sábado, 7 de maio de 2016

COLONIZAÇÃO DA GUINÉ 1844/10/04-1845


1844/10/04
«A intervenção dos Franceses
Detendo o essencial do comércio legítimo, os Franceses são os mais rápidos. Os primeiros socorros a chegar (4 de Outubro de 1844) são, efectivamente, os marinheiros do capitão de corveta Baudin, comandante da estação das costas da África Ocidental. Deixar-nos-á um relatório publicado (144), no qual distingue cuidadosamente dois inimigos independentes: os Papéis, «raça de homens selvagens mas não maus, unicamente ocupados em cultivar milho miúdo, milho e arroz, e a criar gado para o venderem (145) e os grumetes «gentes de diversas
nações, todas mais ou menos cristãs, criadas sob a protecção do forte português ...ladrões, cruéis, e sempre dispostos a servir-se da faca; muitas vezes fizeram passar os barcos de cabotagem franceses e ingleses por vexames, tal como os Portugueses, que nunca ousaram
reprimir energicamente os seus excessos» (146).
Baudin subestima amplamente os efectivos dos Papéis da ilha de Bissau, mas introduz os grumetes no levantamento. Estes últimos aproveitaram o receio que os Papéis inspiram aos negociantes para evacuar a sua aldeia para o interior da ilha, antes de se lançarem em ataques de ratoneiros contra as casas dos comerciantes. Arrastando com eles os Papéis, foram repelidos muitas vezes. Contrariamente a 1842, existe portanto, em 1844, aliança militante entre Papéis e grumetes. Baudin recusa intervir contra os Papéis (guerra colonial regular, a seus olhos) mas, considerando os grumetes como salteadores, oferece o seu concurso para os vencer. Aconselha, portanto, que se destrua a sua aldeia, demasiado próxima do forte e, a 7 e 8 de Outubro de 1844, empresta 30 dos seus marinheiros para incendiar as suas choupanas. Bloqueados pela artilharia do brigue e pelos atiradores, os grumetes não podem regressar à feitoria. Como os telhados das choupanas impedem os tiros, são incendiados (como em 1842), e o derrubar das suas paredes enormes exigirá vários dias de «guerrilha urbana» aos 200 escravos dos moradores e aos soldados portugueses que terão de ripostar, passo a passo, aos grumetes, que voltaram para defender a sua antiga aldeia.
Ao cabo de onze-doze dias em frente de Bissau, os Franceses retiram (16 de Outubro de 1844), deixando o forte quase totalmente liberto e em estado de bater a planície a canhão. Segundo Baudin, os negociantes estão em condições de retomar «as suas operações comerciais suspensas havia já bastante tempo, para grande prejuízo, não só da colónia, mas ainda do comércio do Senegal e da Gâmbia...» (147). Temos o sentimento de que este aspecto, estritamente mercantil, o interessa muito mais que a sorte da colónia.
(144) Baudin [e Anónimo]: «Etablissement portugais de Bissao (côte occidentale d'Afrique)»: Annales maritimes et coloniales, 30º ano, série. Parte não oficial. Tomo III, secção, Revue Coloniale, I845, pp. 143- 148.
(145) Idem, p. 144.
(146) Idem. p.p. 144-145.
(147) Idem, p. 147
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 92-93
O governador interino José Xavier Crato, da Praça de Cacheu e dependencias, em 22 de outubro de 1844, relatou ao Governador-geral o facto gravissimo do modo como estavam os franceses exercendo a fiscalização no rio de Casamansa.
No sítio de Sejo (Selho) onde os franceses fizeram uma feitoria, saiu uma canoa de Zeguichor; a duas milhas distante do forte foi esta canoa atacada por uma outra dos balantas, por estarem em guerra estas tribus; a canoa d'estes, com alguma gente, foi apprehendida pela d'aquelles e como a polvora acabasse á gente desta tribu retrocederam a Selho para compra-la.
O official francês que ali êstava estacionado, partidario dos balantas, quis obrigar a canoa a fundear em frente do forte, negando-se a tripulação a obedecer-lhe; do forte fizeram fogo sobre a canoa e de terra saiu um lanchão para a tomar, o que conseguiu. A tripulação foi presa e os prisioneiros balantas foram postos em liberdade.
Esse officüil francês dirigiu-se ao governador de Cacheu a exigir-lhe uma satisfação que este repelliu, antes o intimou a soltar os presos.
Era intenção dos franceses expulsar-nos de Casamansa e para isso indispunham contra nós os balantas que, com suas embarcações, andavam nesse rio exeecendo pirataria; roubvam fasendas ás embarcações de Zeguichor e a iam vender a Selho.
1844/10/12
«A intervenção dos Britânicos
A rendição naval dos Franceses é garantida por um brigue da Navy vindo (12-13 de Outubro) de Bathurst por urna dezena de dias (voltará a partir a 26 de Outubro). A sorte dos Portugueses, em 1844, é que os Papéis (avaliados então em 20 000 almas na ilha de Bissau),
requisitados pelos trabalhos nos seus arrozais, enviam pouca gente para o cerco. Em troca, os representantes de outras etnias vêm, como mercenários, fazer fogo contra as muralhas onde, de uma guarnição de 80 soldados, nem 50 ou 60 estão disponíveis. Ao ler as fomes portuguesas (148), é claro que o conflito é triplo: a) os mercadores e a fortaleza contra os insurretos (grumetes) e os assaltantes (Papéis); b) os comerciantes contra os militares de Bissau (Dziezaski) e o governador-geral de Cabo Verde; o primeiro é acusado de não se empenhar a fundo e de recusar libertar o régulo papel preso, o segundo, na Praia, de nada fazer; c) os negociantes, entre si (a facção Nosolini contra a que apoia João [Marques] de Barros).
Seja como for, se o se acompanham muito bem as operações, é possível dizer que elas são intermitentes e, provavelmente, suspensas a partir de 18 de Outubro. Os Britânicos não parecem ter participado muito nos combates e retiram. Combateram realmente? Não o sabemos.
 (148) Barcellos: op. cit., Parte V, pp. 28-29.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.93
1844/10/26
«A 26 de Outubro de 1844, Honório Pereira Barreto chega de Cacheu com 54 homens armados. Oferece-se como mediador entre a praça e, do outro lado, os grumetes e os Papéis (149). O régulo de Bandim e os grumetes recusam, porque querem proibir a construção da tabanca (cerca em paliçada reforçada por um muro de adobe à maneira mandinga). Além disso, os grumetes querem reocupar a sua aldeia. Todos exigem a expulo de Caetano José Nosolini e de sua família. Chega-se, no entanto, a um armistício, enquanto se espera a resposta da Praia.»
(149) As principais condições exigidas, a 27 de Outubro de 1844, pelos Portugueses, para concluir a paz, são as seguintes: a) os trabalhos de construção da estacada não serão entravados; b) nenhum gentio armado poderá transpor estas cercas; e) uma zona non aedificandi de 50 m será imposta no exterior das fortificações; d) os grumetes não mais ali poderão viver. Serão tratados como gentios. Todavia, os que prestarem juramento de fidelidade, poderão trabalhar em Bissau e serão readmitidos. Idem, pp. 33-34.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 94
1844/11/04
Indígenas Papéis, depois de cometerem vários desacatos, assassinaram barbaramente quatro pes­soas na praça de Bissau, sendo uma delas um marinheiro europeu. Uma escolta prendeu o régulo de Intim por ordem do Governador, tendo conseguido desalojar o gentio para fora da pali­çada.
1844/11/05
«Apresenta-se então (5 de Novembro de 1844), diante de Bissau, a corveta americana do comandante T. W. Freelon (150). Vem defender os moradores, representando os interesses americanos. O governador «polaco» parece ter empolado o valor dos bens americanos (50 000-60 000 dólares), adiantados aos moradores, para incitar o comandante Freelon a ficar. O principal agente dos Americanos não é senão Caetano JoNosolini, o que explica muitas coisas (151). Segundo parece, este esforço inesperado volta a insuflar coragem entre os sitiados. Os seus escravos querem (?) pegar novamente em armas. Mais verosimilmente, são os comerciantes que levam o governador a suspender o armistício concluído por Honório Pereira Barreto. Mais ou menos desautorizado, este retira-se (7 de Novembro de 1844) para Cacheu, o que, incidentemente, a entender: a) que o super-patriota não o era ao ponto de colocar o seu patriotismo antes do seu amor-próprio de negociador ferido; ou que, não estava tão ameaçado como isso.
(150) Por ordem do comodoro Matthew Perry (o comandante da esquadra americana que impôs ao Japão a abertura ao comércio estrangeiro), de que o African Squadron, com base na Praia desde 1843, tem a seu cargo reprimir o tráfico americano de escravos.
(151) O corcio americano virá em segundo lugar, em Bissau, depois do francês, no começo dos anos 50. George E. Brooks, Jr: Yankee Traders. Old Coasters & African Middlemen. Boston, 1970, pp. 196-197. Segundo George E. Brooks, se Freelon teve, realmente, 40 marinheiros doentes, nenhuma menção é feita quanto a mortes na tripulação.»

René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 94-05
1844/11/09
Começa a guerra entre os portugueses e o povo de Bissau (papéis e grumetes) (11/09).
- O govemador de BISSAU é obrigado apedir auxílio aos govemadoresde Cabo Verde, Gâmbia e Gorée (18/09).
- Vinda em socorro dos portugueses, chega a Bissau a corvetafrancesa ÉglantIne (04/10).
- Os portugueses, auxiliados pelos franceses, atacam o bairro dosgrumetes, m Bandim.Os portugueses iniciam a construção de uma paliçada, para protegera povoação de Bissau contra o ataque das forças guineenses(outubro).
- Chega a Bissau o brigue inglês Alert (13/10).
- Na sequência da chegada do barco de guerra inglês, a corveta Églantine retira-se (16110).
- Retita-se o barco de guerra inglês (26110).
- Honório Barreto faz uma mediação entre os portugueses e os papéis(26/10).
- Chega a Bissau a corveta americana Preble. A guerra reacende-se
(05/10).
-A corveta americana é forçada a retirar (23/11 ).
- Os portugueses recebem reforços de Cabo Verde (05/12).
- Os papéis fazem a paz com os portugueses. Os grumetes refugiados em Bandim cotinuam a luta (29/12).
- Honório Barreto compra doze terrenos nas duas margens do rio Casamansa para tentar deter o avanço dos franceses nesta região (29/12/1844 a 05/01/1845).
1844/11/10
«Recomeço das hostilidades diante do túmulo do branco
A partir de 10 de Novembro de 1844, os assaltos recomeçam, sendo repelidos os Papéis de Intim e de Antula. Combates violentos (10,11, 12, 22, 25 de Novembro) opõem principalmente os escravos dos comerciantes (e os Balantas ao seu serviço) aos Papéis. Os marinheiros americanos servem, antes de mais nada, para proteger, pela sua artilharia, a construção da grande tabanca ocidental, entre o baluarte da Balança e o mar. Mas rêm de retirar, como os Franceses e, antes deles, os Britânicos. Bissau é um matadouro para os brancos. E entre eles, são os Americanos, segundo parece, que tiveram mais baixas nesta «guerra» porque, em dezoito dias de estada (5-23 de Novembro de 1844), as febres prostaram 40. O número subirá a 90, à chegada a Cabo Verde. A tripulação registimesmo 13 mortos, entre os quais dois oficiais (152). A reputação de Bissau está, pois, amplamente justificada. Abandonada pelos marinheiros estrangeiros, a feitoria é ainda atacada a 25 de Novembro.
A Marinha portuguesa, a última, envia finalmente de Cabo Verde uma goleta com 30 soldados. Mas os ataques contra os construtores da tabanca repetem-se: (5 de Dezembro). Os 25 canhões da fortaleza, mais um obus, estando mal montados e mal servidos, não parecem ter desempenhado grande papel no cerco. No fim de Novembro de 1844, a grande tabanca do oeste está mais ou menos acabada, sob a direão de Caetano José Nosolini. Une o flanco esquerdo do forte à praia.
(152) Barcellos: op. cit., Parte V, p. 29.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 95
1844/12/19
Paz com o gentio de Intim, Bandim e Antula, depois de vencida a guerra.
«Uma paz claudicante
A 19 de Dezembro de 1844, é finalmente concluída a paz com os gulos de Intim, Bandim e Antula, por intermédio de um enviado do régulo do Rio Grande (152). Os grumetes estão excluídos. O cerimonial, nesta ocasião, testemunha um sincretismo político-religioso revelador
da mestiçagem cultural das feitorias (153). A 20 de Dezembro de 1844, Dziezaski manda disparar uma salva de 21 tiros, para marcar o «fim» da guerra. Durara cerca de três meses e meio.
 (152) Qual? O de Buba ou de Geba?
(153) O caso teve lugar no interior da fortaleza, em frente das autoridades e dos moradores, acompanhados pelo seu cura, perante os aliados dos Portugueses, Biafadas e Balantas, e na presença do mediador do Rio Grande, de três representantes de cada um dos três régulos Papéis, vindos com a sua feiticeira ou sacerdotiza (a balobeira). Trata-se de beber aguardente cortada por água benta, vertida pelo cura. A beberagem encontra-se numa grande bacia onde se molham balas de artilharia e de espingarda, e pólvora (Barcellos: op. cit., Parte V, p. 38). O gulo papel é libertado, recebe roupas e 24 galões de aguardente. Provavelmente para compensar o copo que lhe fora recusado, a 11 de Setembro. A sua libertação é saudada com sete tiros de canhão.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 95-96
1844/12/21
O rei Banhum de Sango Dogu, residente em Bis­sari, na margem do rio Casamansa, cedeu «para todo o sempre» a HONÓRIO PEREIRA BARRETO todo o terreno não cultivado nessa região, declarando que «ainda que tivesse (o que Deus não permita) guerra com o Presídio de Ziguinchor, em nada essa guerra prejudicaria esse contrato livremente feito».
1844/12/29
Foi cedido a HONÓRIO PEREIRA BARRETO, então comerciante, residente em  Cacheu, pelos gentios de Mascaço, na margem esquerda do rio Casa­mansa,  um terreno com 100 toesas de fundo por toda a extensão do litoral para nele se  erguerem casas de negócio e estabelecimentos com a ban­deira portuguesa, que  podiam ser fortificados
Honório Pereira. Barreto consegue dos gentios de Gone e Cabone (Casamansa)cedência de terri­tórios. Idem, idem, do chefe de Sango Dogu (Casa­mansa). Idem, idem dos chefes de Masçaco (Casamansa).
Idem, idem dos chefes de Nhamu (rio Sango Dogu) e gentios de Blandor e Santague, a 30 desse memso mês.
1844/12/31
Portaria a FRANCISCO DE PAULA BASTOS, Governador Geral de Cabo Verde. — Communicando-Ihe o Decreto de 31 de Dezembro dc 1844, pclo qual foi exonerado do cargo de Governador Geral daquela Província, devendo porém continuar a exercer as funções do mesmo cargo atéà chegada do seu sucessor o actual Comandante da 9.ª Divisão Militar, D. JOSÉ MIGUEL DE NORONHA, o qual há-de ser levado à Província em uma embarcação do Estado, na qual o dito Brigadeiro Bastos poderá regressar.
PORTARiA a D. JOSÉ MIGUEL DE NORONHA. — Communicando-Ihe o Decreto de 31 de Dezeinbro de 1841, pelo qual foi nomeado Governador Geral da Provincia de Cabo Verde para onde será transporlado da llha da Madeira em um navio do Eslado, e que por Decreto de 2 de Janeiro ultimo foi nomeado seu Ajudante d'Ordens o Tenente de Infantaria 11, — JOSÉ TEIXEIRA REBELO.

«D. José Miguel de Noronha - brigadeiro, nomeado em 31 de Dezembro de 1844, só tomou posse em 26 de Junho do ano imediato. Teve como secretário geral José Maria de Sousa Monteiro. Foi eleito deputado em 1848 com o capitão Fontes Pereira de Melo. Em 1846 grassou na ilha de Boa Vista uma epidemia de febre amarela, importada por um vapor inglês, que vitimou 315 pessoas, considerando-se extinta em Fevereiro do ano seguinte. Registou-se um donativo de mil libras da parte do govêrno britânico, além doutros particularesJoão Barreto
1845
A França, por seu lado, celebrou com a Inglaterra, em 1845, uma Convenção para assegurar a completa supressão do tráfico da escravatura, na qual se previa a fiscalização das águas das costas orientais e ocidentais da África, desde Cabo Verde até 16 graus e 30 minutos de latitude meridional, tendo o Governo Português aceite a referida Convenção, a coberto da qual era inegável a ocupação pela força de toda a Guiné, sem que Portugal tivesse direito a reclamar. Com a sentença arbitral, referente à ilha de Bolama, a “(...) fronteira sudoeste estava, pois, demarcada; as restantes acabaram por ser delimitadas com a França (...)”
Em 1845, subiu ao trono o mansa-ba Dianké Wali, o último rei dos gabounkés. Com Wali, o Gabú conheceria um sobressalto de poder e de reorganização que culminaria com o ataque a Manda e a destruição integral desta cidade peul. Desde o final do Século XVIII nenhum exército gabounké tinha conseguido passar o Koliba e guerrear no Fouta.
Epidemia de febre amarela na ilha da Boavista
0s navios franceses Grenedier e Zebre em Bissau (05/01).
- Chegam de Lisboa o brigue Vouga e a escuna Cabo Verde, que atacam os grumetes. Estes enviam Sangu, rei de Bissau, parapropor a paz aos portugueses.
- Os grumetes fazem içar uma bandeira francesa em Bandim, nointuito de provocar um conftito entre Portugal e a França (30/04).
- Os papéis hostilizam os comerciantes portugueses. apoderando-sedas suas canoas com mercadorias.
-A guerra generallia-se e os papéis e grumetes chegam a destruiruma parte da paliçada.
- Coonvenção anglo-francesa para a partilha da África Ocidental(29/05).
- Honório Baneto écondecorado com a Comenda da Ordem deCristo (16/07).
- Chega novamente a Bissau o brigue Vouga, que começa imediatamente a bombardear as forças guineenses (07/08).
- Os grumetes assinam a paz.
Os rendimentos da Guiné que, desde 1840, estavam arrematados por 4:800$000 réis em generos, incluindo vencimentos aos empregados da Alfandega, passaram, em 1845, a 9:200$000 réis, sendo os novos arrematantes D. Rosa de Carvalho Alvarenga e seu filho, Honorio Pereira Barreto; estes se obrigaram a pagar aos empregados das Alfandegas. o que elevava àquella importancia a 10:200$000 réis.
Os contratadores tinham direito á recepção de todos os rendimentos, incluindo multas, e recebiam mais, por adiantamentos que fizessem, 1 por cento, ao mês, pela mora do pagamento.
Neste contrato dava Cabo Verde á Guiné perto de 4:000/$000 réis para suas despesas. ·
«Em 1844 e 1845 realizou Gregorio JoDomingues uns poucos de contractos , como procurador de Honorio Pereira Barreto, com diversas tribus gentilicas da Guiné. Daremos na integra o primeiro contracto:
Honorio Pereira Barreto, commerciante, residente em Cacheu, por seu procurador Gregorio JoDomingues e os principaes d'aldeia gentia Banhunes de Gano e Cobone, situada na margem esquerda do rio de Casamansa, convieram entre si perante as testemunhas abaixo mrncionadas no seguinte :
1.º Os gentios de Gouo e Cobone, cedem em toda a propriedade de hoje para todo o sempre a Honorio Pereira Barreto, cem toesas de fundo por toda a extensão do littoral que lhes pertence, reservando somente para elles gentios, todos os sitios em que presentemente cultivam arroz ou milho e as palmeiras, .das quaes extrahem vinho.
2.º Honorio Pereira· Barreto ficando possuidor de todos os terrenos não cultivados, e dos .que os gentios de Gono e Cobone deixarem de cultivar, podeestabelecer n'esse terreno toda a qualidade de cultura que lhe parecer conve niente, fazer pastar bois e cortar as arvores que forem necessarias, e mesmo se quiser ali fazer casa de negocio, estabelecimento com a bandeira portuguezn, fortificando-os, emfim tudo quanto for util aos seus interesses.
3.º Os gentios referidos desde já declaram que devem ser olhados como nullos e de nenhum effeito quaesquer contratos que posteriormente se vejam forcados a fazer com individuos ou governo estrangeiro da Europa e que tendo elles alienado o terreno referido não podem dar senão a Honorio Pereira Barreto, licença de fazer nelle estabelecimentos, casas de negocio, não podem consentir que se arvore ali outra bandeira que não seja a portugueza.
4.º Declaram mais os mesmos gentios que ainda que venham a ter, o que Deus não permitta, guerra com este presidio de Zeguichor, em nada essa guerra prejudicará este contracto tão livremente feito.
5.º Honorio Pereira Barreto, em pagamento da cessão do referido terreno, deu aos referidos gentios, por uma só vez, cincoenta mil réis, que foram entregues pôr Gregorio José Domingues, procurador do mencionado Honorio Pereira Barreto.
E para constar se feí este em quadruplicado do mesmo theor e data. Testemunhas a tudo presentes André Mendes Teixeira, Juiz do Povo deste presidio; José Maria Barbosa, Pedro d' Alcantara Pereira e Roberto Mendes Martins, que todos o de assignar, com Gregorio José Domingues, procurador de Honorio Pereira Barreto e com os gentios presentes Rangala, Bigigor, Usamun, Gasingo, Mazango, Made, Ufanhum, Baioca, Joaquim, que por não saberem ler nem escrever, assignam de cruz, depois de se lhe ter explicado em sua lingua, o presente contracto. Gono, 29 de dezembro de 1844. Seguem as assignaturas infra mencionadas.
2.º contracto. - Em 5 de janeiro de 1845 o mesmo Gregorio José Domingues com os gentios Banhunes, de Farancundo, da margem direita de Casamansa, concordaram em fazer a cessão de uns terrenos na mesma extensão a Honorio Pereira Barreto, nas mesmas condições, do contrato anterior, assinando as mesmas testemunhas por parle de Honorio Barreto e os gentios Nhala, Sanhanda, Galam, Damião e Gampo.
3.º contrato. - Em 4 de janeiro de 1845 o mesmo, com os gentios Banhunes de Seneguer, da margem direita do rio de Casamansa, concordaram em fazer, nas mesmas condições dos outros contractos, cessão de terrenos da mesma extensão a Honorio Barreto, assignando por parte deste os mesmos do 1.º contracto e os gentios Quefe, Matamba e Galeco.
4.º contracto. - Na referida data, 4 de janeiro de 1845, o mesmo, com os gentios Banhunes de Bumbuda, da margem direita do rio Casamansa, celebraram um contracto, identico ao anterior, fazendo a Honorio Barreto cessão da mesma extensão, de um terreno, na presença das testemunhas acima ditas e dos gentios Amenha, Bram, Cole e Cambam.
5.º contracto. - Em 20 de dezembro de 1844, o mesmo Domingues com o rei Banhunes de Songo Dogu, residente na aldeia de Bissau, e os principaes do mesmo reino, situado na margem direita do rio do mesmo nome, principal affluente do rio Casamansa, fizeram a Honorio Barreto a cessão de um terreno, na mesma extensão, na presença das referidas testemunhas acima mencionadas e dos gentios Ganhate, rei, Bram e Nhado.
6.º contracto.- Em Ganho, a 2 de janeiro de 1845, o mesmo procurador e os principaes gentios da aldeia de Banhunes de Ganho, situada na margem esquerda do Casamansa, fizeram a Honorio Barreto a cessão de um terreno, da mesma extensão, na presença das mesmas testemunhas e dos gentios Qunque, Ugarifo, Budetes e Coze.
7.º contracto. - Em Nhamul, a 30 de dezembro de 1844, o mesmo procurador e os principaes d'aldeia gentia Flupes de Nhamul, situada na margem direita do rio de Sangodugu, principal atlluente de Casamansa, fizeram a Honorio Barreto a cessão de um terreno, da mesma extensão, na presença das testemunhas acima ditas e dos gentios Aringo e Naxa.
8. º contracto. - Em Mapaco, a 29 de dezembro de 1844, o referido procurador e os principaes d'aldeia gentia de Banhunes, de Mascaço, situada na margem esqnerda do rio de Sangadoque, principal affluente do rio de Casamansa, fizeram a Honorio Barreto a cessão de um terreno, da mesma extensão, na presença das mesmas testemunhas e dos gentios Tomam, Sajo, Macajuma, Selemane, Bocudim e Quejam.
9.º contracto.- Em Biandor, a 30 de dezembro de 1844, o mesmo procurador e os principaes d'aldeia gentia Flupes de Biandor, situada na margem direita do rio de Sangodugu, principal affluente do rio Casamansa, fizeram a Honorio Barreto a cessão de um terreno, da mesma extensão, na presença das testemunhas acima mencionadas e dos gentios Cagaon, Sambali e Gimangiam.
10. º contracto. - Em Santaque, a 30 de dezembro de 1844, o referido procurador e os principaes da aldeia gentia Flupes de Santaque, situada na margem direita do rio de Sangadoque, principal affluente de Casamansa, fizeram cessão a Honorio Barreto de um terreno, da mesma extensão, na presença das testemunhas acima ditas e dos gentios Cabeça e Aringa.
11.º contracto - Em Sangaje, a 9 de janeiro de 1845, o mesmo procurador e os principaes da aldeia gentia Banhunes de Sangaje, situada na margem direita do rio Casamansa, fizeram cessão de um terreno, na mesma extensão, na presença das testemunhas acima mencionadas e dos gentios Ulmati, Bagamba, Nhali, Caiabena, Vaima, Baiabula e Paquenam.
12.º contracto.- Em Nhene, a 2 de janeiro de 1845, o mesmo procurador e o rei Banhum de Nhene e Bricama e os principaes do mesmo reino, situada na margem esquerda do rio Casamansa, fizeram a Honorio Barreto a cessão de um terreno na mesma extensão, na presença das referidas testemunhas acima mencionadas, e os gentios Antonio, rei; Ugaga, Mezentem e Qogem.
Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte V, pgs. 42-45, Lisboa, 1911
«Em 1845, por uma razão ignorada, Caetano José Nosolini deixa de ser o arrematante da alfândega e o «Tesoureiro-Pagador geral» da Guiné, sendo esta função entregue a Dona Rosa de Carvalho Alvarenga e a seu filho, Honório Pereira Barreto, que obtêm condições menos vantajosas (2). Seria isto o fim do prestígio do super-negreiro cabo-verdiano? Pensamos que não, porque ele reaparece num caso que mostra a precaridade da paz concluída com os Papéis, a 19 de Dezembro de 1844.
(2) As receitas alfandegárias que cobram são avaliadas em 9200$000 réis em vez de 4800$000 réis, e eles comprometem-se a pagar 10 200$000 is de emolumentos e de soldos. Recebem, em troca, perto de 4000$000 réis de Cabo Verde. Barcellos: Op. cit. Parte V, p. 49.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 106
1845/01/01
Em 1 de Janeiro de 1815 constava de 534 homens a força de primeira linha na Província incluindo oficiais, que dava para a Guiné os seguintes destacamentos: Bissau, 112 homens, sendo 97 soldados; Bolama, dois saldados e um, cabo: Cacheu, 38 homens, sendo 29 soldados; Ziguinchor, quatro soldados; Farim, um segundo sargento e três soldados; Bolor, um furriel e dois soldados; Mata da Potama, dois soldados e um cabo.
1845/01/04
«O regresso dos Franceses
Não obstante as aparências, a guerra está realmente terminada? De facto, os grumetes foram postos de parte. Por seu lado, os Franceses do Senegal foram avisados do acordo e, a 4 de Janeiro de 1845, chega a Bissau uma corveta. No dia seguinte, é a vez de um brigue. É surpreendente que eles se ofereçam, também, como mediadores, numa questão puramente interna numa feitoria portuguesa (155). E, mais ainda, que sejam aceites. Apesar de tudo, a 6 de Janeiro de 1845, dia previsto para as negociações, um escravo de João Marques de Barros é morto na tabanca e tudo volta a ser posto em causa. Aqui, as duas embarcações francesas retiram-se (8 e 14 de Janeiro de 1845).
(155) A 1 de Janeiro de 1845, conta com 112 militares, entre os quais 97 soldados
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 96
1845/01/26
«A chegada tardia da Marinha portuguesa
Finalmente alertada, Lisboa enviou, em Dezembro de 1844, um brigue e uma goleta, a Cabo Verde. É a 26 de Janeiro de 1845, que a goleta se apresenta diante de Bissau e, esperando pelo brigue, encarrega-se do policiamento do Rio [Grande de] Geba, onde as canoas dos grumetes têm a sua base no «porto» papel de Bandim. A 27-28 de Janeiro de 1845, os marinheiros portugueses trocam alguns tiros em frente de Bandim. Depois da chegada do brigue portugs (1 de Fevereiro de 1845), está previsto um desembarque de marinheiros e de soldados para destruir as embarcações dos grumetes refugiados. Mas estes foram prevenidos e estão decididos a bater-se para impedir a intervenção. Anula-se, portanto, a operação. Todavia, a presença destes dois navios de guerra em frente de Bissau tranquiliza a comunidade mercantil, tanto mais que os Papéis o, dali em diante, declarados «dóceis». Deixam-se pois as coisas como estavam.
Um cerco dispendioso
O balanço das baixas em homens desta «guerra» de Bissau, de Setembro-Dezembro de 1844, não é conhecido. Os Portugueses e os Cabo-Verdianos perderam muito pouca gente, tendo sido a maioria dos mortos e feridos, do seu campo, escravos e auxiliares (150 balantas e manjacos que Caetano José Nosolini chamou e pagou do seu bolso) (156). Papéis e grumetes tiveram talez uma cinquentena de mortos. Decididamente, pagou-se muito pouco em homens, quando se conhecem as baixas dos Americanos, simples observadores: 13 marinheiros entre os quais dois oficiais varridos pelas febres de Bissau. Financeiramente, a «guerra» custou, contudo, muito caro à praça, ou seja, aos comerciantes.
João [Marques] de Barros e Caetano José Nosolini dispenderam, respectivamente, 4000 e 8000 pesos (157), ou seja, só eles, entre metade e dois terços do «orçamento anual de toda a Guiné. Nada sabemos das perdas dos outros comerciantes. A falta de receitas durante este peodo, também não é numerável. Notar-se-á, portanto, que se encontram o seu lucro nos malabarismos contabilistas e nas operações duvidosas, certos magnates cabo-verdianos e luso-guineenses sabem pagar da sua bolsa e com a sua pessoa (158) quando se trata de rivalizar em patriotismo. Sem mesmo falar do padrão de todas as «virtudes luso-tropicais», o insigne Honório Pereira Barreto, é bom sublinhar que um negreiro, tão notório como Caetano José Nosolini, foi a alma da resistência durante o asdio. É verdade que, mantendo na sua dependência financeira todos os funcionários e todos os soldados, é ele quem mais teria a perder se Bissau tivesse cdo, em 1844.
A sobrevivência dos enclaves
No plano estritamente defensivo, a «guerra» teve um efeito benéfico para os moradores. Não esvazia o abcesso grumete, mas afasta-o para fora das muralhas. Além disso, a construção da tabanca envolve o poço de Pidjiguiti, fonte de água, dali em diante, em segurança. O campo de tiro, para o norte e para leste, está igualmente liberto.
Politicamente, as vantagens que os lusitanizados retiram são menores. Notar-se-á que o tratado de paz de 1844 não é um tratado de vassalagem, à imagem do que se pratica e se praticará na África lusófona bantu. Neste aspecto, a Guiné não é Angola nem Moçambique. Aqui os chefes africanos não se reconhecem ainda leais vassalos da Coroa, nem obrigados a ajudar os seus representantes e os seus súbditos. É um simples acordo de boa vizinhança e esta diferença é capital. Não tardará a ver-se que não resolve o problema dos grumetes de Bissau mas, mesmo violado e apesar de tudo, dará umas tréguas de perto de 50 anos à praça, face aos Papéis, de quem o régulo de Intim não receberá mais rendas. Esta «guerra de Bissau» foi, pois, uma profunda inalação de oxigénio político para os lusitanizados. Mas não resolve a questão do isolamento, nem o da dependência em relação: a) às marinhas estrangeiras; b) às trocas externas; e) aos bloqueios fluviais eventuais. Numa palavra, no final de 1844, Bissau e atrás deles Cacheu e os presídios interiores, continuam a ser o que nunca deixaram de ser: enclaves. Comparados com a Gâmbia e mesmo com o «poderoso» Senegal da época, nada ali de dramático. Apesar de tudo, é uma base muito frágil e muito instável para transformar esta colecção de escalas numa unidade territorial contínua. Principalmente quando a vossa metrópole não quer ouvir falar de vós.
NA DEFENSIVA
As acções violentas durante estes quatro anos charneiras estão limitadas a Bissau e a Cacheu. Comprometem apenas pouca gente do lado português e são pouco mortíferas de um e outro lado. Em muitos aspectos, são «rixas de balcão (*)» tal como sobressai do breve quadro seguinte, estabelecido segundo o modelo daqueles que elaborámos para Moçambique. À medida que avançarmos no século, vê-los-emos alongarem-se lugubremente. De momento, o primeiro é dos mais sucintos, tal como convém a um curto período e para estabelecimentos que nem sequer têm suficientes e bons soldados para manter a ordem dos comerciantes.

(156) Barcellos: op. cit., Pane \', p. 40.
(157) Idem. Parte V, p. 29. O autor não diz se se trata do peso duro espanhol (1= 1000 réis) ou do peso mexicano (1 =800 réis) (Segundo lopes de lima: op. cit., Parte I, p. 50), o que faria 4000-32005000 réis para o primeiro e 8000-6400$000 is para o segundo.
(158) Os custos de construção da estacada foram cobertos por Nosolini, e ele participou financeiramente - e fisicamente - na construção da tabanca em adobe e em pedra que a reforça. Barcellos: op. cit., Pane V, p. 40.
(*) No original «rixes de comptoirs». Com esta expressão, pretende o autor realçar os aspectos mercantilistas destas «guerras», o havendo, em Português outra possível tradução. (N.T.)»

René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 96-99
1845/04/22
Por decreto de 22 de abril foi exonerado do governo de Bissau o capitão-tenente Torres e nomeado definitivamente o major graduado, Joaquim de Azevedo Alpoim, que exercia esse cargo desde 20 de março.
1845/04/27
«O governador de Bissau communicou em 27 de abril, 5 e 6 de maio, que os grumetes continuavam em sua rebeldia e tanto que tendo desprezado as propostas de perdão qrie se lhes offereceu, declararam que nada queriam da Praça e que passavam a ser subditos franceses. Que effectivamente arvoraram em Bandim, no ponto que escolheram para sua residencia, a bandeira francesa e que a seguraram com um tiro de peça, persistindo na sua rebelião e aggravando-a com mais. este acto de traição. Que um soldado, por nome João Soares, que havia tempos tinha desertado para os gentios de Bandim viera apresentar-se á Praça, onde fizera importantes revelações sobre os preparativos que os grumetes estavam fazendo para a guerra, logo que chegasse o tempo das aguas e os fins com que a recomeçavam, cujo primeiro acto foi o arvorarem a bandeira francesa no dia 30 de abril; e, finalmente, que os referidos grumetes sabiam tudo quanto se passava dentro da Praça.
O Governador, em sessão do Conselho do Governo de 11 de julho, apresentou essa questão e ainda a do roubo de uma chalupa do negociante João Marques de Barros, na qual foi prisionada a tripulação.
O Conselho foi de unanime opinião, que ao Governador de Bissau fosse autorizado a declarar a Praça em guerra contra os rebellados de Bandim, se estes não viessem prestar submissão e até contra os gentios que prestassem ãuxilio aos referidos grumetes.
No mesmo dia 11 de julho officiou o Governador Geral ao de Bissau dizendo-lhe que tinha resolvido mandar para essa Praça a bordo do brigue de guerra Douro, uma força de 50 pracas e os officiaes competentes, destinada a render um igual numero de soldados e officiaes ou como reforço à guarnição ali existente.
Fôra-ihe reeommendado para colher as mais amplas informações sobre a veracidade da revelação feita pelo soldado Soares; das intenções em que foi arvorada a bandeira francesa e dos planos que se attribuem aos grumetes de se submetterem aos françeses; e ainda sobre a exactidão das noticias que tinham corrido da pilhagem ás canôas dos negociantes e das prisões effectuadas.…
Recommendava-lhe para que tivesse prompto um contingente de fprça suficiente da guarnição commandada pelo capitão Francisco Alberto de Azevedo para que, logo que chegasse ao seu conhecimento que os rebeldes rejeitavam o perdão, rompesse as hostilidades, marchando sobre Bandim a força mencionada.
No referido brigue Douro seguiria para Bissau o tenente-coronel Nosolini a quem o Governador de Bissau devia consultar sobre a marcha a seguir contra os · grumetes e tambem requisitar-lhe, devido á sua influencia e grande prestigio ali, qualquer auxilio de gente.
Devido ao mau estado do brigue Douro seguiu para Bissau o brigue Vouga sob o commando de Carlos Craveiro Lopes, com a força, no dia 30 de julho, tendo embarcado nelle o tenente-coronel Nozolini, tres segundos tenentes de artilharia e 40 praças de pret, fondeando em Bissau a 7 de agosto.
Neste mesmo dia officiou o commandante do brigue Vouga ao Governador da Praça pedindo-lhe informações sobre a altitude dos grumetes. Respondeu que estes tinham vindo no dia primeiro de agosto, de madrugada, arrancar alguns paus da palissada junto ao mar, do lado do Pigiguiti, e que presentidos pelo guarda fugiram; depois do toque de alvorada um grumete que se achava émboscado junto ao baluarte da Poana fez um tiro á sentinella; esta immediatamente lhe fez fogo fugindo aquelle para dentro de tarafes, proximo da Praia; para ali se fez fogo de metralha que desalojou uns 12 a 15 homens que fugiram sempre perseguidos pela artilharia. Nesse dia, tanto os grumetes çomo o gentio mandaram seus embaixadores á Praça pretextando que se queriam sujeitar a todas as condições que o Governo lhe quisesse impor, e que deviam reunir-se no dia 8 para deliberarem e apresentarem a todo o povo as condições a que deviam ficar sujeitos.
Naquelle dia reuniu-se effectivamente o Conselho composto do Governador da Praça, commandante do brigue Vouga e tenente-coronel Nozolini que resolveram se çhamasse á Praça o regulo Aré, de Antim ; no dia 9 apresentou-se este rei com cinco pessoas da sua comitiva, exigindo-lhe o Governador que sem mais demoras tratasse da paz e entregasse o prisioneiro Miguel da Barros assim como havia de dar um dos seus filhos para ficar de refem. .
Esse rei, respondendo affirmativamente, mandou um dos seus fidalgos buscar a Antim a gente que d'aquelle chão devia ficar de refem, bem assim um filho seu que devia ir para Cabo Verde; depois d'esta gente entrar na Praça sairia, entao, o rei para ir buscar ás tribus de Antulla e Bandim, a outra gente, e. o irmão de João de Barros bem como os grumetes para jurarem novamente fidelidade á bandeira portuguesa.
O rei confirmou o que havia dito ao Governador na presença de Caetano José Nozolini, mas este declarou que essa paz era inutil e disse ao rei para mandar vir gente de Geba para servirem de mediadores ; o rei annuiu a isso e as negociações ficaram paradas contra os votos do Governador Azevedo AIpoim e commandante do Vouga.
No dia 9 seguiu para a Praia o brigue Vouga e pelo relatorio do com mandante do mesmo se viu que os grumetes não atacaram as canôas dos negociantes portugueses.
Em 11 de agosto communicou o Governador da Praça que se tinha dispensado a gente de Geba, como medianeiros, aceitando os regulos de Bandim e Antulla a exigencia de apresentarem seus filhos, que ficariam em refens e que a paz se trataria no dia 14 proximo.
Só em tres de novembro participou o governador ter-se concluído a paz com estes rebeldes, apresentando-se na Praça em numero de 200 homens que ractificaram o juramento de obediencia á Rainha.» - 
Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte V, pgs. 55-58, Lisboa, 1911
1845/05/00
«Em Maio de 1845, pouco tempo depois de firmado o suposto acôrdo ·de paz entre o govêrno de Bissau e o grupo de papéis e grumetes, o respectivo governador, Joaquim Azevedo de Alpoim participava que os grumetes continuavam em estado de rebeldia.
Um soldado desertor, João Soares, que regressara à praça depois de ter passado seis meses entre os indígenas, informava que os grumetes iam acumulando munições e aliciando gentios para atacar a fortaleza; que· pretendiam hàbilmente provocar um conflito entre Portugal ·e França, declarando-se súbditos desta última nação, para o que fizeram arvorar uma bandeira francesa em Bandim, salvando-a com tiros de peça no dia 30 de Abril.
Ao mesmo tempo os revoltosos hostilizavam os comerciantes de Bissau apoderando-se das suas canoas com mercadorias e molestando as tripulações.
Em face dêstes informes, o governador geral de Cabo Verde enviou novamente para Bissau o brigue Vouga, sob o comando de Carlos Craveiro Lopes, com 40 praças, 3 tenentes de artilharia e o tenente-coronel Caetano Nazolini. Chegaram a Bissau em 7 de Agôsto. Durante êste tempo houvera troca de tiros entre a Praça e os revoltosos, que por vezes chegaram a avançar até à palissada e destruir uma parte diela.
A chegada do refôrço, vindo pelo Vouga, levou os grumetes e papéis a enviar seus emissários, declarando aceitar a soberania portuguesa, e começaram as negociações da paz, que ainda levaram muito tempo, até que os grumetes, em número de 200, se apresentaram na Praça, ratificando o juramento de fidelidade.
O brigue Vouga retirou-se para Cabo Verde, levando a bordo o comerciante JoValério Gonçalves, acusado de entendimento com os ingleses para a venda de territórios na região de Geba.
Tempos depois, o mesmo governador de Bissau, Azevedo de Alpoim, realizava a compra do pôrto de Bandim ao régulo da região, confirmada por tuna escritura lavrada em 14 de Fevereiro de 1846, na qual o régulo declarava: «que cedia de hoje para todo o sempre o porto de Bandim, bem como uma porção de terreno junto, a Joaquim de Azevedo Alpoim, cujo porto bem como a terra adjunta, ficará desde hoje pertencente ao dito Alpoim, e outrossim declarou o rei que tudo tinha cedido por ser muito obrigado e amigo do actual governador desta praça, Alpoim, de quem tinha recebido varios presentes e ao fazer desta uma boa gratificação ... »
Participou também o· mesmo governador de Bissau, em Março de 1846, que estava concluída a construção do forte de Pigiguiti, de pedra e cal, devida em grande parte aos serviços de Caetano Nazolini, propondo que se desse ao forte o nome deste tenente-coronel como grande benemérito de Bissau. Deu-se, porém, a: circunstância de, na mesma época, subir às estâncias superiores uma reclamação dos moradores de Bissau contra o mesmo Nazolini, acusando-o de abusar da suai situação, tornando-se prejudicial à praça.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 227-228
1845/05/10
«Em portaria régia de 18 de dezembro de 1844 se exigiram as seguintes informações da Guiné:
1.º Qual é o estado da fortificação de Bolor;
2.º Se será conveniente aumentar ou restaurar a mesma fortificação;
3.º Qual a despesa que custariam as obras;
4.º Se será conveniente estabelecer ali um posto fiscal;
5.º Qual a força armada necessaria para guarnecer este ponto.
Devendo todas as respostas ser ligadas com o que se ordenou respectivamente aos terrenos novamente adquiridos.
O Governador Geral respondeu em 21 de julho de 1845, remetendo copia do officio do Governador, de Cacheu, Crato que informou em 10 de maio de 1845.
Primeiro, que ali não ha fortificação alguma, e tudo quanto ali se fizer ou se construir, é inutil sem que primeiro se façam grandes despesas para evitar a entrada do mar no tempo das chuvas; o mar tem consumido uma terça parte do nosso terreno apesar de vallas e escoantes que elle Governador, mandou fazer.
As poucas casas de barro que ali fez Lopes de Lima, quando director d'aquelle estabelecimento, começaram a arruinar-se na presença do mesmo Lima, e actualmente não ha vestígios de taes construcções.
Ao segundo, entende ser sufficiente que ali haja duas a tres peças com um pequeno destacamento, o sómente para mostrar que aquelle território nos pertence.
Ao terceiro que ali mandou construir um quartel para o destacamento.
Ao quarto, julga tambem inutil qualquer medida que·tenda a estabelecer ali alfandega ou outra casa fiscal; os rendimentos d'aquelle ponto não são sufficientes para pagar a um sargento o seu ordenado, por isso que taes rendimentos não excedem 10$000 a 12$000 réis annuaes. O país é pobre e não se exporta mais do que 1:000 arrobas de arroz e aguns 50 coiros; não ha ali cera, e mesmo os coiros vem do interior, indo a maior parte d'estes para Casamansa levados pelos franceses e ingleses.
Ao quinto basta que ali haja um official inferior, dois ou tres soldados.
O estabelecimento de Bolor data de 1831; por habitantes tinha os soldados do destacamento; apesar da sua relativa salubridade estava deserta de genle por falta de tudo para a alimentação.
Muito conviria que em Bolor se içasse a nossa bandeira, que não ha, para evitar que os franceses ali se estabelecessem para não nos cortar a unica communicação que temos com Zeguichor.» -

Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte V, pgs. 52-53, Lisboa, 1911
1845/05/12
HONÓRIO PEREIRA BARRETO cede ao Estado todos estes terrenos que adquirira.
1845/05/31
Nomeação do cónego PATRÍCIO XAVIER DE MOURA como bispo de Cabo Verde
1845/06/26
Posse do brigadeiro JOSÉ MIGUEL DE NORONHA como governador de Cabo Verde.
Idem. Decreto. — Hei por hem nomear o Coronel, actual Comraandante da nona Divisao Militar, D. JOSE MIGUEL DE NORONHA, Governador Gcral da Provincia de Cabo-Verde, de que tirara Carta, pagos OS Direitos de Merce. Ministro e Secretario d'Estado dos Negocios da Marinha e do Ultramar, assim o tenha entendido, e faca executar. Paco de Belem, trinta e um de Dezembro de mil oitocentos quarenta e quatro. :=RAINHA. =Joaquim José Falcao. 2. DECRETO. — Hei por bem Nomear Ajudanle d'Ordens do Governador Geral que se acha nomeado para a Provincia de Cabo Verde D. JOSE MIGUEL DE NORONHA, o Tenente do Regimenlo d'lnfanleria numero onze, JOSE TEIXEIRA REBELLO. MINISTRO e Secretario d'Estado dos Negocios da Marinha e Ultramar, assim o tenha entendido, e faça executar. Paço de Belem, dous de Janeiro de mil oilocentos quarenta e cinco, = RAINHA. = Joaquim Jose Falcao. 
1845/07/11
«Em 11 de julho de 1845, na Villa da Praia, officiou o Governador D. JoMiguel de Noronha ao commandante do brigue de guerra Vouga, expondo-lhe que, não só por vias officiaes directas mas tambem por via de Goré, estava informado de novas hostilidades á Pra de Bissau, provocadas por grumetes e que essa Praça reclamara soccorros d'esse navio.
Teve noticia o Governador Geral que no co salgado (terreno sagrado onde o gentio não pode ser batido) que os papeis occupam em Bandim, fôra arvorada a.bandeira francesa, e que de novo se preparavam para uma guerra tendo os grumetes commettido actos de pirataria, roubando canoas de negociantes portugueses, cujo paradeiro e da gente se ignorava; um dos roubos deu-se numa chalupa do negociante João Marques de Barros, cuja tripulação constava estar a ferros, em poder dos grumetes, incluindo um irmão d'este negociante Barros.
Mais constara que os grumetes se tinham abastecido de muita polvora, e que esperavam pela estação chuvosa para atacarem a Pra, auxiliados pelos papeis de Bandim e de Autulla.
O Governador mandou que o brigue Vouga, depois de recolher cincoenta soldados do batalhão de artilharia com os respectivos officiaes, seguisse para Bissau. Embarcaram, dos officiaes, o tenente-coronel Caetano Nozolini e três tenentes, a 30 de julho e chegaram a essa Prava a 7 de agosto.
Determinou o Gorernador Geral que, depois do desembarque da tropa, se organizasse a força que sahiria a campo e que, reunindo-se a ella uma outra disponível de bordo, procurariam occupar Bandim e destruir as canoas dos grumetes. Antes porem, de comarem estas hostilidades, recomendou o Governador, que da Praça se enviasse um parlamentario a Bandim, para intimar os grumetes que entregassem todos os prisioneiros e roubos que conservavam em seu poder, e que se rendessem á descrição dentro de um prazo, que seria accordado com o Governador da Praça e com Caetano Nozolini, assegurando- lhes, neste caso, inteiro perdão e esquecimento do passado, e qur ninguem seriá perseguido ou inquietado pelo que anteriormente houvesse feito, mas que findo o referido prazo, e não se tivessem submetido, que se rompessem as hostilidades e os grumetes ficariam sujeitos a todos os rigores que as leis da guerra autorizam em taes casos.
Em Bissau estava fundeado o brigue Douro que sahiu d"este porto na vespera de se. romperem as hostilidades.
O Governador da Praça de Bissau, Joaquim de Azevedo Alpoim, relatou ao commandante do brigue Vouga qne os grumetes tinham vindo no dia 1 de agosto, de madru!!ada, arrancar alguns .paus da paliçada junto ao mar, do lado de Pigiguiti, mas sendo presentidos pela guarda que se achava colocada a pequena distancia d"aquelle ponto, retiraram-se sem fazer um tiro e nem tão pouco fizeram os soldados, porque, quando ali chegaram já não viram ninguem.
Depois do toque de alvorada partiu um tiro do lado da porta da Poana, que foi feito por um grumete, que ali estava emboscado, contra a sentinella collocada no baluarte proximo, a qual immediatamente tambem lhe fez fogo.
O Governador mandou bater as moitas de tarafes com metralha e d'ali sahiram uns quinze grumetes que fugiram para um outro bosque; então fizeram fogo contra a Praça, mas esta com artilharia os desalojou.
Tanto o gentio como os grumetes, desde que ali chegou o brigue Vouga com Caetano Nozolini, mandaram seus embaixadores ao Governador a dizer-lhe que queriam sujeitar-se a todas as condições que o Governo lhes quisesse impor, e resolveram reunir-se no dia seguinte para deliberarem e apresentarem a todo o povo as condições a que deviam ficar sujeitos.
Çomo de costume, a paz conseguiu-a Caetano Nozolini e outros negociantes com dinheiro e presentes que davam a essa horda de selvagens, seguindo no dia 12 para Cabo Verde a Vouga, conduzindo preso o negociante JoValerio Gonçalves, accusado de querer vender os pontos de e Ganjarra aos ingleses.»

Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte V, pgs. 50-51, Lisboa, 1911
1845/08/01
«Ainda os grumetes de Bissau (1 de Agosto de 1845)
Em Abril e Maio de 1845, o governador-geral de Cabo Verde, José Miguel de Noronha, tem conhecimento de que os Papéis e os grumetes refugiados em Bandim arvoram a bandeira francesa (30 de Abril) «esperando» fazerem-se súbditos de Louis-Philippe, e que os grumetes, de acordo com o que o, cometem actos de pilhagem contra as embarcações dos negociantes de Bissau. Os grumetes recrutam mesmo aliados para tentarem apoderar-se da vila. Cabo Verde envia, portanto, o seu brigue de guerra, 40 artilheiros, três oficiais e o inevitável Caetano José Nosolini, encarregado de negociar uma paz mais duradoura que a do ano precedente. Os grumetes parecem querer atacar a tabanca, a 1 de Agosto de 1845, mas a artilharia deteve-os. À chegada do brigue (7 de Agosto), Papéis e grumetes enviam representantes a Bissau, onde Nosolini e o governador, Joaquim de Azevedo Alpoim (3), terão muita dificuldade em comprar a paz (4). Intervirá muito tardiamente, mas numa data de nós desconhecida (Outubro ou começo de Novembro de 1845), provavelmente por cansaço.
Nesta data, a guarnição de Bissau é numericamente forte (123 homens), porém é totalmente incapaz de sair da sua fortaleza. Portanto, para se antecipar às ameaças francesas e inglesas, o governador de Bissau, à maneira de Honório Pereira Barreto compra, em seu nome pessoal, o que não pode conquistar pelas armas: o «porto» de Bandim (14 de Fevereiro de 1846) que o régulo papel local, respondendo ao nome bombástico e inesperado de Jery Napenac da Roca, lhe vende. Esta «personalização» ou individualização da expansão tem uma dupla finalidade, aos nossos olhos: a) não assustar a parte cedente, a qual se melindraria por vender um território à Coroa portuguesa, mas não senão vantagens em ceder a um particular, mesmo governador; b) promover os necios do funcionário «comprador» junto dos seus superiores. Este último ponto é confirmado pelo exemplo de Caetano José Nosolini, que oferece às autoridades, a 7 de Abril de 1846, um fortim construído a expensas suas, na ponta da tabanca, lançada em construção pelos seus cuidados, durante o cerco de 1844. Este benfeitor da humanidade joga, portanto, em dois registos complementares: negreiro todo-poderoso, mas invejado pelos seus pares, que o acusam de abuso de poder, ele tem necessidade de aparecer como protector da Coroa, da qual espera que feche os olhos às suas actuações duvidosas. Não é desiludido na sua expectativa. Isto para Bissau, na margem, que captou a atenção depois de 1841.
(3) Já conhecido governador de Quelimane, atacando Massangano, em Moçambique, em 1855. René lissier: Naissance .... op. cit., p. 71; p. 324.
(4) Barcello, Op. cit. Parte V. pp 55-58.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 106-107
1845/09/17

O comandante francês Baudin, oficial da mari­nha, prestou auxilio à Praça de Bissau quando os Grumetes e os Papéis a atacaram, Provou-lhe o seu reconhecimento o Governador da mesma, e o Governador de Cabo Verde dirigiu-lhe uma lison­jeira carta de agradecimento. A corveta ameri­cana «Preble» concorreu igualmente para pôr os revoltosos em debandada.
1845/09/29
O governador respondeu em 29 de setembro de 1845 á portaria régia que lhe ordenou para remover as auctoridades e funccionarios implicados na protecção do trafico de escravatura, ou meramente suspeitos de o favorecerem, e para substituil-os por individous cujo comportamento e moralidade offerecessem garantias de que o difficultariam.
N'este sentido deu uma portaria circular em 15 de setembro aos governadores de Bissau e Cacheu e commandante dos Presídios chamando a sua attenção para a convenção celebrada em 29 de maio de 1845 entre a Franca e Inglaterra para assegurar a completa suppressão desse trafico. A feição principal desta Convenção foi substituir o accordo dos dois países ao ·direito da visita que anteriormente se fazia pelas embarcações de guerra das duas Nações nos navios mercantes de ambas ellas. Estas forças navaes cruzariam nas Costas Orientaes e Occidentaes d' Africa, desde Cabo Verde· até 16º e 30' de latitude meridional, para o que seriam seus commandantes munidos de instrucções autorizando-os a resolver, de combinação, sobre os meios mais proprios e efficazes a conseguir este fim, que eram tambem os desejos de Sua .Majestade Fidellissima que promulgou o decreto de 10 de setembro de ·1836 e celebrou com a Inglaterra o Tractado de 3 de julho de 842.
E tambem para obstar ao nefando commercio enviou ás auctoridades da Guiné umas instrucções em oito extensos artigos.
O artigo 8.º destas instrucções chamou a attenção destas auctoridades para o artigo 4.º da Convenção de 29 de maio. Este artigo conferia aos comandantes dos respectivos navios de guerra o poder de fazerem Tractados ou Convenções com os regulos indigenas para a suppressão do trafico: e o artigo 6.º considera os casos em que os mesmos commandantes podiam empregar o meio da força e mesmo o da occupação territorial. Sobre este ponto recommendava-lhes o governador:
Em presença das respectivas tentativas que por parte destas duas Potencias  sempre se tem feito, e ainda continuam a fazer para nos usurpar as nossas possessões ahi, não deixo de nutrir receios de que, dando uma errada intelligencia aos mencionados artigos se prevaleçam della para tratar com os regulos que são sujeitos aos dominios portugueses, como são inquestionavelmente de Bissau, ou occupar, ainda que digam por limitado tempo, alguma parte dos mesmos dominios, quer de boa fé, quer como no primeiro passo para a realização da projectada occupação, e no caso que isto aconteça cumpre que V. Ex.ª saiba que os referidos artigos não podem, attentos os Tractados existentes, e o Direito das gentes, entender-se senão com os Régulos independentes e com territorios alheios á Corôa de Portugal e então farâ conhecer ao commandante, ou commandantes de qualquer das duas nações que o tiver feito, o erro em que se acham, e obstará por todos os meios de. persuasão a que se realise a cenvenção ou occupação, por ser altentatoria· do Direito das gentes e da Corôa de Sua Magestade Fidelissima, e quando haja persistência da parte delles, fará seu protesto solemne que communicará officialmente ao dito commandante, ou commandantes, e â Secretaria deste Governo.
Com a Convenção de 29 de maio é innegavel que tanto a França como a Inglaterra podiam, pela força, occupar toda a Guiné, sem que tivéssemos direito a reclamar.» 
Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte V, pgs. 60-61, Lisboa, 1911
1846
- Os portugueses adquirem o porto de Bandim (14/02) .
- É construuído o forte de Pidjiguiti, numadas extremidades dapaliçada que protegia a povoação contra os ataques dos papéis(Março).
- Criado um imposto sobre o comécio, para financiar as obras da forte de Pidjiguiti (28/04).
- Honório Barreto organiza e dirige uma expediçlo contra os grumeles de Farim (01/12).
- Honório Barreto é agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem daTorre e Espada, como recollhecimento dos serviços prestados àCoroa Portuguesa, muitas vezes, contra o seu próprio povo.
- Acordo entre as auloridades poituguesas e os régulos manjacos daMata e Pecau. Por este acordo, os portugueses deveriam pagar, porcada navio que entrasse em Cacheu, 9 frascos de aguardente, 2frascos de pólvora, 2 barras de ferro e 2 arráteis de tabaco.Além disso, cada um dos dois régulos recebia, de 3 em 3 anos,uma farda agalonada vinda de Lisboa e uma cadeira deespaldar, que representava o trono real (28/12).
JOSÉ DA SILVA SANTOS COSTA, comerciante em Farim em 1846, foi Administracior do Concelho de Cacheu e presente na assinatura dum tratado em Varela em Abril de 1861. Tambem assinou o tratado de Illia em Cacheu em 1864.
Em 1846 HONÓRIO PEREIRA BARRETO é novamente encarregado do governo de Cacheu. Reconstruiu à sua custa a paliçada do seu forte. Em 18 de Setembro desse ano foi agraciado pelo Duque de Palmela  com o grau de cavaleiro da Antiga e Mui Nobre Ordem da Torre e Espada, de valor, lealdade e mérito. Agradeceu ao ministro e ofereceu ao Estado as convenções que fizera com os régulos de Mata, Corobitue e Picau Concarane.

HONÓRIO PEREIRA BARRETO é capitão-mor de Cacheu interinamente.
1846/02/07
O ministro Falcão entabolou negociações com Honorio Barreto, negociante ·em Cacheu, para o corte e remessa de madeiras especiaes destinadas á construcção de navios no Arsenal da Marinha
Em 7 de fevereiro de 1846 offereceu-se Honorio Barreto ao governo, pondo a sua bolsa á disposição, para fazer pagamentos dos cortes de madeira no rio de Farim, passando letras sobre o ministerio. Se para o governo era vantajosa a proposta de Honorio, para este não era menos o negocio que fazia pela transferencia de capitaes sem pagamento de premio.
1846/02/13
Os negros da tribu Zigoche, no rio de Casamansa, não estavam em boas relações com o Presidio de Zeguichor. O commandante militar e civil d'esse Presidio, Francisco de Carvalho Alvarenga participando ao Governador de Cacheu, JoXavier Crato, um breve rompimento de hostilidades, o avisou de ter o inglês, da Gambia, Pierre Mengue, vendido polvora e armas aos Zigoches para nos atacar.
Em 13 de fevereiro de 1846, o governador Crato num seu relatorio para o governador geral, lhe communicava o facto de essa tribu ter sido batida no ataque que deu.





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