sábado, 7 de maio de 2016

GUERRAS 1844/10/04-1845


1844/10/04
«A intervenção dos Franceses
Detendo o essencial do comércio legítimo, os Franceses são os mais rápidos. Os primeiros socorros a chegar (4 de Outubro de 1844) são, efectivamente, os marinheiros do capitão de corveta Baudin, comandante da estação das costas da África Ocidental. Deixar-nos-á um relatório publicado (144), no qual distingue cuidadosamente dois inimigos independentes: os Papéis, «raça de homens selvagens mas não maus, unicamente ocupados em cultivar milho miúdo, milho e arroz, e a criar gado para o venderem (145) e os grumetes «gentes de diversas
nações, todas mais ou menos cristãs, criadas sob a protecção do forte português ...ladrões, cruéis, e sempre dispostos a servir-se da faca; muitas vezes fizeram passar os barcos de cabotagem franceses e ingleses por vexames, tal como os Portugueses, que nunca ousaram
reprimir energicamente os seus excessos» (146).
Baudin subestima amplamente os efectivos dos Papéis da ilha de Bissau, mas introduz os grumetes no levantamento. Estes últimos aproveitaram o receio que os Papéis inspiram aos negociantes para evacuar a sua aldeia para o interior da ilha, antes de se lançarem em ataques de ratoneiros contra as casas dos comerciantes. Arrastando com eles os Papéis, foram repelidos muitas vezes. Contrariamente a 1842, existe portanto, em 1844, aliança militante entre Papéis e grumetes. Baudin recusa intervir contra os Papéis (guerra colonial regular, a seus olhos) mas, considerando os grumetes como salteadores, oferece o seu concurso para os vencer. Aconselha, portanto, que se destrua a sua aldeia, demasiado próxima do forte e, a 7 e 8 de Outubro de 1844, empresta 30 dos seus marinheiros para incendiar as suas choupanas. Bloqueados pela artilharia do brigue e pelos atiradores, os grumetes não podem regressar à feitoria. Como os telhados das choupanas impedem os tiros, são incendiados (como em 1842), e o derrubar das suas paredes enormes exigirá vários dias de «guerrilha urbana» aos 200 escravos dos moradores e aos soldados portugueses que terão de ripostar, passo a passo, aos grumetes, que voltaram para defender a sua antiga aldeia.
Ao cabo de onze-doze dias em frente de Bissau, os Franceses retiram (16 de Outubro de 1844), deixando o forte quase totalmente liberto e em estado de bater a planície a canhão. Segundo Baudin, os negociantes estão em condições de retomar «as suas operações comerciais suspensas havia já bastante tempo, para grande prejuízo, não só da colónia, mas ainda do comércio do Senegal e da Gâmbia...» (147). Temos o sentimento de que este aspecto, estritamente mercantil, o interessa muito mais que a sorte da colónia.
(144) Baudin [e Anónimo]: «Etablissement portugais de Bissao (côte occidentale d'Afrique)»: Annales maritimes et coloniales, 30º ano, série. Parte não oficial. Tomo III, secção, Revue Coloniale, I845, pp. 143- 148.
(145) Idem, p. 144.
(146) Idem. p.p. 144-145.
(147) Idem, p. 147
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 92-93
O governador interino José Xavier Crato, da Praça de Cacheu e dependencias, em 22 de outubro de 1844, relatou ao Governador-geral o facto gravissimo do modo como estavam os franceses exercendo a fiscalização no rio de Casamansa.
No sítio de Sejo (Selho) onde os franceses fizeram uma feitoria, saiu uma canoa de Zeguichor; a duas milhas distante do forte foi esta canoa atacada por uma outra dos balantas, por estarem em guerra estas tribus; a canoa d'estes, com alguma gente, foi apprehendida pela d'aquelles e como a polvora acabasse á gente desta tribu retrocederam a Selho para compra-la.
O official francês que ali êstava estacionado, partidario dos balantas, quis obrigar a canoa a fundear em frente do forte, negando-se a tripulação a obedecer-lhe; do forte fizeram fogo sobre a canoa e de terra saiu um lanchão para a tomar, o que conseguiu. A tripulação foi presa e os prisioneiros balantas foram postos em liberdade.
Esse officüil francês dirigiu-se ao governador de Cacheu a exigir-lhe uma satisfação que este repelliu, antes o intimou a soltar os presos.
Era intenção dos franceses expulsar-nos de Casamansa e para isso indispunham contra nós os balantas que, com suas embarcações, andavam nesse rio exeecendo pirataria; roubvam fasendas ás embarcações de Zeguichor e a iam vender a Selho.
1844/10/12
«A intervenção dos Britânicos
A rendição naval dos Franceses é garantida por um brigue da Navy vindo (12-13 de Outubro) de Bathurst por urna dezena de dias (voltará a partir a 26 de Outubro). A sorte dos Portugueses, em 1844, é que os Papéis (avaliados então em 20 000 almas na ilha de Bissau),
requisitados pelos trabalhos nos seus arrozais, enviam pouca gente para o cerco. Em troca, os representantes de outras etnias vêm, como mercenários, fazer fogo contra as muralhas onde, de uma guarnição de 80 soldados, nem 50 ou 60 estão disponíveis. Ao ler as fomes portuguesas (148), é claro que o conflito é triplo: a) os mercadores e a fortaleza contra os insurretos (grumetes) e os assaltantes (Papéis); b) os comerciantes contra os militares de Bissau (Dziezaski) e o governador-geral de Cabo Verde; o primeiro é acusado de não se empenhar a fundo e de recusar libertar o régulo papel preso, o segundo, na Praia, de nada fazer; c) os negociantes, entre si (a facção Nosolini contra a que apoia João [Marques] de Barros).
Seja como for, se o se acompanham muito bem as operações, é possível dizer que elas são intermitentes e, provavelmente, suspensas a partir de 18 de Outubro. Os Britânicos não parecem ter participado muito nos combates e retiram. Combateram realmente? Não o sabemos.
 (148) Barcellos: op. cit., Parte V, pp. 28-29.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.93
1844/10/26
«A 26 de Outubro de 1844, Honório Pereira Barreto chega de Cacheu com 54 homens armados. Oferece-se como mediador entre a praça e, do outro lado, os grumetes e os Papéis (149). O régulo de Bandim e os grumetes recusam, porque querem proibir a construção da tabanca (cerca em paliçada reforçada por um muro de adobe à maneira mandinga). Além disso, os grumetes querem reocupar a sua aldeia. Todos exigem a expulo de Caetano José Nosolini e de sua família. Chega-se, no entanto, a um armistício, enquanto se espera a resposta da Praia.»
(149) As principais condições exigidas, a 27 de Outubro de 1844, pelos Portugueses, para concluir a paz, são as seguintes: a) os trabalhos de construção da estacada não serão entravados; b) nenhum gentio armado poderá transpor estas cercas; e) uma zona non aedificandi de 50 m será imposta no exterior das fortificações; d) os grumetes não mais ali poderão viver. Serão tratados como gentios. Todavia, os que prestarem juramento de fidelidade, poderão trabalhar em Bissau e serão readmitidos. Idem, pp. 33-34.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 94
1844/11/04
Indígenas Papéis, depois de cometerem vários desacatos, assassinaram barbaramente quatro pes­soas na praça de Bissau, sendo uma delas um marinheiro europeu. Uma escolta prendeu o régulo de Intim por ordem do Governador, tendo conseguido desalojar o gentio para fora da pali­çada.
1844/11/05
«Apresenta-se então (5 de Novembro de 1844), diante de Bissau, a corveta americana do comandante T. W. Freelon (150). Vem defender os moradores, representando os interesses americanos. O governador «polaco» parece ter empolado o valor dos bens americanos (50 000-60 000 dólares), adiantados aos moradores, para incitar o comandante Freelon a ficar. O principal agente dos Americanos não é senão Caetano JoNosolini, o que explica muitas coisas (151). Segundo parece, este esforço inesperado volta a insuflar coragem entre os sitiados. Os seus escravos querem (?) pegar novamente em armas. Mais verosimilmente, são os comerciantes que levam o governador a suspender o armistício concluído por Honório Pereira Barreto. Mais ou menos desautorizado, este retira-se (7 de Novembro de 1844) para Cacheu, o que, incidentemente, a entender: a) que o super-patriota não o era ao ponto de colocar o seu patriotismo antes do seu amor-próprio de negociador ferido; ou que, não estava tão ameaçado como isso.
(150) Por ordem do comodoro Matthew Perry (o comandante da esquadra americana que impôs ao Japão a abertura ao comércio estrangeiro), de que o African Squadron, com base na Praia desde 1843, tem a seu cargo reprimir o tráfico americano de escravos.
(151) O corcio americano virá em segundo lugar, em Bissau, depois do francês, no começo dos anos 50. George E. Brooks, Jr: Yankee Traders. Old Coasters & African Middlemen. Boston, 1970, pp. 196-197. Segundo George E. Brooks, se Freelon teve, realmente, 40 marinheiros doentes, nenhuma menção é feita quanto a mortes na tripulação.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 94-05
1844/11/09
Começa a guerra entre os portugueses e o povo de Bissau (papéis e grumetes) (11/09).
- O govemador de BISSAU é obrigado apedir auxílio aos govemadoresde Cabo Verde, Gâmbia e Gorée (18/09).
- Vinda em socorro dos portugueses, chega a Bissau a corvetafrancesa ÉglantIne (04/10).
- Os portugueses, auxiliados pelos franceses, atacam o bairro dosgrumetes, m Bandim.Os portugueses iniciam a construção de uma paliçada, para protegera povoação de Bissau contra o ataque das forças guineenses(outubro).
- Chega a Bissau o brigue inglês Alert (13/10).
- Na sequência da chegada do barco de guerra inglês, a corveta Églantine retira-se (16110).
- Retita-se o barco de guerra inglês (26110).
- Honório Barreto faz uma mediação entre os portugueses e os papéis(26/10).
- Chega a Bissau a corveta americana Preble. A guerra reacende-se
(05/10).
-A corveta americana é forçada a retirar (23/11 ).
- Os portugueses recebem reforços de Cabo Verde (05/12).
- Os papéis fazem a paz com os portugueses. Os grumetes refugiados em Bandim cotinuam a luta (29/12).
- Honório Barreto compra doze terrenos nas duas margens do rio Casamansa para tentar deter o avanço dos franceses nesta região (29/12/1844 a 05/01/1845).
1844/11/10
«Recomeço das hostilidades diante do túmulo do branco
A partir de 10 de Novembro de 1844, os assaltos recomeçam, sendo repelidos os Papéis de Intim e de Antula. Combates violentos (10,11, 12, 22, 25 de Novembro) opõem principalmente os escravos dos comerciantes (e os Balantas ao seu serviço) aos Papéis. Os marinheiros americanos servem, antes de mais nada, para proteger, pela sua artilharia, a construção da grande tabanca ocidental, entre o baluarte da Balança e o mar. Mas têm de retirar, como os Franceses e, antes deles, os Britânicos. Bissau é um matadouro para os brancos. E entre eles, são os Americanos, segundo parece, que tiveram mais baixas nesta «guerra» porque, em dezoito dias de estada (5-23 de Novembro de 1844), as febres postaram 40. O número subirá a 90, à chegada a Cabo Verde. A tripulação registamesmo 13 mortos, entre os quais dois oficiais (152). A reputação de Bissau está, pois, amplamente justificada. Abandonada pelos marinheiros estrangeiros, a feitoria é ainda atacada a 25 de Novembro.
A Marinha portuguesa, a última, envia finalmente de Cabo Verde uma goleta com 30 soldados. Mas os ataques contra os construtores da tabanca repetem-se: (5 de Dezembro). Os 25 canhões da fortaleza, mais um obus, estando mal montados e mal servidos, não parecem ter desempenhado grande papel no cerco. No fim de Novembro de 1844, a grande tabanca do oeste está mais ou menos acabada, sob a direão de Caetano José Nosolini. Une o flanco esquerdo do forte à praia.
(152) Barcellos: op. cit., Parte V, p. 29.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 95
1844/12/19
Paz com o gentio de Intim, Bandim e Antula, depois de vencida a guerra.
«Uma paz claudicante
19 de Dezembro de 1844, é finalmente concluída paz com ogulode Intim, Bandim e Antula, por intermédio de um enviado do régulo do Rio Grande (152). Os grumeteestão excluídos. O cerimonial, nesta ocasião, testemunha um sincretismo político-religioso revelador
da mestiçagem cultural das feitoria(153). A 20 de Dezembro de 1844, Dziezaski manda disparar uma salva de 21 tiros, para marcar o «fim» da guerra. Durara cerca de três mesee meio.
 (152Qualde Buba ou de Geba?
(153) O caso tevlugar no interior da fortaleza, em frente das autoridades domoradores, acompanhadopelo seu cura, perante os aliadodoPortugueses, BiafadaBalantas, e npresença do mediador do Rio Grandede trêrepresentantedcada udotrês régulos Papéis, vindos cosua feiticeira ou sacerdotiza (a balobeira). Trata-se de beber aguardente cortada por água benta, vertida pelo cura. A beberagem encontra-se numa grandbacia onde se molham balade artilharia e de espingarda, e pólvora (Barcellosopcit., PartVp. 38). gulpapeé libertado, recebe roupa24 galõede aguardente. Provavelmente para compensar o copque lhe fora recusado11 de Setembro. sua libertação é saudada cosete tiros de canhão.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 95-96
1845
0s navios franceses Grenedier e Zebre em Bissau (05/01).
- Chegam de Lisboa o brigue Vouga e a escuna Cabo Verde, que atacam os grumetes. Estes enviam Sangu, rei de Bissau, parapropor a paz aos portugueses.
- Os grumetes fazem içar uma bandeira francesa em Bandim, nointuito de provocar um conftito entre Portugal e a França (30/04).
- Os papéis hostilizam os comerciantes portugueses. apoderando-sedas suas canoas com mercadorias.
-A guerra generallia-se e os papéis e grumetes chegam a destruiruma parte da paliçada.
- Coonvenção anglo-francesa para a partilha da África Ocidental(29/05).
- Honório Baneto écondecorado com a Comenda da Ordem deCristo (16/07).
- Chega novamente a Bissau o brigue Vouga, que começa imediatamente a bombardear as forças guineenses (07/08).
- Os grumetes assinam a paz.
1845/01/01
Em 1 de Janeiro d1815 constava de 534 homena força de primeira linhna Província incluindo oficiais, que dava para a Guiné os seguintes destacamentosBissau, 112 homens, sendo 97 soldadosBolamadois saldados um, cabo: Cacheu, 38 homenssendo 29 soldados; Ziguinchor, quatro soldados; Farim, um segundo sargento três soldadosBolor, um furriel e doisoldados; Mata da Potama, dois soldadoum cabo.
1845/01/04
«O regresso doFranceses
Não obstante as aparências, a guerra está realmente terminada? De facto, os grumeteforam postos de parte. Por seu ladoos Franceses do Senegal foram avisados do acordo e, a 4 de Janeiro de 1845, chega a Bissau uma corveta. No dia seguinte, é a vez de um brigueÉ surpreendente que eles se ofereçam, também, como mediadores, numa questão puramente interna numa feitoria portuguesa (155). E, mais ainda, que sejam aceites. Apesar de tudo, a 6 de Janeiro de 1845, dia previsto para anegociações, um escravo de João Marques de Barros é morto na tabanca e tudo volta ser posto em causa. Aqui, as duas embarcações francesas retiram-se (8 e 14 de Janeiro de 1845).
(155) A 1 de Janeiro de 1845conta com 11militares, entroquais 97 soldados

René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 96
1845/01/26
«A chegada tardia da Marinha portuguesa
Finalmente alertada, Lisboa enviou, em Dezembro de 1844, um brigue e uma goleta, a Cabo Verde. É a 26 de Janeiro de 1845, que a goleta se apresenta diante de Bissau e, esperando pelo brigue, encarrega-se do policiamento do Rio [Grande de] Geba, onde as canoas dos grumetes têm a sua base no «porto» papel de Bandim. A 27-28 de Janeiro de 1845, os marinheiros portugueses trocam alguns tiros em frente de Bandim. Depois da chegada do brigue portugs (1 de Fevereiro de 1845), está previsto um desembarque de marinheiros e de soldados para destruir as embarcações dos grumetes refugiados. Mas estes foram prevenidos e estão decididos a bater-se para impedir a intervenção. Anula-se, portanto, a operação. Todavia, a presença destes dois navios de guerra em frente de Bissau tranquiliza a comunidade mercantil, tanto mais que os Papéis o, dali em diante, declarados «dóceis». Deixam-se pois as coisas como estavam.
Um cerco dispendioso
O balanço das baixas em homens desta «guerra» de Bissau, de Setembro-Dezembro de 1844, não é conhecido. Os Portugueses e os Cabo-Verdianos perderam muito pouca gente, tendo sido a maioria dos mortos e feridos, do seu campo, escravos e auxiliares (150 balantas e manjacos que Caetano José Nosolini chamou e pagou do seu bolso) (156). Papéis e grumetes tiveram talez uma cinquentena de mortos. Decididamente, pagou-se muito pouco em homens, quando se conhecem as baixas dos Americanos, simples observadores: 13 marinheiros entre os quais dois oficiais varridos pelas febres de Bissau. Financeiramente, a «guerra» custou, contudo, muito caro à praça, ou seja, aos comerciantes.
João [Marques] de Barros e Caetano José Nosolini dispenderam, respectivamente, 4000 e 8000 pesos (157), ou seja, só eles, entre metade e dois terços do «orçamento anual de toda a Guiné. Nada sabemos das perdas dos outros comerciantes. A falta de receitas durante este peodo, também não é numerável. Notar-se-á, portanto, que se encontram o seu lucro nos malabarismos contabilistas e nas operações duvidosas, certos magnates cabo-verdianos e luso-guineenses sabem pagar da sua bolsa e com a sua pessoa (158) quando se trata de rivalizar em patriotismo. Sem mesmo falar do padrão de todas as «virtudes luso-tropicais», o insigne Honório Pereira Barreto, é bom sublinhar que um negreiro, tão notório como Caetano José Nosolini, foi a alma da resistência durante o asdio. É verdade que, mantendo na sua dependência financeira todos os funcionários e todos os soldados, é ele quem mais teria a perder se Bissau tivesse cdo, em 1844.
A sobrevivência dos enclaves
No plano estritamente defensivo, a «guerra» teve um efeito benéfico para os moradores. Não esvazia o abcesso grumete, mas afasta-o para fora das muralhas. Além disso, a construção da tabanca envolve o poço de Pidjiguiti, fonte de água, dali em diante, em segurança. O campo de tiro, para o norte e para leste, está igualmente liberto.
Politicamente, as vantagens que os lusitanizados retiram são menores. Notar-se-á que o tratado de paz de 1844 não é um tratado de vassalagem, à imagem do que se pratica e se praticará na África lusófona bantu. Neste aspecto, a Guiné não é Angola nem Moçambique. Aqui os chefes africanos não se reconhecem ainda leais vassalos da Coroa, nem obrigados a ajudar os seus representantes e os seus súbditos. É um simples acordo de boa vizinhança e esta diferença é capital. Não tardará a ver-se que não resolve o problema dos grumetes de Bissau mas, mesmo violado e apesar de tudo, dará umas tréguas de perto de 50 anos à praça, face aos Papéis, de quem o régulo de Intim não receberá mais rendas. Esta «guerra de Bissau» foi, pois, uma profunda inalação de oxigénio político para os lusitanizados. Mas não resolve a questão do isolamento, nem o da dependência em relação: a) às marinhas estrangeiras; b) às trocas externas; e) aos bloqueios fluviais eventuais. Numa palavra, no final de 1844, Bissau e atrás deles Cacheu e os presídios interiores, continuam a ser o que nunca deixaram de ser: enclaves. Comparados com a Gâmbia e mesmo com o «poderoso» Senegal da época, nada ali de dramático. Apesar de tudo, é uma base muito frágil e muito instável para transformar esta colecção de escalas numa unidade territorial contínua. Principalmente quando a vossa metrópole não quer ouvir falar de vós.
NA DEFENSIVA
As acções violentas durante estes quatro anos charneiras estão limitadas a Bissau e a Cacheu. Comprometem apenas pouca gente do lado português e são pouco mortíferas de um e outro lado. Em muitos aspectos, são «rixas de balcão (*)» tal como sobressai do breve quadro seguinte, estabelecido segundo o modelo daqueles que elaborámos para Moçambique. À medida que avançarmos no século, vê-los-emos alongarem-se lugubremente. De momento, o primeiro é dos mais sucintos, tal como convém a um curto período e para estabelecimentos que nem sequer têm suficientes e bons soldados para manter a ordem dos comerciantes.

(156) Barcellos: op. cit., Pane V, p. 40.
(157) Idem. Parte V, p. 29. O autor não diz se se trata do peso duro espanhol (1= 1000 réis) ou do peso mexicano (1 =800 réis) (Segundo lopes de lima: op. cit., Parte I, p. 50), o que faria 4000-32005000 réis para o primeiro e 8000-6400$000 is para o segundo.
(158) Os custos de construção da estacada foram cobertos por Nosolini, e ele participou financeiramente - e fisicamente - na construção da tabanca em adobe e em pedra que a reforça. Barcellos: op. cit., Pane V, p. 40.
(*) No original «rixes de comptoirs». Com esta expressão, pretende o autor realçar os aspectos mercantilistas destas «guerras», o havendo, em Português outra possível tradução. (N.T.)»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 96-99
1845/04/27
«O governador de Bissacommunicou em 27 dabril, e 6 de maioque os grumetes continuavam esua rebelditantqutendo desprezado as propostas dperdão qrise lheoffereceu, declararam que nada queriam da Praça e qupassavam a ser subditofranceses. Que effectivamentarvoraram eBandim, no ponto que escolheram para sua residencia, a bandeira francesa e que a seguraram com um tiro de peça, persistindo na sua rebelião aggravando-a com maiseste acto de traição. Que um soldado, por nome João Soares, que havia tempos tinha desertado para os gentios de Bandim viera apresentar-se á Praça, onde fizera importantes revelações sobre os preparativos que os grumetes estavam fazendo para a guerra, logo que chegasse o tempo das aguas os fins com que recomeçavam, cujo primeiro acto foi o arvorarem a bandeira francesa no dia 30 de abril; e, finalmente, que oreferidos grumetes sabiam tudo quanto se passava dentro da Praça.
Governadorem sessão do Conselho do Governde 11 de julho, apresentou essa questão ainda do roubo de uma chalupa do negociante João Marques de Barros, na qual foi prisionada a tripulação.
Conselho foi de unanime opinião, que ao Governador de Bissau fosse autorizado a declarar a Praça em guerra contra os rebellados de Bandim, se estes não viessem prestar submissão e até contra os gentios que prestassem ãuxilio aos referidos grumetes.
No mesmo dia 11 de julho officiou Governador Geral ao de Bissau dizendo-lhe que tinha resolvido mandar para essa Praça a bordo do brigue de guerra Douro, uma força de 50 pracas e os officiaes competentes, destinada a render um igual numero de soldados e officiaes ou como reforço à guarnição ali existente.
Fôra-ihe reeommendado para colheas mais amplas informações sobra veracidade da revelação feita pelo soldado Soares; das intenções equfoi arvorada a bandeira francesa dos planos que se attribuem aos grumetes dse submetterem aos françeses; e ainda sobre a exactidão das noticias que tinham corrido da pilhagem ás canôas dos negociantes das prisões effectuadas.…
Recommendava-lhe para que tivesse promptum contingente de fprça suficiente da guarnição commandada pelo capitão Francisco Alberto de Azevedo para que, logo que chegasse ao seu conhecimento que os rebeldes rejeitavam o perdão, rompesse as hostilidades, marchando sobre Bandim a força mencionada.
No referido brigue Douro seguiria para Bissau tenente-coronel Nosolini quem o Governador de Bissau devia consultar sobre a marcha a seguir contra os · grumetes tambem requisitar-lhe, devido á sua influencia e grande prestigio ali, qualquer auxilio de gente.
Devido ao mau estado do brigue Douro seguiu para Bissau brigue Vouga sob commando de Carlos Craveiro Lopes, com força, no dia 30 de julho, tendo embarcado nelle o tenente-coronel Nozolinitres segundos tenentes de artilharia e 40 praças de pret, fondeando em Bissau a 7 de agosto.
Neste mesmo dia officiou commandante do brigue Vouga ao Governador da Praça pedindo-lhinformações sobre a altitude dos grumetes. Respondeu que estes tinham vindo no dia primeiro de agosto, de madrugada, arrancar alguns paus da palissada junto ao mar, do lado do Pigiguiti, e que presentidos pelo guarda fugiram; depois do toque de alvorada um grumete que se achava émboscado junto ao baluarte da Poana fez um tiro á sentinella; esta immediatamente lhe fez fogo fugindo aquelle para dentro de tarafes, proximo da Praia; para ali se fez fogo de metralha que desalojou uns 12 a 15 homens que fugiram sempre perseguidos pela artilharia. Nesse dia, tanto os grumetes çomo o gentio mandaram seus embaixadores á Praça pretextando que se queriam sujeitar a todas as condições que o Governo lhe quisesse impor, e que deviam reunir-se no dia 8 para deliberarem apresentarem a todo o povo as condições a que deviam ficar sujeitos.
Naquelle dia reuniu-se effectivamente o Conselho composto do Governador da Praça, commandante do brigue Vouga e tenente-coronel Nozolini que resolveram se çhamasse á Praça o regulo Aré, de Antim no dia 9 apresentou-se este rei com cinco pessoas da sua comitiva, exigindo-lhe o Governador que sem mais demoras tratasse da paz entregasse prisioneiro Miguel da Barros assim como havia de dar um dos seus filhos para ficar de refem. .
Esse rei, respondendo affirmativamente, mandou um dos seus fidalgos buscar a Antim a gente que d'aquelle chão devia ficar de refem, bem assim um filho seu que devia ir para Cabo Verde; depois d'esta gente entrar na Praça sairia, entao, o rei para ir buscar ás tribus de Antulla e Bandim, outra gente, eirmão de João de Barros bem como os grumetes para jurarem novamente fidelidade á bandeira portuguesa.
O rei confirmou o que havia dito ao Governador na presença de Caetano José Nozolini, mas este declarou que essa paz era inutil disse ao rei para mandar vir gente de Geba para servirem de mediadores ; o rei annuiu a isso e as negociações ficaram paradas contra os votos do Governador Azevedo AIpoim e commandante do Vouga.
No dia 9 seguiu para a Praia o brigue Vouga e pelo relatorio do com mandante do mesmo se viu que os grumetes não atacaram as canôas dos negociantes portugueses.
Em 11 de agosto communicou Governador da Praça que se tinha dispensado a gente de Geba, como medianeirosaceitando os regulos de Bandim Antulla a exigencia de apresentarem seus filhos, que ficariam em refens que a paz se trataria no dia 14 proximo.
Só em tres de novembro participou o governador ter-se concluído paz com estes rebeldes, apresentando-se na Praça em numero de 200 homens que ractificarajuramento de obediencia á Rainha.» - 
Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte V, pgs. 55-58, Lisboa, 1911
1845/05/00
«Em Maio de 1845, pouco tempo depois de firmado o suposto acôrdo ·de paz entre o govêrno de Bissau e o grupo de papéis e grumetes, o respectivo governador, Joaquim Azevedo de Alpoim participava que os grumetes continuavam em estado de rebeldia.
Um soldado desertor, João Soares, que regressara à praça depois de ter passado seis meses entre os indígenas, informava que os grumetes iam acumulando munições e aliciando gentios para atacar a fortaleza; que· pretendiam hàbilmente provocar um conflito entre Portugal ·e França, declarando-se súbditos desta última nação, para o que fizeram arvorar uma bandeira francesa em Bandim, salvando-a com tiros de peça no dia 30 de Abril.
Ao mesmo tempo os revoltosos hostilizavam os comerciantes de Bissau apoderando-se das suas canoas com mercadorias e molestando as tripulações.
Em face dêstes informes, o governador geral de Cabo Verde enviou novamente para Bissau o brigue Vouga, sob o comando de Carlos Craveiro Lopes, com 40 praças, 3 tenentes de artilharia e o tenente-coronel Caetano Nazolini. Chegaram a Bissau em 7 de Agôsto. Durante êste tempo houvera troca de tiros entre a Praça e os revoltosos, que por vezes chegaram a avançar até à palissada e destruir uma parte dela.
A chegada do refôrço, vindo pelo Vouga, levou os grumetes e papéis a enviar seus emissários, declarando aceitar a soberania portuguesa, e começaram as negociações da paz, que ainda levaram muito tempo, até que os grumetes, em número de 200, se apresentaram na Praça, ratificando o juramento de fidelidade.
O brigue Vouga retirou-se para Cabo Verde, levando a bordo o comerciante JoValério Gonçalves, acusado de entendimento com os ingleses para a venda de territórios na região de Geba.
Tempos depois, o mesmo governador de Bissau, Azevedo de Alpoim, realizava a compra do pôrto de Bandim ao régulo da região, confirmada por tuna escritura lavrada em 14 de Fevereiro de 1846, na qual o régulo declarava: «que cedia de hoje para todo o sempre o porto de Bandim, bem como uma porção de terreno junto, a Joaquim de Azevedo Alpoim, cujo porto bem como a terra adjunta, ficará desde hoje pertencente ao dito Alpoim, e outrossim declarou o rei que tudo tinha cedido por ser muito obrigado e amigo do actual governador desta praça, Alpoim, de quem tinha recebido varios presentes e ao fazer desta uma boa gratificação ... »
Participou também o· mesmo governador de Bissau, em Março de 1846, que estava concluída a construção do forte de Pigiguiti, de pedra e cal, devida em grande parte aos serviços de Caetano Nazolini, propondo que se desse ao forte o nome deste tenente-coronel como grande benemérito de Bissau. Deu-se, porém, a: circunstância de, na mesma época, subir às estâncias superiores uma reclamação dos moradores de Bissau contra o mesmo Nazolini, acusando-o de abusar da sua situação, tornando-se prejudicial à praça.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 227-228
1845/07/11
«Em 11 de julho de 1845, na Villa da Praia, officiou o Governador D. JoMiguel de Noronha ao commandante do brigue de guerra Vouga, expondo-lhe que, não só por vias officiaes directas mas tambem por via de Goré, estava informado de novas hostilidades á Pra de Bissau, provocadas por grumetes e que essa Praça reclamara soccorros d'esse navio.
Teve noticia o Governador Geral que no co salgado (terreno sagrado onde o gentio não pode ser batido) que os papeis occupam em Bandim, fôra arvorada a.bandeira francesa, e que de novo se preparavam para uma guerra tendo os grumetes commettido actos de pirataria, roubando canoas de negociantes portugueses, cujo paradeiro e da gente se ignorava; um dos roubos deu-se numa chalupa do negociante João Marques de Barros, cuja tripulação constava estar a ferros, em poder dos grumetes, incluindo um irmão d'este negociante Barros.
Mais constara que os grumetes se tinham abastecido de muita polvora, e que esperavam pela estação chuvosa para atacarem a Pra, auxiliados pelos papeis de Bandim e de Autulla.
O Governador mandou que o brigue Vouga, depois de recolher cincoenta soldados do batalhão de artilharia com os respectivos officiaes, seguisse para Bissau. Embarcaram, dos officiaes, o tenente-coronel Caetano Nozolini e três tenentes, a 30 de julho e chegaram a essa Prava a 7 de agosto.
Determinou o Gorernador Geral que, depois do desembarque da tropa, se organizasse a força que sahiria a campo e que, reunindo-se a ella uma outra disponível de bordo, procurariam occupar Bandim e destruir as canoas dos grumetes. Antes porem, de comarem estas hostilidades, recomendou o Governador, que da Praça se enviasse um parlamentario a Bandim, para intimar os grumetes que entregassem todos os prisioneiros e roubos que conservavam em seu poder, e que se rendessem á descrição dentro de um prazo, que seria accordado com o Governador da Praça e com Caetano Nozolini, assegurando- lhes, neste caso, inteiro perdão e esquecimento do passado, e qur ninguem seriá perseguido ou inquietado pelo que anteriormente houvesse feito, mas que findo o referido prazo, e não se tivessem submetido, que se rompessem as hostilidades e os grumetes ficariam sujeitos a todos os rigores que as leis da guerra autorizam em taes casos.
Em Bissau estava fundeado o brigue Douro que sahiu d"este porto na vespera de se. romperem as hostilidades.
O Governador da Praça de Bissau, Joaquim de Azevedo Alpoim, relatou ao commandante do brigue Vouga qne os grumetes tinham vindo no dia 1 de agosto, de madru!!ada, arrancar alguns .paus da paliçada junto ao mar, do lado de Pigiguiti, mas sendo presentidos pela guarda que se achava colocada a pequena distancia d"aquelle ponto, retiraram-se sem fazer um tiro e nem tão pouco fizeram os soldados, porque, quando ali chegaram já não viram ninguem.
Depois do toque de alvorada partiu um tiro do lado da porta da Poana, que foi feito por um grumete, que ali estava emboscado, contra a sentinella collocada no baluarte proximo, a qual immediatamente tambem lhe fez fogo.
O Governador mandou bater as moitas de tarafes com metralha e d'ali sahiram uns quinze grumetes que fugiram para um outro bosque; então fizeram fogo contra a Praça, mas esta com artilharia os desalojou.
Tanto o gentio como os grumetes, desde que ali chegou o brigue Vouga com Caetano Nozolini, mandaram seus embaixadores ao Governador a dizer-lhe que queriam sujeitar-se a todas as condições que o Governo lhes quisesse impor, e resolveram reunir-se no dia seguinte para deliberarem e apresentarem a todo o povo as condições a que deviam ficar sujeitos.
Çomo de costume, a paz conseguiu-a Caetano Nozolini e outros negociantes com dinheiro e presentes que davam a essa horda de selvagens, seguindo no dia 12 para Cabo Verde a Vouga, conduzindo preso o negociante JoValerio Gonçalves, accusado de querer vender os pontos de e Ganjarra aos ingleses.»
Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte V, pgs. 50-51, Lisboa, 1911
1845/08/01
«Ainda os grumetes de Bissau (1 de Agosto de 1845)
Em Abril e Maio de 1845, o governador-geral de Cabo Verde, José Miguel de Noronha, tem conhecimento de que os Papéis e os grumetes refugiados em Bandim arvoram a bandeira francesa (30 de Abril) «esperando» fazerem-se súbditos de Louis-Philippe, e que os grumetes, de acordo com o que o, cometem actos de pilhagem contra as embarcações dos negociantes de Bissau. Os grumetes recrutam mesmo aliados para tentarem apoderar-se da vila. Cabo Verde envia, portanto, o seu brigue de guerra, 40 artilheiros, três oficiais e o inevitável Caetano José Nosolini, encarregado de negociar uma paz mais duradoura que a do ano precedente. Os grumetes parecem querer atacar a tabanca, a 1 de Agosto de 1845, mas a artilharia deteve-os. À chegada do brigue (7 de Agosto), Papéis e grumetes enviam representantes a Bissau, onde Nosolini e o governador, Joaquim de Azevedo Alpoim (3), terão muita dificuldade em comprar a paz (4). Intervirá muito tardiamente, mas numa data de nós desconhecida (Outubro ou começo de Novembro de 1845), provavelmente por cansaço.
Nesta data, a guarnição de Bissau é numericamente forte (123 homens), porém é totalmente incapaz de sair da sua fortaleza. Portanto, para se antecipar às ameaças francesas e inglesas, o governador de Bissau, à maneira de Honório Pereira Barreto compra, em seu nome pessoal, o que não pode conquistar pelas armas: o «porto» de Bandim (14 de Fevereiro de 1846) que o régulo papel local, respondendo ao nome bombástico e inesperado de Jery Napenac da Roca, lhe vende. Esta «personalização» ou individualização da expansão tem uma dupla finalidade, aos nossos olhos: a) não assustar a parte cedente, a qual se melindraria por vender um território à Coroa portuguesa, mas não senão vantagens em ceder a um particular, mesmo governador; b) promover os necios do funcionário «comprador» junto dos seus superiores. Este último ponto é confirmado pelo exemplo de Caetano José Nosolini, que oferece às autoridades, a 7 de Abril de 1846, um fortim construído a expensas suas, na ponta da tabanca, lançada em construção pelos seus cuidados, durante o cerco de 1844. Este benfeitor da humanidade joga, portanto, em dois registos complementares: negreiro todo-poderoso, mas invejado pelos seus pares, que o acusam de abuso de poder, ele tem necessidade de aparecer como protector da Coroa, da qual espera que feche os olhos às suas actuações duvidosas. Não é desiludido na sua expectativa. Isto para Bissau, na margem, que captou a atenção depois de 1841.
(3) Já conhecido governador de Quelimane, atacando Massangano, em Moçambique, em 1855. René lissier: Naissance .... op. cit., p. 71; p. 324.
(4) Barcello, Op. cit. Parte V. pp 55-58.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 106-107
1845/09/17
O comandante francês Baudin, oficial da mari­nha, prestou auxilio à Praça de Bissau quando os Grumetes e os Papéis a atacaram, Provou-lhe o seu reconhecimento o Governador da mesma, e o Governador de Cabo Verde dirigiu-lhe uma lison­jeira carta de agradecimento. A corveta ameri­cana «Preble» concorreu igualmente para pôr os revoltosos em debandada.
1846/02/13
Os negros da tribu Zigoche, no rio de Casamansa, não estavam em boas relações com o Presidio de Zeguichor. O commandante militar e civil d'esse Presidio, Francisco de Carvalho Alvarenga participando ao Governador de Cacheu, JoXavier Crato, um breve rompimento de hostilidades, o avisou de ter o inglês, da Gambia, Pierre Mengue, vendido polvora e armas aos Zigoches para nos atacar.
Em 13 de fevereiro de 1846, o governador Crato num seu relatorio para o governador geral, lhe communicava o facto de essa tribu ter sido batida no ataque que deu.

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