domingo, 26 de junho de 2016

COLONIZAÇÃO DA GUINÉ 1848/04/00-1850



1848/04/00
Compra ao régulo de Goli da ponta das Duas Palmeiras a que se pôs o nome de S. Belchior, e sua fortificação (tudo feito por CAETANO JOSÉ NOZOLINI).
«É verdade que Nosolini tem outros gatos mais caros e mais perigosos para espantar: a 29 de Novembro de 1847, a tripulação de um brigue britânico arrebatou sete criados (ler: escravos) a sua esposa, a Nhánha Aurélia Correia, em Bolama, para os «libertam em Serra
Leoa. Em Lisboa, o Ministério desconfia desde muito tempo de Nosolini, quanto ao qual já não há ilusões mas, à falta de pessoal mais idóneo, deixam-no ao leme de Bissau. Como homem dos mais subtis, sempre ele sabe, aliás, tomar medidas quando a sua situação parece um tanto cambaleante. A 4 de Abril de 1848, tal como muitos dos seus antecessores, comprou uma ponta de seis léguas por três ao régulo de Gole (Goli, Golli ou Golles), na margem direita do rio Geba. Fortifica-a (três peças de artilharia), baptiza-a «São Belchior» (14) e pretende que ela impedirá os Biafadas de interromper o trânsito pelo
Geba. Parece tratar-se ali do resultado mais tangível da presença da sua goleta armada enviada, no começo de 1847, para o rio Geba. 20 soldados são, pois, colocados em terra em São Belchior, para vigiar a navegação que tem de se efectuar com um salvo-conduto. É o velho mare clausum portugs aplicado ao rio. Na margem esquerda, em Xime, obtém igualmente (8 de Abril de 1848) uma cessão de território à Coroa. De facto, somos levados a crer que Caetano José Nosolini procura, acima de tudo, fazer do rio Geba e do Corubal, os «seurios pois que, recordêmo-lo, ele é governador interino de Bissau, senhor da «comporta» governamental de São Belchior e propõe um dos seus devotados oficiais para o posto de comandante de Geba. A seu crédito, se estabelecerá, contudo, o facto de que, quando transmitir os poderes, em Bissau, ao seu sucessor, no início de Janeiro de 1849, deixará um aquartelamento de pedra para 150 homens. Que as obras, confiadas a um dos seus compadres, continuam por pagar, pela metrópole, não é assunto seu. Assunto seu é o comércio e o arrecadar dos direitos de alfândega e dos impostos da Guiné. Ele o recuperará, portanto, e o conservará até à sua morte, que vai ser muito próxima (11 de Julho de 1850, em Cabo Verde) (15).
(14) De notar que, no mapa de 1923, a localização de Gole é a 15 km a sudoeste de o Belchior, estando a região de Xi me na outra margem, à entrada do estrangulamento do rio Geba.
(15) Curiosamente, a carreira de Nosolini recebe um tratamento relativamente pormenorizado num livro onde não se esperava vê-la figurar com tanta importància. Rosemary E. Galli & Jocelyn Jones: Guinea-Bissau. Politics, Economics and Society. Londres, 1987, pp. 22-24. Este texto, que é uma vibrante defesa do camponês guineense face aos aparelhos e às opressões citadinas, contém igualmente um pequeno estudo da sociedade crioula até aos anos de 1920.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 110-111
1848/05/13
«João Fontes Pereira de Melo - nomeado pela segunda vez em 13 de Maio de 1848, tomou conta do cargo em 26 de J unho. Por carta de lei de 6 de Julho de 1849, foi declarada livr'e a apanha da urzela, ficando apenas sujeita aos .direitos da exportação 1$400 réis por quintal para os portos estrangeiros e de metade, para o território nacional. nesse tempo a urzela deixara de ter procura e preço nos mercados europeus. Por seu lado a população de Cabo Verde dedicava-se à cultura da purgueira e caféJoão Barreto
1848/08/08

O Governador de Cacheu tendo recebido do comandante militar de Ziguinchor informações sobre as ameaças do residente francês do Selho, declarou que de modo algum se abandonaria a ocupação de Jagubel, ponto cedido espontaneamente aos portugueses pelos gentios, e que era objecto de disputa por ser ali muito importante o comércio de sal.
1848/08/09
O governador geral Noronha não occultava a pouca sympalia que tinha a Honorio Barreto, que era muito considerado pelos ministros e antigos governadores.
Em officio de 16 de junho de 1848 para o ministerio estranhara aquelle que este se correspondesse directamente com o ministro, sem llle enviar cópia d'essa correspondencia, como estava determinado, e o accusava de ter mandado fuzilar um cabo da bateria de Cacheu.
Este cabo tentou assassinar Honorio, quando este governava interinamente Cacheu e por isso, sem formulas de processo, condemnou-o á morte, sendo a sentença logo executada.
O governador geral, em 9 de agosto de 1848, deu conta ao ministro de um officio que recebeu do governador interino de Bissau, Caetano José Nozolini , de 14 de abril, sobre os acontecimentos que ali, nesse mes, tinha havido, e dos serviços tambem por elle prestados, chamando os grumetes de Geba á obediencia, estabelecendo para isso no territorio do Golles, no sitio das Duas Palmeiras, a nossa auctoridade, ponto importante que conseguiu have-lo do regulo mediante um presente; mandou ali fazer uma fortificação e lançou os alicerces para quartel do destacamento e casa para o commandante do mesmo. Deu Nozolini o nome de S. Belchior a esse forte, o que foi approvado pelo governador geral.
Dizia o governador de Bissau: que tinha partido a 2 de abril para o rio de Geba afim de escolher o local mais proprio para levantar um forte, para assim chamar á obedieucia o povo de Geba e evitar, do futuro, que os Beafares fechassem o rio ou prohibissem a communicação com Geba.
Cedido á corôa o sitio das Duas Palmeiras, mandou limpar o matto e colocou sobre uma eminenciá tres peças de artilharia para defesa do rio e do referido local ; para este serviço levou para ali um destacamento, que começou a fazer o seu quartel. Contava, em breve, mandar para ali pedreiros e utensílios para aperfeiçoar o forte, embora o local escolhido fosse , pela sua situacão, uma fortaleza.
O gentio nunca resolve as suas contendas senão depois de um prévio ajuntamento do Grandes e do povo, que decreta o que se deve fazer: o qual o o nome tle Palavra; esta era frequentemente usada em Geba, entre os gentio de Badora (Beafares) quando julgavam necessario fechar o rio, e para o abrirem era preciso grandes dadivas dos cofres de Fazenda que importavam em mai de 2:000$000 réis.
Com taes medidas adaptadas entregou este gentio parle dos roubos que fizera em Ganjarra, promettendo entregar o resto.
Em S. Belchior deixou ao commandante 20 praças de pret e duas canôas tripuladas para, em caso de necessidade, tomarem qualquer embarcação que pretendesse passar no rio sem pas aporte e sem receber o passe.
De S. Belchior seguiu Nozolini para o sitio do Chime, onde se demorou dois dias, para tratar com a fidalga governante d'aquelle ponto, que se apresentou a bordo, para ceder á corôa uma parte d'esse territorio afim de ali se estabelecerem alguns negociantes; concordou-se n'isso recebendo ella um pequeno presente.
Em 6 de novembro de 1848 sollicitou o governador geral, a pedido do governador interino da· Guiné, Nozolini, a promoção, ao posto de capitão, do tenente Victor Jorge, que no rio de Geba e a bordo da escuna mercante Rosa, durante 11 meses, estacionou no porto de Chime, onde prestou bons serviços contra os gentios Beafares e outros; e tendo sollicitado Nozolini que esse official fosse nomeado governador de Geba e do forte de S. Belchior, não concordou o governador geral, com essa proposta, por isso que entendia que os officiaes que governavam taes presídios deviam ser nomeados pelo governador de Bissau e escolhidos entre os que mais confiança lhe merecesse.
A informação da competente repartição do ministerio ao ministro deixava vêr que Nozolini não estava bem cotado no reino. Do governador Noronha recebia elle, constantemente, provas da maior consideração e ilimitada confiança. Embora fosse com a mira no interesse, é inegavel que Caetano Nozolini prestou na Guiné bons serviços ao país; no ministerio, porém, havia informações que lhe eram desfavoraveis, especialmente porque o acusaram de traficar em escravos.
A ínformação referida dizia:
«Funda-se a proposta na informação dada pelo governador interino de Bissau, Caetano José Nozolini, o qual não só o lembra para ser promovido a capitão, mas tambem o propõe para governador de Geba e do forte de S. Belchior.
Allega o governador de Bissau os grandes serviços feitos por este oflicial, destacado onze meses a bordo de uma escuna estacionada no interior , do Rio de Geba.
Se o governador de Bissau fosse outro, e de confiança, mereceria muita consideração o serviço mencionado; mas sendo quem fez a recomendação Caetano José Nozolini, pode quasi ter-se a certeza de que o grande serviço tem sido feito ao mesmo Nozolini na qualidade de negociante, e parece talvez pouco prudente fazer uma nomeação sobre recommendação de Nozolini, quando ainda não ha informações circumstanciadas respectivamente ao estado de Geba, que vulgarmente se diz achar-se em estado de insurreição ou desobediencia por culpa da auctoridade de Bissau». Apesar disso foi promovido a capitão o tenente Victor Jorge.
A Junta da Fazenda, em 11 de janeiro de 1849. remettendo para o ministério a correspondencia que o governador interino de Bissau, Caetano José Nozolini, lhe dirigiu em 25 de novembro de 1848: dando-lhe conta de se terem concluído as obras do quartel militar d'aquella Praça, conforme o contrato ceJebrado em 15 de fevereiro de 1.847 com Macedo & c.a, solicitou do ministro da marinha o respectivo pagamento dos saques sobre a pagadoria de marinha, por não ter a Provincia meios para fazer face ás suas despesas; quando mais não fosse ao menos dos saques destinados a satisfazer obrigões contrahidas porcontractos.
O governador referido, de Bissau, informou que o quartel estava prompto e occupado pela tropa; que ficou o melhor possível, todo feito de pedra e cal, com bons vigamentos. de madeira, coberto de asphalto, ladrilhado com lagedo que havia na Praça ; tinha tarimbas de casqninba, uma boa e grande arrecadação e quarto para o sargento; o quartel podia accommodar 150 praças á vontade.
Faltava fazer a cozinha e rebocar o quartel por fora,
A casa Macedo & C. ª estava desembolsada das sommas que despendeu para edificar aquelle quartel; a Junt.a de Fazenda da Província adiantou 1:000$000 réis em uma letra sobre a Contadoria de Marinha, a qual foi protestada e por isso a firma Macedo & C. ª suspendeu os trabalhos, que continuaram sob a responsabilidade do governador interino Nozolini, que sa embolsaria no caso do governo pôr duvidas ou retardasse o pagamento.
A Repartição Central do Ministerio da Marinha informou como devia ao titular da respectiva pasta e por forma tal que não seria para estranhar-se, alem da indispensavel Qensura, fossem obrigado a pagar taes despesas quem a ellas deu causa. Dizia a informação;
. «A Junta da Fazenda de Cabo Verde deu conta de que tendo contratado (em 15 de fevereiro de 1847) com Macedo & C.ª (de Bissau) a construção de um quartel para a tropa, naquella praça, se obrigara a pagar-lhe em letras sobre a pagadoria da marinha. Que· tendo-lhe dado a primeira, e como esta o fosse paga, aquella casa recusara tomar outras em pagamento: e nesta circunstancia pediu para que o governo não deixasse de pagar as letras que ella sacasse em virtude de contratos. Invoca-o credito publico, e não sei que mais, que não vem ao caso» .
Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte V, pgs. 124-127, Lisboa, 1911
1849
☻ JOSE BENTO GOMES aparece como urn notavel de Ziguinchor em 1849.
Mas em 1849, o novo almany Oumar, desejoso de vingar a incursão de Manda, proclamou a guerra santa e mobilizou um exército de seis mil homens, incluindo uma numerosa cavalaria de mais de três mil cavalos. A batalha de Bérékolon concluiu-se ao fim de cinco dias com a vitória peul, mas estes, consideravelmente enfraquecidos, retornaram ao Fouta com menos de metade dos efectivos.
☻ A segunda filha de CAETANO NOZOLINI e Mãe Aurélia, Leopoldina, casou com Adolphe Demay, um comerciante franco-africano de Gorée que se estabelecera em Bissau nos finais dos  anos 40. A residência de Demay em Bissau reflectia os tempos de mudança. Protegido por barcos de guerra franceses, os comerciantes franceses, franco-africanos e senegaleses fizeram incursões cada vez maiores no comércio luso-africano e caboverdiano no rio Casamansa e no sul ao lonogo da Costa Alta da Guiné. A intimidação e a violência como meio de eliminar comerciantes rivais não eram posssíveis após o assassínio de Dumaigne em 1835, de modo que Mãe Aurélia, Nozolini e Leopoldina devem ter decidido que os interesses da família seriam melhor servidos pela tradicional estratégia proprietario africano-estrangelro de co-optarem por um comerciante estrangeiro hábil através de uma aliança matrimonial.
Apesar do casamento de Leopoldina com Demay ter sido por conveniência, o comércio   de Demay prosperou, e pode-se supor que os de Leopoldina também foram bem servidos. Dos bens de Leopoldina não era de desprezar a herança que recebera de seu pai, o estabelecimento comercial e os privilégios comerciais exclusivos no  rio Corubal (Nozolini obteve estes últimos em 1843 do régulo biafada). Além do comércio em Bissau e no rio Corubal, Demay  tinha uma feitoria denominada «Monte Napoleão» no rio Grande, também parte da esfera comercial de Mãe Aurélia e Nozolini. Demay desempenhou urn papel importante para os interesses comerclals franceses e senegaleses nos anos 50 e 60, facultando relatóros sobre o comércio e outros assuntos aos oficiais da marinha francesa e aos funcionários coloniais do Senegal, e por varios anos na decada de 50 actuou como agente comercial para o cônsul americano na Praia, nas ilhas de Cabo Verde
1849/01/24
Tomou posse do governo de Bissau o major Carlos Maximiliano de Sousa em 24 de janeiro de 1849.
Deu-Ihe posse o governador interino Caetano José Nozolini, que foi elogiado pelo seu successor pelos bons serviços que prestou á Praça, entre os quaes o donativo que fez de todos os objectos necessarios para vestir o destacamento, que se achava em miseravel estado, por falta de pagamento de massas, havia dois annos, e por concluir o quartel militar, feito com muita solidez e em condições de poder receber o dobro da guarnição.
1849/06/16
No anno de 1849 deram-se varios conflictos entre o Governador de Cacheu JoXavier Crato e autoridades francesas do Senegal por causa do rio Casamansa os quaes ficariam ignorados se a Cacheu não tivesse passado a Commisão para inspeccionar essa Praça.
O tenente-coronel commandante militar de Zeguichor, Francisco de Carvalho Alvarenga em officio de 16 de junho para o governador de Cacheu alude á representação que lhe foi dirigida pelo patrão de uma embarcação portuguesa que foi a Sejo para vender ai e que ali fora obrigado a pagar um imposto, (taxa) por um mouro (mandinga) e que esse imposto havia sido mandado cobrar por um francês ali colocado como capitão commandante do estabelecimento frans de Casamansa, V. Doyer, a titulo de ser antigo costume dos habitantes de Sejo; e uma vez que elle tinha feito aos portugueses abandonar aquelle ponto e, posto outros habitadores qne precisavam reconstruir suas casas, era forçoso que se renovasse aquelle imposto.
Em 8 de junho o commandante de Zeguichor deu conhecimento d'este facto ao governador de Cacheu que, em 11 mandou uma nota ao commandanle frans lastimando tal procedimento exercido em terrilorio que pertence a Portugal. Em 17 de junho respondeu V. Doyer: «Deverá saber que o Governo não pode responder por um acto que por elle não foi commettido e por franceses, e de que a autoridade não possue conhecimento».
Tambem outra nota foi dirigida ao Governador da Gono referido dia 11, tendo o de Cacheu recommendado muito ao commandante de Zeguichor que expedisse um expresso para que as respostas não demorassem.
Bem interessante foi o que depois se seguiu, e que foi relatado ao Governador de Cacheu pelo commandante dé Zeguichor em officio de 16 de junho. Que no dia 10 do referido mez de junho fundeou uma embarcação no porto de Zeguichor, trazendo a bordo o commandante do Sejo; que este a elle se dirigiu, pedindo-lhe para o informar por que razão havia mandado retirar uma chalupa franceza que tinha ido a Jagubel comprar sal. Respondeu-lhe que em cumprimento das ordens do Governador de Cacheu ou de um tratado que tínhamos com aquelle feito em 1844 por Honorio Pereira Barreto. Mostrando-lhe o tratado disse: que não era aquillo mais do que uma convenção feita com aquelles gentios e que Portugal não tinha o direito exclusivo d'aquelle ponto para fazer retirar qualquer embarcação estrangeira, que não era tratado approvado pelo Governo Supremo com reconhecimento das nações estrangeiras e por isso não reconhecia aquelle ponto como português; que, então toda a vez que alli fosse qualquer embarcação francesa e que a mandassem retirar, que elle viria a Zeguichor, com um navio de guerra para a abandonar e tomar o Presidio. Interrogou-o Carvalho Alvarenga se tinha sido elle quem autorizára os mandingas a cobrar ás canôas portuguesas um imposto quando fossem a Sejo commerciar e como respondesse affirmativamente perguntou-lhe sobre quaes princípios se fundava para que tal imposto se cobrasse, respondendo com evasivas.
O certo é que o commaudante de Zeguicbor, Alvarenga, acompanhou o seu protesto para o Governador de Cacbeu em 27 de junho, com declarações de José Bento Gomes, Pedro Dave e Gregorio JoDomingues, como testemunhas presenciaes das brutaes ameaças de V. Doyer.
O Governador de Cacheu protestou contra taes ameaças para· o Governàdor do Senegal e commandante de Goré.
O commandante do Sejo, em 30 de julho, em nome do Governador de Senegal e Dependencias, respondendo á nota ou protesto, preveniu o comandante de Zeguichor, que elle seria forçado a retirar a bandeira e soldados do rio de Jagubel se impedisse o commercio de sal aos navios franceses. Terminava a nota com a seguinte ameaça; Tenho ordem formal de ir ali pessoalmente tirar a sua bandeira e seus soldados; rogo-lhe me evie este desgosto.
Em 31 de julho, o capitão de fragata, commandante particular da ilha de Goré, respondia á nota do Governador de Cacheu de 11i de junho, abordando os dois pontos : tributo lançado em Sejo (Sedhiou) ás embarcações portuguesas que ali iam commerciar e prohibição de negociar á francesas. em Jagubel.
Quanto ao primeiro ponto diz que nenhuma responsabilidade cabe ao official francês, commandanle do forte de Sedhiou, da canoas serem prohibidas pelos mandigas, das vizinhanças d'aquelle forte, commerciarem sem pagamento de um tributo, que era de costume antigo, e ainda do tempo de uma parte dos soniqueses terem sido d'alli expulsos pelo referido efficial.
Quanto ao segundo communicava-lhe ter recebido uma reclamação contra a prohibição das embarcações francesas irem a Jagubel a commerciar em sal; que esta prohibição inacceitavel pelo Governador do Senegal e Dependencias a manter-se pelo commandante de Zeguichor, levaria aquelle governador a exigir do de Cabo Yerde uma reparação completa por um tal acto de brutalidade.
O commandante militar de Zeguichor officiou ao Governador de Cacheu em 4 de agosto sobre as ameaças do residente em Sejo; enviou-lhe a nota original d'este residente e pediu-lhe instrucções do modo como devia proceder .
Em 8 de agosto accusando a recepção dessa correspondencia disse-lhe: de maneira alguma podemos ou devemos abandonar aquelle ponto que é nosso e que nos foi cedido expontaneamente pelos Gentios, donos d ri e terreuo Pelo officio junto V. Sverá qual é a minha resolução; e ent- J depois de os lêr os fechará, e remetterá a seu destino. Sebom que Y. .ª previna os Gentios d'aquellas paragens sobre o brutal procedimento que intentam praticar os franceses, instigados sem duvida por esse miseraveis qae se intitulam commerciantes do Sejo, e que o bom acolhimento recebem nesse Presidio.
Deus Guarde a Y. .ª
(a) JoXavier Crato Governador
Em 19 d'agosto communicou o commandante de Zeguichor ao Governador de Cacheu ter unido os gentios de Jagubel e Assinhame protestando estes a sua fidelidade a Portugal e que a bandeira portuguesa ·não seria arriada pelos franceses.
O Governador de Cacbeu, Crato, respondeu ao otlicial frances residente no Sejo á nota que dirigiu ao commandante de Zeguichor.
Ill.mo Sr.
Tenho á vista o officio que Y. com data de 30 de julho ultimo, em que communica ao commandante de Zeguichor a ordem que V. S.ª recebeu do Governador de Senegal, ordem que eu não quero classificar; a nossa bandeira fluctua no rio de Jagubel e A ·iohame em virtude de um tratado livremente feito com o gentio dono d"aquelle rio e terreno, e com approvação do Governo de Sua Majestade, e portanto não hei-de remover aquella bandeira só para agradar a V. S.ª ou ao Governador de Senegal. Rogo a V. S.ª por sua dignidade pessoal e ainda mais pela dignidade da Nação a que pertence que se o abaixe a fazer ameaças brutaes ao ponto de Zeguichor porque eu desprezo soberanamente taes ameaças pelas quaes desde já protesto perante meu Governo, que não deixará de reclamar ao Governo Francês, qne é justa a satisfação das injurias que V. S. ª tem feito ao Presidio de Zeguichor; ainda que eu conheça que V. S.ª leima, não concebe, nem pode conceber razões de justiça, comtudo remetto junto as copias ~os tratados que temos com os gentios de Assinham.e e Jagubel, e V. S.ª verá que temos direito fundado naquele rio e terreno e não como V. S. ª pensa, ou lhe informaram os estúpidos commerciantes que habitam esse ponto. Dirijo ao Governador do Senegal um officio e protesto a este respeito.
8 d'agoslo de 1849
Deus Guarde a V. Ex.ª
José Xavier Crato
Na mesma data enviou a seguinte nota ao Governador de Senegal.
m.mo e Ex.mo r.
Não posso deixar de leYar á presenç.a de Y. Ex.a. . e!xas, as mais amargas, contra a brutalidade do official fran' res~"'t:nt.:'> em Sejo, o qual tem insultado o Presidio de Zeguichor porque conhece exactamente sua fraqueza ; a generosidade bem conhecida da :\ação Portugue a não permitte que seus cidadãos, despresando a justiça, attendam ao direito da força. Ultimamente o dito otlicial dirigiu uma ordem ao cornmandante de Zeguicbor para abandonar um ponto que nós comprámos aos gentios por um tratado pelo menos tão valido como os que os franceses tem feito com diversos gentios e d'onde lhes vem o direito de repellirem de taes pontos, os Ingleses; cobriram-se com o nome de Y. Ex.ª para dar ordem, mas eu não posso crer que Y. Ex.ª seja tão ignorante que assinasse ordem para ser executada pelo mmandante de Zeguichor que embora feita a uma não pequena, porem que e independente, o dito official de sorte informa mal a V. Ex.ª sobre a po · ~e du· portugueses no rio e no terreno de ssinhame e Jagubel; para abreYiar toda a questões remetto a Y. Ex.'1 copias antenticas dos tratados que existem entre s e os gentios. Porém como é de rnppôr que o official fra ncti~ em ejo. pela sua crassa ignorancia, não entenda o direito das Gentes e que 11 ·eira fazer um insulto á nossa bandei ra naquellas paragens, i nsulto~ · 'evi o...., á nossa fraqueza, desde já protesto perante V. Ex.ª e perante o mur:.1 elo mais brutal e mais injusto insullo que se tem feito a ação alguma: e espero que a Republica Francesa conhecerá a rao e a justiça do meu G '\"erno.
8 de agosto de 1849 Deus Guarde a Y. Ex.ª
Jru · J:arier Crato.
O Gornrnador do Senegal em datas de 20 e ~ de setembro accusou ao Governador de Cacheu as copias dos !ralados feitos com o ~ genlios do Jagubel e Assinhame e a reclamação contra o commandante militar de Sedhiou (Sejo).
Não considerou taes tratados como documento -.1ne g-aranti ·em os direitos de Portu gal naquelles pontos de C asaman~a; increpou o commandante militar de Zegu ichor que quis prender e maltratar o palrãí' Ia embarcação francesa, que eslava coberto pela bandeira d'esta não: e admirou- e do governador Crato accusar tão violentamente o official commandante de Sedhiou que era duma patente superior á sua e provavelmente mais instruido, não só sobre o direi lo das Gentes mas ainda sobre outras cvnsas; protestou contra o íacto de não ter sido permittido o livre commercio em Jagubel) onde sempre o foi, e contra o inqualificavel insulto feit1 ao c.:omm;indante do Casaman a a quem a bandeira francesa não pôde proteger da brutalidade do residente de Zegnichor e ainda contra a conduta do Governador Crato que approvou·lhe os os seuE acto .
Em 20 de novembro de 1844 terminou et;la triste contenda provocaua pelas autoridade france::as que já dominavam a margem direita do Casamansa e procuraHm annular o nosso commercio indispondo o gentio contra nós.
Naquela data o governador omc1on ao do Senegal accusando·ll1e os seus officio de 20 e 28 nos seguintes termos : Pondo de parte tudo quanto v. Ex.ª se abaL\ou a dizer contra mim e contra o commandante íle Zeguichor, tratarei de respond er ao qne diz respeito ao serviço, deixando a V. Exa gloria de me ter insultado gratuitamente em correspondencia official. Logo que recebi este officio de V. Ex,ª enviei um expresso ao commandanle de Zeguichor para me informar sobre a accusação grave que V. Ex.ª fundado, nas informações que lhe deu o capitão do navio Casamansa do mesmQ comandante de Zegnicbor, recebi a resposta que incluso p'or copia .
Julgo que V. Ex.ª não dmidarã da honra e lealdade d'aquelle commandante, pois é bem conhecido pelos differentes negociantes franceses que habitam Goré e Senegal, e então conhecerá que o capitão do Casamansa faltou á verdade nas declarações que fez ao Governo. Vê-se pela sua participação, que mandou o Delegâdo fiscal, acompanhado de um unico soldado, com ordem de fazer retirar a embarcação que se achava em lagubel; e este empregado encontrou o patrão Mamadi ter acabado de fazer o seu negocio1 devendo-se retil'ar para Sejo onde era seu destino. Infallivelmente devia passar por Zeguicbor
e não foi a isso obrigado como elle disse, e foi então nesta ocasião que o commandante de Zeguichor lhe declarou qne então tornasse a ir a Jagubel, sob pena de ser sua embarcaç.ão tomada. Não o ameaçou; nem o podia ameaçar com açoites porque e r ca tigo é prohibido entre s pela Carta Constitucional da Monarchia Portuguesa. São egualmente fal sas as informa ções que V. Ex.ª teve sobre as embarcações estrangeiras irem sempre negociar ao porto de Jagubel. Pode Y. ~.ª perguntar a todos os patrões das embarcações d.o seu Governo, se já entraram naqnelle porto. A cha!upa Casamansa foi a primeira e a unica embarcação que ali entrou. E então que prejuízo poderiam os tratados causar a nel:locio francê ~ ? O tratados feitos com os gentios de Jagubel e As inhame Ii1lr um patrii tiro e não caprichoso negociante, foram por este offerecid ~ ao Governo de aa )1agestade que se dignou acceitá-los em Portaria de 5 d·ago to de 184.5, e P.ortanto os terrenos e direitos ahi declarados pertencem hoje á Nação Portuguesa e não a um partirular. Creio ter mostrado que a ollensa que V. Exdiz feita á bandeira francesa não existe. O commandante de Zeguichor pede no seu officio que se tire uma informação sobre se~ procedimento; então bem desejava eu que V. Ex.ª se dignasse exigir do patrão Mamadi uma nota das pessoas qne ouvissem da ·boca do mesmo commandante o ameaço de açoites. Pois á vista da negação do referido commandante não posso dar credito á informação verdadeiramente caprichosa do patrão Mamadi. Pois que credito pode merecer um patrão, que havendo carregado seu navio em Jagubel, ponto este abaixo de Zeguichor, se queixou de o haverem arrastado até aquelle estabelecimento por onde devia infallivelmente passar para Sejo ? O commandante de Zegnichor é um bomem sisudo, prudente e honrado, e jamais seria capaz de negar o qne ti'resse dito ou obrado ainda que fosse contra a Lei e direito das Gentes; nem eu negaria dar uma satisfação se o facto fosse verdade, mas o pos o e nem devo reprehender um empregado honrado, pela simples declaração de seu patrão, que já conho que deixou de fallar a verdade, asseveverando que o levaram á força até Zeguichor quando elle depois de carregado se destinava a .:iejo. Rogo a V. Ex.ª que livre de toda a prevenção e a sangue frio me ajnde· a conhecer a verdade, exigindo, como disse, do patrão Mamadi a nota das pessoas, que assistiram ao ameaço que diz, lhe fez o comandante de Zeguichor. Permitia-me V. Ex.ª que note uma contradicção entre seus dois officios. No officio de 20 de setembro diz V. Ex.ª que vae submetter ao Chefe do seu Governo este n~gocio; em seu officio de 28 de rntembro diz que seu Governo tem mais a fazer do que pensar nos fortins do Sejo, Zeguichor e Cacheu ;. e outro tanto não direi eu do meu Governo que se presta de boa vontade, movido só por justiça, a dar uma satisfa ção ainda mesmo nos obj ectos mais insignificantes. Apesar do que V. Ex.ª diz, estou certo que o Governo Francf>s, visto a sua lealdade e cavalheirismo, não se negará a dar aquella satisfação que a justiça exigir. Deixo de responder a tudo quanto diz respeito ao official francés qne reside no Sejo.
Cacheu, 20 de novembro de 1844.
Deus Guarde a V. Ex
(a) JoXavier Crato.
Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte V, pgs. 168-174, Lisboa, 1911
1849/10/31
Por portaria régia de 31 d'oulubro 1849 foi encarregado da direcção de todos os trabalhos publicos de Cacheu, Farim e Zeguichor, Honorio Pereira Barreto, quando não fosse, determinadamente, incumbido ao official engenheiro da Província.
Em 13 de junho de 1850 remetteu Honorio Barreto ao ministro as contas do corte de madeiras em Cacheu; sacou contra o pagador da marinha o pagamento de 2: 127$927 réis de despesas com aquelle corte.
1850
«Em tempo de D. Pedro foi creada a companhia de Cacheu e Cabo Verde; e esta cuidou logo do trafico de escravos, mandando arrematar no concelho das índias, em Castella, o contrato de escravos na Nova Hespanha «obrigando-se a introduzir alli dez «mil toneladas de negros,—reputada a tonelada «em três peças —no decurso de seis annos e oito «mezes». Eram muitos os favores e privilégios concedidos a esla companhia; mas os seus vícios de origem, e a natureza das suas transacções, tornaram a sua influencia funesta para a Guiné.»
ESTUDOS SOBRE AS PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS POR JOÃO DE ANDRADE CORVO Volume I LISBOA POR ORDEM E NA TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS 1883, p. 91
A introducção da mancarra nas ilhas de Cabo Verde é um beneficio que seus habitantes têem a agradecer ao sr. JOÃO GOMES BARBOSA, da ilha do Fogo, que em 1850 mandou buscar a Bissau, na Guiné, uns poucos de alqueires, que distribuiu a algumas pessoas, e semeou nas suas fazendas, recommendando a sua cultura e dando o exemplo, fazendo ver as vantagens que se poderiam obter; e apesar da repugnancia que quasi sempre encontram todas as novas culturas, cooseo;
☻ AS FORTALEZAS DE NISSAU, por N. Valdez dos Santos, Mj. Inf.
A primeira fortaleza de Bissau teve, como origem, um acto de pirataria de três navios franceses cuja tripulação pretendeu construir, num local da embocadura do rio Geba já então regularmente frequentado por comerciantes portugueses· um forte que lhes protegesse a feitoria e porto que ali queriam edificar.
Através de ofertas ao régulo papel da região, de nome Bacampolco, conseguiram os nossos negociantes que fosse negada aos estrangeiros a pretendida edificação, sendo aqueles obrigados, pelos indígenas, a embarcar os materiais de construção que já tinham colocado em terra.
Certamente que este acontecimento foi comunicado ao Rei de Portugal, porque D. Pedro II se apressou, por intermédio do governador de Cabo Verde, a enviar ao régulo Bacampolco régios presentes, que foram agradecidos por uma carta, datada de 4 de Abril de 1687, na qual também se comunicava que os portugueses poderiam, à vontade, construir no porto de Bissau uma fortaleza.
Ante esta concessão, o primeiro capitão-mor de Cacheu, António de Barros Bezerra, logo enviou Manuel Teles, com alguns soldados e duas peças, para garantir a autoridade portuguesa naquele local e iniciar a construção de um posto militar, que seria o núcleo de uma futura fortaleza.
Para a construção do «forte e outras despesas» foram enviados, de Lisboa, 6.000$000 réls, mas, ao que parece, esta quantia foi absorvida noutros gastos da Província de Cabo Verde e Guiné.
Em Lisboa, no dia 21 de Dezembro de 1695, publicou-se um decreto autorizando o Conselho Ultramarino a encarregar a Companhia de Cacheu e Cabo Verde, recém  formada, da «administração da fábrica da fortaleza de N.a S.a da Conceicão de Bissau» (CHRISTIANO JOSE DE SENNA BARCELOS, Subsidlos paras história de Cabo Verde e Guiné. II. p. 114.).
Meses depois, a 7 de Março de 1696, o Rei confirmou este decreto e, a 17 do mesmomês, o Conde de Alvor, como presidente do Conselho Ultramarino, e Gaspar de Andrade,como administrador-geral da Companhia, assinaram (ibid.p. 123. ). o respectivo contrato paraa construção da fortaleza.
Jâ, em 23 de Fevereiro de 1696, o engenheiro das fortificacões do Alentejo. João Coutinho, com a função de Capitão de Engenharia de Cabo Verde e Guiné, ganhando25$000 réis por mês, tinha sido nomeado para dirigir a construção de um forte em Bissau.Após uma curta paragem pela ilha de Santiago, este engenheiro chegou ao seudestino, onde, Imediatamente, traçou um grandioso projecto para a fortaleza que pretendiaconstruir.
Este plano não mereceu a aprovação do Capitão José Pinheiro e do Bispo D.Vitoriano que pretendiam - certamente guiados pela experiência e conhecimento daGuiné - uma fortificação multo mais simples e modesta.
Em 26 de Agosto desse ano, uns escassos dois meses após a sua chegada, morreuo engenheiro João Coutinho e, ao que parece, com uma certa satisfacão do CapitãoJosé Pinheiro, pois este, num dos seus escritos, comentou que aquela morte «tinhasido uma providência, porque João Coutinho daria cabo de todos os cabedals, por querermeia Bissau por fortaleza.
O Capitão José Pinheiro desenhou, então, o projecto de um forte que se limitava a umsimples quadrado abaluartado, rodeado de uma cava.
Conforme Lopes de Lima(Ensaios sobre aestatístlca das Possessóes Portuguezas, Livro I. Parte II, p. 104), «desde 1690 a Companhia de Cacheu e Cabo Verde começou a fazer muito caso do porto de Bissau aonde em 1696 por mandado d'El·Reí D. Pedro IIse estabelleceu uma Feitoria Portugueza fortificada, e nesse mesmo tempo allí foi, levado pelo seu zelo apostolíco, o venerando Bispo D. Fr. Victoriano do Porto, o qual fez construir de pedra a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelarila e o Hospicio dos Capuchos, de que já há muito nem vestígios existem».
No dia 16 de Outubro de 1696, com arande solenidade e na presença do bispo D. Vitoriano da Costa, lançou-se a primeira pedra da futura fortaleza que, como a pequenina capela construída por Fr. José de Beque, ficava sob a proiecçao de N.a S.a da Conceição.Trabalhou-se, naquelas obras, com o mesmo afinco e titânico esforço que levou os portugueses de 1500 a espalharem pelo mundo os marcos lndestrutlvels da sua presença - as Fortalezas de Portugal. Assim, dos terrenos lateriticos das proximidades de Bissau.
Ao fim de suatro meses. as obras indispensáveis da fortaleza estavam prontas e, meioano depois do lançamento da primeira pedra - em Março de 1697 - El-Rei D. Pedro lI foiInformado pelo Capitão JOSÉ PINHEIRO DA CÂMARAque «a fortaleza era Importante paraaquella terra, com os seus 140 pés de cada comprimento; que faz em redondeza 560 pés,com 4 baluartes com suas pontas de diamante, dois para a banda do mar e dois para aterra; cada um deles pode levar 8 peças de artilharia, fora uma cortina para o mar entre osdois baluartes, que pode levar 12 peças».
Numa carta escrita um mês depois, a 17 de Abril, José Pinheiro dava a seguinte einteressante noticia (SENNA BARCELOS.Subsidios para a hlstôrla de Cabo Verde e Gulnê. U. p. 135.); "··· a fortaleza de Sua Magestade fica em bom terreno, porque estas águas ficam já da banda de dentro, que lhe ffirmo a V. S.a que em Africa não tem Sua Magestade outro como ella porque todas teem falta d'agua e se valem de cisternas; e vendo eu que este gentio não tinha com que nos fazer mal que em tolher-nos a agua, me resolvi abrir um poço muito largo, que quiz a minha fortuna que com quatro braças e meia achei agua com abundancia e a melhor que tem hoje Bissau para beber, Isto dentro da fortaleza, que os mesmos gentios, vendo que abri agua, me pozeram de feiticeiro e ficaram com grande magoa.»
Muitos anos mais tarde, quase meio século depois, em ofício de 12 de Março de 1752, FRANCISCO ROQUE DE SOTTO MAYOR, capitão-mor de Cacheu, referiu-se a esta fortificação do seguinte modo: «Era a dila fortaleza eregida em hú pequeno tezo junto ao principal porto d'aquella ilha, regularmente feita, e nella montadas 18 ou 20 pessas de artilharia; seguia-se a fortificação de marinha, com sete ou outo baluartes, e em cada hü 4 ou 5 pessas (BEANARDINO ANTÓNIO ÂLVARES OE ANDRADE. Planta da Praça de Bissau e suas adjacentes, p. 73.)
Voltando à construção da fortaleza, as obras arrastaram-se por mais alguns anos, possivelmente em acabamentos e construções Internas para habitação das guarnições, além dos melhoramentos que a prática aconselharia.
Ao fim de suatro meses, as obras indispensáveis da fortaleza estavam prontas e, meio ano depois do lançamenlo da primeira pedra - em Março de 1697 - EI-Rei O. Pedro II foi Informado pelo Capitão JOSÉ PINHEIRO DA CÂMARA que «a fortaleza era Importante para aquella terra, com os seus 140 pés de cada comprimento; que faz em redondeza 560 pés, com 4 baluartes com suas pontas de diamante, dois para a banda do mar e dois para a terra; cada um deles pode levar 8 peças de artilharia, fora uma cortina para o mar entre os dois baluartes, que pode levar 12 peças».
Em Dezembro de 1697, dois patachos ingleses fundearam nas águas lodosas do Geba e pretenderam desembarcar vários produtos para transacções comerciais. O Capitão José Pinheiro não consentiu e intimou-os a abandonarem o porto, o que foi cumprido.
No entanto, este acto legítimo do Comandante da Praça de Bissau levou à primeira revolta dos indígenas da região, que, sob a chefla de um novo régulo, chamado lncinhate, cercaram a povoação, impedindo o reabastecimento de viveres.
O Capitão José Pinheiro viu-se na necessidade de pedir socorro aos moradores dasargens do Geba e ao capitão-mor de Cacheu VIDIGA! CASTANHO, que, prontamente,acorreu a Bissau com 92 soldados transportados em três lanchas.
Contactado o régulo rebelde, segundo o relatório de Vldlgal Castanho, datado de 21 de Março de 1698, este provou a sua amizade a Portugal e o seu consentimento para a permanência do forte. No entanto. queria, em troca. a substituição do Capitão-mor JOSÉ PINHEIRO DA CÂMARA e que lhe fosse pago o terreno onde se construíra a fortaleza, além de lhe ser garantido o livre comércio com a navegação estrangeira.
É de salientar a informação do Capitão Vidigal Castanho, referindo que «a fortaleza é de pequena capacidade, feita de pedra e terra; dizem os que entendem que promete pouca defesa».
Ainda nesse relatório, Vidigal Castanho Informava o Rei de Portugal que a maioria dos soldados da guarnição de Bissau linha desertado, pelo que deviam ser substituídos com urgencia.
De acordo com o orçamento económico referente ao ano de 1696-1697, a guarnição da Praça de Bissau seria constituída pelo Capitão-mor, um alferes ou tenente, um ajudante,um sargento, três cabos de esquadra, quarenta soldados, um tambor, um condestável e dois artilheiros, além de vários Indivíduos civis com funções burocráticas.
Em Janeiro de 1698, sendo presentes., além do Capltão-mor JOSÉ PINHEIRO e do capitão-tenente JOÃO DE ALMEIDA COIMBRA, os escrivães FRANCISCO LOURENÇO e JOSÉ CORREIA DE SÁ e o régulo lncinhate, seus acólitos e intérprete, foi lavrado, no Livro de Registo daAlfândega de Bissau, o auto da compra do terreno onde fora construída a fortaleza, adquorodo pela Importância de 300 barafulas, ou seja. 60$000 réis.
Precisamente um mês depois desta cerimónia, um novo episódio, relacionado com o comércio livre, provocou outra rebelião dos indígenas.
O comandante de uma nau holandesa, armada com 26 peças, sob o pretexto de comerciar com os nativos da região mas com a finalidade de formar, em território sob a nossa soberania, uma feitoria, fundeou nas águas do Geba. O comandante da fortaleza intimou o navio estrangeiro a levantar ferro e, como não fosse obedecido, atacou-o a tiro de canhão, obrigando-o a retirar-se.
No dia seguinte a fortaleza estava cercada e um emissário dos rebeldes Informou o Capitão-mor que «se continuasse na sua teimosia (o régulo), derrubaria as muralhas, cortando a cabeça aos moradores».
A paz só se conseguiu através de várias concessões, entre as quais a autorização de livre comércio e a substituição do Capltão-mor JOSÉ PINHEIRO DA CÃMARA pelo Capitão RODRIGUES DE OLIVEIRA FONSECA.
O régulo lncinhate, logo que viu satisfeitas as suas pretensões, escreveu a EI-Rei, em23 de Maio de 1698, agradecendo e pedindo novas concessões, que, em parte, foramatendidas.
Ao Iniciar-se o século XVIII, o Capltão-mor OLIVEIRA FONSECAteve um conflito com o gerente de uma firma francesa, estabelecida em Bissau.Esta desavença foi logo exploradapelos franceses, que, alegando razões sem fundamento, pretenderam construir nasmargens do Geba uma feitoria e um forte com vistas a aniquilarem o comércio e poderioportuguês em Bissau.
Assim, em 13 de Março de 1700, surgiu no porto de Bissau um navio de guerra francês, o Anna, ameaçando o seu comandante que desembarcaria 200 homens para garantir a manutenção dos direitos da firma da sua nacionalidade e salvaguarda dos seus concidadãos.
A semelhante arbitrariedade retorquiuOliveira Fonseca que impediria qualquerdesembarque e, acto continuo, mandou que os canhões da fortaleza fossem assestadossobre o navio estrangeiro. Como um dos princípios da guerra naval daquela êpoca era quepoderia bastar um só tiro de uma fortaleza para afundar um navioenquanto que nem cemtiros de um barco destruiriam uma fortificação, o comandante francês, ante a ameaça doscanhões portugueses, mudou de ideias. Assim, vendo que não poderia demover o CapitãoOliveira Fonseca, procurou aliciar os indigenas para que atacassem a fortaleza.
Não contou, porém, com a lealdade do régulo lncinhate, que, categoricamente, serecusou a trair a confiança que o Rei de Portugal depunha nele e nos seus súbditos.
Foi este o último episódio da fortaleza de N.aS.ada Conceição de Bissau.
Em 1707, o Capitão-mor de Cacheu, PAULO GOMES DE ABREU E LIMA, num relatóriosobre a Guiné e que hoje nos parece um tanto ou quanto mcompreensível. Afirmava queBissau era «terra muito ambicionada pelos franceses, que nessa ocasião empregavam osmaiores esforços para ali levantarem uma fortaleza e se tal conseguissem tornar-se-lamsenhores de toda a Guiné».No entanto. apesar destas sensatas afirmações. acabava por preconizar que a fortaleza de Bissau fosse arrasada.
D. João V, embebido com o sonho· das minas preciosas do Brasil, pura esimplesmente, em 5 de Dezembro de 1707, mandou demolir a fortaleza de N.aS.a da Conceição de Bissau, o que se realizou em 1708.
O Capitão-mor de Cacheu, FRANCISCO DE SOTTO-MAYOR, mais tarde, em 1752 (Ofício de 12 de Março. Vide ÁLVARES DE ANDRADE op. cil. p. 74.),explicava a decisão de D. João V da seguinte maneira:
«A causa de demolirce foram certas dífferenças que SANTOS VIDIGAL CASTANHO teve com o capitâo-mor da dita ilha RODRIGO DE OLIVEIRA DA FONSECA, sobre materia de mais ou menos interesses nos seus negócios».
Em breves dias foi demolida a fortaleza de N.aS,a da Conceição de Bissau, que representava não só 20 anos de soberania como também o sacrifício de muitas vidas deportugueses. A sua artilharia foi enviada para Cacheu, ficando abandonadas 6 peças quese consideraram Incapazes (Oficio de 12 de Março'. Vide ÁLVARES OE ANDRADE op. cit . p. 74.).
Assim, desapareceu a primeira fortaleza de Bissau, com grande descontentamento detodos os residentes da região, incluindo os próprios indígenas.Estes, através do seu régulo, recusaram sempre aos franceses as necessáriasautorizações para construirem, nas margens do Geba, uma feitoria e forte, alegando que«haviam dado aquele terreno ao Rei de Portugal e que não faltariam à sua palavra».
Apesar da insistência francesa e da lealdade dos papéis, os membros do Conselho Ultramarino, falando em nome do Rei, afirmavam em 1718, perante um pedido para a construçao de uma nova fortaleza, que: «Portugal não tinha meios para conservar e sustentar o presídio, e também pela inconstância dos negros e reis de Bissau, motivos por que linha EI-Rei mandado demoli-lo.»Em 1723, só devido ao naufrágio de um navio que transportava os materiais de construção, é que a França não viu realizadas as suas aspirações de ter a sua bandeira a flutuar aos ventos de Bissau, onde pretendia construir um forte à vivaforça, se necessário fosse.Talvez essa a razão de o Conselho Ultramarino, pouco tempo depois, ter emitido o parecer de«mandar-se reedifícar em Bissau a fortaleza que nella houve», mas o Procurador da Fazenda contrariou a ideia, alegando «não saberqual seja a utilidade que possamos tirar desta Ilha• (ct. ALVARES DE ANDRADE. ob. clr., p. 11.). Emais uma vez foi posta de parte a construção de uma nova fortificação.
No mês de Abril de 1739 dois navios franceses fundearam nas águas do Geba e asua tripulação procurou, por todos os meios, captar as boas graças dos nativos parapoderem construir a tão almejada feitoria e forte.No entanto, não foram felizes e, antes de se fazerem ao mar, ameaçaram que voltariam no ano seguinte e então, com a força dos seus canhões e das armas dosseus soldados, a bem ou a mal, construiriam uma fortaleza.
Numa carta escrita ao Capitâo-mor de Cacheu, e que posteriormente chegou ao conhecimento de D. João V, o régulo de Bissau declarava que «enquanto ele fosse vivo,jamais a França teria um forte nas suas terras». Mas também, ao que parece, enquanto D.João V existisse não haveria em Bissau qualquer fortaleza de Portugal.
Após a morte do régulo lncinhate, em 18 de Setembro de 1746, os franceses foram,autorizados, pelos nativos, a construir, no ilhéu do Reí. uma feitoria fortificada,mas,apesar disso, EI-Rei D. João V manteve a sua vontade, baseado no parecer do Procuradorda Fazenda, de que «não se devia levantar de novo a fortaleza»e apoiado na informação doConselho Ultramarino de que, para a sua construção, seria preciso mandar umengenheiro com patente de capltão-mor e promessa de que findos os trabalhos se lhedaria o governo de Cabo Verde, o que levava a excluir a ideia de uma nova fortaleza emBissau.
Após a morte de D. João V, o seu sucessor, D. José I, certamentecomo consequêncla do oficio de 12 de Março de 1752 do Capitão-mor FRANCISCO ROQUE SOTTOMAYORmandou, em Janeiro de 1753, uma pequena esauadra de quatronavios N.aS.adaGula e Santo António, Santa Margarida e Ventura de Amigo sob pavilhão do Capitão demar e guerra Guilherme Kinray, embarcado na nau de guerra Nossa Senhora da Estrela,com a missão de se construir em Bissau uma fortaleza (Ct. ALVARES de ANDRADE, ob. cit.p, 77.).
Esta seria planeada pelo Capitão-engenheiro FRANCISCO XAVIER PAIS DE MENEZES,tendo-lhe sido Indicado pelo Ministro da Marinha e Ultramar que: «verá V. Mercê a dita Ilha,tirará um plano della e fará o desenho da fortificação que n'ella se pode fazer, comdefensa, e sem muitas obras exteriores, e só assim aquellas precisas e necessárias para opoder pôr em execução quando o dito capitam-mor lhe disser que se pode executar».
Quando o régulo lncinhate mostrava o rmaior Interesse pela presença portuguesa noseu chão, o Rei D. João V opunha-se a essa ideia. Apôs a morte destes dois personagens,os papéis inverteram-se: o novo Rei de Portugal queria mandar edificar uma fortaleza emBissau e o novo Régulo papel de nome Palanca não queria, ou,pelo menos. não semostrava Interessado.
Embora contra a má vontade dos indígenas, em 17 de Fevereiro de 1753, .o réguloPalanca acabou por assinar "um auto de fidelidade a Portugal e de consentimento daconstrução de uma fortaleza”, cuja primeira pedra foi lançada, com grande solenidade,nesse mesmo dia.
Durante cerca de dois meses, muitas centenas de homens trabalharam afincadamentena construção da nova fortificação, lutando contra o mau clima da região e contra asconstantes intrigas com os nativos e, ao gue consta, nessas escaramuças morreram 9europeus e, vitimas do clima, cerca de 500 Indígenas e operários.
A22 de Março de 1753 as principais e indispensáveis obras de defesa estavam prontas, mas, oito anos depois, ainda se trabalhava na construção da fortaleza,desaparecendo, durante este espaço de tempo, as «pyramides com as armas reaes»enviadas de Lisboa a bordo da nau «Nossa Senhora da Estrela» e que tinham sidodesembarcadas em Bissau.
Talvez que a lentidão destes lrabalhos fosse motivada pela grande mortandadedos obreiros, vitimados pelo escorbuto, paludismo e febre-amarela - a que chamavamo «Vómito negro». As mortes chegaram a ultrapassar as dezenas por dia e, entre elas, contou-se a do Capilão-engenheiro Pais de Menezes, que planeou e deu Inicio à fortificação.
Em 16 de Novembro de 1753 foi atrlbuída a primeira guarnição à fortaleza, que ficousob o comando do Capltão-mor NICOLAU PINHEIRO DE ARAÚJOsubordinado à capitania-mor de Cacheu. O armamento atribuido nessa ocasião foi de 34 peças de artilharia – conformeSolto Mayor tinha solicitado em 1752 - que foram expedidas de Lisboa em Dezembro de1753. No entanto, em 22 de Março de 1776, o tenente ANTÓNIO ALYARES DE ANDRADE aosolicitar os «reparos para a artilharia que se acha descavalgada na dita praca de Bissau»faz pressupor que as peças existentes eram as seguintes: 12 de calibre 18, 12 de calibre12, 12 de calibre 6 (todas de ferro) e 6 peças colombrinas de bronze, das quais 3 de calibre3 e as outras de calibre 6 (Ct. ÁLVARES DE ANDRADE. ob. Clt., pp. 79 e 125).
Em Janeiro de 1754 a guarnição de Bissau recebeu uma leva de 50 soldados degredados de Cabo Verde, mas, passados quatro anos, estes estavam reduzidos a 20 – a maioria ttnha morrido e os outros desertaram.
Nessa ocasião, as obras concluídas em 1753 já ameaçavam ruína. Na falta de umtécnico responsável não só pela reconstrução como também pela conclusão da fortaleza,foi nomeado FREI MANUEL VINHAIS SARMENTO, que se limitou a mandar lazer algumas obras,provisórias e imperfeitas (CRISTIANO BARCELOS, III. ob. cit. P. 28, indica que “Frei Manuel V. Sarmento deu começo à reconstrução da fortaleza segundo um plano seu”).Em 19 de Julho de 1755, o ConselhoUltramarino, baseando-se numa carta do Capitão-mor de Bissau, NICOLAU DE PINA ARAÚJO,pronunciou-se que «para povoar e fortalecer aquela Ilha, era necessario hum engenheiro para delinear a fortificação e com elle olficiaes para executarem e gente para a guarnição».
Com a data de 15 de Junho de 1757, Frei Manuel Vinhais Sarmento escreveu(Transcrito no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. VI (1951) 979)a seguinte carta:"q. está isto em hü total dezamparo: as artelharias q. he a que só existe nestapraça estão arruinadas, mas não encravadas. som.te depois da morte do deflunto temos negros com gr.de ouzadia desmontado quasi todas quebrando carretas. e tlrandolheas ferrages chamando lhe suas, o que tinhão principiado antes que morresse o cap.m móroutras estavam em terra desde q. sahirão p' terra”.
A 13 de Maio de 1758, o Capltão-mor de Cacheu (Cf. ÁLVARES DE ANDRADE. ob. clt .. p. 82.)indicava para a corte de Lissboa que a direcção das obras da fortaleza devia ser entregue aoCapitão Anastácio Domlngos Pontes, pois era «sujeito em quem concorre o predicado deter bastante noticia da sciencia de fortificação e ser pratico d' estes países».
A situação da Fortaleza, caminhando rapidamente para uma ruína total, foi exposta aoRei D. José I, tendo, em 6 de Agosto de 1765, os moradores de Bissau solicitado a autorização para construírem uma nova fortifiicação a erigir «na ilha de Bissau ou no ilhéo que fica defronte».
E tão confiantes estavam na anuência realque encarregaram o Capitão·mor da ilha do Fogo,MANUEL GERMANO DA MATA- que se dizia engenheiro - de a planear, o que este fez,mas «tão irregularque, examinada por pessoas práticas do paiz,que foram sobre ella ouvidas, se assentou que não se devia mandar executar» ibid . p . 83.).
D. José I tomou medidas imediatas para que se abandonassem as obras em curso e,por sua resolução de 12 de Agosto de 1765, foi determinado que se construisse uma novafortaleza em Bissau.
Para isso, em fins desse ano, chegou aoporto de Santiago a corvetaNossa Senhorada Esperançacom ordem de arrebanhar, por todo o Cabo Verde e Guiné, os vadios e condenados por crimes comuns e levá-los para Bissau. Aqui, em regime de liberdade,trabalhariam nas obras da nova fortificação, recebendo um salário diário de 180 réis, alémda comida e uma ração de aguardente,na altura considerada essencial e indispensável naluta contra as febres palustres. Muitos anos mais tarde, em 13 de Abril de 1790, JoãoGomes Pereira apresentou ao Conselho Ultramarino a seguinte informação (cf. ALVARES DE ANDRADE, ob. Cit.p. 147.): «... (que) em 11 de Dezembro do dito ano (1765) remeti para Bissau na fragata NossaSenhora da Penha de França, e nas embarcações da Companhia que a acompanhavão com 720 criminosos com as suas espadas largas e zapaias multo luzentes.» Outros escritores reterem que o efectivo era formado por 270 vadios e criminosos, juntamente com 450 soldados retirados das 30 companhias que então existiam pela Província, além de 1 cirurgião, 25 cabos, 10pedreiros e 20 carpinteiros, sem contar o chefe da construção e o seu adjunto, respectivamente JOÃO DA COSTA ATAIDE TEIVE e Tenente degranadeiros BERNARDINO ÁLVARES DE ALMADA.
Este pessoal teria desembarcado em Bissau no dia 26 de Dezembro, tendo sidotransportado numa esquadra de cinco navios, sob o comando de Frei Luis Caetano de Castro com o cargo de capitão de mar e guerra, constituída pela fragata Nossa Senhora daPenha de França; nau Nossa Senhora do Cabo; galera São Sebastião, corveta NossaSenhora das Necessidades e a escuna (ou corveta) Nossa Senhora da Esperança, além de um bergantim (Ct. ALVARES DE ANDRADE. ob. Clt .. p, 87.).
Com a ajuda de um milhar de indígenas, o entãosarqento-mor MANUEL GERMANO DA MATA, a 30 de Dezembro de 1765, deu «principio a cortar as árvores e mato e a limpar oplano para se lançarem as primeiras linhas»(lbld •. p. 97.) de uma fortaleza de que ele era oautor do projecto.
Pouco tempo depois, a Companhia do Grão-Pará - entidade concessionária daexploração da Província de Cabo Verde e Guiné e cujas despesas da construção da fortaleza corriam a seu risco - expressou por escrito o seu contentamento pelo «bomsucesso do principio da fundação da fortaleza», levantada junto às margens lodosas doGeba, «a cousa de 100 passos das suas águas».
Em 11 de Abril de 1766, GERMANO DA MATA teria pretendido modificar o traçado,avisando a Companhia do Grão-Pará da «mudança que fez na planta do risco que dafortaleza levou desta corte». Imediatamente os Directores daquela Companhiaescreveram-lhe, não concordando com essa alteração, pois «verdade he q. o discursonatural nos quer persuadir q. um quadrado não pôde defender bem os lados sem quatroBaluartes nos anglos; os dous Baluartes q. estão á frente do mar bem defendem essaparte; porem o baluarte, q. está só no meio do lado na frente do gentio, de q.m devemosrecear continuos assaltos, não duvidamos possão defender os dous flancos lateraes: porem sempre nos parece q. os lados lateraes a esses flancos ficam com fraqueza se porahl forem atacados».
Calcula-se que a primeira fase das obras de construção tivesse importado em 50contos de réls, mas em vidas humanas, o custo foi elevadíssimo. Mais de 1000 operárlos eobreiros - incluindo o clrurgião, o botlcárlo, capatazes etc - ficaram para sempresepultados no cemitério que existia perto da fortaleza Devido a essa mortandade -atribuída ao paludismo e ao • vómito negro» -e ainda ao lacto de a Companhia do Grão-Para,que pagava os salários e custeava as despesas, ter esgotado os seus recursos, asobras diminuiram conslderavelmente de ritmo, aumentando, em contrapartida, a indisciplina de operérlos e tropa, a ponto do ter que desembarcar uma torça de marinha, sob o comando do Capitão-Tenente JOÃO DA COSTA ALAÍDE TELVE, para «disciplinar a tropa e organizar a gente de trabalho»(Cf. ÁLVARES DE ANDRADE,ob. clt. p. 94).
Segundo o tenente-coronel GERMANO DA MATA, quatro meses após o início dostrabalhos já se levantavam «oquadrado fortificado com 67 bracas de lado e 4 baluartes,que foram designados pelos nomes de Bandeira, Poana, Onça e Balança.
Com a retirada de ATAÍDE TEIVE, o autor do projecto, GERMANO DA MATAassumiu a direccão da obra, sendo ajudado pelo Capitão-mor de CacheuSEBASTIÃO DA CUNHA SOTTO MAYORvisto que o tenente de granadeiros ÁLVARES DE ANDRADE fora chefiar a botica. Alémdisso, ajudava também nas obras o Capitão-cabo da Praça de Ziguinchor, CARLOS DE CARVALHO ALVARENGA.
Em Agosto de 1766, Germano da Mata comunicou para Lisboa que tinha prontas a serinauguradas as principais obras defensivas e, meses depois, a 17 de Fevereiro do anoseguinte, informou que «a obra da fortaleza se yay continyando na abertura do fosso».
Ao que parece, a abertura deste fosso deu origem a grandes problemas,porquanto, mais tarde, numa reclamação apresentada pelo Capitão de engenheirosCarlos Andrels, afirmava-se o segulnte(cf. Á'LVARES DE ANDRADE. ob. clt., p. 106.):
« ... que por baxo de dois e tres dedos: de terra se encontra huma pisarra e roxa,que seria percizo, par fazer só o foço determinado, de sessenta palmos de largo e duasbraços e meia de fundo, ao menos dous annos atendendo que no tempo das agoas senão pode trabalhar.•
Mas, precisamente um ano após a informação de Germano da Mata, em 14 deFevereiro de 1768, o Capitão de mar e guerra JOÃO DA SILVA indicava que «os baluartesdonde se acha a artilharia montada tem dezabado multa parte dellas com as agoaspassadas, e como se não repararão, na occaslão presente pode facilmente dlsmontara artilharia, caindo por terra, pois os ditos baluartes não tem resistencia á calamidade do tempo».
No entanto, Germano da Mata continuava a mandar para Lisboa optimistasinformações sobre o andamento dos trabalhos, referindo-se à conclusão da «casa dogoverno a padrasto sobre a porta de armas, os quartéis dos oficiaes e da guarnição,as instalações hospitalares», além de uma pequena capela que passava a ter comoorago S. José.
A consulta dos documentos da época mostra-nos, porém, uma situação muito diferente daquela descrita por Germano da Mata.
Este, ao que parece, era um individuo sem qualquer capacidade de trabalho,incompetente e quezilento - a ponto de um marinheiro euro, peu lhe ter dado com umapicareta na cabeça, que o ia matando, e,de outra vez, ter sido agredido pelosoperários. No entanto, alardeava profundos conhecimentos e prática, atributos essesde que era destituído.
O seu Imediato, capitão com exercicl:o de engenheiro ANTÓNIO CARLOS ANDREIS,era, de facto,multo competente mas, em contrapartida, um alcoolico crónico, deespírito tempestuoso.
Entre Germano da Mata e Carlos Andreis havia uma rivalidade enorme e, sóquando era de todo impossfvel, o que um fazia o outro não desfazia ou dizia mal.
Esta situação ter-se-la mantido ao longo de alguns anos, até que Germano da Mata,em 1769, foi obrigado a ir a Lisboa justlflcar-se dos seus trabalhos, tendo conseguido,graças a um enorme favoritismo e protecção, juntamente com a Imensa propaganda quefazia de si próprio, obter uma alta recompensa pelos seus trabalhos na edificação dafortaleza de São José de Bissau.
Como consequência, o Capitão Carlos Andreis obteve, por decreto de 6 de Novembro de 1766, o desterro para a Ilha de Santiago, donde saiu trinta anos depois,sendo restituídoà liberdade, ao seu soldo e às honras do seu posto por despacho régio de 27 de Outubrode 1799, isto é, quando já estava às portas da morte.
Assim laureou-se um incompetente e desprezou-se um técnico de certo valor, numaaltura em que a Guiné tanto precisava de homens válidos. O Governador Sotto Mayor, num oficio datado de 3 de Junho de 1769, dirigido ao Ministro da Marinha e Ultramar critica abertamente a acção de Germano da Mata,referindo que a fortaleza «se achava irregularno que respeita aos terraplenos dos baluartes e cortinas, porque achando-se os ditosdoies baluartes fronteyros à campanha em altura tão proporcionada, que ficam os tiros daspessas de artilharia orizontaes à campanha, e em algumas partes ainda ficão mais baixos do que a mesma campanha ... e n’esta forma se achão os ditos doies baluartes do mar comos de campanha, é trez cortinas a ellas contíguas, que qualquer embarcação do meyo doporto as domina, como lambem os ditos baluartes», concluindo por responsabilizar o autordo projecto e director das obras de edificação«deste tão arande descuido achar-se agoraesta fortaleza por todos os lados arruinada. dezabando por húa e outra parte»(cf. BERNARDINO ÁLVARES DE ANDRADE. Planta da Praça de Bi:ss.au e Suas Adjacentes. Pp. 107 e seguintes.).
Aliás a planta da fortaleza de Bissau também não foi multo do agrado do Marquês dePombal, que, entre várias coisas, estranhou a falta de canhoneiras, pois Germano da Mataentendera ser «mais fácil laborar com artilharia por cima dos parapeitos para todas aspartes».
O primeiro documento que alude à conclusão da fortaleza de São José de Bissau édatado de 30 de Novembro de 1773. No entanto, jáem 10 de Maio do mesmo ano a Junta de Administração da Companhia Geral de Grão-·Pará e Maranhão tinha providenciado para o despedimento dos operários e demais obreiros, além de ter proposto a respectiva guarnição. Esta foi nomeada por decreto real de 28 de Novembro de 1774, que era doseguinte teor:
«Relação dos officiaes que Sua Magestade he servido nomear para guarnição da Praça de Bíssao.
Para sargento mor da dita Praça o capitão della LUIZ DA SILVA CARDOZO.
Para ajudante da mesma, o cadette do regimento de SETUVAL ANTONIO DE BRAUN.
Para capitão da Primeira Companhia de Infantaria da guarnição da dita Praça ocadete do regimento de SETUVAL JOSÉ LUIZ DE BRAUN.
Para tenente da mesma companhia BERNARDINO ANTONIO ALVARES DA ANDRADE.
Para alferes da mesma o sargento JOSÉ JOAQUIM PEREIRA.
Para capitão da segunda companhia de infantaria da guarnição da dita Praça LUIZ DA VEIGA BARROS.
Para tenente da dita companhia DOMINGOS DA VEIGA.»
Assim nasceu a fortaleza de São José de Bissau, cujo custo de construção atingiu omontante de 147690$763 réis. No entanto, para que se mantivesse de pé durante os seusdois séculos de uma história mais ou menos agitada,foi necessário,quase de 50 em 50anos, reconstrui-la de novo.
A guarnição da fortaleza era da ordem dos 250 homens, dlstrlbuldos por duascompanhias de Infantaria e uma de Artilharia a 80 homens cada. No entanto, os efectivos andavam à volta de 200 homens, sendo estes, na maioria, desterrados ou mesmo criminosos, e, no dizer de Lopes de Lima(Ensaio sobre a statistica das Possessões Portuguezas, livro I. cap. VI, p. 126), «mal vestidos, mal nutridos, mal disciplinados, enervados pelo vicio, e pelas doenças lnseparavels delle, que alli ha longos annos vegetam languidamente, antes para envergonhar, que para defender a Bandeira Portugueza».
Antes de embarcar para a Guiné, a 22 de Março de 1776, o Tenente ALVARES DE ANDRADEdeu ao Conselho Ultramarino um parecer sobre a situação da fortaleza de Bissau(ÁLVARES DE ANDRADE. ob. cit.. pp. 79 e 125), ao qual lhe juntou uma «Relação de que he maisnecessario para a praça de S. José de Bissau pello que pertence á artilharia e muniçõespara a infantarian».
Desta relação constava que eram necessárias as seguintes peças de artilharia erespectivos «prettences»:
«16 Pessas de artelharia, de 24 ou 36, comlombrlnas
8 ditas de dezoito do mesmo gênero
16 ditas de nove
4 Pessas píquenas para sahirem ao campo. Bailas de 3. 6. 9. 12. 18. 24 ou 36
Dítlas meudas para ce empinharem»
De um relatório de Dezembro de 1777constava que «… estava completamenteacabada ... porém os reparos estão arruinados». No ano seguinte, em 2 de Novembro, oCapltão-mor de Cacheu, ANTÓNIO VAZ DE ARAUJO, escrevia que «a fortaleza de Bissau he de pedra e cal, tem quatro baluartes, toda mal fabricada, e de pouca duração, e só hum pedaço que fez o engenheiro ANTÓNIO FÉLIX DE AMARALestá bom; o mais é qualquer parede»...São raras as descrições sobre a velha fortaleza de São José de Bissau onde nãoconstem alusões que a mesma está em ruínas, e são vários os relatórios que aludem aimportantes obras de restauro e sem os quais as suas muralhas e outras edificações terse-lam desmoronado.
A vida da fortaleza, quase se pode dlzer que até aos nossos dias, decorreu entre amotinações da sua guarnição e obras de restauroA primeira insubordinação deu-se em 1783, tendo o Comandante da Praça Capitão JOSÉ ANTÓNIO PINTO fugido para algures do Geba, conseguindo assim salvar a vida.
O seus ubstituto foi o Capitão JOÃO DAS NEVES LEÃO, que tomou posse em 1799, mas pouco tempo depois abandonava aquele cargo, seguindo-se-lhe o Capitão ANTÓNIO CARDOSO FARIA que em 1803 foi envenenado pela soldadesca. Em prlnclplos de 1805 foi nomeado para comandante da capitania de Bissau e da Praça MANUEL PINTO GOUVEIA,que trouxe uma nova guarnição, constituída por 150 criminosos retirados da cadeia do Llmoeiro, em Lisboa, e 80 vadios e condenados por crimes comuns trazidos de Cabo Verde os quais, conformeescreveu Cristiano Barcelos (Ob. cit. III. P. 326),juntamente com os «30 soldados indisciplinados em Bissau formavam um Batalhão de 450 desordeiros».
Esta escolha fora motivada pela razão de não haver soldados que, voluntariamente ou por obrigação, não quisessem ir prestar serviço na Guiné,  nomeadamente em Bissau.O facto de, desde 1807, os soldos serem pagos em fazendas, e mesmo assim commuito atraso,originava constantes protestos das guarniçõesmilitares. AIegando essa razão, em 14 de Abril de 1811, a tropa da fortaleza sublevou-se contra o seu comandante, Capitão ANTÓNIO CARDOSO FIGUEIREDO, exigindo-lhe o pagamento dos seus soldos «poistinham fome e andavam rotos e descalços».O Governador de Cacheu teve que arranjar um empréstimo, feito a titulo particular,pois não o conseguiu em nome do Governo, para pagar aos sublevados, alguns dos quaisjá não recebiam há quatro anos, aliás como sucedia ao próprio Governador.Ao que parece, esta intentona fora fomentada pelo comerciante TOMÁS DA COSTA RIBEIRO, que, em 12 de Julho desse ano, conseguiu originar nova revolta.
Cristiano Barcelos (lbid, p. 173. Consulte-se também a IV parte, p. 72, onde o mesmo autor escreveu o segulnte: «Caetano José Nozolini reuniu 60 manjacos e com estes cahlu sobre os soldados indisciplinados, prendendo-os e reastituindo a liberdade ao Governador e oficiaes,e assim se restabeleceu o sossego em Bissau». ) fez oseguinte descrição da fortaleza de Bissau, referente ao ano de 1821:

«... tinha os muros mui damnlflcados; em mau estado e telhado do quartel dosoffícíaes e em ruínas o dos soldados, vivendo estes em improvisadas barracas que construíram de paus e esteiras, estando os muros da fortaleza cheios de furos querecebiam os paus; n'estas habitações viviam os soldados com suas mulheres gentias contando alguns seis mulheres; não havia hospital, nem médico; a egreja, que outrora foracoberta de telha, estava coberta com palha e as paredes ameaçando ruínas; a artilhariaconstava de cincoenta peças, estando onze desmontadas, de calibre 9, 12 e 18; cavalgadasem reparos novos dez, e as restantes vinte e nove, de vários calibres, montadas emreparos velhos; os soldados no effeclivo de cento e setenta e sete homens formavam trêscompanhias de infantaria ...»
Dez anos depois, em 16 de Junho de 1831, na Ilha da Boa Vista, Manuel AntónioMartins, na sua Memória (Transcrita no Boletim Cultural da Guiné Porruguesa. XIII (1958) 206.),faz aseguinte descrição da fortaleza de São José de Bissau:
«Tem huma cappela dentro da fortaleza, aonde hum padre, com o nome de vigário, vaicelebrar o Santo Sacrifício da Missa aos domingos e dias santos, a que assiste a poucatropa da praça, e todos os que da povoação querem entrar nesses dias, ou para a ouvir, oucom esse pretexto, prática esta bem estranha, e que há-de resultar em grande prejuízo.
O vigário he mandado de Cabo Verde para allí, e geralmente escolhido entre os mãos... como espécie de castigo.
Tem a praça de Bissau 64 peças em número, famoza artilharia, muita parte della decalibre 18, reforçadas em 24, algumas de 12, e poucas de 6: e em o numero de 64 entram 6comlumbrlnas de bronze de calibre 9, e duas de campanha de 6.
De toda esta artilharia, não se acha huma só peça capazmente montada para dar fogohuma hora succesiva, e assim mesmo a maior parte por terra desmontada ou cahlda para abanda com parte da carreia, excepto todas as de bronze, que nem signal de carretas tem.
Enquanto ao armamento de tropa, entra em questão de duvida haver doze armasperfeitas, ou capazes de cada huma dar dous tiros...»
Devido ao estado em que se encontrava a fortaleza, não é para admirar que, nosprincípios de 1822, se tivesse dado, em pleno porto de Bissau, um ultraje à soberaniaportuguesa, e que Senna Barcelos (Ob. Cit . III. p . 278)descreve da seguinte maneira:«Em 25 de fevereiro de 1822 communicaram os membros da Junta da Praçade S.José aos da Praiao ataque que um batelão e dois escaleres, com tripulantes armadose com peças de artilharia, deram no pono da mesma Praça a escuna portugueza Conde de Villa Flor, alli fundeada, na noite de 21 d'aquelle mes...
... Estavam todos já a bordo e a escuna devia deixar esse porto em que foiatacada por aquellas embarcações, que ficaram atracadas ao costado da referidaescuna, ao abrigo dos tiros da Praça; cortaram-lhe a amarra e fizeram-se de vela,sendo conduzida para o canal do Geba, onde estava fundeada uma fragata inglesa com quarenta e oito peças.Da Praça, de que era capitão-mor JOÃO HYGINO CURVO SEMEDO, não foi possível socorre-la por falta de embarcações e pela impossibilidadede se fazerem tiros, que poderiam metter no fundo a escuna, morrendo não só osinglezes, mas os portuguezes...
Parece que esta fragata fora a mesma que na manhã de 4 de Março de 1823 mandara cinco lanchões bem armados atacar a escuna franceza denominada africana,tentando picar-lhe a amarra. Da Praça acudiram a tempo, fugindo os lanchões debaixode um nutrido fogo mandado fazer pelo capitão-mor interino MARCELINO PINTO DA FONSECA. A fragata acima referida era a L'Owen Genndower.»
Em 7 de Abril de 1823 foi nomeado como sarqento-mor da fortaleza o Capitão MARCELINO PINTO DA FONSECAe, na ocasião, a guarnição foi reforçada com 45 soldados e6 degredados da Ilha de Santiago.
A falta de pagamento de vencimentos e a má qualidade de rancho originaram, em Maio de 1826, nova revolta, que só foi dominada quando fundeou no porto de Bissauuma fragata inglesa e surgiu um destacamento vindo de Geba com 50 soldados. Os rebeldes, perante as imposições da força da ordem libertaram o capltão-mor e alguns deles entregaram-se, mas a maioria fugiu para o mato. No rescaldo da revoluçao, ficaram presos 5 oficiais e 38 soldados, os quais, mais tarde, foram julgados em tribunal militar e condenados.
Em 1 de Maio de 1835, registou-se mais uma insubordinação militar. Os soldados sublevaram-se, prenderam os seus superiores e promoveram-se a oficiais. Um deles, ANTÓNIO PICADAS, foi nomeado Governador, e um outro foi promovido a general! Foi o então capltao Caetano Nozolíni que conseguiu persuadir os revoltosos a restituírem â liberdade os seus oliclals e a desistirem dos seus propósitos. Assim, «em 7 de Maio, para que o sossego se conseguisse na Praça, houve uma convenção entre o governador e os amotinados, fazendo-se um juramento, pelo qual reciprocamente se obrigaram a esquecer o passado, sendo este gracioso juramento deferido pelo capelão» (CRISTIANO BARCELOS, ob. Cit., III, p. 349).
No decorrer dos anos, a fortaleza foi-se arruinando e, em Dezembro de 1837, oseu poder defensivo era muito reduzido.Ante a ameaça de um ataque dos papéis, o Governador JOAQUIM ANTÓNIO DA MATA,após ter ouvido em conselho todas as entidades da terra - civis, militares eeclesiásticas - e com o apoio unânime, mandou ao comandante de uma corveta francesa, surta no Geba, um patetico oficio ·em que pedia protecçao.
O oficialfrancês limitou-se a devolver o offcio e nem seauer lhe deu resposta.
O almejado auxílio foi então solicitado ao governo da Gâmbia, que, segundoparece, também não ligou importância ao pedido.
Coincidência curiosa. Nessa ocasião, o Governador de Cabo Verde e Guiné, coronel JOAQUIM PEREIRA MARINHO, sem que tivesse tido conhecimento do que se passava em Bissau, escrevia para Lisboa (lbid. IVp.158) aludindo que as tropas da Guinê «eram indisciplinadas e barbaras... caindo aqueles estabelecimentos na anarguia mais deshonrosa e de maior miséria...»o que, no caso da fortaleza de Bissau,era absolutamente verdadeiro. Aliás, este governador, tendo estado desterrado,voluntariamente, em Bissau no ano de 1836, escreveu que encontrara «a Praça emestado miserável, e que a história dos últimos governadores de Bissau e Cacheu é a mais deshonrosa. Alli tudo tem sido roubado, até pedras das plataformas; o revestimento de contra-escarpa também fora arrancado para construções de casas dos vizinhos; ... a artilharia desmontada e os ouvidos das peças alegradas pelo pessimo tratamento que tem tido ... »
Em 1840 a fortaleza contava 70 soldados (pouco disciplinados) e estava armadacom 22 peças de artilharia capazes de laz:er logo (CRISTIANO BARCELOS. em ob. cit., IV, p. 271. lndlea que nove peças estavam montadas em reparos do ferro.).Mais ou menos nessa ocasião, Lopes de Lima (em ob. cit.,Livro I, Parte II, p . 103) fez a seguinte descrição:
«Praça de guerra de S. José de Bissau-Reduto quadrado de boa cantaria, flanqueadopor quatro Baluartes, tendo cem passos de comprido cada uma das faces, cercado todo deboa cava (que está servindo para hortas) guarnecido com quarenta e tres Peças de ferro enove de bronze, de diversos calibres (quase metade dellas desmontadas por falta dereparos em paiz aonde ha tão excelentes madeiras de graça).
Dentro da Praça tem Quartel para o Governador - bons Quarteis para duzentossoldados, e para os oficiaes correspondentes; -Igreja- Alfandega;- e Grandes Armazens;tudoem pedra, coberto de telha; mas carecendo de grandes concertos até as muralhasque tem quarenta pés de altura (apesar de apparecer todos os annos no Orçamento umaverba de concertos, que não se vêem); acha-se lambem dentro no recinto um poço seccodesde tempo immemorial, sendo aliás de pri meira necessidade, que dentro na Fortalezahaja um poço, ou cisterna de agoa potavel para a guarnição; ... A fortaleza dista uns cempassos da borda da praia, tendo em frente da porta principal dois grandes Poílões, queservem de marca aos navios, que vão dar fundo.»
Segundo o mesmo autor, a guarnição de Bissau, em 31 de Dezembro de 1843, era deum oficial superior, comandante da Praça, dois tenentes e dois alferes, um primeirosargento, quatro segundos sargentos, dois tambores, cinco cabos, três anspeçadas(praças para impedimentos pessoais), cinquenta e seis soldados, num total de setenta ecinco homens de força arregimentada de 1ªlinha.
Quando, em Novembro de 1840, se procedia á reconstrução dos baluartes, queestavam em vias de desmoronamento, registou-se em Bissau, num armazém civil deaguardente e pólvora, uma violenta explosão que provocou a queda da «Casa do governo•, da capela e de mais um ou outro edlficio da fortaleza(CRISTIANO BARCELOS,ob. clt IV. p . 273.).
Em Novembro de 1842, tendo aldo determinado aos lndlgenas de Bissau que «não se concertassem nem se levantassem mais casas junto das muralhas da fortaleza», estes negaram-se a cumprir essa ordem, e, segundo o relatório do governador A. JOSÉ TORRES, datado de 7 de Junho de 1843(ibid pp. 314-311 ), «emboscados pelas casas fizeram os grumetes fogo para a Praça, que rompeu com o da artilharia, obrigando-os a retirar. Até aodia 4 de Janeiro atacavam todos osdlas a Praça, sendo repellldos. No dia 5 mandaramcomo parlamentarlos, dois homens grandes da Povoação, para tratarem da paz ...»
Em 4 de Janeiro de 1844 desembarcou em Bissau um Conselho de Investigação(Era constftuido pelo comandante do Brigue«Vouga», FRANCLSCO ASSIS DA SILVA, Chefe do Estado-maior daProvíncla tenente ROSADO DE FARIA e pelo escrivão da Junta de Fazenda de Cabo Verde, EVARISTO DE ALMEIDA)para apreciar os casos de Indisciplina de guamlção. Segundo o relatório que esteConselho elaborou, no tocante a instalações, «os aquartelamentos estavam emruínas, e que os soldados haviam construido na esplanada mais de 40 palhotas, ondeviviam com as suas mulheres, ou exerciam a profissão de comerciantes. Além disso,os muros da fortaleza estavam sem reboco e o fosso entupido e muitas palhotas da população avançavam até junto das muralhas, impedindo o emprego da artilharia».
Pretendeu-se então pôr em vigor varias medidas tendentes a não só impedir aconstrução de mais palhotas no interior da fortificação, como também a desafrontar assuas muralhas. Mas, precisamente cem anos depois, a situação ainda se mantinha!Aliás, já em Abril de 1842 tinham sido recebidas em Bissau instruções do governador-geralpara que se «abrisse o fosso e a ponte levadiça na parte que dá acesso à Praça;que (se) evitasse a construção de novas casas junto à mesma Praça que pudesseprejudicar a sua defesa» (CRISTIANO BARCELOS, ob. cit .. IV. p. 280. Na ocasião foidada ordem ao governador de Blssau que diligenciasse juntar materiais para so construir no llhéu do Rei o forteque semostra naplanta levantada pelo tenente de engenheiros ANTÓNIO MARIA FONTES PEREIRA DE MELO». Cf. C. BARCELOS. ob. cit .. IV, p. 280).
Foi a revolta dos papéis e grumetes de 1844 -e que durou poucos meses: de 11 de Setembro a 9 de Dezembro-que originou a construção de uma «palissada,protegida interiormente por uma parede de taipa .. , cercando parte de Bissau, ou seja,ligando a fortaleza ao pequeno forte do Pigiguiti, também em construção e formadopor um semibaluarte, onde se montaram velhas peças de artilharia.
Ao que parece, duas destas peças foram, já em nossos dias, levadas para juntodo Museu de Bissau, ficando a ladear a porta principal do edifício; uma outra tevediferente serventia: foi enterrada na avenida marginal, junto ao cais do Plgiguitl,ficando só com o cascavel, a faixa e parte da culatra de fora, para servir de cabeço deamarração. É possível que as restantes tivessem fim ainda mais Inglório.
Foi tal o interesse dos habitantes de Bissau na construção da «muralha», que selevantou junto à pallssada, que, segundo Cristiano Barcelos, «até as senhorasrivalizavam com os homens, transportando ellas também pedra e barro para essaconstrução da muralha».
Para os papéis a revolta terminou três meses depois da sua eclosão, numacerimónia realizada na esplanada da fortaleza e que se caracterizou pela sua orlglnalldade (Consulte-se, para maior desenvolvimento sobre esta rebelião dos indigenas, C. BARCELOS. ob. cit .. IV, pp. 25 o 38.).
Num misto de religiosidade e de paganismo, um sacerdote cristão e umasacerdotisa (??) indígena, chamada Balobeira, benzeram uma bacia feita da casca deuma enorme cabaça, onde tinham sido postos aguardente, balas, pólvora e outrosamuletos nativos.
Seguidamente, os assistentes a semelhante cerimónia beberam aquela mixórdia e, segundo as crenças indlgenas - pelos vistos também perfilhadas pelos europeus – a paz ficaria feita e manter-se-ia por muitos e muitos anos.
Mas, ao que parece, ou à mistura faltavam alguns ingredientes ou nem todos osassistentes cumpriram na íntegra todo o ritual, e o resultado foi que, passados unsquatro meses, a paz já tinha desaparecido da região de Bissau.
Em Maio de 1845, a guerra estava generalizada a toda a Ilha, e os lndlgenas içavam a bandeira francesa salvando-a com tiros de peças (roubadas nos nossos fortes).
Ogentiopretendeu na ocasião destruir a recente palissada de Bissauesó perante a ameaça dos canhões da fortaleza e do brigue Vouga é que desistiram dassuas intenções.
No ano seguinte celebrou-se um tratado de paz com os papéis e grumetes –quenão duraria muito tempo, como era habitual - e adquiriu-se o porto de Bandim. Alémdisso, registou-se, ainda em 1846, a conclusão do pequeno forte do Pigiguiti,constituído por um simples reduto quadrado: feito a pedra e cal, em que cada ladolinha cerca de 15 metros, sendo o do lado de terra rasgado num amplo acesso. Em 7de Abril de 1846 o tenente-coronel Nozolini enviou ao governador-geral de Cabo Verdee Guiné o seguinte ofício:
«Participo a V. Ex.ªque o forte que offereci fazer no sitio de Piglgultl se achaquasi prompto, tudo de pedra e cal com casa para a guarda e arrecadação dasmunições de guerra: no dia 1 de Maio pretendo arvorar alli a bandeira nacional e levarpara ali duas peças de artilharia. V. Ex.• ordenará o nome que quer se ponha ao ditoforte»(Em CRISTIANO BARCELOS, ob. clt., p. 73.) .
Este forte devia-se aos esforços do tenente-coronel Caetano Nozollnl (Este oficial nasceu em 1801 na Ilha do Fogo e morreu em 22 de Julho de 1850 na Vila da Praia. Assentou praça em 1 de Maio de 1816, tendo sido promovido: a alferes em 1816; tenenl/e em 1823; capitão em 1825; major em 1837; graduado em tenente~coronel em 1842 e promovido a este posto em 1843. Possuía os h'bitos da Aviz e da Conceiçio.), quehá muito estava radicado em Bissau como importante homem de negócios, tendoprestado relevantes serviços à Guiné, razão por que foi proposta para esta fortificação onome deste oficial, o que não foi aceite pela corte de Lisboa, por motivos políticos.No dia 7 de Abril de 1845 o capitão de artilharia TAVARES DE ALMEIDA, com «14 artistasentre carpinteiros de banco e de machado, pedreiros e canteiros», iniciou o trabalho para aconstrução de um forte no Ilhéu do Rei. Depois de ter sido aberto um fosso e construídauma face dos redutos, as obras foram, a 16 de Maio, interrompidas e nunca maiscontinuaram.
No inicio de 1847, começou-se a construir, dentro da fortaleza, um novo quartel,substituindo as antigas edificações, que estavam completamente em rulnas. A falta deverbas, porém, fez interromper as obras, que só foram concluídas mais tarde, em 1851,graças a dádivas do Governador Major Lobo de Ávila, de Nicolau Monteiro Macedo e de seuirmão João Monteiro Macedo. além de mais alguns comerciantes.
A 5 de Julho de 1853, a guarnição da fortaleza, por um motivo fútil, revoltou-se. O Governador Interino, Major MARIA MORAIS, na impossibilidade da dominar a rebelião, pediu socorro a um brigue francês de nome Pellimure, sob o comando do Capitão Augusto Bosse.
Uma força de marinheiros franceses desembarcou e após ter levado os revoltosos a submeterem-se ocupou, por um escasso mês, a fortaleza de S. José, enquanto se aguardava a chegada do vapor Mindelo, trazendo de Lisboa um contingente de tropas Durante a estadia dos franceses em Bissau, o Comandante Bosse mandou içar a sua bandeira na secular fortaleza, mas, ante a oposição de todos os portugueses, militares e civis, teve que desistir da sua ideia Como consequência da revolta da guarnição da fortaleza, faleceu, no recontro com os revoltosos, o tenente da Marinha lmperlal da França Glllardale. O seu corpo ficou sepultado à entrada da capela da Praça de S. José de Bissau e, mais tarde, a viúva daquele oficial solicitou a anuência do Governo Português para que fosse colocada uma pedra, simples mas durável, sobre a campa do seu marido. Ao que parece, este tão justo e humano pedido nunca se concretizou, pois não encontramos, nem consta da tradição popular, qualquer alusão à existência de alguma lage sepulcral na velha fortaleza, e não há, em todo o recinto da sua esplanada, a mais pequena memória que assinale aquela sepultura.
No dia 26 de Abril de 1859 morreu na fortaleza de Bissau o grande português eguineense Honório Barreto, na ocasião governador da Guiné, por decreto de 30 deNovembro de 1858 (Cf. JAIME WALTER, Honório Pereira Barreto, memôria n.º5 do Centro de Esrudos da Gulné Portuguesa, Blssau, 1947.).
Hoje, nem uma singela placa assinala tão infausto acontecimento e recorda a memóriade um dos mais Ilustres governadores desta Província que tanto pugilou por tudo quantodizia respeito à Guiné e sua soberania portuguesa e que teve um especial interesse pelafortaleza de São José de Bissau, mandando restaurar as suas velhas muralhas e melhorar asua artilharia, além de lhe ter dedicado, ao longo da sua vida politica, várias referências edescrições, uma das quais na Memória(HONÓRIO BARRETO. Memória sobre o estado actual da Senegâmbia Portuguesa, escrita em Cacheu em 1842 e publicada em Lisboa em 1843.) que publicou em Lisboae que, segundo um seu biógrafo (JAIME WALTER. ob. clt., p. 29.), é um «livro modelo de verdade epatriotismo, e ainda de actualidade flagrante.
Da referida memória transcrevem-se as seguintes palavras:
«Bissau é uma praça situada na Ilha deste nome,e construída segundo o systema deVauban; mas não foi acabada. Não tem obras algumas exteriores, a excepção dosfossos ja quasi entulhados, e aonde se planta algodão, milho, e indigo. Teve contraescarpa mas parece que ella e as !ages das plataformas foram arrancadas para sefazerem algumas casas dos Particulares. • Dentro ha os edificios seguintes: • OQuartel da tropa, que esta quasi a cair, e por isso a maior parte dos soldados moramem palhoças; o indecente quartel dos Officiais, aonde chove como na rua; o arruinado armazem do Governo; • e a pequena, e destelhada Capella com invocação de S.José, que é o Orago da Praça. O Governador mora no quarlel dos Officíais com unsquartos pequenos, e rldlculos. Deixou-se arruinar o quartel do Governo, que não era lamulto boa cousa, e que uma explosão de pólvora apenas destelhou, e lhe abaloualgumas paredes podia então ser composto com pouca despeza.
Até 1912, segundo Senna Barcelos, estas nove peças· cujos reparos tinham sidoadquiridos por Honório Barreto, em 1837, ao governador da Gâmbia - eram as únicasda fortaleza de S. José de Bissau que podiam fazer fogo.
Pouco depois da morte de Honório Barreto • que foi sentida em toda a Guiné • acidade de Bissau foi visitada por um diplomata e escritor, Francisco Travassos Valdez,que fez a seguinte descrição da fortaleza de S. José (ln Atrlcs Occldenlst. p . 313.):
«A praça de S. José de Bissau, com os seus poílões (erio exdendron anfractorum),árvores gigantescas que se erguem com magestade nos quatro baluartes, e que osabrigam com a sua sombra, sendo de taes dimensões que uma d'ellas tem 18 metrosde perímetro na maior grossura, está situada na foz do rio Geba, e foi construída noanno de 1766, reinando et-rel O. José I.
Do seu princípio teve alojamento para o governador, bons quarteis para 200homens e officíaes correspondentes, Igreja da Invocação de S. Josê, alfandega,grandes armazéns, e um poço com água potável. Mas depois de tudo Isto feito comgrossos capltaes, pela nec,essidade que houve de conduzir de Lisboa muitos operáriose grande parte dos materíaes, bem como os vasos de guerra contra o gentio papel ebalanta, e ara proteger a edificação da praça, que referem escríptores antigos custou a vida a mais de 2.000 portugueses, chegou este estabelecimento a uma decadênciatal que ainda ha bem pouco tempo só lhe restava um casarão construido de pedra ebarro, aonde o governador e ofticlaes estavam pessimamente alojados e nas peiorescondições hlglenlcas, um quartel para soldados quasl em ruínas e em grande partedescoberto, uma mesquinha capella, algumas mlseravels barracas cobertas de palha,destinadas ás mulheres dos soldados, e um poço cheio de entulho!
Ultimamente porém, além de se estabelecer uma nova tarifa para os soldos dosofficiaes da provincia de Cabo Verde, destacados na Guiné portugueza, dando-se-lhesde augmento o equivalente á metade dos seus vencimentos, têm lido certo incrementoas obras militares.
O governador geral Fortunato José Barreiros ordenou que se procedesse areparação da forte do Plglguitl, da tabanca. e da pallssada, e auctorizou a construçãode uma parede (guarda fogo) no paiol da pólvora.
Sob a direcção do activo e lntelllgente governador de Guiné, ANTONIO CÂNDÍDO ZAGALLO, reconstruiu-se o quartel militar., comprehendendo alojamentos para ossoldados e officiaes inferiores, arrecadação e cozinha, e começaram-se também asobras para a reconstrução da casa de residencia dos governadores, cujo madeiramentofoi offerecido gratuitamente pello fallecido commendador Honorio PereiraBarreto.
Considerada em si, aquella praça, formada por quatro frentes abaluartadas,traçadas sobre um quadrado de 100 metros aproximadamente de lado, com muralhasde 10 a 12 palmos de elevação sobre o fosso que a circunda, não passa de umapequena povoação mal alinhada, com algumas casas palhoças, outras de barro, e bempoucas de solida construção. Tem por limites nas duas extremidades de ENO e SSO,na primeira, uma palissada, na segunda uma tabanca, que ambas fecham a fortificaçãoque a defende, e lhe fica superior pelo lado do N; ao NO, serve-lhe de limite o rio deBissau.»
Quase no final do século XIX, em Fevereiro de 1890, os papéis e qrumetes de Bissaurebelaram-se e, a 22 desse mês, atacaram a povoaçio, tendo sido repelidos. A luta prosseguiu até Março de 1892, tendo custado a Portugal a vida de muitos dos seus militares, dos quais doia capltlas, um tenente e um alferes.
Em Dezembro de 1893 os papéis recomeçaram a guerra, mas no espaço de algunsmeses foram subjugados, em parta devido aos vários disparos doa canhões da fortaleza, em parta devido ao revés que sofreram quando, a 7 de Dezembro, atacaram Bissau e foram repelidos.
Em 28 de Novembro de 1893 o gentio de Blssau assassinou, não multo longe dosmuros da fortaleza, um civil, natural de Cabo Verde, fornecedor de pão e de géneros para o exército.
Seguidamente os papéis a grumetes da Ilha de Blssau sublevaram-se. Sendo, porportaria n.º127 de 1 de Dezembro, declarado o estado de guerra e autorizado «o bombardeamento do interior da praça apara fora da mesma contra os seus habitantes»(Em Revista Militar, ano de 1817,p. 518.).
Da fortaleza foram efectuadosmuitosdisparosdirigidos paraasdiferentes partes da ilha, tanto com as peças de artilharia como com as espingardas Snyder, parecendo então que a rebelião tinha sidosufocada. No entanto,. os nativos, dias depois, atacaram com violência a cidade de Bissau, sendo a acção descrita (Alferes MANUEL ANTÓNIO PIMENTEL, A guerra de Bissau em 1894, in Revista Militar, ano de 1817).por um Oficial que tomou parte activa na defesa, da seguinte maneira:
«No dia 7 de Dezembro, seriam cinco horas da manhã, quando a fortaleza foi surprehendída pelo inimigo em numero provavel de 3 000 homens (papeis e grumetes), que durante a noite anterior, por um qualquer descuido da parte da guarnição da praça e fortaleza, se haviam aproximado das muralhas encobertos com os tarafes (matto), a uma distancia de 50 metros, pouco mais ou menos e entre o Pyjlguity e o baluarte da Onça; travou-se então um renhidissimo combate entre os revoltosos e a guarnição da praça, fazendo eu nessa ocasião parte da força postada no denominado baluarte da Onça, junto com o meu lllustrado camarada tenente GRAÇA FALCÃO, o qual então se entretinha com algumas peças Krupp de 7° m/1882 com que escangalhou ainda parte das paredes dos muros do cemiterio e creio que as cabeças de alguns papéis, enquanto eu me entrelinha com a minha espingarda Snyder ...
Foi tal o elleito produzido por tão renhido ataque de 7 de Dezembro, causado pelo demasiado estrondo das bocas de logo e fuzilaria, que aterrorizou extraordinariamente todo o pessoal estranho áquelle serviço e que então se achava no interior da praça. E multo especialmente o pertencente ao sexo feminino ...
Como felizmente a boa estrela favoreceu sempre as nossas forças, viram-se então osrebeldes na dura necessidade de retirar em d ebandada deixando a praça e ainda o campolivre, do que elles nada gostaram ...
Depois do referido ataque deram-se mais alguns pequenos combates de mais oumenos importância, mas não tão Importantes como aquelle, nos mezes de janeiro eFevereiro, e alternadamente até á saida da col:umna para fora da praça ...
... Pelas Ires horas da tarde do mesmo dia (27 de Abril) ... surgiram os rebeldes nas
alturas fazendo fogo vivo. A este ataque responderam os auxiliares que se portaramrazoavelmente bem, sendo o Inimigo repellldo pelos tiros da fortaleza e do fortim doPyjiguity.»
A guerra de Bissau do ano de 1894, que foi pelo autor anteriormente citado, referidacomo «uma das mais Importantes que nas possessões ultramarinas portuguezes se têemeallzedo nos ultlmos anncs•, terminou com a completa derrota dos gentios em Basslm nodia 10 de Maio, sendo a paz assinada em 22 do mesmo mês, numa cerimónia realizada noInterior da fortaleza de S. José de Bissau na presença do Governador de muitos militarese povo.
Data sensivelmente do final do século passado a seguinte descrição do capitãoBARAHONA E COSTA, feita na Revista de Engenharia Militar de 1901:
«A fortaleza de S. José de Bissau, quando ali cheguei, também inspirava poucaconfiança aos seus defensores. Basta dizer qjue o parapeito estava quase destruído, acima
do terraplano de circulação. D'este modo os pretos rebeldes podiam bem alvejar asreduzidas tropas da guarnição que fomos encontrar exaustas por sucessivos alarmes.
A densa vegetação que circundava a praça permitia que o inimigo se pudesseaproximar sem ser visto.O artilhamento da praça era simplesmente mesquinho, para não dizer outra coisa.Basta citar o facto de termos ido encontrar ali peças de artilharia assestadas noparapeito sobre reparos constituídos por grossas lages postas de cutelo!
Tanto o fortim de Pigiguiti como o forte de S. José foram convenientementereparados durante o tempo que estive na Guiné e o arlilhamento foi muito melhorado,o que não obstou a que poucos annos depois já ali se vissem as peças de artilhariaamarradas com cordas aos respectivos reparos!
Os capitães de artilharia JOAQUIM DE FREITAS RAMOS, JACINTO I.SANTOS ESILVA e VIRIATO FONSECAenvidaram patrióticos esforços para organizar de vez o materialde guerra da Guiné em condições favoráveis á defensa. Como se vê, porém, ali tudomuda rapidamente ...
Tendo citado aqueltes três oflíciaes, não quero deixar no olvido o nome dovalente capitão Lage, que em 1891 comandava a fortaleza de Bissau.
Quando em 1891 fui servir na Guiné, encontrei a fortaleza de S. José de Bissauquase completamente arruinada ...
Durante a minha estada na Guiné (1891-1892) procedi a importantes trabalhos nafortaleza de S. José de Bissau, que restaurei em grande parte, pondo-a em condiçõesde resistir ás sortidas do gentio irrequieto que a rodêa.
O forte de S. José de Bissau tem 4 faces abaluartadas, dispostas segundo os lados de
um quadrado ...As muralhas teem 12 metros de elevação sobre o fosso que a circunda. Este fossotinha a escarpa revestida, mas quando ali cheguei achava-se quase entulhado com osescombros da muralha e os revestimentos do fosso tinham desaparecido.
Honório Barreto, que foi governador da Guiné, assevera, n'uma memória que escreveu
sobre a Guiné, que as pedras que guarneciam a contra escarpa, e as lages das plataformas
de artilharia foram roubadas para se fazerem algumas casas particulares ...
... em cada um dos baluartes, ao centro, havia gigantesco pollão (erio exdendronanfractorum) que lhes dava farta sombra .
... o tronco de um desses gigantes mede na base cerca de vinte metros de perímetro .
... a povoação de Bissau fica apertada entre o forte e uma cortina que liga o baluarte daOnça ao fortim do Pigiquiti, nome pelo qual em 1891 era conhecido o antigo forte Nozolfni,do qual, aliaz, só existia a lace que olha para a campanha ...
Durante alguns anos uma paz relativa reinou em Bissau e a fortaleza de S. José deBissau pouca acção teve no desenrolar das campanhas de 1908 - se bem que tivessealojado no seu interior grande número de militares que tomaram parte na Campanha deBissau, que foi, para todas as nossas tropas que até então tinham actuado na Guiné,aquela que mais baixas causou.
Em 1913 houve grande alvoroço entre os moradores de Bissau, porquanto a paliçada
que ligava a fortaleza ao forte de Piguitii fora mandada demolir. Esta medida foiconsiderada altamente prejudicial à cidade pois, segundo se escreveu ao Ministro doUltramar, «a defesa desta ficaria só apoiada pela velha fortaleza de S. José».
Nos acontecimentos politicos provenientes da mudança de regime em Portugal, em1910, e durante as guerras mundiais de 1914-1918 e 1939·1945, a acção da velha fortaleza
foi de pequeno relevo e, desde então, praticamente só serviu de aquartelamento e depósito
de tropas.
Fotografias existentes nos arquivos do· Quartel-General de Bissau, datando de hâpouco mais de um quarto de século, mostram a fortaleza de S. José com as sua.s muralhas desmoronadas, as edificações em ruínas, aparecendo, entre os destroços, ou quase cobertas pelo capim, uma ou outra peça.
Para se celebrarem as comemorações do quinto centenário da descoberta daGuiné, a fortaleza foi parcialmente reparada, dado que algumas das principaiscerimónias desenrolar-se-iam no interior da.s suas seculares muralhas.
No dia 1 de Janeiro de 1946 começaram essas comemorações, que abrangeramtoda a Guiné e às quais Portugal inteiro, desde o Minho a Timor, se associou.
A primeira cerimónia teve lugar às oito horas desse dia com o içar, pelo comandante da Guarnição Mllltar, Major Pedro Pinto Cardoso, da Bandeira das Descobertas (esta bandeira oncontra-se emoldurada na Biblioteca do Ouartel General do Comando Territorial lndependenle da Guiné.). Ao acto prestaram honras militares forças da Armada, do Exército e do Corpo da Policia de Segurança Pública.
Finda a salva de 21 tiros, Sua Excelência o Governador, Comandante SarmentoRodrigues, proferiu a sua célebre «Mensagem do Baluarte» (Em Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, 1 (1946) 349-352.). que começa com as seguintes palavras: •do alto deste baluarte, onde a bandeira portuguesa sempre com honra se ergueu ... Seguidamente as forças em parada desfilaram e Inaugurou-se, na esplanada da fortaleza de S. José de Bissau, um pequeno monumento dedicado «aos heróis da ocupação e pacificação da Guinén, iniciand)o-se, assim, as cerimónias comemorativas do quinto centenário da Província.
Em 1947 desmoronaram-se alguns lanços das muralhas da fortaleza e, no ano seguinte, deu-se a derrocada das edificações do Pavilhão dos oficiais e arrecadações do material de guerra.
Dois anos foram necessários para se reconstruírem as muralhas e se demolirem as ruínas das edificações. Depois, em 1951, começou a construção de duas moradias, que substituíram o velho • Quartel de officiaes• que há cem anos, pouco antes da sua morte, o governador Honôrlo Barreto mandou reconstruir.
Durante anos e anos os quartéis da fortaleza serviram para alojar unidadesmilitares, quer da guarnição de Bissau, quer em trânsito para o interior da Província,sendo a última unidade que se abrigou no Interior das velhas muralhas o Batalhão deIntendência da Guiné.
Na luta que hoje se trava contra um Inimigo alentado e bem remunlclado por países estrangeiros, têmsido capturadas muitas toneladas de armamento. O GabineteMilitar do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné promoveu uma exposiçãopública do material capturado e escolheu como local mais representativo para aapresentação desses troféus de guerra • que testemunham bem o Inegável apoio domundo comunista aos terroristas da Guiné • o interior da velha fortaleza de S. José deBissau, espalhando pelo seu recinto, misturadas com seculares canhões, as maismodernas armas de fogo.
Após esta exposição, em 1969, a fortaleza· vulgarmente chamada da Amura, ou seja, o
nome em crioulo de muralha • passou a servir de sede ao Comando-Chefe das ForçasArmadas da Guiné e, praticamente, a vida política e militar da Província voltou aIrradiar, para todos os pontos guineenses. da antiga «Casa do governo»da fortaleza de S.José de Bissau.
Hoje, uma ponte de caracteristicas mod!ernas e simples, atravessa o único troço defosso, existente junto à face poente, dando acesso à porta de armas, que está ladeada pordois belos exemplares de canhões belgas, fundidos em 1757 por L. Lefache, e por duas guaritas de cimento armado, estas sem qualquer Interesse artistico.
Um portão de ferro, tão modesto e sim pies que talvez fosse rejeitado em qualquerquinta um pouco mais abastada, substitui a porta que a fortaleza certamente devia terpossuído e que a riqueza de madeiras da região impunha.
O túnel de passagem é baixo e curto, com uma curvatura de tecto pouco pronunciada. Nas suas paredes laterais existem duas lápides, modernas e de discutível bom gosto. A dadireita tem o escudo da Guiné, mas com a tradicional «negrinha» (D. Afonso Vcomo slmbolo da posse da Guinéfazia uso de um busto de marfimrematado por uma cabeça de negra. Este bastão era conhecido pelo nome do negrinha, efoi, mais tarde, adoptado como emblema heráldico da província da Guiné,. sendo mantido pela portaria mlnlstetlat de 5 de Maio de 1935) muito se assemelhando a um canhão • erro normalmente seguido e que dá origem a outra interpretação deste simbolo tendo gravadas as seguintes palavras:
FORTALEZA DE S. JOSÉ DE
BISSAU
PRIMEIRAMENTE CONSTRUIDA EM
1696 PELO CAPITAO-MOR JOSE PINHEIRO.
FOI INICIADA A SUA RECONSTRUÇAO
EM 1753 SEGUNDO OS PLANOS DE FREI
MANUEL DE VINHAIS SARMENTO E CONTI
NUADA EM 1766 COM A TRAÇA DO COR MANUEL
GERMANO DA MATA
RECONSTRUIDA PARCIALMENTE EM 1916
Ao ler-se esta lápide quase se pode afirmar que, em cada linha, há um erro.
A primeira fortaleza que existíu em Bissau tinha o nome de Nossa Senhora daConceição, a padroeira de Portugal e orago da capela da fortificação que foi mandadademolir, completamente, por D. João V em 1707, e põe-se em dúvida se, melo séculodepois, teria sido reconstruida.
Deve-se a traça da segunda fortaleza de Bissau ao Capitão-engenheiro PAIS DE MENESES(Cf. o ofício do Ministro da Marinha e do Ultramar, transcrito por ÁLVARES DE ANDRADEob. Cit.., p. 77 eindicadana pag. 489 deste trabalho)e foi só após a morte deste que FREI VINHAIS SARMENTO, e por algum tempo, foi nomeado para a direcção das obras da fortaleza. Mas, como se indicou, tudo quanto construido sob a sua direcção foi provisório e ficou imperfeito. Da leitura de vários documentos verifica-se que a segunda fortaleza de Bissau estava de pé quando a Companhia do Grão-Pará expressou por escrito o seu contentamento pelo «bom sucesso do principio da fundação da fortaleza»( GERMANO DA MATA • categórico ao afirmar que, em 30 do Setembro do 1765 deu «princípio a cortar árvores e matos ea limpar o plano para se lançarem as primeiras linhas». Cf. CUNHA SARAIVA. A Fortaleza de Bissau e a Companhia de Grão-Paráe Maranhão. p. 167: ÁLVARES ANDRADE. Plantas ds Praça de Bissau e suas adjacentes. p. 57.). Portanto, esta foi construída em local diferente das anteriores, contrariamente ao que se depreende da lápide.
Por último, duvida-se da reconstrução da fortaleza em 1946, porquanto reconstruir é restaurar segundo a traça primitiva, e, nesta reconstrução, só houve a preocupação de tornar a fortaleza funcional para determinado IIm, não se atendendo ao seu passado histórico. Assim, a pequenina capelinha de evocação a S. José desapareceu para dar origem a uma singela casa quadrada, tipo colonial, e também desapareceram os majestosos poilões que existiam em cada um dos baluartes (No arquivo do Quartel-General existe uma fotografia destes poilões.) , além de hoje se verem nas arestas dasmuralhas inestéticas guaritas de cimento, pintadas de branco, em nltido contraste coma cor enegrecida das pedras lateriticas.
Na parede do lado esquerdo do túnel de acesso ã esplanada hã uma pequenaplaca de bronze Indicando que a fortaleza foi
VISITADA PELO CHEFE
DO ESTADO, GENERAL
FRANCISCO HIGINO
CRAVEIRO LOPES EM
3 DE MAIO DE 1955
Na esplanada, mas descentrado, ergue-se, desde 1946, um pequeno monumentodedicado aos «heróis da ocupação e pacificação da Guiné». Está rodeado de 4 canhões deferro, de calibre 36, montados em reparos do mesmo metal.
Dois destes canhões, os que estão voltados para a porta de serviço, são holandeses,um tem uma coroa que parece a sueca e o outro, provàvelmente, é de fundição inglesa.Junto à porta de serviço - que se vê ter sido rasgada na muralha, em ampliação daoriginal há um montículo de terra, ajardinado, onde se encontram uma caronada, umancorote e uma hélice de avião, querendo si mbolizar a união dos três ramos das ForçasArmadas. Para realização deste fim, julga-se que a caronada - canhão tipico da marinha -devia ser substituida por uma peça.
No lado exterior da porta de serviço estão dois canhões de ferro, de calibre 24,montados nos respectivos reparos, tendo um as armas holandesas e o outro aspecto deser de origem inglesa. Espalhados pelos parapeitos das muralhas encontram-se 24 canhões de ferro (Em todas as descriçõessobre a fortaleza de S. José de Bissau verifica-se que o número de canhões vem diminuindo. Conquanto em 1847 houvesse sido dada ordem, de Lisboa,para inexplicável medida do desartllhamento geral(RovistaMlitarano do 1864. p. 128), nos constou que, quer nessa ocasião quer em 1854 e1877,ou datas posteriores, tivessem recolhido ao Arsenal do Exêrclto canhões de ferro ou de bronze provenientes da Guiné. Assim o desaparecimento dos canhões que existiram na fortaleza de Bissau só se explica, para os mais pesados, pelo abandono e consequente enterramento natural; para os mais pequenos, em especial os de bronze, pelo roubo. Além das 35 peças do artilharla que seencontram na tortaleza de S. José,conhecem-seem Bissaumais novo bocas defogo antigas, cujas caracteristlcas e locais onde se encontram resumidamente se indlcam: • No Batalhãode Intendência de Angola:· Mortelro de ferro, possivelmente de fins do século XVIII - 1. No munhão esquerdo tem a marcaS BOWLING e no fogão os números de referência 7 ·I· 12. Estámontado em reparo de ferro, próprio, e tem um diâmetro de boca de 230mm.· No Museu deBlssau: • canhão acolumbrinado, deferro, do Inicio do século XVII - 1; . Canhão deferro do final do século XVIII- 1: . Peça de tiro de sinal, de ferro, do principio do séc. XVIII- 1; N. B. A peça de tiro do sinal, uma dasmultas que os indígenas nos roubaram, 101, hâ pouco mais de cem anos, ullllzada pelos mandlngas nas suas lutas contra osfulas. Cf. Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, II(1947) 449 . • Canhão de bronze com a cifra de D. Maria I -1. Os doiscanhões de ferro parecemser do origem inglesa.Ocanhão de bronze tem um corte triangularem bisel, invertido, junto ao«ouvido», que teria sido feito paraembutir um «grão», o que sucedia quando as peças tinham feito multo fogo. • NoCemitério Municipal de Bissau: Canhão de bronze, com o comprimento total de 96 cm e diâmetro de 10 cm. Alma com 6estrias, slnlstrorso. Na faixa da culatra tem a legenda: RUELLEAN 1863, e nos munhões, esquerdo e direito,respectivamente, «N.º100»e «p 101 K» • Canhão de bronze idêntico ao anterior, com a data de 1870, tendo no munhãoesquerdo a indlcação: «N.º16» • Canhão do bronze, com ocomprimento total de 96 cm eo diâmetro de boca de 11,5cm.Tem a alma lisae a câmara estrangulada. No munhão esquerdo tem a indicação «N.º232»e no direito «P 98 K». Temmarca de mira na bolada e na faixa da culatra, lado esquerdo superior, uns furos de adaplaçâo de um aparelho,possivelmente de pontaria. Uma peça idêntica foi roubada em 1959,ignorando-se o seu paradeiro. • Junto ao cais doPlglguitl, na Avenida Marglnal:Canhão de ferro, provavelmenle de calibre 36,enterrado pela boca, estando de tora ocascavel, culatra e parte do primeiro reforço. Esta peça,bem como os dois canhões de ferro que se encontram no Museude Bissau,guarneciam o antigo forte do Plglguiti. Por uma fellz delermlnação do Ex.• Secretárlo-Geral da Provinda vãorecolher ao Museu de Bissau Iodas as peças antigas de artilharia que se encontram espalhadas pela Guiné, mesmoaquelas que estão a ser utilizadas como cabeças de amarração), dos quais só um ostenta as armasportuguesas- embora não tivesse sido feito em Portugal. Os restantes são holandeses,um possivelmente é sueco, outro deve-se às fundições belgas de Lefache, e ha aindaum que tem, nos seus munhões, a característica «flôr de liz», francesa.
No Interior da esplanada, em parte sombreada por mangueiras, encontram-se,além dos quatro canhões já aludidos que rodeiam o monumento e da carona da pertoda porta de serviço, mais duas peças des·te tipo, uma das quais encravada com umpelouro de maior calibre. No chão, junto a cada uma destas bocas de fogo, existemuns quatro ou cinco pelouros de diversos tamanhos.
Na varanda da «casa do governador», voltados para o mar, encontram-se quatropequenos canhões de 47 mm, que há meio sêculo faziam parte do armamento dealgum navio de guerra.
Exceptuando estas quatro peças, um total de 35 velhos canhões fazem imaginar, aquem os contempla - melhor que estes simples e breves apontamentos - o que foi ahistória da fortaleza de S. José de Bissau, através dos seus dois séculos de existência.
Uma história atribulada, de sucessos e insucessos, de esperanças e desânimos, indelevelmenteligados pela nossa constante vontade de permanecer na Guiné.
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Idem. I Congresso da História da Expensà·o Pottuguesa no Mundo. pp. 167-170. doe. n.º2. nota F.
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Alf. MIGUEL ANTÓNIO PIMENT'EL · A Guerra de Bissau em 1894. ln Revista Militar, ano de 1897, pp. 616 ss.
TITO AUGUSTO DE CARVALHO- As Campanhas Portuguesas de Colonização, Memória apresentada â Sociedadede Geogralia de Lisboa, Lisboa, 1902.
Aqui os filhos nao herdam dos paes, e sim os sobrinhos,filhos das irmans, uterinas, porque essestem elles a certezade que são de seu mesmo sangue, o .que não acontece o respeitode seus filhos, attenta o geral licenciosidadedos costumes.
Quando morre alguém,não sendo velho, sempre altribuemo acontecimento amaleficio, e enchendo-se de lamavão para a casa mortuaria fazer grande alarido dechoro, cantando os louvores do defunto,a que chamam fazer guiza;mas se o morto jáé velho, levnantamgrandes cantorias e formam bailados ao som de tambores,aquechamambombolons,e em ambos os casos passam nisto diversos diascomendo ebebendo à custa da familia do falecido quede ordinario nãodeixam, em quanto sentem que havaccas para comer, e aguaardente paro beber.
Portugal tem o direito de protectorado sõbreéstaIlhapor offertaespontanea do rei della, que a collocou debaixoda sua protecção, pedindo-lhe umae muitas vezesque mandassealli construir uma fortaleza para proteger os seus vassalos, e evitar que fossem estrangeiros fazer-lhes vexame apretexto de negociarem,como costumavam fazer os ingrezes,francezes, e flamengos: e foi por esse protectorado que EIReipor Alvaráde 7 de Março de 1696 ordenou que ajurisdiçãodo Capitão Mor de Bissau, na sua qualidade de Ouvidor, seestenderiaaté cinco leguas; e que mais tarde parapremiar olealdade dos reis, que se tinham succedido até então, determinouem 1702 que se lhe desse um presente, que serepetiriaem diversos tempos do anno, conforme o fosse merecendo.
Estes presentes tomaram mais tarde a apparenciadetributos, e como se isto não fosse já bastante vergonhoso,houve um Governndor Geralque em 1838 estabeleceu umtributo mensal de uma espingarda, 25 arrateis de polvora, e12 frascosde aguardente a fovor do Rei delntem,cujasinsolencias exigiam severarpressão, e não o inceentivo quese lhe dava para seguir em maiores e mais intoleráveis, co
PRAÇA DE CACHEU
Estabelecimento fortificado ao longo da margem esquerda do rio de S. Domingos, cinco legas distante da sua foz,o qual foi construido em 1588 por MANUEL LOPES CARDOSOcom licença do Rei da terra, e. junto do qual osportuguzes se estabeleceram: porêm dous annos depois tiveram desustentar um combate que os negros deram ao eslabelecimento,e ao qual foram vencidos porque, contavam com o surprezado attaque, e acharam os nossos apercebidos pelo avisoque na vespera ánoite receberam de duas negras.
Consta  a fortificação de uma palissada, e quatro pequenos reductos arruinados, cuja collocação não é a melhor na opinião dos entendidos que a examionaram. Chama-se a isto uma Praça, mas não lhe compete realmente senão o nome de presidio. Não tem casa do Governo porque uma explosão de polvora o demoliu em 1834, deixando-lhe apenas as paredes: e o quartelda tropa é um edificio malconstruido. Acha-se actualmenle com 12 peças montadas.
Encoslada a este presidioestá a povoação, que se divide em dous bairros, a quecbamam no paiz, a Villa quente,e a Villa fria:este onde residem as pessoas principaes ou brancos, como lase lhes chama qualquer que seja a sua cor,é uma rua comprida ao longo o rio na direcção de Oestepara Leste, onde acabanas ruinas do antigo hospicio dos Antoninhos; e aquelle, onde unicamente residem os Grumetesda praça, éum labirintho de choupnas do barro,cubertasde palha. Esta povoação soffreu muito com uma explosão depolvora em 1846; mos os damnos que ella fez devem d'estar já reparados com o auxilio de quatro contos de réis, que o Govêrno mandou applicar para as reparações.Por o lado da terra é a povoação cercada por uma tabanca feita de paus de sibede 10 a 12 palmos de altura, bem cravados no chão e bem juntos uns oom os outros, com duas portas para o sertão; obra que mandou fazer o capitão mor ATONIO DE BARROS BEZERRA,nos fins do seculo16: e que depois, e ainda modernamente, tem sido renovada.
Estas duas portas foram em 1823 flanqueadas por dousbaluartes de adobes, que o govemador da Praça mandou levantar por occasião da guerra que teve com os Papeis do Churo e deCacanda. Esta cerca tem uma milha de comprimento, e quasi um terço de largura.
Depois de ter sido o principal estabelecimento militar dos portugezes n’aquellas paragens, devido isso unicamente aos seus próprios esforços, acha-se hoje reduzido a umaposição mais do que secundaria; e essa mesmo, se a temmantido, se não està de todo anniquillada, deve-se aos exforçospatrioticos de um homem, que realmente era digno deviver em epochas em que o nome portuguezchegava á alturaem que elle ainda o considera: fallo de Honorio PereiraBarreto.
Ha aqui umn freguezia com a invocação da Senhora daNatividade, cuja Igreja veiu a terra, e por isso está servindode Parochia uma ermida particular, que lambem ameaçaruina. Esteve muitos annos sem Parocho: ignoro se jao tem.
Este estabelecimento, e os que delle depndem, foi em 1833 annexado ao de Bissau para juntos formarem um so governo subalterno; mas em 1841 foi de novo desannexado para formar um governo separado d’aquelie, mas igualmente sujeito ao Governador Geral de Cabo Verde; e assim estão hoje sendo dependencias suas: Farim, Bolor, Ziguichor, e o ilhéu de Gonú, com a denominação degoverno de Cacheu.
O movimento commercial exterior deste estabelecimentoé muito menor que o de Bissau, mas não me parece que sereiexaggerado calculando-o em 30 contos de réis cada anno; ointerno andará pelo dobro com pequena differença para mais.Comtudo ésta ultima supposiçãe é puramente arbitraria. Eimporta e exporta os mesmos artigos que o estabelecimentode Bissau. Os seus rendímentos que em 1841estavam arremattadospor 1:250$réis foram em principios de 1847arremetados por 3:500$réis em metal: e como asua despezaera então calculada em 5:000$ réis, o deficit é hojemuito menor do que então. Este deficit é preenchido por a Junta da Fazenda de Cabo Verde.
A população de Cacheu apenas será de 1800 pessoas - entrando nesse numero 1:190 escravosde ambos os sexos,que são a totalidade dos do Districto. Note-se porêm aquiumacircunstancia, e vem aser: que o numero dos varõesé muito superior ao dasfêmeas, o que muito concorrenãoso para que a população não augmente, mos ainda para quediminua a olhos vistos.
Não ha agua dentro do forte, e por isso os seus habitantesusam da quecorre para o mar na ribeira junto aorecife da Calaca, distante cousa de um quarto de milha a O.do forte; e por isso offerecendo a sua ocquisição lambemrnuito perigo em occasiões de guerra: e como ésta ribeiranão corre todo o anno tem de recorrer ao poço da Cacanda,o que tornaesse perigo ainda mais formidavel.
Ha neste estabelecimento as mais bellas madeiras deGuiné, algumas dellas muito proprias para construcção navalde que se fornece o nosso Arsenal da Marinha , que mandaannualmente buscar um ou mais hiates della, que se cortados arvoredos que estão sitos nas duas margens do rio de S.Domingos,nas immediações de Cacheu ; porem as da margemdireita são as melhores.
O clima de Cacbeu é muito doentio; alli são mais frequentesas febres miasmaticas, ou ataxicas do que em Bissau,o que se attribue á podridão dos resíduos do arroz, que os negros deixam nos paúes, em que fazem aquella cultura; etalvez se deva tambem attribuir a não ser tão ventilado oterreno, como é em Bissau, segundo fui informado.
Ainda gue este presidio seja de capacidade para umaguarnição de 100 praças. nunca ella chegou a esse numero:em 1837 era de 74, e em 1843 apenas era de 45 praças, com 1 Tenente e 1 Alferes: hoje não sei qual seráaforçada guarnição, mas é quasi certo que não serà maior; e ouessa, ou menor, de pouco proveito pode ser pelos elementos de que se compõe n’um paizcercado de inimigos, postoque os indigenas sejam aqui mais doceis e tractaveis, quenão os de Bissau.
PRAÇA DE FARIM
Presidio que dista 60 leguas de Cacbeu, situado em terrenodos Mandingas na margem esquerda do Rio de S. Domingos.Começou por ser uma aldea aberta , e assim esteveaté 1692, em que dousclerigos naturaes de Santiago, queaIli estavam degradados pelo Bispoem castigo de serem dadosa rixas, influiram os moradores para que a fortificassem,o que elles fizeram cavando um fosso, e fazendo uma tabancade paus chamados de carvão,que guarneceram com algumaspeças d'artilheria. que mandaram ir de Cacheu, e com quese fortificaram.Hoje este presidio consiste n'uma estacada com tres baterias de barro, cubertas de palha, e guarnecidas de algumaspeças de artilheria, de que apenasestarão em menos mauestado seis,que Honorio Pereira Barreto montou ásua custaquando foi, em 1835, Provedor do concelho de Cacheu.
Este presidio não passa de uma feitoria, onde os negociantesde Cacheu tem os seus caixeiros e agentes, a quemremettem artigos de vestuario, agua ardente, armas. polvora,tabaco, missangas, prata e cobre , e outros objectos; e dequem recebem em troca cera, marfim, peles, couros, e algumouro, o que dá um movimento commerciel de 24a 30 coutosde réis annualmen\e, protegido mais pelo caracler inofensivo dos Mandingas, e interesse que tem na continuação dotrato commercial, do que no destacamento de tresbaionetas queo guarnece.
A suapopulação regulapor 670 habitantes, incluindo250 escravos,com uma freguesia deinvocação de Nossa Senhorada Graça, que se veneran'uma Igreja de barro, cubertade palha, em muito mau estado, e sem parocho há uns poucos de anoos. No calculo da população não estão incluidosos chamados Grumetes da Praça.
O estabelecimeoto dos Francezes e Inglezes no Sejo, sobreo Casamansa, na distancia somente de 2 dias de jornadadeste presidio, tem causado males incalculaveis ao seu commercio, que vai diariamente decaindo, e ameaça anniquillar-sede todo se não se adoptarem providencias efficazes. Ja tinha soffrido muito com o estabelecimento de Gambia, agora odo Sejo deu-lhe golpe de morte ao seu commercio; de que nãopoderá restaurar-se senão por meio d'estabelecimentos ruraes,para o queparece mui asado porque ambas es suas margensformam vastas lesirias susceptiveisde grandes culturasde arroz e de canna deassucar.
Os indígenas de Farim são Mandingas, como os de Geba; mas os Grurnetes do Presidio são insolentes e attrevidos,e em nada se parecem com os de Geba.
PRAÇA DE BOLOR
Estabelecimento portuguez fundado em terreno Felupe, na Ponta do Baluarte,  no extremo de uma praia de area. Corre-lhe a meia milhade distancia oo Sul o cachopo do Banquinho, e entre elle e esta ponta fica o canal por onde a tiro de mosquete passam os navios que vão ao Rio de Farim,ou S. Domingos,e os que se destinarem ao porto deBolor, que ésla Ponta domina por L. e L. N. E. Conslava este presidio de dous meios reductos horisonlaes do fachina sobre estacaria, um do lado do Sul dominando o canal, e outro na Ponta de Leste varejando o Porto de Bolor , ligados entre si por uma estacada, e guarnecidos com 6 peças, occupando uma área de tresentos pés quadrados. Tinha quartelpara o Governador, e para a guarnição, o outras oficinas,obrs estas que sefizeram em 1831, mas de que hoje se póde dizer que janada existe porque estão completamente arruinadas.
Este ponto, que é uma dependencia de Cacheu, ê talvezo mais salubre da Costa porque se dessecou o terreno,abrindo uma valla profunda de roda do Forle,e dous canos que attravessam o mesmo, e vão desaguar no valla.
☻ Manuel António Martins, um abastado comerciante caboverdiano e vice-cônsul honorário dos Estados Unidos, começa a desenvolver um negócio de extracção de sal em Pedra de Lume, na Ilha do Sal. A salina natural situa-se no interior dum vulcão extinto.
☻De recordar que, em meados do séc. XIX, na zona do Pigiguiti, houve, não só, o Fortim Nozolini, assim com o Cais Nozolini, este, mais para Este ficava, sensivelmente, onde hojese encontra a última ponte que, há poucos anos, foi construída em Bissau.
Quanto a Aurélia Corrêa, deparamos231 com a referência ao "Concerto na Lancha Aurelia Corrêa e concerto da ancora e do bote'' no valor de duzentos e três mil reis e quatrocentose cinquenta e oito tostões (203$458).
No ano seguinte, encontramos232, iguahnente, na relaçãodos ·'Vapores e lanchas de vela' '. referência à dita lancha.
Na realidade, Júlia da Silva Cardoso, Aurélia Correia e CaetanoJosé Nosolini deixaram os seus nomes ligados à Guiné
Cerca de 1.820 politicamente influentes Julia da Silva Cardoso da Guiné-Bissau
A esposa do governador Joaquim Antonio de Matros da Guiné Buissau, ela segurou status elevado na sociedade local, decorrente de um estatuto especial a partir de suas raízes Bijagós, e ela também pode reivindicar autoridade de seu fundo Bissau em relação ao Pepel vizinho, em uma ocasião , quando o Pepel ameaçou attaca a liquidação Bissau: ". esposa do governador foi enviado para os Papels, as conferências que ela realizadas com o rei D. José" em outra occation disseram as fontes: "a doação da ilha de Gallinhas à Coroa Português em 1830 foi muito influenciado pelo parceiro de Mattos ', descendente da Bijagós e com quem teve filhos, uma pessoa muito respeitada, Julia da Silva Cardoso. "Não só ela foi fundamental na negociação da concessão de direitos de assentamentos para a ilha de Gallinhas, ela também tinha realizado o mesmo serviço dois anos antes em relação à ilha de Bolama. Os dois tratados foram ambos feitos com uma olono (rei) de Kanabak (Roxa), Damião, que, na verdade, "doado" a ilha para De Mattes. Ela era a tia da Reinando Okinka Aurélia Correia da ilha de Orango Grande (circa 1830-1874 / 1879).
231Na pág. 299 do B. Official n.º 22 da Guiné, de 28.05.1910.
232No Boletim Oficial n.º 2 da Guiné, de 14.01.1911.
☻ Em 1850, o Gabú, que perdera o mito da invencibilidade, sofre com as incursões peuls, com as sublevações dos muçulmanos e com a implantação cada vez mais forte dos europeus na Senegâmbia.Kansala já não controlava, por exemplo, as províncias do rio Geba, na actual Guiné-Bissau, nem as vias para Cacheu e Farim. O reino era ainda grande, mas encontrava-se dividido pelas guerras e minado por dentro, não pelo peul mas pelo muçulmano malinké, aliado natural do Fouta.
Do seu lado, as provínicas malinkés da margem Norte do rio Gambia separaramse do Gabounké, embora sendo consideradas territórios de Tiramaghan34. Assim, nos séculos XVII e XVIII, os reinos do Badibou, do Niani e do Wouli teriam uma grande autonomia.
Por volta de 1850, os franceses tinham conseguido tornar Sédhiou uma praça comercial mais importante do que as de Ziguinchor e de Cacheu, controladas pelosportugueses, mas a influência portuguesa estava ainda bem presente sob forma do crioulo: «En 1849, le nouveau résident Emmanuel Bertrand-Bocandé nous a laissé de fort riches Notes sur la Guinée Portugaise ou Sénégambie méridionale. Ayant appris le créole portugais et le malinké, il avait une grande expérience des pays mandingues»36. Ou seja, as duas línguas francas nos territórios mandingas eram o malinké, naturalmente, e o crioulo do Português.
A desagregação lenta do reino do Gabú foi explorada pelos franceses que, a pouco e pouco, foram considerando território seu, áreas da Casamansa (Boudhié em 1849, seguida das aldeias de Patiabor, Bajari e Bunu), não sem resistências locais: soninkés, primeiro, e balantas, depois, opuseram forte resistência às forças muçulmanas aliadas dos franceses.
Chuvas fracas e escassez de colheitas nas ilhas do barlavento

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