1878/12/30
Na margem direita do rio Bolor deu-se o massacre da força militar que para ali se
deslocara com o fim de castigar os Felupes do Jufunco. Das 55 praças de que ela se compunha apenas escaparam 4,
tendo morrido 2 oficiais: tenente CALISTO DOS SANTOS e alferes SOUSA.
Foi este ano assinalado
por um grave desastre na Guiné. As nossas tropas que ocupavam o posto de Bolor foram derrotadas com bastantes perdas pelos
pretos
. A noticia chegada rapidamente a Lisboa produziu grave impressão, e fez com
que o governo pensasse em prevenir, de
futuro, desastres semelhantes. Por isso se promulgou a carta de lei de 18 de marco de 1879 que transformou
o distrito da Guiné numa provÍncia inependente com a capital em Bolama, que
transferiu para ali o batalhão de caçadores que tinha o seu quartel em Cabo
Verde, que organizou uma bateria de
artilharia na província e que abriu um credito de 200 contos de réis para todas as despesas
necessárias. O crédito foi,
nem podia deixar de ser, muito excedido, e a criação da província
independente não deu o resultado que se esperava. Comtudo serviu esse dinheiro
para se construirem em Bolama um excelente quartel e um excelente hospital, e
para se estabelecerem comunicações regulares por barcos a vapor entre a Guiné e
Cabo-Verde; mas sobretudo a medida salvadora para a tranquillidade da província
foi a que se tornou em 1885, estabelecendo o serviço telegrafico, que torna
possível enviarem-se-lhe prontos socorros.
«Em 30 de
dezembro de 1878 foi massacrada na margem direita do rio de Bolor uma força militar,
que para ali fora com o governador do districto Antonio José
Cabral Vieira para chamar á obediencia as tribus de Jefunco, Oçor e Egine que tinham estado em guerra contra a tribu de Bolor e arrasado a povoação,
onde tínhamos um posto militar com 3 soldados e 1 cabo.
Eram já antigas as desavenças enlre aquellas tribus, por causa dos bolorenses não
consentirem que os gentios das tres tribus colligadas fizessem passagem pelo seu territorio quando iam a Cacheu commerciar; sem esta passagem era-lhes vedado esse commercio e assim este era um exclusivo dos bolorenses, que, para o manter, contavam
com o auxilio da Praça de Cacheu em vista de um tratado feiio em 1856, pelo qual Portugal se obrigava a fornecer-lhe material de guerra, para se defenderem dos povos
gentílicos, sendo o territorio de Bolor português.
Effectivamente ainda em 1867 se lavrou um auto d'essa cessão e por decreto de 2 de
março de 1868 se criou ali uma freguesia, mas nunca teve egreja e apenas se arvorava a
bandeira que era mantida por um destacamento de 3 soldados e 1 cabo.
Tambem os de Jefunco
tínhamos um tratado de cessão do território feito em 13 de agosto de 1869, concedendo-lhe Portugal caminho, ou passagens, para commerciarem
em Cacheu.
Por mais instancias que a
tribu de Jefunco fizesse, para os bolorenses lhes dar caminho, tudo foi infrutífero: exasperaram-se os animos
das três tribus e em occasião que
julgaram azada prepararam-se para atacar Bolor. Os bolorenses egualmente se prepararam para receber o inimigo, mandando o régulo uma embaixada, em 17 de agosto de 1878, á Praça, participando que se achava ameaçada a povoação e que
precisava d'alguma polvora e bala, invocando o antigo tratado.
A autoridade
administrativa apenas abonou 12 arrateis de polvora ; ao cabo de tres dia s, sabendo que a guerra tinha começaclo, mandou ao régulo
mais
80 arrateis de polvora e 200 balas, por isso que o territorio estava occupado militarmente e era preciso não só que a posse fosse mantida
mas que a bandeira nacional fosse respeitada.
O procedimento das
tribus colligadas, embora lhes assistisse razão de não serem estorvadas
de fazer commercio com a Praça, não foi regular; podiam ter conseguido o caminho, sem provocar
a guerra, implorando-o à autoridade de Cacheu que obrigaria os bolorenses a cedê-lo.
Repentinamente cahiu o inimigo sobre a povoação de Bolor, destruindo as
habitações, matando muita gente e gado,
sem que os bolorenses se podessem defender, porque,
tendo sido apanhados de surpreza, não poderam lançar mão
das armas que possuíam, por estarem em chamas as habitações.
Em 21 de setembro chegou a noticia d'este facto a
Cacheu e no dia seguinte para lá se dirigiu o administrador do concelho, acompanhado
do medico e do juiz ordinario: encontrou a povoação
abandonada e ainda em chamas.
O iuimigo, senhor do campo, ali se conservava na pilhagem: quebrou pau da bandeira, sendo esta guardada por um soldado, não tendo sido nenhuns maltratados.
O administrador do concelho assim que ali chegou mandou chamar á sua presença o regulo de
Jefunco; não só se recusou como lhe mandou dizer que elle era rei de Bolor e que tinha conquistado esse território pelas armas.
Retirou-se
o
administrador,
limitando-se a comunicar o facto para Bissau ao Governador
por não ter força militar para sacudir o inimigo.
Duas pequenas peças de
artilharia que lá estavam foram roubadas.
O
Governador Vieira, sem força militar, por sua vez, communicou o succedido ao Governador Geral, depois de ouvir a Junta Consultiva da Praça ; esta concordou
que
havia
o
impretcrivel dever de
auxiliar e proteger os bolorenses, como amigos e alliados que eram, ou como subditos portugueses e deram um voto de confiança ao Governador para proceder como entendesse, não poupando meio algum uma vez que a
dignidade nacional comprometida fosse sustentada.
Enviou o Governador para Cacheu 10 soldados,·
unicos de que podia dispor e auctorisou o administrador do concelho de Cacheu a gastar até réis 300&000, com os vencedores de Bolor,
em presentes, no caso que estes
se suj eitassem á paz, e deu ao mesmo instrucções para organisar uma força de 30 soldados e occupar Bolor, reunindo ali os vencidos refugiados para reconstruirem a povoação;
recommendou-lhe que não hostilisasse os vencedores
e
que só tomasse a offensiva se estes atacassem.
Reuniu o
administrador a Commissão Consultiva ·que foi ouvido sobre as instrucçoes recebidas e esta reconhecendo a falta de soldados,
de polvora e armas, sendo necessario tomar a offensiva, concordou que eram inexequíveis taes instrucções, mesmo porque, havendo duas tribos visinhas da Praça inimigas, não convinha desguarnecer Cacheu com os poucos soldados que havia ali, e d'esta resolução se deu conhecimento
ao Governador Vieira .
Na Praça de Cacheu havia um grande numero de felupes. refugiados de tribus de Bolor ; estes e
grumetes impetraram do administrador a prisão de um mouro, que se apresentou na
Praça, por ser traidor aos bolorenses ; esle mouro, antes de começar a guerra, apparecia, frequentes ·vezes em Bolor, mostrando-se adversario das tres tribus colligadas; informava a estas da aititude d’aquella e até dos soccorros, de polvora e balla , que a
Praça forneceu a Bolor.
Foi
internado no calabouço até que chegou a Cacheu ·o Governador, que a·elle se utilisou como medianeiro com o regulo de Jefunco para se realizar a paz e foi este procedimento, mal pensado, que occasionou o desastre de Bolor no dia 30 de
dezembro de 1878.
O Governador Geral havia mandado de Cabo Verde um reforço,
para a Guiné, de 52 soldados e 1 official; d'isto deu conta ao Ministro e mais ainda de que o Governador Vieira ia seguir para Cacheu no palhabote Bissau, que armava um
rodi io, a fim
de se informar, pessoalmente, dos acontecimentos.
Organisou em Bissau a expeuição e seguiu para Cacheu em fins de dezembro; eram pacificar as suas intenções com o inimigo, desejando reconcilia-lo com os bolorenses; mas, chegando a Cacheu, viu que a attitude dos moradores d'esta Praça, sobretudo
grumetes, das tribus visinhas amigas e dos refugiados, era hostil a .Jefunco e sollicitaram-lhe que fosse batê-lo.
Os bolorenses protestaram, que sendo portugueses, que tinham
direito a protecção, não porque a não encontrassem em
outra parte, mas porque vassallos fieis, sempre tinham recusado offerecimentos que, por outros que protegiam os seus inimigos, lhe tinham
sido feitos, por muitas vezes, antes da guerra.
Os grumetes protestando pela honra portuguesa, que disiam empenhada como portugueses, só pediam polvora e bala
para irem resgatar ou morrer com os seus irmãos de Bolor, que espoliados dos seus haveres, familia e patria,
havia tres meses, se sentiam cançados de os sustentar na Praça.
Os princípaes de Cacheu, apoiando os refugiados de Bôlor e os grumetes, insistiram para que estes fossem attendidos, visto que o contrario seria denunciar
tal ordem de fraqueza, que os resultados seriam gravíssimos, não só para a segurança de Cacheu, cujos inimigos, de Cacanda e do
Chuôro, estavam alerta, como para a segurança, se não geral, pelo menos d"aquella parte do
districto, que inimigos , de maior importancia do que gentios, há muito apeteciam e que ultimamente não se poupavam a chicanas e intrigas para nos expoliarem territorios.
Finalmente,
todos, lhe chamaram o Messias redemptor para os proteger e auxiliar
a fim de se desaggravarem e não para ir passar o tempo a propor conferencias ao inimigo, que só queria guerra, e que só assoberbado pela gloria, só pela guerra
cederia; nestas condições concordou em se fazer a
guerra, sendo combatentes os grumetes, bolorenses e auxiliares, ficando a força militar e o palhabote Bissau, em posição. para lhes proteger a retirada em caso de necessidade.
Que partíra
para Bolor sempre convencido da ne cessidade da guerra, tanto mais que os gentios de Jefunco e seus alliados, tinbam cortado o
pau da bandeira, querendo rasgar esta e matar 4 soldados que a guardavam, e que tendo chegado a Cacheu e mandado
convidá-los a uma conferencia, não só se recusaram, como mandaram respostas insultuosas, entre as quaes, que só conferenciariam com polvora e bala.
Partiu, pois, para Bolor no
palhabote Bissau no dia 29 de dezembro de 1878, com 55 soldados, um corneteiro e os
officiaes tenente Calixto dos Santos e alferes Sousa, 50 grumetes, expatriados de Bolor e· grande numero de Papeis das tribus da Matta e de Bianga, como auxiliares.
Chegou ao rio de Bolor na
noite d'esse dia: desembarcaram os combatentes e, de
manhã, a força militar que ficou postada, num ponto escolhido, para defender a retirada.
Recommendou ao tenente Calixto, commandante
da força, que devia , depois das armas carregadas, destacar guardas avançadas para estar prevenido de qualquer desastre e ordenou-lhe que lhe d'esse
conhecimento para bordo, onde ficou, de
qualquer facto que o obrigasse a ir-se collocar ao lado da força.
Eram 7 horas da manhã
quando um cabo, o cabo José, ordenança, se approximou da praia dizendo lhe que se sentiam tiros ; êntão mandou dizer ao tenente Calixto que se preparasse para resistir; decorridos
alguns momentos soube pelo cabo que se via muita gente correndo e alguma sem armas e que o tenente mandava dizer que considerava impossível a resistência e por isso dera ordem de retirada.
Viu. entã o tenente e o alferes Sousa, fugiram na frente dos soldados e todos a urna, sem darem um tiro, aggiomeraram-se â bordo da
lancha Diligencia, fazendo-a encalhar ; os nossos combatentes, acossados, dirigiram-se em correrias para a praia; nesta occasião apontou o rodisio do palhabote para o inimigo e fez fogo; recuou o inimigo, dando tempo a que os vencidos mais se approxirnassem da praia, onde esperavam encontrar o apoio da
força militar; esta tinha fugido e o rodisio, com o recuo, bateu na amurada oposta do navio e, arrombando-a,
precipitou-se no mar.
Os vencidos, perdendo a ultima esperança, lançaram-se ao mar, encontrando ali muitos a morte, e os inimigos cobrando animo se lançaram sobre os outros, e até dentro da lancha,
matando-os a ferro frio.
Morreram os dois oficiaes tenente Calixto e alferes Sousa defendendo-se com muita coragem o tenente Calixto e o corneteiro.
Da força militar,
que enchia a lancha encalhada com o peso, só escaparam tres soldados e cabo José.
Das principaes familias
de Cacheu, morreram no combate. quatro auxiliares. No dia 1 de janeiro de 1879 relatou ao Governador Geral e solicitou um conselho de guerra para justiticar o seu procedimento; appelou, para o mesmo, a sua protecção aos bolorenses qne precisavam do apoio do governo e para isso requisitou 500 soldados, um navio de guerra
a
vapor para castigar as tribus colligadas.
O Governador Geral fez ver ao ministro que não tinha força disponível para mandar á Guiné e que resolveu nomear Governador d'este districto o major, commandante do batalhão de
caçadores n.º 1, Joaqnim José Lobato de Faria e como sindicante o secretario gera do governo Antonio Castilho. e, peran.do, comtudo, mandar para a
Guiné 50 praças.
Em 14 artigos constam as ínstrucções dadas ao syndicante em 20 de janeiro de 1879; este
entregou o relatorio da syndicancia que é datado de 28 de fevereiro seguinte.
No dia 20 de janeiro
tinham seguido para a Guiné o novo Governador interino Lobato de Faria, um secretario do governo,
o syndicante, cinco officiaes e cincoenta praças, com pessimos armamentos, um conductor de obras publicas, e alguns operarios, bem como um diminuto e mau material de guerra de que se poude dispor.
O
massacre que fica relatado deveu-se a imprudencia do Governador Vieira que
confiou ao mouro, -que estava preso por traidor, a missão de se dirigir a Jefunco para dizer ao régulo
que elle estava ali no rio para fazer a paz.
O mouro,
apontado pelos bolerenses como o causador da guerra e que denunciou ao
inimigo o fornecimento de polvora e bala, que a Praça havia mandado para Bolor, onde tremulava
a bandeira nacional e que era forçoso conservala, foi preso pelo administrador do concelho, alferes Candido Augusto do Nascimento ; este acto, de boa
politica, para se conseguir a paz, sendo anulado e o mouro,
livre em Jefunco, disse ao regulo que a força portuguesa ali fôra para o bater. Os gentios colligados, prepararam-se para o ataque, retirando-se as mulheres e creanças para pontos distantes e, occupando posições no matto, aguardaram a passagem dos combatentes com um nutrido fogo, que os poz em debandada.
A força militar, que estava destroçada e com as arrnas ensarilhaclas acometida de subito, não se reuniu e fugindo tudo para a lancha ali foi · victima.
O capitão do palhabote Bissau,
sem meios de defesa e correndo risco de ser abordado pelo inimigo, picou a
amarra e impellido pela corrente fezse ao largo.
Procurou-se attenuar a responsabilidade do Governador atlribuindo-a ao administrador do concelho por ter fornecido polvora e bala, mandando-o responder a um conselho de guerra , o que não se realizou por se oppor a isso o, então, Governador Agostinho Coelho, que reconheceu a innocencia d'este e a culpabilidade d'aquelle.
O Governo decretou em 18 de março de 1879 a desannexação
do
districto da Guiné da província de Cabo Verde, formando o territorio d'aquella possessão uma província independente, transferindo
para ali o batalhão de Caçadores n.º 1 cuja sede era em Cabo Verde, e ordenou-se ao Governador Agostinho Coelho para castigar o gentio de Jefunco, o que nunca tentou.»
Subsidios para a História de Cabo Verde e Guiné, por
Christiano José de Senna
Barcellos, parte VI, pgs.
295-300, Lisboa, Imprensa Nacional,
1912
«Em 30 de
Dezembro de 1878, foi massacrada, na margem direita
do rio Bolôr, uma fôrça militar, que para ali tinha
ido com o fim de castigar os felupes de Jufunco. Deram origem a esse
desastre as rivalidades. existentes entre os
indígenas de Bolôr e os de Jufunco, Egine e outras povoações
próximas que pretendiam facilidades de comucicações com Cacheu
através do território de Bolôr.
Como êstes
indígenas procurassem criar embaraços, os felupes de Jufunco atacaram de surpresa Bolôr,
onde se encontrava um destacamento de três praças e um cabo. A praça de Cacheu forneceu
munições. aos moradores de Bolôr, mas isto não evitou
que eles fôssem derrotados pelos seus adversários.
No
entanto o destacamento dos isoldados não foi incomodado
e, embora se tivesse partido o pau da
bandeira, esta foi conservada com devido respeito.
Tendo chegado a
notícia
a
Cacheu
em
21 de Setembro, o administrador do concelho, acompanhado do médico e do juiz ordinário,
dirigiu-se a Bolôr e dali mandou chamar à sua presença o régulo de Jufunco,
que se recusou a obedecer, declarando ser êle o senhor da
região.
Era governador do distrito o capitão António
José Cabral Vieira, que enviou de Bissau a Cacheu 10
soldados, os únicos que podia dispensar, e autorizou o administrador de Cacheu a gastar
até à quantia de 300$000 com presentes aos felupes de Jufunco, caso eles
estivessem dispostos a entrar em acôrdo.
Recomendava
mais
que
seguisse para Bolôr com fôrças organizadas em Cacheu
afim de reconstruir a povoação incendiada, evitando todavia de atacar o gentio. Os moradores
de
Cacheu não concordaram em executar essas instruções, porque se sentiam
também ameaçados pelos indígenas dos arredores e receavam que a
praça, desguarneci-da da sua fôrça militar, fôsse càír nas mãos dos
seus inimigos.
Entretanto
o governador geral de Cabo Verde havia enviado para Bissau um
refôrço de 50 homens e um oficial. Com estes novos
elementos, o capitão Cabral Vieira seguiu para
Cacheu no palhabote Bissau.
Dali
pretendeu resolver o conflito amigàvelmente, mas os chefes felupes,
convidados a uma conferência, enviaram respostas
insolentes, pelo que resolveu castigá-los. Com êste propósito
seguiu
para
Bolôr, no mesmo navio Bissau, com o tenente Calisto dos
Santos, alferes Sousa, 55 praças, 50 grumetes e diversos auxiliares
de Mata e Bianga.
A fôrça
chegou a Bolôr em 29 de Dezembro. Uma parte dos homens desembarcou e entreteve-se
descuidadamente na preparação do rancho. Atacados de surpresa pelos felupes, não
puderam defender-se e
fugiratrn para o rio, caindo sôbre a lancha que deveria transpoirtá-los
para o navio. Como era de recear, a lancha
encalhou e os nossos homens, metidos
entre o rio e o inimigo,
foram chacinados, ·escapando apenas quatro
praças.
Morreram os oficiais
Calisto e Sousa.
O governador
Cabral Vieira, que se
encontrava a bordo do palhabote ·com o resto dos soldados, não se sentindo com forças
suficientes para a luta, picou as amarras e fez-se ao largo.
O desastre ficou impune, porque, embora se recomendasse
o castigo dos revoltosos, não chegaram a juntar-se
na Guiné tropas bastantes para levar a efeito êste desfôrço.
A
dolorosa impressão causada na opinião pública metropolitana por esta derrota
obrigou o Govêrno a prestar mais atenção aos negócios
da Guiné. Pensou-se desde logo em dar autonomia administrativa
e· dotá-la com meios suficientes para completar
a ocupação militar.
Dali saíram o
decreto de 18 de Março de 1879 e a nomeação do coronel Agostinho Coelho para governador da nova
província, atendendo às qualidades de militar enérgico e disciplinador,
de
que
já dera provas.
Começa a ssim a história
moderna da colónia de Guiné.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 247-248
«O «DESASTRE»
DE BOLOR
O que é conhecido
na literatura colonial portuguesa com o nome de
«desastre de Bolor» (30 de Dezembro de 1878) é,
efectivamente, a segunda, em importância, das derrotas do exército na Guiné, e se isto não é ainda o
equivalente oeste-africano do Vau de Pembe
angolano (25 de Setembro de 1904) (192), dele se aproxima perigosamente. Descortiçado, o caso demonstra os riscos inerentes à «política das pequenas
bandeiras em país selvagem», se esta não for apoiada por uma força militar suficientemente numerosa e sólida.
A - AS
ORIGENS DO DRAMA
Uma
querela de interesses entre Felupes
Sabe-se que Bolor é uma simples posição geográfica
destinada a
impedir a instalação dos estrangeiros na foz do rio Cacheu
(193). Em 1878, continua a não haver fortaleza mas, simplesmente,
quatro
soldados
encarregados unicamente de hastear a bandeira, quando passa um navio. Como o escreverá,
depois da
derrota, o governador-geral de
Cabo Verde, António do Nascimento Pereira [de] Sampaio, reproduzindo
quase textualmente o relatório do governador Cabral Vieira: «Bolor tem o seu rei [sic], as suas autoridades e os seus soldados. Lá somos convidados, tratados como bons amigos, mas nada mais». Com inteiro direito, fala, ele também,
de «simulacro de soberania» (194). Nos termos de
diferentes tratados, anteriormente citados, os Portugueses comprometeram-se a proteger os Felupes
de Bolor contra os seus inimigos. Ora, precisamente, é uma «questão gentílica» que está na origem do caso, um
diferendo entre Felupes que vai ter mau fim. Bolor desempenha um
papel de guarda-fogo entre a praça de Cacheu e quatro outras
aldeias felupes (Jufunco, Ossor, Igim, Lala), que têm de passar sobre o seu solo para
escoar os seus produtos. Como bons monopolistas, os corretores de Bolor
recusam o acesso. No entanto, Jufunco, também, cedeu o seu território
aos
Portugueses
(3 de Agosto de 1869) (195) e quer a passagem para a Ponte de Bolor, onde
acostam as chalupas das goletas. Perante esta questão de «campanário» (se assim se pode
dizer!), sentindo-se Bolor ameaçado, envia uma delegação a Cacheu para pedir
(17 de Agosto de 1878) pólvora e balas, de acordo com os tratados concluídos. Cacheu é
mesquinho nas suas ofertas. Avalia-se então em oitocentos homens os guerreiros
de
Bolor, reunindo Jufunco e os seus aliados (Ossor, Igim) os três, 460
homens. São, portanto, unidades políticas muito pequenas. Atacado de surpresa pelos
Felupes do norte, que passaram a ser seus inimigos, Bolor
é
arrazado,
a 21-22 de Setembro de 1878, perde o seu gado e tem uma
trintena de mortos (196). A 22 de Setembro, o administrador do concelho de Cacheu
vai à praça para constatar os prejuízos causados
aos interesses portugueses. São mínimos: o mastro da bandeira foi
quebrado e os dois pequenos canhões foram tomados,
porém os soldados não foram molestados. O régulo de Jufunco, do qual não conhecemos
o
nome, recusa, no entanto, apresentar-se perante ele, e intitula-se,
dali em diante, rei de Bolor, que acaba de conquistar. Tudo isto aparece
na ordem das coisas, é porém um caso
de uma insignificância total.
As palinódias portuguesas
Cacheu diz não ter soldados, e o administrador contenta-se
em avisar o governador da Guiné, António José Cabral Vieira,
que transmite à Praia, envia dez soldados a Cacheu
e autoriza o referido administrador a oferecer, segundo o antigo costume,
300$000 aos vencedores, se eles aceitarem a paz. Dá-lhes também
ordem para reocupar Bolor e reconstruir a aldeia com os
seus habitantes refugiados em Cacheu. Os moradores de Cacheu
começam por confirmar que não têm meios para se baterem e que seria imprudente
desguarnecer a praça com duas tribus inimigas
às portas (197).
Pelo que parece, nesta época, a segurança é precária na Guiné. A região de
Geba
é ameaçada por uma guerra gentílica e o régulo de
Orango retém os
náufragos de um brigue austro-húngaro (198). O governador-geral
de Cabo Verde, António do Nascimento Pereira [de] Sampaio
envia, pois, 52 soldados e um oficial, o que soma 234 soldados em toda a Guiné. Este
governador-geral espera, no entanto, poder contar com uma força de 20-25 000 Futa-Fulas
(199).
No
final
de Dezembro de 1878, o governador Vieira, acompanhado por
tropas, vem a Cacheu informar-se, bem tardiamente, da situação. Os Felupes de Bolor
(os Bolorenses), os moradores e os grumetes de Cacheu são agora hostis às
intenções pacíficas do governador, que quer reconciliar Jufunco e Bolor. Os
Bolorenses têm um argumento irrefutável: vassalos portugueses,
eles têm direito à protecção da Coroa, tanto
mais que recusaram, muitas vezes, as ofertas
do estrangeiro (subentendendo-se os Franceses). Os grumetes,
esses, invocam a honra portuguesa para ir combater
em Bolor com os seus irmãos (?) (200)...tanto mais que estão
cansados de os alimentar e de os abrigar há três meses. Esquecendo
inúmeros
precedentes com os Papéis do norte, os notáveis de Cacheu, esses, fazem
valer que se se negociar com os Felupes em dissidência, é a porta aberta para a espoliação.
Mau grado seu, o governador Vieira decide-se, portanto, pela reconquista
de
Bolor, mas com a condição de que sejam os 50
grumetes voluntários, os Bolorenses e os auxiliares papéis das regiões seguras (Matta de
Cacheu
e Bianga), ao todo, talvez, trezentos homens, a combater.
55 soldados de Cabo Verde, o corneteiro e os dois oficiais
goeses que estão com
ele,
têm de ficar de reserva perto do rio.
B - A VITÓRIA DOS FELUPES DE JUFUNCO (30 de Dezembro de 1878)
Um massacre numa praia
Toda esta gente desembarca, a 29-30 de Dezembro, na Ponta
de Bolor. Comanda o tenente Calixto dos Santos e um alferes de nome Sousa,
ficando o governador Vieira a bordo do palhabote Guiné. Não
se
sabe claramente o que se passou, a 30 de Dezembro, no interior das terras, mas parece que o
régulo de Jufunco, prevenido por um comerciante muçulmano
(mouro), esperava os assaltantes irregulares a pé
firme, tendo ficado os soldados perto do rio, a preparar a comida. Soou uma fuzilaria,
depois
uma
debandada enlouquecida refluiu para os piquetes
de soldados na margem. Tudo nos leva a crer que a maior
fraqueza dos soldados portugueses e lusitanizados em Africa, também aqui, se repete.
Heróicos nos cercos, por vezes brilhantes nos assaltos, são execráveis
nas retiradas que, muitas vezes, se transformam em catastróficos
salve-se-quem-puder.
É
o
que acontece, a 30 de Dezembro de 1878, na Ponta de Bolor.
Vendo correr para ele os fugitivos, o tenente Calixto dos Santos, sem mesmo
tentar salvar a situação, ordena o recuo dos soldados,
quer dizer, desencadeia o pânico e põe-se a correr, mais depressa que os seus homens,
para a praia de embarque. Toda esta tropa desmoralizada, que não disparou um
único cartucho, salta para uma lancha que, com o peso, se afunda,
enquanto
os
irregulares se aproximam, por sua vez, da praia. A bordo
do palhabote, o governador Vieira manda disparar o único rodísio
(canhão de caça disparando no eixo do navio no sentido da proa) contra os guerreiros
de
Jufunco, que perseguem os seus inimigos. Mas, mal arrimada, a peça dá
tal recuo que arromba a amurada e cai ao mar. Grumetes,
Bolorenses e aliados, vendo
que os soldados cabo-verdianos, encarregados de os cobrir, se debatem
na lancha ou aos lados, atiram-se ao mar para se salvarem. Muitos ali perecerão.
O que não compreendemos bem é por que razão os soldados na lancha
não disparam sobre os seus perseguidores. Por que razão, a bordo do
palhabote, muito mais ao largo (o terrível vaso guineense),
ninguém intervém para tentar deter a corrida para a praia dos Felupes revoltados? A nossa explicação,
talvez um pouco
conjectura! (201), é que o pânico paralizou tanto os homens
como o comando. Os guerreiros de
Jufunco e seus aliados procedem, pois, a uma autêntica chacina, que lembra
irresistivelmente a vitória de Bonga em Massangano, a 25 de
Novembro de 1869 (202), com a diferença de que, aqui, a derrota se desenrola
em pleno dia, diante dos olhos do governador da Guiné, que se afasta. Com arma
branca, os vencedores «ajustam contas» com os soldados de Cabo Verde,
tanto na água como na lancha.
Apenas três soldados e um cabo escaparão. Os outros, ou seja, cinquenta e um homens e os dois
oficiais goeses, tombarão para sempre (203). É, grosso modo, um
quarto dos efectivos reforçados da Guiné. O que os textos contemporâneos
não
contabilizam,
infelizmente - com excepçao de quatro
moradores
de Cacheu -, são as baixas dos auxiliares. Que aconteceu aos cinquenta grumetes,
aos
Bolorenses, aos Papéis do norte? Nada sabemos, mas tudo nos leva a pensar
que o «desastre» não se limita às tropas, e que mais de uma centena de auxiliares, mesmo um
mínimo de 150 (204), igualmente tombaram em Bolor. É, evidentemente, um quadro de perdas
ligeiro à escala oeste africana, mas dramático para as feitorias e Cabo Verde. O capitão
do navio parece não ter acolhido mais que
alguns raros fugitivos e, ameaçado de ser atacado· por sua vez, levantou
âncora com o governador.
Uma afronta não vingada
Jornada dura para os Portugueses e os Cabo-verdianos
esta de 30 de Dezembro de 1878! Tão dura que o governador
Vieira
pede para ir a Conselho de guerra, para se justificar. Reclama,
igualmente, 500 soldados e um vapor, para vingar a honra e retomar
Bolor. Cansado o governador-geral Pereira [de] Sampaio diz não ter soldados disponíveis.
Contentar-se-á em nomear, a 19 de Janeiro de 1879, um novo governador
interino e enviar cinco oficiais, cinquenta soldados e alguns
materiais de guerra em mau estado. Estamos longe da
grande expedição de Cacheu, em 1871. A sindicância (inquérito
sobre
as
actividades em serviço de um funcionário) respeitante ao governador Vieira não parece ter
sido um modelo de imparcialidade, pois que o secretário-geral
de Cabo Verde, que dela é encarregado, atenuará as
responsabilidades do governador e, pelo contrário, sobrecarregará
as do
administrador de Cacheu. De facto, parece que diferentes autoridades conseguiram
impedir todo o aprofundamento que poderia salpicar este ou aquele
protegido de um ou de outro, e não haverá Conselho de guerra. E,
ao fim e ao cabo, os soldados mortos não eram mais que cabo-verdianos ou seja «consumíveis» (205). Quanto
aos «civis»...
Gostaríamos de poder medir a repercussão do «desastre
de
Bolor na opinião metropolitana. Deve ter sido notável
pois que as autoridades se decidem, enfim, a conceder a esta
«colónia de uma colónia» (206) uma atenção um pouco mais intensa. E isto da maneira mais administrativamente
lógica que pode haver, outorgando-lhe, finalmente, o
que espíritos sensatos reclamavam havia decénios, ou seja, sua autonomia
em relação a Cabo Verde. Portanto, de momento, não se trata de
encarar a cessão ou a troca da Guiné, em benefício de uma concentração em Angola (207)
(192) Ver René Pélissier: Les guerres... op. cit., pp. 449-454.
(193) Em 1867-1869, dera-se ali uma tentativa de evangelização. Henrique Pinto Rema: História..., op.
cit., pp. 273-274.
(194) A.H.U. Documentos importantes nº 436. Original em Português, traduzido em Francês e de novo
traduzido em Português.
(195) Negocios Externos: Documentos... op. cít., 2º vol., lª Parte. p. 36. Barcellos: op. cít., Parte VI,
p. 296 dâ a data de 13 de Agosto.
(196) Carta do governador-geral de 11 de Novembro de 1878. A.H.U. Documentos importantes nº 436.
(197) Os Papéis de Cacanda e do Churo. Rarcellos: Op. cít .. Parte VI.
pp. 297-298.
(198) Carta do governador-geral de Cabo Verde de 19 de Outubro de 1878. A.H.U. Documentos importantes nº 436.
(199) O que mostra, talvez, que o caso de Geba, a 1 de Novembro de 1865, foi habilmente explorado desde então para se conciliar as boas graças do poder muçulmano.
Ou
é
uma simples impressão que é preferível não pôr à prova, se a julgamos pela situação em Huba? De facto, não conhecemos nenhuma tentativa de Bissau tendente a procurar regular
militarmente o insignificante problema de Bolor pelos novos senhores do Gabu.
(200) Devem referir-se aos felupes lusitanizados e aos grumetes de Cacheu vivendo em Bolor.
(201) P or falta de fontes, além das três linhas de 13arcellos: op. cit., Parte VI, p. 299.
(202) Cf. René Pélissier: Naissance... op. cit., Vol. 1, pp. 341 -342.
(203) Não tendo encontrado qualquer relatório sobre este desastre, nem o relatório de lnquérito o - se bem que
dele se conheça a existência - não garantimos a exactidão dos números, até à unidade. Podemos, no entanto, contar com a cinquentena
de militares mortos. Se devemos legitimamente interrogarmo-nos aqui sobre as aptidões do comando e dos soldados, seria um erro acreditar que as derrotas são especialidades unicamente
portuguesas na Africa ocidental. Sem ir ma is longe que o Senegal, indicamos àqueles que o ignorariam que, sob o grande
Faidhcrbe, o desastre de Ngolgol (29 de Dezembro de 1863), quando ela conquista do Kayor, fez com que a guarnição deixada no local perdesse 131 soldados (entre os quais dois capitães) e um obus. Pensamos que aí se trata de tropas com dominante europeia.
É
verdade que nos encontramos na presença de um mestre da guerrilha, Lat Oyor (Yves-Jean Saint-Martin: «La
formation...», op. cit., pp. 897-898) e que esta esmagadora derrola foi cruelmente vingada menos de quinze dias depois (12 de Janeiro de 1864, em Loro), sendo o Kayor reordenado. Mas quatro anos mais tarde no Sine-Saloum, no
tempo de Pinet-Laprade,
a
coluna (160 soldados) do capitão Le Creurer, a 2 léguas de Kaolack, perto da aldeia de N'djoffat (ou Tioffat), tem, a 20 de Abril de 1867, 60 mortos (enlre os quais três oficiais e o seu capitão), 20 desaparecidos e 30 feridos (Idem, p. 931) em
luta com Maba, pregador
muçulmano. E que dizer do ano de 1869, desastroso para os Franceses que: a) em Mekkhe (8 de Julho de 1869) vêem um esquadrão de spahis, dizimado
por Lat Dyor (Idem, p. 995), fugir vergonhosamente: b)
perlo de Louga, igualmente no Kayor, perdem, a 15 de Setembro de 1869, dois terços de uma companhia de reconhecimento ainda contra Lat Dyor (idem, p. 998); e) em Pétogne (29 de Setembro de 1869), registam a morte de uns sessenta voluntários saint-louisenses, no Futa-Toro ao
lado de um prolegidq dos Franceses, combatido pelo
marabu Ahmadu Shayku (lde;n, p. 101 2)?
(204) A medida que nos afastamos de 1878, o número das baixas aumenta. A 9 de fevereiro de 1879, o comandante francês do Castor, fazendo escala por Bolor, assinala que os habitantes de Jufunco pedem o pavilhão francês unicamente porque têm medo das represálias e indica que 150 voluntários foram mortos (A.N. 200 MI 578). No começo dos anos 80,
estamos com 200 auxiliares mortos, mas em 1888 é já «mais de dois centos» (E.J. da Costa Oliveira: «Guiné porlugueza. Esboço cartografico», B.S.G.L., Vol. VIl, nº 6 , 1888- 1889, p. 300). Ler-se-á também uma narrativa do «desastre»
dez anos mais tarde, que afirma que os soldados tinham vindo «em missão de paz, o que
explicava que se tivessem deixado surpreender. Esta versão insinua também que o governador tinha mandado levantar âncora, sem esperar para recolher o tenente Calixto dos Santos, que nadava para o palhabote, ferido de morte
(Joaquim da Graça Correia e. Lança: Relatório...op. cit., p. 50). Esta versão maldizente é a que corria nas feitorias.
(205) Bastante sintomaticamente, o B.O.G.G.P.C.
V. só contém alusões ao «desastre de Bolor»
e o decreto de desanexação da Guiné (18 de Março de
1879) só será publicado em Cabo Verde, a 17 de Abril de 1879.
Suplemento ao nº 15 do B.O.G.G.P.C.V. 17 de Abril de 1879.
(206) De facto, na época, fala-se de províncias, mas ninguém é tolo.
(207) Como o evocava, oficialmente, a Sociedade
de
Geografia de Lisboa, na memória ao Rei.
Sociedade de Geografia de Lisboa: Exploration
géographique et comerciale de la Guinée portugaise. Projet
présenté au gouvernement portugais par la Société de
Géographie de Lisbonne. 1878, p. 10. Este texto
constitui, essencialmente
a tradução do
projecto
de envio de
uma pequena missão naval (encarregada de explorar cientificamente e sobretudo comercialmente o território compreendido entre os 13° 10' e os 10° 12'/10° 20'), elaborado pelo oficial de marinha José Bento Ferreira d' Almeida,
que se oferece para a comandar. Cf. J.B.F. Almeida: Exploração da Senegambia portugueza. Missão economico-scientifica. Lisboa, s.d. [1 878?]. Não terá lugar e o seu promotor, que mais tarde passou a ser homem político, será partidário da «soltagem» das colónias onerosas.
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 167-175
1879/00/00
1879- Início de lutas entre Fulas e Portugueses que durarão 20 anos, na região de Forreá e de Buba.
1881/02/01
«O embate luso-fula em Buba (1-2 de Fevereiro de 1881)
Pelas 9
horas da manhã, a 1 de Fevereiro de 1881, facto impensável para a Guiné das
feitorias, habituada apenas aos saltos de humor dos
Papéis e grumetes, cerca de três mil Futa-Fulas e Fulas-Pretos (?) atacam na nova «fronteira» portuguesa, a do Leste, em Buba, a porta de Forria. Ora Buba, em dois anos, tornou-se
a mais forte concentração militar portuguesa em África, entre
Lisboa e Luanda: talvez oito peças, três fortins, um blockhaus (39), 200 soldados,
uma
cerca
em estacaria de 900 m. (40); estes números não estarão, porém, exagerados? O viajante
alemão C. Doelter, pelo que lhe toca, não vê mais que uma centena de soldados africanos indisciplinados, fortificações desafiando todas as regras e seis canhões sem artilheiros de profissão,
tendo estes ficado em Bissau (41). Se nos referimos apenas às fontes portuguesas publicadas, os assaltos contra Buba são bastante mal conhecidos em pormenor, mas parecem
ter durado um dia e uma noite (1-2
de Fevereiro de 1881). Comandados por Yaya, outro filho de Alfa Ibrahima Sory
(1855-1881) (42) do Labé, os Futa-Fulas reuniram trezentos cavaleiros bem armados e, mais mesquinhamente, um milhar de
infantes. O resto das tropas (cerca de 1500-1700 homens) é composto por Fulas-Pretos, mas não se batem eles por Fulas-Forros?
Utilizando uma táctica completamente inadaptada (cargas
em vagas de dez fileiras em profundidade) e dando prova de uma inépcia de tiro inacreditável, os assaltantes oferecem um alvo verdadeiramente
magnífico aos soldados dos Portugueses, que atiram pelos buracos
da paliçada. O obus servido pelo «conde», ou conde Henri
de
Galembert (?) (43) e as outras peças de artilharia de
campanha, fazem igualmente maravilhas. Nunca os Fulas conseguem aproximar-se da paliçada.
Teriam perdido uma centena de homens (44). A 2 de Fevereiro, um novo ataque é, mais uma vez, repelido. Segundo parece, nunca os Portugueses puderam atravessar a rede de intrigas dos régulos fulas (45) e saber concretamente
quem os atacava. Mas Yaya compreendeu; inicia imediatamente negociações de paz com os sitiados e faz com que o caso passe por um mal-entendido. O alemão Doelter, que chegou a meio do combate, pensa que os Fulas vinham simplesmente
pilhar e apanhar escravos. Para não ser escasso na medida, entre outros motivos, acrescenta o ódio dos cristãos. Os Portugueses
considerarão,
ulteriormente, que os Fulas tinham chegado a este extremo
para recuperar os seus escravos fugidos (chegavam
a
ser
vinte ou trinta por dia) para Buba, transformada em terra de asilo sob o estandarte português (46). Outra interpretação de certos Portugueses: os Futa-Fulas teriam sido incitados
a
destruir Buba pelos Franceses - do Rio Nunes provavelmente, mas talvez igualmente do Cacine, onde Aimé
Olivier tem já uma feitoria (Le Cerf) - invejosos da sua prosperidade. Seja qual for a verdade,
mal aconselhados, mal informados ou demasiado confiantes da sua força, os Fulas sofreram um cruel revés em Buba, a 1-2 de
Fevereiro de 1881: mesmo com os seus medíocres soldados, os Portugueses não são tigres de papel quando estão bem entrincheirados. E arrebatar um campo de infiéis, onde muitos Mandingas e Biafadas também fazem fogo, não
pode ser comparado à pilhagem fácil de uma tabanca em campo raso. Outro ponto: os Portugueses, não obstante a sua tendência para
denegrir os comerciantes estrangeiros que vivem na Guiné, sabem, dali em diante, que estes farão bloco com eles, em caso de
ataque. Franceses ou não, a maior parte dos europeus fazem e sempre farão fogo a seu lado, e já não se contará, durante trinta anos, o número de acções em
que existe uma
frente comum de Marte e de Mercúrio contra os Africanos. Melhor ainda, com muita frequência,
serão os civis franceses que censurarão às autoridades (e aqui, elas são sinónimos de militares) mostrarem-se
demasiado benevolentes para com a impudência do gentio, subentendendo com isso que as coisas se
passariam diferentemente, se a Guiné se tornasse senegalense.
Mal conhecida e sobretudo mal apreciada (47),
esta vitória portuguesa em Buba que, pela sua data, pela sua amplitude
e
pelos
seus
efectivos envolvidos, noutras colónias, teria
sido engastado em alfinete, aqui nem sequer
releva quem é o seu artesão. Com dificuldade se soube
que o capitão Carlos Maria de Sousa Ferreira Simões, que comandava a guarnição,
prostrado pelas febres (48), tivera de
confiar a defesa a um subalterno, cuja identidade continuou duvidosa (49).
(39) A. de Barros: «A praça e porto
de Buba no Rio Grande de Bolola», As Colonias
portuguezas, 1º Anno, nº 5, 1 de Maio de 1883, p. 51.
(40) Segundo Ramos da Silva: op. cit.p. 340.
(41) C. Doelter: Über..., op. cit., pp. 106-107. A. de Barros: «Buba. O
estabelecimento
portuguez
no Rio Grande de Bolola», As Colonias portuguesas, 1º Anno nº 8, 1 de
Maio de 1883, p. 86 fala de 150 homens de «guarnição activa». Apesar de tudo, é
pura e simplesmente a «fronteira», no sentido mais forte, e Doelter que vem ao Rio
Grande de Buba/ Bolola, de onde esperava alcança o Futa-Djalon, mais que não poderã
transpor o paiís biafada em luta contra os Fulas, refere-se explicitamente ao Far-
West. Com a sua cintura de árvores mal podadas, os seus quartéis inacabados,
os seus dois comerciantes franceses (dos quais um é conde, real ou não, mas comerciante),
o seu capelão, etc, Buba faz lembrar um Forte Laramie cercado, onde o papel dos
índios a cavalo seria desempenhado pelos Futa-Fulas e o dos Federais por
vagabundos angolanos e cabo-verdianos de uniforme.
(42)
Segundo Paul Marty: L'lslam en Guinée. Fouta-Diallon. Paris, 1921, p.
39. Segundo este autor, o Labé torna-se sob o seu reino praticamente
independente do poder
central
em Timbo. E, quando falamos na «política do Futa-Djalom» na Guiné, será mais
correcto dizer «política do Labé».
(43)
A identidade deste Galembert é bastante obscura. Um autor anónimo faz dele um
«marquês» em 1878, preso pelo comandante militar de Buba por fazer uma proganda
anti-portuguesa junto dos régulos. Este autor amargo, muito hostil aos Franceses
da Guiné, parece associá-lo a Aimé Olivier e vê nele um agente político. Talvez
seja verdade, mas em benefício de quem? De Olivier, o construtor de impérios,
ou da França? (Anónimo: «Cartas do Ultramar. Guiné portugueza», As Colonias portuguesa, Anno VI,
nº 15-16, 31 de Agosto de 1888, p. 100). C.
Doelter não fala de nenhum Galembert em Buba, mas de um conde de M.
Ver René Pélissier: «Peuls et Portugais en guerre. Un témoignage allemand
(1881)». Trabalho inédito no momento da redacção da presente obra.
O
autor anónimo, anteriormente citado, relata um incidente bem posterior (1888) no
Rio Pongo (futura Guiné francesa), onde as tripulações de quatro embarcações de
Bissau (grumetes provavelmente), vindas para
comprar nozes de cola, são presas e leva das para Dakar, sendo
os seus navios ulteriormente vendidos na Goreia. Sem nos rronunciarmos sobre a
equidade do processo, constatamos que, numa data tão tardia como 1888, a
cabotagem guineense para o Sul ultrapassa amplamente o Cabo Verga, limite putativo
da Guiné até 1886.
(44)
C. Doelter: Uber..., op. cit. p. 112.
(45) A. de Barros: «A praça...», op. cit.,
p. 51.
(46) João Barreto: op. cit., pp.
300-301
(47) Ignorada de Joye Bowman Hawkins: «Conflict...», op. cit., passim!, e aparentemente
dos autores franceses ou francófonos (C'f. Thierno Diallo: Alfa Yaya. roi du Labé
(Fouta-Djalon). Paris-Dakar, 1976, que só faz intervir a Guiné no final da carreira do seu herói, depois de as suas terras ocidentais se tornaram guineenses, em 1905. Idem , p. 47, p. 51).
(48) C. Doelter: op. cit., p. 106.
(49) Talvez se trate do tenente ou do alferes Manuel Pedro da Fonseca (Ramos da Silva: op. cit., p. 340) ou M. Pedro dos Santos (João Barreto: op. cit., p. 301).
René
Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia
1841-1936, Volume
I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp.
193-196
1881/03/10
Louvados os alferes JERÓNIMO VIEIRA e FRANCISCO MARQUES GERALDES pelo valor e brio com que repeliram os gentios Fulas c Fula-fulas que atacaram a praça de Buba em 1 de Fevereiro.
1881/07/03
Tratado de paz com os régulos Fulas-forros e Futa-fulas do Forreá e do Fula Djalon (B. O. n.º 12/1RS1).
1881/11/23
«A vitória dos Biafadas contra os Portugueses: Jabadá (23 de Novembro de 1881)
No entanto Agostinho Coelho não vai partir suportado por uma vitória, mas muito pelo contrário. A sua súbita vontade de governar o sertão implica, para os militares, inevitáveis ingerências entre etnias. Melhor ainda, parecem querer recuperar o seu atraso no domínio
No entanto Agostinho Coelho não vai partir suportado por uma vitória, mas muito pelo contrário. A sua súbita vontade de governar o sertão implica, para os militares, inevitáveis ingerências entre etnias. Melhor ainda, parecem querer recuperar o seu atraso no domínio
da «política indígena». Em que medida a política pró-fula de Agostinho Coelho está na origem de um acidente grave com os Biafadas? Se bem que maltratados pelos referidos Fulas, não são inimigos para desdenhar, como se vira em Junho de 1861, no Badora, com o governador Zagallo. Diz-se que eles se batem mal, mas que visam bem. Presentemente, os Biafadas teriam atacado Fulas protegidos pela Administração, em frente de Bolama. Para salvar as aparências, Agostinho Coelho teria ordenado ao comandante militar de Bissau que fosse recuperar os 35 prisioneiros fulas e o saque, conservado na principal aldeia dos Biafadas, em Jabadá, no rio Geba, que se pensava conter mil combatentes. Partindo de Bissau, a 11 de Novembro de 1881, o capitão Pedro Moreira da Fonseca, de quem se voltará a falar em 1891, em Bissau, leva 51 atiradores, doze artilheiros e dois canhões. Postados numa ponta (Ponta São Francisco) a Leste de Jabadá, os Portugueses esperam que os Biafadas iniciem negociações. Na verdade, as discussões depressa degeneram num ataque em que os Biafadas são postos em fuga.
A 23 de Novembro, Pedro Moreira da Fonseca marcha sobre Jabadá com os seus homens, reforçados com quarenta grumetes de Bissau e trabalhadores mandingas de quatro pontas, armados pelos seus patrões. A tropa será interceptada antes de chegar à aldeia, perdendo um soldado e um grumete, o que desmoralizará os auxiliares e os regulares. Na confusão, os Biafadas cairão sobre esta horda confundida, que terá de retirar, deixando atrás de si três atiradores e um sargento, considerados como desaparecidos (60). Outros números: um sargento e seis soldados mortos (61). Foi por pouco que o capitão Pedro Moreira da Fonseca evitou um segundo «desastre de Bolor», porém este recuo, diante dos Biafadas, teve uma profunda repercussão e anulou as vitórias em Buba e no Forria. Refugiada na Ponta São Francisco, a tropa receberá a visita do governador (25-30 de Novembro de 1881), sem que se saiba bem se se manterá no local esperando reforços. Na outra margem os Balantas também não estão seguros.
(60) Muitas vezes esquecido, este caso é principalmente conhecido graças a Ramos da Silva: op. cit., pp. 341-342. Nem uma palavra em João Barreto: op. cit., e entre que os que o copiam. Segundo uma óptica anti-portuguesa, que deve ser o reflexo, em nossa opinião, dos comerciantes franceses de Bissau e de Bolama, o chefe da missão de delimitação franco-portuguesa de 1888, o capitão Henri Brosselard, relata que a coluna deixou um grande número de soldados angolanos prisioneiros e que apenas ficou a dever a sua salvação à valentia dos grumetes de Bissau (H. Brosselard: La Guinée portugaise et les possessions françaises voisines. Lille, 1889, p. 23). Mutismo completo sobre estes prisioneiros, reais ou não, nas fontes impressas portuguesas nossas conhecidas.
(61) Fausto Duarte (Ed.): «A Guiné...» op. cit., p. 472.»
René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp. 199-200
1881/12/16
PEDRO INÁCIO DE GOUVEIA é governador da Guiné 1º Mandato. Capitão-tenente, conselheiro, nomeado em 10 de Novembro de 1881, tomou posse em 16 de Dezembro. Foi exonerado a seu pedido, em 26 de Dezembro de 1884.
Numa tentativa de
afirmação da soberania portuguesa, verifica-se então o inicio de acções
militares punitivas contra os papeis em
Bissau e no Biombo (1882-84), os balantas em Nhacra (1882-84), os manjacos em
Caió (1883) e os beafadas em Djabadá (1882). A estratégia colonial passa
igualmente por uma segunda vertente: o apoio sistemático com tropas e armamento
a uma das partes dos conflitos indígena, o gue se passa em 1881-82, com o apoio aos fulas-pretos do Forreá na sua luta com os
fulas-forros. Os focos de contestação e a rebelião permanente e conseguente
dos diversos grupos étnicos fez com que o
poder colonial se limitasse ao controlo de algumas praças e presídios (Bissau,
Bolama, Cacheu, Farim e Geba). Paralelamente, começa a instalação de propriedade de colonos ou de luso-africanos em várías explorações
agrícolas de grande dimensão (pontas) inicialmente dedicadas ao cultivo da
mancarra.
1882/00/00
«O dominio portuguez n'esta parte occidental
da Africa estende-se a 62.000 km2, isto é, acha-se reduzido a pouco mais da quinta parte da antiga Senegambia
portugueza... A sua população deve ser muito mais de 2,5 milhões…»
M. M. de Barros: «Guinê portugueza ou breve noticia sobre alguns dos seus usos, costumes, linguas e origens de seus Povos», B.S.G.L., Vol. IlI, nº 12, 1882, p. 708.
Apud René Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia
1841-1936, Volume
I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.
179
1882
-Resistência dos Beafadas de Jabadá contra a penetração portuguesa.
☻
Numa segunda fase aos colonos e escravos, juntaram-se degradados banidos de
Portugal por crimes, questões políticas ou religiosas e judeus expulsos pela
inquisição. (sabe-se que, de 1802 até 1882, foram degredados de Portugal para o arquipélago 2433) (CARREIRA,
1983).
-
Os portugueses organizam uma coluna militar contra os beafadas de Jabadá (fevereiro).
-
Os portugueses fazem um tratado com Bambi Jai, régulo beafada de Jabadá e com o
régulo de Gam-Pará.
-
Os fulas forros atacam as feitorias do Río Grande.
-
Coluna militar contra os fulas forros ( 18/06).
-
Tratado com o régulo fula preto de lndomi, Demba Alfa Bacar (30/06).
-
Coluna militar contra a tabanca de de Cadíca, habitada por nalus (julho).
-
Coluna militar contra os fulas forros de Mamadi Paté.
-
Os portugueses fazem um tratado de paz com os régulos do Forreá: Bakar Kidaly,
Mamadi Paté e Baró Quentó Balanco (27/10).
-
Os fulas pretos, chefiados por Densá, atacam a feitoria de S.Belchior (março).
-
Campanha militar contra os balantas de Nhacra (05/07).
1882/01/31
Louvado o major GERALDO ANTÓNIO VÍTOR comandante da
força encarregada de bater os Beafadas de Jabadá, os oficiais e demais
praças de pré pela maneira como souberam cumprir o seu dever. As operações foram primeiro comandadas pelo
capitão CARLOS MARIA DE SOUSA FERREIRA SIMÕES.
1882/02/11
«Durante
o ano de 1882 foram batidos os biafadas
de Jabadá, que em Janeiro dêsse ano haviam
incomodado as nossas fôrças. Em resultado da campanha· empreendida sob o comando do capitão Carlos Maria de Sousa Fierreira Simões, foi celebrado o tratado de paz e obediência, em 11 de Fevereiro, a
bordo do vapor Guiné, onde se encontravam o governador da colónia, Pedro Inácio de Gouveia, o 2.º tenente Francisco
Vieira, comandante do vapor, e os oficiais Boaventura Ribeiro da Fonseca e Jerónimo Vieira Magalhães.
No mesm.o· dia, foi
também assinado um auto de obediência da parte do régulo de
Gam-Pará.»
João Barreto, HISTÓRIA
DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg.
304
Tratado de paz, amizade e obediência com o régulo beafada
de Jabadá,
Bambi Jai e com o régulo de Gam Pará (B. O.
11.0 10/1882).
1882/06/30
«Em 30 de Junho, no presídio de Geba, prestou o preito de vassalagem o régulo fula-preto, Dembel, do Indornal
No mês de Julho, com o auxílio do vapor Guiné, deu-se um ataque à tabanca de Cadica, habitada por nalus.» João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 304
Tratado de paz e obediência do régulo Fula-preto de Indomá, Dembem Alfabacar (B. O. n.º 26, 1882).
1883/09/28
É derrotado
por uma força militar o régulo Fula-forro
Mamadi Paté.
1882/10/03
Tenente-coronel FRANCISCO JOSÉ ROMA, comandante do
Batalhão de Caçadores n.º 1, louvado pela maneira brilhante como hateu as
tabancas de Marnadi Paté, no Forreá. Por decreto de 1 de Dezembro de 1882 foram condecorados o comandante FRANCISCO JOSÉ ROMA e o tenente VENTURA DUARTE BARROS DA
FONSECA, com os graus de Cavaleiro da
Torre e Espada e o capitão PEDRO MOREIRA DA FONSECA com ograu de Cavaleiro da
Ordem de Cristo.
1882/10/27
Tratado de paz, obediência e vassalagem do régulo de Forreâ,
Bakar Kidaly e chefes Fulas-forros Mamadi Paté e Baró Quentó Balanco.
1882/07/04
Louvado o comandante desta força, capitão CAETANO
FILIPE DE SOUSA, o capitão ANTÓNIO JOSÉ MACHADO, o tenente JOAQUIM ANTÓNIO DO
CARMO AZEVEDO, o alferes HEITOR ALBERTO DE AZEVEDO, o facultativo DAMASCENO
ISAAC DA COSTA, o furriel de artilharia JOSÉ MANUEL RODRIGUES, o soldado
ANTÓNIO HENRIQUESpela maneira como se portaram nessas operações dando ataque à grande tabanca de Cadica
(Nalús).
1883
1883 - A povoação de S. Belchior é atacada por Fulas-pretos, comandados por Densá. Lutas entre Portugueses e Balantas na região de Nhacra.
1883
1883 - A povoação de S. Belchior é atacada por Fulas-pretos, comandados por Densá. Lutas entre Portugueses e Balantas na região de Nhacra.
1883/03/00
«Os
conflitos intra-fulas no Forria
Em compensação, o governador Gouveia decide encontrar uma solução para o
problema do Forria. É o mais urgente, pois que as pontas vêem o seu comércio
paralizado pelas desordens. Mais perspicaz ou melhor informado que Agostinho
Coelho, pró-Fulas-Pretos até ao exagero, Gouveia compreende que se trata, acima
de tudo, de um conflito social entre os senhores de ontem, os Fulas-Forros e os
seus (ex-) escravos, os Fulas-Pretos que, até aqui, beneficiaram do apoio
português. Papel raro para os Portugueses em África, o mastro da bandeira em
Buba passou a ser o símbolo da emancipação e, quase todos os dias, refugiados
fulas-pretos vinham ou vêm abraçá-lo para acentuar, assim, que romperam com os
seus antigos opressores. Para manter um ar de calma, a solução do governador
consistirá em separar geograficamente os Fulas-Forros dos Fulas-Pretos, mesmo reactivando
as trocas; mantendo os Fulas-Forros no Forria, espera reconquistar para Buba o
comércio do Labé e do resto do Futa-Djalon e, ordenando expressamente aos
Fulas-Pretos para se reinstalarem no Corubal ou, muito mais longínquamente, no
Firdu (ou Fuladu) no Alto-Casamansa (92), conta voltar a dar vida a Geba e a
Farim (93). Mas o acordo não se mantém e os Fulas-Pretos regressam a Bolola e, ven doisto, os Fulas-Forros,
sob o comando de Bakar Kidali, obtêm autorização dos Portugueses para os desalojar. Estando em desvantagem, os Fulas-Pretos locais refugiam-se numa tabanca perto de Buba e, derrubando
as velhas alianças, os Portugueses do posto, intimam-nos a partir para o Norte, sob pena de os mandarem
expulsar pelos Fulas-Forros (datas desconhecidas). Questão má
para os Fulas-Pretos, que voltam a subir em direcção ao Corubal, lançando-se em incursões de rapina que só conhecemos quando são dirigidas
contra um ponto português. E é o que acontece no começo de Março de 1883: o velho estabelecimento abandonado de São Belchior
dependendo, nominalmente, de Geba, é posto a saque por Fulas-Pretos, comandados por Densá (Deusá, Dansá ou Dansó Demba)
filho do rei do Firdu (ver a seguir). Aprisionam 12 grumetes, homens e mulheres.
Os primeiros
choques entre o Firdu e
os Portugueses
É evidente que, enquanto os assassínios e os raptos se limitam
ao gentio, os Portugueses não reagem muito.
Mas, «cristãos», os grumetes são eleitores que não se podem deixar capturar e vender em escravatura
impunemente, mesmo em pontos abandonados. Densá, aliás, sai-se muito mal
quando vai oferecer ao alferes Francisco A. Marques Geraldes (transferido do Casamansa para Geba) gado apanhado em São Belchior. Este oficial enérgico - que se ganharia em conhecer melhor (94), porque
parece ser um precursor daqueles a que chamamos Centuriões
em
Moçambique - recusa o presente, exige a libertação dos cativos, obtém a
de dez homens, mas chega demasiado tarde para a de duas mulheres. Provavelmente,
para as trocar na Gâmbia por cavalos, Densá mandou-as partir para o Firdu (ou Fuladu), no
Alto-Casamansa. O que é portando o Firdu?
(92) Por que não no antigo Gabu, mais próximo?
(93) Ramos da Silva: Ob. Cit., p. 348. Farim caiu numa
decrepitude económica momenrâhea, tcndo-se retirado as grandes casas francesas
e desviando-se as caravanas em direcção a Sedhiou (A. de Barros: «A força
armada na Guiné», As Colonias Portuguezas, 1.º anno. n.º
1, 1 de Janeiro de 1883. p. 5). O autor deste texto preconiza um redesdobramanto
irrealizável das guarnições (abandono de Bissau à segunda linha grumete, instalação
em Bolor. Etc.!
(84) Viram-no em Ziguinchor em 1882, porém era igualmente alferes na guarnição de Buba que repeliu Yaya a 1 de Fevereiro de 1881.
René
Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia
1841-1936, Volume
I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, pp.
210-211
Ataque dos Fulas-forros a S. Belchior.
«No ano
de 1883 no mês de Março a povoação de S. Belchior foi atacada pelos fulas-pretos, capitaneados por Densá, que destruíram as casas e
aprisionaram os moradores cristãos.
Por conselho do allferes Marques Geraldes, comandante
de Geba, Densá mandou apresentar no presídio os
prisioneiros, talvez para não comprometer o seu pai, régulo
Dembel, que no ano anterior havia prestado obediência ao govêrno português.
O régulo deu satid ações procurando desculpar os excessos do filho
e mandou entregar uma pequena quantia em dinheiro como indemnização pelos
prejuízos causados.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 304
1883/04/05
Tratado de paz com Adju Pumol, régulo das ilhetas; foram louvados os
oficiais que nele intervierarn, capitão
CARLOS MARIA DE SOUSA FERREIRA SIMÕES, 2.° tenente EUGÉNIO SOARES ANDREA e
guarda-marinha AUGUSTO EDUARDO NEUPART e o capitão de 2." linha ESTÊVÃO
ANTÓNIO TAVARES. O tratado foi publicado no «Boletim Oficial» n.º 23/1883.
1883/06/23
Campanha contra os Balantas de Nhacra, sendo louvados os
capitães CARLOS MARIA DE SOUSA FERREIRA SIMÕES, CAETANO FILIPE DE SOUSA (este capitão acabou
por morrer em Bolama em 1886 evido a ferimentos sofridos em campanha) e
ALFREDO BALBINO ROSA e os comerciantes César Medina e a casa Blanchard e Olivier.
1884/00/00
1884-
Resistência das tabancas de Jebelor, Jebocuer e Bori, contra
uma coluna portuguesa capitaneada por António Machado. Os
Felupes aprisionam uma chalupa portuguesa em Boqué.
- Campanha mililar contra as tabancas de Jebelor, Jebecuer
e Bori, nas imediações de Ziguichor (1 a 16 de abril).
- A canhoneira portuguesa Bengo bombardeia Biombo,
seguindo-se o desembarque e destruição da tabanca de Silho.
- Coluna mililar de 300 homens contra a labanca de Cacanda.
Os ocupantes usam pela primeira vez as modernas espingardas Snider's o que lhes
permile uma vilória fácil (28 e 29/06).
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