das fronteiras entre o Senegal e a Guiné Portuguesa.
Assim, com essas várias tentativas para impor a sua autoridade nas várias tabancas próximas de Ziguinchor, os portugueses procuram fazer valer os seus direitos sobre a Casamansa e adquirir algumas vantagens e conseguir garantias na perspectiva de uma troca com os franceses.
1884/04/16
Dissolvida a coluna em 16/4/1884 foi louvada pelo bastante denodo com que se houve no ataque de Bori, única que não veio solicitar perdão.
1884/04/01
Organização da coluna de operações para com­bater o gentio de Jobolor, Jabocuor e Bori (zona de Ziguinchor), comandada pelo capitão ANTÓNIO JOSÉ MACHADO, tendo tomado parte nas operações um contingente de artilharia e a guarnição da canhoneira «Bengo».
1884/05/07
«Contra os Papéis da ilha de Bissau
Casamansa é um caso quase desesperado e o governador Gouveia não tem muito de todo o seu tempo para fazer face a preocupações bem mais próximas de Bolama. Latente, o problema papel retoma um ar perigoso, mesmo na ilha de Bissau. Que se censura agora a estes vizinhos próximos da praça? Essencialmente o que se censura aos Bijagós, aos Manjacos, aos Balantas e aos Felupes: um amor imoderado pela pirataria costeira, que entrava a cabotagem. A 5 de Maio de 1884, o secretário-geral JoJoaquim de Almeida é encarregado de conduzir à razão os Papéis de Biombo, a oeste da ilha de Bissau, e os Manjacos da ilhota de Caió. No Biombo que, pela sua ponta homónima, ocupa uma posição vantajosa para a intercepção das goletas, pelas suas pirogas de guerra, as coisas não correm bem. A 7 de Maio, o régulo de Silho (local desaparecido ou não encontrado, na proximidade de Biombo), ao recusar vir parlamentar a bordo de um vapor português, vê a sua aldeia metralhada e bombardeada (120). Como persiste em desconfiar das suas intenções e os trata de alto, o bombardeamento dos Portugueses é retomado a 10 de Maio, e o secretário-geral ordena o desembarque de 30 marinheiros e de quatro oficiais, de que assume o comando. A aldeia é parcialmente destruída. No reembarque na lama, o fogo das Snyder e da metralhadora impede os Papéis de derrotar o pequeno destacamento. Insignificante, esta acção de 10 de Maio de 1884 (121) torna-se no entanto notável porque, tanto quanto se sabe, é a primeira vez, no século XIX, que os Papéis são assaltados frontalmente numa das suas aldeias pelos Portugueses. Tacticamente, não passa de uma espadeirada no lodo, mas é também uma retomada de confiança no campo dos Portugueses. Se nem sempre o senhores da ilha de Bissau ousam, doravante, ali fincar os dentes, saindo-se bem: apenas três feridos.
(120) A. Trindade Coelho: op. cit., p. 47. O texto impresso reproduz o manuscrito do «Relatório da Comissão do Secretario Geral ao Território de Biombo» de 12 de Maio de 1884. A.H.U., Secção. Doc. S. 12 (1879-1885).
(121) A. Trindade Coelho: op. cit., pp. 48-50
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 218-219
1884/05/12
Louvados os oficiais da «Bengo», o tenente CARLOS AUGUSTO DE MAGALHÃES E  SILVA, 2ºtenente JOÃO MANUEL GUERREIRO DE AMORIM e o aspirante a Oficial  de Fazenda JOSÉ JÚLIO DOS SANTOS CAR­VALHO E AZEVEDOpela maneira como  efectuaram o bombardeamento de Biombo, seguido de de­sembarque e  destruição da tabanca de Silho.1884/06/06
«Nova campanha conta os Papéis de Cacanda (Junho de 1884)
Cacheu vê reacender-se, como em 1871, o seu contencioso com os Papéis do norte de Cacanda. Não se sabe no que se tornaram os habitantes da feitoria durante esta trégua. O «desastre de Bolodeve ter vibrado provavelmente um golpe sensível no seu prestígio, mas não se assinala nenhuma perturbação com os seus vizinhos, há treze anos. Somos levados a crer que o burgo, que pode ter 1200 habitantes, tem dificuldade, com os seus antigos «palácioem ruína (entre os quais o de Honório Pereira Barreto), em reencontrar um segundo alento depois do fim do tráfico negreiro. «Vive-se ali num constante quem-vem-lá» (124). Ora, a 6 de Junho de 1884, tendo um soldado da guarnição ido caçar a Cacanda, o que prova que em 1884 os militares podem sair dos seus bastiões sem temor, mata na selva, em condições pouco claras, um homem da povoação de Cacanda. As tensões estão acesas por baixo da cinza de 1871 ou trata-se de um movimento irreflectido
de uma população pronta a exaltar-se? No mesmo dia, para vingar o assassínio ou o acidente, um Papel do Norte, disfarçado, entra na praça e, aproximando-se de um grupo de oficiais e de funcionários públicos, faz fogo e mata o juiz de Cacheu (125). Um governa- dor em 1871, o juiz em 1884; temos a impressão de que se ferve em pouca água, na pátria de Honório Pereira Barreto.
A efervescência intra e extramuros sobe perigosamente nos dias seguintes, sendo as sentinelas dos fortins alvejadas. Vendo-se bloqueados, a municipalidade de Cacheu e ·os grumetes exigem uma intervenção enérgica ao governador Gouveia. A expedição contra Botê é, pois, adiada e a tropa dirigida contra Cacheu. De longa data, se aprendeu a não desprezar a ameaça papel do norte em Cacheu. O governador Gouveia encarrega-se pessoalmente do caso e vem com os soldados válidos de Bolama. Utilizando as tropas estacionadas localmente, organiza uma forte coluna, cuja particularidade é estar armada com espingardas Snyder, as primeiras a entrar em acção em massa na Guiné (126). Quem está então revoltado contra Cacheu? Cacanda, naturalmente, mas também mais oito aldeias, das quais são ainda identificáveis Pecau, Capo, Bijope, Bianga e Matta de Cacheu
(127). Em troca, nem o Churo nem os Felupes de Bolor participam no caso. As forças coligadas representam talvez 2000 homens, seo mais. Os Portugueses reuniram, além de cem auxiliares, sob o comando do tenente-coronel Eusébio Catela do Vale, doze oficiais, dez sargentos e duzentos e vinte soldados, com uma bateria de artilharia (128).
A campanha de Junho de 1884 contra os Papéis do Norte limitar-se-á, motivado pela fraqueza das distâncias, a uma única saída (28 de Junho) que, depois da destruição de Cacanda, acaba, no regresso, por uma rie de emboscadas numa floresta cerrada, onde as espingardas de agulha, pela sua rapidez, surpreendem os Papéis no Norte, que contavam com a sua habilidade com armas brancas para afogar a coluna pelo seu número. Os Portugueses perdem unicamente um oficial e um sargento e alguns auxiliares. Têm doze feridos. Do lado dos Papéis do Norte, o fogo prolongado dos soldados provoca pesadas perdas, nomeadamente entre os chefes caídos em massa. Durante dias e dias, os Portugueses escutarão os choros tradicionais, a cada nova morte de feridos nas aldeias próximas (129). As emboscadas e as perseguições contra a praça prosseguirão intermitentemente (especialmente a 3 e 5 de Novembro). De facto, a vila de Cacheu está isolada e impotente (130). Cacanda só fará a sua paz um ano mais tarde (15 de Julho de 1885). Esta «guerra» de Cacanda e dos seus aliados contra Cacheu, que acaba muito mal para os Papéis do Norte (131), dificilmente se pode explicar pela simples vingança de um assassínio. Se bem que não dispunhamos de todos os elementos de apreciação, presentimos o ressurgir do velho ódio entre gentios e lusitanizados, sem que aqui possamos incriminar os Cabo-verdianos.
124) Afirmação de um comerciante francês que ali chega por 1882-1883. Alexandre Rouzaud: «Voyage au Rio-Cachéo (Guinée portugaise)», Bulletin de la Société de Géoraphie de Marseille, Tomo III, 1884, p. 353. Este Rouzaud abriu duas feitorias nos Bijagós e é tão zeloso que será nomeado agente consular francês. Max Astrié: «Le royaume...», op. cit., p. 358.
(125) A população tenta linchar o assassino, porém é-se legalista neste fortim da fronteira. Salvo in extremis pelo comandante militar e transferido para Bolama, para ali ser julgado, morrerá dos ferimentos, à sua chegada, a 16 de Junho. Fausto Duarte (Ed.): «A Guiné no...», Op. cit., p. 135.
(126) Idem. p. 136.
(127) Ibidem.(128) Ibidem quanto aos números.
(129) Idem. p. 118.
(130) Anónimo: «Cacheu», As Colonias portuguezas, Anno III, n.º 1, Janeiro de 1885, p. 8.
(131) Sempre o mesmo, H. Brosselard fala de retirada precipitada e de insucesso português (H. Brosselard: La Guinée..., op. cit., p. 23). Vê nesta questão a causa da sublevação dos Biafadas, que atacarão as pontas do Rio Grande de Buba. Podemos duvidar.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 220-222
«Em 6 de Junho de 1884 partiu de Bolama para Baque uma coluna sob o comando do major João António Monteiro afim de libertar a chalupa Honorio Barreto que, dias antes, a,li encalhara e fôra aprisionada pefos felupes da região. As nossas fôrças tentaram desencalhar a chalupa mas não o tendo conseguido e atendendo o seu estado de ·deterioração, tiveram de a abandonar.
Dali a flotilha dirigiu-se a Cacheu, tendo encontrado a praça em grande alvoço. Na manhã dêsse dia um soldado da praça tendo ido caçar a Cacanda, disparou, porventura casualmente, contra um indígena que andava pelo mato. Diz-se que o indígena sucumbiu pouco depois e o gentio, que andava indisposto com os moradores de Cacheu, aproveitou do ensejo para atacar a povoação.
No mesm.o dia um indígena entrou disfarçado na Praça com uma espingarda e aproximando-se dum grupo de oficiais e civis que estavam conversando, fez fogo ferindo o ·civil Joaquim Rodrigues. Como a hostilidade dos indígenas continuasse, a Câmara Municipal e o povo de Cacheu pediram providências ao govêrno.
O governador dirigiu-se a Cacheu pessoalmente e organizou ali uma coluna com cêrca de 200 soldados e 100 auxiliares, sob o comando do tem-coronel Catela do Vale. Tomaram parte os oficiais Monteiro, Ferreira Simões, Felipe de Sousa, António José Machado, Balbino Rosa, Sousa Lage, Afonso, Conty, Joaquim António Pereira e o médico Aristides de Sousa. As forças marcharam no dia 28 sôbre Cacanda, destruíram a tabanca e perseguiram o gentio no mato, causando muitas baixas.
Da nossa parte houve a lamentar as mortes do tenente Afonso Rodrigues, do sargento Duarte Calado e de alguns auxiliares. Ficaram feridos também o capitão Felipe de Sousa, 1 sargento e 10 soldados.
Após a campanha, além dos louvores conferidlos aos oficiais e ao comerciante Nicolau Gomes Barbosa, foi condecorado com o grau de cavaleiro da Tôrre e Espada um soldado de Caçadores de Bolama. Só no ano seguinte é que o gentio de Cacanda se resolveu a solicitar a paz e o perdão, que lhe foi concedido em 15 de Julho.» 
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 305-306
1884/06/28
O gentio de Cacanda, fazendo uma emboscada à coluna de operações, sob o comando do tenente­-coronel EUSÉBIO CATELA DO VALE, agride-a à queima-roupa aproveitando-se do mato cerrado. Foi todavia desalojado e repelido, morrendo em combate o 1.º sargento CAMPOS CAJADO.
Na Guiné também houvera nos arredores de Cacbeu campanha não muito feliz contra os negros; bastou, porém, que o ministro mandasse para esta provincia armas Snider, porque as tropas ali tinham espingardas de carregar pela boca (!) para que se restabelecesse o prestígio das nossas armas. Os pretos vendo aquellas espingardas  que faziam fogo sem necessidade de vareta, consideraram o caso estranho como novo feitiço de branco, e foram facilmente batidos.
1884/06/29
Ataque da coluna de operações contra o gentio de Cacanda
1884/12/26
«Depois de tantos sacões, parece que o resto do ano de 1884 foi mais calmo, tentando Cacanda fazer a sua paz com Cacheu. O régulo terá de pagar uma indemnização e as despesas de guerra, e abrir um caminho praticável entre a sua aldeia e a praça (139). Enfim, em pouco mais de três anos de mandato (17 de Dezembro de 1881 - 26 de Dezembro de 1884), Pedro Ignácio de Gouveia não descansou: sete operações com o seu antecessor, num mandato de menos de três anos, mas oito com ele, com uma nova série de adversários: Biafadas (Janeiro de 1882; Julho de 1884), Fulas-Forros (Junho depois Setembro de 1882), Balantas (Junho de 1883), Casamansenses (Abril de 1884), Papéis (Junho de 1883; Maio de 1884), Papéis do Norte (Junho de 1884) e mesmo Mandingas (Julho de 1884). Isto nada anuncia de bom para os seus sucessores.
(139) Fausto Duarte (Ed.): «A Guiné no...». pp. 146-148.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 224
1885/00/00
Mussá Moló impõe o seu comando ao presídio de Geba.
1885/08/03
Louvados o capitão CAETANO ALBERTO DA COSTA PESSOA e o tenente JOAQUIM ANTÓNIO DO CARMO AZEVEDO, por terem restabelecido a tranquilidade no presídio de Geba e mantido o prestígio da auto­ridade em relação aos gentios que se lhes mostra­ram hostis.
1885/10/11
Forças militares portuguesas atacam a tabanca de Sambel-Nhanta.
1886/00/00
1886 - Os comerciantes de Geba revoltam-se contra Mussá Moló, provocando uma guerra que vai durar vários meses. A prisão do régulo Corraim de Ganadú. pelos Portugueses, provoca uma revolta na região de Geba.
1886/01/13
Foi nomeada uma coluna de operações composta de uma. bateria de artilharia e de uma força do Batalhão de Caçadores n." 1. para desembarcar na ponta de S. Luiz  Gonzaga, sob o comando do capitão de artilharia CAETANO FILIPE DE SOUSA, e marchar  em direcção à tabanca dos Beafadas de­nominada Bijante nos territórios de Cubisseco,a fim de atacá-la, destruí-la e arrazá-la, Dez dias mais tarde o mesmo oficial falecia por ferimento recebido em combate, sendo sepultado com honras militares. A coluna foi dissolvida a 15.
1886/01/16
«Contra os Biafadas de Bijante (15 de Janeiro de 1886)
Por razões de nós desconhecidas, parece que os Biafadas, no final de Dezembro de 1885, atacam os Fulas (156), enquanto Bakar Kidali interpreta o referido tratado como uma assinatura em branco, autorizando-o a bater os Biafadas, com o concurso dos Portugueses, que avisa da sua intenção de marchar contra Cubisseque, a 17 ou 18 de Janeiro de 1886, esperando que a Administração os atacasse de flanco, apoiando-se na canhoneira. O governador Gomes Barbosa reúne os Fulas refugiados em Boiama, grumetes e a tropa, e avisa o régulo biafada Mamadu-Diola (ou Mamadi-Joula) de que se manterá neutro no rio. Não tendo chegado Bakar Kidali, o governador vai mais longe e decide que os portugueses atacarão, a 15 de Janeiro de 1886, sozinhos (157). De facto, nesta época, os Biafadas são os mal amados dos Europeus. Não querem deixar-se aniquilar em silêncio pelos Fulas e tornaram-se, nas suas razias de resposta, tão cruéis quanto os seus inimigos. Conflito racial sem quartel. Os Portugueses escolheram por alvo os Biafadas de Bijante (ou Bijanto) (158).
Esta expedição continua misteriosa tantas são as contradições existentes entre as fontes. Indirectamente (159), apenas sabemos que cerca de duzentos homens e duas peças desembarcam na ponta Pires (não encontrada), num afluente meridional do Rio Grande de Buba, sob o comando do capitão de artilharia Caetano Filipe de Sousa, já visto no Forria e em Buba em 1882. Ao cabo de três horas de marcha, a 15 de Janeiro de 1886, os Biafadas fazem-nos cair numa emboscada e concentram o seu fogo sobre os serventes dos canhões. Vindo dirigir os tiros da bateria, o capitão é abatido e morrerá uns dias depois. O seu substituto, o capitão Pontes Ferreira, vendo que não pode manter-se, bate em retirada, perdendo apenas um cabo europeu ferido e abandonado ao inimigo, que o degola. O reembarque é coberto pelo fogo de artilharia de uma lancha.
(156) Correia e Lança: Relatório... Op. Cit. p. 59.
(157) H. Brosselard: La Guinée..., op. cit., pp. 24-25.
(158) Talvez se trate de um pônto todo a montante do rio Pobreza, afluente do rio Tombali? Este território deve ser muito mal conhecido em 1885-1886, pois que o mapa oficial de 1923 nem faz ainda distinção entre os dois afluentes do rio Tombali!
(159) O Exército portuguez, 9.0 Anno, 1 de Março de 1886, n. 0 185, pp. 37-38, reproduzindo uma correspondência vinda da Guiné, publicada no Diário de Notícias, n.º 7, 208, de II de Fevereiro de 1886.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 229-230
Foram removidos para bordo das embarcações que estacionavam no rio os militares feridos no ataque à aldeia indígena de Bijante onde os rebeldes, em posição mais vantajosa, opunham desesperada re­sistência. A coluna de operações foi obrigada a retirar debaixo de viva fuzilaria. Distinguiu se especialmente o tenente JOAQUIM ANTÓNIO DO CARMO AZEVEDO.
1886/01/22
Vítima de ferimentos recebidos em combate nas margens do rio Grande, quando comandava uma coluna de operações, faleceu em Bolama o capi­tão comandante da bateria de artilharia CAETANO FILIPE DE SOUSA.
1886/04/00
«Marques Geraldes: um oficial combativo
Até então tinha faltado uma vontade de combater entre os Portugueses, porém ela fez a sua aparição em Abril de 1886, quando o tenente Francisco António Marques Geraldes voltou para administrar Geba. Deslocando-se ao Alto-Casamansa, em Abril de 1883 e conhecendo pessoalmente Mussa Moló, podemos considerá-lo como o melhor especialista português dos Fulas-Pretos do norte. É, sobretudo, um homem de aço no ambiente deletério de Geba. Por outro lado, se deixa o Firdu e coloca todo o Casamansa na esfera senegalesa, a convenção franco-portuguesa de 12 de Maio de 1886 faz, entretanto, passar a fronteira internacional para 1° acima de Geba. Não sabemos em que medida Geraldes e Geba estão avisadas, em pormenor, da nova partilha, nem mesmo se existe, no local, mapas mostrando o paralelo 12° 40' de latitude Norte; o certo é que este elemento externo não pode fazer mais que provocar um sobressalto local.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.235
1886/07/00
«Era ao tempo comandante do presídio o tenente Francisco António Marques Geraldes, que antes do mais consegue chamar para o seu lado o chefe Umbucu, régulo de Canadu, que começava a mostrar-se descontente com o despotismo de Mussá.
No mês de Ju!lho de 1886, o tenente Geraldes auxiliado por Umbucú e peos comerciantes de Geba, toma a tabanca ·do régulo de Mansomini, partidário de Mussá. Esta tabanca era protegida por duas ordens de pau-ferro tapádas por três camas de quirintins; tinha ·por dentro um .fosso, onde se deitavam os atiradores e ainda uma lagôa natural que protegia a morada do régulo, no interior da palissada. Depois desta vitória, a coluna percorre a região e destróe. algumas aldeias indígenas.
Não contente com isto o comandante de Geba resolve atacar o próprio Mussá Moló, que se concentrara em três tabancas fortificadas de Sancorlá. Para êsse fim organizou, no mês de Setembro, uma coluna maior, composta de 80 soldados, 4.300 fulas e mandingas, 170 biafadas e 120 grumetes, chefiados pelos comerciantes João José Rosa, Domingos Gomes de Araujo, António Santy e outros. Como oficiais subalternos, faziam parte da fôrça os alferes Amaral de Carvailho Vieíra e Sebastião Casqueiro.
Com ·estas fôrças e duas peças sái de Ganadu em 5 de Setembro e depois de atravessar o regulado de Mansoná, vai acampar em Fancá, a uns 1500 metros da fortaleza de Mussá.
No dia seguinte faz-se o ataque, começando com um movimento fictício de retirada para obrigar os fulas-pretos a saír dos seus abrigos. O estratagema dá resultado e o inimigo vencido pelas nossas fôrças, retira-se para a floresta, acompanhando o chefe que até ali era considerado invencível.
Para completar a acção, os oficiais pensavam em perseguir o gentio, mas a falta de confiança nos auxiliares obrigou a desistir do projecto. Esta vitória quási imprevista contra um cabo de guerra, admirado pelos indígenas e tratado com deferência pelos franceses, deu grande prestígio às fôrças portuguesas.
Em 15 de Setembro deram-se por terminadas as operações.
Foram louvados os alferes Vieira e Casqueiro, sendo êste último condecorado com o grau de cavaleiro da Tôrre e Espada. Por decreto de 5 de Janeiro de 1887, o tenente Geraldes foi promovido por distinção (ª).
(a)Como Mussá tivesse fugido para Firdu, esquivando-se à luta com as nossas fôrças, o tenente Geraldes enviou emissários convidando o chefe dos fulàs-pretos a um combate singular. Mussá Moló não· aceitou o repto, o que aumentou a influência do comandante de Geba perante os indígenas. Outra circunstância que contribuiu para o prestígio das nossas autoridades foi o facto de o comandante de Ferim, ao tempo o tenente Graça Falcão, ter prendido os emi:ssários que Moló tinha enviado àquela circunscrição cobrar o seu imposto. O chefe fula fez várias ameaças, mas longe de as pôr em prática acabou por enviar o· presente de 4 vacas brancas, considerado entre os indígenas como prova m.áixima de acatamento e amizade.
A campanha contra o potentado de Firdu terminou com o tratado de paz, obediência e vassalagem, prestado pelo seu tio Dembel, rei de Fuladú, em 4 de Abril de 1887 no presidio de Farim, estando presentes de uma parte o encarregado do govêrno, Moura Cabral com diversos oficiais e, doutra parte, o régulo Dembel, senhor de Fuladú, o rei de Batan-cunto, subordinado daquele, e o  cabo de guerra Mussá Moló e vários outros chefes.
Diz o auto em resumo:
O rei Dembel, e os seus chefes juram submissão e obediente vassalagem ao govêrno português; os territórios a êles pertencentes ficam sob o mando e protecção das autoridades portuguesas; o rei Dembel obriga-se a fazer derivar o comércio do seu domínio para os presídios de Farim e Geba; obriga-se a entregar às autoridades qualquer prêso que por estas seja requisitado.
O régulo prontifica-se a prestar auxílio ao govêrno contra qualquer chefe rebelde e, para demonstração da sua vassalagem, promete vir no dia primeiro de Janeiro. de cada ano cumprimentar o govêrno português, em Farim. (Boletim Oficial da Colónia).
Depois disso, Mussá Moló não incomodou muito as nossas autoridades, procurando mesmo a nossa amizade com o intuito de se defender dos franceses que trabalhavam para o dominar e abater o seu prestígio.
As autoridades franrcesas começaram por estabeliecer um pôsto militar na capital de Firdú sob pretexto· de proteger o régulo e, depois de terem acumulado fôrças suficientes, intimaram-no a submeter-se às suas ordens.
Mussá Moló impossibilitado de resistir à supremacia do exército francês, foi pedir ·protecção ao Govêrno da Gâmbia, que lhe concedeu um terreno onde acabou os seus dias.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 310-312
1886/07/19
«Vitórias «portuguesas» no Mansomine (Julho [?] de 1886)
Por mais bizarro que isso pareça, ainda não sabemos quando Geraldes e a sua gente decidem reagir: a 19 de Junho (174) ou Julho (175) de 1886. Operacionalmente é, em primeiro lugar, uma improvisação, um golpe de surpresa. Geraldes reúne vinte atiradores, setenta grumetes, cinco negociantes e uma peça, e marcha de Geba em direcção ao régulo Umbucu o qual, com 180 homens, defende a «fronteira», em frente das duas tabancas «inimigas» de Mansomine (ao Norte do rio). Num dia, Geraldes, pela astúcia, consegue apoderar-se delas (176). Resta o comércio: para desapertar o torno no rio, propõe em seguida, a Bolama, uma acção combinada, mas o governador Gomes Barbosa declara não ter tropas nem créditos. Audácia inaudita na Guiné, Geraldes decide então actuar sozinho com o apoio de Umbucu, em plena estação das chuvas e sempre numa data desconhecida. Valendo-lhe partidários a vitória de Mansomine, Umbucu encontra, desta vez, 800 homens, e Geba quarenta soldados e setenta grumetes, ou seja, 910 combatentes. Mussa Molo, ferido acidentalmente, não comanda, mas os seus chefes reagruparam-se no interior do Mansomine, em Buaro (não localizado), numa formidável tabanca. Os Portugueses por pouco não perdem a sua peça, perante uma carga de cavalaria inimiga, mas Geraldes recupera-a e, disparando metralha, acaba por desencorajar os defensores da fortificação, que a abandonam ou são derrubados com arma branca, após quatro horas de fogo (177).
Buaro, vitória ignorada dos lusitanizados e aliados, encadeia-se em seguida com o processo habitual: quatro dias de razias no Mansomine, quatro tabancas pilhadas e abandonadas. Não obstante a sua peça, que paralisa nas passagens de pântanos e de rios, a coluna bate o mato. Ao cabo de oito dias de pilhagens e de incêndios, sem resistência, a aldeia de Sambei Nhanta é alcançada e de novo destruída. Os partidários de Mussa Molo abandonaram a margem direita do rio Geba para se refugiarem na outra. Nada de emboscadas, nada de guerrilhas! Contraste total com a táctica dos Felupes, Biafadas e outros animistas.
(174) Segundo Migueis: op. cit. , p. 7.
(175) Marques Geraldes: op. cit., p. 484. De notar que o melhor biógrafo de Mussa Molo, Christian Roche, não menciona sequer este importante caso, o que nos faz crer que é pouco ou não é mesmo mencionado nos arquivos franceses.
(176) Marques Geraldes: op. cit., p. 485.
(177) Idem, p. 487.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 235-236
1886/08/06
Louvado o tenente FRANCISCO A. MARQUES GERAL­DES, chefe do presídio de Geba e o alferes MANUEL DO AMARAL CARVALHO VIEIRA  pela maneira como castigaram o chefe de guerra dos Fulas pretos, Mussa Moló, tomando-lhe dez tabancas.
1886/09/21
«Vitórias «portuguesas» no Sancorlá (Setembro de 1886)
Sendo assim desembaraçado o rio, a primeira fase é terminada, mas Mussa Molo continua por expulsar do norte do território guineense que, depois da convenção de 12 de Maio de 1886, os Portugueses podem, dali em diante, reivindicar como seu. Geraldes sabe
que Mussa Molo construíu, no regulado de Sancorlá (ou Sankolla), três tabancas temíveis em Fanca, a uma dezena de quilómetros aproximadamente àquem da fronteira fictícia. Correm os rumores mais alarmistas em Geba: Mussa Molo e todas as forças do Firdu estão em Sancorlá com mercenários ouolof. Os Franceses estão em marcha contra os Portugueses, Mussa Molo comprou os auxiliares Fulas-Pretos de Geba, que trairão em campo raso! Na realidade, os espiões de Geraldes junto de Mussa Molo, descrevem, em Geba, uma situação bem diferente (178). As derrotas no Mansomine abalaram os feudatários de Mussa Molo.
A grande coligação contra Mussa Molo
Coisa totalmente nova na Guiné, este tenente Geraldes dos diabos percorre, durante o Verão de 1886, o antigo Gabu, a fim de afastar os chefes Fulas-Pretos hesitantes lançando, ao mesmo tempo, uma campanha de desinformação e de intoxicação entre os partidários de Mussa Molo. Os comerciantes lusitanizados, nas suas digressões pelo interior do sertão, ajudam-no nesta ofensiva de propaganda. Paralelamente, Geraldes envia emissários ao chefe biafada Galona do Gampará (margem esquerda do rio Geba) e mesmo junto de Farim, onde eles recrutam Mandingas.
É uma grande coligação anti-Mussa Molo que um simples tenente esquecido prepara. Como é isto recebido em Bolama? É apoiado? É alvo de inveja? A segunda hipótese - parece -, é a mais verosímil. Geraldes incomoda a rotina. Foi felicitado pelo governador Gomes Barbosa, a 6 de Agosto de 1886 (179), porém é manifesto que as actividades belicosas de Geraldes, na nova «fronteira» internacional, têm suscitado um mal-estar entre os seus superiores. Duzentos soldados podem bem recuar em Bijante, na frente dos Biafadas, a 15 de Janeiro de 1886; ninguém de nada saberá fora da Guiné. Mas atirar-se ao chefe do Firdu, que se tornou «súbdito» francês? Temos a impressão de que as autoridades, sem o desaprovarem, só tacitamente ou frouxamente o apoiam, a fim de se desculparem em caso de derrota.
Depois de 1879, a confiança neste género de operações, montadas à base de auxiliares, é moderada em Bolama. Aliás, o governador Gomes Barbosa está demissionário desde 2 de Setembro de 1886. Não decifrámos as razões desta crise, mas devem ter havido hesitações. Estando terminados os seus trabalhos de acesso e de desmoralização, o tenente Geraldes, com dois oficiais e 80 soldados e dois canhões de 80, segue, a 5 de Setembro de 1886, para o Ganadu, até ao seu aliado Umbucu. Será o ponto de concentração dos auxiliares. Ali ficará vinte e um dias à espera que toda a sua gente chegue. Ninguém considerou as forças de Mussa Molo com leviandade e é uma das mais fortes concentrações de homens alguma vez realizadas em África pelos Portugueses: dois oficiais, seis comerciantes moradores, 80 soldados e 120 grumetes apenas, mas 4330 Fulas e Mandingas, mais 170 Biafadas (180).
A batalha de Fanca
É de enraivecer não se dispor sequer de um relatório oficial desta gigantesca operação. Segundo parece, arranca a 21 de Setembro (181) subindo para o Norte. Em dois dias, o régulado de Mansoná é atravessado, e a coluna chega em frente das três tabancas de Mussa Molo, em Fanca. Quantos homens pode ter reunido? Nada sabemos.
Fanca está situado no Sancorlá, frente a uma planície inundada, que os tenentes de Mussa Molo deixam transpor em silêncio, tudo tendo apostado no seu poder de fogo, nas três tabancas e numa cavalaria importante, dissimulada nos bosques. Teria sido de esperar descargas dissuasivas antes de se transpor a avenida aquática. Nada disso acontece. O dispositivo português está no seu lugar, ao alcance das espingardas das tabancas, quando os cavaleiros de Mussa Molo tentam envolvê-lo. Não tendo senão um autor - o vencedor - para nos guiar (182), sabemos apenas que o fogo dura três horas, mas em data desconhecida, cerca de 23-30 de Setembro (183).
Tendo Geraldes mandado incendiar as tabancas dos aliados de Mussa Molo, os defensores de Fanca, vendo os fumos distantes, os mortos e feridos a acumularem-se nas suas fileiras, e os fracos resultados dos seus assaltos, fogem abandonando os seus camaradas, que serão consumidos nos braseiros acesos nas três tabancas pelos auxiliares. Em que medida Fanca, para além da vitória dos Portugueses, não é também, e acima de tudo, uma desforra dos Mandingas, dos Biafadas e de outros Fulas contra os Fulas-Pretos de Mussa Molo, que se tornaram demasiado insuportáveis? Uma gigantesca razia de cinco dias, no Sancorlá, traz pouco gado. Geraldes, que está de regresso a Geba por volta de 2 de Outubro, nada diz dos prisioneiros, o que parece mais que suspeito, e lamenta não ter tomado Panambo, a capital do Sancorlá, e de não ter repelido Mussa Molo para lá do Casamansa, para desembaraçar a região «portuguesa» de todos os salteadores de savana fulas-pretos (184). Os auxiliares não querem ir mais longe, o que evitará, aliás, um incidente com a França. Geraldes, no entanto, mandará ocupar o sítio de Sambel Nhanta, no rio Geba, a fim de ter um ponto estratégico seguro, repovoado por Biafadas e Mandingas.
Um vencedor despedido
Tudo isto é muito para um simples tenente que, inevitavelmente, criou inimigos: tem a infelicidade de vencer adversários poderosos, sem despesas para a colónia, pois que tudo é reembolsado pela razia. Além disso, audácia imperdoável, ele quer lançar-se numa política indígena pessoal: nada menos que obrigar os régulos a pagar anualmente à Administração uma renda, em vez de dela receberem subsídios (185). É iconoclasta, ou antes, demasiado avançado para o seu tempo. Em condições desconhecidas, o primeiro oficial a ter-se lançado numa grande campanha compensadora na Guiné, teria sido recompensado pelos seus serviços com quinze dias de prisão e uma transferência de província (186). Talvez não se trate senão de uma medida depressa anulada, porque será felicitado, a 15 de Outubro de 1886, pelo novo governador, o coronel João Eduardo de Brito. Seja como for, deixa Geba «a seu pedido» , a partir de Outubro de 1886 (187).
(178) Idem. p . 488.
(179) R.O.G.P.G.P., Anno de 1886. 31. 7 de Agosto de 1886. p. 129-130.
(180) Marques Geraldes: Ob. cit. p. 489. A título comparativo, se abstrairmos da imensa guerra preta de 50 000 Ovimbundos, que vieram ajudar o governador Costa Leal na sua camranha contra os Gambos. em 1856, 5erá preciso esperar por 1891 (ao Sul de Angola) para encontrar efectivos superiores (segunda campanha do Humbe de Padrel). Mesmo no Moçambique dos senhores e dos achikundas zambezianos, estes números não são frequentes (1891, em frente de Massangano). Do mesmo modo, parecem ser relativamente pouco frequentes na África francesa.
(181) Segundo B.O. G.P.G.P. Anno de 1886, 41. p. 171. A 26 ou 27 de Setembro, segundo Marques Geraldes.
(182) Marques Geraldes: op. cit.. pp. 490-491.
(183) Marques Geraldes nem sequer data a batalha de Fanca, o que parece surpreendente. Migueis: op. cit . p. 8 indica que tudo está terminado a 15 de Setembro. Raramente se terá visto tal indiferença de um autor pelo datar das suas proezas. O género
«Conferêcia» atinge ali os limites da sua utilidade. Discursa-se, distrai-se , mas informa-se mal.
(184) Marques Geraldes: Op. cit. p. 491.
(185) Idem, p. 493.
(186) Ibidem. Voltaremos a encontrá-lo em Moçambique.
(187) Este tenente-condottiere parece ter tomado gosto pela guerra indígena porque, promovido finalmente a capitão, em Janeiro de 1887, comprometer-se-á, perante a Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1887, a vingar o desastre de Bolor com 100 soldados, grumetes e auxiliares africanos, gratuitamente para a província (Idem, p. 494). Será realmente necessário agora que os comerciantes se instalam em Bolor, sem protecção e a pedido dos Felupes? Idem, p. 519.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.236-239

Sai do presídio de Geba à frente de uma expe­dição composta de 4.500 homens, sendo 80 praças de caçadores, 2 oficiais, 2 peças com os respectivos serventes e o resto constituído por auxiliares, o tenente FRANCISCO MARQUES GERALDES, com o fim de bater as forças do Mussá Molo,no território de Sam Corlá [zona de Geba].
O PRESÍDIO DE GEBA EM 1887
































1888/00/00
1888- Abolição da escravidão no Brasil («lei áurea»).


1888/02/28

Foram louvados pelo governador o comandante, oficiais e praças da guarnição da canhoneira «Guadiana» por terem reapresado o palhabote «Bolama» tomado e saqueado pelos Balantas de Nhacra.
1888/09/06
Foi assassinado por um gentio do território de Safim um soldado da bateria de artilharia que para ali fora destacado.
1888/11/12
Foi recebido pelo Conselho Governativo, em ses­são, O rei de Canhabaque acompanhado dos seus «grandes». O mesmo entregou nessa ocasião todos os artigos roubados pelos naturais daquela ilha no assalto feito à goleta francesa «Père Guignert» que saíra de Gorée para Konacry. Os membros do Conselho expressaram ao chefe indígena a sua satisfação por verem as provas de lealdade e sub­missão por ele dadas ao Governo.
1889/01/26

Louvado o comandante da canhoneira «Guadiana» e a sua guarnição pela aptidão, zelo e actividade com que se houveram nos bombardeamentos da tabanca Meneque da lIha de Canhabaque e duas povoações balantas da margem direita do rio Geba, especializando-se o comandante, 1º tenente JOÃO ALBERTO GODINHO DE FARIA E SILVA.
1889/07/17
O régulo de Ganadú, de nome Corrai, fez procla­mações de desobediência ao Governo convidando os seus povos à revolta. O governador CORREIA E LANÇA tomou medidas rápidas e enérgicas para en­frentar os acontecimentos. Organizada urna coluna de operações foram batidos os rebeldes e preso o régulo.
1889/08/00
«À vitória do tenente Geraldes, em 1886, seguiu-se um período de relativa tranqüillidade na região de Geba, até que em 1889 o régulo Corraim, de Ganadú, começou a manifestar veleidades de revolta. Foi, por isso, resolvida a sua prisão, assim como de quatro dos seus conselheiros ou ministros.
Todavia,.esta prisão preventiva não evitou a insubordinação do seu povo, sendo preciso organizar, no mês de Agosto, uma coluna para a sua submissão. Tomaram parte nestas operações os oficiais António José Machado (comandante) Joaquim António Pereira, Sebastião Casqueiro, Moreira do Carmo e Purificação Lamego.
A partir de 1890, as autoridades militares de Geba tiveram de se defrontar com o novo cabo de guerra, Moli Boiá, que não só proclamava a sua independência,mas tentava também arrastar para o seu partido os outros chefes, por fôrça e persuasão.
Foi preciso organizar contra êste chefe irrequieto uma campanha demorada, que se prolongou de Dezembro de 1890 a Março do ano seguinte, tendo-se destruído sucessivamente as povoações de Carantambá, Babacunda, Chenhaba, Juladu, Denadu, Xime, ·etc. Não se conseguiu prender o Moli Boiá por ter fugido para o território francês.
Estas operações foram dirigidas pelo valente capitão Zacarias de Sousa Lage e auxiliadas pelas lanchas-canhoneiras Flecha e Zagaia, sob o comando dos oficiais Herculano da Cunha e Filipe dos Santos. Durante a campanha faleceu o voluntário civil da Guiné, Domingos Gomes de Araújo, que tinha sido um valioso auxiliar das nossas fôrças e até a última hora demonstrou grande coragem e dedicação.
Enquanto o pequeno exército da Guiné encontrava-se empenhado nas lutas contra os biafares e fulas de Geba, os papéis e grumetes de Bissau revoltavam-se contra esta Praça.
Em 22 de Fevereiro deram um assalto à povoação, que se defendeu com os seus próprios recursos e auxílio dos civis, até a chegada de reforços de Bolama. Posteriormente foram enviadas algumas praças de Cabo Verde.
Constituído um núcleo de fôrças regulares, foi nomeado comandante da Praça o tenente-coronel Pedro Moreira da Fonseca, mas, em virtude da sua doença, a direcção das operações foi confiada, em 11 de Abril, ao capitão Joaquim António do Carmo Azevedo.
Em 19 d'êsse mês resolveu-se fazer um reconhecimento até ao alto de Intim, tendo para alli seguido uma coluna de soldados e auxiliares. Uma vez dentro da povoação, as nossas fôrças foram cercados pelos papéis, emquanto a maior parte dos auxiliares fugia, tomada d'e pânico.
Bastante dizimada, a coluna conseguiu retirar para o presídio, ·com o auxílio de reforços enviados da fortaleza. Nesse dia e nas lutas posteriores foram vitimados os capitãis Carmo de Azevedo e Alberto de Azevedo, o tenente António Jorge Lucena, alferes José Honorato Moreira, sarjentos Alfredo Júlio de Matos e João Paulo Henriques, além de 41 soldados. Ficaram feridos o alferes João Severo da Conceição e 21 praças, não contando os auxiliares.
A hostilidade dos papéis de Bissau só terminou em 1892, tendo sido concedido o perdão aos revoltosos, em 7 de Março, pelo governador Vasconcelos e Sá. A tranqüilidade porém, não foi muito além de um ano, recomeçando a guerra em Dezembro de 1893.
Também na região de Geba recomeçavam as lutas com o regresso do famigerado Moli Boiá, em 1892 . Foi, por isso, constituída uma nova ·coluna, composta de 6 oficiais, 170 praças, 10 voluntários civilizados e 1880 auxiliares, incluíndo 350 carregadoes.
As fôrças saíram de Geba em 21 de Janeiro sob o comando do capitão Carlos Augusto de Almeida Saraiva, que 3 dias depois falecia em Priamo, de doença. As operaçõçes foram, por isso, dirigidas por Zacarias de Sousa Lage e duraram algumas semanas, terminando com manifesta superioridade e vitória das nossas fôrças, não obstante as privações, dificuldades e resistência que encontraram.
No livro Meio Século de Lutas no Ultramar, pelo sr. Belo de Almeida, encontra-se a relação nominal dos militares e civis que tomaram parte nas ásperas e difíceis campanhas de Bissau e Geba e que seria injusto deixar caír no olvido
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 313-314

1890 - Guerras entre Portugueses e os Fulas-pretos comandados por Moli Boiá, que durarão um ano e meio. Ataque dos Papéis de Intim contra os Portugueses, que são obrigados a pedir reforços à fortaleza de Bissau. Esta guerra durou três anos.
1890/06/19

Foi morto na  Praça de Buba o régulo de Forreá, Mamadú Paté, que tentara atacar a referida po­voação. Louvado o tenente Policarpo Augusto da Silva, o alferes JOÃO MARIA DO CARMO, 2.° sargento JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA e soldado JOSÉ AUGUSTO, por terem evitado na noite de 19 de Julho que o ré­gulo MamadúPatê, de Dolola, atacasse a praça de Buba, tendo sido morto o régulo quando pre­tendia agredir o alferes.
1890/06/27

Os Papéis da Antula e lntim da ilha de Bissau romperam entre si hostilidades, sendo a primeira auxiliada pelos Balantas de Cuntanga e Nhacra e a segunda pelos grumetes das proximidades da praça de Bissau. A guerra durou até fins de Outubro e foi terrível apesar das sucessivas soli­citações do Governo. Os habitantes da praça che­gavam a presenciar do alto da muralha algumas cenas de sangue de indescritível ferocidade.
1890/12/02
Constituída uma coluna de operações contra Mali Boia, residente na circunscrição do presídio de Geba, sendo nomeado comandante o capitão ZA­CARIAS DE SOUSA LAGE e 2.0 comandante o tenente ANTÓNIO JORGE LUCENA.
1890/12/09
«Entre os Portugueses, Geba possui no final de 1890 um bastante bom émulo de Marques Geraldes, na pessoa do capitão Zacarias de Sousa Lage, chefe do presídio, que é nomeado comandante da coluna de operações. O governador interino Augusto Rogério Gonçalves dos Santos enviou-lhe, para Sambel Nhanta, uma boa centena de soldados com artilharia (258). As operações propriamente ditas começam a 9 de Dezembro de 1890, pela destruição das canoas dos barqueiros que atravessam o rio Geba, pois que as duas margens estão infestadas por inimigos dos Portugueses. A 11 de Dezembro, a coluna, que compreende cento e dois atiradores, dez artilheiros (259), uma dezena de moradores comerciantes e 1200 auxiliares grumetes, fulas e mandingas, dirige-se para o Ganadu, onde se encontra a concentração mais ameaçadora. Mas, na verdade, estes efectivos aliados aumentarão progressivamente, levando Sousa Lage à parede os régulos que se dizem aliados de Geba. Quem não é por nós é contra nós e será destruído.
Nestas condições, Sambei Serandim encontra partidários. O que ignoramos é a importância das coortes de Mali Boiá, reunidas na tabanca de Carantabá (encontrada, mas não localizada, pois existem várias com o mesmo nome). As distâncias são fracas (algumas dezenas de quilómetros) e os Fulas continuam a nada aprender das lições de 1886. Nada de guerrilha, porque tudo é posto numa defensiva estática. Ora, as suas tabancas, não obstante um fosso de um metro e duas ou três paliçadas de madeira, não podem fazer frente à artilharia, se esta for bem utilizada.
A 13 de Dezembro, Carantabá é pois atacada. Ali se juntaram seis chefes de guerra do Firdu, seis do Ganadu, dois do Badora, um do Corubal, um de Mamadu Paté Coiada e vários do Xime. O comandante em chefe é Dembel Cumba Sirá (260). Perante a determinação dos Portugueses e dos seus aliados, Carantabá é abandonada (14 de Dezembro), dispersando-se os defensores, quer para norte (Firdu), quer para o rio Geba, para voltarem a atravessar o rio. Seria fastidioso descrever cada operação. Todas elas são idênticas: é feito o cerco em frente das tabancas, hoje dificilmente localizáveis que, quer porque são previamente abandonadas, quer por se defenderem frouxamente, acabam todas em chamas. O que conta são os saques de bois, de mulheres e de crianças de que cada chefe e certos moradores tentam apropriar-se. O Mansomine é devastado, de 16 a 20 de Dezembro de 1890, data do regresso a Geba. Os Portugueses tiveram apenas doze soldados feridos e um morador de Geba que falecerá mais tarde. O grosso das baixas cabe aos auxiliares: dezanove mortos, vinte e quatro feridos na tomada de uma dezena de tabancas (261). É o ideal militar para uma operação europeia em África, tanto mais que os Portugueses receberam, por outro lado, cinquenta e quatro soldados de reforço, de Bissau.
(258) O transporte efectuou-se graças às embarcações emprestadas graciosamente pelos comerciantes de Bissau e, nomeadamente, por dois representantes franceses da Casa Blanchard et Cie., e por um feitor alemão, Otto Schacht, que deixou uma descendência bastante conhecida na Guiné. R.O.G.P.G.P. 18 de 1891, p. 70.
(259) Uma só peça, porém daquela vez funciona bem.
(260) A. Teixeira da Mota (F.d.): «Um relatório...». op. cit.. pp. 335-336.
(261) Idem, pp. 337-338.

René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 261-262
1891

“Já lá vão bem nove lustros que essa terra me começou a preocupar, ainda bem menino e moço, pois foi o desastre de Bissau de 1891 que me impressionou de tal forma que me levou a assentar praça na Armada, no desejo de servir a Pátria…”. (A Guiné… dos mil trabalhos, por António Florindo d’Oliveira) A revista O Mundo Português, de cultura e propaganda/de arte e literaturas coloniais, publicou em 1939, ao longo de vários números, uma reportagem memorial de alguém que aos 16 anos foi intervir na coluna “pacificadora” dos Papeis que, em 1894, andou por Antim e Bandim. O chamado massacre ou desastre de 1891 marcou profundamente os militares em serviço na Guiné. Uma força destacada para pacificar Papeis, por erro de informação, foi apanhada no tarrafo e massacrada pelos revoltosos. A resposta de Lisboa foi mostrar aos insurgentes a força das armas. Em 1894, a lancha-canhoneira “Honório Barreto”, construída no Ginjal, novinho em folha, com o seu spardeck corrido de ré a vante, com as suas duas peças de tiro rápido, passou a ser a arma dissuasora. A lancha foi rebocada pelo “África” até à Guiné, para Bolama, posto oficial de fundeadouro. Ficamos a saber que comandava a lancha o tenente Vieira da Fonseca.
1891/01/05
«De 3 a 24 de Janeiro de 1891, a expedição comporta vinte artilheiros (uma peça) e 150 atiradores, 40 auxiliares a cavalo e 300 a pé, mais 270 carregadores. Dirige-se para Sambe! Nhanta através do Mansomine. A 5 de Janeiro, ataca as tabancas de Neminacó (não encontradas). Os sitiados receberam aqui um reforço de Balantas de Malafo (no rio Geba), mas os Portugueses têm Biafadas de choque, não fazendo os seus Fulas grande coisa e traindo mesmo. Ainda desta vez, as perdas são pesadas entre os adversários dos Portugueses. Sambel Nhanta é alcançada e, a seguir, atacam-se tabancas fulas secretamente no interesse de Mussa Molo e de Mali Boiá (262). Há poucos prisioneiros machos, mas muitas vacas apanhadas, o que parece compensar o despeito de alguns. Em bom Fula, quem não traz rendimento à sua raça, mesmo o «fiel» Sambel Serandim, trai a favor do inimigo (263).
(262) Idem, p. 340.
(263) Sousa Lage não tem palavras suficientemente duras para qualificar a velhacaria dos Fulas. Se se rememorar todos os tratados com eles estabelecidos durante dez anos e que ficaram sem aplicação prática, o virar de bordo antifula dos meios oficiais, tem alguns fundamentos porque, afinal de contas, neste atentado à autoridade portuguesa, sente-se a mão de Mussa Molo na luva deste Mali Roiá, do qual nada se sabe.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 263
1891/02/23
«O ESMAGAMENTO DOS «PORTUGUESES» EM FRENTE DE BISSAU
A - O MAIOR DESASTRE PORTUGUÊS NA GUINÉ
A história recente da Guiné, tal como dela se tinham apropriado certos autores da época colonial, foi tão miseravelmente estabelecida, que cada um acredita ainda, de boa fé, aparentemente, que o «desastre de Bolor», de 1878, é a derrota suprema do Exército na Guiné. Ao imputá-la a «canibais fronteiriços» - os Felupes na ocorrência - pulverizando grumetes, auxiliares animistas e um destacamento de pés-descalços cabo-verdianos, comandados por goeses «duvidosos», sob o olhar de um microscópico governador deixado sem meios por uma administração insular mesquinha e indiferente, podiam fazê-lo passar, com todo o rigor, por um acidente marginal, não implicando a honra portuguesa. E até retirar daí algumas razões para se felicitarem, pois que desencadeou a autonomia das feitorias, em 1879.
Escamotear as realidades
Nada de tudo isto é possível doze anos mais tarde, na «guerra» de Bissau de 1891, que vai intervir no pior momento, quando Portugal não se recompôs da humilhação do Ultimatum e a Guiné lhe impõe todos os anos uma carga crescente em troca de vantagens fictícias. Além disso, não se trata de um golpe de sorte, infeliz mas obscurecido pelo afastamento e a insignificância de Bolor, mas antes de uma hecatombe com repetição, perante as muralhas da capital económica, face ao governador, e sob o olhar condescendente dos principais negociantes estrangeiros do país.
Seja qual for o ângulo com que se aborde, é a maior afronta infligida na Guiné aos Portugueses, que nem sequer podem invocar as habituais justificações. Não há bodes expiatórios - estrangeiros mal intencionados - nem falta de efectivos e de armamento. É muito simplesmente a incompetência e as conhecidas fraquezas do seu Exército e da sua Administração coloniais - um quase pleonasmo em 1891 - que estão em causa. Não estamos, portanto, longe de pensar que os autores das duas gerações seguintes (266), não encontrando desculpas, não fizeram grande esforço para dissipar certas incertezas e apresentar uma versão honesta do que continua a ser o maior coágulo de sangue na tapeçaria das infelicidades do colonizador da Guiné, na época contemporânea (inclusivamente durante a guerra de 1963-1974). Tendo em conta a nossa desvantagem documental, abrigar-nos-emos atrás das fontes que talvez não sejam inatacáveis nos pormenores, mas que permitem ver que as duas derrotas portuguesas de 1891, em Bissau, são bem mais graves que o «desastre de Bolor», em 1878.
Estas derrotas remeterão para primeiro plano um problema que se tinha esquecido na euforia do amendoim dos anos 60-70 e o zumzum nascido em volta de Bolama, a saber que Bissau é um burgo e uma praça de guerra sempre cercados pelos mesmos inimigos, como em 1842 e, principalmente, em 1844-1845: os grumetes e os Papéis, igualmente arrogantes e intransigentes, como 50 anos antes. Por ser menos conhecido que o dos Swahili e dos Macuas em volta do ilhéu de Moçambique, pode mesmo falar-se de um bloqueio dos Papéis (267). Não são apenas vizinhos, são fronteiriços, visitantes quotidianos e turbulentos, que os presentes são impotentes  bater-se custe o que custar e bater-se com a assustadora espada papel, como eles sabem fazer. É mesmo, assim parece, a actividade essencial dos homens, por pouco que um chefe a isso os leve.
De um conflito intertribal a uma sublevação anticolonial
Como se ignora quase tudo da organização sócio-política dos Papéis, excepto que estão fragmentados numa dezena de micro-regulados, só é possível registar as consequências e não as causas da sua agressividade, que parece anormal, mesmo para a Guiné das guerras. Começa por estar voltada contra eles próprios, pois que, a 28 de Junho de 1890, eclodiram as hostilidades entre os Papéis de Antula e os de Intim. Os primeiros são apoiados pelos Balantas de Cuntanga e de Nhacra, na outra margem do lmpernal; os segundos pelos grumetes que ficaram fora das muralhas desde 1844. Por que razão esta luta? O governador interino Gonçalves dos Santos, que nem sequer tenta fazer a história de 1891, nada nos diz (268). Estas turbulências parece terem terminado com uma trégua, pelo final de Outubro de 1890. Por certo as autoridades chamaram, realmente, uns e outros à ordem, mas não teve qualquer efeito e, muitas vezes tiveram lugar massacres intra-Papéis junto das muralhas de Bissau, que chegou a ter medo de uma irrupção na praça. Em questões referentes aos gentios (Papéis e Balantas) ou aos «civilizados» suspeitos (os grumetes não entrados), os Portugueses não se sentem directamente comprometidos. Com perto de 200 soldados em campanha contra Mali Boiá, em volta de Geba, não é o momento de envenenar as coisas com um aparato de forças intempestivo no interior da ilha onde, segundo parece, nunca uma força portuguesa, regularmente constituída, se aventurou a mais de um quilómetro da praça.
Aliás, os apelos à razão... e os presentes acabaram por ter alguns efeitos. A 14 de Fevereiro de 1891, a gente de Antula promete respeitar a trégua, mas o chefe Cuméré, de comportamento arrogante, recusa quanto ao que é de Intim. Nunca obedeceu às ordens dos Portugueses senão quando tal lhe convinha. Ora o comércio e a agricultura locais sofrem com esta agitação constante. Cuméré, cujas motivações nos escapam, parece procurar o choque com as autoridades.
Cuméré e a coligação Papéis-grumetes (Fevereiro-Março de 1891)
A 23 de Fevereiro, enquanto Sousa Lage deixa descansar os seus homens em Geba, guerreiros de Intim vêm provocar os soldados da fortaleza de Bissau e tentam apoderar-se de dois oficiais que passeiam na aldeia exterior dos grumetes. Diz-se que estes estão combinados com Cuméré e protegem os seus «primos» gentios, que se refugiam em matas, metralhados pela artilharia. Não é a guerra franca, porque já não estamos em 1844, mas, de 23 a 27 de Fevereiro, são tiros disparados da povoação dos grumetes extra-muros, que a letargia ou a incoerência administrativa deixou reconstituir-se demasiado perto da muralha.
Cuméré recusa apresentar-se na praça e entregar os autores das flagelações. O governador Gonçalves dos Santos prudentemente fez convergir para Bissau as tropas de Bolama e a bateria de artilharia fixada na sua capital. A 24 de Fevereiro, está terminado este primeiro reforço (269). Na noite de 27 para 28 de Fevereiro de 1891, vários assaltos são feitos contra Bissau e todos são repelidos, mas a 28, de manhã, um ataque em regra de Cuméré, desvenda as suas verdadeiras intenções: se não expulsar os Portugueses, mostrar-lhes, pelo menos, que não comandam fora dos seus bastiões. Voltou a soldar a coesão dos Papéis à sua volta, pois tem agora o apoio: a) aberto dos régulos de Bandim, Safim. Bor e Enterramento (270); b) tácito do seu inimigo de ontem, o chefe de Antula. Além disso, os grumetes extra-muros marcham com eles e foram declarados rebeldes. Toda esta gente está armada com armas lazarinas naturalmente, mas também armas de precisão, à venda na própria Bissau. Não são conhecidos os seus efectivos.
O ataque de 28 de Fevereiro de 1891 foi repelido energicamente e seria, na verdade, o cúmulo que alguns milhares de maus atiradores fizessem tombar uma praça que, além do seu forte centenário de São José, é cercada de todos os lados por uma muralha, vilipendiada em tempo de paz, mas bem preciosa em caso de urgência. No interior, mais de uma centena de soldados, pelos menos, duas metralhadoras e uma artilharia que julgamos estar operacionais (271). Os assaltos repetem-se a 1 e 3 de Março (272).
(266) O pior é Migueis: op. cit., pp. 9-11 que se acantona numa compilação dos louvores (sic) aos oficiais sobreviventes. Mas Bello de Almeida: Meio..., op. cit. pp. 115--116, não é mais explícito e aqueles que o vão seguir são de um amadorismo mais que culpado (Cf. João Barreto: op. cit., pp. 313-314; «Efemérides...», pp. 58-59), confundindo os factos e tratando de reduzir as baixas portuguesas a metade. Em sua defesa, precisaremos que sendo o A.H.U. aquilo que é, se a documentação contemporânea não foi totalmente transviada ou destruída, não se pode dizer no entanto que nos esclareça muito. Como em 1879, parece que vários funcionários não tinham interesse em que os seus superiores soubessem demasiado e demasiado depressa. E, no entanto, o caso desenrola-se durante o mandato do grande António Enes, que ocupa a pasta do Ultramar.
Será, pois, preciso esperar perto de cinquenta anos para descobrir, em 1940, sete páginas informadas, baseadas, aparentemente, em fontes orais de origem familiar. E isto num autor geralmente com tendência para as edulcorações e doces declarações patrióticas (Joaquim Duarte Silva: Nótulas à margem da história militar colonial.?. 1. Nº 66. Lisboa, 1940, pp. 25-31), mas que, devendo ter tido um parente que participou na acção, pois que refere o nome de um sargento, citado pela sua bravura, com o nome de Belmiro Ernesto Duarte da Silva (Migueis: op. cit., p. 10), oferece inédito sobre «os segredos de uma derrota», como ele escreve. Joaquim Duarte Silva: Nótulas...op. cit., p. 25.
(267) Com a agravante de que aqui os «selvagens» não são continentais, mas estão na ilha, na sua ilha de Bissau, e que, não esqueçamos, a aldeia de Antula, em 1891, está a menos de quilómetro e meio dos bastiões, a de lntim a 900m, Bandim a dois quilómetros o máximo. Cálculos segundo o desenho que acompanha Ricardo de Albuquerque: «A recente guerra de Bissau», Revista do Exército e da Armada, Vol. III, Julho-Dezembro de 1894, entre as pp. 78-79.
(268) Suplemento ao B. O. G. P. G. P. ( nº 9. de 5 de Marco de 1891. Pp. 2-3.
(269) J oaquim Duarre Silva: Nótulas... op. cit . p. 25.
(270) Lúgubre topónimo, a menos de três quilómetros, a oeste da fortaleza.
(271) Para os reforços em homens e munições de Bolama, ver B.0.G.P.G.P., Anno de 1891, nº 10. 7 de Março de 1891, p. 37.
(272) Nestes três casos, uma canhoneira apoia o fogo da fortaleza. Idemnº 18 de 1891, p. 71.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 264-268
1891/03/02
«Em repouso de 24 de Janeiro a 1 de Março, as tropas regulares cuidam dos seus doentes em Geba e reparam o seu canhão. Mas, a 2 de Março, Sousa Lage passa para a margem esquerda do rio Geba com vinte artilheiros, 151 atiradores e 1221 auxiliares (entre os quais 178 cavaleiros) e carregadores. Dirige-se agora para Ganjarra, de velha memória. Nos dias seguintes recomeçam as tomadas e incêndios de tabancas, indo direito a Bijine, já encontrada em 1861 e 1884. Nesta frente da expansão fula, em território outrora biafada, o avanço é relativamente rápido, refugiando-se os Fulas a leste de Bafatá, no Gússará, em direcção a Dandum Gússará, de que se voltará a fa lar um ano mais tarde. Numa tabanca, os Portugueses recuperaram um canhão de montanha (264). Esta acção no Badora é interrompida, a 11 de Março de 1891, por uma ordem datada de 9, chegada de Bolama. Que se passa? Graves incidentes, depois de 23 de Fevereiro, exigem em Bissau a presença deste bom terço da guarnição, envolvido numa guerra de sertão útil, mas que pode esperar. A suspensão da progressão de Sousa Lage inquieta muito os auxiliares, porque eles não saldaram as suas contas com as tabancas do Corubal, do Xime e do Gússará. Além disso, praticamente nenhum chefe importante se rendeu. Por outras palavras, o perigo fula não se dissipou no fim desta campanha penosa para os homens, mas pouco custosa em vidas humanas, salvo entre os auxiliares e os habitantes das tabancas, que não tiveram tempo para fugir.
Noutras circunstâncias, mesmo que não tenha feito mais que tomar tabancas mal defendidas, esta expedição em três tempos teria sido saudada ao som de trompa, porque depois da de Marques Geraldes, em 1886, Geba nada tinha organizado de tão considerável. Porém, esta ofensiva anti-fula, ou talvez melhor anti-Mussa Molo, cai verdadeiramente mal, porque quem vai preocupar-se com estas razias desenfreadas, estes incêndios repetitivos e estes movimentos giratórios sem fim entre dezenas de pequenos cursos de água, agora que acaba de explodir a ilha de Bissau e que os «arqui-selvagens» da Guiné, os Papéis, estão novamente na senda da guerra? E aprendeu-se a nunca gracejar com os Papéis em Bissau, tanto mais que a antiga capital reencontrou a sua proeminência como praça comercial (265).
(264) Idem, p. 345.
(265) A partir de 1889 está ali em construção um wharf.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 263-264
1891/03/04
A lIha de Bissau foi declarada em estado de guerra desde 23 de Fevereiro e nela suspensas as garan­tias proclamadas por bando na praça e do alto dos baluartes. A coluna de operações organizada para bater os rebeldes foi constituída pelas forças des­tacadas naquela Praça, pelas que vieram de Cabo Verde e por auxiliares. Foi proibida a venda de pólvora e armas, sendo incumbidos da polícia ma­rítima nas águas da ilha os comandantes das lan­chas-canhoneiras «Flecha» e «Zagaia». A coluna de operações era dirigida contra os ré­gulos de Intim, Bandim, Safim, Bór e Entronca­mento e os grumetes de Bissau, sendo nomeado seu comandante o tenente-coronel PEDRO MOREIRA DA FONSECA.
1891/03/09
Deixa a praça de Bissau o comandante da coluna de operações tenente-coronel PEDRO DA FONSECA, levando 120 praças e 5 oficiais a fim de fazer um reconhecimento e saber o que se passava no campo contrário, A maioria dos soldados não conhecia o terreno. Muitos viam os rebeldes Papéis pela pri­meira vez. Caída numa armadilha a coluna é des­baratada e os soldados, esporeados pelo desejo de chegar à muralha, abandonam os seus oficiais. Morrem os capitães ALBERTO DE AZEVEDO, CARMO AZEVEDO, tenente LUCENA c alferes MOREIRA.
Suspensas as operações militares na circunscrição do presídio de Geba e mandados recolher a Bissau três oficiais, dois oficiais inferiores e 160 cabos e soldados.
«O apelo aos Cabo-Verdianos
Ganha medo este governador Gonçalves dos Santos? Não se sabe, mas em condições ignoradas, apela para Cabo Verde, a antiga tutora da qual, militarmente, já não se ouvia falar na Guiné desde o começo de 1879. Por outro lado, a 4 de Março, decreta o estado de guerra em Bissau, com suspensão das garantias constitucionais e proibição da venda de armas e de pólvora, e nomeia comandante da coluna de operações o tenente-coronel Pedro Moreira da Fonseca, já encontrado em Novembro de 1881, na infeliz expedição contra os Biafadas de Jabadá, que lançou o descrédito no final do mandato de Agostinho Coelho. Dez anos mais tarde, este capitão de ontem subiu de posto mas, profissionalmente, não melhorou. A 5 de Março desembarca em Bissau uma companhia de polícia de Cabo Verde (273). Os efectivos são de quatro oficiais, cinco sargentos e 95 soldados (274), mas trata-se de jovens recrutas insulares, pouco formados (275). Devem estar agora perto de 300 soldados em Bissau.
Primeira derrota (9 de Mlarço de 1891)
Por que razão, a 9 de Março de 1891, o tenente-coronel Pedro Moreira da Fomeca toma o comando de cinco oficiais e de 120 soldados, a maior parte cabo-verdianos, aterrorizados; e mal adaptados, com um simples pelotão de Angolanos? Por que razão deixou os seus oficiais sem instruções sobre os objectivos e o plano de ataque (276)? Não temos resposta alguma. Também não vemos - e é trágico – como e onde 35 destes soldados são mortos ou desaparecem com dois civis voluntários, entre os quais um francês (277). Sabe-se apenas que desde Bolor, a 28 de Dezembro de 1878, não houve revés tão grave entre os Portugueses. É devido, como em Bolor, à confusão nos pelotões e à impotência dos oficiais abandonados pelos seus soldados (278).
Podemos imaginar a alegria dos Papéis e dos grumetes e o abatimento em Bissau. Em desespero, o governador chama, no mesmo dia, as melhores tropas ainda disponíveis, as que estão ao Norte, onde as deixámos junto do capitão Zacarias de Sousa Lage. Nas suas Savanas, os Fulas-Pretos podem esperar, mas não Bissau. Três oficiais, dois sargentos e 160 soldados desguarnecem, portanto, o território de Geba e voltarão a embarcar para Bissau. A eles se juntará uma centena de auxiliares biafadas do régulo Galona, promovidos a tropas de choque contra os Papéis. Entretanto, em Bissau, os oficiais cosideram que, depois da derrota de 9 de Março, não têm homens suficientes para se aventurarem no interior da ilha. Se se considerar que o contingente de Geba está de volta por 15-20 de Março, este argumento é totalmente caduco, pois deve realmente haver na praça, nesta data, 400 soldados, entre os quais os Angolanos treinados por Sousa Lage.
(273) Idem, nº 12, 21 de Março de 1891, p. 44.
(274) Idem. nº 14, 4 de Abril de 1891, p. 54.
(275) Joaquim Duarte Silva: Nótula... Ob. cit. p. 25.
(276) B.O.G.P.G.P., 9 de Maio de 1891, nº 19, p. 75. Como as peças oficiais já não são acessíveis, temos de nos referir às várias indicações contidas no decreto de 15 de Abril de 1891, demitindo-o das mas funções e não nos surpreenderá saber que esta acção nem sequer é citada entre os compiladores.
(277) Joaquim Duarte Silva: Nótulas... op. cit. p. 26. O comércio francês alarma-se e Paris envia um navio que chega a 13 de Março para proteger os seus nacionais, mas os Portugueses empenham-se em abater sozinhos a rebelião. Cf. o importante dossier neste assunto em A.N.S.O.M., Afrique VI, Dossier 91c. Os agentes franceses em Bissau falam apenas de quatro soldados mortos, 15 feridos e seis desaparecidos. Carta do ministro de França em Lisboa, de 22 de Abril de 1891.
(278) Para mostrar que se é profissionalmente nulo, não deixa de ser visceralmente bravo, o tenente-coronel voltará à fortaleza em passos lentos (B.O.G.P.G.P., 9 de Maio de 1891, nº 19, p. 75). É pois de se perguntar como é que não foi abatido, um único oficial estando ferido. Teria sido por o fogo de apoio da canhoneira ter mantido os insurrectos à distância?
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 268

1891/03/19
Fundearam em Bissau a corveta «Mindelo», a canhoneira «Guadiana» e as lanchas-canhoneiras «Flecha» e «Zagaia» trazendo a reboque diversas embarcações que vieram de Geba transportando 3 oficiais, 2 oficiais inferiores, 160 cabos e sol­dados e numerosos auxiliares Mandingas para se incorporarem na coluna de operações militares de Bissau.
1891/04/00


1891/04/01
«Indisciplina e intrigas
Pressionado a agir perante o reforço dos Papéis e dos grumetes, o tenente-coronel Pedro Moreira da Fonseca contenta-se em organizar exercícios de tiro, junto da fortaleza, para os seus homens. A 22 de Março, recebe mais cinco oficiais, catorze soldados cabo-verdianos suplementares, depois, no mesmo dia, 92 auxiliares biafadas de Galena (279). A falta de energia e de organização, eis o mal de que sofrem estas tropas desmoralizadas e os seus oficiais anémicos. São ainda os soldados angolanos, escarnecidos pelos Papéis e pelos grumetes, que resgatam a passividade do seu comando. Caso provavelmente único em todas as colónias africanas portuguesas, a 1 de Abril, estes Angolanos, determinados a acabar com os insultos, decidem por sua própria conta bater-se sozinhos contra os Papéis. Sob a direcção de chefes angolanos, entre eles um cabo mestiço, e respondendo a palavras de ordem em quimbundo (língua dos Ambundos angolanos), desobedecem aos seus oficiais e internam-se 1500 metros em direcção ao inimigo e batem-se ferozmente, sem graduados. É um ajuste de contas étnico. Quase a esgotarem-se os cartuchos, pedem que a fortaleza lhos forneça. Ora, como bons tarimbeiros, os oficiais não vêem neles mais que causadores de perturbações em infracção com o regulamento. Recusam, portanto, abastecê-los. No regresso, os Angolanos serão punidos, dois corneteiros, julgados em Conselho de guerra, serão mesmo condenados à deportação para Luanda... Considerando-se vítimas de uma grosseira injustiça, os soldados angolanos teriam jurado vingar-se na primeira ocasião (280). Não vai tardar.
De facto, os oficiais da pletórica guarnição de Bissau matam o tempo em lamacentas intrigas, esperando reforços metropolitanos que nunca virão. Este tenente-coronel Moreira da Fonseca parece ser um caso agudo de rotina crispada. Sente que, depois da desastrosa surtida de 9 de Março, o seu futuro está comprometido. Talvez o clima e a doença vencessem o que lhe resta de qualidades? A 4 de Abril, pede para ser retirado do seu comando dado o seu estado de saúde, a indisciplina dos homens, as rivalidades entre Cabo-Verdianos e angolanos e o mau entendimento entre os seus oficiais. Velha lengalenga colonial no universo português. Enfim, é um abúlico cediço e o seu governador é tão culpado quanto ele, por ter tardado tanto a demiti-lo, o que acontece a 15 de Abril. Depois, voltamos a cair num buraco negro onde tudo se torna incerto, pois que nunca tendo razão os vencidos, o B.O. G.P.G. P. não comportará senão as citações concedidas aos sobreviventes. Sobreviventes do segundo massacre que terá lugar a 9 de Abril.
(279) Idem, 14, 4 de Abril de 1891, p. 54.
(280) Joaquim Duarte Silva: Nótulas.. Ob. cit . pp. 27-29.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 270
1891/04/11
Exonerado o tenente-coronel PEDRO MOREIRA DA FONSECA de comandante da coluna de operações ern Bissau e nomeado para o substituir o capitão JOAQUIM ANTÓNIO DO CARMO AZEVEDO.




Nótulas à Margem da História Militar Colonial, por Joaquim Duarte Silva
UM EPÍLOGO PROVISÓRIO (1892)
O que se passa nos dias seguintes continua a ser muito incerto. Sabe-se que a artilharia da Marinha bombardeou Intim e Bandim e que um cruzador alemão veio (23 de Abril) transportar a Boiama os bens e as pessoas de uma casa de Hamburgo. Os habitantes civis de Bissau refugiam-se igualmente na capital, ainda que alguns comerciantes estejam persuadidos de que os Papéis não atacarão a cidade, por superstição (295)! O papel dos grumetes esse, fica inteiramente em silêncio (296). Quanto aos desaparecidos, brancos e negros, que caíram nas mãos da gente de Cuméré, não voltarão mais à fortaleza. Nos anos e meses que irão seguir-se, os Papéis passearão por Bissau tendo, à volta do pescoço, colares onde as missangas e os cauris teriam sido substituídos pelos dentes dos soldados brancos caídos em Março e Abril de 1891 (297)! É uma vitória dos Papéis, incontestavelmente, porém, também eles, tiveram de registar perdas sensíveis, porque a história colonial está cheia destes combates e destes cercos em que os Portugueses se batem como javalis feridos, até à morte. Não é pois a sua coragem que está em causa, em 1891; é a sua desorganização fatalista. Por volta de Maio de 1891, a morte de Cuméré é anunciada na metrópole. Teria sido ferido em combate?
Não sabemos quais foram as reacções oficiais de Lisboa perante este desastre, a não ser que o despedimento do governador não vai tardar, e que o Ministro António Enes enviará um oficial para melhorar as fortificações das feitorias da Guiné (298). O mais claro das suas actividades profissionais consistirá em erguer uma paliçada na praia, prolongando a muralha na direcção de Pidjiguiti, e em desarborizar um campo de tiro. O seu projecto de construção de uma luneta nas alturas de Intim, nunca terá lugar. Como também não se efectuarão as reparações sugeridas em Cacheu, Farim, Buba e Geba: não há créditos!
(281) A.H.U. Documentos importantes. Guiné, S. 12 G.P.I. Doc. 168. N.os 2, 3 e 4.
(282) Joaquim Duarte Silva: Nótulas...op. cit. p. 30.
(283) Idem, p. 31.
(284) A.H.U. Documentos importantes nº 168, nº 5, nº 6.
(285) Mas os Papéis do norte, em Colta de Cacheu, paradoxalmente, estão nas melhores relações com o presídio, cujo comandante não hesita em sugerir que ele seja desguarnecido de tropas, tanto mais que a embriaguês crónica destas provoca conflitos quotidianos. Loc. cit., nº 6.
(286) Alcácer-Quivir ou El-Ksar-el-Kevir, terrível derrota do rei Sebastião de Portugal, a 4 de Agosto de 1578, pelos Marroquinos. Cerca de 7000 mortos Portugueses, entre os quais o rei. O prelúdio do fim, provisório, da independência nacional.
(287) Bello de Almeida: Meio..., op. cit., p. 116 fala de dez oficiais, doze artilheiros e cento e vinte soldados de infantaria, mas acaba por citar doze oficiais. É mais que duvidoso que sejam precisos doze oficiais para conduzir tão poucos soldados. É contrário a todas as taxas de quadros encontrados nas operações portuguesas, onde a relação está mais próxima de um para trinta ou um para cinquenta, do que um para onze.
(288) A.H.U. Documentos importantes nº 168, nº 2.
(289) Joaquim Duarte Silva: Nótulas..., op. cit., p. 26.
(290) Carta de 23 de Abril de 1891 de um agente da Casa Blanchard, em Bissau. A.N.S.O.M., Afrique VI. Dossier 91c. Confirmado quanto ao cálculo dos mortos, por uma correspondência portuguesa reproduzida em Anónimo: «Cartas do Ultramar. Guiné. Os acontecimentos de Bissau», As Colonias portuguezas. Supplemento (Portugal e Colonias), nº 10, 21 de Maio de 1891, p. 71.
(291) Ricardo de Albuquerque: «A recente...», op. cit., p. 74.
(292) Segundo o cálculo deduzido por Joaquim Duarte Silva: Nótulas..., op. cit., p. 26, ou seja 35 Cabo-verdianos, a 9 de Março, mais 62 + 4 europeus e angolanos, a 19 de Abril. Este autor contabiliza talvez alguns feridos falecidos ulteriormente e, provavelmente, os desaparecidos, finalmente contados como mortos. É de notar que ninguém diz algo quanto às baixas dos auxiliares. Marchando em cobertura, provavelmente várias dezenas deles foram abatidos em primeiro lugar.
(293) Números obtidos adicionando os 35 Cabo-verdianos de 9 de Março, com os 75 soldados e os 4 oficiais mortos, relatados pelas fontes francesas e portuguesas citadas três notas acima.
(294) Esta derrota deixou pelo menos uma marca na ficção portuguesa, porém é totalmente recomposta por um funcionário mestiço cabo-verdiano, que lhe consagrou um texto sem valor histórico (Fausto Duarte: «O mestiço» in Foram estes os vencidos. Contos. Lisboa, 1945, pp. 133-193). De notar que este conto trata também da campanha de 1894, em Bissau.
(295) A.N.S.O.M., Afrique VI. Dossier 91c. Esta fonte pretende que o comandante da praça foi mal aconselhado por um comerciante (João Rodrigues) desejoso de se vingar dos Papéis.
(296) Em contrapartida, sabe-se que alguns Papéis de Antula trataram de alguns soldados africanos feridos.
(297) É talvez urna anedota com segundas intenções, pois como distinguir, mesmo em Bissau, os dentes dos Angolanos ou dos auxiliares, dos dos Portugueses? Em compensação, que o coração de um dos oficiais abatidos tenha sido arrancado e cortado aos pedaços, distribuídos às mulheres grávidas, para que os filhos a nascer fossem tão bravos como aquele infeliz, tombado valentemente, parece um facto autêntico. Ferreira Martins: Glórias e martírios da colonização portuguesa. Vol II, P. 1., nº 54, Lisboa. 1939, p. 19.
(298) B.O.G.P.G.P., nº 26, 27 de Junho de 1891, p. 115 e sobretudo o relatório sobre os trabalhos do autor, a saber Henrique Cesar da Silva Barahona e Costa: «Uma commissão de engenheria militar na Guiné portugueza», extracto da Revista de Engenharia militar, 6º Anno, nº 2, Fevereiro de 1901 e números seguintes (pp. 54-69; pp. 124-132: pp. 165-192). Curiosamente, este interessante trabalho contém importantes desenvolvimentos sobre a etnografia, além de uma descrição pessimista de todos os estabelecimentos em 1891-1892. Desde o seu desembarque (28 de Junho de 1891), a primeira coisa que o autor faz é ouvir missa pelo repouso da alma das vítimas dos combates. Idem, p. 57.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 271-275
1891/04/28
Louvados pelas operações militares de Geba os comandantes das lanchas-canhoneiras «Flecha» e «Zagaia», l.º tenente FILIPE DOS SANTOS NUNES e 2ºtenente ALVARO HERCULANO DA CUNHA. Louvado o capitão ZACARIAS DE SOUSALAGE pelos relevan­tes serviços no presídio de Geba como chefe e comandante da coluna de operações, dando inequí­vocas e sobejas provas de coragem, valor e mérito nos ataques que dirigiu às tabancas gentílicas de Joladú, Ganadú, Chime e outras.
Louvados alguns negociantes do Presídio de Geba e chefes de guerra auxiliares, destacando-se DO­MINGOS GOMES ARAÚJO (o MANCAMÁ) , pela cora­gem, denodo, valentia e amor pátrio, do que foi vitima no ataque dado a Carantabá em 13-12-1890.
1891/05/14
Foi estabelecido em Geba um depósito de incorri­gíveis onde deveriam completar o tempo de serviço que lhes faltasse as praças da guarnição de An­gola mandadas servir na Guiné por terem sido condenadas como desertores ou incorrigíveis
1891/05/15
Nas operações militares de Bissau morreram em combate: os capitães JOAQUIM ANTÓNIO DO CARMO AZEVEDO e HEITOR ALBERTO AZEVEDO, tenente AN­TÓNIO JORGE LUCENA e alferes JOSÉ HONORATO MO­REIRA, sargentos ALFREDO JÚLIO DE MATOS e JOÃO PAULO HENRIQUE e 41 praças.
1891/06/22
Os rebeldes de Bissau, pressentindo que haviam sido solicitados reforços da Metrópole e por verem a impossibilidade de vender oleaginosas, deliberam pedir perdão dos seus erros tendo começado as negociações para a realização do acto  de submissão.
1891/08/05
A vida no Presídio de Farim continua insegura devido às correrias de Mussá Molô, chefe de guerra do rei Dembel, que provocam intranquili­dade em toda a região. Inúmeras são as famílias indígenas de Corlá e Sam Corlá que ele reduz à servidão. O governador GONÇALVES DOS SANTOS de­cide tornar enérgicas providências para terminar com tal estado de coisas.
1891/08/21

Soldados vindos do reino, Cabo Verde e Angola para cumprir as penas de deportação militar vão aumentar os efectivos das guarnições; outros são compelidos a ter praça nas mesmas por períodos que vão até 10 anos. O que eles iam contar mais tarde nas suas terras faria crescer o horror pela Guiné.
1891/10/14
São agradados com a medalha de prata para a distinção e prémio concedido ao mérito, filan­tropia e generosidade ummarinheiro de 2." classe da Armada e os remadores da canhoneira «Rio Ave» e o patrão da chalupa «Honório Barreto» por terem salvo, com risco da vida, alguns soldados de Cabo Verde que, acossa­dos pelo gentio rebelde de Bissau, no ataque de 9 de Março, se refugiaram na praia, atolando-se no lodo. 
1892



1892/01/20
Foi declarado em estado de guerra no Presídio de Geba e sua circunscrição, suspensas as garantias dos seus habitantes e considerados rebeldes todos os povos da mesma região que se reuniram ao chefe de guerra do rei Dembel de Firdú, Mussá Molô.













  1. ~

































1892/01/22
Constituída a coluna de operações de Geba contra Mussá Molô. Nomeado seu comandante o capitão CARLOS AUGUSTO DE ALMEIDA SARAIVA, que faleceu dias depois, sendo substituído pelo capitão ZACA­RIAS DE SOUSA LAGE.
1892/02/06
Por Sua Majestade o Rei foi concedido o perdão aos Papéis da Ilha de Bissau que assim tinham implorado em 20 de Agosto do ano antecedente, assinando os régulos de Intim, Antula e Bandim o respectivo auto, em 6 de Março daquele ano.
1892/02/27
Tornou-se conhecida a. noticia transmitida por telegrama do M inistro da Marinha e Ultramar que Sua Majestade o Rei concedera o perdão aos Pa­péis nos termos do auto assinado pelos régulos de Intim e Cumeré e os seus «grandes» que haviam solicitado àquele real Senhor na Sala dos Paços do Concelho de Bissau em 6 de Fevereiro. Foram onze as condições impostas aos indígenas, figu­rando entre elas a de: que para além das mura­lhas da praça, numa zona de largura de 250 me­tros, não seria permitida construção alguma sem licença do Governo. Outra condição impunha os régulos procurar investigar em que pontos haviam sido enterrados os oficiais e mais praças mortos nos combates de Março e Abril de 1811
1892/03/02
Auto de vassalagem do régulo de Cabomba, Dcmbá Methá, de Geba.
1892/03/10
Vitória das nossas forças comandadas pelo capitão de caçadores SOUSA LAGE sobre os rebeldes da cir­cunscrição de Geba, coroada pela entrada da coluna de operações em Gussará-Dandum, aldeia indígena fortificada considerada até então inex­pugnável.
1892/03/24
Louvado o guarda marinha Joaquim PEDRO VIEIRA JÚDICE BIKER, comandante da lancha-canhoneira «Zagaia» pelos serviços prestados em apoio àcoluna de operações  militares de Geba. Louvado O CAPITÃO ZACARIAS DE SOUSA LAGE, pela maneira como diri­giu a coluna de operações militares em Geba, obri­gando os rebeldes a abandonarem a sua mais forte tabanca de guerra Gussará Dandum, onde a coluna teve de sustentar aturada fusilaria como inimigo, durante 18 horas nos dias 10 e 11 de  Março.
Foi considerada pacificada a região de Geba pela derrota de Mussá Molô.
1892/05/04
Auto de vassalagem do régulo de Cossé, Sambei Cumbandim
1892/05/21
Auto de vassalagem do régulo de Corubal Damão Jabú.
1892/08/28
Auto de vassalagem do régulo de Gabú e Forreá (Buha) Mamadí Paié Coiada.
Foi celebrado no Presídio de Geba, em presença das autoridades, o auto de vassalagem do régulo de Gabú e Forreá Mamadú Paté, que ali se apre­sentou acompanhado dos seus conselheiros.
1892/11/28
«Vimos já no .capítulo anterior que após a campanha de 1891 contra os papéis, foi lavrado mais ~m auto de obediência, em 7 de Março de 1892. Foram nesta ocasião acordadas várias cláusulas e entre estas, a demarcação dos terrenos para a construção do bairro dos grumetes.
No entanto, os papéis não se preocuparam muito com os compromissos tomados, e voltaram a praticar actos de manifesto desrespeito pelas nossas autoridades. Davam guarida aos soldados angolenses que desertavam da fortaleza, levando consigo espingardas e muníções. Incomodavam os moradores de Bissau que se aventuravam a saír fora das muralhas.
Tendo o padre Henrique Lopes Cardoso, natural de Guiné, obtido uma soma razoávell por meio de subscrição pública para a construção de uma nova igreja no bairro dos grumetes fez-se a demarcação com bênção do terreno, e foi colocada no local uma cruz de madeira. No dia seguinte a cruz e o terreno apareceram profanados pelos papéis.
Chamados os régulos para explicações, desculparam-se alegando que a acção deveria ter sido praticada por garotos e prometeram castigar os culpados, logo que fossem descobertos. Êstes e outros factos levaram o governador da colónia a vir à metrópole afim de expôr ao Govêrno central a situação e obter os recursos financeiros e militares para a manutenção do nosso prestígio.
O chefe da província Vasconcelos e Sá regressou à collónia em Outubro. Um mês depois, na manhã de 28 de Novembro, era assassinado pelos papéis o caboverdeano Honório, que fôra ao campo buscar um molho de palha. Ao mesmo tempo os indígenas juntavam-se em grande número no alto de Intim, festejando a acção com danças guerreiras e preparando-se para uma nova guerra.
Houve nêsse dia troca de tiros entre os revoltosos e a fortaleza. Era comandante o capitão Zacarias de Sousa Lage, tendo como auxiliares o tenente Silveira Machado e os alferes Graça Falcão e José Augusto Alves Velez. Em portaria provincial de 1 de Dezembro. foi declarado o estado de guerra na ilha de Bissau e tomadas algumas providências adequadas, abrindo-se um crédito extraordinário de dez contos para a campanha.
Na madrugada de 7 de Dezembro, os papéis ajudados por balantas atacaram de surpresa a praça, principiando por avançar com grande algazarra contra o forte de Pigiquiti no intuito de chamar para aquele lado os nossas fôrças e desta forma assaltarem a fortaleza pelo lado da Puana, defendida apenas por uma palissada imperfeita.
Mas o seu estratagema foi ·descoberto a tempo e os atacantes foram repelidos com consideráveis perdas. A ordem que o capitão Sousa Lage tinha dado para os oficiais não abandonarem os seus postos evitou um provável desastre.
Depois disso, as escaramuças repetiram-se quási diàriamente, voltando os papéis e os grumetes em frequentes ataques, obrigando assim a guarnição a permanecer em estado de constante vigilância.
A actividade das nossas tropas não se limitava apenas à defesa da fortaleza. A necessidade de cortar o tarrafe e o mato em volta da povoação obrigava os soldados a saír da fortaleza, dandio-se nestas ocasiões vários recontros com os inimigos. As nossas fôrças de terra eram auxiliadas pelas lanchas-canhoneiras Flecha e Zagaia além dos barcos de guerra Rio Lima e Mandovi que vieram mais tarde.
Como esta situação se prolongava, o Govêrno da metrópole resolveu enviar reforços para castigar os rebeldes. Vieram contingentes de marinha, além de soldados angolenses e caboverdeanos durante o mês de Abril.
Ao mesmo tempo que se ia organizando a coluna de operações, fizeram-se algumas sortidas para o reconhecimento do terreno ocupado pelo gentio entre Intim e Antula, verificando-se que os indígenas se preparavam para a luta e não desistiam de atacar as nossa fôrças.
Decidido a levar a efeito uma acção mais eficaz contra o inimigo, o governador Vasconcelos e Sá deu ordem para a saída da coluna de operações no dia 10 de Maio, pela manhã. As forças compunham-se de uma companhia de marinha, uma de angolenses, uma companhia de guerra da Guiné, uma bateria de artilharia, uma divisão de metralhadoras e alguns auxiliares.
A coluna avançou em poucas horas até o alto ·de Intim estabelecendo aí o quartel general. Parte das fôrças continuou a marcha, tomando as povoações de Bandim e avançando até ao rio de Contumo.
A coluna conservou-se nestas posições até o dia 20, retirando-se para a praça no dia seguinte, depois de ter destruído as aldeias indígenas. O plano da campanha era tomar também a povoação de Antula, mas teve de se desistir dêsse intento em virtude de o regulamento da armada não permitir as suas forças afastarem-se dos navios além de um certo limite.
Nos combates com os papéis ficaram feridos o capitão Sousa Lage, 8 praças de marinha, 11 angolenses e um soldado da Companhia da Guiné. Morreram 4 praças de Angola e uma de marinha.
Esta guerra de Bissau custou ao Estada a soma de 70.930$00, sendo 42 contos para os gastos da coluna de operações e perto de 29 contos para as despesas extraordinárias da defesa de Bissau, durante os ataques de Dezembro a Maio.
Tornaram nela parte, além do governador Vasconcelos e Sá que comandava a coluna, os oficiais Sousa Lage, Manuel César de Oliveira, Alfredo da Cunha Tamegão, Manuel Almeida, Isla de Santos Silva, José Maria Severino, Jaime da Graça Falcão, Possidónio Agelino, Cruz Chaves, Palermo de Oliveira, Carvalho Peres, Miguel Pimentel, Alves Velez, Luiz da Costa Pereira, Silveira Machado, Jesus Ramalho e Oliveira Pegado; os mlédicos Campos Vidal e António Maria da Cunha; os oficiais da marinha, Felipe Dias de Carvalho, Carlos Aprá, Ladislau P arreira, Francisco Diniz, Vieira dos Santos, Loureiro da Fonseca, etc.
A campanha de 1894 terminou com a assinatura de um auto de submissão, feito pelos grumetes e papéis de Intim, Bandim, Antula e Safim, em 22 de Julho, na praça de Bissau e na presença do governador.
Depois de reconhecida a legitimidade dos chefes que se apresentavam como representantes dos revoltosos a pedir as pazes, foram estabelecidas as seguintes condições:
Entrega de todos os soldados desertores e das embarcações apresadas; entrega de tôdas as armas aperfeiçoadas em poder dos revohosos; deixar inteiramente livre uma zona de terreno até 350 metros além da muralha que ficaria anexada à vila de Bissau; conservar livres os caminhos através da ilha, garantindo a vida dos transeuntes e as relações comerciais; prestar serviços na Praça, fazendo os chefes a distribuição do pessoal de modo a apresentar semanalmente no comando militar um grupo não inferior a 10 homens.
Os revoltosos obrigavam-se a satisfazer anualmente como tributo de submissão, um imposto de 160 réis por cada indivíduo, pago em quatro prestações que seriam entregues ao comandante militar; nomeação pelo govêrno de um chefe encarregado de visitar a região; ·obrigação de os régulos eleitos pelos papéis serem confirmados pelo govêrno.
Tais foram as condições impostas aos papeis ao terminar a campanha de 1894. Encontramos nelas duas dáusulas que não figuravam nos acordos anteriormente feitos: intervenção do govêrno nas e1eições dos régulos e a obrigação do pagamento de imposto de soberania, vulgarmente chamado imposto de palhota. Deve, porém, acrescentar-se que os papéis de Bissau não chegaram a pagar êste imposto, nem houve forma de os obrigar a isso naquela ocasião·.
As primeiras tentativas para a cobrança dêsse imposto, foram feitas, salvo êrro, em 1895 na região de Farim. O comandanrte do presidio, em virtude de uma ordem confidencial recebida do govêrno, obrigou os indígenas das povoações mais próximas a pagar o imposto de 40 réis por pessoa. No primeiro ano foi cobrada a quantia de 100$000 e no segundo, a cobrança atingiu 600$000 réis. Foi talvez a aplicação dêste· imposto que deu origem à revolta dos oincas e consequente campanha contra eles empreendida em 1897, de que adiante falaremos.»

João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 317-321
1893
1893/03/27
Auto de vassalagem do régulo de Chime, Béllar Bandi.
1893/04/24
CÉSAR GOMES BARBOSA, é governador interino da Guiné em vez de Sá até 23 de Outubro de 1893
1893/05/09
1893/12/08
Rebeldes Papéis em número de 3.000 fazem um ataque de surpresa à Praça de Bissau pelo lado do baluarte da Balança e fortim do Pigiguiti. O fogo de artilharia, com lanternetas, do baluarte da Onça, seguido de granadas com balas pelas peças de 7c. Krupp, fez cessar o ataque inimigo. No ataque entraram também Balantas de Nhacra e Cuntanga.
Na madrugada de 8 de Dezembro de 1893, a praça de Bissau, que tinha então por guarnição uma das três companhias de polícia que constituíam a força armada do distrito autónomo da Guiné portuguesa (as outras duas guarneciam Boiama e Geba), foi atacada pelos papeis, cujo fogo incidiu sobre o baluarte da Balança. Apoiada pelo canhão-revolver da canhoneira Flecha, a praça respondeu vigorosamente, sustando o assalto. Repetido o ataque à tarde, foram de novo repelidos os papeis pelo fogo certeiro de uma metralhadora manejada pelo capitão Pessoa, e das peças da cortina e do baluarte da Onça, apoiado pela canhoneira liberal, que neles fez apreciável ceifa.
1893/12/12
Louvado o capitão ZACARIAS DE SOUSA LAGE, comandante militar de Bissau, bem como todos os ofi­ciais e praças da guarnição pela maneira distinta como se comportaram na defesa da praça contra o ataque feito em 7-12 pelo gentio Papel e gru­mete de Bissau e Balantas de Nhacra e Cuntanga. Louvado o 1." tenente da Armada ARTUR JOSÉ DOS REIS, comandante interino da canhoneira «Rio Ave» pela maneira como se houve no auxílio pres­tado para a defesa da vila de Bissau.
1894
1894- Novo ataque dos Papéis, ajudados por Balantas, à fortaleza de Bissau.
1894/01/09
Foi bombardeada pela artilharia de terra e mar a aldeia indígena de Bandim. Os Papéis atacaram a praça. de Bissau desesperadamente, sendo repe­lidos com grandes baixas após duas horas de fogo.
1894/02/19
Continua a revolta do indígena do Intim, O go­vernador VASCONCELOS E SÁ mandou cortar o célebre «Poilão de Guerra» que se achava próximo da praça e junto do qual os Papéis faziam habitualmente suas cerimónias gentílicas.
1894/02/24
Louvado o comandante da canhoneira «Rio Lima», visconde SILVA CARVALHO pelo zelo, inteligência e dedicação que provou nos serviços prestados ao Governo do distrito para a boa defesa de Bissau no período de 25-12-1893 a 22-2-1894.
1894/04/13
Louvado o capitão-tenente EDUARDO JOÃO DA COSTA OLIVEIRA, comandante da canhoneira «Rio Zaire» pela dedicação, pelo serviço e inteligente coadjuvação que prestou durante o tempo que comandou a divisão naval no porto de Bissau e pela  maneira como desempenhou a comissão a Peciche.
1894/04/17
Louvados os oficiais e praças que fizeram parte da força que guarneceu a vila de Bissau desde 1 de Dezembro de 1893, especializando o capitão ZACARIAS DE SOUSA LAGE, tenente ANÍBAL AUGUSTO DA SILVEIRA MACHADO JÚNIOR e os alferes JAIME AUGUSTO DA CRAÇA FALCÃO e JOSÉ AUGUSTO ALVES VELEZ
1894/05/03
governador da Guiné passa em revista as forças que constituem a coluna de operações. A parada formou na Rua de S. José e era constituída por uma secção de metralhadoras, pelas companhias de guerra da marinha, da Guiné e de Angola, 3 sec­ções de bateria de artilharia, secções de saúde e de administração militar.
Depois de tornar de assalto a povoação de Bandim, terreno considerado sagrado pelos Papéis que ali tinham o seu «balobeiro» escutado como o sumo sacerdote do fetichismo, a coluna de operações, sob o comando do governador, acampou no alto do Intim.
1894/05/22
Indígenas Papéis aproximaram-se do portão da Puana, da Praça de Bissau, trazendo hasteada a bandeira nacional encimada por uma bandeira branca. Pedem a suspensão imediata das hostili­dades e informam que, para tratar do perdão e paz  que imploram, desejavam três dias com o fim de poder reunir os grandes de lntim e Bandim
1894/05/23
Idem, idem, as irmãs hospitaleiras pelo oferecimento voluntário dos seus serviços no hospital de sangue em Bissau e pela maneira carinhosa como trataram os feridos. Louvados todos os comandantes, oficiais e praças da guarnição dos navios que constituem a estação naval e em especial o capitão de fragata comandante do transporte «África» e da estação naval, CARLOS MARIA PEREIRA VIANA, pelos relevantes serviços prestados durante o tempo em que a coluna se conservou em operações, bem como ao comandante EDUARDO J. DA COSTA OLI­VEIRA e VISCONDE DA SILVA CARVALHO, capitães­-tenentes, D. BERNARDO DA COSTA SOUSA MACEDO e ÁLVARO HERCULANO DA CUNHA, 1.os tenentes, LUÍS CONSTANTINO LIMA, 2.° tenente, pelos serviços pres­tados no bombardeamento de Bandim e Antula. Louvado o engenheiro civil TEODORO MONTEIRO DE MACEDO, chefe da repartição das Obras Públicas, pelo zelo e dedicação comprovados na direcção dos trabalhos de construções de barracões e outros para a coluna de operações desde Dezembro de 1893.
Coluna de operações que em 10 de Maio saiu a castigar o gentio rebelde de Bissau:
Estado Maior - Capitão ZACARIAS DE SOUSA LAGE, capitão MANUEL CÉSAR DE  OLIVEIRA, tenente ALFREDO DA CUNHA TAMEGÃO, oficial às ordens; e adjuntos 2.° tenente da armada ELÍSIO LEILÃO VIEIRA DOS SANTOS, tenente MANUEL DE ALMEIDA e alferes JOSÉ MARIA SEVERINO.
Bateria de artilharia - Capitão JACINTO ISLA DOS SANTOS E SILVA, tenentes JAIME AUGUSTO DA GRAÇA FALCÃO e POSSIDÓNIO JOSÉ ANGELINO; alferes ES­TÊVÃO GONÇALVES DA CRUZ CHAVES.
Companhia de guerra de Angola - Capitão FRAN­CISCO JOSÉ, tenente António Palermo De Oliveira; alferes MIGUEL LOURENÇO DE CARVALHO PEREIRA, Miguel António Pimentel e JOSÉ AUGUSTO DA CON­CEIÇÃO ALVES VELEZ.
Companhia de guerra da Guiné – Capitão LUÍS DA COSTA PEREIRA JÚNIOR; tenentes ANÍBAL DA SIL­VEIRA MACHADO JÚNIOR, JOSÉ DE JESUS RAMALHO, alferes Francisco Xavier De Oliveira Pegado e CUSTÓDIO ANTÓNIO DA SILVA.
Secção de Saúde - Luís Augusto Campos Vidal, médico de 2." classe, António Maria da Cunha, facultativo de 2.ª classe.
Administração militar - ANTÓNIO CAETANO, tenen­te; ALFREDO LOUREIRO DA FONSECA, comissário de 3.ª classe e MARINHA DE CAMPOS, aspirante de Fazenda.
Companhia de guerra de Marinha - 1.º tenente comandante PEDRO DE AZEVEDO COUTINHO; 2.ºs te­nentes JÚLIO LOPES VALENTE DA CRUZ, FILIPE DIAS DE CARVALHO. ALBERTO CARLOS APRÁ e ANTÓNIO LADISLAU PEREIRA.
Secção de metralhadoras - 2.° tenente coman­dante JOÃO FRANCISCO DINIZ JÚNIOR.

Oficiais que fizeram serviço em Bissau durante as operações - Capitão CAETANO ALBERTO DA COSTA PESSOA, tenentes FRANCISCO DE CASTRO PIMENTEL e MANUEL FRANCISCO RODRIGUES GUIMARÃES, 1.0 te­nente da Armada HOPFER CUSTÓDIO GOMES e 2.0s tenentes ANTÓNIO JOSÉ FRAGOSO PEREIRA e JOSÉ MARIA CLARO OUTEIRO. 
1894/06/05
Concedidas pensões anuais pelos serviços presta­dos pelos régulos nas operações de Bissau e contra as invasões de Mussá Molô: de Badora, Jeró Mané; de Bigini, Ungi Soná; de Xime, Bellá; de Corlá, JoNhó; de Ganadú, Gumhú; de Gossancó, Jabé Có; de Joladú, Dado, e de Sam-Corlá, Jabó Có.
1894/06/12
Louvado o tenente ANÍBAL AUGUSTO DA SILVEIRA MACHADO JÚNIOR, comandante do presídio de Buba pelo bom serviço prestado em 24 do 6 na ocasião em que os Beafadas atacaram apovoação de Sam­- Bafim.
1894/06/22
Os indígenas Papéis de Inrirn, Bandim, Antula e Safim, prestam submissão aoGoverno de Sua Majestade na pessoa do governador do distrito da Guiné, que lhesditou 17condições que foram por eles aceites.
1894/09/27
«Depois da campanha de Bissau, de 1894, talvez por se ter a impressão de que estava definitivamente garantida a ordem no território de Guiné, formou-se em Lisboa uma importante sociedade com o intuito de proceder à exploração agrícola e comercial da colónia. O decreto de 27 de Setembro, que estabeleceu as bases dessa companhia magestática, fazia-lhe a concessão de todo o território ·da Guiné, entregando-lhe também a sua administração directa. Merecem especial ·atenção alguns artigos dêsse diploma:
Art. 1º - São concedidos à companhia portuguesa que for constituída por Mateus Ribeiro Sampaio e Conde de Vale-Flor, para as explorações agricolas, mineiras, comerciais e industriais, os terrenos incultos ou desocupados do actual distrito de Guiné.
Art. 3. º - O govêrno reserva todos os direitos de soberania sobre o territorio da Guiné, que voltará a fazer parte. integrante da provinda de Cabo Verde ... A companhia tomará ao seu ·serviço todos os funcionados civis e militares do distrito, · empregando-os convenientemente.
Art. 4.º -A companhia manterá as forças policiais de mar e terra que f.orem necessarias para a defesa dos territorios.
Art. 5.º - A companhia concessionaria obriga-se a ocupar dentro de 3 anos a ponta de Biombo e o- alto de Bandim e dentro .de 5 anos a ocupar as principais ilhas Bijagós.
Desnecessário se torna transcrever outras disposições para se demonstrar o carácter magestático da companhia em formação.
Todo o território da Guiné convertia-se em propriedade da emprêsa, excluídas as concessões, anteriormente feitas e já aproveitadas e os terrenos julgados indispensáveis às culturas indígenas na razão de um hectare poir cada fogo.
A publicação dêste diploma ,deu origem a uma larga polémica na imprensa, que alarmou a opinião pública. Seja por motivo da oposição levantada, seja por causa das dificuldades que surgiram na execução da idéa, certo é que o projecto foi pôsto de parte.
Só muito mais tarde, em 16 ·de Julho ·de 1904, foi concedido ao mesmo pretendente Mateus Ribeiro Sampaio o aforamento de 22.000 hectares ·de terrenos baldios no arquipélago de Bijagós, sendo a sua maior parte nas ilhas de Formosa, Caraxe e Caravela. (18.500 hect.).
No ano de 1894 como operações militares, além da campanha de Bissau, temos que registar uma acção do comandante de Geba, tenente Silveira Machado, contra os biafadas durante o mês de Junho.
Para facilitar o abastecimento dos postos militares, providenciou-se por portaria de 8 de Setembro, ·sôbre e estabelecimento de carreiras .regulares de barcos à vela entre Bolarna e os diversos ·pontos do interior, sendo fixada uma carreira mensal entre Bolama e Farim com escala por Bissau e Cacheu; uma outra nas mesmas condições de Bolama para Geba e uma carreira semanal da capital para Buba.
Nos princípios . de 1895, o governador Vasconcelos e Sá retirou-se para a metrópole, ficando encarregado do governo o secretário geral Moura Cabral. Foi durante êste interregno que, por portaria de 4 de Abril, foi criado o posto militar de Cacine, a pedido dos comerciantes ali estabelecidos e do régulo da região Saiu Salifu, que já anteriormente, em 9 de Março, havia jurado obediência ao Govêrno português nas mãos do tenente Silveira Machado, comandante de Buba e do 2.º tenente Almeida Carvalho, ·comandante da canhoneira Flecha.
Para o pôsto de Cacine foi atribuída tôda a zonà costeira, desde aquele rio até Bambaiá, e foi ali colocado um destacamento com 20 praças sob o comando de um oficial, que desempenhava também os demais serviços da administração civitL. Passados uns meses, em 6 de Outubro, constituiu-se naquele pôsto uma companhia móvel, composta de 130 auxiliares indígenas, sob o comando cto régulo Salifu, nomeado alferes de 2.ª linha.
Há ainda a registar nêste mesmo mês de Abril o acto de vassalagem prestado pelo régulo de Barro, território dos balantas sôbre o rio de Cacheu, perante o ·comandante de Farim, Graça Falcão.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 321-323
1894/11/09
Foi promulgado o regulamento para a sustentaçâo e aproveitamento dos serviços dos condenados em atenção à chegada a este distrito de um ele­vado número de degredados.
1894/12/22
Louvado o tenente JAIME AUGUSTO DA GRAÇA FALCÃO, o 2.° sargento D. AUGUSTO PEREIRA COUTI­NHO e o enfermeiro CAMILO LIMA DA COSTA e em geral a força destacada em Farim pelos serviços prestados na circunscrição do presídio e prisão do chefe TOMANI TAVARES.
1895
1895- Campanha portuguesa contra o Forreá e o Kaabú, que durará vários anos.
CÉSAR AUGUSTO MOURA CABRAL, 2º mandato, interino, até 4 de Abril de 1895
1895/03/09
Auto de submissão do régulo de Cacine, Saion Abraham Salifou.
1895/04/02
Auto de vassalagem do régulo de Barro, Buncanhá
1896

1896/01/14
Foram extintas 3 companhias de polícia e bateria de artilharia de Bolama e substituídas por 2 com­panhias mistas de infantaria e artilharia sob a de­nominação de «Companhias de Guerra da Guiné».
1896/01/24
PEDRO INÁCIO DE GOUVEIA 2º mandato de governador da Guiné até 25 de Agosto de 1897. Nomeado pela segunda vez em Novembro de r895, tomou posse em 24 de Janeiro do ano imediato. Em 25 de Agôsto de 1897, embarcou com destino a Lisboa por estar gravemente doente, vindo a falecer durante a viagem. O govêmo ficou entregue ao secretário César Augusto Moura Cabral.
1896/03/27
Portaria régia louvando o 2.° tenente da Armada JOSÉ DE OLIVEIRA JÚNIOR, comandante da lancha­-canhoneira «Flecha», pelo modo distinto e acer­tado critério empregado para convencer os régulos a que, sem auxílio das forças do Governo, fossem bater o régulo Damá e o seu principal chefe de guerra Moló-Lajó. 
1896/07/24
Foi preso o sanguinário chefe beafada Bacar Injai, pelo que Sua Majestade o Rei louvou o governador, capitão de mar e guerra PEDRO INÁCIO GOUVEIA.
1896/08/31

Louvado o governador da Guiné, capitão de mar e guerra PEDRO INÁCIO GOUVEIA, pelas acertadas providências que adoptou para o aprisionamento do sanguinário chefe beafada Bacar Injai.
1897
1897 - Revolta dos Oincas originada pela tentativa de imposição de novos impostos. Resistência dos Manjacos de Caió que infligiram uma derrota fulminante aos Portugueses. Relatório do comandante português sobre a derrota da sua coluna: «Mal tinham sido trocados ama centena de tiros e a coluna, constituída por mais de 3 000 homens, ficava reduzida a menos de 200! Como se explica o facto? Não podemos atribuir ao medo a fuga dos auxiliares, porque o inimigo não tivera ainda ocasião de demonstrar a sua superioridade. A debandada começou logo aos primeiros tiros. Segundo o plano já premeditado por Infali Soncó e tacitamente aceite pelos Fulas de Mamadú Paté».
1897/01/00
Campanha contra os Manjacos de Caió, coman­dada pelo governador PEDRO INÁCIO  DE GOUVEIA: oficiais LUÍS DA COSTA PEREIRA, CARVALHO PERES e LUÍS  ANTÓNIO; médico ANTÓNIO MARIA DA CUNHA e farmacêutico RAFAEL BAIÃO VIEIRA.
1897/01/08
«O ano de 1897 foi assinalado por duas operações militares mais importantes. A primeira contra os manjacos de Caió, que julgando-se senhores da região e dos rios pretendiam cobrar imposos dos comerciantes e dos barcos que passavam por aquelas paragens, aprisionando aqueles que não satisfaziam as suas exigências.
Em 8 de Janeiro partiu de Bissau uma coluna composta de soldados muitos auxiliares, sob a direcção do próprio governador, Pedro Inácio de Gouveia, levando também os oficiais Luiz da Costa Pereira, Carvalho Peres, Luiz António, médico António Maria da Cunha e farmacêutico Rafael Baião Vieira.
As tropas desembarcaram em Caió e bateram a região durante dois dias, sem que houvesse um combate decisivo, porque os manjacos refugiaram-se no mato. Todavia no ano seguinte, o régulo das Ilhetas (Jata) e os chefes revoltados apresentaram-se em Boiama e fizeram o acto de submissão, na presença do governador Herculano da Cunha em 23 de Março, comprometendo-se a não cobrar o imposto (daxa) aos comerciantes e deixar livres os caminhos e os rios. (B. Oficial, n.º 16).
A segunda operação, mais importante que a anterior, foi a primeira guerra de Oio.
No· ano de 1897 podia considerar-se pacificada a margem direita do rio Farim. O mesmo, porém, não podia dizer-se em relação à margem esquerda, habitada por balantas, mandingas e oincas. O comandante da região, tenente Graça Falcão, tentou estender nessa margem a nossa soberania e iniciar a cobrança do imposto.
Um dia em que se encontrava em Tiligi, acompanhado do comerciante europeu Sebastião Sena e um grupo de soldados, foi atacado por mandingas e balantas coligados, vendo-se obrigado a retirar para a séde, com alguns feridos. Este e outros actos de rebeldia impuseram a necessidade de uma manifestação de fôrça. De Boiama foram enviadas as duas lanchas-canhoneiras Honorio Barreto Flecha, e foi nomeado delegado especial do Govêrno naquela região o ·comandante Herculano da Cunha.
Tomada a decisão de levar a cabo uma acção militar contra o Oio, organizou-se uma coluna com cêrca de 100 soldados vindos de Bolama .e Bissau, aos quais se juntaram diversos auxiliares de Farim, grumetes e mandingas sob a direcção de Quecuta Mané.
A estas fôrças veio aliar-se uma outra coluna constituida em Geba pelo respectivo comandante, tenente António Caetano.
Eram cêrca de 3.000 homens comandados pelo régulos Mamadu Paté, Infali Soncó e outros chefes A coluna levava ao todo 3 oficiais, António Caetano, Graça Falda e Luiz António, 4 sargentos e algumas praças europeias, antigos condenados.
As nossas fôrças apoderaram-se primeiro da povoação de Gindú, e no dia 29 de Março iniciaram a marcha ao encontro do inimigo. Sôbre o combate que teve lugar nêsse dia correram várias versões e fizeram-se comentários desfavoráveis aos militares que nêle tomaram parte.
Julgamos, por isso, conveniente transcrever uma parte do relatório elaborado pelo comandante Herculano da Cunha, que deve corresponder à verdade, pois a sua descrição foi confirmada pelo padre João Esteves Ribeiro, que ficara encarregado da residência de Farim, durante aqueles dias da campanha.
Diz o relatório:
«A nessa fôrça saíu de Gindú em 3 corpos comandados por Mamadu Paté, Infali Soncó e régulo de Corlá. A fôrça regular seguia ao centro com peças sob o comando do alferes Luiz António. Quando próximo de Bambaiá, ao atravessarem o mato espesso, foram atacados pelo inimigo, ao que a nossa fôrça respondeu bem, continuando a avançar.
0 comandante da coluna não ouvindo os corpos dos auxiliares responder ao fogo, mandou-lhes ordem para avançar. Pouco depois voltaram as ordenanças, dizendo que os auxiliares tinham fugido!... Dizem as testemunhas que antes do inimigo atacar, partiu um tiro feito pela gente Infali Soncó ao que respondeu outro do mato parecendo um sinal combinado, e que Infali atacou os nossos homens aos gritos de mata cristãos, mata fulas ... Em todo o caso é quási certo que o valente Quecuta Mané foi morto pela gente de Infali ...
O comandante Falcão que já tinha atravessado o mato, vendo-se reduzido a menos de 200 homens e com poucas munições, resolveu retirar para o território amigo ... Até Gindú, isto é, durante cinco horas a fôrça resistiu bem e manteve-se em ordem.. . O comandante vendo a impossibilidade de se manter naquela povoação, procurou retirar para um campo mais seguro. As munições escasseavam, mas a retirada ainda se fez em ordem por mais de três horas, tendo ficado as peças em Gindú por falta de munições.
Os soldados que tinham ficado começaram então a fugir. Os oficiais, apesar de dois deles feridos, procuraram por todos os modos conservá-los em ordem. Mas 8 horas de fogo, 14 quilómetros percorridos debaixo de sol e sêde, o calor da palha a arder, dois oficiais feridos e a falta de munições, tudo concorria para o desânimo dos soldados.
Quando chegaram á lala, o alferes Luiz António enterrou-se até a·os joelhos. Já não podia mais! Com duas balas, uma no peito e outra nas costas, não cessando de gritar para conter os soldados, deu o revólver de presente a um soldado e não quis ir mais além, nem podia! Foi um heróÍ!
O comandante da coluna, passadas duas horas de ser ferido, não podendo já andar montou a cavalo, mas pouco depois o animal era ferido com três balas e teve de se apear. Vendo que os poucos homens que o rodeavam só tinham cada um meia dúzia de cartuchos, ordenou-lhes que o deixassem para trás e acompanhassem o tenente António Caetano, pois era possível que o gentio cessasse de os perseguir logo que apanhassem o comandante da coluna.
Alguns obedeceram logo, outros ficaram querendo levá-lo por todos os meios. Mas quando o viram caído sem fôrças, tiveram de o abandonar sózinho com o seu revólver.
Os soninqués vendo os nossos tomar a fuga lançaram-se em sua perseguição em carreira vertiginosa e na sua corrida passaram perto de Falcão sem o ver. Depois de os gentios terem passado, Falcão foi refugiar-se numa moita próxima e dali logrou arrastar-se até uma povoação amiga, ao fim de trinta e seis horas de marcha.
O tenente António Caetano seguiu com o resto dos soldados e quando estavam já próximo do porto, correu para a esquerda, talvez procurando a salvação num caminho mais curto; mas encontrando a tara completamente fechada foi apanhado pelo inimigo ... »
Eis como o 1.º tenente Herculano da Cunha descreve o combate do Oio. Do seu relato deduz-se, sem esfôrço, que o revés sofrido não deve ser atribuido nem à valentia dos oincas, nem à imprevidência dos organizadores da coluna, nem à fraqueza dos militares que nêle tomaram parte.
Deu-se apenas um acto de traição ·com que se não contava.
As nossas fôrças não chegaram sequer a entrar num combate franco com o inimigo. Mal tinham sido trocados uma centena. De tiros e a coluna, constituida por mais de 3.000 homens,. ficava re duzida a menos de 200! Como se explica o facto? Não podemos atribuir ao mêdo a fuga dos auxiliares, porque o inimigo não tivera ainda ocasião de demonstrar a sua superioridade. A debandada corneçou logo aos primeiros tiros, segundo o plano já prenieditado por Infali Soncó e tàcitamente aceito pelos fulas de Mamadu Paté.
A pouca valentia dos oincas ficou demonstrada durante as 12 horas de marcha, que a reduzida coluna fêz na sua retirada. O inimigo nem seque·tentou enfrentar os soldados e cortar-lhes a retirada. Limitou-se apenas a atacá-los de flanco, protegido pelo mato.
Faleceram neste combate o tenente António Caetano, o alferes Luiz António, os sargentos Henrique Augusto dos Santos, D. Augusto Pereira Coutinho, Cândido Aleixo Feueira, um cabo e 13 soldados da Companhia da Guiné. Faleceram também os chefes mandingas Quecuta Mané e Lamini Injái, a cujas famílias o nosso Govêrno estabeleceu uma pensão. As baixas entre os auxiliares foram diminutas, porque os homens de Infali Soncó juntaram-se aos oincas e os fulas trataram de se refugiar na floresta donde seguiram para as suas terras.
Uma observação curiosa do relatório de Herculano da Cunha: 'Nos primeiros dias em que o comandante de Farim esteve sob tratamento, vieram cêrca de 5.000 indígenas visitá-Jo e manifestar a sua simpatia. Extraordinária psicologia de um povo que andava em luta quási aberta çom as nossas autoridades!»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 326-329
1897/03/00
Primeira campanha de Oio. No dia 29 foram mor­tos o tenente ANTÓNIO CAETANO,  o alferes LUÍS AN­TÓNIO, os sargentos HENRIQUE AUGUSTO DOS SAN­TOS, D. AUGUSTO PEREIRA COUTINHO e CÂNDIDO ALEIXO FERREIRA, um cabo e treze soldados e os  chefes Mandingas QUECUTA MANÉ e LAMINE INDJAI. Tomaram parte o 1.° tenente da Armada HER­CULANO DA CUNHA e o tenente GRAÇA FALCÃO. NOTA: Destas duas campanhas nada se encon­Irou no B. O ., naturalmente em virtude da  determinação régia de 15-2-I895 que determinou ao governador não expedissem nem publicassem nos boletins diplomas de louvor. Esta  determinação foi anulada pela de 25-5-1898.
1897/03/29

A coluna de operações comandada pelo tenente ANTÓNIO CAETANO foi dizimada pelos indígenas de Oio devido à traição dos auxiliares que debanda­ram à vista do inimigo.
1898
1898 - Nova tentativa de dominação dos Oincas, sem resultado.
ALBANO MENDES DE MAGALHÃES RAMALHO interino de Cunha até 17 de Janeiro de 1899
1898/01/31
Acordo entre o Governo da Província e o alferes de 2.ª linha Cherno Cali, chefe de Forreá, para a construção de uma casa para habitação do chefe em Bolola e abertura de um caminho largo desde este ponto até Buba, prontificando-se o chefe, entre outras coisas, a pagar 40 réis por cada cubata que exista no território de Forreá,.
1898/02/08
O B. O. n.? 8-1R9R publica uma nota dos serviços prestados por: QUECUTA MANÉ, chefe Mandinga: em 1894 durante as operações de Bissau, mostrou-se sempre acér­rimo defensor da bandeira portuguesa e antes mesmo das operações fez várias travessias arris­cadas de Farim a Bissau atravessando esta ilha a pé quando o gentio já se declarava hostil. Acompanhou sempre o comandante militar de Farim te­nente FALCÃO em todas as expedições que fez, sendo morto em 29 de Março de 1897 no Gussará, à arma branca, depois de cercado, lutando com toda a coragem e denodo como herói. Desde 1892 que os comandantes militares de Farim se têm referido a ele apreciando os bons serviços presta­dos e a sua dedicação absoluta ao Governo. Dis­tinguiu-se também pelo seu valor na última guerra de Geba em 1892. LAMINE INJAI, chefe Mandinga,: distinguiu-se no último combate no Oio em 29 de Março de 1897. Bateu-se COI11 toda a coragem e valentia defendendo a bandeira portuguesa, que lhe tinha sido confiada, e quando se sentiu mor­talmente ferido entregou-a a um soldado a quem então chamou no que mostrou extrema dedicação; faleceu pouco tempo depois. Às famílias destes dois chef es foram concedidas pensões anuais de 30$00 réis.
1898/03/23
Auto de obediência dos representantes das tribos de Caió.
1898/10/00

Albano Mendes de Magalhães Ramalho - também oficial de marinha, governou interinamente nos últimos três meses do ano 1898.
1899/04/19
Louvado o capitão JOAQUIM ANTÓNIO PEREIRA por ter levado a efeito a ocupação pacífica de Oco e Nagué no território dos Balantas, conseguindo também que os Papéis da povoação de Safim não continuem a exercer hostilidades para com os Brâmes no Rio lmpernal. Louvados pelo auxílio prestado àquele capitão, o 2.° sargento JOSÉ DO CARMO, o soldado MUHONGO CNTANGOMHE e os gru­metes CLARIMUNDO MARTINS e DOMINGOS ALVES (vulgo DOMINGOS LACÓ).
1899/05/13
Auto de preito e homenagem ao Governo Portu­guês pelo régulo do Intim Tabanca Soares, que para esse fim se deslocou de Bissau a Bolama, acompanhado de suas mulheres e dos seus grandes. Em Bolama, foi baptizado com o nome de Carlos.
1899/05/19

Com a assistência do governador foi celebrada missa campal na povoação do Intim pelo vigário geral, cónego Serpa Pinto. O régulo depois de baptizado, içou a bandeira portuguesa no mastro para isso preparado, tendo sido lavrado o respec­tivo auto de ocupação daquela povoação.
1900

1900/07/12
Joaquim Pedro Vieira Júdice Biker - 1.º tenente, nomeado por carta dé léi de 7 de Junho de 1900, tomóu posse em 12 de Julho. Esteve na metrópole desde 5 de Maio a 6 de Dezembro de 1901, sendo substituído interinamente pelo médico naval Arttónio Alves de Oliveira, que servia de secretário geral. Por ter sido nomeado em comissão para a índia o secretário efectivo Duarte Guimarãis, serviram também nêsse cargo Joaquim Cbrte Real Pires e Amadeu Gonçalves Guimarães, delegado do Ministério Público.
O governador Júdice Biker foi chamado para a metrópole em 20 de Maio de 1903, ficando encarregado dó govêrno o capitão Lapa Valente.
«Em 12 de Julho de 1900 tomou conta do govêrno o 1.º tenente Joaquim Pereira Júdice Biker.
A primeira operação militar ordenada pelo novo governador foi contra os bijagós de Canhabaque. A expedição partiu em 24 de Outubro pela canhoneira Massabi e outros vapores, levando cêrca de 100 soldados e grande número de auxiliares.
As fôrças desembarcaram em Canhabaque e bateram a ilha, tendo-se os bijagós refugiado no mato. A expedição regressou no dia 31 e, em 3 de Novembro foram louvados os oficiais e as praças, nomedamente o 1.º tenente Diniz Ayala, comandante da Massabi e o 2.º tenente Pimenta de Miranda.
No ano seguinte, durante o mês de Março foi organizada uma outra expedição para castigar o gentio rebelde de Jufunco.
O tenente Diogo Medeiros Correia e Silva, comandante de Bissau, promoveu o recrutamento dos grumetes e Cleto José da Costa procedeu no mesmo sentido em Cacheu. O conjunto das fôrças, auxiliadas pelas canhoneiras Cacongo e Flecha, destruiu as principais povoações dos felupes daquela região.
Finailmente em Março· de 1902, empreendeu-se a segunda guerra do Oio com o fim de castigar os soninqués que se encontravam em estado de franca rebeldia.
As operações, que se prolongaram durante todo o mês de Abril, foram dirigidas pelo governador Biker, tendo como chefe do estado maior o capitão Lapa Valente. O núcleo das forças regulares foi constituído pelras praças das Companhias de Guerra de Guiné com os oficiais Possidónio Angelino, Francisco Xavier Alvares, Diogo Medeiros, Manuel de Almeida, João de Sousa, César Loureiro e António Joaquim dos Reis.
Estas fôrças foram auxiliadas por um grande número de grumetes de Bolama e Bissau e pelas canhoneiras Massabi (comandante Carlos Aprá), Cacheu (comandante Wills Araújo) e Flecha (comandante Vieira da Fonseca).
As nossas forças infligiram sérias derrotas nos oincas, recuperaram grande parte do material abandonado em 1897 e fizeram centenas de prisioneiros, incluindo mulheres que ficaram como reféns.
Os oincas pediram a paz, sujeitando-se às condições que lhes foram impostais. Mas logo que obtiveram a libertação dos prisioneiros, procurarão esquecer-se dos compromissos tomados.
Após a campanha foram louvados, além dos oficiais acima citados, o médico Filomeno de Sá, os primeiros sargentos Augusto José de Lima Júnior e Varejão Pires Balaga e o soldado Julião Exposto, por se terem especialmente distinguido nos combates.»

João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 334-335
1900/10/25
Lançou ferro no porto da ilha de Canhabaque a canhoneira «Massabi» precedendo outros barcos que levavam a bordo as forças destinadas a casti­gar os Bijagós daquela ilha.
1900/10/23
Em 1900, os bijagós foram os primeiros habitantes do território a entrar em conflito armado com os portugueses. Viriam a ser também os últimos antes do estabelecimento da Pax Lusitana.
O Governador Joaquim Judice Bicker foi levado a organizar uma expedição à ilha de Canhabaque precisamente por «Os seus habitantes não reconheceram a autoridade portuguesa» (1). A força invasora de 100 soldados e um «grande número de auxiliares» (2), a bordo das canhoneiras Massabi Flecha, desembarcou na ilha a 23 de Outubro de 1900. Uma semana depois, frustrada com a láctica de guerrilha dos bijagós, a expedição embarcou para Bolama.
(1) Tenente-coronel Bello de Almeida, Meio Século de Lutas no Ultramar: Subsídios para a História das Campanhas do Exército Português de Terra Mar no seu Império Colonial, Edição da Sociedade de Geografia de Lisboa, Llsboa, 1937, p.121.
(2) João Barreto,Historia da Guiné, 1418-1918, Edição do Autor, Lisboa, 1938, p. 334.
1900/11/03
Louvados os oficiais e praças da canhoneira «Mandovi» e da lancha canhoneira «Flecha» pelas operações contra os Bijapós de Canhabaque, em especial o 1.º tenente FRANCISCO DINIZ AYALA e o 2.° tenente ANTÓNIO ERNESTO DA SILVA PIMENTA DE MIRANDA.
1901


1901/03/26
Louvados o i." tenente BERNAROO DE MELO e CASTRO MOREIRA comandante da canhoneira «Cacongo» e o 2.° tenente ANTÓNIO E. S. PIMENTA DE MIRANDA, comandante da lancha-canhoneira «Flecha» pelos serviços prestados na expedição contra o gentio rebelde de jufunco. Idem, os oficiais e praças dos dois navios de guerra. Idem, o tenente DIOGO MEDEIROS CORREIA E SILVA e o tenente de 2." linha CLETO JOSÉ DA COSTA, por terem promovido a reunião dos gru­metes,  respectivamente, de Bissau e Cacheu para a organização da coluna destinada a ;castigar os indígenas de Jufunco. Idem, o director da alfândega. CÉSAR CORREIA PINTO pela muita solicitude com que desempenhou os serviços que lhe foram cometidos por ocasião da expedição contra Jufunco.

1902
1902 - Segunda guerra de Oio, que se prolonga por vários anos.

1902/05/10
Louvados os oficiais, sargentos e praças da coluna de operações contra o gentio de Oio, especializan­do-se ALBERTO CARLOS APRÁ, comandante da canho­neira «Massabi», JAIME AURÉLIO WILLS DE ARAÚJO. comandante da lancha-canhoneira «Cacheu», FER­NANDO AUGUSTO VIEIRA DE MATOS, comandante da lancha-canhoneira «Flecha»; médicos JOSÉ NUNES DE CARVALHO NORONHA, da armada, FILOMENOFRANCISCO XAVIER DE SÁ, do quadro de Saúde da Pro­víncia, major JOSÉ MATEUS LAPA VALENTE, tenente de cavalaria FRANCISCO XAVIER ALVARES, alferes ANTÓNIO JOAQUIM  DOS REIS, capitão POSSIDÓNIO JOSÉ ANGELINO, tenentes DIOGO DE MEDEIROS COR­REIA  E SILVA, MANUEL DE ALMEIDA e JOÃO DE SOUSA, alferes CÉSAR JÚLIO LOUREIRO e AUGUSTO JOSÉ DE LIMA JÚNIOR, 1º sargento cadete ADOLFO VEREJÃO PIRES BALAYA e o  2.º cabo JULIÃO EXPOSTO.
1903
1903/05/04
Foram atacadas pelas forças militares do comando do governador Júdice Biker as povoações rebel­des de Conane, Ectuarem e Cassica, tendo o gen­tio pedido perdão e prestado vassalagem ao Go­verno.
1903/05/14
Louvados pelos serviços prestados na expedição contra o gentio a guarnição da lancha-canhoneira «Cacheu», major JOSÉ M. L. VALENTE. tenente CARLOS EUGÉNIOCHIAPA DE AZEVEDO e JOÃO DE SOUSA. médico JOÃO RODRIGUES DA SILVA LEITE e o chefe do posto fiscal de Arame, AUGUSTO DO­MINGOS DA COSTA.
1903/05/20
Embarcou para Lisboa a força expedicionária europeia enviada da Metrópole para submeter os rebeldes de Geba e de Bissau. Ficou na colónia a Companhia de Macuas de Moçambique.
1903/07/23
ALFREDO CARDOSO DE SOVERAL MARTINS governador da Guiné até 9 de Agosto de 1904 - 1.º tenente, tomou posse em 23 de Julho de 1903. Retirou-se para a metrópole em 23 de Abril do ano seguinte, ficando encarregados do expediente sucessivamente Joaquim Côrte Real Pires e o dr. António Marques Perdigão. Em Agôsto dêsse ano, o góvernacior Soveral Martins demitiu-se por não obter do Govêrno central recursos para completar a ocupação da colónia como desejava.
«A submissão, porém, não era completa. Havia regiões em que a çobrança mostrava-se muito deficiente, e outras, que não tinham ainda sentido a fôrça das nossas armas. Estava neste caso a região de Xuro (ou Chôro), que até àquela data conservava-se, por assim dizer, desconhecida não só das autoridades, mas também dos comerciantes grumetes, que em geral se infiltravam fàcilmente pelo interior.
A exitstência desta zona inexplorada e habitada por povos que não pagavam o imposto nem obedeciam às ordens do governo contribuia pelo seu mau exemplo para animar os papéis de Cacheu na rebeldia contra a Praça.
Segundo informa o governador Soveral Martins, no seu relatório de Março de 1904 (Arquivo Histórico Colonial), os papéis de Cacanda e Pecau apertavam o cêrco em volta da vila, não se atrevendo es moradores a saír da povoação, não obstante existir na fortaleza uma fôrça die 80 soldados. Por outro lado, êste núcleo de tabancas independentes em Xuro, favorecia também o espírito de insubordinação entre os manjacos da Costa de Baixó, tornando-se, por isso, urgente a extinção dêste foco.
Em resposta ao pedido de reforços militares extraordinários, o ministro foi de opinião que as ·operações deveriam ser tentadas com as fôrças exisitentes na colónia e auxiliadas pelas canhoneiras Cacongo e D. Luiz. Organizou-se, por isso, a coluna com 50 marinheiros tirados dos dois barcos e 50 soldados das Companhias da Guiné. A êste núcleo de fôrças regulares juntaram-se 250 homens recrutados em Bolama, mais 800 grumetes e papéis de Bissau, afora alguns senegaleses e mandingas. Com 100 grumetes de Cacheu formou-se ao todo um corpo de 1.300 homens.
Quando estas fôrças se concentraram em Cacheu, a 1 de Março, o seu comandante Soveral Martins não tinha ainda traçado qualquer plano de acção,porque mesmo naquela vila não encontrou quem pude!sse dar informações seguras sôbre as condições topográficas e populacionais da: região que se pretendia bater.

Em todo o caso, optou pela via fluvial, por dispôr do auxílio dos navios de guerra. Ao aproximar-se da zona de Xuro, os papéis protegidos pelas árvores, atacaram os barcos, mas foram desalojados pela fusilaria de bordo. Feito o desembarque, os auxiliares correram em perseguição dos gentios, alcançando depressa as tabancas de Xuroenque e Xurobrique, onde· queimaram cêrca de mil palhotas.
Ao princípio os papéis ofereceram forte resistência, mas em vista da superioridade do nosso armamento breve desistiram de lutar, fugindo para o mato. Os auxiliares passaram então a arrebanhar os valores que encontraram, tendo recolhido 300 cabeças de gado vacuum, 390 de gado caprino, grande número de porcos e galinhas, além de dinheiro em moedas françesas e outros artigos.
Em 6 de Março a coluna era recebida em Cacheu com grandes manifestações de alegria e, dois dias depois, marchava sôbe as aldeias de Pecau, Capó e Cacanda, atacando-as. e pondo o gentio em debandada.
Estas operações produziram um sensível efeito moral entre os indígenas. e os papéis de Xuro decidiram-se pela primeira vez a prestar o acto de submissão ao govêrno, A cerimónia realizou-se no dia 20, tendo nesta ocasião o governador nomeado o velho Onafo, régulo da região.
Tomaram parte na coluna os oficiais do exército Lapa Valente, M. Sacramento Monteiro, J. Botelho Moniz, José Lúcio da Silva Júnior, Ezequiel Pereira e o facultativo João de Pinho e Cruz. Foram promovidos a oficiais de 2." linha os juizes do povo de Bissau e Bolama, Domingos Lacó e Félix Dias, que dirigiram os respectivos grumetes. As canhoneiras eram comandadas pelos oficiais Pedro Bequo e Castro Moreira. Gastaram-se com a campanha cêrca de seis contos de réis.
Pouco tempo depois de dissolvida a coluna de operações contra Xuro, o governador Soveral Martins regressou à metrópole, ficando encarregados do govêrno, sucessivamente, o secretário geral Côrte-Real Pires, o sub-chefe de saúde Marques Perdigão e o chefe do estado maior Lapa Valente.
Em 2 de Fevereiro de 1905, tomou posse o novo governador Carlos de Almeida Pernanha.»

João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 341-343
1903/08/25
Foram substituídos por um esquadrão de dragões indígenas os dois pelotões independentes de dra­gões que faziam parte das forças militares desta província.
1903/11/07

1904/03/02

Desembarcaram na região do Xuro asforças militares que iam bater os indígenas rebeldes que tra­ziam em constantes perturbações os arredores da vila de Cacheu e se recusavam a satisfazer os impostos. A coluna, tendo varrido na sua frente os indígenas que se opunham ao seu avanço, tomou as povoações de Xuruenque e Xurobrique.
1904/06/15
Foi extinta a Companhia Indígena e criada, sua substituição, a Companhia Mista de Artilharia de Montanha e Infantaria, com sede em Bo­lama. Igualmente foi criado um esquadrão de dragões indígenas com sede em Farim.
1906/08/13
JOÃO AUGUSTO DE OLIVEIRA MUZANTY governador da Guiné até 29 de Junho de 1909 1.º tenente da armada, provido por decreto de 8 de Junho de 1906, tomou posse em 13 de Agôsto. Veio à metrópole em 19 de Julho de 1907; regressou em 18 de Novembro. Chamado pelo Ministro da Marinha e Ultramar, esteve em Lisboa mais alguns meses durante o ano de 1908 e foi exonerado por decreto de 28 de Janeiro de 1909. Durante a sua ausência, foram enearregados do governo os secretários gerais Côrte Real Pires e Joaquim Guimarães.

O GOVERNADOR MUZANTY
João Augusto de Oliveira Muzanty nasceu em Lisboa, na freguesia do Coração de Jesus, a 17 de Outubro de 1872, e foi baptizado em 1 de Dezembro desse mesmo ano9. Era filho de João Luiz Muzanty Júnior (1844-1904), então tenente do Estado-Maior, e de Emília Cândida de Lacerda Pamplona Corte Real Betencourt de Oliveira Muzanty (1847-1894), natural do Porto. Um tio paterno, Augusto Luiz Muzanty morreu tenente-coronel na reserva em 14 de Janeiro de 1919. Assentou praça no corpo de alunos da Armada em 5 de Novembro de 1888 como aspirante de 2ª classe de Marinha e foi o 8º do seu curso, concluído em 1892. Guarda-marinha em189, foi promovido a 2º tenente em 1895. Fez parte da guarnição da canhoneira “Liberal” durante as campanhas contra os Namarrais e de Gaza, ambas em 1897, e foi louvado pela forma como cumpriu o seu dever “embora não tivesse ocasião de se distinguir durante as operações de guerra”. Foi depois comandante da lancha-canhoneira “Capello”, no rio Limpopo, entre 17 de Março de 1897 e 8 de Março do ano seguinte, regressando então a Lisboa. Em Janeiro de 1900. foi nomeado chefe da comissão de limites da Guiné, tendo terminado o serviço de delimitação, já 1º tenente (fora promovido em 1902) em Junho de 1905. Esteve várias vezes em Lisboa, durante esses anos, por períodos longos mais ou menos coincidentes com os períodos das chuvas na Guiné (Maio-Novembro). O profundo conhecimento da Guiné que adquiriu durante esses anos justifica que em Junho de 1906 tivesse sido nomeado governador da Província, aonde chegou, nessa qualidade, em 1 de Agosto seguinte. Manter-se-ia no cargo até 28 de Janeiro de 1909 (deslocou-se a Lisboa entre 20 de Julho e 17 de Novembro de 1907 e entre 15 de Julho e  1 de Dezembro de 1908). Casara, entretanto, em Janeiro de 1907, com D. Amélia Vieira (de quem enviuvou em Outubro de 1922).
Como governador, Oliveira Muzanty organizou e comandou diversas operações militares (de 21 de Março a 28 de Abril de 1907 no Oio, de 21 de Novembro de 1907 a 1 de Janeiro de 1908 no Geba, e de 19 de Março a 15 de Maio de 1908 na ilha de Bissau10, tendo participado em combates como o de Gã-Turé (6/7 de Abril de 1908) e os travados em Intim entre 4 e 11 de Maio de 1908, que foram os últimos das suas expedições. Muzanty, não só foi louvado pelo “zelo, dedicação, inteligência e infatigável esforço” com que exerceu o cargo de governador da Guiné, como lhe foram concedidas, em 28 de Janeiro de 1909, o dia da sua exoneração, as honras de «oficial às ordens de S. M. El-Rei “em atenção ao seu merecimento e aos serviços que prestou como combatente da coluna de operações na Guiné em 1908”. Por despacho publicado no Diário do Governo de 1 de Janeiro de 1910, foi nomeado para fazer parte da comissão que ia estudar a organização da marinha colonial e em Abril de 1910 recebeu dois louvores: a 7, “pelo zelo e inteligência como se desempenhou na comissão que lhe foi cometida para estudar a reorganização da Marinha na parte que diz respeito à polícia e fiscalização das costas e rios das possessões ultramarinas” e a 22 “pelo zelo e inteligência como se desempenhou do serviço que lhe foi cometido para estudar a reorganização administrativa da província da Guiné”. Em 29 de Maio seguinte, foi condecorado, juntamente com outros oficiais (de menor patente e, por isso, em graus inferiores) com o grau de Comendador da Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, “por relevantes serviços prestados nas operações realizadas na Província da Guiné em 1908”. Finalmente, a 1 de Junho de 1910 foi encarregado do comando da canhoneira “Limpopo”, à qual seria cometida a fiscalização da costa entre Lisboa e Viana do Castelo. O vice-almirante Augusto de Castilho na “Informação para oficial em serviço em terra”, com data de 5 de Julho de 1909, foi elogioso: “Este oficial, que tem uma grande experiência do território da Guiné, esteve sempre muito afrontado com o geral estado de guerra da província e não pôde porventura produzir o que em condições de paz teria produzido. Tenho dele boa impressão.”
Todavia, pelo menos um sector dos comerciantes portugueses da Guiné não apreciou a sua governação. Nos jornais11 já haviam surgido várias insinuações, em correspondências da Guiné, contra decisões do governador, mas o mais violento ataque foi desferido num opúsculo12 intitulado Acudam à Guiné, dirigido “a S. M. El-Rei, aos Deputados da Nação e Ao Povo Portuguez”, datado de Bolama 14 de Novembro de 1908, publicado em Lisboa em Dezembro do mesmo ano e assinado pelo comerciante José Monteiro de Macedo, que era também correspondente do Jornal do Commercio, onde assinava com as iniciais J. B. M. M.. A publicação deste opúsculo foi provocada – segundo diz o autor – pela notícia, “triste e desconsoladora” de que Muzanty talvez fosse reconduzido no cargo de governador da Província, o que seria “uma provocação lançada à face dos seus habitantes [...] a glorificação da prepotência [...] um
UM SARGENTO DESCREVE AS CAMPANHAS DE MUZANTY
Em 1937, o 2º sargento reformado António dos Anjos publicou em Bragança um pequeno opúsculo com um título longo:  Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje - Para cujo progresso muito contribuiu o capitão de infantaria João Teixeira Pinto.
António dos Anjos – que segundo ele mesmo diz só chegou à Guiné em Março de 1911, quase três anos depois, portanto, do fim das campanhas de Muzanty - seguramente ouviu delas falar e recorda-as. Embora não traga qualquer elemento novo para a sua apreciação, não deixa de ser curioso ver como se lhe refere:
Em 1907 travaram-se divergências na povoação de Sançancuto (mais adiante escreve San-Sancuto) entre o comandante militar de Bafatá, tenente Forte (sic) e o Régulo Infali Soncó, chegando mesmo o régulo a prender o comandante de Bafatá, conservando-o preso por algum tempo.
• Tendo conhecimento do caso, um comerciante de Cabo Verde, de nome Pedro Moreira, que se encontrava residindo próximo, dirigiu-se ao local, pedindo a Infali Soncó, para que soltasse o referido comandante militar, o que foi prontamente atendido, sendo desde logo posto em liberdade, o qual se dirigiu a Bambadinca e dali para Bafatá.
• Pouco depois morreu o régulo do Xime e o comandante então nomeou como encarregado deste regulado, um outro indígena.
• Como os filhos do régulo falecido não ficassem satisfeitos com a posse de um régulo estranho à família de seu pai e à qual eles se julgavam com direito pediram ao régulo Boncó auxílio para fazer guerra ao novo régulo, ao que este cedeu, fazendo-se guerra um ao outro; e como neste combate não tivessem obtido bom resultado, pediram também auxílio ao régulo Infali Soncó, o qual se prontificou a auxiliá-los, travando-se então nova guerra, na qual andaram aproximadamente dois dias.
• Chegaram então forças militares vindas de Bissau pedidas pelo chefe do posto militar do Xime.
• As forças militares começaram a fazer guerra com Boncó, na povoação de Campampe. Travou-se o tiroteio e em pouco tempo estava tomada a povoação, tendo o Boncó de fugir com a sua gente e ir juntar-se a Infali Soncó, para assim os dois régulos juntos poderem oferecer maior resistência à força militar.
• A coluna atravessou o rio Geba e foi a (sic) atacar o Infali Soncó e Boncó, travando-se o combate na povoação de San-Sancuto, residência do Infali.
• Nesta povoação, os dois régulos juntos ofereceram grande resistência, mas vendo que tinham certa a derrota, fugiram indo refugiar-se no Oio. Durante a guerra, planearam uma traição à canhoneira, com o fim de massacrarem a tripulação!
• Certo dia, indo a canhoneira Cacheu rio abaixo no porto de Tamba Cumba, encontrou um paiolão (em nota o autor diz que se trata de uma árvore produtora de sumauma) tombado sobre o rio e uma corrente de ferro amarrada numa e outra margem com o fim de à chegada da canhoneira não poder esta avançar.
• Quando ela chegou foi alvo de muitos tiros que fizeram duma das margens. Os marinheiros deram toda a força à máquina e a canhoneira arrebentou a corrente e seguiu viagem, mesmo furada por um tiro.
• Em 1908 nova coluna de operações veio da Metrópole para bater os Papeis, onde vinha incorporada uma Companhia de Infantaria 13 de Vila Real de Trás-os-Montes.
• Esta coluna desembarcou em Bissau e seguiu até ao alto do Intim, Bandim e Contum, mas o comandante da artilharia terminou por dar as peças incapazes, retirando então a coluna para Bissau.
• Nesta coluna tomou parte também a Companhia Mixta da Guiné. A coluna esteve algum tempo acampada em Intim.
• Durante este tempo, o alferes Duque avançou com um destacamento em serviço de reconhecimento até à povoação de Contum; então o gentio aproveitou a ocasião para atacar aquela pequena força, sendo morto naquela povoação o referido alferes Duque.
• Aquela pequena força, mesmo já sem comando, conseguiu fazer a retirada em ordem de Contum a Intim, além de ser perseguida pelo gentio; por isso foram retirando e combatendo sempre à medida que o gentio se lhe aproximava.
• Nesta coluna houve as seguintes baixas: Mortos, o alferes Duque e dois soldados indígenas. Feridos, o capitão Montalvão e 2 soldados de Infantaria 13; um soldado europeu da Companhia Mixta e dois soldados indígenas.
• Estas operações foram comandadas pelo governador Mozanti (sic).”
No seu opúsculo, o sargento António dos Anjos refere ainda expedições e combates posteriores às acções da campanha:
Também em 1908, encontrava-se de administrador e comandante militar na vila de Farim, o alferes Augusto José de Lima Junior (natural de Cabo Verde).
• Os balantas como o seu ideal era roubar, desde longo tempo vinham roubando os transeuntes, indo mesmo roubar os mandingas às suas povoações, indo também roubar à vizinha colónia francesa e lá mesmo assassinavam para roubar.
• Em vista disto, o governador da colónia francesa mandava queixas ao governador da Guiné, onde pedia providências; queixas estas que o governador transmitia ao comandante militar de Farim, dizendo-lhe que empregasse todos os meios ao seu alcance, a fim de pôr termo àquele estado de coisas.
• Eram chamados à obediência pelo comandante militar, por meios suaves os balantas daquela região, mas não obedeciam.
• Com respeito ao pagamento do imposto de palhota, nem nisso pensar! eram baldados os esforços empregues pelo comandante, respondendo com modos provocadores a todos os convites feitos por ele.
• O alferes Lima organizou então uma coluna de operações, composta de todo o destacamento militar de que era comandante.
• A coluna tinha a seguinte composição: comandante da coluna, o comandante militar e administrador, alferes Lima; dois 2ºs. sargentos: um segundo sargento enfermeiro, quatro cabos europeus; cinquenta soldados europeus, trinta soldados angolenses e quinhentos auxiliares indígenas.
• A tropa estava armada de espingardas Kropatschek e os auxiliares de espingardas Snider.
• O governador, em vista do revés que acabava de ter a coluna, nos Papeis, receava autorizar o alferes Lima a bater aquela região para obrigar os indígenas rebeldes a submeterem-se à nossa soberania. No entanto, em vista das constantes insistências que lhe eram feitas pelo referido alferes Lima, autorizou-o.
• Eram 5 horas do dia 8 de Junho.
• A coluna pôs-se em marcha, indo pernoitar na povoação de Bubor, que encontrou despovoada, tendo-se o gentio escondido no denso mato próximo à povoação e de lá observava todos os movimentos que a coluna fazia.
• No dia 9, saíram para explorar o caminho, alguns cavaleiros, encontrando o chefe da povoação de Simbor, que foi preso e conduzido para bordo de uma lancha do Estado que se encontrava ancorada no porto de Sam-Sancuto.
• No dia 10, levantou o acampamento de Bubor, passando pelas povoações de Simbor, Sambuiá e Talicó, que se achavam desertas, tendo os habitantes ido para Samage.
• Esta povoação estava fortificada com três ordens de paliçada de pau-ferro e pau-carvão (em nota de pé de página o autor informa que se trata de árvores de madeira muito resistente) onde todos os indígenas da região se encontravam concentrados.
• Na altura em que a coluna chegou à povoação de Samague, os balantas não querendo ir à fala com o respectivo comandante, que, com intuitos pacíficos, tentava chamá-los à ordem, responderam com ameaças, prometendo torcer o pescoço ao mesmo comandante e correr com a força do comando deste, até ao limite das suas terras.
Nesta altura foi dado o ataque decisivo, travando-se renhidos combates com as nossas forças durante 8 horas, pois que começou às 8 horas, aproximadamente, tendo terminado às 16 com a vitória para as nossas armas e fugindo o gentio espavorido para o norte, perseguido pelos auxiliares e, dali a pouco, estava a povoação ardendo em chamas.
• As nossas forças tiveram 27 baixas, entre mortos e feridos, sendo 8 mortos e 19 feridos, um dos quais foi o 2º sargento António Joaquim Pereira, em virtude do que foi reformado.
• Da parte dos rebeldes houve cerca de 500 baixas.
• Três dias depois apresentaram-se eles a pedir paz, prometendo não voltar mais à prática dos seus desmandos e violências, o que efectivamente se provou ser verdade visto que não mais deixaram de acatar as ordens dadas pelas autoridades, pagando sempre o respectivo imposto de palhota e a multa de guerra de 300 vacas que no momento da sua apresentação lhe fora imposta.
• Esta acção militar que teve como efeito o sossego da região de Samoge, limítrofe do território francês, foi muito apreciado e elogiado num jornal de Dacar, em artigos escritos pelo então administrador de Sediu, Monsieur Brocard.

• Terminadas estas operações, como estímulo ao grande feito de armas, foi o alferes Lima – actualmente capitão reformado – condecorado com a medalha da Torre e Espada.”
1907
VIRIATO GOMES DA FONSECA: nasceu em 13 de Dezembro de 1863, natural da freguesia de Santo Antão. Militar, engenheiro, músico, erudito, deputado, foi o único negro que chegou ao posto de general exército português e provavelmente de um exército europeu. Fez a maior parte da sua carreira em Cabo Verde.(…). Foi nomeado Comandante Militar da Ilha de S. Vicente em 1904, onde foi indicado para membro do júri de exames da instrução primária e, em 1907. Sendo presidente da Câmara Municipal do Mindelo, coube-lhe fazer o discurso em honra de Sua Alteza real, o Príncipe D. Luíz. Foi destacado para Guiné em 1907. Em 29 de Abril de 1909 terminou a sua comissão na Guiné e foi colocado de novo na sua terra natal e nomeado administrador do concelho da ilha de S. Antão. (Cf OLIVEIRA, 1998)
1907/01/18
Ordenou Sua Majestade EI-Rei que as praças con­denadas a deportação militar pelo  Conselho Terri­torial da Guiné sejam destinadas ao batalhão dis­ciplinar de Angola.
1907/03/00

1907/07/19
JOAQUIM CORTE REAL PIRES interino de Muzanty até 18 de Novembro de 1907
1907/07/29
A rebelião do régulo beafada lnfali Soncó, que aliciara os régulos de Badora, Corubal, Cossé, Gussará e Pachisse, originou a declaração do es­tado de guerra da região de Cuór.
«Mas a insubordinação mais grave foi aquela que se registou na região de Cuór, sendo necessário declarar o estado de guerra desde 29 de Julho de 1907, em conseqüência de uma das maiores ofensas feitas pelo gentio às nossas autoridades. (Relatório do governador Muzanty, n'o, Arquivo Histórico Colonial).
O régulo biafare de Cuor, Infali Soncó, promovia uma rebelião contra o nosso govêrno, de combinação com Boncó, chefe de Badora e com aquiescência dos régulos Dembage de Corubal, Guelage de Cossé, Ierobiri de Gussorá e Asmane de Paxisse.
Manifestaram-se contra estas combinações os chefes Abdulai de Xime, Cihernó Cali de Forreá e Monjuro de Gabu. Por isso o regulado de Xime foi diversas vezes atacado pelos seus adversários, tendo, porém, resistido com valentia.
O plano do régulo de Cuor era impedir a navegação no rio Geba e cortar as relações comerciais com Bissau. Para aliciar partidários a seu favor o régulo prometia libertar a região do imposto de palhota e estabelecer relações com os centros comerciais franceses do interior.
Este Infali Soncó foi um dos  elementos mais perniciosos.que teve a Guiné, não tanto pelo seu poder militar, como pela sua extraordinária duplicidade e engenho com que soube enganar as nossas autoridades durante muitos anos.
Até 1895 os biafares de uma e outra margens do rio Geba reconheciam a autoridade do régulo Galona, que fôra um grande auxiliar nosso, nomeadamente nas guerras contra os papéis de Bissau. Depois da morte de Galona, o reino dos biafares desmembrou-se e, com assentimento do nosso Govêrno, foi escolhido Infali Soncó para chefe da Cuór, na margem direita de Geba.
Já vimos no capítulo XVIII como a traição dêste beafare motivou a retirada da coluna que foi bater o Oio em 1897. Na segunda campanha contra os oincas, empreendida pelo governador Biker em 1903, Infali Soncó, não sómente se absteve de auxiliar as nossas fôrças, mas até ajudou os oincas acolhendo as mulheres, crianças e gado que os soninqués punham a seguro nas tabancas do seu aliado.
Não obstante tudo isto Infali Soncó conseguiu enganar as autoridades de Bolama, a pontos de o governador interino, Lapa Valente, ter-lhe emprestado 40 espingardas modernas e 10.000 cartuchos.
Com a posse do governador Oliveira Muzanty, foi nomeado comandante de Geba o 2.º tenente Proença Fortes. Êste oficiail procurou desarmar o régulo Soncó e convidou-o a enviar aquele armamento para o pôsto militar sob pretexto de que ficaria ali mais seguro do que nas palhotas.
Infali, não encontrando razões para justificar a recusa, devolveu as armas e 3.000 cartuchos, mas não perdoou ao comandante de Geba esta... partida. Doutro lado, vendo que o Govêrno dre Bolama mudava de atitude a seu respeito e tencionava abater-lhe o prestígio, Infali resolveu jogar a última cartada e assim preparou hàbilmente uma sublevação geral dos chefes fulas a que atrás nos referimos.
Logo que se sentiu suficientemente armado o régulo de Cuór começou a desrespeitar as nossas autoridades. Em 29 de Maio de 1907, o tenente Fortes foi a Sambei Nhanta, tabanca do régulo, com o fim de inscrever na matriz predial as casas dos grumetes, acompanhado do es.crivífo de fazenda Sales, alferes Baeta, um cabo e um comerciante.
Em. certa altura viram-se cercados por muitos guerreiros e cruzaram com o Infali a cavalo, que não se dignou desmontar nem interromper a sua marcha. Mas adiante encontraram um judeu que com as suas marimbas impedia a passagem. Como o residente Fortes tentasse afastá-lo, o indígena agrediu-o, juntando-·se, logo a seguir os guerreiros de lnfali.
O alferes Baeta caiu prostrado com uma pancada que lhe deram. O tenente Fortes foi preso, maguado e conduzido para a casa do fanado (circuncisão) , donde conseguiu sair após algumas horas, graças à intervenção amigável do comerciante caboverdeano Pedro Moreira.
O castigo desta insolência tardou alguns meses, emquanto não chegavam as fôrças expedicionárias requisitadas para a metrópole.
Entretanto o gentio dificultava cada vez mais a navegação entre Bissau e Bafatá, assaltando os navios e chegando a construir abrigos ao longo do rio, com o fim de atacar a lancha-canhonheira Cacheu que se empregava no serviço de policiamento, sob o comando do 2.º tenente Carlos Guimarãis Marques.
Em vista do estado alarmante da insubordinação que ameaçava propagar-se a outras tribus, o governador Muzanty resolveu intervir imediatamente, servindo-se dos limitados recursos que tinha na colónia. Organizou-se assim uma coluna em que entravam, além do comandante, os oficiais Teixeira de Barros, (chefe do E. M.), tenentes Taborda de Azevedo e Costa, José Francisco Monteiro; Albuquerque Rocha, comandante de um destacamento de 58 praças da marinha; alferes Raul Ferreira da Costa, comandante do trem e combóio; tenente Silveira Machado, dos serviços administrativos.
A coluna desembarcou em Xime no dia 28 de Novembro de 1907, juntando-se os soldados do pôsto militar e os auxiliares do régulo Abdulai. No dia seguinte dirigiu-se para Vilingará. Em 1 de Dezembro marchou sôbrê Campape, tabanca fortificada, onde o gentio fizera concentrar a sua resistência. Os nossos soldados caíram sôbre o inimigo desalojando-o em pouco tempo. Os indígenas fugiram precipitadamente para o mato, deixando na tabanca 13 cadáveres. Durante a perseguição feita pelos auxiliares foram mortos o régulo rebelde Dembage de Corubal e um dos seus filhos.
No dia seguinte estabeleceram-se as comunicações com Bambadinca, tendo-se encontrado no trajecto as aldeias abandonadas pelo inimigo, mais ou menos .fortificadas. O régulo Boncó tinha-se refugiado com a sua melhor gente na margem. direita do Geba, indo alojar-se no território do seu aliado lnfali Soncó.
Durante êste tempo, a lancha-canhoneira Cacheu forçava a passagem do rio que estava cortada e obstruída por um cabo de arame farpado, tendo sido nesta ocasião fortemente atacada pelo gentio que perfurou o seu costado. Houve seis feridos a bordo.
O resultado da primeira fase da campanha foi libertar os portos de Xime e Bambadinca; sufocar a rebeliào dos régulos de Badora, Cossé, Bolóli e C-0rubal; assegurar as comunicações por terra entre Xime e Bafatá e isolar o núcleo rebelde de Cuór. Mongurn, régulo de Gabú, e Chernó Cali, de Forreá vieram com grande aparato apresentar-se ao governador Muzanty.
Passados três meses logo que chegaram as fôrças .expedicionárias enviadas da metrópole e de Moçambique, foi constituída a «coluna de operações da Guiné» com os seguintes elementos:
Comandante: governador Oliveira Muzanty.
Estado Maior: capitão Ilídio Nazaré, tenentes José da Serpa Pimentel, António Taborda, Aníbal Coelho Montalvão e alferes Raúl Costa. Administração Militar: capitão Joaquim Simões da Costa e tenente Silveira Machado. Serviço médico : Dr. António Marques Perdigão, Augusto Regala e Manuel Suzano.
Fôrças navais, sob o comando do capitão-tenente António Silveira Moreno, compreendendo uma companhia de marinha com 135 praças e oficiais Silveira Estrêla, Francisco Monteiro, Albuquerque Rocha e· Frederico Pinheiro Chagas.
Uma bateria de artilharia com 70 praças e os oficiais ;Viriato Fonseca, Luiz Nunes da Ponte e Carlos Gortez.
Uma companhia de infantaria composta de 193 praças e os oficiais Jorge Veloso Camacho, Dinisio de A1lmeida, Raúl Sepulveda Rodrigues e Vítor Duque.
Uma companhia mixta europeia com 101 praças tendo como oficiais Botelho Moniz, Caldeira Marques e Afonso Henriques Xavier.
Auxiliavam a coluna as canhoneiras D. Luiz e Zambeze, o.transporte Salvador Correia e a esquadilha da Guiné.
O objectivo desta coluna era castigar primeiro o régulo Infali Soncó e depois os papéis de Bissau, pensando-se também em estender a sua acção a outros pontos, e nomeadamente à região insubmissa de Oio.
Em 1 de Abril as fôrças concentraram-se em Xime, seguindo dali para Bambadinca. Neste ponto atravessaram o rio Geba e, desembarcando na região de Cuór marcharam sôbre a povoação de Ganturé que conquistaram após alguma resistência. No dia 7, a coluna seguiu para Sambe! Nhanta, mas encontrou a tabanca abandonada pelo inimigo, que se refugiara na região de Oio, abrigando-se no seu ,espesso mato.
Continuando a sua acção as fôrças tomaram a aldeia de Madina e Gam,-sapateiro, onde .foi estabelecido um pôsto militar.
As tropas expedicionárias permaneceram em Caranquecunda até ao dia 21 de Abril. Os outros régulos da região aguardavam e resultado da guerra para se manifestar a favor do vencedor..
Em vista da fuga de Infali Soncó, trataram de enviar emissários protestando a sua obediência e amizade ao Govêrno português.
Os régulos Ierobiri e Sarna Iorondim apresentaram-se pessoalmente no acampamento. Como resultado desta campanha apressou-se o pagamento do imposto de palhota na região, cobrando-se a importância de 46 contos de réis.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 348-352
1907/08/31
Foram extintos o Esquadrão dc Dragões Indíge­nas e as Companhias Mistas de Artilharia de Montanha e Infantaria, c criada uma Companhia Indígena de Atiradores com sede em Cacheu.
1907/11/00
Em Novembro de 1907, o Governo da Guiné chegou a prender e a expulsar dois agentes comerciais franceses (René Scheult da CFAO e Michel Charliot da Comp" Francesa de Comercio Africano) por desobediência às ordens de encerramento de feitorias, respectivamente em Bambadinca e em Chime. AHDMNE, 3º P.,A.8, Maço 34. Provincia da Guiné Portuguesa. Auto de Corpo de delicto indirecto
1907/11/20
Louvado o guarda-fios DOMINGOS CORREIA BARBOSA que, por sua iniciativa, sozinho e com risco da vida, concertou o fio telegráfico que tinha sido cortado pelo gentio rebelde da região de Corubal.
1907/11/21
Constituída a coluna de operações na circunscrição de Geba.
1907/12/01
A coluna de operações organizada pelo governa­dor Muzanty cai sobre a povoação fortificada de Campampe, desbarata os rebeldes partidários de lnfali Soncó, mata o régulo Dembage e estabelece as comunicações com Bambadinca.
1908

JOAQUIM JOSÉ DUARTE GUIMARÃES interino de Muzanty
1908/01/14
Louvados os componentes desta coluna em espe­cial os oficiais e praças seguintes:capitão-tenente ALBERTO ANTÓNIO DA SILVEIRA MORENO, 1.0tenente LUÍS BERNARDO DA SILVEIRA ESTRELA, capitão JOSÉ XAVIER TEIXEIRA DE BARROS, médicos navais de 1ª
Louvado muito especialmente o capitão JOSÉ XAVIER TEIXEIRA DE BARROS pelo sangue frio, coragem e valor de que deu provas no ataque a Campampe .. Idem, idem, o 2.° sargento do Corpo de Marinheiros FRANCISCO AVELINO, pela forma como se portou no referido ataque, Idem, idem, o 2.° tenente CARLOS PRIMO GUIMARÃES MARQUES, pelo valor, coragem, brio e inteligência com que se houve no comando da lancha-canhoneira «Cacheu» suportando o violento ataque do gentio do Cuór, que pretendia impedir a passa­gem do navio, lançando no rio vários obstáculos, entre eles um cabo de arame de uma a outra mar­gem; e pelo mesmo serviço o médico naval JOSÉ ANTÓNIO ANDRADE SEQUEIRA, 2.° tenente SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO DIAS, I." condutor de máquinas ANTÓNIO RODRIGUES DA COSTA, cabo fogueiro FILIPE DE BARROS e 1.º artilheiro JOAQUIM INÁCIO
1908/01/22
«Além das campanhas de Cuór e Bissau, houve diversas outras operações militares durante o ano de 1908.
No mês de Janeiro, revoltaram-se os beafares de Quínara, por instigação e auxílio do gentio derrotado em Xime e Badora.
Começaram por atacar e roubar as povoações submissas, prenderam um comerciante europeu e, finalmente, cortaram a linha telefónica que ligava Bolama com o comando de Buba.
Em 15 daquele mês, apresentou-se na capital o chefe Sanhá, úm dos régulos de Quínara, a pedir armamento para se defender contra os revoltosos, que dizia ser um bando de gatunos. Como até àquela data tivesse sido um chefe fiel ao Govêrno, foram-lhe entregues 20 armas Snyder's com munições.
Ao mesmo tempo, foi organizado um destacamento mixto, sob o comando do chefe do E. M., Ilídio Nazaré, com praças da canhoneira D. Luiz, soldados indígenas e auxiliares.
Estas fôrças partiram de S. ]oão no dia 22, indo pernoitar em Gansegá. No dia seguinte, continuando a marcha, tomaram a povoação de Farancunda, desalojando dali o inimigo. Notaram então que os beafares serviam-se de armas aperfeiçoadas, chegando à conclusão de que o régulo de Gansanhã nos havia traído, indo entregar aos revoltosos as espingardas recebidas em Bolama.
Não obstante as dificuldades encontradas, a coluna marchou aGansanhá e destruíu a tabanca do régulo, que havia desaparecido. Regressou no dia 25, depois de uma marcha acidentada.
Durante o mês de Fevereiro, estando o residente de Cacheu, tenente Anastácio Lemos, na aldeia de Bolôr no acto de cobrança do imposto, vieram os felupes de Varela ameaçar os moradores daquela povoação, instigando-os a não satisfazer o imposto, pois também êles o não faziam, nem obedeciam às ordens do Govêrno.
Para castigar os insolentes de Varela, foi constituída, sob o comando do capitão J. C. Botelho Moniz, uma coluna mixta com 21 praças europeias (deportados), 38 atiradores indígenas e 80 auxiliares. Êste destacamento, transportado pela canhoneira D. Luiz, chegou a Bolôr no dia 12 de Março.
Seguiu dai para a povoação de Varela, que destruiu totalmente, incluindo uma provisão importante de arroz e coconote armazenada pelos felupes, na impossibilidade de a transportar para os navios. Antes de regressar, o destacamento procedeu ao desarmamento das povoações de Jufunco e Egine.
Foi bastante eficaz a acção contra Varela, facilitando a cobrança do imposto entre os felupes de tôda aquela região.
Nos fins de Março, a canhoneira Zambeze foi de Bissau a Cacheu e dali para Canja levando a bordo o residente Lemos e. uma fôrça de guardas, que, desembarcando na povoação que ainda ficava distante do rio, sob protecção da canhoneira, fizeram prisioneiro um chefe, apreenderam bastante gado e destruíram a tabanca. Juntamente com o residente iam o 2.º tenente Weinholtz Bivar, o comissário Machado Santos, o aspirante Aranha e algumas praças de marinhagem ... » (Guiné, por Pinheiro Chagas).
A pacificação da região de Canja e Samoge foi depois completada pelo comandante de Farim, tenente Augusto José de Lima Júnior, que por êsse facto foi condecorado com a Ordem da Tôrre. e Espada.
Ainda durante o ano de 1908, mas depois da partida do governador Muzanty, empreenderam-se outras acções militares.
Uma fôrça de marinheiros e auxiliares sob o comando do 2.º tenente Casal Ribeiro, em 17 de Novembro de 1908, efectuou o desembarque nas proximidades de Góli e atacou de surpresa os balantas de Cunhicumba e Chumbel, que como de costume praticavam roubos e devastações sem atender à admoestação das autoridades.
As nossas fôrças tomaram e incendiaram as aldeias de Cunhicumba, Chumbe!, Blassi, Assagre e Nhafó. Nas refregas os balantas deixaram 110 cadáveres, tendo abandonado na fuga o seu gado, armas e pólvora. A nossa coluna teve 8 feridos.
Esta importante operação feita sem alarde contribuiu para que se apresentassem a bordo da canhoneira Lurio os chefes das povoações balantas situadas entre Góli e Bindoro.
Todavia os balantas não se dando por vencidos definitivamente, prepararam em silêncio uma ofensiva contra o pôsto de Góli. No dia 21 de Fevereiro de 1909 atacaram êste pôsto, durando o tiroteio das 7 às 12 horas. Foi ferido um dos soldados.
Em 25 o pôsto foi reforçado com novos oficiais, 70 praças, artilharia e serviço médico. Veio em auxílio Abdul Injai que tinha sido nomeado régulo de Cuor.
Estabeleceu-se a ligação com o pôsto de Cunhicumba. A acção mais importante foi no dia 4 de Março em que saíu de Góli um destacamento mixto como o objectivo de bater as povoações até Nhafó. Os balantas começaram a envolver a coluna, mas esta não deu tempo a que o cêrco se completasse e, avançando em direcção de Blassí, levou o inimigo à frente. Os balantas com receio de maior derrota fugiram para o mato. Os auxiliares destruiram então várias tabancas.
Por decreto de 21 de Maio de 1909 foram agraciados com grau de oficial da Ordem da Tôrre e Espada, o capitão Ilídio Nazaré e o 2.º tenente Carlos Primo J. Marques, e com o grau de cavaleiro o 2.º cabo da Companhia de Atiradores, Henrique Gomes de Almeida.»

João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 355-358
1908/02/08
Louvados pela coragem e sangue frio de que deram provas no combate de Campampe em 1-12-1907e nas marchas de 29-11e 2-12os 2.os tenentes AN­TÓNIO E. TABORDA DE AZEVEDO E COSTA, JOSÉ FRAN­CISCO MONTEIRO e DAVID ALBUQUERQUE ROCHA, alfe­res RAUL C. F. DA COSTA: médico EDUARDO PEREIRA DO VALE, tenente FREDERICO SILVEIRA MACHADO, 2.° artilheiro JOSÉ DIAS e corneteiro ANTÓNIO GOMES.
1908/02/19
Louvado o capitão-tenente ALBERTO SILVEIRA MO­RENO, comandante da canhoneira «D. Luís», pela maneira como se houve nas operações combinadas de S. João.Idem, o capitão ILÍDIO MARINHO FALCÃO DE CASTRO NAZARETH, comandante do destacamento mixto para operar no território de Quinará, especiali­zando-se o valor demonstrado nos combates de Fulacunda e nas escaramuças de Gansegá e nas marchas de 23 e 24-1, executadas sempre debaixo de intenso fogo do inimigo.
1908/03/07
Organizado um destacamento misto, apoiado pela canhoneira «D. Luís», para castigar o gentio de Varela.
1908/03/19
Organizada uma coluna sob o comando do go­vernador Muzanty para proceder à pacificação e à ocupação militar da Província.
1908/03/24
Louvado o capitão JOSÉ CARLOS BOTELHO MONIZ, comandante do destacamento misto contra o gentio de Varela, pela coragem, acerto e inteligência e valor de que deu provas. Idem, idem, os oficiais que tomaram parte nesse destacamento, 2.0 te­nente JOSÉ FRANCISCO MONTEIRO, tenentes RODRIGO ANASTÁCIO TEIXEIRA DE LEMOS e JOÃO CALDEIRA marques e tenente médico ANTÓNIO DE FREITAS FERRAZ. Idem, o comandante da canhoneira «D. Luís», capitão-tenente ALBERTO A. SILVEIRA MORENO.
1908/05/04
Louvado o tenente RODRIGO A. TEIXEIRA DE LEMOS, residente de Cacheu, pela coragem e energia e zelo com que conseguiu capturar o régulo revol­tado de Samoge e fazer a cobrança do imposto nas povoações da sua circunscrição.
«Tendo deixado em Gam-Sapateiro um destacamento de 70 homens, as fôrças concentraram-se no dia 25, em Bissau, afim de continuar o plano de operações previstas contra os papéis.
Convidados os chefes indígenas a fazer o pagamento do imposto em dívida, alegaram várias desculpas e apresentaram uma quantia insignificante para satisfazer a importância de 9 contos de réis, em que estavam arrolados.
Terminado o prazo concedido para a resposta definitiva ,e não se notando da parte dos papéis o mais leve sinal de boa fé e submissão, o governador resolveu .fazer o ataque que estava projectado. As fôrças destinadas a esta acção compunham-se de 30 oficiais, 490 pracas europeias, 150 africanas, 30 auxíliares grumetes, 90 turancas, 4 peças de artilharia e 220 carregadores.
Em 4 de Maio de 1908, depois do prévio bombardeamento feito pelas canhoneiras D. Luiz e Zambeze; a coluna de operações saíu da praça em direcção a Intim, sendo durante o trajecto intensamente atacada pelos papéis protegidos pelas escavações do terreno e troncos de árvores. Depois de um combate de 3 horas alcançou as povoações de Intim e Bandim, ·que foram desruídas. Tivemos 1 morto e 11 feridos.

No dia séguin'te, desde as seis horas da manhã, a fôrça instalada no alto de Intim foi constantemente atacada. Enquanto o grosso da coluna repelia estes assaltos, a companhia de Infantaria 13, com 80 auxiliares, tomou a aldeia de Contumo, destruindo cêrca de 400 palhotas e batendo os seus numerosos defensores. Nesta refrega houve 1 morto e 10 feridos; entre estes o tenente Montalvão, na perna, e o alferes Vítor Duque na cabeça. Êste último, transportado· a Bissau com outros doentes, veio a falecer no dia seguinte.
De 7 para 10 de Maio a coluna permaneceu em Intim. Fazia parte do plano de operações a conquista da povoação de Antula, mas havia uma nítida inferi-oridade numérica entre as nossas fôrças e os papéis e balantas conjugados; surgia, além disso, o receio de que o inimigo atacasse pela retaguarda a vila de Bissau, cuja defesa se considerava insuficiente.
« ... Reuni os comandantes das unidades, o chefe, e sub-chefe do estado maior na manhã de 9 ... Todos foram unânimes em se renunciar à marcha sôbre AntuIa; e à excepção de dois, os mais opinaram p.ela retirada imediata sôbre Bissau, atendendo a que não havia tempo para a projectada construção do pôsto de Intim». - (Muzanty ).
Fícou, por isso, resolvido fazer-se a retirada no dia 11. Mas, na véspera à noite, a posição foi envolvida por um grande número de papéis, que ao mesmo tempo incendiaram o bairro dos grumetes. O inimigo atacou a ·coluna com grande violência da meia-noite até às 4 horas da madrugada, mas foi repelido com grandes perdas. Pela manhã refugiou-se no mato. As nossas fôrças tiveram dois feridos, por se encontrarem protegidas pelos abrigos e escuridão da noite.
No dia 12 a fôrça recolheu à praça de Bissau. A maior parte dos expedicionários embarcou em 20 de Maio para Lisboa e a coluna foi dissolvida em 2 de Junho. Em 16 de Maio publicava o governador uma portaria mantendo o estado de sítio em toda a ilha e proibindo as transacções comerciais com os papéis.
Entretanto, devido às notícias alarmantes espalhadas pela via telegráfica, apresentaram-se no pôrto de Bissau os cruzadores Mutine, da marinha britânica, .e Cassard de nacionalidade francesa. O navio britânico retirou-se logo que foi informado da situação pelo governador da colónia, mas o cruzador francês Cassard permaneceu alguns dias no pôrto, sob pretexto de dar protecção aos súbditos franceses.
As fôrças expedicionárias europeias, que já começavam a ter muitas baixas por doença, recolheram para a metrópole, ficando apenas na colónia a Companhia dos macuas de Moçambique.(a)
(ª) Sôbre as campanhas de Geba e Bissau foram publicados pelos srs. F. Pinheiro Chagas e Luiz Nunes da Ponte dois livros, Na Guiné e A Campanha da Guiné, cuja leitura interessa sobretudo a militares e àqueles que, por dever do cargo, tenham de intervir na organização ele expedições coloniais.
Conquanto não tivesse sido decisivo o efeito das operações levadas a cabo durante o mês de Maio, elas produziram uma forte depressão moral nos indígenas, sobretudb pelo grande numero de baixas que sofreram. Seguiu-se-lhe um período de mais de um ano em que estiveram quási interrompidas as relações entre a praça e o gentio de Bissau.
Só depois da retirada do governador Muzanty é que os papéis se resolveram a entrar em negociações para um entendimento com as nossas autoridades, por intermédio de Graça Falcão .e outros comerciantes de Bissau. Estas negociações terminaram com a celebração do auto de vassalagem prestado pelos régulos de Intim (Tunga) e de Antula (Oboli), perante o governador Francelino Pimentel, em 14 de Agôsto d.e 1909.
Fo'ram estabelecidas as seguintes condições: 1) Os papéis não entrariam em guerra com outros povos sem autorização do Govêrno. 2) Prestariam auxílio ao Govêrno quando chamados a castigar quaisquer tríbus insubmissas,, ficando neste caso com direito a metade das presas feitas em gado e géneros. 3) Prestariam auxílio no estabelecimento de postos militares, abrindo caminhos mediante o salário diário de 100 réis. 4) Pagariam o imposto de 1$500 réis por cada palhota, recebendo os chefes 5 % da quantia cobrada. 5) Finalmente obrigavam-se a prestar obediência ao Govêrno, defender ·e respeitar a bandeira, a qual com o cerimonial do costume foi entregue aos dois régulos como os mais importantes da ilha. (Boletim Oficial).
A celebração dêste acôrdo foi festejada em Bissau com grandes manifestações de regosijo tanto da parte dos comerciantes, como do lado dos indígenas, que apesar de tudo se sentiam prejudicados com o corte das relações comerciais com a praça.»

João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 352-355
1908/05/05
Foi ferido gravemente o alferes de infantaria VÍTOR DUQUE no assalto à «tabanca» de Contume levada a efeito pela coluna de operações cujo efec­tivo de 200 homens destruíra antes 400 palhotas depois de bater os seus defensores.1908/06/29
A pacificação da região de Canja e Samoge foi completada pelo comandante de Farim, tenente AU­GUSTO JOSÉ DE LIMA JÚNIOR, o qual, por esse facto, foi condecorado com a ordem da Torre e Espada.
A expedição punitiva contra os Balantas de Samoje integra-se neste contexto, visto que, no seguimento de incidentes ocorridos, entre 14 de Abril de 1905 e 19 de Dezembro de 1906, se realizou a pedido das autoridades francesas. Estas acusavam os habitantes de Samoje de terem roubado gado a populações fulas em território da África Ocidental Francesa e provocado uma morte. No entanto, o inquérito instaurado pelas autoridades portuguesas chegou a conclusões diferentes, isentando de culpas a maioria dos habitantes de Samoje, mas acusando-os de cumplicidade, por não terem entregue os culpados. O chefe de Samoje foi investido "da responsabilidade de todos os fastos que viessem a succeder e aguardando occasião propicia para lhe dar lição de maior vulto". A aldeia, corno veremos, acabou por sofrer um castigo exemplar, tendo sido mortos 29 homens e preso o chefe da tabanca de Simbor, "reconhecido ladrão d'aquelas paragens".
Encontrámos aqui o motivo da expedição contra Samoje, organizada pelos tenente Augusto José da Lima Júnior, administrador e comandante militar da Residência de Farirn e que René Pélissier classifica como "a mais misteriosa das operações". Este oficial partiu, a 29 de Junho de 1908, à frente de uma força composta por portugueses e auxiliares africanos. Após uma marcha recheada de alguns incidentes chegaram a Samoje onde foram recebidos por um forte tiroteio, que durou cerca de dez minutos". Não ripostaram, porque por um lado, o comandante português queria falar com os chefes e por outro, dada a distância a que se encontravam da povoação o seu poder de fogo se revelava inútil. Após o malogro das conversações travou-se uma batalha de fogo cerrado, durante duas horas e 15 minutos, tendo as tropas expedicionárias tomado de assalto a tabanca, que foi incendiada. O corpo expedicionário regressou a Farim, a 7 de Julho.
Parece ter havido grande interesse e entusiasmo da parte das populações locais de ambos os lados da fronteira visto Samoje ser considerada como "terra de salteadores á mão armada, que tantos trabalhos tem dado a todos." O comandante militar, no seu relatório, menciona em especial o chefe dos Mandingas de Farim, Bakar Baió, que sempre o auxiliara.
A propósito deste episódio entre Fulas e Balantas, o secretário-geral do governo da Guiné referia a dificuldade em os evitar ao longo de uma fronteira tão extensa. Aliás, numerosos incidentes permaneciam desconhecidos das autoridades, excepto quando revestiam um carácter internacional. Muito oportunamente, Joaquim José Duarte de Guimarães, secretário-geral do governo da Guiné, autor deste ofício, afirma que "um dia uma linha de delimitação separa povoações inimigas e nos primeiros tempos esses indígenas que não attingiram a verdadeira significação da linha de marcos, que os brancos lá foram collocar entre elles, continuaram no systema de há muitos annos adaptado para resolver questões. Toma então este facto uma feição de contenda internacional porque aos europeus convém que assim seja por uma condemnavel politica."
1908/06/25
Louvados os guardas da residência de Cacheu, SUMO VAZ e SERY, pela valentia e denodo com que se defenderam do ataque feito pelos Baiotes de Jobel, por ocasião da cobrança do imposto
1908/07/02
Louvados os oficiais e praças que compuseram a coluna de operações da Ilha de Bissau e em espe­cial os seguintes:
Quartel general - chefe do estado maior, LIÍDIO NAZARETH, sub-chefe d. JOSÉ SERPA PIMENTEL : adjunto capitão JOSÉ XAVIER TEIXEIRA DE BARROS, 2.°' tenentes ANTÓNIO E. TABORDA DE AZEVEDO E COSTA, JERÓNIMO WEINHOLTZ BIVAR, JOSÉ E. DE CAMPOS FRANÇA e tenente do quadro privativo LINO MARÇAL DE SANT'ANA SALDANHA; 1.0 SARGENTO
Companhia de marinha - 1.0 tenente LUÍS B. DA SILVEIRA ESTRELA ; 2.os tenentes JOSÉ FRANCISCO MON­TEIRO, DAVID ALBUQUERQUE ROCHA e FREDERICO PI­NHEIRO CHAGAS; 1.0ssargentos FRANCISCO AVELINO e JOÃO DUARTE, 2.~· sargentos JÚLIO SIMPLÍCIO TELES E SOUSA e JOÃO FERREIRA DA SILVA, 1.° grumete JOSÉ MARTINS, 1º cabo artilheiro MANUEL DAS DORES, chegador JOAQUIM DOS SANTOS, 1ºsmari­nheiros ANTÓNIO CÂNDIDO RUSSO, ROBERTO MON­TEIRO, JOAQUIM BENTO e LUÍS DA SILVA; 2.°8mari­nheiros JOAQUIM DA SILVA, ANTÓNIO AUGUSTO BAR­BOSA e ANTÓNIO JOAQUIM DA CRUZ; 1.° marinheiro HENRIQUE JOSÉ CURVO, e osgrumetes BENTO VAZ MOREIRA e JOSÉ LUÍS; 1.° marinheiro JOAQUIM PE­REIRA DA ROCHA, 2.° artilheiro ANTÓNIO BERNARDO DA SILVA e o 1ºgrumete JOÃO ANTÓNIO.
Bateria de artilharia - capitão VIRIATO GOMES DA FONSECA, tenente LUÍS MONTEIRO NUNES DA PONTE e alferes ANTNÓIO CARLOS CORTÊS; 1.° sargento AU­GUSTO MARIA DA SILVA FLORES, soldado condutor JOAQUIM MOURA, 2.° cabo servente MIGUEL LUÍS. ferrador MANUEL MARTINS, 2.°' sargentos ALFREDO ALVES DA SILVA, MANUEL AGUDO, ANTÓNIO BAPTISTA AMADO e ABEL ANDRADE LONGO; 1.° cabo condutor VIRGÍLIO VIEIRA DE VASCONCELOS, 1.0 cabo servente ALFREDO DAMBERT, j.o cabo LUÍS VICENTE, 2.° cabo servente DOMINGOS COSSACO, serralheiro ferreiro ALBERTO AUGUSTO DE ARAÚJO.
9ª. Companhia Indígena de Moçambique - ca­pitão ADELINO DE SOUSA RIPADO, tenentes ANTÓNIO JOSÉ FERREIRA JÚNIOR e JOSÉ DIAS VELOSO e alferes ALFREDO AUGUSTO XAVIER PERESTRELO; 2.° sargento SABINO DA CONCEIÇÃO CARVALHO VENTURA, 1.0 sar­gento IOÃO IOSÉ CORDEIRO, 1.°8cabos .RAJADO e
Compallhia de Infantaria 13 - capitão JORGE PERESTRELO PESTANA VELOSO CAMACHO, tenente ANÍ­BAL COELHO DE MONTALVÃO e alferes VÍTOR DUQUE e JAIME RAÚL SEPÚLVEDA RODRIGUES, 1.° sargento JOSÉ DO ROSÁRIO FERREIRA, 2.° sargento LUÍS DE CARVALHO VALORA, 2.°8 sargentos ALEXANDRE FRAN­CISCO FERREIRA SARMENTO e JOSÉ PAULINO RODRI­GUES, 1ºs CABOS ALFREDO AUGUSTO, MANUEL DA COSTA, ANTÓNIO DE ALMEIDA TAVARES; soldados JOA­QUIM MARIA DE CARVALHO, AFONSO MARIA CAR­NEIRO, SEBASTIÃO MATOS, ANTÓNIO TEIXEIRA, MANUEL JOAQUIM LAGE, JOSÉ JOAQUIM e ANTÓNIO; 1º cabo FRANCISCO RODRIGUES CALARIA.
Companhia mixta -  capitão JOSÉ CARLOS BOTE­LHO MONIZ e tenente JOÃO CALDEIRA MARQUES; 1ºs. sargentos JOÃO MACHADO TOLEDO e MANUEL PINTO DA FONSECA, 2.° sargento JOSÉ JOÃO CAR­DOSO, JOSÉ PINTO SOUSA JÚNIOR e LOSÉ AFONSO LOMBA, soldado CARLOS DE SOUSA; 2." cabo HENRIQUE GOMES DE ALMEIDA e soldado CIPRIANO DA SILVA, AGOSTINHO VIEIRA, JOSÉ DOS SANTOS DA SILVA CARDOSO e BABA CALUBALY.
Seruiços de saúde - chefe ANTÓNIO MARQUES PER­DIGÃO, médicos FRANCISCO AUGUSTO REGALA e MA­NUEL DE JESUS SUSANO : tenente veterinário FRAN­CISCO GERVÁSIO FLORES, farmacêutico MANUEL JOA­QUIM MOTA e 1.° cabo ANTÓNIO FRANCISCO DA EN­CARNAÇÃO MARTINS.
Serviços administratiuos - CHEFE CAPITÃO SIMÕES DA COSTA E TENENTE FREDERICO SILVEIRA MACHADO, SOLDADO DA COMPANHIA DE SUBSISTÊNCIA MANUEL ALVES, 2.° SARGENTO JAIME GARCIA DE LEMOS,· 1.° CABO MANUEL MONTEIRO, 2.°· SARGENTOS ESTÊVÃO DIAS DA CRUZ E ALFREDO ACÁCIO AFONSO, 1.N• CABOS
Companhia de telegrafistas da praça - 2.°' sar­gentos ANTÓNIO DA COSTA AFONSO E JOÃO MARIA DOS SANTOS E SOLDADO ANTÓNIO ALBINO.
Forças navais de 1ª linha - comandante da ca­nhoneira . «D. Luís» e comandante superior das forças navais ALBERTO ANTÓNIO DA SILVEIRA MO­RENO. comandante da canhoneira «Zambeze» JÚLIO GALIS, comandante do transporte «Salvador Cor­reia», JORGE PARRY PEREIRA, comandante da lan­cha- canhoneira «Cacheu» CARLOS PRIMO GUIMARÃES MARQUES; 2.° tenente CARVALHO DIAS.

Praça de Bissau - comandante major reformado FRANCISCO XAVIER ALVARES e alferes ANTÓNIO DOS SANTOS.

Depósito de praças adidas - 1.° sargento JOSÉ FERREIRA DE LACERDA, 2.0 sargento SALVADOR CI­PRIANO FERREIRA, 1.0s cabos JOÃO DE SOUSA, AURÉ­LIO FERNANDES E JOSÉ ANTUNES e 2.° cabo EUGÉNIO DA SILVA. alferes de 2.a linha FÉLIX DIAS E DAVID; auxiliares LISBOA FRANÇOIS e LOPES. Vo­luntário - FERNANDO DE JESUS LEOPOLDO.
1908/10/29
Em fins de Outubro, a instabilidade voltou ao rio Geba com os ataques dos Balantas a embarcações comerciais na região de Goli. A 29 /10 a baleeira francesa "Madaleine" da CFAO, que se dirigia a Bafatá, encalhou na margem direita, próximo da aldeia Balanta de Chungue, sendo saqueada à mão armada; na madrugada do dia 30, o mesmo aconteceu à lancha S. João Baptista, fretada pela casa Rolf, de Hamburgo. As reclamações da casa alemã pelos prejuízos sofridos, imediatamente secundadas pela sua chancelaria e prolongadas também durante dois anos, acumularam todas as acusações estrangeiras à instabilidade do poder colonial português. Em primeiro lugar, assinalavam a responsabilidade colonial visto que o .atentado se dera depois do governo de Boiama ter mais uma vez declarado livre a navegação no Geba (portaria de 10/4/1908). Em seguida, exigiam indemnizações atendendo a que, segundo o Boletim Oficial, a expedição punitiva imediatamente organizada (durante os meses de Novembro e Dezembro) tinha tido êxito, o que tomaria possível obrigar os Balantas a pagar.
A reacção das autoridades coloniais obedeceu ao referido padrão de desresponsabilização, politicamente sempre perigoso por assumir a falta de controlo de território e populações. Tentando ganhar tempo (entre a primeira nota alemã a este respeito e a resposta do Ministerio da Marinha, anunciando a chegada do inquérito realizado pelo governo da província decorreram 5 meses), o governo de Boiama alegava que, após o incidente, tinha cumprido todas as suas obrigações - socorro aos sobreviventes, seguido da habitual expedição punitiva - e distinguia as noções de liberdade de navegação no rio da submissão das respectivas margens.
É interessante notar como no auto do inquérito, conduzido pela secretaria do governo da província, a questão central colocada aos 16 deponentes (2 alemães, 1 belga, 7 cabo-verdianos e 6 grumetes) - fossem elas agentes comerciais, negociantes por conta própria, marítimos ou guardas de alfândega - era: "se sabe se o Governo tinha anteriormente occupado o territorio dos balantas". Tendo todas as respostas manifestado ser do conhecimento publico que não, o auto concluía pela não responsabilização provincial visto que: "No sitio do roubo não há operação commercial, assim como não tem porto de mar seguro, tanto que as embarcações passam um tanto afastado d' este sitio, habitado pelos balantas, que são reconhecidos por ladrões; pois o ponto nem sequer foi occupado pelo Governo, que até hoje a ninguém concedeu licença para estabelecimento commercial."
Como as expedições punitivas eram mais represálias do que operações de ocupação, o próprio Ministério do Ultramar respondeu que a reclamação alemã de obrigar os Balantas derrotados a pagar as indemnizações era impossível de satisfazer porque "os bandidos que praticavam o roubo, uns fugiram com os mesmos roubos, e não poderam ser aprisionados, e outros pagaram com a vida o crime praticado."
Durante décadas, a administração colonial portuguesa na Guiné serviu essencialmente de instrumento político à exploração comercial europeia. Dos rios da Guiné saía uma corrente de exportações cuja cotação no mercado mundial estava em alta - especialmente a borracha - e de que beneficiavam sobretudo firmas alemãs (até à 1ª Guerra Mundial) -, bem como belgas e francesas. A protecção aos circuitos comerciais e a sua ampliação implicavam despesas militares elevadas para o Estado português, mas esse era o preço a pagar para conservação da soberania sobre uma região que sucessivas erosões territoriais transformaram num enclave. Aparentemente, parece estar-se em presença de um caso de irracionalidade económica, que chegou a ser comum associar ao colonialismo português.
1908/11/17
A força de marinheiros comandada pelo 2.0 te­nente CASAL RIBEIRO, tendo desembarcado perto de Goli, ataca lapidarmente várias aldeias indígenas que são sucessivamente incendiadas, obrigando os rebeldes Balantas a refugiar-se no mato depois de lhes fazer sofrer inúmeras baixas.
Coluna contra os Balantas de Cunhicurnba e Chumbel. Pelos serviços prestados nestas opera­ções foram louvados por portaria ministerial de 3-3-1909 o secretário geral JOAQUIM JOSÉ DUARTE GUIMARÃES, 1.ªs tenentes JOSÉ MARIA DA SILVA CAR­DOSO e JORGE PARRY PEREIRA, 2.° tenente JOÃO VI­CENTE CALDEIRA DO CASAL RIBEIRO e médico naval de 2.a classe ANTÓNIO RUIVAL SAAVEDRA.
1908/11/19
Apresentaram-se a bordo da canhoneira «Lurio», que operava de combinação com a coluna do comando do governador Muzanty os «grandes» das povoações balantas revoltadas a fim de apre­sentarem acto de vassalagem, entregando o comer­ciante OSÓRIO por eles feito prisioneiro no mês antecedente.

1908/11/28
Com a derrota dos Balantas de Malafo foi vin­gada a morte do oficial do exército Galona e seus companheiros que no mesmo local tinham sido tru­cidados em 1894.
1909

At Rufisque, Galandou Diouf became the first African to be elected official during the colonial period.
1909/03/04
«Pouco tempo depois da campanha de Bissau, o chefe da província Oliveira Muzanty ,era autorizado a apresentar-se em Lisboa (Junho de 1908). Esta súbita partida foi motivada pelo facto de o referido governador ter deportado para S. Tomé, como vadio, um comerciante europeu, antigo oficial do exército.
A portaria da expulsão aplicava ao arguido uma disposição legislativa reservada aos indígenas indesejáveis e rebeldes, e neste ponto o governador foi deslealmente enganado pelo funcionário da Secretaria que redigiu o documento. Certo é que Govêrno central não aprovou a deportação e mandou regressar à colónia o comerciante aludido, indemnizando-o dos prejuízos sofridos.
Esta resolução superior e talvez o pouco êxito da guerra de Bissau, que não correspondeu ao que se esperava, motivaram a resignação de Oliveira Muzanty. A política ministerial sacrificou um dos melhores governadores que teve a Guiné. Para o substituir foi nomeado, em 4 de Março de 1909, o capitão Flrancelino Pimentel.
Um dos primeiros actos do novo governador foi, como já vimos, o restabelecimento das comunicações e do comércio entre os papéis e a praça de Bissau, em Agôsto de 1909. Regressou-se desta forma pouco mais ou menos à situação anterior a 1908.
Em compensação, na região de Geba o êxito das campanhas de 1908 foi mais completo e duradouro. Depois das derrotas de Boncó, de Badora, e de Infali Soncó, de Cuór, ficou definitivamente firmado o prestígio das nossas armas .e autoridade em tôda aquela região de fulas até à fronteira terrestre.
Em Agôsto de 1910, houve ainda um pequeno incidente no regulado de Xime. Depois do falecimento do chefe Abdulai, o seu .filho Eli pretendeu opôr-se à nomeação do sucessor escolhido pelo povo com aprovação· do Govêrno. Como o pretendente Eli tentasse sublevar os s.eus partidários, o residente de Bafatá, Vasco Caivet de Magalhães, foi a Xime e com grande energia e sangue-frio dominou os revoltosos, apreendendo na ocasião 68 espingardas, 4.700 cartuchos e 34 barris de pólvora. Foi por este motivo louvado e promovido a tenente da 2.ª linha.
A pacificação começada pela via de armas foi completada pela acção política do administrador Calvet de Magalhães, que soube insinuar-se no ânimo dos fulas e adaptá-los ao pensamento e princípios da nossa administração. Dali para diante, os fulas da região converteram-se em auxiliares do nosso Govêrno na obra da submissão doutras tribus guineenses e hoje poderão ser a proveitados como preciosos e dedicados colaboradores do nosso exército em qualquer tempo e lugar.
Em Janeiro de 1910, graças aos esforços do tenente Lino Marçal Saldanha, sargento José Lopes e chefe indígena Malambá, foi montado o pôsto militar de Bissoram, vencendo a resistência e os ataques dos oincas.
Sob o ponto de vista de administração geral de Guiné, nas vésperas da mudança do regime político em 1910, pouco há que acrescentar. A organização dos. serviços públicos subordinava-se ainda à lei de 2.1 de Maio de 1892, com pequenas alteraçõ.es introduzidas sobretudo n·os quadros do pessoal em virtude do maior desenvolvimento do serviço. Julgamos desnecessário enumerá-las por se tratar de providências d.e carácter transitório, sempre sujeitas a serem substituidas por outras, de harmonia com as necessidades de momento e com o progresso social .e económico da província.
Em meados de 1909 as fôrças militares da Guiné compuham-se de uma secção de artilharia bastante incompleta; de uma companhia de Moçambique retida na colónia e de uma companhia indígena de atiradores com o limitado efectivo de 58 solpados, faltando nada menos de 160 praças para completar o quadro.
Em resumo estavam em serviço na colónia 26 oficiais, 25 sargentos, 80 soldados europeus e 260 praças indígenas, das quais a maior parte era estranha à colónia. Deve notar-se que uma parte dos soldados europeus era ainda o resto dos antigos deportados enviados à Guiné por crimes ou motivos disciplinares.
Em Maio de 1910 a Direcção Geral do Ultramar fixava para a Guiné os seguintes contingentes: duas Companhias Indígenas de Infantaria com 8 oficiais, 28 praças europeias e 362 indígenas, além de duas secções de artilharia com 2 subalternos, 50 praças europeias e 62 indígenas.
O govêrno do capitão Francelino Pimentel foi pouco acidentado, devendo ter contribuído para isto a circunstância de ter passado a maior parte· do seu tempo em Lisboa. A administração da colónia ficou entregue interinamente ao chefe de saúde, Dr. António Marques Perdigão que, de harmonia com a determinação ministerial, se limitou ao despacho do expediente ordinário.
O capitão Francelino Pimentel, depois da segunda viagem à Portugal, regressou à Guiné em 22 de Agôsto de 1910. Também neste período não teve oportunidade de adoptar quaisquer providências importantes porque, algumas semanas depois, foi exonerado pelo govêrno da República.» 
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 358-360
1909/05/21
Os Balantas preparam uma ofensiva contra o posto de Goli, atacando o no dia 21 2, durando o tiroteio das 7 às 12 horas. Em 25 o posto foi re­forçado com novos oficiais e praças, artilharia e serviço médico. Veio também Abdul Injai, que tinha sido nomeado régulo de Cuór.
1910
1912

1912/11/13
Desembarcou em Bolama o capitão TEIXEIRA PINTO que assumiu as funções de Chefe do Estado Maior.

1913
«Não era fácil a um oficial ou qualquer representante da autoridade atravessar o Oio, e por isso Teixeira Pinto serviu-se de um estratagema. Apresentou-se em Mansôa como inspector de uma casa comercial, B. Soller, que tinha ali uma feitoria e sob êste disfarce atravessou aquela zona até então desconhecida, fazendo a jornada de Mansoa a Farim acornpanhado de um comerciante. Na viagem de regresso, os oincas já desconfiados deram-lhe água e leite envenenados, pelo que esteve bastante doente.
Feito isto, fixou o seu plano de ataque por Mansoa e Bissoram, mandando. ao mesmo tempo fazer um cêrco por lado de Geba. Em Bissoram ·estava como comandante militar o tenente Augusto José de Lima, com os chefes indígenas Alfa Mamadu Sailu e Malambá. A defesa da região de Geba e Bafatá foi confiada ao· respectivo administrador, Vasco Calvet de Sousa Magalhães, que tornou a direcção dos auxiliares fulas, ajudado pelo cabo de guerra Mamadu Sissé.
Em fins de Março de 1913, foi organizada a coluna constituída por Teixeira Pinto e pelos tenentes Antas e Pimenta, com o sargento Vilaça e alguns soldados. O resto da fôrça era composta dos auxiliares de Abdul Injai, ao tempo régulo de Cuór, e por alguns fulas recrutados em Bafatá. Esta coluna era auxiliada pelas canhoneiras Flecha e Zagaia, comandadas respectivamente pelos tenentes. Raúl Queimado de Sousa e Costa Santos Pedro.
A fôrça desembarcou em Mansoa em 29 de Março e instalou-se na propriedade da casa Soller entrincheirando-se com sacos cheios de terra, pois já se receavam ataques da parte dos balantas.
Com efeito, logo no dia seguinte vieram os indígenas, balantas e oincas, atacar o acampamento, dando assim comêço· à guerra de Oio.
O mês de Abril foi empregado em bater os balantas da margem esquerda do rio Mansoa, até que o régulo de Jugudul apresentou-se a pedir as pazes, em 10 de Maio. Porém os balantas da margem direita tinham-se associado aos oincas, refugiando-se no mato. Não havia, portanto, outra solução senão começar o ataque à região de Oio, não obstante· a oposição manifestada pelas estâncias superiores a êste projecto.
Decidido· o golpe, Teixeira Pinto partiu, no dia 14, com a sua coluna composta de dois sargentos, 4 cabos, 4 soldados indígenas e 400 auxiliares. A marcha fazia-se por uma região desconhecida, por caminhos ladeados de mato tão espesso, que quási nada se distinguia a 10 metros de distância.
Enquanto a coluna marchava à fila indiana os balantas e oincas íam acompanhando de flanco e atacando incessantemente.
«Tive durante a marcha - diz Teixeira Pinto no seu relatório - momentos angustiosos por ver muita gente invadida de desânimo, principalmente os fulas de Sancorlá e a guarnição europeia da peça à excepção do primeiro cabo António Ribeiro Moens».
Não obstante tôdas as contrariedades, a coluna prosseguiu na sua marcha até ao centro do terrível Oio, tomando e destruindo as tabancas. que .encontrava no seu caminho. No• dia 4 de J unho, na véspera do ataque às tabancas de Mansoadé e Mansabá, as fôrças de Teixeira Pinto compunham-se de 320 auxiliares, 6 europeus e 4 soldados indígenas. Com êstes poucos homens foi tomada a tabanca de Mansoadé, capital e centro da resistência dois oÍncas !
No dia seguinte, apresentavam-se os chefes de Mansabá a pedir a paz e depôr as armas. Esta aldeia foi ocupada no dia 7 de Junho tendo-se imediatamente içado a bandeira po.rtuguesa.
Os dias seguintes foram empregados na construção do pôsto militar e recolha das armas dos revoltosos. No dia 17 começava a cobrança do imposto de palhota. O pagamento foi feito pelos indígenas em moedas de cinco francos, tendo-se apurado, em poucos dias, a soma de 29 contos de réis.
Estabelecido o pôsto de Mansabá, Teixeira Pinto retirou-se para Mansoa, no dia 26, e a coluna de operações foi dissolvida no dia seguinte. Estava destruída a lenda da impenetrabilidade da região de Oio. Deve notar-lse que na coluna não havia outro oficial do exército além do seu comandante. Em 4 de Agôsto acabaram de ser arroladas 4.100 espingardas tomadas aos indígenas, além de l.200 entregues na administração de Farim.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 380-382
1913/03/30
Apesar de alvejada constantemente pelos Oincas, a coluna móvel do comando do capitão TEIXEIRA PINTO penetra na região do Oio, onde os indíge­nas insubmissos, bem armados e municiados, se defendem com tenacidade, toma 16 tabancas, de­sarma os rebeldes até então considerados inven­cíveis, conseguindo o referido oficial receber o imposto de palhota dos últimos três anos, prova ­inequívoca da submissão da mesma tribo.
1913/04/12

TEIXEIRA PINTO, comandante da coluna móvelde polícia, decide bater a região insubmissa do Oio, onde bivaca no dia 15 precedido pelas forças de ABDUL INJAI compostas por 400 irregulares.
1913/05/13
1913/06/04
TEIXEIRA PINTO tomando a «tabanca» de Mansodé, em Oio, bate definitivamente os Oincas. Operações militares no alto Mansoa e no Oio, de 29 de Março a 27 de Junho de 1913.
1913/06/27
Pessoal da marinha colonial que de 26 de Março a 27 de Junho apoiou a coluna de operações:2.°8tenentes ANTÓNIO R. C. SANTOS PEDRO e RAÚL QUEIMADO DE SOUSA ; 1.°8artilheiros AUGUSTO VA­LENTE e JOSÉ FERREIRA; 2.°' artilheiros BENTO PA­TACO e FLAVIANO AUGUSTO ARAÚJO; cabo fagueiro FILIPE DOS SANTOS e cabo FOGUEIRA FILIPE DE BAR­ROS; J .01 fogueiros JOSÉ MARIA CORREIA, FRANCISCO FIGUEIREDO e EDUARDO NUNES; ].0 marinheiro JAIME JOSÉ FERNANDES e 2.°8 fagueiros ANTÓNIO DE ANDRADE RUAS e JOSÉ MARIA. Mereceram tam­bém referência especial pelos seus bons serviços os mestres dos vapores «Capitania», ADOLFO DOS SANTOS, do motor «Rio Cacine», ALFREDO MARTINS e da lancha «Rio Geba», FRANCISCO MARIA.
1913/07/11
Pelos actos heróicos praticados como comandante de uma diminuta força de tropas regulares que operou nas regiões de Mansoa e Dia, pela valen­tia, valor e coragem inexcedíveis com que levou a cabo o estabelecimento de um posto militar em Mansabá (capital do Oio), foi louvado o capitão de infantaria JOÃO TEIXEIRA PINTO.
1913/12/26
Operações contra os indígenas de Cacheu e Churo realizadas de 28-12-1913 a Abril de 1914. Destacaram se os chefes de guerra ABDUL INJAI, 2.° sargento JOSÉ FRANCISCO ALHANDRA
«A segunda campanha empreendida por Teixeira Pinto foi contra os papéis de Xuro (ou Chôro), que tinham levado a sua ousadia ao ponto de arrastar numa cilada e massacrar o alferes Nunes e seus companheiros, em Dezembro de 1913.
O oficial Nunes era administrador de Cacheu quando alguns chefes de Xuro se apresentaram, por iniciativa própria, em Cacheu, declarando que a sua gente dispunha-s·e a pagar o imposto de palhota, para o que bastaria que a autoridade fosse àquela região proceder ao arrolamento e cobrança Houve quem, duvidando da sinceridade dos indígenas, tentasse dissuadir o alferes dessa viagem, mas um comerciante de Cacheu, Manuel Rodrigues da Fonseca, vulgo Chino, ofereceu-se para acompanhar o administrador, garantindo que não haveria nada de desagradável. O alferes seguiu, por isso, ao pôrto de Choroenque num motor, acompanhado do comerdante e alguns guardas.
Chegados ao local, o Chino dirigiu-se à povoação próxima a conferenciar com os papéis. Mal o apanharam em terra, os indígenas degolaram-no e, em seguida, vieram em grande massa atacar o barco onde se encontrava o alferes Nunes, com alguns guardas e tripulação. Por infelicidade uma avaria no motor não permitiu pôr o barco. em marcha e assim todos os que se achavam a bordo foram trucidados, com excepção de dois guardas que conseguiram fugir.
Logo que a notícia chegou a Bolama, o chefe do estado maior preparou-se para castigar os rebeldes e vingar a morte do seu camarada. Apresentou-se em Cacheu em 28 de Dezembro, com um sargento, 4 cabos, 42 soldados. e 340 auxiliares comandados por Abdul Injai, aos quais se juntaram cêrca de 60 grumetes de Cacheu. O armamento era constituído por 440 espingardas, 170:000 cartuchos e uma peça com 40 granadas.
Esta fôrça saiu de Cacheu em 2 de Janeiro, ao mesmo tempo que as duas lanchas-canhoneiras partiam também, com ordem para explorar o rio Pelundo, batendo as duas margens, e aguardar no ·pôrto de Xuroenque a chegada da coluna. Sabia-se em Cacheu que, depois do massacre do alferes Nunes, todos os papéis da região, animados por êste sucesso, se tinham associado e preparavam um ataque à vila. Dizia-se que o número dos homens que ·compunham a nossa coluna era insuficientei para vencer os revoltosos e que, uma vez internadas as nossas fôrças no caminho de Xuro, os papéis das povoações de Pecau, Capó e Cacanda procurariam cortar-lhes a retirada.
Com efeito, quando Teixeira Pinto passou por Pecau e Capó, verificou que os seus moradores estavam preparados a juntar-se aos papéis. Mas nem por isso suspendeu a marcha e pelas 13 horas foi acampar em Xuroenque, depois duma jornada acidentada de 10 horas por péssimos caminhos debaixo do ataque constante do gentio. A parte mais penosa da marcha foi a travessia duma densa e extensa floresta durante 3 horas, em que os auxiliares fulas estiveram para desertar, sem ânimo para avançar.
Foi ainda a coragem e o exemplo de Teixeira Pinto e Abdul que salvaram a situação.
Tomado o pôsto de Xuroenque, bateu-se a povoação de Xurobrique no dia 4. Estabeleceu-se ali um pôsto, onde a coluna permaneceu até 2 de Fevereiro, tendo havido nêsse tempo recontros com. os papéis, durante os quais foram feitos 230 prisioneiros e tomadas I.400 espingardas, além de 800 espadas.
Os régulos manjacos da Costa de Baixo e de Pelundo resolveram apresentar-se no· pôsto, com excepção de· alguns chefes.
Fez-se ·o arrolamento e ficou resolvido começar o pagamento do imposto de palhoita em 15 de Março. No mês de Fevereiro Teixeira Pinto, continuando a sua acção de limpeza, passou por Có e Bula, prendendo os respectivos régulos, e deu início à abertura de estradas ligando Cacheu com Pelundo, Bula, Naga Bissoram.
Ao sul ·do rio Pelundo ficara ainda uma região de manjacos de Bassarel Canhoba, Calequisse e Bote que se conservavam em armas, fazendo ali concentrar os seus melhores elementos,· na disposição de resistir até ao extr.emo. Por êste motivo Texeira Pinto partiu de Bula com 17 soldados e 325 auxiliares. Tomada a aldeia de Bagulha, apresentaram-se os moradores da vizinhança com espingardas e pólvora. Durante os dias subseqüentes, procedeu-se à cobrança do imposto·.
Em 19 continuou a marcha sôbre Bassarel, ao mesmo tempo que o 2.º tenente Queimado e Sousa se colocava com a sua canhoneira na foz do rio para cortar a fuga aos revoltosos.
«O guia levava-nos por uma mata cerradíssima. De repente sôa uma descarga na frente. Era a vanguarda que tinha entrado numa palissada, reforçada com uma trincheira com um metro de profundidade com um parapeito, donde os manjacos atiravam sôbre os nossos. Mataram-nos logo 6 auxiliares. e feriram 7. Passada a primeira surpresa, dividi a coluna em 4 grupos e cerquei a palissada, sendo mortos na trincheira todos os 80 manjacos que a guarneciam. Continuou a marcha debaixo de fogo intenso.
Os manjacos em, número que, sem exagêro, calculei em 10.000, defendiam-se com valentia, morrendo grupos completos, sem arredar o pé. Às 11 horas chegámos à tabanca do régulo, onde houve um ataque violentíssimo. Destruída a tabanca, continuaram a atacar-nos com tal violência que foi preciso pôr-me à frente dos soldados e carregar várias vezes sôbre o inimigo». (Relatório de T . Pinto).
Vencido o centro da maior resistência dos manjacos, começaram o arrolamento e a cobrança do imposto, dando-se início à construção de 2 postos militares, em Bassarel e Caió. Foram apreendidas 4.250 espingardas antigas e 64 das modernas.
Deu-se por finda a campanha de Cacheu e Costa de Baixo em 10 de Abril de 1914. Nela se distinguiram, além do seu comandante, o sargento João Francisco Alhandra e o primeiro cabo João Rodrigues Faria. A ambulância sanitária esteve ao cargo do enfermeiro Manuel Gomes Garcia. Os operações foram auxiliadas pela canhoneira Flecha, comandada pelo segundo-tenente Raúl Queimado de Sousa, que foi um grande auxiliar de Teixeira Pinto «cumprindo com zêlo, energia e inteligência que caracterizam tão bravo oficial ... apesar de ter sido acometido por um princípio de biliosa e de ter sido proibido pelo médico de Cacheu de se levantar da cama». (T. Pinto).
Por portaria de 8 de Julho de 1914 foi criado o Comando Militar dos Manjacos, que pelo seu desenvolvimento passou a ser mais tarde a sede da Administração da Circunscrição de Canjungo.
O primeiro· comandante foi o tenente António Maria.*
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 382-385
VER pasta “Revista”
1914/01/15

Continuam as operações militares na região do Churo sob o comando de TEIXEIRA PINTO que no seu relatório diz: «A marcha foi bastante penosa, pelo calor asfixiante que caía, pela falta de água e ainda pelo caminho que era apenas um caminho irregularíssimo onde várias vezes tivemos que de­sarmar a peça e transportá-la às costas».
1914/02/04
TEIXEIRA PINTO, após a tomada de Churoenque, entrou finalmente em Churobrique, onde se apre­sentaram os régulos Manjacos, A coluna de operações teve 10 mortos e 24 feridos.
1914/02/05
Deu-se o desastre de Braia onde uma coluna de operações composta pelo alferes MANUEL AUGUSTO PEDRO, 3 cabos europeus e 20 auxiliares a cavalo, foi massacrada pelos Balantas. Os cadáveres foram retirados pela força do comando do sargento LOPES.
«Como atrás ficou dito, o pôsto de Mansoa foi instalado por Teixeira Pinto, em l de Maio de 1913, passando depois disso a permanecer ali uma fôrça regular com I ou 2 oficiais.
Em Fevereiro de 1914 encontravam-se em serviço nêsse pôsto o capitão Artur Sampaio Antas e o alferes Manuel Augusto Pedro.
No dia 5 de Fevereiro, o alferes Pedro acompanhado de 3 cabos europeus e 20 indígenas a cavalo, foi ao povoado de Brai fazer um resonhecimento para a escolha do local onde se deveria lançar um pontão.
À vista do pelotão, o·s balantas começaram a fugir, dando ao mesmo tempo sinais para o ajuntamento. O guia que acompanhava o alferes fez-lhe ver a conveniência de se precaver contra o assalto que os halantas pareciam estar a preparar; mas o oficial insistiu em continuar a marcha, tentando explicar aos gentios que não ía lá com intenção de lhes fazer mal.
O pelotão prosseguiu em direcção de Bambi, porém, antes de lá chegar, foi atacado piela gente de Brai. Arrastados na luta até ao rio, os nossos homens tentaram resistir mas o alferes Pedro foi varado com uma bala e logo a seguir o cabo ferrador Francisco Martins. Os restantes tentaram atravessar o rio, mas enterraram-se no lôdo e foram trucidados pelos balantas. Escaparam apenas 5 soldados indíg·enas e o guia
Este desastre deu ao gentio mais ânimo para desobedecer e incomodar os postos militares de Mansôa e Bissoram. A sua insolência tornou-se ainda maior com o novo incidente ocorrido em 9 de Março.
Nêsse dia o capitão Sampaio Antas enviou um grupo de 80 auxiliares para bater os balantas de Brai. Ao princípio tudo correu bem, mas depois de terem incendiado as tabancas de Brai, os nossos soldados foram cercados pelos balantas e tentando retirar foram levados contra o rio Bambi, onde· morreram cêrca de quarenta.
Emquanto êstes factos lamentáveis se passavam em Mansoa, Teixeira Pinto achava-se retido na luta contra os manjacos da Costa de Baixo. Estas operações terminaram em 10 de Abril e logo a seguir a po·rtaria do dia 14 mandava que «fosse dissofoida a coluna de Cacheu e organizada uma coluna de operações destinadas a castigar os balantas entre os rios de Farim Geba e a construir um pôsto militar.
Determinava mais a reforida portaria que fossem agregados 400 auxiliares de Abdul Injai. Mas Teixeira Pinto tendo verificado que a revolta se estendia a todo o território habitado por aquela tríbu aguerrida e selvagem, entendeu dever contratar pelo menos 600 auxiliares. A concentração fez-se em Bula, começando a marcha no dia 13 d'e Maio de 1914 em direcçâo a Binar, destruindo as povoações que encontrava no caminho.
Depois de uma série de pequenas operações, a coluna vai ao encontro do inimigo, concentrado entre Cussano e Encheia, nas margens do rio Mansoa. Dá-se o primeiro contacto às 8 horas da manhã do dia 20 .. «Calculo, sem exagêro para cima de 20.000 os inimigos»·- diz o relatório de T. Pinto, «Não estava acostumado à táctica de balantas, mas percebi-a em pouco tempo ... .Ràpidamente dividi as minhas fôrças em cinco colunas. Na direita um grupo do meu comando procurando evitar o ataque de flanco; à minha direita uma coluna do comando de Braima Dau; à esquerda, o grupo de Abdul Injai; à esquerda dêste, outra coluna do comando de Mapiadu Sissé e na extrema esquerda, outra do comando de Modiadi, chefe dos futa-fulas, que devia parar o ataque do flanco esquerdo e envolver as reservas de Encheia.
Tôdas as colunas tinham ordem de ir avançando na direcção de Encheia, obrigando o inimigo a retirar sôbre o rio onde as canhoneiras exerceriam a sua acção. Correu tudo como previra ... Tôdas as colunas se desempenharam bem. Houve verdadeiros actos de heroísmo neste combate de I contra 30. O fogo durou até às 17 horas».
Continuando a marcha triunfante depois desta vitória, a cooluna bivacou em Bissorarn, no dia 31. Em 7 de Junho recomeçou a marcha em direcção a Mansoa, «Às 9 horas estavamos defronte de um mato cerrado. Mandei em exploração alguns cavaleiros, que foram recebidos com tiroteio cerrado. Era, porém, forçoso atravessar a mata. Puz o meu pelotão de cuanhamas e 20 fulas em linha e à frente dêles carreguei o inimigo. Valentes soldados!
... O meu sargento Faria anima-os e de baioneta armada lança-se no turbilhão! Meia hora idepois estavamos fora da mata! ... Estava-se já no território de Brai. As tabancas eram tomadas uma a uma ... Às I3 horas bivacamos em Brai, no local onde se tinham dado os massacres e onde se viam os esqueletos.
Estava vingada a morte dos meus camaradas sem ser preciso a vinda de uma expedição da Europa, conforme tôda a gente dizia! ... »
Depois de uns dias de, descanso no pôsto de Mansôa, Teixeira Pinto deu início à segunda fase da campanha contra os balantas, quere dizer, à batida da margem esquerda do rio até ao Impernal.
A coluna saiu em 25 de Junho e, depois de alguns combates, veio estabelecer o pôsto militar de Nhacra no dia 30. Em 2 de Julho embarcava Teixeira Pinto para Bolama, dando por terminada definitivamente a pacificação daquela região.
Nestas operações foram apreendidas aos. balantas 6.ooo espingardas novas além daquelas que lhes tinham sido tomadas no ano anterior. Êste facto levou o chefe do estado maior a propor no· seu relatório· o refôrço das medidas destinadas a pôr termo à venda das espingardas e pólvora, que os comerciantes da Guiné faziam ao gentio, não obstante tôdas as proibições legais.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 385-387
1914/02/25
Por ter dado sempre sobejas provas de sua dedi­cação ao Governo e manifestado a mais heróica valentia foi nomeado tenente das forças de 2.ª linha o régulo ABDUL INJAI.
1914/03/00
1914/05/07
Tomou posse do cargo de governador, o coronel de artilharia JOSÉ DE OLIVEIRA DUQUE, cujo filho, oficial do exército, sete anos antes fora neste dia sepultado em Bissau, vitima dos ferimentos rece­bidos na guerra contra os Papéis. - Coronel de artilharia, eleito pelo Senado e nomeado em 14 de Abril de 1914. Tomou posse em 7 de Maio e foi exonerado em 14 de Julho de 1915, tendo deixado o govêrno entregue ao secretário geral, S. Barbosa, em 24 de Agôsto·.
1914/06/07
TEIXEIRA PINTO vinga o desastre de Braia, derro­tando os Balantas desse território que dias antes tinham massacrado uma pequena força militar.
1914/06/25
Foi estabelecido o posto militar de Nhacra.
1914/08/00
Operações contra os Balantas de Abril a Agosto de 1914:
Louvados os 2.0B tenentes ARTUR ARNALDO DO NASCIMENTO GOMES e RAÚL QUEIMADO DE SOUSA, o 2.° sargento JOSÉ AUGUSTO RIBEIRO, o adminis­trador de Bissau, VIRGÍLIO ACÁCIO CARDOSO, o 1.° sargento ALBERTO SOARES; os 2.°" sargentos JOSÉ RODRIGUES FARIA e ROMUALDO ANASTÁCIO LOPES, o 1.0 artilheiro JOSÉ FERREIRA, o 2.° artilheiro ANTÓ­NIO FERREIRA, o 1.° fogueiro DOMINGOS MOREIRA E 2.° FOGUEIRA JOSÉ MARIA. Distinguiram-se os chefes indígenas ABDUL INJAI, tenente de 2.a linha, MAMADÚ SISSÉ, BRAIMA DAN e MAMADÚ JALÓ.
1915
Guarneceram o posto militar de Nhacra durante as operações de Bissau: tenente AGOSTINHO DO ES­PÍRITO SANTO, 2.° sargento de Saúde VASCO PINTO FERNANDES, 2.° sargento da Secção do Depósito ANTÓNIO DOS ANJOS.Da Marinha Colonial tomaram parte dessas ope­rações os seguintes: 2.°' tenentes JOSÉ FRANCISCO MONTEIRO e RAULQUEIMADO DE SOUSA; arti­lheiro ANTÓNIO FERREIRA, ARTUR PINA, MANUEL SE­BASTIÃO, JOAQUIM DA SILVA e JOSÉ VIEIRA.










1915/05/00
Coluna de operações contra os Papéis e grumetes da Ilha de Bissau, de Maio a Agosto de 1915. Tomaram parte : comandante, capitão TEIXEIRA PINTO

1915/05/07
JOSÉ DE OLIVEIRA DUQUE 1º mandato como governador da Guiné, até 24 de Agosto de 1915
1915/06/02
A coluna de operações comandada pelo capitão TEIXEIRA PINTO acampou em Intim depois de ter arrasado Bandim.
1915/06/05
Morre por ferimentos recebidos em combate con­tra os Papéis o 2.° sargento ANTÓNIO RIBEIRO MOENS.
1915/06/08
Foi tomada, após renhidos combates, a povoação de Antula.
1915/06/13
Ferido na povoação de Joalpelos rebeldes Papéis, o capitão TEIXEIRA PINTO recolhe a Bissau. Assumiu o comando das forças que se dirigiam em di­recção a Bór o tenente SOUSA GUERRA.
1915/07/01
O capitão TEIXEIRA PINTO reassume o comando das operações militares da Ilha de Bissau.
1915/07/03
Foi trucidado pelos Papéis um dos voluntários da coluna de operações contra aqueles indígenas, o professor MANUEL MOREIRA que durante a campa­nha dera provas de inexcedível coragem.
1915/07/10
TEIXEIRA PINTO bate os Papéis, entrando final­mente em Biombo onde faz prisioneiro o respec­tivo régulo.
1915/07/25
A Ilha de Bissau foi considerada definitivamente pacificada após a rápida campanha de submissão levada a cabo por TEIXEIRA PINTO. Os portugue­ses tiveram 47 mortos e 202 feridos.
«Depois de submetidos os manjacos e os balantas, Teixeira Pinto veio a Portugal retemperar a saúde e ao mesmo tempo combater junto do ministério a campanha incidiosa que lhe era movida pelos seus inimigos pessoais e políticos.
A obra já realizada pelo herói da Guiné deveria merecer o apoio incondicional de todos os portugueses. No entanto, ao contrário do que era de esperar, a benéfica actividade de Teixeira Pinto provocou um recrudescimento da política local, formando-se um partido manifestamente adverso ao seu projecto de levar a efeito a pacificação definitiva da ilha de Bissau.
A tenacidade de Teixeira Pinto, que se orgulhava de ter costela transmontana, venceu tôdas estas dificuldades e resistências, até que foi publicada a portaria proivincial de 13 de Maio de 1915 mandando organizar a coluna de operações contra os papéis e grumetes de Bissau e estabelecendo o estado de guerra naquela ilha.
Em 12 de Maio Teixeira Pinto vai a Bissau dar comêço à concentração das fôrças. Toma para seu auxiliar o tenente de infantaria Henrique Alberto de Sousa Guerra, único oficial que faria parte da coluna, acom.panhando-a até ao fim. Na concentração de 1.600 auxiliarns de Abdul e Mamadu Sissé gastaram-se perto· de duas semanas (a)
Resolve-se começar a marcha em 5 de Junho. Mas no dia 3 alguns auxiliares que se tinham afastado cêrca de 200 metros além da fortaleza, são atacados pelos papéis. Outros auxiliares, assim como os oficiais Teixeira Pinto e Sousa Guerra, correm em seu auxílio e isto dá origem a um combate em que os papéis chegam a avançar até às portas de Bissau. Nestas alturas os reforços vindos da fortaleza permitem às nossas fôrças carregar sôbre o inimigo levando-o de vencida até ao alto de Intim. Neste primeiro encontro tivemos 88 baixas, contando-se entre· os feridos o chefe Mamadu Sissé.
Na manhã do dia 5, conforme estava combinado, a coluna pôs-se em marcha e, não obstante a resistência do inimigo, foi acampar na aldeia de Intim, onde foi ferido mortalmente o 2.º sargento António Ribeiro Moens, que acompanhava T. Pinto desde a guerra de Oio. «Neste dia de luta de 1 contra 10, com o inimigo bem armado de armas aperfeiçoadas, cada soldado, cada irregular, cada voluntário foi ium herói». (T. Pinto).
No dia 10, a coluna tomou o chão sagrado de Antula. Dêste ponto continuou a marcha sôbre Safim. No dia 12 acampou na aldeia de Joal, onde foi insistentemente incomodada pelo inimigo abrigado na floresta... «Três vezes carreguei sôbre o inimigo ... Notei que um grumete armado de uma Mauser atirava constantemente sôbre mim. Quando eu de binóculo seguia o movimento dos auxiliares, senti de repente como que um grande murro nas costas. Compreerrdi que tinha sido ferido, as nada disse, até que o enfermeiro Dias viu e me levou ao acampiamento, não podendo mais levantar-me». (T. Pinto).
Apesar disto, o valoroso .comandante acompanhou a coluna na sua marcha até Safim, mas, começando a sentir febres em consequência da infecção da ferida, teve de recolher para Bissau, na companhia do capitão-médico Francisco Augusto Regala.
Durante alguns dias, o tenente Sousa Guerra assumiu o comando das fôrças e continuou a marcha por Bór, Bejemita e Biombo, donde regressou novamente para Bór depois de ter infligido sucessivas derrotas ao inimigo. Em I de Julho, Teixeira Pinto reassumiu o comando das operações.
No dia 10 recomeçou a marcha para a batida das restantes aldeias dos papéiis até chegar à tabanca do régulo de Biombo, que foi prêso. As declarações feitas por êste chefe merecem registo, porque revelam a ment'alidade e o sentimento de que os papéis estavam, animados· ... «Disse que nunca se submeteria porque odiava os brancos; que enquanto houvesse um papel em Biombo, haviam de fazer guerra ao Govêrno e que, se morresse, e lá no outro mundo encontrasse brancos, havia de fazer-lhes guerra ...»
Com, a rendição dos régulos de Biombo e de Tór dava-se por terminada a guerra de Bissau. A coluna foi dissolvida em 17 de Agôsto de 1915, ficando estabelecios os quatro postos de Bór, Safira, Bijimita e Biombo.
A campanha de Bissau foi aquela que deu maior percentagem de baixas: 284 homens entre mortos e feridos, no total de 1.600, isto é, cêrca de 20 por cento. Da coluna faziam parte 3voluntários civilizados, Carlos Cabral, o sírio Karam e o professor Manuel Moreira.
Este último costumava fazer sózinho a jornada de Bissau para Bór e vice-versa. Não obstante ter sido avisado pelo comandante para não tornar a fazê-lo, no dia 1 de Julho desapareceu do acampamento, como de costume, tendo sido nessa ocasião apanhado pelos papéis , que o trucidaram, levando 3 dias a supliciá-lo, cortando-o aos pedaços. Assim acabou um herói obscuro, vítima da sua imprudência ou excesso de bravura!
(a)Entre os chefes indígenas que auxiliaram Teixeira Pinto figura em primeiro lugar o cabo de guerra Abdul Injai. Pelos relevantes serviços que prestou, o Govêrno da colónia cedeu-lhe o regulado de Oio, além das prêsas de guerra, e, durante algum tempo, desculpou as extorsões e abusos por êle praticados dentro daquele território.
Todavia, Abdul, convencido talvez de que o exército da colónia não seria capaz de vencer as suas fôrças, começou a abusar da situação, não querendo atender às admoestações e avisos enviados pelos governadores. Tornou-se, por isso, necessário organizar uma coluna para castigar a sua insolência.
Foi encarregado das operações o capitão· Augusto José de Lima Júnior, auxiliado pelos oficiais Alberto Soares, Pedro Vilas-Boas, J. L. Trindade Pereira e Afonso Figureira. Depois de 3 dias de luta, de r a 3 de Agôsto de 1919, o aventureiro Abdul Injai foi vencido e rendeu-se sem condições. Perdemos nesses combates o alferes Figueira com alguns soldados e auxil.iares.
Não faltou quem tentasse defender a atitude de Abdul. Não têm, porém, razão, os que censuraram a acção do govêrno. O facto de Abdul ter prestado incontestáveis serviços à colónia não o iliba das responsabilidades dos abusos cometidos e da sua traição final. (Veja-se o Suplemento à Ordem à Fôrça Armada., de Guiné, n.º 3, de 1924).» 
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 387-390
1915/12/13
Foi conhecida a notícia da revolta do gentio de Churo que massacra a tripulação do motor «Cacine» e mata o administrador de Cacheu, motivo por que foi criada a coluna de operações de Cacheu chefiada por TEIXEIRA PINTO.
1916/05/15
Por despacho do governador publicado nesta data foi o chefe de guerra ABDUL INJAI, tenente de 2." linha, nomeado régulo da região do Oio, em aten­ção aos relevantes serviços por ele prestados, tendo dado sobejas provas de lealdade e dedica­ção ao Governo.
1917/00/00
1917/03/14
Foi declarado o estado de sítio no arquipélago dos Bijagós, interdito o comércio com algumas ilhas e organizada uma coluna móvel de polícia à ilha de Canhabaque, tendo por objectivo o estabeleci­mento na mesma de um posto militar. Assumiu o comando daquele posto o tenente SOUSA GUERRA .
1917/05/05
Relação dos oficiais que tomaram parte na coluna de operações à ilha de Canhabaque, de 15-5 a 5-VII-1917major CARLOS IVO DE SÁ FERREIRA; te­nentes HENRIQUE ALBERTO DE SOUSA GUERRA, EDUAR­DO CORREIA GASPAR e HORÁCIO DE OLIVEIRA MARQUES
Foi dissolvida acoluna móvel de polícia coman­dada pelo major CARLOS IVO DE SÁ FERREIRA que visava o estabelecimento de um posto militar em Canhabaque, o que não se efectuou, tendo todavia estado em In-Orei e Bine.
1917/05/07
As operações militares levadas a cabo em Nhambalam resultaram infrutíferas pois que o indígena continuou insubmisso.
1917/05/15
A Campanha de ''Pacificação" de 1917
A primeira campanha de vulto deu-se em Maio de 1917, quando foi organizada uma coluna com o objectivo explícito de estabelecer um posto militar na ilha de Canhabaque.
Nesta ilha, «as provas de desrespeito para com a a nossa soberania» eram, aparentemente, «cada vez mais acentuadas», e o «estado de insubmissão» tornara-se «Um péssimo exemplo para os povos das outras ilhas». (1)
Na verdade, de acordo com um relatório do vice-consul francês, os portugueses sofreram um «sangrento revés» quando tentaram desembarcar uma força de 150 soldados regulares e auxiliares, poucas semanas antes.
Os bijagós, que se diz estarem «bem armados», opuseram uma resistência obstinada que obrigou a força invasora a retirar-se com três mortos e vinte e dois feridos.(2)
A derrota abalou a confiança dos portugueses, vindo como veio depois de uma campanha de "pacificação" vitoriosa no território continental.
Estado de Sítio
A declaração de guerra oficial, a 15 de Maio de 1917, acentua a resistência armada dos "gentios" ao estabelecimento de um posto militar em Canhabaque, um objectivo considerado «necessário e indispensável» se a soberania portuguesa era para ser respeitada e os «rebeldes» reduzidos «à obediência». (3)
Ao mesmo tempo, foi declarado o estado de sítio cm todo o arquipélago e estritamence proibidas todas as fonnas de comunicação com as ilhas de Canhabaque, Bubaque e João Vieira.
A coluna era composta por 120 soldados regulares. sob o comando do Tenente Eduardo Correia Gaspar, e 300 auxiliares chefiados por Mamadú Sissé mas sob o comando do Tenente Henrique Alberto de Sousa Guerra, "mão direila  de Teixeira Pinto futuro govemador da província".
De notar, a ausência do infame Abdul Injai cujas relações com os portugueses se deterioravam progressivamente.
Todas as operações eram dirigidas pelo novo chefe de estado maior, Major Carlos Ivo de Sá Ferreira, um goês que mais tarde seria governador do território. As operações em Canhabaque duraram oito meses.
Os portugueses e seus auxiliares, uma vez mais, encontraram uma força de "gentios" bem annados que tirava partido absoluto da densa vegetação da ilha para infligir considerável número de baixas. «0 gentio disparava aqui e além com a certeza da sua pontaria tranquila e firme, causando-nos bastantes baixas».(4)
Foi com o «troar da artilharia» e «com um consumo abundante de munições» que a coluna invasora conseguiu evitar a sua eliminação.
De novo, foi a vantagem do armamento moderno que permitiu às frustradas tropas continuar a avançar, embora vagarosamente e a muito custo.
Depois de «grandes sacrifícios e muita persistência» (5), e apesar de uma epidemia de beri-beri que também causou «um razoável contingente de baixas» (6), a coluna conseguiu derrotar os "rebeldes" e estabelecer um posto militar em Bine e Inorei.
Porém. a submissão dos "rebeldes" só podia ser vista como um fenómeno temporário, «pois êste gentio é, nas suas qualidades de insubmissão, muito semelhante aos papéis».(7)
Embora os chefes de dois povoados onde os ponugucses tinham estabelecido postos militares tenham assinado um "acto de submissão" em Janeiro de 1918, as gentes de Canhabaque e outras ilhas "rebeldes" continuaram, todavia, com outras formas de resistência passiva, incluindo a evasão aos impostos de palhota e esquivança às autoridades locais:
Os indígenas desta Circunscrição não recorrem por enquamo à justiça das autoridades europeias, não só porque o seu estado de atraso lh' o impede, mas também e principalmente porque resolvem todos os conflitos de harmonia com o rito da sua religião.(8)
(1} Preâmbulo, Portaria n.º 177 (16 de Abril de 1917}.BOGP, n.º 16, 21 de Abril de 1917,p.133. Este decretoo separou da administração de Boiama as ilhas de Bubaque, Canhabaque, Rubane e João Vieira (e os ilhéus em redor dessas ilhas), «que constituíram um comando militar independente, com sede provisoriamente na ilha. de Bubaque», Ibid .
(2) ANS, 2F13, Doc. n.• 96: Vice-Consul de França a Ministères des Affaires Etrangères, Bissau, 9 de Maio de 1917.
(3) Portaria n.º 229-A (15 de Maio de 1917).BOGP, n.º 23, 9 de Junho de 1917, p. 197.
(4) A. Silva Loureiro, Tribulo de Sangue: Monografia das Camponhas Militares para a Ocupação da Guiné, Edições da 1ª .Exposição Colonial Portugusa, Lisboa, 1934, p. 102.
(5) lbid.
(6) Tenente-coronel Bello de Almeida, op. cir., p. 138.
(7) A. da Silva Loureiro, op. cil., p. 102.
(8) INIC, Pasta 1920, Doc. n.º 320: Administrador e Secretário dos Negócios Indígenas, Abú, 6 de Dezembro de 1920.
1918/01/23
Perante o governador e membros do Conselho do Governo prestaram acto de submissão os régulos de In-Orei, de Ancamane, de Bine, de Bani e Canhabaque. Pediram perdão por terem aberto fogo sobre a força que desembarcara em Canhabaque, sem que esta lhe tivesse causado qualquer dano. O governador concedeu-lhes o prazo de 6 meses para pagarem a taxa de guerra respectiva.

1919/07/08
É declarado o estado de sítio nas regiões de Bissorã e Farim por motivo de ABDUL INJAI se recusar a acatar as ordens do Governo.


1919/08/16
Foi preso em Farim o régulo ABDUL INJAI, tenente de 2." linha, que se entregou às autoridades locais com a sua gente terminando assim as operações militares de Oio. O mesmo foi mais tarde depor­tado para Moçambique, tendo, porém, morrido em Cabo Verde.
1919/08/29
Foi demitido do posto de tenente das forças de 2." linha o régulo ABDUL INJAI e destituído do cargo de régulo da região do Oio, sendo-lhe im­posto a transferência para a Ilha da Madeira pelo tempo de 1O anos.
1919/11/25
Foi imposta por deliberação do Conselho do Go­verno a transferência e residência para S. Tomé e Príncipe por 1O anos a 13 indígenas cabecilhas da rebelião ocorrida na região de Oio.
1924/08/00

1925

1925/04/20
A Campanha de "Pacificação" de 1925
Por volta de 1925, a situação em Canhabaque mereceu ainda outra campanha de "pacificação". Segundo o Governador Jorge F. Velez Caroço, as condições do acto de submissão", assinado pelos chefes de Bine e Inorei em Janeiro de 1918, nunca tinham sido observados:
Muito platónico foi esta submissão, porque, o que é certo é que os indígenas de Canhabaque nunca desarmaram e com relação ao imposto de palhota, só com muita diplomacia e fechando os olhos a muitas insolências, se tem conseguido que êles paguem alguma coisa.(1)
(1) Governador Jorge F. Vellez Caroço, “Operaçõcs a Canhabaque", BOGP, Suplemento n.º 9, 30 deJunho de 1925, p. 1.
1935




 1936, contudo, é que todo o território ficou sob a efetiva administração portuguesa, quando todas as ilhas Bijagós foram submetidas. É neste período que se constroem estradas e algumas pontes e a Casa Gouveia (do grupo CUF) se estabelece em Bissau.
1936/01/07
A 7 de Janeiro de 1936, as três colunas começaram a desembarcarem Canhabaque onde tinham aumentado os ataques bijagós aos postos militares portugueses.
Dois dias depois do desembarque a tabanca de Menéque foi alacada. Durante o ataque, o artilheiro branco Sargento Virgílio Correia foi estilhaçado pelo seu próprio canhão. O «desastre» o foi atribuido ao facto de as peças usadas serem obsoletas, sendo, consequentemente, abandonadas.
Os rebeldes enfrentavam agora um inimigo menos poderoso, com a vegetação luxuriante da ilha a seu favor.
Após destruirem as suas palhotas e envenenarem a água, abalaram para a floresta espessa que era «de penetração impossivel sem se cair em mortíferas emboscadas».
A coluna era constantemente emboscada e sujeiia a «tlros estrondosos e mortíferos das longas». Como resultado, a coluna progrediu muito vagarosamente, sendo ohrigada a retirar com umas quantas baixas.
Por exemplo, o ataque a Inhaura, a 10 de Janeiro de 1936, encontrou uma forte resistência que obrigou os. portugueses e os seus aliados a retlrarem-se, para voltar no dia seguinte e esmagar os "'rcbeldes”, após luta feroz!
A rnarcha sobre Angumuru. cinco dias depois, provou ser ainda mais esgotante. Após cinco horas de batalha, a coluna invasora conseguiu avançar apenas 100 metros, sendo forçada a retirar-se com dois mortos, dez feridos e dezoito comiderados «desaparecidos» na densidade luxuriante do mato.
No dia a seguir, a coluna, roforçada, lançou um furioso contra-ataque e conseguiu desalojar os defensores, depois de um curto período de vivaz troca de fogo.