sábado, 9 de abril de 2016

COLONIZAÇÃO DA GUINÉ 1740-1759


1740/00/00
Navios americanos começam a escalar regularmente Cabo Verde, em busca de provisões. Antes de 1750, muitos dos tripulantes dos navios baleeiros de Nantucket eram cabo-verdianos. Inicia-se um fluxo de emigração exclusivamente masculina para a América.
1740/04/04
O Estado, sabiam-no bem os terratenentes, não tinha meios efectivos de controlo e fiscalização do territórioComummente estas tarefas estavam entregues à milícia local, na qual os latifundiários ocupavam geralmente cargos de coronel, capitão e sargentos-mores, facto que, evidentemente, debilitava a eficácia de qualquer acção repressiva passível de ser posta em acção pela Coroa.
A 4 de Abril de 1740, o ouvidor-geral das ilhas informou o Reino que alguns capitães de navios ingleses estavam a negociar no Tarrafal e na Praia Formosa, sitos na costa leste de Santiago, e que ele, sabendo do facto, havia «mandado alguns oficiais àqueles sítios  para evitarem o referido».Contudo, perante a reacção dos contrabandistas, «elles lhe atiraram com artilharia com balas e mais armas de fogo», nas palavras do magistrado, os oficiais com medo puseram-se em fuga. Pressente-se memo das fontes oficiais que havia todo um conjunto de cumplicidades entree os membros das milícias, as populações e os comerciantes estrangeiros.
Ademai muitos oficiais do exército miliciano encontravam-se eles próprios envolvidos na venda de panos e de urzela aos navios ingleses. Isso não só nos portos recônditos mas também na própria vila da Praia de Santa Maria, o mais frequentado dos portos cabo-verdianos de então.
1740/08/00
Uma carta escrita em meados do século XVIII pelo traficante inglês George Hamilton, atuante na África Ocidental, reconhecia que o tráfico institucionalizava o sistema de guerras entre os africanos como fonte de abastecimento de escravos. Enviada ao seu sócio na Inglaterra, em Agosto de 1740, a carta continha uma versão sobre o resultado (nem sempre favorável a todos os traficantes) dos conflitos étnicos e sua importância para o tráfico:
«Sofremos um grave revés no nosso negócio. A partir do momento em que os fantis entraram em guerra contra os elmines, nenhum homem sensato, conhecedor da costa, poderia esperar outra coisa. Todos os circuitos comerciais estavam bloqueados; só havia raptos e rapinas. Se os fantis tivessem vencido, teríamos certamente obtido, à nossa conta, 800 ou mil escravos em condições muito vantajosas: mas, como foram derrotados e mesmo obrigados a fugir, tivemos prejuízos realmente consideráveis, pois eu tinha sido extremamente generoso com os chefes a fim de obter deles a garantia de, no seu regresso, me concederem a prioridade na escolha dos escravos que trouxessem da guerra.» (1)
(1)  Apud INIKORI, Joseph E. "O tráfico negreiro e as economias atlânticas de 1451 a 1870". ln: Unesco. O tráfico de escravos negros - séculos XV a XIX. Lisboa, Edições 70, 1981, p. 95.
1740/12/22
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei [D. João V] sobre carta do capitão-mor da praça de Cacheu, DAMIÃO DE BASTOS, de 26 de Agosto de 1739, dando conta da presença de duas balandras francesas na ilha de Bissau para comerciar, tal como já vinham fazendo todos os anos e informando dos rumores que circulavam de que os franceses pretendiam regressar em Janeiro de 1740 para levantar uma fortaleza; tendo também em atenção a carta do mesmo capitão-mor de 6 de Abril de 1740 sobre a matéria.
Anexo: cartas e consultas (cópia).
AHU-Guiné, cx. 7, doc. 11 e 3; cx. 6, doc. 118.
AHU_CU_049, Cx. 6, D. 585.
1741/00/00
NICOLAU DE PINA ARAÚJO é capitão-mor de Cacheu substituindo MANUEL PIRES
1741/02/23
Desembarcaram em Cacheu os náufragos da cor­veta «S. Sebastião», onde viajava o bispo de Cabo Verde, D. FREI JOÃO DE FARO, em compa­nhia de vários franciscanos, seculares e presbíte­ros de hábito de S. Pedro, tendo sido aprisiona­dos pelos Felupes, O capitão-mór de Cacheu obteve o resgate do bispo, que morreu em viagem, de regresso a Cabo Verde.
«Em 14 de janeiro de 1741 seguiu D. Fr. João de Faro para a soa diocese na corveta S. Sebastião e Almas, sendo acompanhado até as Canarias pela frota da Bahia e Pernambuco, da qual era commandante D. Manuel Henriques de Noronha.
O dr. Antonio Martins Pereira, secretario do bispo, testemunha ocular da desgraçada viagem d'aquella corveta desde as Canarias até que se foi desfazer nos baixos de S. Pedro, em Casamansa, e dos martyrios que soffreram no mar e em terra com os gentios Felupes de Jambarem, narrou esse triste aconteclmenlo da fórma seguinte:
“Partiu o bispo de Lisboa em 14 de janeiro de 1741, na companhia de dezesete presbyteros do habito de S. Pedro, mandados por Sua Magestade; sete religiosos da Provincia da Soledade e dois da Piedade; Fr. Manuel de Evora, seu confessor, e um outro Fr. Manuel de Evora, religioso leigo, e um sobrinho do bispo e seis seculares da sua familia, que com os passageiros faziam sessenta e sete pessoas, na corveta S. Sebastião e Almas, capitão Matheus Francisco.
“Até as Canarias foi a corveta acompanhada pelas frotas da Bahia e Pernambuco, que não foi até Cabo Verde, tendo o bispo pedido licença para seguir sem a sua guarda, por saber que estava livre do perigo dos mouros e saletinos.
“Hove então salvas de despedida, seguindo a corveta só. A 2 de fevereiro varou a ilha, e no dia 5, reconhecendo o capitão o erro, dirigiu-se para a Serra Leoa, a pedido do bispo, porque desejava visital-a por ser da sua jurisdicção.
“Proximo da costa resolveram todos ir para Cacheu, por ser o mais principal de toda a Guiné, indo avistar uns baixos do Casamansa, apesar do muito nevoeiro que fazia.
“Fundeou o piloto no dia 21 de fevereiro, pelo meio dia, para reconhecerem a terra, e alli se conservaram até 22, velejando de manhã, fundeando só meio dia, indo o capitão n'uma lancha para vêr se reconhecia a terra, o que não lhe foi possivel por haver muitos baixos que arrebentavam.
“Na noite de 22 de fevereiro, mar de rosas, calma, seriam uma para duas horas bateu no fundo a corveta, e prumando-se encontrou duas braças quando estavam em quatro. Desfez-se a corveta no meio de grande arrebentação.
“Na lancha saltaram onze pessoas, incluindo dois religiosos da Soledade, Fr. Estevam de Teixoso e Fr. Antonio de Figueiró, dois clerigos P.es Caetano José e Manuel Soares, e sete marinheiros que remavam, indo parar a Cacheu.
“O bispo foi maltratado pelas ondas que entravam no navio, levando-o aos tombos de um e outro lado, deixando-o em estado miseravel.
“Alguns mais corajosos tiveram que deitar-se a nado para irem buscar os mastareus que tinham ido ao mar, e com tanta felicidade que trouxeram quatro paus, que foram amarrados uns aos outros, em fórma de jangada, e n'elles se assentaram quarenta e nove pessoas, entre estas o bispo, sete religiosos, quinze clerigos e mais seculares, capitão, piloto, contramestre, escrivão, etc., etc.
“Com o peso, porém, de tanta gente apenas se viam as cabeças de cada um.
“Largaram o casco do navio uma hora antes do sol nascer do dia 23 de fevereiro, e sujeitos ás marés de vasante e enchente avistaram umas arvores de extraordinaria grandeza ao meio dia; iam arrastados pela enchente e approximavam-se a pouco e pouco de um grande baixo, e uma vez junto d'elle desatou-se um dos paus, indo ao mar muita gente, entre a qual o bispo, que por não saber nadar deu uns poucos de mergulhos, até que conseguiu agarrar-se a um outro pau, ajudando-o a salvar o capitão.
•Assim mesmo morreram seis pessoas, dois religiosos da Soledade, Fr. Domingos do Sardoal e Fr. Luiz de Castello Branco, o padre Carlos Fernandes, um rapaz, um estudante preto e uma escrava do capitão.
“A enchente lá os foi levando para terra e aportaram á do gentio bravo de Casamansa. O bispo, amparado pelo seu secretario, Antonio Martins Pereira, chegou a terra vestido apenas com uma camisa, roupa que o cobriu durante o tempo em que esteve mettido na agua; contava já sessenta e cinco annos de edade.
“Pouco depois da uma hora da noite de 23 para 24, estando os náufragos mettidos no malto, viram-se cercados de negros armados, que os aprisionaram,obrigando o bispo a despojar-se da unica camisa. Os negros tomaram então conta dos naufragos, dividindo-os entre si, passando alguns em canôas, incluindo o bispo, para a outra margem do rio. Ahi deram-lhe uma camisa, mas fizeram-no passar pelas maiores torturas, levando-o descalço até Jambarém, povoação a duas leguas da praia.
“Esteve captivo setenta e oito dias em casa do negro Cambiça, juntamente com Fr. Manuel de Evora, leigo, Fr. Vicente de Castello Branco e mais dois clerigos.
“Ao cabo de oito dias de captiveiro appareceram duas lanchas de Cacheu, mandadas pelo capitão da praça, Nicolau de Pina de Araujo, que vinham saber se os naufragos eram mortos ou vivos, em vista das noticias que tiveram pelos onze que lá chegaram.
“Alguns dos naufragos passaram os gentios para Cabo Roxo, e pela segunda vez vieram as lanchas com fazendas para o resgate do bispo. Na lancha vinha o conego e visitador Bernardo Lopes Martins, que levava lambem fazendas para o mesmo fim.
“Aqui se demoraram as lanchas por não poderem passar a Jambarem por soprarem ventos contrarios, resgatando o capitão, e para a resgate do bispo trabalhou-se cincoenta e cinco dias, por o negro Cambiça, o mais terrivel e tyranno d'aquella tribu, não o deixar passar a Cabo Roxo, onde logo seria resgatado.
“Com grandes perigos passou a Jambarem o visitador, que levava as fazendas já pedidas pelo Cambiça, sem ohter resultado, e depois o mesmo aconteceu com o capitão Duarte José. Conseguiram, porém, libertar o bispo no dia 11 de maio, dando muita fazenda ao Cambiça, quanta elle exigiu.
“Partiu de noite de Jambarem a pé, descalço pelos areaes, e ás duas horas da noite chegou a Cabo Roxo, tres leguas de Jambarem.
“Alli o tomou a chalupa do capitão Manuel Clemente, irmão do capitão da corveta, e seguiu n'ella para Cacheu o bispo, acompanhado do visitador.”
Em 12 á noite chegou â barra de Cacbeu, indo logo visital-o o capitão-mór da praça, Manuel Pires, e outros, desembarcando a 13 e sendo muito saudado pelos moradores; recolheu ao bospicio dos reverendos padres e religiosos da Província da Soledade.
O capitão Nicolau de Pina mandou fazer com a possível magnificência uma solemnissima resta a Nossa Senhora das Mercês em acção de graças por tal resgate. Prégou o prelado.
Na praça demorou-se desde 13 de maio até 8 de julho, e melhorou muito de saude.
Os outros captivos foram resgatados, adoecendo todos, e morrendo os padres José Gomes, Antonio Vaz da Costa, e Fr. José do Bom Saccesso, leigo da Provincía da Soledade.
No captiveiro morreram ao desamparo dois brancos e o padre Manuel de Andrade, degolado pelo gentio.
O presidente do hospício de Cacheu, Fr. Manoel de Azurara, sabendo que em Jambarem estavam padres da Provincia da Soledade, pensou em ir resgatal-os; effectivamente foi para esse local, mas alli ficon tambem captivo, por ter encalhado a canõa, até ser resgatado por Fr. Manuel da Capinha, o qual indo a Jambarem levou os pretos a virem a bordo receber presentes, trazendo o Fr. Azurara, e logo que os apanhou mandou-os amarrar, libertando seu irmão.
Em 8 de julho partiu o bispo para S. Thiago, e dois dias depois faleceram os padres Manuel Rodrigues dos Santos e Fr. Antonio Figueiró dos Vinhos; em 18 Fr. Manuel Quintella, e estando o bispo a absolvel-o teve lambem uma febre muito intensa, obrigando-o a recolher ao beliche; morreu a 21..
Em 18 de junho o capitão·mór de Cacheu, Manuel Pires, narrou o precedente naufragio, e na mesma data o bispo, que dizia:
Buscando o piloto a ilha da Boa Vista, para melhor encontrar a ilha de S. Thiago, foram estas varadas, o que se conheceu só a 5 de fevereiro; então o piloto lhe dissera que estando n'aquelle ponto só o poderia levar para o Brazil ou Guiné, e preferindo elle este ultimo foi o piloto em busca de Cacheu.
Avistou-se terra junto de uns baixos, os de Casamansa, e não se poude distinguir que ponto era por causa do nevoeiro; assim fundearam em 21 de fevereiro, onde esteve até 22 de manhã, que o navio se fez á véla, fundeando ao meio dia.
Pelas duas horas da noite de 22 para 23 encalhou a corveta nos baixos, desfazendo-se em duas horas. Sabia n'uma jangada feita com quatro mastareus, com quarenta e oito companheiros, ao todo quarenta e nove; em uma lancha assentaram-se onze pessoas, e sete sobre dois pedaços do navio, da popa e prôa.
Em sete horas foi a jangada levada para cima de uns baixos, de que resultou desamarrar-se um dos paus, e indo ao mar a muito custo se salvou, ficando comtudo alli sepultados dois religiosos, um clerigo e mais tres.
Com a enchente foi levado para a terra do gentio bravo, onde foi captivo setenta e oito dias, passando mortificações corporais e necessidades crueisl entre os mesmos gentios; que foi resgatado pelas diligencias de Nicolau de Pina e Araujo, capitão; do visitador, o conego Bernardo Lopes Martins; e do capitão da corveta, Matheus Francisco.
É para estranhar que na lancha não houvesse um logar para o bispo, fugindo n'ella quatro padres, sem attenção alguma para com o seu prelado, e ainda mais para com um homem de 65 annos.
 O bispo foi de Cacheu para Cabo Verde, a 8 de julho, n'uma embarcação de que era mestre Braz das Candêas, o qual communicou á sua chegada a Lisboa que elle havia fallecido no mar ao cabo de treze dias de viagem.
Em um manoscripto encontramos informações ainda muito minuciosas sobre este acontecimento, que impressionou D. João V, pelo muito que estimava aquelle infeliz prelado, homem illustrado e virtuoso, razão por que tinha os títulos de seu conselho e de sumiller da cortina. Conseguira de El-rei tudo quanto pretendia para o bispado, não só ricos ornamentos e pontificaes para a Sé e provimentos para todas as egrejas, mas ainda ajuda de custo para os clerigos que o acompanharam.
No naufragio da corveta perderam-se os ornamentos, que os gentios aproveitaram para vestimentas.
Conta que o visitador conego Bernardo Lopes Martins, natural de S. Thiago, propondo-se a ir resgatar o bispo, buscou um salvo conducto de uns gentios mais mansos que communicavam com aquelles, e com animo intrepido foi solicitar o resgate. Houve, porém, difficuldades no ajuste, porque os gentios reconheceram que o bispo era homem principal entre os brancos. Depois do ajuste realisado, e em seguida á entrega, o gentio Cambiça descarregou sobre a face do prelado uma tremenda bofetada, dizendo-lhe que era para lembrança.
O bispo seguiu com o conego para Cacheu, vestido com uma lunica de Osoria, com as barbas crescidas até ao peito e coberto de bichos.
Agradeceu ao conego o beneficio da sua redempção, elevando-o ã dignidade de arcediago, vaga por morte de José Roballo de Gambõa, e também gratificou o padre Bernardo Rodrigues Pereira, natural de S. Filippe (Fogo), vigario na praça de Cacheu, nomeando-o cooego na vaga existente, por ter concorrido para o seu resgate, não só acompanhando o referido conego, embora não saltasse em terra, mas por ter apromptado o dinheiro, cinco mil cmzados, que elle tinha em sua mão, como testamenteiro do mestre-escola Antonio Henriques Leitão, e pertencente aos herdeiros d'este, para cuja satisfação o prelado passára lettras para Lisboa, as quaes não chegou a satisfazer por ter morrido no mar.» - 
Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte II, pgs. 285-289, Lisboa, 1900
«D. Fr. João de Faro, franciscano, nomeado em 6 de Junho de 1738 foi sagrado em 5 de Outubro. O novo bispo só embarcou com destino à sua diocese em 14 de Janeiro de 1741, na corveta S. Sebastião e Almas, em companhia de 17 presbíteros de hábito de S. Pedro e 9 franciscanos, mais I sobrinho· e 6 seculares da sua família.
TaIvez porque o capitão da corveta não conhecia bem a região, passou-se além das ilhas de Cabo Verde e, em 5 de Fevereiro, tendo-se reconhecido o êrro, resolveu o bispo ir à costa da Guiné que desejava visitar. Aproaram, por isso, em direcção a Cacheu.
Tendo avistado uns baixos do rio Casamansa, o barco fundeou, em 21 de Fevereiro, indo o comandante numa lancha fazer o reconhecimento da terra, o que não conseguiu por causa de muitos baixos que rebentavam. No dia seguinte, com surpresa de todos, a corveta encalhava, desfazendo-se no meio da grande rebentação.
Saltaram para a lancha 11 pessoas, 4 religiosos e 7 marinheiros que remaram para Cacheu. Os restantes 49 passageiros meteram-se numa jangada, deixando-se arrastar ao sabor das correntes.
A certa altura desprendeu-se uma parte da jangada e naufragaram 6 dos passageiros; os restantes conseguiram chegar a terra, onde foram aprisionados pelos indígenas felupes, na noite de 23 para 24 de Fevereiro. O bispo João de Faro, que contava 65 anos de idade, juntamente com alguns companheiros esteve prêso na casa do çhefe Cambiça, em Jamborém, a 3 léguas do Cabo Roxo. Ao fim de· 8 dias apareceram duas lanchas, enviadas de Cacheu pelo capitão-mór Nicolau de Pina Araújo, que conseguiram libertar uma parte dos naufragos. Para obter o resgate do bispo, que continuava cativo, veio de Cacheu o conego Bernardo Lopes Martins, que gastou 55 dias para conseguir a libertação, vendo-se na necessidade de satisfazer tôdas as exigências em dinheiro e fazendas do chefe Cambiça.
Chegou afinal a Cacheu em 12 de Maio e recolheu ao hospício dos franciscanos, onde esteve até 8 de Junho. Nessa data embarcaram para Cabo Verde, mas durante a viagem uma moléstia grave atacou os passageiros, não poupando o bispo, que veio a falecer em 21 de Julho de 1741.
Em Casamansa continuavam no cativeiro alguns religiosos; um deles foi degolado. O superior dos hospício de Cacheu, Fr. Manuel de Azurara, tendo. para ali seguido com o fim de proceder ao resgate, foi também aprisionado. Para o libertar dirigiu-se para o local outro religioso, Fr. Manuel da Capinha, que para conseguir o seu fim teve de se servir de um estratagema.
Pediu aos indígenas que viessem com o cativo a bordo da sua lancha receber os presentes e quando os viu dentro da lancha, tratou de os prender e fazer-se ao largo.
Para o resgate do bispo João Faro, o vigário de Cacheu Rodrigues Pereira (natural do Fogo) emprestou 5.000 cruzados pertencentes ao espólio do padre António Henriques Leitão, tendo o bispo passado letras responsabilizando-se pelo seu pagamento.
Com a sua morte inesperada, a divida não foi satisfeita e, por isso, os herdeiros do padre Leitão demandaram o depositário Rodrigues Pereira, que teria talvez de pagar aquela quantia se o terramoto de Lisboa, de 1755, não tivesse liquidado os processos pendentes.» 
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pgs. 419-421
1741/03/03
Alvará determinando que todos os negros que forem achados residindo voluntariamente em quilombo, sejam marcados num ombro com a letra F, e, se na ocasião de os marcarem, se verificar que já estavam marcados, então se lhes corte uma orelha.
Portugal, Torre do Tombo, Leis e ordenações, Leis, mç. 4, n.º 92.
Os quilombos eram entendidos pelo governo português em 1740, pelo Conselho Ultramarino como todo o agrupamento de negros fugidos, que passe de cinco, ainda que não tenham ranchos levantados em parte despovoada nem se achem pilões neles.
1741/06/21
Falecimento de D.FREI JOÃO DE FARO, bispo da diocese de Cabo Verde.
1741/09/15
«João Zuzarte de Santa Maria - nomeado por carta de 15 de Setembro de 1741 com sôldo de 2.400$000. A sua maior preocupação foi aumentar s seus rendimentos particulares com a venda de patentes de oficiais milicianos, para o que não duvidava exonerar uns, para logo a seguir nomear outros. Devido à faculdade concedida aos sargentos-mores e governadores de venderem as patentes, chegou a haver em Cabo Verde oficiais milicianos com 8 e 9 anos de idade. Para sindicar os actos dêste governadcr, fci nomeado o desembargador Custódio Correia de Matos, que chegou a Santiago em 21 de Abril de 1752, mas Zuzarte de Santa Maria havia falecido no mês de JaneiroJoão Barreto
1742/00/00
Surto epidémico em Santo Antão
1742/05/02
Tomada de posse de JOÃO ZUZARTE DE SANTA MARIA.
Gabriel Mariano, ao citar o bispo Português D. Frei Vitoriano, que viveu em Cabo Verde de 1688 a 1705, diz que: 
«JOÃO ZUZARTE DE SANTA MARIA viveu sempre em continuado concubinato com sua escrava por nome de Maria Sábado de quem teve dois filhos, e que tratava como legítimos. O governador levava o filho mais velho (mulato) à igreja e dando-lhe nela assento junto a ele, governador.A administração do governador Zuzarte não merece elogios, tendo ele sido aliás um homem muito cortês e afável, porém excessivamente ambicioso. Introduziu o condenável costume de os governadores cobrarem para si os emolumentos pelas patentes, que até ali pertenciam aos secretários e sargentos-mores das Praças, e por isso tinha maior interesse de mandar passar, a cada passo, novas patentes, dando baixa de posto a uns oficiais e nomeando outros. Levou em sua companhia um filho na qualidade de secretário e a quem nomeou sargento-mor para cobrar as patentes. Era um Nero para os soldados; á mais pequena falta applicava um castigo forte em dinheiro, ainda mesmo que a falta fosse pequena ou justificada. Por esta forma aquelle governo era uma mina preciosíssima! As fortificações, construidas pelos seus escravos com barro e agua salgada, desfaziam-se ás primeiras chuvas, havendo assim perpétuos trabalhos, e recebendo elle os jornaes dos seus trabalhadores. Viveu sempre em boa camaradagem com as suas bonitas escravas, das quaes teve muitos filhos, e como bom pae e religioso os levava á missa, aos domingos, dando-lhes logar de honra, junto de si, no sitiati Greou muitos empregos pelas ilhas para poder arranjar dinheiro com as patentes que passava. Entre este governador e ouvidor geral INNOCENCIO ALVARES DA SILVA houve graves dissidências» fazendo-lhe este justas recriminações, em vista do que, tendo el-rei nomeado o desembargador GUSTODIO CORREIA DE MATTOS syndicante da real fazenda de Gabo Verde e do governador Zuzarte, aproveitou a occasião de o encarregar de tirar também residência ao mesmo governador sobre os pontos da accusação do ouvidor: dos descaminhos que commettera o feitor de S. NICOLAU ESTEVAM SPENCER, nomeado pelo governador; concerto da camará da vila da Praia; sobre a morte feita a LEÃO PEDRO DE  CASTRO, mandado assassinar pelo governador; sobre a violência que os rendeiros usavam para eom oi moradores da ilha Brava; sobre a élevação que se intentou contra o capitâo-mór do Fogo CAETANO DE MELLO E ALBUQUERQUE, e ainda «sobre o dito govemador não cuidar das fortificações. O syndicante chegou á ilha de S. Thiago só em 21 de abril de 1752, mas já fallecera o governador Zuzarte em janeiro do mesmo ano. Não sabemos se existem hoje descendentes daquella gloriosa falange de formosas escravas. Morreu em Janeiro de 1752.»
1743/02/17
Sagração de D.FREI JOÃO MOREIRA como bispo da diocese de Cabo Verde. Chegou em 1744 e tomou posse a 29.05.1744.
1743/05/04
Inocêncio Alvares da Silva provido ouvidor em 4 de Maio de 1743, com ordenado de 800 :ooo réis além de 200:000 réis de ajudas de custo; tomou posse em 29 de Maio do ano seguinte.
1745/11/00
«Já tivemos occasião de nos reíerirmos a uns tumnltos havidos no Fogo entre o capitão-mór e os officiaes da companhia da Nobreza, relatados por aquelle em novembro de 1745, e n'esse mez succedidos.
Queria o capilão-mór passar-lhes revista, intimando a todos a comparência na casa da sua residencia; á hora marcada appareceram todos, á excepção de um, que só chegou mais tarde. Durante esse tempo de espera, como não houvesse attenção alguma do capitão-mór para com aquelles officiaes, que ficaram á porta da rua, de pé, sem os mandar entrar, exasperaram-se alguns, e entrando em tumulto travou-se logo conflicto.
Segundo a accusação eram os mais culpados: Filippe Correia e seu irmão Antonio Barbosa Aranha, Leão de Barros, Antonio F'rancisco Vieira, João Vieira da Cruz, Estevão Pereira de Mattos, e outros de que não foram citados nomes, induzidos todos pelo padre lgnaclo Mendes Rosado.
O governador, mandado ouvir, respondeu em carta de 28 de julho de 1748 que assistia em S. Tbiago e por isso não sabia de certeza o que alli se passára, mas por pessoas fidedignas constou-lhe que o padre Mendes Rosado mantinha grandes amizades com os cinco primeiros e estes seguiam os conselhos d'elle.
O Conselho ultramarino, em seu parecer de 16 de abril de 1749, manifestou-se a favor do capitijo-mór, votando que os seis mais culpados fossem castigados por algum tempo, sendo mandados para outra ilha, e os mais reprehendidos.
Pela resolução régia de 21 de abril foi ordenado, porém, que aquelles seis homens fossem chamados â presença do governador para os reter presos na cidade pelo tempo de seis mezes, e passados estes deixasse recolher ás suas casas os que elle visse com menos culpa, continuando a reter os outros pelo lempo que lhe parecesse, mas não excedente a um anno, e todos fossem adverlidos sobre o respeito com que deviam tratar o capitão-mór. Estes castigos foram applicados pela carta régia de 22 de agosto de 1749.» -

Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte II, pg. 302, Lisboa, 1900
1746/09/18
«Não obstante as nossas autoridades terem abandonado· a povoação de Bissau desde 1708, e destruido o primitivo forte, a influência portuguesa mantinha-se no canal de Geba, graças sobretudo à oposição feita pelos papéis às tentativas francesas.
É possível que os protestos de amizade do .régulo Incinhate pelo nosso Govêrno não fôssem muitos sinceros e que a sua atitude de oposição aos franceses tivesse apenas por fim defender a sua própria independência, tanto mais que, depois da retirada das nossas autoridades, ficava com inteira liberdade de acção. Seja como fôr, a sua atitude correspondeu durante algum tempo aos nossos interêsses.
Em 18 de Setembro de 1746, faleceu êste régulo e pouco depois o ·capitão-mor de Cacheu voltava à carga lembrando a conveniência da reocupação de Bissau e comunicando que havla grandes esperanças de o novo rei se baptizar, e êste lhe mandara dizer que os franceses haviam ali entrado e queriam alevantar uma fortaleza no ilheu do Rei. O mesm'o rei pede para se lhe mandarem uns vestuarios ... » (S. B.).
Em Portugal, porém, os Procuradores da Fazenda, o Conselho Ultramarino e o Monarca continuavam a manifestar-se contra a idea da reconstrução da fortaleza. O Procurador da Fazenda, informando sôbre o assunto, dizia que não se devia levantar de novo a fortaleza ...
Por seu lado o Conselho Ultramarino declarava que a fortaleza de Bissau havia sido demolida porque Cacheu não tinha rendimentos para a sustentar, porem, era facto, por outro lado, que os direitos dos escravos, aliaz importantes, se estavam perdendo.
Querendo El-Rei mandar reedificar a fortaleza para se facilitar a extracção de escravos de grande utilidade para o Brasil, tornava-se preciso mandar um engenheiro com patente de capitão-mor e promessa de que findos os trabalhós se lhe daria o governo de Cabo Verde.
A resolução do problema foi adiada e o desinterêsse do governo de D. João V pela ocupação de Bissau manteve-se até à morte dêste monarca. Mas, com a aclamação do rei D. José I, a mudança de orientação política em. matéria colonial fez sentir-se imediatamente.
Em 1751, D. José I satisfazia o pedido de fardas feito pelo capitão de Cacheu com o fim de obsequiar o novo régulo dos papeis. E quanto à reedificação da fortaleza informava que oportunamente se providenciaria.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 149-150
1746/12/12
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, DIONÍSIO CARVALHO DE ABREU, ao rei [D. João V] dando conta da morte do rei de Bissau e da eleição de um novo rei; remetendo carta do novo rei de Bissau comunicando a morte do seu antecessor.
Anexo: carta (cópia).
AHU-Guiné, cx. 7, doc. 60 e 57.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 623.
1747/00/00
Em 1747 aconselhava o capitão-mor de Cacheu que para a conversão do rei de Bissau bastava que lhe mandassem de presente uns vestidos. D. João V pouco se importou, porém, com o pedido, pois mostrava sempre a maior indiferença pela ocupação de Bissau. O rei D. José, em sua resolução de 10 de Novembro de 1751, satisfez o pedido do capitão-mor de Cacheu e mandou os vestidos para aquele régulo, fazendo-o ciente que quanto á construção da fortaleza de Bissau mais tarde se resolveria. 
1747/07/15
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, DIONÍSIO CARVALHO DE ABREU, ao rei [D. João V] sobre a possibilidade e os benefícios do batismo do novo rei de Bissau; remetendo carta inclusa do dito rei onde se declara vontade de converter ao cristianismo, e da intenção francesa de construir uma fortaleza, o que seria prejudicial para a Coroa portuguesa.
AHU-Guiné, cx. 7, doc. 70.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 630.
1747/08/13
Falecimento de D. FREI JOÃO MOREIRA
1748/00/00
Fundação, em Nantes (França), da Société d'Angola, destinada ao tráfico de escravos no litoral angolano.
No seu tratado Espírito das Leis, Montesquieu combate a escravidão dos africanos.
JOÃO DE TÁVORA é capitão-mor de Cacheu até 1751. Nascido a 25.03.1703, Macieira de Cambra, Vale de Cambra, foi Capitão Mor da Praça de Cacheu nos ano de 1748- 1751 (Registo Geral de Mercês, D. João V, liv. 37, fl.215). Falecido a 27 de Outubro 1752, na Guiné, de morte repentina. Foi considerado um aventureiro de origem fidalga e um súbdito bem relacionado. Em 15 de Abril de 1728 era Mestre Capitão e Avançador da nau "Santa Ana e Almas", indo de Angola para Bahia. Em 1734 estava na Ilha de S. Tiago, "João de Távora natural e morador nessa Corte que se acha ao presente ancorado com o seo navio no porto de Vila da Praia de Santa Maria desta Ilha que daqui passa para o Rio de Janeiro, por uma petição lhe desse Licença para poder povoar a Ilha de S. Vicente e fortificar o porto grande dela". Propôs ao governo português um contrato de concessão onde ficaria assegurado a ocupação e a fortificação do porto da ilha, por um período de 10 anos, podendo em contrapartida desfrutar-se de todos os rendimentos que a ilha produzisse. No entanto o governo português, na pessoa do Governador Bento Gomes Coelho, não se mostrou interessado na altura, tratando a proposta com um soberano desprezo, tendo João de Távora voltado o seu interesse a se instalar no Brasil. Em 1734/1735, já no Brasil, João de Távora foi prisioneiro dos Espanhóis da Colónia de Sacramento, tendo conseguido fugir para Rio Grande com 200 lndios e outros casais. Em 1737 foi Capitão Mor de Canasvieiras, Brasil. Em 05.06.1742, na carta patente constava que "na ilha de Santa Catarina se achava um João de Távora, 'pessoa muito de bem e conhecido préstimo". Em 1738, foi nomeado na patente de mestre-de-campo.
Após a sua morte, os irmãos Marcelino José Jorge de Távora, António José Jorge Henriques e Maria Teresa da Cruz apresentaram um auto de Justificação, Feitos Findos no ano de 1752 no Juízo da Índia e Mina, no qual os justificantes pretendiam receber, como únicos herdeiros, a herança deixada por seu irmão João de Távora, capitão-mor de Cacheu e aí falecido- (doc. PT-TTJIM/JJU/1/23/15, maço 23, n° 15, ex. 41 , Justificações Ultramarinas respeitantes a África) .
O outro filho de João Jorge Henriques, Marcelino José Jorge de Távora Henriques, foi militar ilustre, tendo servido no Regimento da Corte como soldado e Cabo de Esquadra desde o ano de 1749 até 1755 e parte de 56 e, depois, dois anos na Fortaleza de S. João da Foz do Douro da Barra do Porto (de 56 até 7 de Março de 1757), até ir para Cacheu, onde serviu no Posto de Alferes Tenente da dita praça. Em 27 de Setembro de 1763, o rei nomeia-o capitão-mor da ilha do Fogo, cargo de que tomou posse em 25 de Março de 1764. Morreu em 1787, com 68 anos de idade .
Eram os principais dignatários do rei os primeiros a não se conterem no seu ímpeto de procriação, como se pode depreender de um relato de 1784, no qual dá-se-nos conta de que o governador JOÃO ZUZARTE DE SANTA MARIA, natural de Santarém (1748-1752), “era de consciência tão relaxada e tão pouco temente a Deus, que sendo de idade já avançada, viveu sempre em concubinato com sua escrava, por nome MARIA SÁBADO, de quem teve dois filhos, que tratava como legítimos, e até levando o mais velho à Igreja e dando-lhe nela assento (...)”; e de que o DR. JOSÉ DA COSTA RIBEIRO “(...) tinha seis raparigas suas escravas a quem mandou ensinar música e instrumentos porque eram o seu ídolo” (1).
(1) Carreira A., Cabo Verde: Aspectos sociais: secas e fomes do século XX, Lisboa: Ulmeiro, pp. 149-150.
Na fome 1748-50 o governador LUÍS ANTÓNIO DA CUNHA D’EÇA afirma que quem tinha escravos “dava-os de graça para não os ver morrer a todos de fome como sucedeu a muitos”.

1748/09/00
MEMÓRIA sobre o estabelecimento de uma nova Companhia de Cacheu, expondo o papel que a dita Companhia teria na conversão dos gentios da costa africana, com o envio de missionários, na arrecadação de direitos para a Fazenda Real e na saída de géneros da Guiné; relembrando que a antiga Companhia de Cacheu levava escravos oriundos do Rio de São Domingos para Buenos Aires, actividade interrompida com a Guerra da Restauração; advertindo que actualmente os rendimentos das praças sob domínio português na Guiné eram escassos e os direitos reais cobrados não davam para pagar aos filhos da folha; informando que Bissau e Serra Leoa eram governados por gentios e eram frequentados anualmente por nações estrangeiras; e da importância desta Companhia em virtude da falta de mão-de-obra escrava no Brasil.
AHU-Guiné, cx. 25, doc. 30.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 641.
1748/09/25
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei [D. João V] sobre carta do capitão-mor de Cacheu, de 22 de Fevereiro de 1747, informando não haver na ilha de Bissau forças que fizessem respeitar as armas portuguesas, em virtude dos navios portugueses e estrangeiros que iam ali carregavam escravos e outras fazendas se negavam a pagar os direitos em prejuízo da Fazenda Real; apresentando a proposta [de uma aliança com o rei de Bissau] através do seu baptismo como uma solução para o problema.
Obs.: esta consulta contém um acrescento de 26 de Outubro de 1748; anexo: despacho, parecer e
informação.
AHU-Guiné, cx. 7, doc. 83 e 80.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 639.
1749/00/00
Francisco Xavier de Araújo nomeado ouvidor provisoriamente em 1749, teve carta em 5 de Novembro de 1752. 
1749/07/25
CARTA do capitão-mor da praça de Bissau, JOÃO DE TÁVORA, ao rei [D. João V] sobre carta do rei de Bissau, de 22 de [Junho de 1749], dando conta da sua pretensão de receber o baptismo, depois da época das águas; informação confirmada pelos religiosos do hospício de Bissau, nomeadamente pelo padre comissário frei MANUEL DE PAÇOS; pedindo que fosse remetido um vestido branco para ser usado pelo régulo no dia do baptismo.
AHU-Cabo Verde, cx. 23, doc. 36.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 646.
1749/07/31
«O desembargador e ouvidor geral Alvares da Silva, em carta de 31 de julho de 1749, communicou a El-rei que o governador tinha mandado commeter um assasslnio por quatro dos seus escravos, achando-ae tudo provado por uma devassa que tirou.
O crime deu-se junto ás casas da residencia do mesmo governador, motivado pelos ciumes que este teve de uma sua escrava, Brazia, com quem mantivera relações illicitas. A escrava infiel tinha ido para casa do assassinado, que era casado, recolhendo á noite acompanhada por elle.
O governador· deixara a porta aberta e por detraz d'ella quatro negros escondidos, os qnaes sahiram ao encontro da victima, prostrando-a immediatamente.
Mais escravos possuía o governador, mas tendo premeditado o crime, e não confiando n'elles, tratou de os vender, ficando apenas com os quatro.
Ainda o ouvidor o accusou de lhe embaraçar a execução de algumas sentenças.
Ordenou-se que fosse substituido o governador.» -
Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte II, pgs. 301-302, Lisboa, 1900
1750/00/00
OFÍCIO (cópia) [do capitão-mor da praça de Cacheu, JOÃO DE TÁVORA,] ao mestre MANUEL DE FIGUEIREDO GOUVEIA acerca das encomendas para o rei de Bissau e das portas para a igreja matriz [de Cacheu] que constavam de um aviso do Conselho Ultramarino; advertindo que deveria haver mais descrição e cautela no que tocava aos presentes enviados de Portugal para os reis da Guiné, em virtude da notícia que circulava que o dito mestre trouxera de Lisboa um vestido para o rei de Bissau; determinando que entregasse a carga destinada a Cacheu para ANTÓNIO ALBERTO e que não pagasse quaisquer direitos ao capitão-mor da praça de Bissau, uma vez que pretendia deslocar-se pessoalmente a Bissau para fazer a arrecadação dos direitos reais.
AHU-Guiné, cx. 25, doc. 80.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 653.
1750/11/04
RELAÇÃO das segundas vias das cartas enviadas pelo capitão-mor de Cacheu, JOÃO DE TÁVORA, ao monarca pelo navio que partiu da praça [de Bissau] e naufragou na vila da Praia, Cabo Verde, sendo a primeira carta acerca de uma remessa ao cofre do Conselho Ultramarino do custo do ferro, a segunda a respeito do baptismo do rei de Bissau, e a terceira sobre o estado da praça e conquista de Bissau.
AHU-Cabo Verde, cx. 23, doc. 36.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 652.
1751/00/00
JOÃO PEREIRA DE CARVALHO foi capitão-mor da praça de Cacheu e irmão da Misericórdia da cidade da Ribeira Grande em 1751. Nasceu em 1690. Pai do capitão-mor da Praia Francisco Álvares de Almada (1755). Cavaleiro da Ordem de Cristo (1747). Em 1748 era capitão de uma companhia de Ordenança.: AHU, Cabo Verde, Papéis Avulsos. cx. 21, doc. 43, 3 de Junho de 1747; AHU. Cabo Verde, Papéis Avulsos, cx. 22. doc. 45, 20 de Novembro de 1748; AHU, Cabo Verde. Papéis Avulsos, cx. 23, doc. 47, ant. 12 de Janeiro de 1751; AHU, Cabo Verde. Papéis Avulsos, cx. 25, doc. 57, 16 de Dezembro de 1755; AHU, Cabo Verde, Papéis Avulsos, cx. 27. doc. 64, 2 de Maio de 1762; AHU. Cabo Verde, Papéis Avulsos, cx. 27, doc. 52, ant. 28 de Junho de 1762.
FRANCISCO ROQUE SOUTO-MAIOR é capitão-mor de Cacheu até 1755
1751/04/23
ANTÓNIO JOSÉ D’EÇA E FARIA governador de Cabo Verde. Morreu em 15 de Junho do mesmo ano, ficando a câmara a governar interinamente até Junho de 1754.
1751/10/14
Alvará proibindo que se levem negros para terras que não sejam do domínio português e determinando a forma por que será dado despacho dos escravos mandados para a colónia do Sacramento ou outros lugares vizinhos da raia portuguesa. (Portugal, Torre do Tombo, Leis e ordenações, Leis, mç. 4,n.º 130).
1751/10/19
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei [D. José I] sobre carta do capitão-mor da praça de Cacheu, JOÃO DE TÁVORA, de 8 de Março de 1751, acerca dos negócios na ilha de Bissau, dando conta da instituição de uma nova casa da companhia francesa naquela ilha; da intenção do rei de Bissau em receber o batismo.
Anexo: carta (cópia), consulta (cópia), cartas e provisão (cópia).
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 8 e 5.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 657.
1751/10/21
A presença de pequenos serviçais de clérigos aparece em alguns documentos. No livro de baptismo da Sé de Lisboa, referente a 21 de Outubro de 1751 consta o registo de Francisco adulto (sic.), que mostrara ter treze anos de idade, natural de Cacheu, filho de pais gentios e escravo do Padre Manoel Recador (sic.) (1). Os leigos também usufruíam do tráfico de meninos e meninas serviçais: «Aos dois dias do mês de maio de mil setecentos e cinqüenta e um, de manhã, nesta Basílica de Santa Mariabaptizei e pus os Santos Óleos a Maria adulta (sic.), de idade de quatorze anos, natural de Cacheu, e escrava de Antonio Nunes de Oliveira ...» (2).
(1) Registro paroquial de batismo da Sé, Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Cx 11 - L.13 .
(2) Registro paroquial de batismo da Sé, Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Cx 11 - L.13.
1751/12/27
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, informando que na ilha de Santiago de Cabo Verde chegara um navio de Cacheu trazendo dois religiosos missionários com notícias da Guiné; afirmando que segundo os religiosos a praça de Cacheu se encontrava em péssimo estado, em virtude da morte do capitão-mor JOÃO DE TÁVORA, correndo perigo de uma invasão por parte dos gentios por falta de infantaria, estando o comércio impedido; dando conta que os cristãos de Geba se sublevaram por não aceitarem como pároco um sacerdote enviado pelo cabido da ilha de Santiago; mencionando que os franceses levaram 16 peças de artilharia para a ilha de Bissau; avisando das notícias da presença na Guiné de fragatas da companhia francesa das Índias Orientais cujo destino ignorava; remetendo cópia da carta do rei de Bissau; referindo os motivos de se não conservar a antiga fortaleza de Bissau; por sua vez afirmava poder estar em Cacheu entre Março e Abril e solicitando ordens para ir às ilhas de São Miguel e Terceira, nos Açores, para tomar 30 homens fardados para a guarnição da praça de Cacheu.
Anexo: carta (cópia), informação e carta.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 11 e 26.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 660.
1752/03/00
FRANCISCO ROQUE DE SOTTO MAYOR é capitão-mor de Cacheu. Em 1752 Francisco de Sotto Maior instalou uma guarnição portuguesa em Bissau. Sotto Mayor também hasteou a bandeira  portuguesa em Bolama mas não criou uma feitoria. A guarnição portuguesa de Bissau recebia poucos mantimentos e pessoal, e a colónia definhou até 1765, data em que a Companhia do Grão Pará e Maranhão expediu reforços substanciais.
1752/03/12
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao rei D. José I informando em disposição a um artigo do seu regimento ser ou não conveniente a proposta feita por JOSÉ GOMES DA SILVA para a instituição de uma nova Companhia de comércio para Cacheu, expondo que Gomes da Silva e Companhia deveriam depositar um milhão e meio de cruzados para a fortificação de toda a costa da Guiné, sendo necessário duas naus de guerra para guardar aquela costa, salvaguardando o domínio do rei de Portugal naqueles territórios; e advertindo que se o monarca ordenasse a fortificação de Bissau e da Serra Leoa seria necessário a arrematação dos contratos relativos à Guiné.
Anexo: carta.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 18 e 21.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 666.
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao rei D. José I dando conta em resposta à ordem contida no 10º artigo do seu regimento acerca da antiga fortaleza de Bissau, a causa da sua demolição, e do que restava das ruínas, se conservava alguma ruína ou memória de como era a dita fortaleza; informando o seu parecer acerca da conveniência de se reedificar a fortaleza, e se teriam alguma oposição do gentio da ilha de Bissau, e se a edificação da fortaleza renderia direitos à Fazenda Real, e se os rendimentos seriam suficientes para a guarnição da fortaleza, e pagamento do capitão-mor e oficiais da fazenda; remetendo carta do rei de Bissau.
Anexo: cartas, instrumento em pública forma, certidão, sobrescrito e lembrete.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 19 e 15.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 667.
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao rei D. José I acerca dos artigos do seu regimento respectivamente à conservação da ilha de Bissau e à reedificação da fortaleza; e averiguar se o seu antecessor teve resposta da carta que escreveu ao rei de Bissau acerca da sua conversão; dando conta que teve notícia de que o rei de Bissau recebeu o baptismo poucas horas antes de falecer, tendo-lhe sucedido outro rei, que faleceu seis meses depois; informando que escreveu ao actual rei de Bissau, ainda da ilha de Santiago, por intermédio do padre definidor frei MANUEL DE PAÇOS.
Anexo: carta.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 22.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 669.
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao rei D. José I dando conta em disposição aos artigos 8º e 9º do seu regimento sobre os franceses terem estabelecido uma Feitoria na ilha de Bissau, e acerca do projecto de ali construírem uma fortaleza; e da necessidade de averiguar quais os povos europeus tinham alianças com os gentios de Bissau, para além dos portugueses.
Anexo: carta.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 23.

AHU_CU_049, Cx. 7, D. 670.
1752/06/24
LUÍS ANTÓNIO DA CUNHA D’EÇA é governador até 3 de Abril de 1757. Foi no seu governo que, em Maio de 1754, Maranhão expediu reforçospor ocasião de fazer na cidade de Ribeira Grande a sua entrada solene o bispo D. Fr. Pedro Jacinto Valente, quando se deu a salva da bateria do presídio, caíu uma bucha no cesta da gávia da galera em que tinha vindo o bispo. Começando a arder foi ateando o fogo, de modo que, para salvar a cidade do iminente perigo que lhe havia de causar a quantidade de pólvora que havia a bordo, picaram as amarras ao navio e assim como era dia de tempestade, o vento conduziu-o ao mar, aonde se deu a explosão, porém sem perigo para a cidade.
Pretendeu este governo JOÃO PEREIRA DE CARVALHO, que tinha servido em Cabo Verde dos postos de alferes, capitão de infantaria, sargento-mor, coronel e capitão-mor da vila da Praia e de Cacheu, provando o seu direito com a seguinte nota de bons serviços. Em 1719, fundeando na Praia uma galera e uma balandra de piratas, lançaram em terra, pela meia noite, 446 homens, tomando o presidio; senhores da praça, cercaram a casa do capitão-mor, onde se achava o pretendente, que foi defendê-la à porta do quintal e ali pelejou com tanto denodo que os obrigou a retirar ao cabo de três horas de rijo combale, no qual morreu muita gente.  O novo governador tomou posse a 24 de Junho de 1752; ainda em Lisboa recebeu do ministro uma representação escrita pelo capitão-mor da vila da Praia, FRANCISCO ALVARES DE ALMADA, protestando contra o estado ruinoso das fortificações, câmara e cadeia da vila da Praia, para se providenciar a tempo. O governador entregou essa representação nas mãos do sindicante CUSTODIO CORREIA DE MATOS para seu conhecimento. Este, em 20 de maio de 1753, achando culpado o ouvidor XAVIER DE ARAÚJO, dirigiu a este uma carta ordenando-lhe a entrega imediata do dinheiro que havia recebido e que deixara de entregar ao almoxarife, e de repor tudo que tivesse despendido por sua ordem contra as provisões régias. Em 9 de março de 1754 respondeu o sindicante ao governador, dizendo-lhe : que tinha conhecimento da Praia por lá ter ido em visita, e que procurando saber do dinheiro destinado àquelas obras soubera que o ouvidor geral se apossara dele, que bem podia suprir os gastos até que se vencesse o pagamento de 4:000 cruzados e dez tostões, preço porque fez arrematar as vacas, que se vendiam como refrescos na vila aos estrangeiros. Entre o ouvidor e o sindicante reinou sempre a maior desarmonia por causa da representação referida.
1752/07/02
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real], informado do estado das praças da Guiné, referindo que a Feitoria de Cacheu estava sem dinheiro para pagar os filhos da folha, os soldados, e fazer face às demais despesas; dando conta da construção de um novo hospício para os missionários [franciscanos], em virtude do antigo ter sido destruído num incêndio; enfatizando que ordenou aos habitantes que recolhessem toda a pólvora para evitar incêndios; sobre a pouca extracção de cera na praça de Ziguinchor, referindo que o comércio das terras do rei Jame, frequentada pelo povo da praça, encontrava-se fechado; acerca da falta de soldados; expondo o que vinha fazendo em relação a Bissau, nomeadamente acerca da carta e embaixada enviadas pelo rei de Bissau, ressalvando que mandou padre MANUEL DE PASSAS a Bissau com o intuito de não deixar o rei local consentir nenhuma operação dos franceses, tendo os gauleses ido à ilha Bolama, vizinha de Bissau; pedindo socorro de carpinteiros, pedreiros e ferreiros todos com as suas ferramentas para auxiliar o engenheiro na obra da fortaleza de Bissau e para fazer reparos na igreja; pedindo que a embarcação que fosse à Guiné levasse um piloto prático; solicitando ordens para passar à ilha de Bissau salientando que esta deveria ser elevada a cabeça político-administrativa da Guiné, em detrimento de Cacheu; remetendo certidões atestando as suas afirmações; acerca da relação dos presentes enviados para o rei de Bissau.
Anexo: relação, certidões, carta e carta (cópia).
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 27.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 673.
1752/07/26
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real informando que prestou socorro a um navio francês que encalhou naquelas partes, e que naquela embarcação estava um oficial que tinha estado em Bissau dois anos antes no navio de “monsieur du Roché”; acerca das quantias relativas à cobrança dos direitos reais dos navios que o cabo capitão da ilha de Bissau remeteu para Cacheu, advertindo que o dito cabo vinha roubando à Fazenda Real; dando conta que detectou uma grande irregularidade nos livros da Fazenda Real e comunicando que aguardava a chegada do missionário frei Manuel de Paços vindo da Serra Leoa com notícias daquelas partes; e expondo que usou as verbas da alfândega para satisfazer as suas dívidas; e acusando a recepção de uma carta do negro JOSÉ LOPES [MOURA; dando conta que recebeu o seu recado pelo padre missionário frei MANUEL DE PAÇOS e acusando a recepção de tabaco, açúcar, chocolate e chá; afirmando que a Serra Leoa era do rei de Portugal e que estava desejoso que lá construísse uma fortaleza; informando que deu ordens aos reis locais para que os navios portugueses não pagassem taxas, exemplificando que o navio de João Alves não tinha pago nenhuma taxa; dando conta que era católica tal como os seus pais].
Anexo: carta.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 27-A e 26-A.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 674.
1752/11/22
CARTA (minuta) ao capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, do [secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real], acusando a recepção das cartas enviadas de 12 de Março a 18 de Agosto, expondo a grande ruína em que se achavam as fortificações, guarnições e ambição das nações estrangeiras em concorrem para o comércio daquelas partes; informando que iriam 50 homens fardados e armados à Guiné, entre os quais iam oficiais pedreiros, carpinteiros, serralheiros e ferreiros como ferramentas pertencentes aos seus ofícios, bem como materiais e munições, ressalvando que as portas e portais para a igreja matriz de Cacheu não foram enviadas; elogiando o seu desempenho como capitão-mor de Cacheu, principalmente por ter enviado emissários ao rei de Bissau e ao negro JOSÉ LOPES MOURA, senhor da Serra Leoa; acerca do atraso das negociações em Bissau, em virtude da morte e sucessão do rei, referindo que o novo rei se iria converter ao catolicismo; sobre os esforços para estabelecer a presença portuguesa em Bissau e na Serra Leoa.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 33.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 683.
1752/11/30
RELAÇÃO dos materiais, ferramentas, armas e munições remetidas para Bissau no iate São Joaquim, na balandra Príncipe e na galera Nossa Senhora da Soledade, Santa Ana e Almas no ano de 1752.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 36.
AHU_CU_049, Cx. 7, D. 686.
1753/00/00
OFÍCIO [do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real], acerca da situação vivida em Bissau e dos motivos para iniciar as obras da fortaleza, mencionando que montaram quatro peças [de artilharia] com os seus reparos; sobre uma carta chegada de França dirigido ao capitão Joaquim Labarre informando que uma fragata de guerra sairia de Nantes com destino a Bissau; informando que o gentio de Bissau necessitava de ser castigado, mas primeiramente preferiu dar início a construção daquela fortaleza, em vez de castiga-los com armas, referindo que recebeu uma visita do rei de Bissau, tendo aproveitado a ocasião para oferecer ao régulo uma frasqueira de aguardente, uma camisa e um vestido que seria usado pelo seu antecessor, já falecido, no dia do seu o baptismo; dando conta que construiu uma casa para recolher as peças [de artilharia] montada, e que a bandeira portuguesa estava levantada na ilha de Bolama; referindo a grande mortalidade que ocorreu entre os homens que trabalhavam na fortificação de Bissau, e expondo os entraves que os gentios colocavam à execução daquela obra; solicitando que se constituíssem em Cabo Verde três Companhias de soldados para assistir nas obras de Bissau, bem como que se enviassem xerém, cuscuz, feijão e carne daquelas ilhas; pedindo uma fragata para assistir no porto de Bissau enquanto a plataforma e casas do governo ficavam prontas, e que fossem enviadas pessoas capazes para servir nos ofícios de escrivão, feitor e ajudante de obras; informando que frei Manuel de Paços era confidente do rei da Rocha, primo do falecido José Lopes [Moura], e respeitado pelos gentios, e desta forma regressaria à Serra Leoa para preparar terreno, com o pretexto de construir uma igreja.
AHU-Guiné, cx. 25, doc.79.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 722.
Ataque à nova fortaleza de Bissau, comandado pelo RÉGULO PALANKA.
EXTRACTO DE CARTAS sobre assuntos relativos à conservação das praças de Cacheu e Bissau; sobre os apontamentos deixados pelo desembargador José da Costa Ribeiro resultantes das visitas que fez às comarcas das ilhas de Cabo Verde, mencionando os objectivos da comissão de CUSTÓDIO CORREIA DE MATOS; acerca da presença de navios estrangeiros na costa da Guiné; sobre a reedificação da praça de São José de Bissau e conservação das ilhas de Cabo Verde; referindo a morte de José Lopes Moura e advertindo para a presença de ingleses na Serra Leoa.
AHU-Guiné, cx. 11, doc. 63
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 725.
MEMÓRIA acerca da construção da fortaleza de São José de Bissau no âmbito da expedição e ida de uma nau de guerra para aquela praça comandada por frei LUÍS CAETANO DE CASTRO E VASCONCELOS; expondo os meandros daquela empreitada, destacando os problemas encontrados na execução do projecto, como a falta de mão-de-obra e mantimentos; mencionando os administradores da Companhia do Grão-Pará e Maranhão BONIFÁCIO JOSÉ LAMAS, PEDRO RODRIGUES e JOÃO DA COSTA, o capitão-mor ANTÓNIO FERNANDES, PEDRO DA COSTA ALVARENGA, o capitão engenheiro ANTÓNIO CARLOS ANDREIS, SEBASTIÃO DA CUNHA SOUTO MAIOR, frei MANUEL DE VINHAIS, padre frei PEDRO VALONGO; e advertindo que a fortaleza não se encontrava acabada em virtude da falta de gente, das doenças que dizimaram os trabalhadores, falta de mantimentos e pagamentos.
AHU-Guiné, cx. 25, doc.16.

AHU_CU_049, Cx. 8, D. 726.
1753/01/03
AVISOS (minutas) do secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real, o primeiro dirigido ao comandante do corsário Nossa Senhora da Estrela, GUILHERME KINSE, ordenando que partisse para Bissau cumprisse a sua diligência e regressasse a Portugal; o segundo, ao comandante da nau Nossa Senhora da Natividade, JOÃO DA COSTA DE BRITO, determinando que partisse com a sua embarcação do porto de Lisboa conduzindo o novo governador de Mazagão, e que na volta trouxesse o governador D. António Alves da Cunha e a sua família; o terceiro, ao capitão engenheiro FRANCISCO XAVIER PAIS DE MENEZES, ordenando que embarcasse no corsário Nossa Senhora da Estrela e desembarcasse em Bissau, onde ficaria às ordens do capitão-mor de Cacheu, e incumbido de fazer uma planta da ilha de Bolama, examinar o estado da fortificação de Cacheu e trabalhar na de Bissau; o quarto dirigido ao capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, informando da partida da nau de guerra corsário Nossa Senhora da Estrela, de que era capitão Guilherme Kinse, e nela embarcaram o capitão de infantaria com o exercício de engenheiro, levando instrumentos e preparos para fazer as plantas de Bissau, Cacheu e da ilha de Bolama, e das fortificações que podem ser construídas em Bissau, e ordenando que este oficial e o seu sobrinho fossem sustentados pela Fazenda Real; e que enquanto se fizessem as diligências devia ordenar que o capitão-de-mar-e-guerra desse uma volta nas ilhas de São Nicolau e Boa Vista, declarando que foram enviados para proteger o comércio do contrato da urzela; remetendo as relações dos reparos, carretas, fardas, armamentos e uma outra relação dos presentes enviados aos reis régulos que foram na fragata; e acerca da ida de uma quantidade de soldados para os presídios.
Obs.: os documentos estão no mesmo suporte; anexo: relações, informação, recibos e lista.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 38, 36 e 37.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 689.
1753/02/09
Foram ultimados os preparativos para a viagem da nau “N.ª S.ª da Estrela” que, acompanhada de um aviso e de mais dois navios, deveria seguir de Lisboa para Cacheu em missão de soberania. A esquadra aportou em Bissau no dia 9 de Fevereiro e prestou auxílio ao comandante da respectiva praça então cercada pelo gentio.
«A falta de uma defesa regular de Bissau tinha os moradores em continuos sobressaltos por causa dos gentios d'essa ilha, que sempre foram exigentes e atrevidos.
Muitas supplicas se dirigiram a D. João V para fortificar esse ponto da Guiné, que situado quasi na foz no rio Geba ia-se tomando um grande centro de commercio com o sertão.
D. José, com melhores olhos, comprehendeu a necessidade de dar vida a esse seu riquissimo dominio, onde só tinha uma Praça fortificada, que era a de Cacheu, na foz do rio de Farim.
Em 1753 resolveu a pretensão dos moradores de Bissau fazendo sahir o corsario de guerra Nossa Senhora da Estrella (Nova relação da viagem que fez a Cacheu e Bissau, por (A. J. C. A. B.) Antonio José da Costa Araujo) no dia 6 de janeiro, acompanhado de um aviso e mais dois navios com destino a Cacheu.
No dia 7 de janeiro velejava fóra da barra essa esquadrilha de quatro navios com rumo a Cacheu, onde o commandante do corsario devia desembarcar algum material de guerra e combinar com o capitão-mór d'essa praça sobre a sua ida a Bissau e do auxilio que carecia.
Em 21 de janeiro fundeou o corsario ao sul do Cabo Roxo, e em 22  suspendeu para novamente fundear na barra de Cacheu, em sete braças; o aviso estava fundeado em Cacheu.
O commandante do corsario mandou arriar a lancha immediatamente, guarnecendo-a de soldados, com mantimentos para seis dias, a fim de seguir para Cacheu sob a direcção do piloto do navio, com a missão de trazer para bordo um pratico, ao mesmo tempo que communicaria ao capitão-mór a sua presença na barra. A lancha encalhou nos baixos, desistindo o piloto de proseguir a viagem, regressando a bordo a 23, pelo melo dia, para novamente sahir com o 2.º piloto e o guardião, mas só com 18 homens de remos.
Em 26 de tarde chegaram a lancha e um hiate de guerra de Cacheu, que salvou ao corsario com cinco tiros, agradecendo este com tres.
O commandante do corsario recebeu uma carta pelo hiate e chamado á camara o capitão-tenente com a maior presteza se mandou safar dezesete reparos que o referido hiate devia receber para Cacheu. A bordo d'este seguiram por ordem do commandante o condestavel, o engenheiro e quatro artilheiros; para trabalhar a bordo guarneceu-se o hiate com mais gente, um sargento, um terceiro condestavel e um capitão-tenente para a mandar. Tudo prompto velejou o biate no dia 27.
O corsario suspendeu o ferro e approximou-se mais da barra, ficando á espera do aviso e do hiate, que appareceram no dia 4 de fevereiro pela tarde. No dia 3 demandava a barra um navio sem bandeira e o hiate obrigou a içal-a, dando-lhe um tiro de bala. Era portuguez e como tivesse içado uma flammula deu-se-lhe segundo tiro porque era navio de guerra desconhecido; chegou á fala e perguntando-se-lhe quem lhe dera licença para içar flammula deante de urna nau de guerra limitou-se a responder, arriando-a, dizendo que tinha sahido com uma frota da Bahia em direitura a Cabo Verde e que levava ferro e madeira para Cacbeo.
O capitão-tenente mimoseou o commandante do corsario com vaccas, por cos, varios generos, um escravo e uma cotia. A 6 de fevereiro velejaram os navios para Bissau, excepto o biate, e em 9 ancoraram proximo do porto, onde estavam surtos outros quatro. A terra salvou á nau e esta correspondeu. Em 10 fundearam no porto perto das oito horas da manhã, salvando a terra com sete tiros, sendo esta salva correspondida com egual numero.
Do que vae lêr-se deprehende-se que a praça de Bissau estava sem capilão-mór de nomeação régia, e que era governada por um preto boçal, que desconhecia a lingua portugueza, pois diz o auctor da Relação: passado pouco tempo roy a terra o Pratico que entendia a lingoa portuguesa, para trazer a bordo o Capitão cabo, que era o que tinha defendido a terra e era o que nella governava, logo veyo a nosso bordo. Fez as soas venias, ou para melhor dizer bosumbays acanilhadas, e se recolheo á camera a conversar com o nosso capitão e officiaes mayores, e dabi a pouco salvamos a terra com onze peças, que a recebeo com as mesmas insando bandeira, a primeira vez divisada naquella terra, o que assim não acontecera se a não pedirão a hum dos navios de que acima rallamos.
…..
No dia seguinte de manhã mandou-se buscar a bordo oito peças, que deveriam ser montadas no local onde arvorara a bandeira, e quando ellas chegavam á praia caminhavam apressadamente para alli alguns soldados que vinham pedir soccorro porque o gentio se levantara.
De bordo, com a maior presteza, desembarcou a gente, ficando apenas doze homens, e dos navios mercantes desembarcaram grande numero para o combate.
A descripção do combate foi tratada na segunda parte da Relação, do mesmo auctor, intitulada: “Do combate que deo e victoria que alcançou do gentio do porto de Bissau, o nosso corsario de guerra N. Senhora da Estrella em este presente anno de 1753.”
O hiate jã havia chegado de Cacheu, trazendo o capitão-mór d'esta Praça e alguns mantimentos que já iam escasseando. O commandante da nau, que estava em terra, deu um tiro de rebate; de bordo dos navios desembarcou a gente e o capitão-mór que estava no hiate.
O hiate foi fundear no melhor ponto para sacudir os gentios que ocupavam o sitio da fonte, onde os moradores faziam aguada. O Pallanca tinha com muita rapidez mandado construir uma paliçada alli. Ao cabo de um grande numero de tiros do hiate ficou arrasada essa fortificação, pondo-se em debandada os gentios. Mandou o commandante do corsario em seguida vinte soldados e seis artilheiros, com seis peças montadas, defender a fonte; levaram três barracas de campanha.
Entre os gentios mortos na paliçada encontrou-se um dos grandes que os commandava e um outro guerreiro de especial apreço do Pallanca.
De bordo os tiros não cessavam e as pontarias faziam-se aos grupos dos gentios que dispersos rondavam a praça para deitarem fogo nas palhoças proximas da mesma.
Um corpulento e atrevido gentio, empunhando um marrão acceso, caminhava para as palhoças; o capitão-mór de Cacheu, acompanhado de um marinheiro preto, foi ao seu enconlro para lhe embargar o passo; o gentio, armado de um punhal, cravou-o por duas vezes nas costellas do marinheiro, que morreu d'ahi a poucos dias; e dirigindo-se ao capitão-mór para o mesmo fim, este correu para uma das nossas vigias que perto estava, e tirando-lhe a arma da mão fez fogo sobre o gentio, que logo ficou morto.
Parece que da mesma sorte mataram dois soldados do corsario, um aindamoço. A este cortaram-lhe a cabeça espetando-a n'um pau, que levantado ao alto foi conduzido até ao hospicio dos frades, com grande acompanhamento de gentios, que faziam grande alarido, bambaré, solemnisando essa grande proeza.
O hospício estava abandonado dos padres, que tinham reclhibido à Praça, onde receberam alimentos, seguindo depois para bordo dos navios mercantes a pedido do capitão da nau.
O outro homem era serralheiro e foi encontrado pelo segundo piloto da nau junto do hospício. O commandante mandou-o enterrar dentro do hospicio, e ao moço junto da fortaleza, tendo sido esse piloto quem, pela meia noite, lhes abriu a sepultura e os enterrou.
Dos navios mercantes não houve mais noticia de quatro homens, que se soppõe terem sido mortos nas proximidades da Praça.
Reconhecendo o commandante da nau os inconvenientes de conservar inactiva a força, e que era necessario dar uma lição aos gentios pelas morte de seis homens, ordenou que na noite de 18 para 19 de fevereiro formasse toda a gente em terra e se dividisse por cinco corpos pelo ambito da ilha, que cada corpo collocasse sentinellas a curtas distancias.
De bordo da nau se dariam tiros pela terra dentro.
Os cinco corpos cercariam o inimigo e as sentinellas fariam signaes para bordo a suspender o fogo.
O facto é que das dez para as onze horas appareceu o inimigo em massa do lado da fonte, fazendo grande gritaria; em terra tocou-se a rebate e a nau começou a fazer fogo. Ao amanhecer encontraram-se nove gentios mortos e entre estes um dos seus grandes. Assim mesmo um gentio approximou-se tanto que deitou fogo a uma das palhotas; o capellão da nau, que estava com uma arma carregada, alvejou-o, mas tão infeliz foi que ao disparar rebentou a arma, levando-lhe um dedo.
No dia 20, pelas dez horas da manhã, mandou o Pallanca uma embaixada a solicitar pazes, offerecendo em troca dos soldados mortos alguns escravos e mais alguma gente que fosse precisa para trabalhar, com a condição, porem, do commandante mandar retirar os soldados, que causavam medo aos gentios que viessem trabalhar.
Concordou-se n'este ajuste de pazes e o capitão-tenente D. Luiz só deixou ficar um certo numero de soldados de guarda. De bordo se mandou vélas para barracas, biscoitos, carnes, bacalhau, caldeiro para rancho, além de artilheria, polvora, bala e metralha, para se dar começo aos trabalhos de fortificação.
Estava todo preparado para evitar uma traição dos gentios e ordenou-se que se deitasse abaixo as palhoças existentes junto da Praça; a bordo apromptaram-se dois mil e dezoito cartuchos. N'este dia mandou o commandante recolher a bordo os doentes que estavam em terra com os pretos que serviam de enfermeiros; estes fugiram para os gentios. Á noile mandou o Pallanca aos navios mercantes trocar duas escravas por aguardente, por ser esta precisa para as festas do choro de um principe, seu sobrinho, que tinha fallecido. Realizou-se essa troca.
Preparavam os gentios uma outra traição. Com o tal choro quizeram persuadir o commandante que elles estavam socegados e que na Praça todos poderiam dormir á vontade. Bem pelo contrario redobrou-se de vigilancia, e tão boa foi que pelas duas horas da noite fizeram as sentinellas signal da aproximação do inimigo, em grande massa, do lado da fonte, tentando duas investidas contra ella; de bordo da nau e do hiate romperam fogo, que durou toda a noite, e ao amanhecer encontraram-se mais de vinte cadaveres, além de muitos feridos. O commandante mandou um cabo com o pratico que tinha vindo de Cacheu ao Pallanca para lhe dizer: Que lhe estranhava muito aquella acção, ao mesmo tempo que se lhe tinha sem reparo concedido a paz, e quando nella se não quizesse conservar, que com a ultima e total demonstrão de rigor saberia melhor a Ley em que havia de viver; e que, quando quizesse a guerra, experimentaria que não cessaria com ella emquanto o não metesse nas entranhas da terra.
Parece que este assalto não fora ordenado pelo Pallanca, porque logo mandou uma embaixada desculpando-se de não ter remetido vaccas e gallinhas, como refens, que tinha promettido, por não lhe terem chegado de uma capitação do seu domínio.
Estando em duvidas o commandante sobre o modo de proceder com o Pallanca, e nem podendo calcular o tempo que lhe seria preciso para restabelecer a obediencia em gentios tão indomitos, acudiu primeiro à necessidade de adquirir mais mantimentos e para isso mandou que o hiate seguisse para Cacheu.
Até 21 não houve novos ataques, porém na noite de 22 para 23 as sentinelas ao hospicio dos frades tiveram de fazer fogo sobre uns gentios que fugiram, sabendo-se no dia seguinte que um d'elles era principe e que queria assassinar uns soldados para vingar a morte de um irmão.» - 
Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte III, pgs. 10-16, Lisboa, 1906
1753/02/09
«A segunda fortaleza de Bissau
De facto, em Janeiro de 1753, (D.José I) enviava para os rios da Guiné a nau de guerra, N.a S.a da Estrela, acompanhada de um aviso e mais dois navios com soldados, operários, boticário com medicamentos, material de guerra e de construção. O comandante desta pequena esquadra levava instruções para restabelecer o pôsto de Bissau, de acôrdo com o capitão-mor de Cacheu.
Os navios fundearam primeiro neste último pôrto, seguindo dali para Bissau, em 9 de Fevereiro. Em terra, o govêrno português era representado por um grumete nomeado cabo de esquadra que correspondeu com várias saudações às salvas feitas de bordo.
A entrada dos barcos portugueses provocou grande entusiasmo entre os habitantes cristãos, que ó ex.teriorizaram em manifestações de regozijo durante ro dias. Tratou-se de nomear um capitão-tenente para a Praça de Bissau e do desembarque do material e doentes que se encontravam a bordo.
O régulo papel, Palanca, veio cumprimentar as autoridades e no dia 17 de Fevereiro realizou-se a cerimónia de saudação à bandeira portuguesa, lavrando-se nesta ocasião um auto de fidelidade dos chefes indígenas. No entanto, esta cerimónia efectuou-se num.a atmosfera de mútua desconfiança. O régulo fez-se acompanhar de 200 guerreiros e, como havia razões para se duvidar da sua lealdade, o comandante da esquadra desembarcou quási tôda a tripulação e tomou as necessárias precauções.
Com efeito, logo no dia seguinte ao da cerimónia, o gentio papel começou a hostilizar a praça, procurando dificultar as obras da fortaleza. Houve luta em que as nossas forças perderam 6 homens, mas o ataque dos papeis foi repelido.
Dois dias depois, tendo o comandante da esquadra disposto as suas fôrças com intenção de atacar as povoações indígenas, o régulo Palanca enviou seus emissários a pedir paz. Não se fez o ataque projectado, mas o indígena não deixou de hostilizar a Praça.
A guerra prolongava-se assim sob a forma de pequenas escaramuças e actos isolados, de que o régulo procurava desculpar-se sob vários pretextos não deixando de visitar as autoridades e fazer as suas transacções. Em troca dos soldados feridos ofereceu o mesmo número de escravos e autorizou a sua gente a trabalhar nas obras da fortaleza.
Os operários eram pagos à razão de 400 réis por dia ou 80 fios de contas de vidro. As construções mais indispensáveis terminaram em 22 de Março e nesse dia se deu posse ao capitão-cabo de Bissau, na presença do régulo Palanca e mais 300 guerreiros indígenas. Houve grande algazarra de tambores, clarins e salvas de morteiros. No dia seguinte, celebrava-se missa a bordo da nau N. S. da Estrêla, comemorando o acontecimento.
Nas lutas travadas durante êste período de cêrca de 2 meses haviam perecido 9 soldados portugueses e perto de 500 papeis.
Registaram-se, além disso, muitos óbitos devido· às febres e ao escorbuto provocado por falta de alimentos frescos. Entre as vítimas contava-se o capitão engenheiro que ia a bordo com o encargo de dar o plano da fortaleza. A nau de guerra deixou Bissau em 27 .de Março de 1753, de regresso para Lisboa.
Foi desta forma restabelecida a capitania de Bissau e para o seu comando foi nomeado, em 16 de Novembro, Nicolau de Pina Araújo, com a indica;ção de prestar juramento nas mãos do capitão-mor de Cacheu, isto é, considerando-se subordinado a esta capitania. Pelo novo comandante de Bissau foram enviados 2 baús com fardas e presentes para o régulo papel.
Para completar a guarnição da fortaleza foi determinado em Janeiro de 1754 que o governador de Cabo Verde destacasse para Bissau 50 soldados caboverdeanos, tirados da guarnição de Santiago, que seriam substituídos por outras tantas praças europeias.
Nesta ordem de ideas, foram enviados de Portugal para Santiago 50 homens representados por criminosos e indesejáveis. Por sua vez o governador de Cabo-Verde .enviou para Bissau 50 soldados dos menos recomendáveis. Em Outubro dêsse mesmo ano, o número destas praças em Bissau estava reduzido a vinte por deserção da sua maior parte.

Por seu lado, também os oficiais não se demoravam muito tempo nos seus postos, por não poderem resistir à malignidade do clima. Em certa altura por falta de um oficial capaz de tomar a direcção das obras do quartel, foi esta entregue, em 1758, ao padre Manuel Vinhais Sarmento. Tôdas estas construções eram, porém, provisórias e imperfeitas. A verdadeira Fortaleza de S. José de Bissau, aquela que ainda hoje existe na cidade, começou a ser construída no ano de 1765.» 
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pgs. 150-152
1753/03/25
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real acusando os missionários franciscanos da ilha de Bissau de se dedicaram ao comércio descuidando da suas obrigações religiosas, mencionando que instigaram o rei de Bissau e os moradores de Bissau contra o dito capitão-mor.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 39.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 692.
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real informando que o corsário Nossa Senhora da Estrela aportou acidentalmente na barra de Cacheu; dando conta que o capitão engenheiro e o oficial mais graduado do corsário, capitão tenente D. FREI LUÍS CAETANO DE CASTRO DE VASCONCELOS, analisaram o estado da praça e das suas fortificações; remetendo os reparos e carretas por alguns serem incompatíveis com o calibre das peças existentes na praça e relações dos presentes de alguns régulos e ainda do acostamento da embarcação; queixando-se dos altíssimos preços praticados em Cacheu; solicitando o pagamento na Corte da importância da letra relativa ao dinheiro que tomou para suprir gastos do serviço régio; informando que os soldados enviados no corsário tinham adoecido; referindo que deu ao rei de Bissau grande parte da aguardente das frasqueiras, bem como um chapéu com pluma, uma camisa da Holanda e um pacote de pano, advertindo que os presentes deveriam ser entregues aos régulos aos poucos; acusando os padres franciscanos de praticarem comércio, descuidando das suas obrigações e dando maus exemplos aos gentios, exemplificando que o negro JOSÉ LOPES MOURA, senhor da Serra Leoa, tinha feito muitas doações ao hospício que foram embolsados pelos padres, estando aquele hospício em ruína.
Obs.: contém relação, da qual consta a carta descrita, de documentos pedidos de 14 de Março de 1844; anexo: abaixo-assinado, recibo, relações, certidões, informação, ofício.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 43, 44, 46 e 47; e cx. 25, doc. 28.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 693.
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real, enaltecendo a colaboração do capitão-de-mar-e-guerra, GUILHERME KINSE, na execução da obra da fortaleza de Bissau; dando conta que entregou ao capitão tenente D. LUÍS CAETANO DE CASTRO E VASCONCELOS uma pequena quantidade de pau cambo trazida da Serra Leoa pelo padre frei MANUEL DE PAÇOS, afirmando que o religioso não trouxe muita quantidade daquele pau por ter feito a viagem a pé.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 44.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 695.
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real sobre ter recebido vias das ordens régias pela balandra inglesa e iate São Joaquim e numa fragata de guerra; informando do estado de ruína da praça de Cacheu; comunicando que alguns homens enviados para a guarnição de Cacheu encontravam-se doentes, mencionando não ter quartéis para os abrigar, acabando por recolhe-los em casas particulares; explicando o mecanismo de sucessão no reino de Bissau, e informando acerca do actual rei, reiterando a necessidade de se enviar missionários barbadinhos italianos para combater o paganismo naquelas partes; informando da ida de um engenheiro para delinear a obra da fortaleza de Bissau, e da falta de mantimentos em Bissau; advertindo sobre as dúvidas de que os rendimentos de Bissau chegariam para fazer face às despesas do estabelecimento de Portugal naquelas partes, explicando as muitas possibilidades que a fazenda real teria em Bissau para arrecadar rendimentos; acerca dos rendimentos dos direitos das fazendas pagos pelos navios em Cacheu e os rendimentos da cera, marfim e escravos que saíam de Cacheu e Bissau não chegavam para a subsistência dos presídios de Cacheu, Farim e Ziguinchor, em virtude de se aplicar apenas metade dos rendimentos em Cacheu e a outra metade ser remetida para Cabo Verde; referindo as tentativas de estabelecer laços de amizade com o rei de Jamé; informando que a notícia da morte de José Lopes Moura, senhor da Serra Leoa, reduziu a esperança do estabelecimento da presença portuguesa na Serra Leoa, tendo recebido informações de que um filho do falecido fora criado na Inglaterra, sendo partidário daquela nação mas, contudo, havia outros filhos partidários de Portugal, e dando conta que o rei da Rocha, primo de José Lopes Moura, era também partidário de Portugal.
Anexo: carta, termo e mapa.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 46 e 51.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 696.
1753/04/13
CARTA do rei de Bissau, ANHANHETE-CÔ, ao rei D. José I sobre não consentir que nenhuma nação estrangeira erguesse um forte e estabelecesse companhia de comércio, com a excepção de Portugal; queixando-se das ofensas proferidas pelo intendente capitão-mor de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO-MAIOR, aquando da sua estadia em Bissau para construir a casa-forte, acusando-o de não saber dirigir uma embaixada em nome do rei de Portugal; relembrando que a gentilidade daquela gosta venerava o rei de Portugal, informação que podia ser comprovado pelos brancos que comercializavam na costa africana.
Anexo: carta (cópia).
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 49.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 698.
1753/05/16
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real, informando da situação dos soldados na Guiné, contabilizando muitas fugas, mortes e situações de doença, enfatizando que era necessário acrescentar-lhes o soldo, dado que o que recebiam era insuficiente para sua sobrevivência; dando conta que mandou dar baixa aos poucos soldados de Cabo Verde, por incapacidade; informando que no Rio Gâmbia existia um ilhéu mantido pela Coroa Inglesa, cujos rendimentos da companhia de comércio não era suficiente para o provimento de um governador, engenheiro, oficiais de melícia, mecânicos, e alguma infantaria para a conservação daquele rio como domínio inglês; sobre se ter gasto na construção da fortaleza o valor em direitos reais pagos em Bissau por dois navios; solicitando mais soldados de Cabo Verde, uma botica principalmente com água de Inglaterra; informando que a pólvora enviada do Reino foi entregue e carregada na Provedoria de Cacheu; acerca das notícias, dadas por frei Manuel de Paços, da chegada em Bissau de uma fragata da Companhia francesa; referindo o andamento da obra da fortaleza de Bissau; sobre a grande despesa feita na Guiné pela Fazenda Real; remetendo alguns documentos e uma carta vindos da Serra Leoa para o rei D. José I; dando conta da relação das embarcações que aportavam em Bissau e Cacheu; e acerca da presença francesa em Bissau e a posse portuguesa da ilha de Bolama, possuidora de boa madeira e terras férteis.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 52 -B.

AHU_CU_049, Cx. 8, D. 699.
1753/05/20
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real] dando conta da aflição vivida em Bissau pela epidemia que alastrou no corsário [Nossa Senhora da Estrela], lamentando que uma fragata francesa tivesse testemunhado o miserável estado em que se encontrava o dito corsário, mas justificando que situações de epidemias eram recorrentes, sendo que franceses e ingleses já tinham sido vitimas; e a acerca da renumeração dos seus serviços.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 52.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 700.
1753/06/24
Posse do capitão e governador-geral de Cabo Verde, LUIZ ANTÓNIO DA CUNHA DE EÇA
José Juzarte de Santa Maria fora substituído por D. António d'Eça e Faria, que recebeu o titulo de governador e capitão-general em 6 de Março de 1752, tomando posse em 23 de Abril do mesmo ano. Em 1750, estando já avisado D. António para se preparar par ir tomar conta do seu governo, objectou ao rei que, em consequência daquele mau clima, se costumava nomear, havia muitos anos, para governador, pessoas de menos representação, e que por esse motivo Ihe era inerente o posto de capitão-general, que se concedia a todos os governadores desde a sua conquista pela categoria do seu cargo e distinção de suas pessoas; e como ele era fidalgo de qualidade, e por consequência com vantagens a quanto outros tinham passado ás ilhas referidas, impetrava a patente de governador e capitão-general; foi-lhe deferida a pretensão e deu-se-lhe também a graduação de Tenente-coronel. Era no reino apenas tenente de infantaria e contava 23 anos de serviço desde soldado, cabo de esquadra e alferes.
1753/07/25
Sagração de D. FREI JACINTO VALENTE como bispo da diocese de Cabo Verde. Chegou a 13.05.1754. Viveu 9 anos na ilha de Santo Antão, entregando o governo ao cabido e deixando o paço em completo abandono.
1753/08/2
João António da Silveira Sampaio nomeado ouvidor em 28 de Setembro de 1753; tomou posse em Fevereiro do ano seguinte. Viu-se obrigado a fugir de Cabo Verde em conseqüência de várias tropelias e abusos cometidos.
1753/11/00
NICOLAU PINHEIRO DE ARAÚJO, Capitão-mor de Bissau desde Novembro de 1753, mas subordinado à capitania-mor de Cacheu
1754
Mesmo com ataques continua a construção do novo forte em Bissau.
1754/01/02
«A secretaria do estado, em carta de 2 de Janeiro de 1754, dirigida ao governador Luiz da Cunha d'Eça, ordenava que destacasse 50 soldados pretos de Cabo Verde para Bissau, a fim de trabalharem nas fortificações que se tinham mandado acabar, os quais seriam substituídos por 50 brancos, que deviam guarnecer a vila da Praia, à excepção de três, que ficariam na cidade, por ser aquela mais frequentada de navios estrangeiros, e para que estes vissem que tínhamos soldados brancos; que todos perceberiam o vencimento como no reino, e que seriam pagos pelos rendimentos do algodão e da urzela. Deve notar-se que os 50 brancos eram degredados, e os tres nomeados para a cidade eram dos peores.» -
Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte III, pg. 18, Lisboa, 1906
1753/10/12
CARTA do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao rei D. José I recomendando o diálogo com as nações estrangeiras, enquanto Portugal não tivesse força suficiente na Guiné, e nesta ordem ajustou com um capitão francês chamado JOAQUIM LABARRE o pagamento de uma determinada quantia pelos negócios que viesse a fazer naquela costa, queixando-se que o depositário da Fazenda Real, CRISTÓVÃO SANCHES, não registou a dita convenção e posteriormente não quisera consentir o navio do capitão francês alegando que não pagara os direitos régios; e informando que a alfândega precisava de dinheiro para as despesas das obras em Bissau e Cacheu, e para fazer o pagamento dos soldados.
Anexo: despacho e aviso.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 54.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 702.
1753/11/10
DECRETO do rei D. José I nomeando NICOLAU DE PINA ARAÚJO para a patente honória do posto de capitão-mor de Bissau e de uma quantia de tença paga pelos rendimentos da alfândega de Cacheu por uma vida. Anexo: decretos (cópia), bilhete e carta patente (cópia).
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 56, 57 e 59.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 704.
1753/11/27
CARTAS (minutas) [do secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real, a primeira dirigida a NICOLAU DE PINA ARAÚJO informando que o monarca fez-lhe mercê do posto de capitão-mor de Bissau e de uma determinada quantia de tença que seria paga pelos rendimentos da alfândega de Cacheu, em satisfação aos seus serviços; e uma outra dirigida ao capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, dando conta que em poucos dias uma nau de guerra partiria para Bissau, juntamente com um navio de transporte que levaria os materiais pedidos, e ainda acerca da nomeação de Nicolau de Pina para o posto de capitão-mor de Bissau, determinado que Nicolau de Pina viajasse o mais breve possível para Bissau.
Obs.: as duas cartas estão no mesmo suporte.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 62.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 707.
1753/11/28
CARTA RÉGIA (minuta) do rei D. José I ao rei de Bissau Anhanhete-Co, acusando a recepção de uma carta que comprovava o zelo e a fidelidade do régulo de Bissau, dando conta que ordenou ao capitão-mor de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, que não fosse a Bissau e mandava NICOLAU DE PINA [ARAÚJO] como capitão-mor para continuar a obra de reedificação da fortaleza e estabelecimento de Portugal naquela praça.
Obs.: ver carta do rei de Bissau Anhanhete-Co AHU_CU_049, Cx. 8, D. 698.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 63.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 708.
1753/12/03
CARTAS (minutas) do secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real, a primeira dirigida ao capitão da praça de Cacheu, NICOLAU DE PINA, informando que uma vez que a nau de guerra ainda não estava pronta para seguir viagem para Bissau, se iria expedir o navio inglês Ventura de Amiga, de que era capitão SAMUEL KETRIDGE, e nele viajaria o piloto português DIONISO FERREIRA PORTUGAL, tendo ajustado com o capitão do navio inglês para que fosse em direitura de Cacheu, onde Nicolau de Pina embarcaria, e dali para Bissau e remetendo os conhecimentos e uma relação da carga do navio; e uma outra dirigida ao capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, dando conta da ida navio inglês para Bissau; informando que pelo navio Santa Margarida, de CUSTÓDIO FERREIRA DE GOIS, de que era capitão JOSÉ GOMES RIBEIRO, remeteu a cópia de uma carta com as resoluções relativas a Bissau; remetendo ordens para o governador e capitão-general de Cabo Verde mandasse para Bissau os mantimentos que constavam de uma relação.
Obs.: as duas cartas estão no mesmo suporte; anexo: conhecimentos, relações e informações.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 64; cx. 9, doc. 11.

AHU_CU_049, Cx. 8, D. 710.
1753/12/07-11
RECIBOS passados pelo mestre da fragata Nossa Senhora da Estrela, MANUEL DOS SANTOS, atestando o que se embarcou a bordo da dita fragata que seguia viagem para Bissau.
AHU-Guiné, cx. 24, doc. 77, Cabo Verde, cx. 23, doc. 63.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 711.
1753/12/10
OFÍCIO (minuta) do secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real ao capitão da praça de Cacheu, NICOLAU DE PINA, sobre o estabelecimento dos portugueses em Bissau, recomendando a conciliação dos portugueses com os nativos e a comunicação com Cacheu, em virtude de facilitar o comércio naquelas partes.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 67.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 714.
1753/12/11
OFÍCIOS (minutas) do secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real, o primeiro, dirigido ao missionário frei MANUEL DE PAÇOS acerca do estabelecimento dos portugueses na Serra Leoa, advertindo que através do comércio que Portugal poderia conservar aquela região; expondo que estava a tratar do envio de mais religiosos para a Costa Africana e comunicando a nomeação de AGOSTINHO LOPES para o governo da Serra Leoa; e uma outra dirigida ao capitão-mor da praça de Bissau, NICOLAU DE PINA, remetendo uma carta dirigida a frei Manuel de Paços, as chaves de seis frasqueiras com várias bebidas e recomendando boa relação com o capitão-mor de Cacheu.
Obs.: as duas cartas estão no mesmo suporte.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 69.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 716.
OFÍCIO (minuta) do secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real ao capitão-mor da praça da Bissau, NICOLAU DE PINA, sobre a sua nomeação para a praça de Bissau; da presença portuguesa em Bissau, a construção da fortaleza e o envio de missionários para auxiliar na instituição do catolicismo; remetendo carta de FABIÃO FERNANDES, que se intitulava homem principal do Rio Nuno e receberá patente de capitão-mor por parte do capitão-mor de Cacheu como reconhecimento da sua amizade e zelo; remetendo cópias da doação que JOSÉ LOPES MOURA fez, em 7 de Novembro de 1752, da Serra Leoa e de uma escritura do rei de Becantá declarando ter aceitado a dita doação; remetendo lista dos presentes para o rei de Becantá e outra lista dos presentes para o rei de Bissau; e avisando que a fragata de guerra Nossa Senhora da Estrela levava mantimentos e boticas para quatro meses, e avisando que não iria nenhum almoxarife e escrivão para a praça de Bissau, e nem engenheiro para as obras da fortaleza.
Anexo: relações.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 70; cx. 25, doc. 29 e cx. 2, doc. 74.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 717.
AVISO (minuta) do secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real ao capitão-de-mar-e-guerra e comandante da fragata Nossa Senhora da Estrela, FRANCISCO MIGUEL AIRES, determinando que partisse para o porto de Bissau, onde o esperava o capitão-mor NICOLAU DE PINA ARAÚJO, dando algumas directivas para a viagem, estadia em Bissau e regresso à Corte.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 70.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 718.
OFÍCIO (minuta) do secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real ao capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, sobre a resolução régia determinando que NICOLAU DE PINA ARAÚJO desse seguimento as obras da fortaleza de Bissau, em virtude de Souto Maior ter-se desentendido com o rei de Bissau; sobre ordem régia para que se melhorasse as vias de comunicação da praça de Bissau pelo rio de Naga; remetendo cópias das cartas dirigidas a Nicolau de Pina Araújo.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 71.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 719.
1753/12/12 OFÍCIO (minuta) do secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real ao capitão-mor da praça de Bissau, NICOLAU DE PINA, remetendo conhecimento das remessas feitas à conta da Fazenda Real, e avisando que mandou embarcar na fragata Nossa Senhora da Estrela o oficial pedreiro ANTÓNIO RODRIGUES.
AHU-Guiné, cx. 8, doc. 72.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 720.
1754/03/06 ANTÓNIO JOSÉ D’EÇA E FARIA governador de Cabo Verde desde 6 de Março de 1754. Morreu em 15 de Julho do mesmo ano.
1754/10/25  
O capitão-mór de Bissau pede ao Governador Geral de Cabo Verde um engenheiro, gente para a respectiva guarnição e trabalhadores para a reconstrução da fortaleza pois que eram insuficientes os naturais de Cabo Verde ali residentes. Só em 1766 foi atendido tal pedido, tendo a corveta «Nossa Senhora da Esperança» levado 450, entre eles haviam embarcado  também 270 vadios e criminosos.
1755/04/18
CARTA do capitão-mor da praça de Bissau, NICOLAU DE PINA ARAÚJO, ao rei D. José I informando da contenda que teve com o rei de Bissau, em virtude de um marinheiro chamado FRANCISCO JOSÉ, da galera do capitão JACINTO RODRIGUES, ter dito ao rei que signatário pedira duas naus de guerra ao rei de Portugal para tomar a terra e matar o régulo de Bissau, mencionando que no meio da desavença fora acudido pelo capitão cabo regente ANTÓNIO FERNANDES.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 8.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 732.
1755/04/28
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real sobre a veracidade de algumas informações que circulavam na Corte relativamente ao restabelecimento de Portugal em Bissau e o andamento da obra da fortaleza; advertindo ser inconveniente para o estabelecimento e domínio dos portugueses naquelas partes presentear os reis gentios; remetendo cartas de frei MANUEL DE PAÇOS expondo as humilhações que os portugueses sofriam naquelas partes e a situação dos padres missionários na costa da Guiné e cartas de um capitão de navio português chamado JOSÉ DA SILVA COSTA, do capitão-mor de Bissau, NICOLAU DE PINA ARAÚJO, e de BENTO JOSÉ NOGUEIRA sobre assuntos relativos a Bissau; enviando um termo de vassalagem do rei de Cacande e outros documentos sobre a entrada de uma embarcação inglesa vinda de Barbadas no rio Ziguinchor, onde nunca tinha entrado nenhuma embarcação portuguesa; dando conta que suspendeu a obra da casa forte para adiantar a obra da fortaleza; da falta de dinheiro para suprir as despesas da praça, tendo recorrido da verba que chegou destinada a Bissau, solicitando ordem para pagar o jornal ao carpinteiro RODRIGO ANTÓNIO que não constava da lista dos oficiais; informando que, devido à suspensão da obra de Bissau, vinha usando os materiais disponíveis nas obras de Cacheu; da necessidade de uma botica para os soldados e da vinda de uma Companhia de soldados de Cabo Verde para trabalhar nas obras de Cacheu; dando conta que recebeu uma carta do senhor do Rio Nuno, FABIÃO FERNANDES, e da falta de oficiais carpinteiros e pedreiros e ferramentas para dar início as obras em Bissau; e sobre a possibilidade de se erguer uma companhia para Cacheu.
Anexo: cartas, termo e planta.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 11.

AHU_CU_049, Cx. 8, D. 734.
1755/04/29
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real informando dos riscos que corria o dinheiro da Fazenda Real nas mãos do capitão-mor da praça de Bissau, Nicolau de Pina Araújo, a quem se devia tomar contas, por mais honesto que parecesse ser, e que de Bissau vinham grandes quantidades de escravos mencionando que o navio de CUSTÓDIO FERREIRA GOIS, um do contrato da urzela, outros portugueses e um francês saíssem de Bissau carregados de escravos, concluindo assim que os direitos reais naquela praça deveriam ser avultados, advertindo que se reveria averiguar as despesas feitas por NICOLAU DE PINA, uma vez que fora buscar recursos em Cacheu para as obras de Bissau; dando conta que pediu a Nicolau de Pina um mapa dos rendimentos dos direitos reais com relação da entrada e saída de navios.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 11.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 736.
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real sobre ter ponderado deslocar-se a Lisboa para explicar pessoalmente alguns pontos que não foram bem esclarecidos por escrito; solicitando ser nomeado para o posto de governador-geral do reino de Angola, em atenção aos seus bons serviços naquele reino, que poderiam ser atestados na Corte por António Inácio, filho do ex-governador de Angola João Jaques de Magalhães; dando conta da notícia que teve da morte do desembargador Custódio Correia de Matos, sendo sucedido pelo ex-ouvidor de Cabo Verde, desembargador Francisco Xavier de Araújo, advertindo que o falecido desembargador lhe remeteu uma precatória para o sequestro dos bens de Francisco Xavier de Araújo; e expondo que ainda não tinha recebido a mercê patente de coronel prometida quando foi à Guiné com a patente de capitão-mor de Bissau.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 11.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 737.
1755/06/07
Situação de fome na ilha de Santiago
Em 1754, o governador do Grão-Pará e Maranhão, FRANCISCO XAVIER DE MENDONÇA FURTADO, irmão de Pombal, escreveu ao marquês sugerindo a criação de uma companhia de comércio que facilitasse o abastecimento de mão-de-obra escrava africana, de que muito carecia aquela região. O ministro logo acataria a sugestão do irmão, visando os benefícios que uma empresa daquele porte traria para a colónia e, sobretudo, ao reino de Portugal.
Companhia do Grão-Pará e Maranhão (1755)
Pelo Alvará de 7 de Junho de 1755, foi concedido à Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão o comércio e a exploração exclusivos das ilhas de Cabo Verde em carácter irrevogável pelo período de 20 anos, alegando-se motivos de sustento e de viabilidade do intento monopolista da companhia, visando essencialmente o lucro. No inciso 9º, a Companhia pedia o exclusivo na exploração das rendas reais, compreendendo inclusive os rendimentos das alfândegas, os dízimos, os foros, a chancelaria e outros impostos, por um período de vinte anos. Em contrapartida, a Companhia teria de defender e fortificar as ilhas do ataque dos piratas (incisos 4 º a 8º) e combater os navios intrusos (inciso 11º). É interessante salientar o carácter secreto das condições impostas pela Companhia à Coroa para a exploração exclusiva do comércio das ilhas de Cabo Verde e da costa da Guiné, o que se justificava, segundo o Alvará, pela existência de motivações politicas em relação ao trato. Porém, a Companhia, não satisfeita com as mercês feitas pelo rei pediu o controle de todos os frutos (algodão, panos de terra, urzela. .. ) das ilhas de Cabo Verde e da Costa da Guiné (inciso 12º.). Além do mais, propôs o não pagamento de quaisquer emolumentos nas alfândegas do reino, podendo inclusive descarregar directamente nos seus armazéns. Outrossim, a Companhia, pelo inciso 11 º, estabelecia que, caso seus navios fossem sem despachos para o Brasil, o governador de Cabo Verde não poderia mandar confiscar os bens dos referidos navios. Esta decisão, ao resguardar os interesses da Coroa portuguesa no que se referia aos direitos alfandegários, prejudicava os moradores da ilha de Santiago, uma vez que os dízimos e os rendimentos das alfândegas constituíam a maior parte dos rendimentos da ilha. Muitos foram os que protestaram contra a instituição da Companhia que só beneficiava os seus próprios membros. Em nome de uma proposta de extinguir o paganismo e propagar a fé, conduzindo as missões para converter os "gentios" da Costa de África, na versão de alguns, a Companhia não fez senão oprimir, sobretudo agricultores e pequenos armadores, não restando dúvida quanto a sua acção concreta segundo seus interesses comerciais. Em Cabo Verde, foram feitas inúmeras reclamações contra a arbitrariedade da referida Companhia. O governador, JOAQUIM SALEMA DE SALDANHA, em 12 de Fevereiro de 1770, expôs as ''vexações" e os abusos cometidos, em particular, quanto ao fato de não deixar aos produtores outra alternativa senão vender suas manufacturas por um preço insignificante para a própria Companhia, a troco de um outro género. O governador JOAQUIM SALEMA DE SALDANHA LOBO enfrentou energicamente a Companhia, reclamando com o ministro Martinho de Melo e Castro contra os "desmandos e violências dos agentes da organização", tendo em vista a extrema pobreza das populações. De nada adiantou a referida reclamação e a Companhia continuou a ter omonopólio dos rendimentos da província. Esta política fez com que o produtor não pudesse saldar as rendas das terras (a renda é aqui entendida como o preço pago ao dono da terra pelo produtor que a utilizava, sendo que a terra seria tanto mais valiosa quanto menor fosse sua disponibilidade),os foros e os impostos. Se antes os habitantes vendiam diretamente aos navios estrangeiros carne vermelha, de galinha, porco, além de vegetais e frutas como abóbora e laranja, ao lado de outros mantimentos da terra, agora tinham forçosamente de vendê-los à Companhia, que por sua vez os revendia aos estrangeiros por altos preços. Além disso, pelo fato da compra de escravos ser exclusivo da Companhia que tinha por prioridade abastecer o Estado do Maranhão com os ''melhores" escravos, destinava para Cabo Verde os de "pior qualidade". Em decorrência, nas ilhas, a produção agrícola, sobretudo a de algodão, entrou em declínio.
Por esta tabela percebemos que do total de 18.226 cativos inseridos no Maranhão, 8.003 eram de Bissau, 5.199 eram de Cacheu e 1.192.indicavam apenas a área de Guiné como porto de embarque, assim consideramos que 16.112 eram provenientes da Alta Guiné e fora desta área temos: Angola com 3.237, foi a segunda região fornecedora de escravos ao Maranhão. O tráfico com Angola durou dez anos, teve inicio em 1756 e foi até 1765, depois reiniciou por Benguela em 1772 durando até 1782, isso por inteméclio da CGGPM. Já para os anos de 1785, 1787,1788 e 1789 os cativos de Angola que desembarcaram na capitania maranhense tinham sido consignados a particulares, ou seja,nestes anos o comércio negreíro tinha sido realizado por negociantes independentes. (CARREIRA,1983: 138). Mas é importante salientar que, com a criação da Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba em 1759, a CGGPM deixou de negociar com Angola. Carreira aponta que, a cedência de mercado para a Companhia de Pernambuco e Paraíba se deu não apenas devido a interesses em comum (queriam evitar a concorrência),mas em especial "devido â presença nos reinos de Angola e de Benguela de outros compradores independentes, mais activos e talvez mais eficientes."(CARREIRA, 1983:237); as demais regiões, Malagueta com 40, Costa da Mina com 184 e Moçambique com 37, indicam que o fornecimento de cativos para o Maranhão foi esporádico, pois como podemos perceber cada uma delas só inseriu cativos em apenas um ano.

Em 1781 percebemos que foram inseridos 944 escravos por cinco embarcações, sendo que como porto de embarque constava apenas o nome genérico de Guiné. Os africanos foram divididos em homens e mulheres, e pela primeira vez constatamos a consignação dos carregamentos a particulares (até este momento toda a comercialização era feita pela Companhia), também ficamos cientes da forma pelas quais os cativos foram vendidos (se à vista ou a crédito).
Percebemos pela documentação que, a partir de 1785, o tráfico de escravos foi realizado sob forma de contrato e por particulares, ou seja, desta data em diante não verificamos nenhuma negociação realizada pela Companhia. Isto nos leva a supor que deste ano em diante a empresa monopolista esteve ocupada apenas com a liquidação de seus negócios. Mas Carreira afirma que, mesmo em processo de liquidação, a Companhia conseguiu transportar de 1778 até 1788 a quantidade de 1.508 escravos (CARREIRA, 1983:93-94), entretanto, não conseguimos encontrar mais indícios na documentação analisada. O ano de 1788 foi de facto o último em que a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão actuou.
Carreira aponta que, de 1788 a 1794 saíram de Bissau e Cacheu um total de 6.129 caitivos. Estes tiveram como destino as seguintes localidades: Cabo Verde com 82; Pernambuco com 34; Maranhão com 5.022; Pará com 769 e sem indicação de destino constam 222 africanos. Pelos números se percebe que o tráfico continuava a orientar-se para a capitania maranhense – 81,9% do total de saídas - enquanto a região do Pará sofreu uma redução com apenas 12,5%. “Por outro lado, a média anual de saídas situou-se nos 876 escravos, semelhante à encontrada durante a actividade da Companhia" (CARREIRA, 1981: 115-116).
O ano de 1799 foi o último para o qual encontramos noticias a respeito do tráfico de escravos da Alta Guiné para o Maranhão. Em um oficio de 27 de Novembro, o segundo tenente do mar Manuel Coelho de Abreu relata ao Secretário de Estado da Marinha e Ultramar a viagem que realizou de Lisboa a Bissau e desta a São Luís. Por esta documentação verificamos que no referido ano entrou na capital maranhense um comboio com cinco navios vindos da ilha de Bissau e estes traziam escravos, cera e marfim. As embarcações, galera Ninfa do Mar, galera Ligeira, bergantim Piedade, bergantim Esperança e a escuna São José Felix transportaram um total de 945 africanos, que foram classificados da seguinte forma: 585 escravos homens; 116 moleques; 170 escravas mulheres e 74 molecas. Carreira demonstrou que, durante o período de actividade da Companhia Geral (tanto de monopólio como de livre comércio) foram adquiridos 31.317 escravos adultos e adolescentes e destes 22.404 eram originários da área compreendida entre o rio Casamansa e a Serra Leoa (chamados de rios de Guiné), o que representa 71,5% do total, sendo que dos reinos de Angola e Benguela saíram 8.913 cativos (28,5 %). Esses números representam o total de peças adquiridas,pois levando em conta as perdas (falecidos em terra e durante as viagem) se obtém as seguintes quantidades: Guiné com 18.268; Angola com 6.717 (CARREIRA, 1983:86-87).
1755/07/00
NICOLAU PINA ARAÚJO é capitão-mor de Bissau
1755/07/19
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José I sobre carta do capitão-mor da praça de Bissau, NICOLAU DE PINA ARAÚJO, de 28 de Outubro de 1754, informando que necessitava de um engenheiro para delinear a fortificação de Bissau e de oficiais para executarem a obra e gente para a sua guarnição, em virtude de apenas ter vinte crioulos e alguns escravos; expondo a importância da fortaleza e da sua guarnição para obterem a obediência dos potentados da ilha de Bissau e sua vizinhança, e a propagação da fé católica; aconselhando que houvesse uma pessoa que o substituísse nalgum período que estivesse impedido de servir, e o auxiliasse nas relações com os locais, recomendando o capitão de infantaria de Cacheu, BENTO JOSÉ NOGUEIRA, assumisse esta diligência, conferindo-lhe o posto de sargento-mor; e remetendo certidões que atestavam o merecimento de Bento José Nogueira.
Anexo: carta e certidões.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 13 e 6.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 740.
1755/08/09
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José I sobre carta do capitão-mor da praça de Cacheu, de 30 de Agosto de 1754, dando conta da sublevação protagonizada pelos escravos do capitão-mor de Bissau, NICOLAU DE PINA ARAÚJO, e outros poucos que os seguiram, escalando os baluartes daquela praça, matando três soldados brancos, e cometendo inúmeras insolências e roubos, em prejuízo Fazenda Real.
Anexo: carta (cópia) e certidões
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 15.

AHU_CU_049, Cx. 8, D. 742.
1755/08/09
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José I sobre carta do capitão-mor da praça de Cacheu, de 30 de Agosto de 1754, dando conta da sublevação protagonizada pelos escravos do capitão-mor de Bissau, NICOLAU DE PINA ARAÚJO, e outros poucos que os seguiram, escalado os baluartes daquela praça, matando três soldados brancos, e cometendo inúmeras insolências e roubos, em prejuízo Fazenda Real.
Anexo: carta (cópia) e certidões
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 15.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 742.

1755/08/18
REQUERIMENTO dos oficiais pedreiros e carpinteiros, Lourenço Ferreira, José Soares e Joaquim Manuel, ao rei D. José I solicitando receber os seus salários, em virtude de já terem regressado à Corte, depois de terem trabalhado na fortificação de Cacheu e Bissau.
Anexo: carta, lista e lembrete.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 16.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 743.
1755/10/30 REQUERIMENTO do capitão de infantaria, BENTO JOSÉ NOGUEIRA, ao rei D. José I solicitando confirmação da sua promoção ao posto de sargento-mor da praça de Bissau, mencionando que deveria receber o soldo compatível com a atual patente, dado que fora provido para auxiliar o capitão-mor de Bissau no governo daquela praça.
Anexo: decreto (minuta).
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 18 e 19.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 745.
1755/12/06
OFÍCIOS (minutas) do secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça de Corte Real, o primeiro, ao capitão-mor da praça de Bissau informando que não podia mandar as respostas das suas cartas na presente embarcação, em virtude da situação vivida após o terramoto; acerca da expedição do necessário para o acabamento da fortaleza, e sobre a nomeação de BENTO JOSÉ NOGUEIRA para o posto de sargento-mor de Bissau; o segundo, ao governador e capitão-general de Cabo Verde, LUÍS ANTÓNIO DA CUNHA D´EÇA, sobre o atraso na expedição da correspondência por causa do terramoto e dando conta que mandou fazer as duas lanchas perdidas pelo destinatário.
Obs.: as duas cartas estão no mesmo suporte.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 20.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 746.
1756/05/21
OFÍCIO do capitão-mor da praça Bissau, NICOLAU DE PINA ARAÚJO, do [secretário de estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real], acerca da execução da ordem régia para libertar o degredado e mestre pedreiro ANTÓNIO RODRIGUES.
Anexo: extracto de cartas.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 23.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 749.
EXTRACTO DE CARTAS dos capitães-mores das praças Bissau e Cacheu, NICOLAU DE PINA ARAÚJO e MANUEL PIRES CORREIAS, sobre a execução de uma ordem régia relativa ao degredado e mestre pedreiro ANTÓNIO RODRIGUES; lamentando o terremoto ocorrido em de Lisboa, e queixando-se da insolência dos negros de Bissau, e pedindo satisfação da patente que solicitou para BENTO JOSÉ NOGUEIRA que deveria auxilia-lo no governo da praça de Bissau; acerca do estado da fortificação da ilha [de Bissau], da falta de guarnição e dinheiro para dar seguimento as obras.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 23.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 750. 
1756/06/21
Nomeação de MANUEL ANTÓNIO DE SOUSA MENESES no cargo de capitão e governador-geral de Cabo Verde. Tomou posse a 6 de Abril do ano seguinte.
No contexto da Guerra dos Sete Anos (1756-1763), os ingleses ocuparam a ilha de Goreia.
1757/00/00
MANUEL PIRES CORREIA é capitão-mor de Bissau, até 1759
1757/03/17
Dr. Amaro Luiz de Mesquita nomeado ouvidor em 17 de Março de 1757, faleceu em 1760.
1757/04/03
MANUEL ANTÓNIO DE SOUSA E MENESES governador de Cabo Verde desde 3 de Abril de 1757 até 6 d Outubro de 1761.
1757/06/26
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, MANUEL PIRES CORREIA ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costas Corte Real], dando conta que recebeu um aviso do presidente do hospício de Bissau, frei MANUEL DE VINHAS, através de frei MANUEL DE PAÇOS, informando de que o gentio de Bissau estava levantado, em virtude da morte do sargento-mor BENTO JOSÉ NOGUEIRA na povoação de Geba, estando ANTÓNIO FERNANDES LOPES GODINHO SANCHES governando aquela povoação, tendo posteriormente recebido outro aviso de Bissau comunicando a morte do capitão-mor de Bissau, NICOLAU DE PINA ARAÚJO.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 26.

AHU_CU_049, Cx. 8, D. 753.
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, MANUEL PIRES CORREIA ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costas Corte Real], sobre o falecimento do capitão-mor da praça de Bissau, NICOLAU DE PINA ARAÚJO e do sargento-mor, BENTO JOSÉ NOGUEIRA; acerca da inventariação dos bens do falecido capitão-mor, as suas dívidas e a delapidação da sua fortuna; informando que durante o governo do falecido capitão-mor nunca houve almoxarife para carregar tudo o que pertencia à Fazenda Real.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 26.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 755.
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, MANUEL PIRES CORREIA do [secretário de estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costas Corte Real], dando conta do estado da ilha de Bissau, e dos desmandos do gentio em virtude da falta de autoridade naquelas partes, advertindo que ordenou que ANTÓNIO FERNANDES LOPES, que estava a frente da povoação de Geba, governasse Bissau e acalmasse o gentio; lastimando não ter guarnição e gente suficiente para descolar-se a Bissau para averiguar a situação; solicitando ser socorrido com guarnição para aquela praça e presídios.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 26.

AHU_CU_049, Cx. 8, D. 756.
OFÍCIO do capitão-mor da praça de Cacheu, MANUEL PIRES CORREIA ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costas Corte Real], remetendo carta do padre presidente do hospício de Bissau, frei MANUEL DE VINHAIS, informando da situação da praça de Bissau, da artilharia, e da ida de ANTÓNIO FERNANDES LOPES para restabelecer a ordem naquela praça.
Anexo: carta.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 26.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 757.
Um eco paradigmático da assunção de responsabilidades encontra-se na transferência das administração das «Ilhas de Cabo Verde, suas annexas, e Costa da Guiné desde o Cabo Branco até ao Cabo das Palmas» para a COMPANHIA GERAL DO GRÃO PARÁ E MARANHÃO, ocorrida, discretamente, em 1757 (1). A sociedade suplicara o comércio exclusivo naquela área (2), a par da outorga, a ocultas, do governo político e militar dos domínios envolvidos (3). Em sigilo inquebrantável, tudo abençoou o Alvará de confirmação de 28 de Novembro de 1757, determinando, de modo peremptório, que os actos dimanados da Companhia ostentassem idêntico vigor e produzissem os mesmos efeitos «como se fossem obrados com autoridade publica; sem receberem o menor prejuízo, ou diminuição, quanto à sua substancial validade de serem feitos e ordenados em segredo...» (4). Uma concessão que se destinava a manter firme e valiosa pelo prazo de vinte anos. (5)
(1) Vide A. da Silva Rego, O Ultramar Português no século XVIII (1700-1833), Lisboa, MCMLXVII, págs. 213 e segs., António Carreira, As Companhias Pombalinas, cit., págs. 41 e segs.
(2) Aludimos à extensa consulta de 14 de Novembro de 1757 da «Junta da Administração da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão sobre haver Sua Majestade por bem conceder à dita Companhia o Commercio exclusivo das Ilhas de Cabo Verde, e suas annexas, e da Costa da Guiné, desde o Cabo Branco, athé o Cabo das Palmas inclusive, com as condiçoes expressadas». As linhas que se extractam deste documento retiraram-se do A. H. M. O. P. T. C., Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão, 1. Existe um outro exemplar no A. H. U. que está publicado por António Carreira, op. cit., págs. 272 e segs.
(3) O monarca anuía entregar à «Junta da Administração da respectiva Companhia por tempo de vinte annos os Governos Politico, e Militar das Ilhas de Cabo Verde, suas annexas, e Costa de Guiné desde o Cabo Branco athé o Cabo das Palmas incluzive; para que ella sem dependencia de outro algum Tribunal, que não seja a Real, e imediata Protecção de Vossa Majestade, os mande administrar pelas pessoas que bem lhe parecer: Exceptuando sómente as Nomeações, e Provimentos dos Bispos, Conegos, e mais Ministros da jurisdicção Ecclesiastica; porque esta ficará no mesmo estado, em que prezentemente se acha». Vide consulta de 14 de Novembro de 1757, condição I. O desvelo em encobrir a concessão resultava ostensivo das condições II e V.
(4) Vide A. H. M. O. P T C., Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão, 1; A. Carreira, op. cit., pág. 279; A. H. U., Pará, caixa 16 A (1754-1758).
(5) Sobre o ressarcimento que tocaria à Companhia, se, por algum incidente não imaginado, ocorresse uma revogação antes do expirar do prazo da concessão, ver a consulta de 14 de Novembro de 1757, condição XIV.
1758/04/11
DESPACHO (cópia) do Conselho Ultramarino determinando que o tesoureiro do dito Conselho, José Miguel Licete, pagasse ao oficial pedreiro ANTÓNIO RODRIGUES uma determinada quantia respeitante aos seus jornais, do que gastou na ida, assistência e regresso de Bissau, e o sustento da viagem de ida e volta Lisboa.
Anexo: escrito, lista e carta (cópia).
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 29 e 28.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 759.
1758/05/13
CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei D. José I sobre requerimento de MANUEL FERREIRA DE OLIVEIRA, solicitando ser nomeado capitão-mor da ilha de Bissau, em virtude do falecimento do sargento-mor BENTO JOSÉ NOGUEIRA e do capitão-mor da praça de Bissau, NICOLAU DE PINA [ARAÚJO].
Anexo: ofícios, lembrete, certidão, requerimento, consulta (minuta) e provisões (cópia).
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 30 e 9.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 760.
1758/07/16
OFÍCIO do capitão-mor de Cacheu, MANUEL PIRES CORREIA, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Tomé Joaquim da Costas Corte Real sobre a fortificação da ilha de Bissau, mencionando que em tempos o corsário Nossa senhora da Estrela fora duas vezes a Bissau para o empreendimento da obra da fortaleza; informando que enviará para a Corte ANASTÁCIO DOMINGOS PONTES para dar conta da obra da fortaleza.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 30.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 761.
1758/12/00 A tomada de Gorée pelos ingleses ocorreu em dezembro 1758, quando uma expedição naval britânica liderada por Augustus Keppel tomou a ilha francesa de Gorée ao largo da costa do Senegal durante a Guerra dos Sete Anos. A ilha foi ocupada pelos britânicos até 1763, quando foi devolvida após o Tratado de Paris.




















1759/00/00
1759 - Instituição, em Portugal, da Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, outra das companhias de comércio criadas pelo marquês de Pombal.
DUARTE JOSÉ RÓIS é capitão-mor de Bissau
1759/05/02
CARTA de frei MANUEL DE PAÇOS, ao capitão-mor da praça de Cacheu, FRANCISCO ROQUE SOUTO MAIOR, sobre as dificuldades que teve para fretar a lancha do capitão MATEUS DE SOUSA, para ir a Cacheu levar notícias; dando conta da presença de uma embarcação de uma Companhia francesa em Bissau pedindo mantimentos ao rei local, adiantando que os franceses questionaram os motivos pelos quais o rei de Portugal levantou fortaleza em Bissau e se a ilha de Bolama também pertencia ao monarca português; enfatizando que apesar do seu estado de saúde continuaria remetendo os papéis que chegassem da Serra Leoa; e informando da insolência do gentio que estava levantado.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 32.
AHU_CU_049, Cx. 8, D. 764.

  

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