sexta-feira, 15 de julho de 2016

COLONIZAÇÃO DA GUINÉ 1869/08/13-1878/12/01


1869/08/13
Sendo JOÃO CARLOS CORDEIRO Governador da Praça de Cacheu e dependência, foi assinado pelo régulo de ]ufunco, Ampacabu, a cessão daquele território à Nação Portuguesa, podendo todos os cidadãos portugueses estabelecer feitorias na mesma re­gião.
1869/12/09
Por decreto de 9 de Dezembro de 1869 Bissau foi declarado porto Franco.
1870
Os Britânicos estabelecem um cabo telegráfico transatlântico ligando o Mindelo ao seu sistema internacional de telecomunicações.
1870/02/00
JOSE GOMES PEREIRA era o gerente da feitoria Pastré Frères em Boa Esperança, na foz do Rio Grande, em Fevereiro de 1870, quando foi preso em Baudhié, à entrada do Rio Cacheu, pelas autoridades alfandegarias portuguesas.
1870/04/21
Por sentença arbitral são reconhecidos pelo Pre­sidente dos Estados Unidos, Ulysses S. Grant, os direitos de Portugal à Ilha de Bolama.
1870/10/01
Em vista da sentença proferida pelo Presidente dos Estados Unidos, UJysses J. Grant, o Gover­nador Geral de Cabo Verde, conselheiro CAETANO ALEXANDRE DE ALMEIDA E ALBUQUERQUE, em nome do Governo Português tomou posse da ilha de Bolama, estando presente Graig Loggie, coman­dante civil, representando o Governo da Grã-Bretanha. Escreveu e assinou o auto de posse, como secretário, o 2.0 tenente da Armada GUILHERME AUGUSTO DE BRITO CAPELO.
JOAQUIM JOSÉ DA SILVAtambem esteve em Bolama na tomada de posse em 1 de Outubro de 1870. SB. VI. 272
NICOLAU ANTÓNIO DA SILVAesteve igualmente presente em Bolama em 1 de Outubro de 1870.
JOSE ANTÓNIO DA SILVAtambem esteve em Bolamana tomada de posse em 1 de Outubro de 1870.
CARLOS DE AVELLAR PEREIRAestava presente em 1 de Outubro de 1870 quando Portugal tomou posse de Bolama.

VICTOR MARTINS DE CARVALHOesteve presente no dia 1 de Outubro de 1870 na tomada de posse oficial portuguesa de Bolama.
1870/11/24
Acordo com os Nalús para o reconhecimento da autoridade portuguesa na ponta de S. Jorge.
1871
Dr. Augusto Carlos Cardoso e Pinto Osório – provido juiz de direito em 1871.
1871 -Lutas entre Papéis de Cacanda e militares Portugueses.
- Saiu da Praia (Cabo Verde) uma força militar de 200 homens, embarcados nas canhoneiras Zarco e Tejo, para combater a tabanca que deu refúgio aos guineenses que mataram o governador de Bissau (13/02).
- A expedição ataca Cacanda, que resiste durante cinco horas (08/03).
- A expedição ataca as tabancas de Bassarel. Bianga e Churo (09/03).
- Todos os régulos, excepto o de Churo, aceitam a paz (22/08).
EUGENIO PEREIRA foi urn dos grumetes acusados de matar o Governador Caldeira em Cacheu em 1871.
ANTONIO PEREIRA E VENCESLAU DE CARVALHO foi urn dos grumetes acusados de assassinar o Governador Caldeira, da Guine, em Cacheu em 1871.
JOAQUIM ALBERTO MARQUÊS é capitão-mor de Bissau (2º mandato)
1871/01/24
«Em Janeiro de 1871 o governador Álvaro Teles Caldeira, que se encontrava em Cacheu, foi assassinado por um grumete, involuntàriamente.
Na noite de 24, durante um batuque, houve uma desordem entre os soldados e grumetes, resultando dali a morte de um morador de Cacheu. Os grumetes resolveram, por isso, vingar-se dos seus adversários e dois deles foram buscar umas espingardas com intenção de atacar os soldados. O capitão Caldeira, que saira para a rua com o fim de pôr termo à desordem, foi alvejado por um tiro na escuridão da noite.
Os assassinos e alguns outros grumetes refugiaram-se na povoação indígena de Cacanda e o respectivo régulo recusou-se a ientregá-los, sendo apoiado nessa desobediência pelos chefes de Bassarel, Bianga e Churo.
O governador geral Caetano de Albuquerque, logo que teve conhecimento dos factos, .organizou uma expedição com 200 praças sob o comando do major José Xavier do Crato, nomeado governador interino do distrito.
A fôrça embarcou em 11 de Fevereiro nas canhoneiras Zarco e Tejo, comandadas respectivamente pelo capitão-tenente Novais e primeiro-tenente Fernando da Costa Cabral. Fazia parte da tripulação o segundo-tenente Guilherme de Brito Capelo, que fez o levantamento do rio de Churo, pela primeira vez explorado pela nossa marinha.
Diepois de feitos os necessários reconhecimentos, resolveu-se dar um ataque à povoação de Cacanda, no dia 8 de de Março.
Era comandante ·das fôrças terrestres o capitão Joaquim Alberto Marques. Após cinco horas de resistência, os papéis de Cacanda, que eram auxiliados por indígenas de outras povoações, retiraram-se para o mato, em condições de não pode·rem ser alcançados pelas nossas tropas. Da nossa parte houve sete mortos e oito feridos.
Como sucedia em tôdas estas campanhas de efeitos incompletos, os indígenas acabavam por enviar os seus emissários a pedir paz, .e esta foi celebrada no mês de Abril nas seguintes condições: Seriam perdoadas as tríbus que tinham ofendido a praça, com excepção dos indígenas de Churo que se conservavam hostis; os chefes da Mata e Pecau perderiam o direito às contribuições que recebiam dos navios mercantes; em compensação dar-se-iam as pensões de 41$000 réis ao régulo da Mata, 51$000 ao régulo de Pecau e 10$000 ao de Cacanda, com obrigação de se considerarem subordinados ao presídio; continuariam em vigor os contratos anteriores. Os indígenas não deveriam opôr-se ao corte de mato em volta da povoação de Cacheu.
Somaram ·em 6.500$ooo as despesas desta expedição, uma das mais importantes que se organizaram para bater o gentio. No entanto a sua acção não foi completa, porque não era fácil alcançar os papéis de Churo, que continuavam a manter-se na rebeldia.
As canhoneiras não podiam subir o rio e a grande distância por terra por caminhos e regiões desconheddas tornava difícil o avanço. Todavia, a presença desta fôrça com mais de 400 homens trouxe um certo pnestígio às autoridades de Guiné.» João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 245-247
Foi assassinado, em Cacheu, por dois grumetes, que contra ele dispararam dois tiros à queima­-roupa, O Governador de Bissau, capitão ÁLVARO TELES CALDEIRA. Ao ter conhecimento do facto o Governador Geral de Cabo Verde, ALBUQUERQUE,organizou uma expedição composta de duas canho­neiras levando uma força de 200 praças e mate­rial de guerra. Presos os assassinos, foram julga­dos e condenados a degredo.
Em Cacheu, o Padre Marcelino teve papel também importante no apaziguamento da sublevação verificada nessa praça em 24 de Janeiro de 1871 e que culminou com a morte do Governador Álvaro Telles Caldeira. As razões desse levantamento e a morte do dito Governador ainda hoje não estão bem esclarecidas, atribuindo-as João Barreto a uma mera casualidade, visto que os grumetes locais que o mataram queriam era vingar-se dos soldados caboverdeanos que haviam morto um dos seus durante um batuque na praça65, mas René Pelissier apresenta outras hipóteses igualmente plausíveis66.
65 João Barreto, História da Guiné, Lisboa, 1938, p. 245.
66 René Pelissier, op. cit., vol. I, p. 150, notas 136 e 137:
Assassínio do governador Caldeira
O ano de 1871 abre um período negro na história das feitorias. E «negro», aqui, deve entender-se tanto no sentido de obscuro como de desastroso. O governador da Guiné, ÁLVARO TELLES CALDEIRA, em visita de inspecção a Cacheu, é abatido na noite de 24 de Janeiro de 1871, em condições controversas (136), mas que têm por denominador comum um caso criminal implicando grumetes. Ora, muito rapidamente, este acontecimento ganha volume e torna-se um conflito colonial clássico.
(136) a) Intencionalmente por um grumete, irmão de um outro que o governador matara ou mandara matar, porque protestava contra as intimidades a que Caldeira se arrogava, em relação a sua mulher (versão fornecida pelos Franceses de Carabane que disto só podem estar informados por rumor público. A.N. 200 MI 578): b) por engano, por dois grumetes locais, decididos a vingarem-se dos soldados cabo-verdianos, que mataram um dos seus, quando de um batuque.
«Em 24 de novembro de i870 realisou-se na ponta de S. Jorge, território de Nalú, Guiné, o auto da cessão d'este territorio feito por dez régulos ao governo, representado pelo Governador, capitão Alvaro Telles Caldeira.
Passou este Governador a Cacheu em janeiro de 1871 em visita, sendo acompanhado pelos seus ajudantes de ordens tenente JoFonseca, e alferes Jacintho Camacho.
Na noite de 24 do referido mez de janeiro foi Caldeira ali assassinado por dois grumetes, que contra elle dispararam dois tiros de espingarda à queima roupa.
Antes, porem, de narrarmos este triste successo devemos dizer que este governador, reconhecidamente valente, era temido.
Homem de bem, tinha o vicio da bebida, que muito o irritava a ponto de não gosar geraes simpathias, nem do funccionalismo e nem entre os gentios, que estavam habituados a ser tratados com muita brandura pelos Governadores passados, á excepção de Honorio Barreto que, por ser natural da Guiné, era idolatrado, até pelos gentios mais indomaveis, que o tratavam por parente.
Vivia, maritalmente, Caldeira com uma mulher que lhe correspondia aos seus affectos, mas não na doce paz do lar, porque sendo muito ciumento julgava-se trahido por ella e por isso não escondia uma enorme e permanente excitação nervosa que o dominava.
Nessa tragica noite de 24 de janeiro, jogava Caldeira o voltarete em sua casa com alguns amigos e ajudantes de ordens; estava um tanto agitado por causa do ciume e não da bebida, que, n'esse dia, ainda não tinha feito uso.
Jogava, em mangas de camisa, quando alguem lhe foi communicar, que um soldado tinha matado um grumete n'um batuque proximo da sua residencia; muito excitado, sem vestir um casaco, empunhou a espada, sabiu, dirigindo-se ao local do conflicto e só decorridos alguns minutos é que os ajudantes souberam que elle tinha sabido de casa; seguiram os seus passos e ao chegarem ao local do conflicto tiveram que parar porque um obstaculo lhes impedia a marcha ; apezar da noite estar bastante escura e não haver ali nenhuma illnminação, reconheceram o corpo inanimado do desditoso Governador.
Acabava ·de ser assassinado e os assassinos tinham fugido, seguidos de outros grumetes, para o chão do gentio de Cacanda. .
Originou o conflicto .referido o facto de alguns soldados provocarem desordem, n'um batuque, contra os grumetes da Praça, ficando um destes morto.
Armaram-se dois grumentes de espingardas, que foram buscar à sua povoação, mas jà não encontraram nenhum soldado, que tinham fugido para o Quartel e apenas viram um vulto, que mais se destacou pela côr branca da camisa; não sabiam quem estava ali mas, imprudentes e raivosos, alvejaram-o quasi à queima roupa.
Como se vê não houve intenção, propositada, de assassinar Caldeira que em Cacheu não tinha exercido nenhuma violencia que levasse os grumetes geralmente pacíficos a cometter um acto de tanta crueldade ; foi victima de engano dos grumetes e da sua nunca desmentida coragem e da sua imprudencia.
Refu giados os grumetes na Cacanda exigiu a Praça ao régulo d'esta tribo a prisão dos mesmos ; negou-se ·a entrega-los e antes se declarou hostil, no que foi appoiado pelos régulos de Bassarel, Bianga e Chuôro.
Levou-se ao conhecimento do Governador Geral Albuquerque estes factos. Com a sua reconhecida energia organisou em menos de 24 horas urna expedição composta das canhoneiras Tejo e Zarco que conduziram o batalhão de Caçadores n,º 1, em numero de 200 praças e com bastante material de guerra.
Era commandante d'este batalhão o major José Xavier Crato, que foi nomeado Governador interino da Guiné e investido no commando superior das forças que deviam entrar em campanha.
Em 11 de fevereiro seguiu com rumo a Bissau a canhoneira Tejo, sob o commando do 1.º tenente Fernando da Costa Cabral e para o mesmo destino sahiu a canhoneira Zarco no dia 14, d'aquelle mez, sob o commando do capitão tenente Novaes.
Em Bissau receberam uma importante força do destacamento ali aquartelado e d'ali seguiram para Cacheu onde chegaram a 25 do referido mez, sendo o total da expedição,· incluindo praças das canhoneiras, de 400 homens.
O Governador Crato ao mesmo tempo que empregava os seus esforços para chamar á obediencia os gentios, sobretudo da Cacanda, entregando os grumetes, de accôrdo com o conselho de officiaes, de terra e mar, mandou proceder a alguns reconhecimentos: da praia da Cacanda, pelo tenente SaintMaurice, ponto indicado para o embarque da expedição, quando esta tivesse de regressar á Praça, a qual seria reéebida em lanchas, sendo o embarque da mesma protegida pelas canhoneiras ; e ào rio de Bassarel, que íoi confiado ao habil 2.º tenente da armada Guilherme de Brilo Capello que teve, para esse fim, ás suas ordens o palhabote Bissau, que foi guarnecido com marinheiros da canhoneira Zarco e uma força do batalhão.
Fôra julgado conveniente esse reconhecimento para, no caso do rio dar acceso ás canhoneiras estas castigarem os gentios que auxiliaram os da Cacanda, sobretudo 'os do Chuoro, que mais, e de longa data, hostilisavam a Praça.
O palhabote ao passar no territorio de Bianga, foi atacado pelos gentios que, batidos pelo fogo de bordo, se retiraram.
Apoz um trabalho fatigante, sobre as ardencias do sol da Guiné e de risco de vida, num rio apertado, occupado por gentios aguerridos, conseguiu aquelle distincto official, explora-lo numa enorme· extensão, até ao chão de Qués ; fez um levantamento rapido, que mostra rapidas curvas, com um grande numero de sondas, começando estas, em 5 braças depois de se transpor a barra, situada entre a Matta da Potama e a de Cacheu ; fôra da barra o fundo é esparcelado, com sondas de 3 braças até a· entrada da mesma onde proximo accusou sondas de 2 e 1/2 braças.
N'estas condições não podiam as canhoneiras subir o rio, como foi de parecer do illustre official, que apresentou tambem ao governo um desenvolvido relatorio sobre a espinhosa missão de que foi encarregado e da qual se houve com tal distincção, que mereceu da corporação a que pertence a mais alta consideração e respeito.
Esgotados todos os recursos empregados pelo Governador Crato para a entrega dos criminosos, resolveu-se atacar Cacanda no dia 8 de março ; pelas 5 horas da manha marchou a expedição, commandada pelo capitão Joaquim Alberto Marques, que desempenhava o logar de major do batalhão, e que dirigia os soldados, sendo a pequena força de marinhagem, 20 praças, sob o commando de Brito Capello tendo como subalternos o tenente Filippe Dias e o guarda marinha Avellar Pereira.
Uma foa de uns 10 homens , composta de incorrigiveis, foi para o campo sob as ordens do guarda marinha Julio José Marques da Costa.
Os gentios da Cacanda eram tambem auxiliados pelos das tribus de Pucau, Berny, Bijop, e d'alguns da Matta .
Ao cabo de 5 horas de combate fugiu o inimigo, com grandes perdas, do bosque de Cacanda e foi arrasada a povoação ; no porto da Cacanda embarcou para lanchas a expedição; ali foi, de subito, atacada pelos gentios emboscados no matto, retirando-se estes, em debandada, depois de um pequeno tiroteio.
Morreram no campo um marinheiro e cinco soldados e ficaram feridos dois marinheiros, um dos quaes falleceu e seis soldados.
Nos dias 5 e 6 de abril voltou o batalhão á Cacanda para destruir ainda algumas cubatas ; não encontraram nenhuma resistencia por os seus antigos moradores se encontrarem dispersos no matto, .
O commandante do batalhão Crato, na qualidade de Governador interino, entendeu que não devia acompanhar a força expedicionaria para o combate e ficou na Praça com uma pequena força, com a qual elle sahiria se houvesse necessidade de proteger a retirada no caso de um fracasso. O Governador Geral desapprovou este procedimento.
O que se conseguiu d'esta expedão foi uma grande força moral para o governo, que teve sollitações dos regulos da Malta, de Banhum e d'outros pontos, para serem recebidos pelo Governador da Praça, a fim de afirmarem sua obediencia e amisade, e intercederem, ao mesmo tempo, para que a tribu de Cacanda fosse admittida á amisade, bem como as de Bassarel, Pucau e Bianga.
Tinha sido exonerado Crato do governo interino e nomeado o capitão Joaquim Alberto l\Iarques, que se occupou das negociações impetradas por aquelles gentios, as quaes se concluiram a 22 de agosto, apresentando-se na Praça 86 pretos, entre os quaes os .régulos e grandes, que notificaram a amisade, na presença do referido Governador Marques e dos membros da Junta Consultiva de Cacheu, estipulando-se;
1.º Perdão ás tribus que tinham offendido a Praça, com excepção da de Chuôro, que se conservou hostil.
2.º Perderem as tribus da Matta e Pucau o direito que tinham ás dachas ou contribuições que pagavam os navios que iam cornmerciar no rio de Cacheu.
3.º Assegurar, como compensação, pensões aos regulos: da Matta réis 41&280; de Pncau 51&600 réis e da Cacanda 10&320 réis, com a obrigação de sempre informarem á Praça, de tudo que importasse saber sobre a sua segurança.
4.° Faltando os régulos á condição 3.ª deixariam de receber as pensões annuaes.
5.º Promessa de castigar os criminosos de novas offensas, fossem portugueses ou gentios.
6.° Continuarem em vigor os ·contractos anteriores.
7. º Faculdade à auctoridade .portugueza de cortar o matto em roda da Praça.
8.º Estas estipulações dependiam da .approvação do Governador Geral.
Para occorrer á despesa extraordinaria de 6:493&335 réis feita nesta guerra, realisou-se um ernprestimo de seis contos de réis.
O secretario do governo da Guiné, Castro de Moraes, em um relatório sobre o assassinato do Caldeira, accusou os officiaes : tenentes Francisco de Figueiredo Pereira de Azevedo, Joda Fonseca, e alferes Jacintho Augusto Camacho Junior, de não terem soccorrido o Governador Caldeira; responderam a conselho de investigação, ficando o primeiro isento de culpa e os outros dois presos para conselho de guerra.
O tenente Azevedo era official da guarnição em Cacheu; estava recolhido no seu quartel e não teve conhecimento, senão muito tarde, da triste occorencia.
Dos outros já dissemos como procederam, indo nos encalços do Governador até ao local do crime.
Cumpriram com. o seu dever e por isso foram absolvidos.
No processo judicial que se instaurou, em Cacheu, foram pronunciados como auctores da sedição 11 grumetes e como cumplices 7; estes, foragidos, recolheram á Praça, e entregaram ao Governador dois dos mesmos, que assassinaram Caldeira.
O gentio do Chuôro havia tomado corno fraqueza da Praça o facto de não ter sido atacada a sua povoação em seguida á Cacanda, e passou a hostilisa-la, matando e ferindo mulheres que extra muros iam buscar agua.
Eram repellidos com a artilharia e fusilaria.
O Governador Geral, attendendo á grande distancia que viviam estes gentios da Praça, por maus caminhos, e ser preciso atravessar pantanos e cerradas mattas, pediu ao governo um reforço de 60 marinheiros para cooperar com o Batalhão afim de os castigar; seu pedido não obteve deferimento e esse gentio conservou-se sempre altivo.
Concluída a paz com os gentios revoltados e garantido o socego na Praça seguiu a expedição, sob o commando do capitão Marques, para Cabo Verde a bordo das canhoneiras, tendo tocado em Bissau a Zarco onde deixou um destacamento; a 10 de maio do referido anno de 1871 fundeou na Praia.
O Governador interino Crato sabendo que os grumetes fugidos, se achavam no sitio denominado Poilão do Leão, onde, abandonados pelas tribos, estavam soffrendo fome e se mostravam desejosos de regressar à Praça, mandou-lhes emissarios convidando-os a se recolherem; apresentaram-se 8, entre os quaes Antonio Pereira e Wenceslau de Carvalho, assassinios do Governador, faltando Eugenio Pereira que era accusado, ·pelos seus companheiros, de ter sido tambem um dos auctores do assassinato, e que se encontrava refugiado n'uma tribu distante. Seguiram os dois presos tambem na Zarco para a Praia, onde foram julgados e condemnados a degredo.
A força expedicionaria foi recebida festivamente na Praia pelo Governador Geral que offereceu num banquete aos officiaes de terra e mar, aos quaes já tinha elogiado em Portaria de 31 de março, pelas provas de firmeza e arrojo que haviam dado, e, em honra dos mesmos, houve uma recita no teatro Africano.
Entre tantas guerras com os povos gentilicos da Guiné nenhuma houve que imprimisse uma derrota tão notavel nos rebeldes como esta da Cacanda.
Muito a miudo se annunciavam gnerras, principalmente em Bissau, limitando-se as nossas forças só a tomar a defensiva, abrigadas peias muralhas ou palissadas ; não se organisavam expedições para sahir a campo e apenas se lançava mão de gentios, das outras tribos, como auxiliares, que sabiam a campo, não para combater mas para saquear as palhoças e roubar gado. O nosso prestigio estava, por isso, multo enfraquecido, tanto mais que, por vezes, implorando, as nossas auctoridades, soccorros das colonias francezas e inglezas, nossas visinhas, não deixavam os rebeldes de commentar, desfavoravelmente, a nossa precaria situação; e d' esta, aproveitavam-se os nossos generosos auxiliares para fazer convencer aos pretas a impotencia de Portugal, e assim a França não encontrou difficuldades para occupar o rio de Casamansa e a Inglaterra, que lançava suas vistas para Bolama e Rio Grande de Bolola, se não ponde expulsar-nos, tentou fazê-lo comettendo os seus vasos de guerra toda a casta de violencias durante 30 annos.» -
Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte VI, pgs. 282-287, Lisboa, Imprensa Nacional, 1912
1871/02/09
JOSÉ XAVIER CRATO em Cacheu e que também seguiu a carreira militar tendo falecido em 02 de Abril de 1890 na ilha de Santiago, sendo coronel reformado. Anos antes, sendo tenente-coronel, foi nomeado, por port. nº 46 de 09/Fev/1871 do governador-geral de Cabo Verde, governador interino da Guiné Portuguesa, tendo como missão pacificar a praça de Cacheu e punir os autores do atentado contra o anterior governador interino que faleceu vitimado por duas balas. Este governador era o major ÁLVARO TELES CALDEIRA.
Pela mesma altura o tenente FRANCISCO TAVARES DE ALMEIDA também era colocado na Guiné
1871/02/11
Embarcou nas canhoneiras «Zarco» e «Tejo» a força composta de 200 homens para bater a povoa­ção de Cacheu onde se refugiara o assassino do Governador Caldeira que o régulo recusava a entregar. Um dos oficiais de marinha que tomou parte neste combate foi o 2.0 tenente GUILHERME BRITO CAPELO.
1871/02/13
Aprestou-se para sair da Praia a canhoneira «Zarco» sob o comando do capitão tenente Novais, que ia com a canhoneira «Tejo» castigar os gen­tios de Churo e Cacanda que haviam hostilizado a Praça de Cacheu e dado guarida aos autores do assassínio do governador Caldeira, de nome ANTÓNIO PEREIRA e VENCESLAU CARVALHO.
1871/03/08
Foi batida a povoação de Cacanda, que resistira durante 5 horas ao ataque da expedição militar para ali enviada.
1871/03/09
Campanha contra os régulos de Caeanda, Bassa­rei,  Bianga e Churo, em que tomaram parte as canhoneiras «Zarco» e «Tejo». O 2.° tenente GUI­LHERME DE BRITO CAPELO fez o levantamento do rio Churo.
1971/06/30
Foi exonerado por portaria de 30 de junho de 1871 do governo interino da Guiné o major José Xavier Crato e nomeado o capitão de caçadores de África Joaquim Alberto Marques.
1971/08/22
O gentio, com excepção do de Churo, fez o acto de submissão.
1872
Só em 1872 as ruas de Bissau começaram a ser iluminados a petróleo. Eram, todavia. poucos candeeiros. Os moradores matavam os ócios passeando pela Rua de S. José, a mais asseada, e que tinha casas de sobrado. No prédio deixado por JOÃO MARQUES DE BARROS à Santa Casa de Misericórdia da cidade de Praia, resolvera o Governador de Cabo Verde estabelecer o hospital militar e as repartições públicas.
Repare-se nas determinações feitas no código de posturas aprovado pelo Govemo da Província em 1872, quando a Guiné ainda estava anexa a Cabo Verde:
- É prohibido ter na rua couros podres, ou outro qualquer objecto que exhale mau cheiro (art. 1.º).
- É prohlbido crear porcos ou leitões dentro de casa de habitação, nos quintaes ou pateos ou em edificações ahi existentes (art. 6.º).
- É igualmente prohibido ter ou conservar porcos ou leitões amarrados ou presos na rua, ou á porta de casa de morada ou de qualquer estabelecimento (art. 7.º).
- É prohibido envenenar couros dentro da povoação, mas é permitido tora d'esta, ou no Ilhéu do Reei (art. 17.º).
- Não é permitida a venda de carne fora do local de açougue, sob pena de perdimento da carne (§4.º do art. 23.º), nem nas vias públicas (§ 3.º do art 24.º).
- É prohibido deitar qualquer objecto dentro das fontec públicas que suje e estrague a água que d'ellas se tira para diversos usos, bem assim a lavagem de pessoas e effeitos junto às fontes ou poços públicos (art. 26.º).

Mas - comenta Damasceno - •«Tudo a bem no papel, em execução nada!» (Relatório de Danmasceno Isaac da Costa, Ioc. cit. nº 31, p. 131)
1873
1873- Abolição da escravidão na colónia espanhola de Porto Rico.
«

Fonte: Segundo H. Rey: «Note sur les établissemems portugais de la Sénégambie», Archives de médecine navale, Tomo XVII, Junho de 1877, p. 402 citando António Pereiral Leite de Amorim: «Apontamentos acerca de Bissau», Estatística médica dos hospitaes das Províncias ultramarinas, com referência ao anno de 1873. Lisboa, 1875, o qual retoma Caetano Alexandre de Almeida e Albuquerque: «Província de Cabo Verde» in Relatório dos Governadores das Provícias Ultramarinas... referidos aos anos de 1872 a 1874, Vol. I, Lisboa, 1875, p. 291.
Nota: Trata-se dos concelhos homónimos e não unicamente das aglomerações citadas, porque com dificuldade se o posto de Bolama possuir, na época, sete vezes mais habitantes que Bissau. Administrativamente, as feitorias do Rio Grande de Buba estão incluídas no concelho de Bolama. Em que medida Geba foi contada em Bissau? Esta avaliação administrativa é a primeira efectuada, segundo parece, na Guiné, no século XiX e, a nossos olhos tem, principalmente, um valor indicativo. Não se trata de um recenseamento
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 154-155
1873/11/12
Ordem de construção da alfândega da Praia, ilha de Santiago
1874
Em 1874 os ingleses trazem os cabos telegráficos submarinos até ao porto de São Vicente, ligados à Madeira, à Europa e ao Brasil. Sete anos depois, os cabos foram estendidos até à Praia, ligando-a igualmente à Europa e à África Oriental.
ZIGUINCHOR
O comandante do presídio justifica o aumento do número da guarnição pelo aumento do comércio de Ziguinchor. Os franceses que são os mestres e os principais artesãos apreciam o pretexto invocado pelo seu justo valor. O comércio está nas mãos de um comerciante francês, FRANÇOIS CHAMBAZ que está estabelecido em Ziguinchor. Tem o maior volume de negócios, 50.000 em 1874. O restante é assegurado por várias sucursais de casas comerciais de Sejo. A cera e as peles saem de Sejo e o amendoim é armazenado em Ziguinchor, onde os barcos de carga de Gorea o carregam, alegando que eles são de origem portuguesa. Para evitar, assim, o pagamento de direitos de exportação em Carabane. Ninguém se deixa enganar por esta fraude, porque todos sabem que o enclave de Ziguinchor não fornece sementes oleaginosas. O comércio com Cacheu é medíocre porque são precisas 12 horas de caminhada e atravessar uma bolanha para chegar lá. Para engordar as finanças de Ziguinchor, é imposto um mínimo de 3000 réis a todos os passageiros e barcos que viajam para Sejo.
1874/01/17
VIII-ANO DE 1874
Curiosa descrição feita pelo Padre Marcelino Marques de Barros intitulada «O Régulo Cumeré», sobre as festas de eleição dum novo régulo nos Papéis de Antim. in Novo Almanaque de lembranças luso.brasileiro, Lisboa 1881, pp. 158-159
O RÉGULO CUMERÉ - (lha de Bissau). Nn dia 17 de .Janeiro d'este anno de 1874, correo notícia n'esta villa que os Papéis d'Antim andavam lá fora festejando a eleição de um novo régulo. Não podemos resistir à curiosidade de ir ver a função. Eram já mais de quatro horas da tarde, o sol ainda afogueava as areia da rua; não obstante d'Azevedo, Daniel Barbosa, Mathias de Seabra, eu e mais amigos saímos de casa e encaminhámo-nos a uma colina próxima,·sobre a qual avistámos o cume de uma cobata e o formigar de cabeças apinhadas.
E ainda não íamos bem no alto da collina, e já certo clangor e uns eccos,  ao parecer, de ferrinhos, mimoseavam os nossos ouvidos. Minutos depois, abeirámo-nos à maltidão, que era de gente quasi nua, entre os quaes havia alguns de pannos terçados e muito armados e emplumados ao uso gentílico; raros  iam e vinham; grande número de cocares luziam sobre as cabeças pretas.
E quaes foram as primeiras perguntas que logo nos accudiram à bocca? Estas: - «Qual delles é o rei?» - «Onde estará elle?»
Era natural, pois connosco não andava Salomão nem a sua sombra, que nos illucidasse. Mas depressa um d'entre elles nos apontou para o que haviam acclamado. Começámos então a distingui-lo dos mais por trazer sobre  a cabeça uma espécie de adarga, na mão direita um irão ou amuleto vermelho, e uma tanga de pelle bem curtida com duas pontas fluctuantes à laia de caudas. Era um homem robusto e de boa figura, e dava-lbe certo ar de magestade a muita carapinha que da cabeça lhe pendia em chorões.
Já nos imaginávamos no antro de Throphoníus, quando de arremesso se ergueram para umas escaramuças  uns quarenta mancebos. Divididos, lançaram-se em combate com saltos e terçando espadas n'um rugir guerreiro. E não obstante a brincadeira, lá se viram uns sairem trilhados, outros com um olho ou alguns dentes de menos.
Quando nos lembrámos de saber as horas que eram, puchámos pelos relógios, e passeiando nossas vistas no baixo horisonte, vlmos o sol, abrazado em seu limbo, a esconder-se atraz das palmeiras!
Marcellino Marques de Barros (Bissau).
1875
Chuvas fracas e escassez de colheitas em Santiago e em Santo Antão
O padre Bartolomé de las Casas (1474-1566) foi um frade dominicano, com um controverso percurso de vida. Começou por aceitar a escravidão de índios e africanos, tornou-se depois um defensor acérrimo da liberdade dos índios mas admitindo o cativeiro dos africanos (como forma de evitar o genocídio dos indígenas americanos), e terminou condenando todas as formas de escravatura, o que levou a que fosse considerado, a partir do século XIX, um dos pioneiros do abolicionismo. É cei;to, porém, que o seu libelo contra a escravatura dos africanos n·ão teve qualquer repercussão na sua época, uma vez que a obra em que o registou, a História das Indias, proibida pela Inquisição, só veio a ser editada em 1875, três séculos após a morte do autor.
1875/04/09
Neste ano realisou Andrade Corvo o seu pensamento querido de dar finalmente um golpe mortal á escravatura. A carta de lei ·de 29 de abril desse ano determina que daí a um ano acabe a condição servil dos libertos, o decreto de 20 de Dezembro aprova o regulamento para a execução dessa lei.
1876
1876- Abolição da escravidão na Turquia.
1876/02/14
«Guilherme Quintino Lopes Macedo - tenente-coronel de artilharia, nomeado por decreto de I4 de Fevereiro de I876, tomou posse em 8 de Abril. Esteve na província apenas alguns meses.» João Barreto
1876/09/30
«Vasco Guedes de Carvalho Meneses - tenente-coronel de infantaria, provido em 30 de Setembro de I876; posse em 22 de Dezembro.» João Barreto
1876/12/28
Com a publicação ·do decreto de 28 de Dezemhro de 1876 começa prõpriamente a autonomia dos serviços judiciais da Guiné. Êste diploma promulgado em conseqüência de reclamações vindas desta província, criou a Comarca de Guiné com sede na vila de Bissau compreendendo os julgados de Bissau, Cacheu e o território de Bolama. O tribunal da Comarca, era constituído por um juiz de direito, um delegado do procurador da coroa e fazenda, dois escrivães e um oficial de diligências.
Pelo mesmo diploma, subscrito pelo minisitro Andrade Corvo, foi criada na nova comarca uma Conservatória: de Registo Predial.
Pouco tempo depois, quando se fez a separação do distrito da Guiné do Govêrno de Cabo Verde sendo fixada a capital na ilha de Bolama, houve também necessidade de transferir a sede da comarca parai esita ilha criando-se em Bissau um Julgado com um juiz ordinário e um sub-delegado do procurador da coroa.
1877
BEATRIZ GOMES PEREIRA casou com CONSTANTINO DA SILVA FERREIRA; sua filha ERNESTINA JOSEJA PEREIRAvivia em 1877-1897.
ANTÓNIO JOSÉ CABRAL VIEIRA é governador de Bissau até 1879
1877/04/17

Em 17 de Abril de 1877 foi criado o concelho de Bissau. Compunha-se este da Vila de S. José ou Praça de Bissau, do Presídio de Geba, da colónia do Rio Grande de Bolola e mais territórios dessa dependência, e da ilha de Orango.
1878
«As faltas, que se notam nas ilhas (de Cabo Verde), encomtram-se, exageradas, na Guiné; cuja vegetação, poderosa e exuberante, é uma verdadeira maravilha da natureza. Alli ha a accrescentar a tudo o mais, as dificuldades que nascem do immediato contacto de um gentio bárbaro e indómito, que raramente está em completa paz, e que muitas vezes abusa da nossa falta de força na Senegambia portugueza. Não devemos illudir-nos acerca das condições do nosso domínio na Guiné; e para isso basta ler os últimos documentos officiaes que sobre o assumpto se publicaram. Num relatório de 1878, diz o governador da província de Gabo Verde, depois de indicar os largos limites que os escriptores dão á Guiné portugueza:
«Dentro, porém, d'estes limites se acham o rio Gasamansa e rio Nunes, onde se encontram estabelecimentos francezes, e, não me pertencendo apreciar aqui a questão do direito que inegavelmente temos áquelles rios, prefiro acreditar que taes estabelecimentos serão considerados simplesmente commerciaes, mas não como base de domínio, e que do momento em que, fazendo valer os direitos que alli temos, os pretendamos occupar, garantindo a necessária segurança ao commercio alli estabelecido, nenhuma duvida importante se apresentará, e se respeitará o direito que temos de occupar o que inegavelmente nos pertence.»
Sem discutir agora a questão do nosso direito, que não deixará de ser contestado, quando algum dia quizermos estabelecer o nosso domínio effectivo, faremos só notar que, de facto, o commercio é exercido em território da Guiné portugueza ha longos annos, por uma nação estrangeira: e que a origem d'este facto, que não condemnamos, a podemos derivar de quando estava em plena prosperidade o resgate de escravos.
Já em 1594 os oortuguezes residentes na Guiné andavam associados com francezes e inglezes, sendo causa d'isto «o terem os porluguezes de cá deixado de ir áquelle resgate» como diz Alvares de Almeida. Por longo tempo acreditaram os portuguezes, que só pretos se podiam exportar da Guiné; e, em quanto nós pensávamos assim, outros tiravam d'aquelle território oiro, marfim e outras mercadorias valiosas. D. Pedro II, no intuito de acudir a este estado de decadência do commercio portuguez na Guiné, creou a Companhia de Gacheu e Cabo Verde, a que a fazenda emprestou 200:000 patacas para a exportação de escravos destinados ás colónias hespanholas. Esta ephemera creação de uma economia barbara, fundada sobre a escravatura e o monopólio, extinguiu-se em poucos annos. Hoje o que temos dil o o relatório a que acima nos referimos:
«O districto da Guiné compoe-se actualmente de tres concelhos, que tem por sede Bissau (capital do districto), Bolama e Cacheu. Dependentes d'estes concelhos temos vários presídios, em que conservamos auctoridades nossas e força militar, mais ou menos numerosa. D'estes presídios os principaes são:
«No concelho de Bissau o presidio de Geba, no extremo navegável do rio de Geba.
«No concelho de Bolama a povoação de Santa Cruz de Buba, onde por enquanto não temos força militar, por não a haver sufficiente. Tem um chefe civil, que é ordinariamente um dos negociantes alli estabelecidos.
«No concelho de Cacheu os presídios de Farim e Zeguichor, onde conservamos pequenos destacamentos. Farim é situado no extremo navegável do rio Farim, e Zeguichor no rio Casamansa.
«São estes actualmente os estabelecimentos que temos nos extremos domínios da Guiné, ou aquelles em que temos auctoridade e força, ainda que em muito pequeno numero, para occorrer a qualquer eventualidade».
Para acudir a este estado de coisas, e em consequência de um accidente desastroso, entendeu o governo da metrópole, de accordo com as indicações dos governadores de Cabo Verde, dever crear um governo independente na Guiné.
 Qual venha a ser no futuro o resultado d'esta medida, não o podemos calcular: mas está-nos parecendo que, se ella não for acompanhada de uma acção enérgica, de demonstrações claras de força e do emprego de capitaes consideráveis, virá a ter a mesma sorte que a desastrosa medida adoptada por D. Pedro no fim do século XVII.»
ESTUDOS SOBRE AS PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS POR JOÃO DE ANDRADE CORVO Volume I LISBOA POR ORDEM E NA TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS 1883, pp. 48-52
«Um simulacro de conia
A comparação com a descrição pormenorizada fornecida para 1841-1844 é rica de informações, porque se constata em 1878 que, a despeito dos numerosos tratados registados, o domínio português real essempre reduzido aos «Presidio de Zeguichor no rio Casamança; praça de Cacheu e presidio de Farim no Rio S. Domingos [rio Cacheu]; vila de Bissau; ilheu do Rei e presidio de Geba no Rio Geba, e a ilha de Bolama e meia legua de terra denominada colonia do Rio Grande [de Buba] no Rio deste nome» (176).
A isto se juntam os «simulacros de soberania» (177), exercida em comum com as autoridades africanas, a saber: Bolor (ver mais abaixo), as margens do Rio Grande de Bolama, (aliás Rio Grande de Guinala/de Bolola/ou de Buba) e a aldeia de Santa Cruz de Buba, ao fundo da ria. A 1 de Março de 1878, segundo parece, o governador-geral de Cabo Verde e o governador da Guiné vieram (178) a esta aldeia comercial, aberta por volta de 1876, para tentar pôr de pé um modus vivendi com os Futa-Fulas, representados por Agui-Bou (filho do chefe da província de Labé no Futa-Djalon, Alfa Ibrahima Sory) e por Sambei Tombom «governador» fula local. As autoridades fulas ter-se-iam reconhecido no Forria, vassalas do governador português. Mas, a realidade, é infinitamente mais complexa (179). Nesta artéria do amendoim, as feitorias pagam uma mensalidade aos chefes e uma licença ao fisco português. Em Santa Cruz de Buba, um negociante tem jurisdição sobre os litígios comerciais, mas a aldeia pertence realmente aos Fulas locais, cujo régulo recebe dos negociantes, a título de daxa (imposto ou tributo), 8 000$000 réis anuais, mais 4 000$000 réis de presentes aos grandes. Quem recusa pagar é «amarrado e açoutado, conduzido á tabanca [aldeia] para ser resgatado, isto depois de o terem reduzido á miseria saqueando-lhe a sua casa» (180).
Vêm, em seguida, os pontos abandonados: São Belchior, Xime, Fã, Corubal (não localizado) no rio Geba. Ali, não estandarte, nem autoridades portuguesas: «Os indígenas são [ali] os únicos senhore(181). Das ilhas Bijagós, e de Orango em especial, nem sequer fala, tal como de todos os terrenos comprados ou obtidos por Honório Pereira Barreto e seus sucessores.
O governador António José Cabral Vieira é, portanto, muito mais pessimista que o seu governador-geral, em Cabo Verde. Em sua opinião, as notícias alarmistas abundam: o gentio limitrofe de Ziguinchor rompeu a paz (182) com o presídio, que nem sequer tem munições para ripostar. Em Santa Cruz de Buba, a ameaça é dupla: os Fulas são considerados como inimigos, e os empregados das casas francesas estão em armas contra os Portugueses e excitam os Fulas contra eles. E para conter toda esta bela gente, duas centenas de soldados espalhados e uma antiga goleta. O governador chora a sua miséria e fornecem-lhe... instruções.
 (176) Ramos da Silva: «Subsidios para a História Militar e da ocupação da provinda da Guiné», B. S.G.L., n? 9- 10, Setembro-Outubro de 1915, p. 334.
(177) Ibidem.
(178) Esta visita só é conhecida através de Henrique Pinto Rema: História das missões católicas da Guiné. Braga, 1982, p. 271. Parece não ter dado lugar a tratado. É antes de mais palavra.
(179) Ver Joye Bowman Hawkins: «Conflict...», op. cit., pp. 107-160 para a confusão de tensões no Forria entre Fulas-Pretos, Fulas-Forros, Futa-Fulas, Biafadas, Portugueses e mesmo comerciantes franceses.
(180) Ramos da Silva: «Subsídios . .. », op. cit., p. 335.
(181) Idem, p. 334. · l'á B ·
(182) Provavelmente em 1877, uma querela com a aldeia de Mbering, aliás Brim ou Borim. Os grumetes de Ziguinchor saldam as contas sem o apoio das tropas ausentes. Negócios Externos: Documentos.... op. cit., vol., Parte, p.53.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 162-163
1878- Extinção oficial da escravatura em todos os territórios portugueses. 
1878/05/09
«António do Nascimento Pereira Sampaio - capitão de fragata, nomeado por decreto de 9 de Maio de 1878. Tomou posse em 13 de Junho e governou até 1881, tendo deixado uma obra apreciável. Por sua iniciativa foram colocados os primeiros faróis em S. Vicente e Sant'Iago.» João Barreto
1878/12/01
No início de Dezembro de 1878, o comandante do presídio de Ziguinchor, alferes ANTÓNIO JOAQUIM PEREIRA, recebe a visita do comandante do presídio de Cacheu, seu superior hierárquico. A sua vinda coincide com o despertar político português em Casamansa. Alguns dias mais tarde, Pereira, acompanhado por dois soldados, visita várias tabancas do rio entre a ponta Saint George e Sougrougrou. Entrega uma bandeira portuguesa a um mulato, MANUEL VERDA, que reside em Adiane, tabanca banhum. Seu pai, FABRICE VERDA, comprou por 900 cabaças (usadas como moeda) o território que ocupa aos chefes da terra e colocou-o sob protecção de Portugal. Pereira volta para Ziguinchor depois de deixar uma guarnição de três homens. O facto é relatado ao Governador Brière de L'Isle que informa o ministro Pothuau: «O presídio de Ziguinchor é comandado por um preto mal vestido... Ele quer colocar militares em Diao à entrada de Fogny e quer espalhar com fanfarronice esse facto desde Cacheu por toda a Casamansa».(1)
O comandante de batalhão Bollève parte no aviso "Le Castor" para «examinar seriamente  a questão no local e fazer voltar as coisas ao seu estado normal nestas regiões sobre as quais, aliás, a França tem poder de soberania para a instalação de estabelecimentos respeitáveis».(2) O Governador fundamenta os direitos da França no tratado de 18 de Março de 1865 pelo qual as tabancas banhuns a sul do rio, a leste de Ziguinchor, cederam à França o direito de soberania entre a bolanha de Bermaka perto de Diaring, a este, e a bolanha de Jinukuna, a oeste.
(1) Arquives du Sénégal, 2B 74, - Registres de situations politiques, Janvier, 1879.
(2) Arquives du Sénégal, 2B 74, - Registres de situations politiques, Janvier, 1879.
'Le Castor" parte a 30 de Janeiro para o Casamansa e ilhas Bijagós. Em Adeane, os franceses detêm um mulato português, ANTÓNIO RICARDO, vestindo um uniforme e dizendo ser médico. Questionado. disse que passeia no país por sua iniciativa, dado que tinha três dias de licença concedida pelo comandante do presídio de Ziguinchor. Mas o povo diz que ele está ali há mais de um mês e que circula na região para dar instuções em nome do comandante do presidio de Cacheu. Para saber a verdade, Boilève prende o mulato e leva-o até ao comandante do presídio de Ziguinchor, HENRIQUE JOSÉ RIBEIRO. Este vai a bado do "Castor' e pede desc!Jpas pela conduta do seu compalriota. A conversa que ele tem em crioulo com Ribeiro mos1ra que este estava efectivamente em missão na Casamansa por ordem de Cacheu. Boiliève vai para St.Louis em 14 de Fevereiro. Brière de l'lsle considera que a presença do "Castor" na confluência do Soungrougrou teve como resultado prevenir os indígenas ligados por tratados à França contra as manobras portuguesas. e que a atitude do comandante de batalhão pôde fazer com que os portugueses se tornassem mais cautelosos. Todavia. em Noverroro de 1880, a guarnição de Ziguinchor, que incluía um cabo e dois soldados inválidos com dois mosquetes, é substitulda por um sargento-mar, dezoito soldados válidos bem armados e duas peças de artilharia. Brière de L'lsle informa o Ministério, em 10 de Dezembro que vai enviar, com objectivo de inspeccionar,Jacquemart comandante do distrito de Gorea. O ministro, Vice-Aimirante Cloué. responde-lhe que não vê nenhum inconveniente nesta missão, mas recomenda cautela. Primeiro as apreensões do governador são exageradas, depois é melhor que Portugal não se melindre, dado que «é gande apoio da França para evitar a expansão dos negócios britânicos nestas paraqens».(1).
Fim da escravatura em Cabo Verde
VASCO GUEDES DE CARVALHO MENESES  Fue nombrado Gobernador-General de Mozambique en 1853, asumiendo el cargo que ejerció de 1854 hasta 1857. Durante su gobierno en aquella colonia, supuestamente hizo gran fortuna con el tráfico negreiro, siendo por eso destituido por el rey Don Pedro V. Pacificou la región de Quelimane, sin embargo, durante su gobierno, cerca de seis mil personas murieron de hambre por cuenta de la escasezde las cosechas. Después de relativo ostracismo, es nombrado Gobernador de Cabo Verde en 1878, siendo aún el mismo año nombrado Gobernador General de Angola. Ejerció el gobierno de Angola hasta 1880.

ANTÓNIO DO NASCIMENTO PEREIRA DE SAMPAIO governador de Cabo Verde
Nos primeiros oitenta anos no Séc. XIX, 2.570 degredados europeus desembarcaram nas Ilhas. Neles se incluíam condenados por assassínios, assaltos a igrejas, roubos e falsificações, bem como alcoólicos, desertores, vagabundos, prostitutas e ofensores religiosos e políticos. António Carreira conta que 2.487 homens e 83 mulheres chegaram a Cabo Verde como degredados, neste período. Note-se o número insignificante de mulheres. Estas pessoas eram sentenciadas à deportação para Cabo Verde e eram distribuídas por todo o arquipélago para evitar o desenvolvimento de qualquer concentração em Santiago. No entanto, os brancos iriam ajudar estes degredados de Portugal por razões de "esprit de couleur". Muitos acabariam por se reabilitar e tornaram-se membros úteis da sociedade caboverdiana. Muitos nunca regressaram a Portugal.

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