sexta-feira, 15 de julho de 2016

GUERRAS 1878/12/30-1884


1878/12/30
Na margem direita do rio Bolor deu-se o massa­cre da força militar que para ali se deslocara com o fim de castigar os Felupes do Jufunco. Das 55 praças de  que ela se compunha apenas escapa­ram 4, tendo morrido 2 oficiais: tenente CALISTO DOS SANTOS e alferes SOUSA.
Foi este ano assinalado por um grave desastre na Guiné. As nossas tropas que ocupavam o posto de Bolor foram derrotadas com bastantes perdas pelos pretos . A noticia chegada rapidamente a Lisboa produziu grave impressão, e fez com que o governo pensasse em prevenir, de futuro, desastres semelhantes. Por isso se promulgou a carta de lei de 18 de marco de 1879 que transformou o distrito da Guiné numa provÍncia inependente com a capital em Bolama, que transferiu para ali o batalhão de caçadores que tinha o seu quartel em Cabo Verde, que organizou uma bateria de artilharia na província e que abriu um credito de 200 contos de réis para todas as despesas necessárias. O crédito foi, nem podia deixar de ser, muito excedido, e a criação da província independente não deu o resultado que se esperava. Comtudo serviu esse dinheiro para se construirem em Bolama um excelente quartel e um excelente hospital, e para se estabelecerem comunicações regulares por barcos a vapor entre a Guiné e Cabo-Verde; mas sobretudo a medida salvadora para a tranquillidade da província foi a que se tornou em 1885, estabelecendo o serviço telegrafico, que torna possível enviarem-se-lhe prontos socorros.
«Em 30 de dezembro de 1878 foi massacrada na margem direita do rio de Bolor uma força militar, que para ali fora com o governador do districto Antonio José Cabral Vieira para chamar á obediencia as tribus de Jefunco, Oçor e Egine que tinham estado em guerra contra a tribu de Bolor e arrasado a povoação, onde tínhamos um posto militar com 3 soldados e 1 cabo.
Eram antigas as desavenças enlre aquellas tribus, por causa dos bolorenses não consentirem que os gentios das tres tribus colligadas fizessem passagem pelo seu territorio quando iam a Cacheu commerciar; sem esta passagem era-lhes vedado esse commercio e assim este era um exclusivo dos bolorenses, que, para o manter, contavam com o auxilio da Praça de Cacheu em vista de um tratado feiio em 1856, pelo qual Portugal se obrigava a fornecer-lhe material de guerra, para se defenderem dos povos gentílicos, sendo o territorio de Bolor português.
Effectivamente ainda em 1867 se lavrou um auto d'essa cessão e por decreto de 2 de março de 1868 se criou ali uma freguesia, mas nunca teve egreja e apenas se arvorava a bandeira que era mantida por um destacamento de 3 soldados e 1 cabo.
Tambem os de Jefunco tínhamos um tratado de cessão do território feito em 13 de agosto de 1869, concedendo-lhe Portugal caminho, ou passagens, para commerciarem em Cacheu.
Por mais instancias que a tribu de Jefunco fizesse, para os bolorenses lhes dar caminho, tudo foi infrutífero: exasperaram-se os animos das três tribus e em occasião que julgaram azada prepararam-se para atacar Bolor. Os bolorenses egualmente se prepararam para receber o inimigo, mandando o régulo uma embaixada, em 17 de agosto de 1878, á Praça, participando que se achava ameaçada a povoação e que precisava d'alguma polvora e bala, invocando o antigo tratado.
A autoridade administrativa apenas abonou 12 arrateis de polvora ; ao cabo de tres dia s, sabendo que a guerra tinha começaclo, mandou ao régulo mais 80 arrateis de polvora e 200 balas, por isso que o territorio estava occupado militarmente e era preciso não que a posse fosse mantida mas que a bandeira nacional fosse respeitada.
O procedimento das tribus colligadas, embora lhes assistisse razão de não serem estorvadas de fazer commercio com a Praça, não foi regular; podiam ter conseguido o caminho, sem provocar a guerra, implorando-o à autoridade de Cacheu que obrigaria os bolorenses a cedê-lo.
Repentinamente cahiu o inimigo sobre a povoação de Bolor, destruindo as habitações, matando muita gente e gado, sem que os bolorenses se podessem defender, porque, tendo sido apanhados de surpreza, não poderam lançar mão das armas que possuíam, por estarem em chamas as habitações.
Em 21 de setembro chegou a noticia d'este facto a Cacheu e no dia seguinte para se dirigiu o administrador do concelho, acompanhado do medico e do juiz ordinario: encontrou a povoação abandonada e ainda em chamas.
O iuimigo, senhor do campo, ali se conservava na pilhagem: quebrou pau da bandeira, sendo esta guardada por um soldado, não tendo sido nenhuns maltratados.
O administrador do concelho assim que ali chegou mandou chamar á sua presença o regulo de Jefunco; não só se recusou como lhe mandou dizer que elle era rei de Bolor e que tinha conquistado esse território pelas armas.
Retirou-se o administrador, limitando-se a comunicar o facto para Bissau ao Governador por o ter força militar para sacudir o inimigo.
Duas pequenas pas de artilharia que lá estavam foram roubadas.
O Governador Vieira, sem força militar, por sua vez, communicou o succedido ao Governador Geral, depois de ouvir a Junta Consultiva da Praça ; esta concordou que havia o impretcrivel dever de auxiliar e proteger os bolorenses, como amigos e alliados que eram, ou como subditos portugueses e deram um voto de confiança ao Governador para proceder como entendesse, não poupando meio algum uma vez que a dignidade nacional comprometida fosse sustentada.
Enviou o Governador para Cacheu 10 soldados,· unicos de que podia dispor e auctorisou o administrador do concelho de Cacheu a gastar até réis 300&000, com os vencedores de Bolor, em presentes, no caso que estes se suj eitassem á paz, e deu ao mesmo instrucções para organisar uma força de 30 soldados e occupar Bolor, reunindo ali os vencidos refugiados para reconstruirem a povoação; recommendou-lhe que não hostilisasse os vencedores e que tomasse a offensiva se estes atacassem.
Reuniu o administrador a Commissão Consultiva ·que foi ouvido sobre as instruoes recebidas e esta reconhecendo a falta de soldados, de polvora e armas, sendo necessario tomar a offensiva, concordou que eram inexequíveis taes instrucções, mesmo porque, havendo duas tribos visinhas da Praça inimigas, não convinha desguarnecer Cacheu com os poucos soldados que havia ali, e d'esta resolução se deu conhecimento ao Governador Vieira .
Na Praça de Cacheu havia um grande numero de felupes. refugiados de tribus de Bolor ; estes e grumetes impetraram do administrador a prio de um mouro, que se apresentou na Praça, por ser traidor aos bolorenses ; esle mouro, antes de começar a guerra, apparecia, frequentes ·vezes em Bolor, mostrando-se adversario das tres tribus colligadas; informava a estas da aititude d’aquella e até dos soccorros, de polvora e balla , que a Praça forneceu a Bolor.
Foi internado no calabouço até que chegou a Cacheu ·o Governador, que a·elle se utilisou como medianeiro com o regulo de Jefunco para se realizar a paz e foi este procedimento, mal pensado, que occasionou o desastre de Bolor no dia 30 de dezembro de 1878.
O Governador Geral havia mandado de Cabo Verde um reforço, para a Guiné, de 52 soldados e 1 official; d'isto deu conta ao Ministro e mais ainda de que o Governador Vieira ia seguir para Cacheu no palhabote Bissau, que armava um rodi io, a fim de se informar, pessoalmente, dos acontecimentos.
Organisou em Bissau a expeuição e seguiu para Cacheu em fins de dezembro; eram pacificar as suas intenções com o inimigo, desejando reconcilia-lo com os bolorenses; mas, chegando a Cacheu, viu que a attitude dos moradores d'esta Praça, sobretudo grumetes, das tribus visinhas amigas e dos refugiados, era hostil a .Jefunco e sollicitaram-lhe que fosse batê-lo.
Os bolorenses protestaram, que sendo portugueses, que tinham direito a protecção, o porque a não encontrassem em outra parte, mas porque vassallos fieis, sempre tinham recusado offerecimentos que, por outros que protegiam os seus inimigos, lhe tinham sido feitos, por muitas vezes, antes da guerra.
Os grumetes protestando pela honra portuguesa, que disiam empenhada como portugueses, só pediam polvora e bala para irem resgatar ou morrer com os seus irmãos de Bolor, que espoliados dos seus haveres, familia e patria, havia tres meses, se sentiam cançados de os sustentar na Praça.
Os princípaes de Cacheu, apoiando os refugiados de Bôlor e os grumetes, insistiram para que estes fossem attendidos, visto que o contrario seria denunciar tal ordem de fraqueza, que os resultados seriam gravíssimos, não para a segurança de Cacheu, cujos inimigos, de Cacanda e do Chuôro, estavam alerta, como para a segurança, se não geral, pelo menos d"aquella parte do districto, que inimigos , de maior importancia do que gentios, há muito apeteciam e que ultimamente não se poupavam a chicanas e intrigas para nos expoliarem territorios.
Finalmente, todos, lhe chamaram o Messias redemptor para os proteger e auxiliar a fim de se desaggravarem e não para ir passar o tempo a propor conferencias ao inimigo, que só queria guerra, e que só assoberbado pela gloria, só pela guerra cederia; nestas condições concordou em se fazer a guerra, sendo combatentes os grumetes, bolorenses e auxiliares, ficando a força militar e o palhabote Bissau, em posição. para lhes proteger a retirada em caso de necessidade.
Que partíra para Bolor sempre convencido da ne cessidade da guerra, tanto mais que os gentios de Jefunco e seus alliados, tinbam cortado o pau da bandeira, querendo rasgar esta e matar 4 soldados que a guardavam, e que tendo chegado a Cacheu e mandado convidá-los a uma conferencia, não só se recusaram, como mandaram respostas insultuosas, entre as quaes, que só conferenciariam com polvora e bala.
Partiu, pois, para Bolor no palhabote Bissau no dia 29 de dezembro de 1878, com 55 soldados, um corneteiro e os officiaes tenente Calixto dos Santos e alferes Sousa, 50 grumetes, expatriados de Bolor e· grande numero de Papeis das tribus da Matta e de Bianga, como auxiliares.
Chegou ao rio de Bolor na noite d'esse dia: desembarcaram os combatentes e, de manhã, a força militar que ficou postada, num ponto escolhido, para defender a retirada.
Recommendou ao tenente Calixto, commandante da força, que devia , depois das armas carregadas, destacar guardas avançadas para estar prevenido de qualquer desastre e ordenou-lhe que lhe d'esse conhecimento para bordo, onde ficou, de qualquer facto que o obrigasse a ir-se collocar ao lado da força.
Eram 7 horas da manhã quando um cabo, o cabo José, ordenança, se approximou da praia dizendo lhe que se sentiam tiros ; êntão mandou dizer ao tenente Calixto que se preparasse para resistir; decorridos alguns momentos soube pelo cabo que se via muita gente correndo e alguma sem armas e que o tenente mandava dizer que considerava impossível a resistência e por isso dera ordem de retirada.
Viu. entã o tenente e o alferes Sousa, fugiram na frente dos soldados e todos a urna, sem darem um tiro, aggiomeraram-se â bordo da lancha Diligencia, fazendo-a encalhar ; os nossos combatentes, acossados, dirigiram-se em correrias para a praia; nesta occasião apontou o rodisio do palhabote para o inimigo e fez fogo; recuou o inimigo, dando tempo a que os vencidos mais se approxirnassem da praia, onde esperavam encontrar o apoio da força militar; esta tinha fugido e o rodisio, com o recuo, bateu na amurada oposta do navio e, arrombando-a, precipitou-se no mar.
Os vencidos, perdendo a ultima esperança, lançaram-se ao mar, encontrando ali muitos a morte, e os inimigos cobrando animo se lançaram sobre os outros, e até dentro da lancha, matando-os a ferro frio.
Morreram os dois oficiaes tenente Calixto e alferes Sousa defendendo-se com muita coragem o tenente Calixto e o corneteiro.
Da força militar, que enchia a lancha encalhada com o peso, só escaparam tres soldados e cabo José.
Das principaes familias de Cacheu, morreram no combate. quatro auxiliares. No dia 1 de janeiro de 1879 relatou ao Governador Geral e solicitou um conselho de guerra para justiticar o seu procedimento; appelou, para o mesmo, a sua protecção aos bolorenses qne precisavam do apoio do governo e para isso requisitou 500 soldados, um navio de guerra a vapor para castigar as tribus colligadas.
O Governador Geral fez ver ao ministro que não tinha força disponível para mandar á Guiné e que resolveu nomear Governador d'este districto o major, commandante do batalhão de caçadores n.º 1, Joaqnim JoLobato de Faria e como sindicante o secretario gera do governo Antonio Castilho. e, peran.do, comtudo, mandar para a Guiné 50 praças.
Em 14 artigos constam as ínstrucções dadas ao syndicante em 20 de janeiro de 1879; este entregou o relatorio da syndicancia que é datado de 28 de fevereiro seguinte.
No dia 20 de janeiro tinham seguido para a Guiné o novo Governador interino Lobato de Faria, um secretario do governo, o syndicante, cinco officiaes e cincoenta praças, com pessimos armamentos, um conductor de obras publicas, e alguns operarios, bem como um diminuto e mau material de guerra de que se poude dispor.
O massacre que fica relatado deveu-se a imprudencia do Governador Vieira que confiou ao mouro, -que estava preso por traidor, a missão de se dirigir a Jefunco para dizer ao régulo que elle estava ali no rio para fazer a paz.
O mouro, apontado pelos bolerenses como o causador da guerra e que denunciou ao inimigo o fornecimento de polvora e bala, que a Praça havia mandado para Bolor, onde tremulava a bandeira nacional e que era forçoso conservala, foi preso pelo administrador do concelho, alferes Candido Augusto do Nascimento ; este acto, de boa politica, para se conseguir a paz, sendo anulado e o mouro, livre em Jefunco, disse ao regulo que a força portuguesa ali fôra para o bater. Os gentios colligados, prepararam-se para o ataque, retirando-se as mulheres e creanças para pontos distantes e, occupando posições no matto, aguardaram a passagem dos combatentes com um nutrido fogo, que os poz em debandada.
A força militar, que estava destroçada e com as arrnas ensarilhaclas acometida de subito, não se reuniu e fugindo tudo para a lancha ali foi · victima.
O capitão do palhabote Bissau, sem meios de defesa e correndo risco de ser abordado pelo inimigo, picou a amarra e impellido pela corrente fezse ao largo.
Procurou-se attenuar a responsabilidade do Governador atlribuindo-a ao administrador do concelho por ter fornecido polvora e bala, mandando-o responder a um conselho de guerra , o que não se realizou por se oppor a isso o, então, Governador Agostinho Coelho, que reconheceu a innocencia d'este e a culpabilidade d'aquelle.
O Governo decretou em 18 de março de 1879 a desannexação do districto da Guiné da província de Cabo Verde, formando o territorio d'aquella possessão uma província independente, transferindo para ali o batalhão de Caçadores n.º 1 cuja sede era em Cabo Verde, e ordenou-se ao Governador Agostinho Coelho para castigar o gentio de Jefunco, o que nunca tentou
Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte VI, pgs. 295-300, Lisboa, Imprensa Nacional, 1912
«Em 30 de Dezembro de 1878, foi massacrada, na margem direita do rio Bolôr, uma fôrça militar, que para ali tinha ido com o fim de castigar os felupes de Jufunco. Deram origem a esse desastre as rivalidades. existentes entre os indígenas de Bolôr e os de Jufunco, Egine e outras povoações próximas que pretendiam facilidades de comucicações com Cacheu através do território de Bolôr.
Como êstes indígenas procurassem criar embaraços, os felupes de Jufunco atacaram de surpresa Bolôr, onde se encontrava um destacamento de três praças e um cabo. A praça de Cacheu forneceu munições. aos moradores de Bolôr, mas isto não evitou que eles fôssem derrotados pelos seus adversários.
No entanto o destacamento dos isoldados não foi incomodado e, embora se tivesse partido o pau da bandeira, esta foi conservada com devido respeito.
Tendo chegado a notícia a Cacheu em 21 de Setembro, o administrador do concelho, acompanhado do médico e do juiz ordinário, dirigiu-se a Bolôr e dali mandou chamar à sua presença o régulo de Jufunco, que se recusou a obedecer, declarando ser êle o senhor da região.
Era governador do distrito o capitão António José Cabral Vieira, que enviou de Bissau a Cacheu 10 soldados, os únicos que podia dispensar, e autorizou o administrador de Cacheu a gastar até à quantia de 300$000 com presentes aos felupes de Jufunco, caso eles estivessem dispostos a entrar em acôrdo.
Recomendava mais que seguisse para Bolôr com fôrças organizadas em Cacheu afim de reconstruir a povoação incendiada, evitando todavia de atacar o gentio. Os moradores de Cacheu não concordaram em executar essas instruções, porque se sentiam também ameaçados pelos indígenas dos arredores e receavam que a praça, desguarneci-da da sua fôrça militar, fôsse càír nas mãos dos seus inimigos.
Entretanto o governador geral de Cabo Verde havia enviado para Bissau um refôrço de 50 homens e um oficial. Com estes novos elementos, o capitão Cabral Vieira seguiu para Cacheu no palhabote Bissau.
Dali pretendeu resolver o conflito amigàvelmente, mas os chefes felupes, convidados a uma conferência, enviaram respostas insolentes, pelo que resolveu castigá-los. Com êste propósito seguiu para Bolôr, no mesmo navio Bissau, com o tenente Calisto dos Santos, alferes Sousa, 55 praças, 50 grumetes e diversos auxiliares de Mata e Bianga.
A fôrça chegou a Bolôr em 29 de Dezembro. Uma parte dos homens desembarcou e entreteve-se descuidadamente na preparação do rancho. Atacados de surpresa pelos felupes, não puderam defender-se e fugiratrn para o rio, caindo sôbre a lancha que deveria transpoirtá-los para o navio. Como era de recear, a lancha encalhou e os nossos homens, metidos entre o rio e o inimigo, foram chacinados, ·escapando apenas quatro praças.
Morreram os oficiais Calisto e Sousa.
O governador Cabral Vieira, que se encontrava a bordo do palhabote ·com o resto dos soldados, não se sentindo com forças suficientes para a luta, picou as amarras e fez-se ao largo. O desastre ficou impune, porque, embora se recomendasse o castigo dos revoltosos, não chegaram a juntar-se na Guiné tropas bastantes para levar a efeito êste desfôrço.
A dolorosa impressão causada na opinião pública metropolitana por esta derrota obrigou o Govêrno a prestar mais atenção aos negócios da Guiné. Pensou-se desde logo em dar autonomia administrativa e· dotá-la com meios suficientes para completar a ocupação militar.
Dali sram o decreto de 18 de Março de 1879 e a nomeação do coronel Agostinho Coelho para governador da nova província, atendendo às qualidades de militar enérgico e disciplinador, de que já dera provas.
Começa a ssim a história moderna da colónia de Guiné
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 247-248
«O «DESASTRE» DE BOLOR
O que é conhecido na literatura colonial portuguesa com o nome de «desastre de Bolor» (30 de Dezembro de 1878) é, efectivamente, a segunda, em importância, das derrotas do exército na Guiné, e se isto não é ainda o equivalente oeste-africano do Vau de Pembe angolano (25 de Setembro de 1904) (192), dele se aproxima perigosamente. Descortiçado, o caso demonstra os riscos inerentes à «política das pequenas bandeiras em país selvagem», se esta não for apoiada por uma força militar suficientemente numerosa e sólida.
A - AS ORIGENS DO DRAMA
Uma querela de interesses entre Felupes
Sabe-se que Bolor é uma simples posição geográfica destinada a impedir a instalação dos estrangeiros na foz do rio Cacheu (193). Em 1878, continua a não haver fortaleza mas, simplesmente, quatro soldados encarregados unicamente de hastear a bandeira, quando passa um navio. Como o escreverá, depois da derrota, o governador-geral de Cabo Verde, António do Nascimento Pereira [de] Sampaio, reproduzindo quase textualmente o relatório do governador Cabral Vieira: «Bolor tem o seu rei [sic], as suas autoridades e os seus soldados. somos convidados, tratados como bons amigos, mas nada mais». Com inteiro direito, fala, ele também, de «simulacro de soberania» (194). Nos termos de diferentes tratados, anteriormente citados, os Portugueses comprometeram-se a proteger os Felupes de Bolor contra os seus inimigos. Ora, precisamente, é uma «questão gentílica» que está na origem do caso, um diferendo entre Felupes que vai ter mau fim. Bolor desempenha um papel de guarda-fogo entre a praça de Cacheu e quatro outras aldeias felupes (Jufunco, Ossor, Igim, Lala), que têm de passar sobre o seu solo para escoar os seus produtos. Como bons monopolistas, os corretores de Bolor recusam o acesso. No entanto, Jufunco, também, cedeu o seu território aos Portugueses (3 de Agosto de 1869) (195) e quer a passagem para a Ponte de Bolor, onde acostam as chalupas das goletas. Perante esta questão de «campanário» (se assim se pode dizer!), sentindo-se Bolor ameaçado, envia uma delegação a Cacheu para pedir (17 de Agosto de 1878) pólvora e balas, de acordo com os tratados concluídos. Cacheu é mesquinho nas suas ofertas. Avalia-se então em oitocentos homens os guerreiros de Bolor, reunindo Jufunco e os seus aliados (Ossor, Igim) os três, 460 homens. São, portanto, unidades políticas muito pequenas. Atacado de surpresa pelos Felupes do norte, que passaram a ser seus inimigos, Bolor é arrazado, a 21-22 de Setembro de 1878, perde o seu gado e tem uma trintena de mortos (196). A 22 de Setembro, o administrador do concelho de Cacheu vai à praça para constatar os prejuízos causados aos interesses portugueses. São mínimos: o mastro da bandeira foi quebrado e os dois pequenos canhões foram tomados,
porém os soldados não foram molestados. O régulo de Jufunco, do qual não conhecemos o nome, recusa, no entanto, apresentar-se perante ele, e intitula-se, dali em diante, rei de Bolor, que acaba de conquistar. Tudo isto aparece na ordem das coisas, é porém um caso
de uma insignificância total.
As palinódias portuguesas
Cacheu diz não ter soldados, e o administrador contenta-se em avisar o governador da Guiné, António José Cabral Vieira, que transmite à Praia, envia dez soldados a Cacheu e autoriza o referido administrador a oferecer, segundo o antigo costume, 300$000 aos vencedores, se eles aceitarem a paz. Dá-lhes também ordem para reocupar Bolor e reconstruir a aldeia com os seus habitantes refugiados em Cacheu. Os moradores de Cacheu começam por confirmar que não têm meios para se baterem e que seria imprudente desguarnecer a praça com duas tribus inimigas às portas (197).
Pelo que parece, nesta época, a segurança é precária na Guiné. A região de Geba é ameaçada por uma guerra gentílica e o régulo de Orango retém os náufragos de um brigue austro-húngaro (198). O governador-geral de Cabo Verde, António do Nascimento Pereira [de] Sampaio envia, pois, 52 soldados e um oficial, o que soma 234 soldados em toda a Guiné. Este governador-geral espera, no entanto, poder contar com uma força de 20-25 000 Futa-Fulas (199). No final de Dezembro de 1878, o governador Vieira, acompanhado por tropas, vem a Cacheu informar-se, bem tardiamente, da situação. Os Felupes de Bolor (os Bolorenses), os moradores e os grumetes de Cacheu são agora hostis às intenções pacíficas do governador, que quer reconciliar Jufunco e Bolor. Os Bolorenses têm um argumento irrefutável: vassalos portugueses, eles têm direito à protecção da Coroa, tanto
mais que recusaram, muitas vezes, as ofertas do estrangeiro (subentendendo-se os Franceses). Os grumetes, esses, invocam a honra portuguesa para ir combater em Bolor com os seus irmãos (?) (200)...tanto mais que estão cansados de os alimentar e de os abrigar há três meses. Esquecendo inúmeros precedentes com os Papéis do norte, os notáveis de Cacheu, esses, fazem valer que se se negociar com os Felupes em dissidência, é a porta aberta para a espoliação.
Mau grado seu, o governador Vieira decide-se, portanto, pela reconquista de Bolor, mas com a condição de que sejam os 50 grumetes voluntários, os Bolorenses e os auxiliares papéis das regiões seguras (Matta de Cacheu e Bianga), ao todo, talvez, trezentos homens, a combater. 55 soldados de Cabo Verde, o corneteiro e os dois oficiais
goeses que estão com ele, têm de ficar de reserva perto do rio.
B - A VITÓRIA DOS FELUPES DE JUFUNCO (30 de Dezembro de 1878)
Um massacre numa praia
Toda esta gente desembarca, a 29-30 de Dezembro, na Ponta de Bolor. Comanda o tenente Calixto dos Santos e um alferes de nome Sousa, ficando o governador Vieira a bordo do palhabote Guiné. Não se sabe claramente o que se passou, a 30 de Dezembro, no interior das terras, mas parece que o régulo de Jufunco, prevenido por um comerciante muçulmano (mouro), esperava os assaltantes irregulares a pé firme, tendo ficado os soldados perto do rio, a preparar a comida. Soou uma fuzilaria, depois uma debandada enlouquecida refluiu para os piquetes de soldados na margem. Tudo nos leva a crer que a maior fraqueza dos soldados portugueses e lusitanizados em Africa, também aqui, se repete. Heróicos nos cercos, por vezes brilhantes nos assaltos, são execráveis nas retiradas que, muitas vezes, se transformam em catastróficos salve-se-quem-puder. É o que acontece, a 30 de Dezembro de 1878, na Ponta de Bolor.
Vendo correr para ele os fugitivos, o tenente Calixto dos Santos, sem mesmo tentar salvar a situação, ordena o recuo dos soldados, quer dizer, desencadeia o pânico e põe-se a correr, mais depressa que os seus homens, para a praia de embarque. Toda esta tropa desmoralizada, que não disparou um único cartucho, salta para uma lancha que, com o peso, se afunda, enquanto os irregulares se aproximam, por sua vez, da praia. A bordo do palhabote, o governador Vieira manda disparar o único rodísio (canhão de caça disparando no eixo do navio no sentido da proa) contra os guerreiros de Jufunco, que perseguem os seus inimigos. Mas, mal arrimada, a peça dá tal recuo que arromba a amurada e cai ao mar. Grumetes, Bolorenses e aliados, vendo que os soldados cabo-verdianos, encarregados de os cobrir, se debatem na lancha ou aos lados, atiram-se ao mar para se salvarem. Muitos ali perecerão. O que não compreendemos bem é por que razão os soldados na lancha não disparam sobre os seus perseguidores. Por que razão, a bordo do palhabote, muito mais ao largo (o terrível vaso guineense), ninguém intervém para tentar deter a corrida para a praia dos Felupes revoltados? A nossa explicação, talvez um pouco conjectura! (201), é que o pânico paralizou tanto os homens como o comando. Os guerreiros de Jufunco e seus aliados procedem, pois, a uma autêntica chacina, que lembra irresistivelmente a vitória de Bonga em Massangano, a 25 de Novembro de 1869 (202), com a diferença de que, aqui, a derrota se desenrola em pleno dia, diante dos olhos do governador da Guiné, que se afasta. Com arma branca, os vencedores «ajustam contas» com os soldados de Cabo Verde, tanto na água como na lancha.
Apenas três soldados e um cabo escaparão. Os outros, ou seja, cinquenta e um homens e os dois oficiais goeses, tombarão para sempre (203). É, grosso modo, um quarto dos efectivos reforçados da Guiné. O que os textos contemporâneos não contabilizam, infelizmente - com excepçao de quatro moradores de Cacheu -, são as baixas dos auxiliares. Que aconteceu aos cinquenta grumetes, aos Bolorenses, aos Papéis do norte? Nada sabemos, mas tudo nos leva a pensar que o «desastre» não se limita às tropas, e que mais de uma centena de auxiliares, mesmo um mínimo de 150 (204), igualmente tombaram em Bolor. É, evidentemente, um quadro de perdas ligeiro à escala oeste  africana, mas dramático para as feitorias e Cabo Verde. O capitão do navio parece não ter acolhido mais que alguns raros fugitivos e, ameaçado de ser atacado· por sua vez, levantou âncora com o governador.
Uma afronta não vingada
Jornada dura para os Portugueses e os Cabo-verdianos esta de 30 de Dezembro de 1878! Tão dura que o governador Vieira pede para ir a Conselho de guerra, para se justificar. Reclama, igualmente, 500 soldados e um vapor, para vingar a honra e retomar Bolor. Cansado o governador-geral Pereira [de] Sampaio diz não ter soldados dispoveis.
Contentar-se-á em nomear, a 19 de Janeiro de 1879, um novo governador interino e enviar cinco oficiais, cinquenta soldados e alguns materiais de guerra em mau estado. Estamos longe da grande expedição de Cacheu, em 1871. A sindicância (inquérito sobre as actividades em serviço de um funcionário) respeitante ao governador Vieira não parece ter sido um modelo de imparcialidade, pois que o secretário-geral de Cabo Verde, que dela é encarregado, atenuará as responsabilidades do governador e, pelo contrário, sobrecarregará as do administrador de Cacheu. De facto, parece que diferentes autoridades conseguiram impedir todo o aprofundamento que poderia salpicar este ou aquele protegido de um ou de outro, e não haverá Conselho de guerra. E, ao fim e ao cabo, os soldados mortos não eram mais que cabo-verdianos ou seja «consumíveis» (205). Quanto aos «civis»...
Gostaríamos de poder medir a repercussão do «desastre de Bolor na opinião metropolitana. Deve ter sido notável pois que as autoridades se decidem, enfim, a conceder a esta «colónia de uma colónia» (206) uma atenção um pouco mais intensa. E isto da maneira mais administrativamente lógica que pode haver, outorgando-lhe, finalmente, o que espíritos sensatos reclamavam havia decénios, ou seja, sua autonomia em relação a Cabo Verde. Portanto, de momento, não se trata de encarar a cessão ou a troca da Guiné, em benefício de uma concentração em Angola (207)
(192) Ver René Pélissier: Les guerres... op. cit., pp. 449-454.
(193) Em 1867-1869, dera-se ali uma tentativa de evangelização. Henrique Pinto Rema: História..., op. cit., pp. 273-274.
(194) A.H.U. Documentos importantes 436. Original em Português, traduzido em Francês e de novo traduzido em Português.
(195) Negocios Externos: Documentos... op. cít., 2º vol., lª Parte. p. 36. Barcellos: op. cít., Parte VI, p. 296 dâ a data de 13 de Agosto.
(196) Carta do governador-geral de 11 de Novembro de 1878. A.H.U. Documentos importantes nº 436.
(197) Os Papéis de Cacanda e do Churo. Rarcellos: Op. cít .. Parte VI. pp. 297-298.
(198) Carta do governador-geral de Cabo Verde de 19 de Outubro de 1878. A.H.U. Documentos importantes nº 436.
(199) O que mostra, talvez, que o caso de Geba, a 1 de Novembro de 1865, foi habilmente explorado desde então para se conciliar as boas graças do poder muçulmano. Ou é uma simples impressão que é preferível não pôr à prova, se a julgamos pela situação em Huba? De facto, não conhecemos nenhuma tentativa de Bissau tendente a procurar regular militarmente o insignificante problema de Bolor pelos novos senhores do Gabu.
(200) Devem referir-se aos felupes lusitanizados e aos grumetes de Cacheu vivendo em Bolor.
(201) P or falta de fontes, além das três linhas de 13arcellos: op. cit., Parte VI, p. 299.
(202) Cf. René Pélissier: Naissance... op. cit., Vol. 1, pp. 341 -342.
(203) Não tendo encontrado qualquer relatório sobre este desastre, nem o relatório de lnquérito o - se bem que dele se conheça a existência - não garantimos a exactidão dos números, até à unidade. Podemos, no entanto, contar com a cinquentena de militares mortos. Se devemos legitimamente interrogarmo-nos aqui sobre as aptidões do comando e dos soldados, seria um erro acreditar que as derrotas são especialidades unicamente portuguesas na Africa ocidental. Sem ir ma is longe que o Senegal, indicamos àqueles que o ignorariam que, sob o grande Faidhcrbe, o desastre de Ngolgol (29 de Dezembro de 1863), quando ela conquista do Kayor, fez com que a guarnição deixada no local perdesse 131 soldados (entre os quais dois capitães) e um obus. Pensamos que se trata de tropas com dominante europeia. É verdade que nos encontramos na presença de um mestre da guerrilha, Lat Oyor (Yves-Jean Saint-Martin: «La formation...», op. cit., pp. 897-898) e que esta esmagadora derrola foi cruelmente vingada menos de quinze dias depois (12 de Janeiro de 1864, em Loro), sendo o Kayor reordenado. Mas quatro anos mais tarde no Sine-Saloum, no tempo de Pinet-Laprade, a coluna (160 soldados) do capitão Le Creurer, a 2 guas de Kaolack, perto da aldeia de N'djoffat (ou Tioffat), tem, a 20 de Abril de 1867, 60 mortos (enlre os quais três oficiais e o seu capitão), 20 desaparecidos e 30 feridos (Idem, p. 931) em luta com Maba, pregador muçulmano. E que dizer do ano de 1869, desastroso para os Franceses que: a) em Mekkhe (8 de Julho de 1869) vêem um esquadrão de spahis, dizimado por Lat Dyor (Idem, p. 995), fugir vergonhosamente: b) perlo de Louga, igualmente no Kayor, perdem, a 15 de Setembro de 1869, dois terços de uma companhia de reconhecimento ainda contra Lat Dyor (idem, p. 998); e) em Pétogne (29 de Setembro de 1869), registam a morte de uns sessenta voluntários saint-louisenses, no Futa-Toro ao lado de um prolegidq dos Franceses, combatido pelo marabu Ahmadu Shayku (lde;n, p. 101 2)?
(204) A medida que nos afastamos de 1878, o número das baixas aumenta. A 9 de fevereiro de 1879, o comandante francês do Castor, fazendo escala por Bolor, assinala que os habitantes de Jufunco pedem o pavilhão francês unicamente porque têm medo das represálias e indica que 150 voluntários foram mortos (A.N. 200 MI 578). No começo dos anos 80, estamos com 200 auxiliares mortos, mas em 1888 é já «mais de dois cento(E.J. da Costa Oliveira: «Guiné porlugueza. Esboço cartografico», B.S.G.L., Vol. VIl, nº 6 , 1888- 1889, p. 300). Ler-se-á também uma narrativa do «desastre» dez anos mais tarde, que afirma que os soldados tinham vindo «em missão de paz, o que
explicava que se tivessem deixado surpreender. Esta versão insinua também que o governador tinha mandado levantar âncora, sem esperar para recolher o tenente Calixto dos Santos, que nadava para o palhabote, ferido de morte (Joaquim da Graça Correia e. Lança: Relatório...op. cit., p. 50). Esta versão maldizente é a que corria nas feitorias.
(205) Bastante sintomaticamente, o B.O.G.G.P.C. V. contém alusões ao «desastre de Bolor» e o decreto de desanexação da Guiné (18 de Março de 1879) será publicado em Cabo Verde, a 17 de Abril de 1879. Suplemento ao nº 15 do B.O.G.G.P.C.V. 17 de Abril de 1879.
(206) De facto, na época, fala-se de províncias, mas ninguém é tolo.
(207) Como o evocava, oficialmente, a Sociedade de Geografia de Lisboa, na memória ao Rei. Sociedade de Geografia de Lisboa: Exploration ographique et comerciale de la Guinée portugaise. Projet présenté au gouvernement portugais par la Société de Géographie de Lisbonne. 1878, p. 10. Este texto constitui, essencialmente a tradução do projecto de envio de uma pequena missão naval (encarregada de explorar cientificamente e sobretudo comercialmente o território compreendido entre os 13° 10' e os 10° 12'/10° 20'), elaborado pelo oficial de marinha José Bento Ferreira d' Almeida, que se oferece para a comandar. Cf. J.B.F. Almeida: Exploração da Senegambia portugueza. Missão economico-scientifica. Lisboa, s.d. [1 878?]. Não terá lugar e o seu promotor, que mais tarde passou a ser homem político, separtidário da «soltagem» das colónias onerosas.

René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 167-175
1879/00/00
1879- Início de lutas entre Fulas e Portugueses que durarão 20 anos, na região de Forreá e de Buba.
1881/02/01
«O embate luso-fula em Buba (1-2 de Fevereiro de 1881)
Pelas 9 horas da manhã, a 1 de Fevereiro de 1881, facto impensável para a Guiné das feitorias, habituada apenas aos saltos de humor dos Papéis e grumetes, cerca de três mil Futa-Fulas e Fulas-Pretos (?) atacam na nova «fronteira» portuguesa, a do Leste, em Buba, a porta de Forria. Ora Buba, em dois anos, tornou-se a mais forte concentração militar portuguesa em África, entre Lisboa e Luanda: talvez oito peças, três fortins, um blockhaus (39), 200 soldados, uma cerca em estacaria de 900 m. (40); estes números não estarão, porém, exagerados? O viajante alemão C. Doelter, pelo que lhe toca, não mais que uma centena de soldados africanos indisciplinados, fortificações desafiando todas as regras e seis canhões sem artilheiros de profissão, tendo estes ficado em Bissau (41). Se nos referimos apenas às fontes portuguesas publicadas, os assaltos contra Buba são bastante mal conhecidos em pormenor, mas parecem ter durado um dia e uma noite (1-2
de Fevereiro de 1881). Comandados por Yaya, outro filho de Alfa Ibrahima Sory (1855-1881) (42) do Labé, os Futa-Fulas reuniram trezentos cavaleiros bem armados e, mais mesquinhamente, um milhar de infantes. O resto das tropas (cerca de 1500-1700 homens) é composto por Fulas-Pretos, mas não se batem eles por Fulas-Forros? Utilizando uma ctica completamente inadaptada (cargas em vagas de dez fileiras em profundidade) e dando prova de uma inépcia de tiro inacreditável, os assaltantes oferecem um alvo verdadeiramente magnífico aos soldados dos Portugueses, que atiram pelos buracos da paliçada. O obus servido pelo «conde», ou conde Henri de Galembert (?) (43) e as outras peças de artilharia de campanha, fazem igualmente maravilhas. Nunca os Fulas conseguem aproximar-se da paliçada. Teriam perdido uma centena de homens (44). A 2 de Fevereiro, um novo ataque é, mais uma vez, repelido. Segundo parece, nunca os Portugueses puderam atravessar a rede de intrigas dos régulos fulas (45) e saber concretamente quem os atacava. Mas Yaya compreendeu; inicia imediatamente negociões de paz com os sitiados e faz com que o caso passe por um mal-entendido. O alemão Doelter, que chegou a meio do combate, pensa que os Fulas vinham simplesmente
pilhar e apanhar escravos. Para não ser escasso na medida, entre outros motivos, acrescenta o ódio dos cristãos. Os Portugueses considerarão, ulteriormente, que os Fulas tinham chegado a este extremo para recuperar os seus escravos fugidos (chegavam a ser vinte ou trinta por dia) para Buba, transformada em terra de asilo sob o estandarte portugs (46). Outra interpretação de certos Portugueses: os Futa-Fulas teriam sido incitados a destruir Buba pelos Franceses - do Rio Nunes provavelmente, mas talvez igualmente do Cacine, onde Aimé Olivier tem já uma feitoria (Le Cerf) - invejosos da sua prosperidade. Seja qual for a verdade, mal aconselhados, mal informados ou demasiado confiantes da sua força, os Fulas sofreram um cruel revés em Buba, a 1-2 de Fevereiro de 1881: mesmo com os seus medíocres soldados, os Portugueses não são tigres de papel quando estão bem entrincheirados. E arrebatar um campo de infiéis, onde muitos Mandingas e Biafadas também fazem fogo, não pode ser comparado à pilhagem cil de uma tabanca em campo raso. Outro ponto: os Portugueses, não obstante a sua tendência para denegrir os comerciantes estrangeiros que vivem na Guiné, sabem, dali em diante, que estes farão bloco com eles, em caso de ataque. Franceses ou não, a maior parte dos europeus fazem e sempre farão fogo a seu lado, e já não se contará, durante trinta anos, o número de acções em que existe uma frente comum de Marte e de Mercúrio contra os Africanos. Melhor ainda, com muita frequência, serão os civis franceses que censurarão às autoridades (e aqui, elas são sinónimos de militares) mostrarem-se demasiado benevolentes para com a impudência do gentio, subentendendo com isso que as coisas se passariam diferentemente, se a Guiné se tornasse senegalense.
Mal conhecida e sobretudo mal apreciada (47), esta vitória portuguesa em Buba que, pela sua data, pela sua amplitude e pelos seus efectivos envolvidos, noutras colónias, teria sido engastado em alfinete, aqui nem sequer releva quem é o seu artesão. Com dificuldade se soube que o capitão Carlos Maria de Sousa Ferreira Simões, que comandava a guarnição, prostrado pelas febres (48), tivera de confiar a defesa a um subalterno, cuja identidade continuou duvidosa (49).
(39) A. de Barros: «A praça e porto de Buba no Rio Grande de Bolola», As Colonias portuguezas, 1º Anno, nº 5, 1 de Maio de 1883, p. 51.
(40) Segundo Ramos da Silva: op. cit.p. 340.
(41) C. Doelter: Über..., op. cit., pp. 106-107. A. de Barros: «Buba. O estabelecimento
portuguez no Rio Grande de Bolola», As Colonias portuguesas, 1º Anno nº 8, 1 de Maio de 1883, p. 86 fala de 150 homens de «guarnição activa». Apesar de tudo, é pura e simplesmente a «fronteira», no sentido mais forte, e Doelter que vem ao Rio Grande de Buba/ Bolola, de onde esperava alcança o Futa-Djalon, mais que não poderã transpor o paiís biafada em luta contra os Fulas, refere-se explicitamente ao Far- West. Com a sua cintura de árvores mal podadas, os seus quartéis inacabados, os seus dois comerciantes franceses (dos quais um é conde, real ou não, mas comerciante), o seu capelão, etc, Buba faz lembrar um Forte Laramie cercado, onde o papel dos índios a cavalo seria desempenhado pelos Futa-Fulas e o dos Federais por vagabundos angolanos e cabo-verdianos de uniforme.
(42) Segundo Paul Marty: L'lslam en Guinée. Fouta-Diallon. Paris, 1921, p. 39. Segundo este autor, o Labé torna-se sob o seu reino praticamente independente do poder
central em Timbo. E, quando falamos na «política do Futa-Djalom» na Guiné, será mais correcto dizer «política do Labé».
(43) A identidade deste Galembert é bastante obscura. Um autor anónimo faz dele um «marquês» em 1878, preso pelo comandante militar de Buba por fazer uma proganda anti-portuguesa junto dos régulos. Este autor amargo, muito hostil aos Franceses da Guiné, parece associá-lo a Aimé Olivier e vê nele um agente político. Talvez seja verdade, mas em benefício de quem? De Olivier, o construtor de impérios, ou da França? (Anónimo: «Cartas do Ultramar. Guiné portugueza», As Colonias portuguesa, Anno VI, nº 15-16, 31 de Agosto de 1888, p. 100). C. Doelter não fala de nenhum Galembert em Buba, mas de um conde de M. Ver René Pélissier: «Peuls et Portugais en guerre. Un témoignage allemand (1881)». Trabalho inédito no momento da redacção da presente obra.
O autor anónimo, anteriormente citado, relata um incidente bem posterior (1888) no Rio Pongo (futura Guiné francesa), onde as tripulações de quatro embarcações de Bissau (grumetes provavelmente), vindas para comprar nozes de cola, são presas e leva das para Dakar, sendo os seus navios ulteriormente vendidos na Goreia. Sem nos rronunciarmos sobre a equidade do processo, constatamos que, numa data tão tardia como 1888, a cabotagem guineense para o Sul ultrapassa amplamente o Cabo Verga, limite putativo da Guiné até 1886.
(44) C. Doelter: Uber..., op. cit. p. 112.
(45) A. de Barros: «A praça...», op. cit., p. 51.
(46) João Barreto: op. cit., pp. 300-301
(47) Ignorada de Joye Bowman Hawkins: «Conflict...», op. cit., passim!, e aparentemente dos autores franceses ou francófonos (C'f. Thierno Diallo: Alfa Yaya. roi du Labé (Fouta-Djalon). Paris-Dakar, 1976, que só faz intervir a Guiné no final da carreira do seu herói, depois de as suas terras ocidentais se tornaram guineenses, em 1905. Idem , p. 47, p. 51).
(48) C. Doelter: op. cit., p. 106.
(49) Talvez se trate do tenente ou do alferes Manuel Pedro da Fonseca (Ramos da Silva: op. cit., p. 340) ou M. Pedro dos Santos (João Barreto: op. cit., p. 301).

René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 193-196
1881/03/10
Louvados os alferes JERÓNIMO VIEIRA e FRANCISCO MARQUES GERALDES pelo valor e brio com que re­peliram os gentios Fulas c Fula-fulas que ataca­ram a praça de Buba em 1 de Fevereiro.
1881/07/03
Tratado de paz com os régulos Fulas-forros e Futa-fulas do Forreá e do Fula Djalon (B. O. n.º 12/1RS1).
1881/11/23
«A vitória dos Biafadas contra os Portugueses: Jabadá (23 de Novembro de 1881)
No entanto Agostinho Coelho não vai partir suportado por uma vitória, mamuito pelo contrário. A sua bita vontadde governasertão implica, para os militares, inevitáveis ingerências entre etnias. Melhor ainda, parecem querer recuperar o seu atraso no domínio
da «política indígena». Em qumedida política p-fula de Agostinho Coelho está na origem de um acidente grave com oBiafadas? Se bem que maltratadopeloreferidoFulassão inimigos para desdenharcomo se vira em Junho de 1861, no Badora, com o governador Zagallo. Diz-se que eles se batem malmas que visam bem. Presentemente, oBiafadas teriam atacado Fulas protegidos pela Administraçãoem frente de Bolama. Para salvar aaparências, Agostinho Coelho teria ordenado ao comandante militar de Bissau que fosse recuperar os 35 prisioneirofulas e saque, conservado na principal aldeia dos Biafadas, em Jabadá, no rio Geba, que se pensavconter mil combatentes. Partindo de Bissau, 11 de Novembro de 1881o capitão Pedro Moreira da Fonseca, de quem se voltará a falar em 1891em Bissau, leva 51 atiradores, doze artilheiros e doicanhõesPostadonuma ponta (Ponta São Francisco) a Leste de Jabaos Portugueses esperam que os Biafadainiciem negociações. Na verdade, as discussõedepressa degeneram num ataque em que oBiafadas são postoem fuga.
A 23 de Novembro, Pedro Moreira da Fonsecmarcha sobre Jabadá com oseus homens, reforçadocom quarenta grumetede Bissau e trabalhadoremandingade quatro pontas, armados pelos seupatrões. A tropa será interceptada antes de chegar à aldeia, perdendum soldado e um grumete, o que desmoralizará oauxiliares e oregularesNa confusão, oBiafadas cairão sobre esta horda confundida, que terá de retirardeixando atrás de si três atiradores e um sargento, considerados como desaparecido(60)Outros números: um sargento e seisoldadomorto(61). Foi por pouco que o capitão Pedro Moreira da Fonseca evitou um segundo «desastre de Bolor», porém estrecuo, diantdoBiafadastevuma profunda repercussãe anulou avitóriaem Buba e no ForriaRefugiada na Ponta SãFrancisco, a tropa receberá a visita do governador (25-30 de Novembro de 1881), sem que se saiba bem se se manterá no local esperandreforçosNa outra margem oBalantas também não estão seguros.
(60) Muitas vezes esquecido, este caso é principalmente conhecido graças a Ramos da Silva: op. cit., pp. 341-342. Nem uma palavra em João Barreto: op. cit., e entre que os que o copiam. Segundo uma óptica anti-portuguesa, que deve ser o reflexo, em nossa opinião, dos comerciantes franceses de Bissau e de Bolama, o chefe da missão de delimitação franco-portuguesa de 1888, o capitão Henri Brosselard, relata que a coluna deixou um grande número de soldados angolanos prisioneiros e que apenas ficou a dever a sua salvação à valentia dos grumetes de Bissau (H. Brosselard: La Guinée portugaise et les possessions françaises voisines. Lille, 1889, p. 23). Mutismo completo sobre estes prisioneiros, reais ou não, nas fontes impressas portuguesas nossas conhecidas.
(61) Fausto Duarte (Ed.): «A Guiné...» op. cit., p. 472.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 199-200
1881/12/16
PEDRO INÁCIO DE GOUVEIA é governador da Guiné 1º Mandato. Capitão-tenente, conselheiro, nomeado em 10 de Novembro de 1881, tomou posse em 16 de Dezembro. Foi exonerado a seu pedido, em 26 de Dezembro de 1884.
Numa tentativa de afirmação da soberania portuguesa, verifica-se então o inicio de acções militares punitivas contra os papeis em Bissau e no Biombo (1882-84), os balantas em Nhacra (1882-84), os manjacos em Caió (1883) e os beafadas em Djabadá (1882). A estratégia colonial passa igualmente por uma segunda vertente: o apoio sistemático com tropas e armamento a uma das partes dos conflitos indígena, o gue se passa em 1881-82, com o apoio aos fulas-pretos do Forreá na sua luta com os fulas-forros. Os focos de contestação e a rebelião permanente e conseguente dos diversos grupos étnicos fez com que o poder colonial se limitasse ao controlo de algumas praças e presídios (Bissau, Bolama, Cacheu, Farim e Geba). Paralelamente, começa a instalação de propriedade de colonos ou de luso-africanos em várías explorações agrícolas de grande dimensão (pontas) inicialmente dedicadas ao cultivo da mancarra.
1882/00/00
«O dominio portuguez n'esta parte occidental da Africa estende-se a 62.000 km2, isto é, acha-se reduzido a pouco mais da quinta parte da antiga Senegambia portugueza... A sua população deve ser muito mais de 2,5 milhões…»
M. M. de Barros: «Guinê portugueza ou breve noticia sobre alguns dos seus usos, costumes, linguas e origens de seus Povos», B.S.G.L., Vol. IlI, nº 12, 1882, p. 708.
Apud René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p. 179
1882 -Resistência dos Beafadas de Jabadá contra a penetração portuguesa.
☻ Numa segunda fase aos colonos e escravos, juntaram-se degradados banidos de Portugal por crimes, questões políticas ou religiosas e judeus expulsos pela inquisição. (sabe-se que, de 1802 até 1882, foram degredados de Portugal para o arquipélago 2433) (CARREIRA, 1983).
- Os portugueses organizam uma coluna militar contra os beafadas de Jabadá (fevereiro).
- Os portugueses fazem um tratado com Bambi Jai, régulo beafada de Jabadá e com o régulo de Gam-Pará.
- Os fulas forros atacam as feitorias do Río Grande.
- Coluna militar contra os fulas forros ( 18/06).
- Tratado com o régulo fula preto de lndomi, Demba Alfa Bacar (30/06).
- Coluna militar contra a tabanca de de Cadíca, habitada por nalus (julho).
- Coluna militar contra os fulas forros de Mamadi Paté.
- Os portugueses fazem um tratado de paz com os régulos do Forreá: Bakar Kidaly, Mamadi Paté e Baró Quentó Balanco (27/10).
- Os fulas pretos, chefiados por Densá, atacam a feitoria de S.Belchior (março).

- Campanha militar contra os balantas de Nhacra (05/07).
1882/01/31
Louvado o major GERALDO ANTÓNIO VÍTOR comandante da força encarregada de bater os Beafadas de Jabadá, os oficiais e demais praças de pré pela maneira como souberam cumprir o seu dever. As operações foram primeiro comandadas pelo capitão CARLOS MARIA DE SOUSA FERREIRA SIMÕES.
1882/02/11
«Durante o ano de 1882 foram batidos os biafadas de Jabadá, que em Janeiro dêsse ano haviam incomodado as nossas fôrças. Em resultado da campanha· empreendida sob o comando do capitão Carlos Maria de Sousa Fierreira Simões, foi celebrado o tratado de paz e obediência, em 11 de Fevereiro, a bordo do vapor Guiné, onde se encontravam o governador da colónia, Pedro Inácio de Gouveia, o 2.º tenente Francisco Vieira, comandante do vapor, e os oficiais Boaventura Ribeiro da Fonseca e Jerónimo Vieira Magalhães.
No mesm.o· dia, foi também assinado um auto de obediência da parte do régulo de Gam-Pará.» 
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 304

Tratado de paz, amizade e obediência com o régulo beafada de Jabadá, Bambi Jai e com o régulo de Gam Pará (B. O. 11.0 10/1882).
1882/06/30
«Em 30 de Junho, no presídio de Geba, prestou o preito de vassalagem o régulo fula-preto, Dembel, do Indornal No mês de Julho, com o auxílio do vapor Guiné, deu-se um ataque à tabanca de Cadica, habitada por nalus.» João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 304
Tratado de paz e obediência do régulo Fula-preto de Indomá, Dembem Alfabacar (B. O. n.º 26, 1882).
1883/09/28
É derrotado por uma força militar o régulo Fula-forro Mamadi Paté.
1882/10/03

Tenente-coronel FRANCISCO JOSÉ ROMA, coman­dante do Batalhão de Caçadores n.º 1, louvado pela maneira brilhante como hateu as tabancas de Marnadi Paté, no Forreá. Por decreto de 1 de Dezembro de 1882 foram condecorados o coman­dante FRANCISCO JOSÉ ROMA e o tenente VENTURA DUARTE BARROS DA FONSECA, com os graus de Cavaleiro da Torre e Espada e o capitão PEDRO MO­REIRA DA FONSECA com ograu de Cavaleiro da Ordem de Cristo.
1882/10/27
Tratado de paz, obediência e vassalagem do régulo de Forreâ, Bakar Kidaly e chefes Fulas-forros Mamadi Paté e Baró Quentó Balanco.
1882/07/04

Louvado o comandante desta força, capitão CAETANO FILIPE DE SOUSA, o capitão ANTÓNIO JOSÉ MACHADO, o tenente JOAQUIM ANTÓNIO DO CARMO AZEVEDO, o alferes HEITOR ALBERTO DE AZEVEDO, o facultativo DAMASCENO ISAAC DA COSTA, o furriel de artilharia JOSÉ MANUEL RODRIGUES, o soldado ANTÓNIO HENRIQUESpela maneira como se por­taram nessas operações dando ataque à grande tabanca de Cadica (Nalús).
1883
1883 - A povoação de S. Belchior é atacada por Fulas-pretos, comandados por DensáLutas entre Portugueses e Balantas na região de Nhacra.
1883/03/00
«Os conflitos intra-fulas no Forria
Em compensação, o governador Gouveia decide encontrar uma solução para o problema do Forria. É o mais urgente, pois que as pontas vêem o seu comércio paralizado pelas desordens. Mais perspicaz ou melhor informado que Agostinho Coelho, pró-Fulas-Pretos até ao exagero, Gouveia compreende que se trata, acima de tudo, de um conflito social entre os senhores de ontem, os Fulas-Forros e os seus (ex-) escravos, os Fulas-Pretos que, até aqui, beneficiaram do apoio português. Papel raro para os Portugueses em África, o mastro da bandeira em Buba passou a ser o símbolo da emancipação e, quase todos os dias, refugiados fulas-pretos vinham ou vêm abraçá-lo para acentuar, assim, que romperam com os seus antigos opressores. Para manter um ar de calma, a solução do governador consistirá em separar geograficamente os Fulas-Forros dos Fulas-Pretos, mesmo reactivando as trocas; mantendo os Fulas-Forros no Forria, espera reconquistar para Buba o comércio do Labé e do resto do Futa-Djalon e, ordenando expressamente aos Fulas-Pretos para se reinstalarem no Corubal ou, muito mais longínquamente, no Firdu (ou Fuladu) no Alto-Casamansa (92), conta voltar a dar vida a Geba e a Farim (93). Mas o acordo não se mantém e os Fulas-Pretos regressam a Bolola e, ven doisto, os Fulas-Forros, sob o comando de Bakar Kidali, obtêm autorização dos Portugueses para os desalojar. Estando em desvantagem, os Fulas-Pretos locais refugiam-se numa tabanca perto de Buba e, derrubando as velhas alianças, os Portugueses do posto, intimam-nos a partir para o Norte, sob pena de os mandarem expulsar pelos Fulas-Forros (datas desconhecidas). Questão má para os Fulas-Pretos, que voltam a subir em direcção ao Corubal, lançando-se em incursões de rapina que só conhecemos quando são dirigidas contra um ponto português. E é o que acontece no começo de Março de 1883: o velho estabelecimento abandonado de São Belchior dependendo, nominalmente, de Geba, é posto a saque por Fulas-Pretos, comandados por Den(Deusá, Danou DanDemba) filho do rei do Firdu (ver a seguir). Aprisionam 12 grumetes, homens e mulheres.
Os primeiros choques entre o Firdu e os Portugueses
É evidente que, enquanto os assassínios e os raptos se limitam ao gentio, os Portugueses não reagem muito. Mas, «cristãos», os grumetes são eleitores que não se podem deixar capturar e vender em escravatura impunemente, mesmo em pontos abandonados. Densá, aliás, sai-se muito mal quando vai oferecer ao alferes Francisco A. Marques Geraldes (transferido do Casamansa para Geba) gado apanhado em São Belchior. Este oficial enérgico - que se ganharia em conhecer melhor (94), porque parece ser um precursor daqueles a que chamamos Centuriões em Moçambique - recusa o presente, exige a libertação dos cativos, obtém a de dez homens, mas chega demasiado tarde para a de duas mulheres. Provavelmente, para as trocar na Gâmbia por cavalos, Densá mandou-as partir para o Firdu (ou Fuladu), no Alto-Casamansa. O que é portando o Firdu?
(92) Por que não no antigo Gabu, mais próximo?
(93) Ramos da Silva: Ob. Cit., p. 348. Farim caiu numa decrepitude económica momenrâhea, tcndo-se retirado as grandes casas francesas e desviando-se as caravanas em direcção a Sedhiou (A. de Barros: «A força armada na Guiné», As Colonias Portuguezas, 1.º anno. n.º 1, 1 de Janeiro de 1883. p. 5). O autor deste texto preconiza um redesdobramanto irrealizável das guarnições (abandono de Bissau à segunda linha grumete, instalação em Bolor. Etc.!
(84) Viram-no em Ziguinchor em 1882, porém era igualmente alferes na guarnição de Buba que repeliu Yaya a 1 de Fevereiro de 1881.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 210-211
Ataque dos Fulas-forros a S. Belchior.
«No ano de 1883 no mês de Março a povoação de S. Belchior foi atacada pelos fulas-pretos, capitaneados por Densá, que destruíram as casas e aprisionaram os moradores cristãos.
Por conselho do allferes Marques Geraldes, comandante de Geba, Densá mandou apresentar no presídio os prisioneiros, talvez para não comprometer o seu pai, gulo Dembel, que no ano anterior havia prestado obediência ao govêrno português. O régulo deu satid ações procurando desculpar os excessos do filho e mandou entregar uma pequena quantia em dinheiro como indemnização pelos prejuízos causados.»

João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 304
1883/04/05
Tratado de paz com Adju Pumol, régulo das ilhe­tas; foram louvados os oficiais que nele intervie­rarn, capitão CARLOS MARIA DE SOUSA FERREIRA SIMÕES, 2.° tenente EUGÉNIO SOARES ANDREA e guarda-marinha AUGUSTO EDUARDO NEUPART e o capitão de 2." linha ESTÊVÃO ANTÓNIO TAVARES. O tratado foi publicado no «Boletim Oficial» n.º 23/1883.
1883/06/23
Campanha contra os Balantas de Nhacra, sendo louvados os capitães CARLOS MARIA DE SOUSA FER­REIRA SIMÕES, CAETANO FILIPE DE SOUSA (este capitão acabou por morrer em Bolama em 1886 evido a ferimentos sofridos em campanha) e ALFREDO BALBINO ROSA e os comerciantes César Medina e a casa Blanchard e Olivier.
1884/00/00
1884- Resistência das tabancas de Jebelor, Jebocuer e Bori, contra uma coluna portuguesa capitaneada por António Machado. Os Felupes aprisionam uma chalupa portuguesa em Boqué.
- Campanha mililar contra as tabancas de Jebelor, Jebecuer e Bori, nas imediações de Ziguichor (1 a 16 de abril).
- A canhoneira portuguesa Bengo bombardeia Biombo, seguindo-se o desembarque e destruição da tabanca de Silho.
- Coluna mililar de 300 homens contra a labanca de Cacanda. Os ocupantes usam pela primeira vez as modernas espingardas Snider's o que lhes permile uma vilória fácil (28 e 29/06).

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