1696/00/00
«Bacampolco
era o principal régulo da tríbu papel, tendo outros. chefes
subordinados e estendendo a sua influência além da ilha de Bissau .pela
região dos brames.
Seguiu-se-lhe
o régulo Incinhate, que se mostrava menos submisso às
autoridades da fortaleza. Todavia, em 1696, aceitou também o baptismo pro
forma, estando em Bissau pela segunda vez, o bispo D.
Vitoriano.»
João Barreto, HISTÓRIA
DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 130
O régulo Incinhate recusa a submissão às autoridades da fortaleza de Bissau.
1698/00/00
Cerco à fortaleza de Bissau, seguindo-se uma guerra contra o presídio.
1698/01/01
«Em resposta, o régulo apertou o cerco à povoação, dificultando a entrada de géneros e impedindo os seus moradores de se abastecerem de água. José Pinheiro pediu socorro aos moradores de Geba e ao capitão-mor de Cacheu, Vidigal Castanho, que chegou a Bissau em 1 de Janeiro, com 3 lanchas e 92 soldados.
Pode dizer-se que foi esta a primeira das inúmeras guerras que houve mais tarde entre os papéis e o presídio de Bissau.
No relatório que enviou para Portugal em 24 de Março de 1698, Vidigal Castanho diz que o régulo Incinhate o acolheu com demonstrações de amizade concordando com a continuação das cbras do forte, mas com a condição de ser substituído o comandante José Pinheiro. Vidigal Castanho respondeu aos indígenas que o seu pedido só poderia ser satisfeito pelo governador de Cabo Verde.
Além disso, queixando-se o régulo de que nada havia recebido em paga do terreno cedido para a construção do forte, propôs-lhe a compra do terreno e assinatura do respectivo contrato em papel, com tôdas as formalidades porque, sem embargo da pouca constancia que todo este gentio tem nas suas palavras aquelas que chegam a dar nesta forma nunca a quebram e porque tôdas as vezes que chegam a tomar dinheiro pela coisa que vendem em nenhum tempo inovam em ordem a adquirir direito nela (a).
Em 2 de Janeiro efectuou-se a compra do terreno pela quantia de 300 barafulas (6o$ooo) tomando-se em consideração alguns presentes que anteriormente tinha recebido em nome do rei de Portugal. Nesse mesmo dia foi lavrado o competente auto por José Correia de Sá, escrivão de Fazenda Real e do Judicial e de Notas, no livro do registo da alfândega. de Bissau.
Estiveram presentes o dito régulo Incinhate, um seu sobrinho baptizado com o nome de Pedro Alvares, um parente do régulo Francisco Fernandes que servia de intérprete, o capitão-mór José Pinheiro, o capitão-tenente da fortaleza, João de Almeida Coimbra, e o escrivão de Fazenda Francisco Lourenço, além dos ministros do régulo e vários grumetes.
Serenados os ânimos e feitas as pazes, o capitão Vidigal Castanho retirou-se para Cacheu em meados de Fevereiro. Poucos dias depois o comandante José Pinheiro provocava novo conflito com os papeis, impedindo que êstes negociassem com, uma fragata holandesa que surgira no pôrto de Bissau.
É certo que a fragata vinha armada de 26 peças de artilharia e as suas intenções não se limitariam talvez a simples transacções comerciais, mas as circunstâncias aconselhavam prudência ao capitão-mor de Bissau.
Êste, porém, não se conteve e fazendo uso da sua artilharia começou a atacar o navio holandês, que já havia desembarcado algumas mercadorias. A fragata não respondeu; mas no dia seguinte, Incinhate cercou a fortaleza com a sua gente de guerra, enviando um emissário dizer ao capitão-mór que se continuasse na sua teimosia derrubaria as muralhas, cortando as cabeças aos moradores.
O capitão José Pinheiro mandou tocar a rebate e preparou-se para a defesa, mas foi dissuadido pelos moradores de Bissau e pelos missionários que foram de opinião que se deveria consentir o comérdo com os estrangeiros enquanto a Praça não fosse bastante forte para impôr a sua lei.
Não obstante todos os seus excessos e arrebatamentos, pode dizer-se que se deve ao capitão-mór José Pinheiro da Câmara o estabelecimento do Presídio de Bissau, a construção do antigo forte e o seu municiamento. Segundo o orçamento elaborado para o ano económico de 1696-97, as suas despesas importavam em 2.371$000 réis assim distribuídos:
Era êste o pessoal designado para a capitania, mas o quadro raras vezes esteve completo e ainda neste caso compreende-se que uma guarnição de 40 soldados era insuficiente para conter a arrogância dos papeis. Tôda a história da ocupação da ilha de Bissau e ainda do resto da colónia girou em volta dêste conflito entre a fortaleza e a tribu aguerrida dos papeis, que só acabou de ser dominada por completo no século XX com a campanha do heróico capitão Teixeira Pinto.
Em conseqüência de várias reclamações, o Govêrno central viu-se obrigado a exonerar José Pinheiro da Câmara de capitão-mor de Bissau, substituíndo-o por Rodrigues de Oliveira Fonseca, que estava servindo na guarnição de Cacheu.
(a) O régulo pepel receb!a além disso todos os anos uma farda encarnada, meias, sapatos e chapéu armado. Êste costume manteve-se até princípios do século XIX.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pgs. 133-135
1698/02/00
Em Janeiro de 1698, sendo presentes., além do Capitão-mor JOSÉ PINHEIRO e do capitão-tenente JOÃO DE ALMEIDA COIMBRA, os escrivães FRANCISCO LOURENÇO e JOSÉ CORREIA DE SÁ e o régulo lncinhate, seus acólitos e intérprete, foi lavrado, no Livro de Registo da Alfândega de Bissau, o auto da compra do terreno onde fora construída a fortaleza, adquirido pela Importância de 300 barafulas, ou seja 60$000 réis.
Precisamente um mês depois desta cerimónia, um novo episódio, relacionado com o comércio livre, provocou outra rebelião dos indígenas.
O comandante de uma nau holandesa, armada com 26 peças, sob o pretexto de comerciar com os nativos da região mas com a finalidade de formar, em território sob a nossa soberania, uma feitoria, fundeou nas águas do Geba. O comandante da fortaleza intimou o navio estrangeiro a levantar ferro e, como não fosse obedecido, atacou-o a tiro de canhão, obrigando-o a retirar-se.
No dia seguinte a fortaleza estava cercada e um emissário dos rebeldes Informou o Capitão-mor que «se continuasse na sua teimosia (o régulo), derrubaria as muralhas, cortando a cabeça aos moradores.
A paz só se conseguiu através de várias concessões, entre as quais a autorização de livre comércio e a substituição do Capltão-mor JOSÉ PINHEIRO DA CÃMARA pelo Capitão RODRIGUES DE OLIVEIRA FONSECA.
1753/02/09
Ataque à nova fortaleza de Bissau, comandado pelo RÉGULO PALANKA.
Foram ultimados os preparativos para a viagem da nau “N.ª S.ª da Estrela” que, acompanhada de um aviso e de mais dois navios, deveria seguir de Lisboa para Cacheu em missão de soberania. A esquadra aportou em Bissau no dia 9 de Fevereiro e prestou auxílio ao comandante da respectiva praça então cercada pelo gentio.
«A falta de uma defesa regular de Bissau tinha os moradores em continuos sobressaltos por causa dos gentios d'essa ilha, que sempre foram exigentes e atrevidos.
Muitas supplicas se dirigiram a D. João V para fortificar esse ponto da Guiné, que situado quasi na foz no rio Geba ia-se tomando um grande centro de commercio com o sertão.
D. José, com melhores olhos, comprehendeu a necessidade de dar vida a esse seu riquissimo dominio, onde só tinha uma Praça fortificada, que era a de Cacheu, na foz do rio de Farim.
Em 1753 resolveu a pretensão dos moradores de Bissau fazendo sahir o corsario de guerra Nossa Senhora da Estrella (Nova relação da viagem que fez a Cacheu e Bissau, por (A. J. C. A. B.) Antonio José da Costa Araujo) no dia 6 de janeiro, acompanhado de um aviso e mais dois navios com destino a Cacheu.
No dia 7 de janeiro velejava fóra da barra essa esquadrilha de quatro navios com rumo a Cacheu, onde o commandante do corsario devia desembarcar algum material de guerra e combinar com o capitão-mór d'essa praça sobre a sua ida a Bissau e do auxilio que carecia.
Em 21 de janeiro fundeou o corsario ao sul do Cabo Roxo, e em 22 suspendeu para novamente fundear na barra de Cacheu, em sete braças; o aviso estava fundeado em Cacheu.
O commandante do corsario mandou arriar a lancha immediatamente, guarnecendo-a de soldados, com mantimentos para seis dias, a fim de seguir para Cacheu sob a direcção do piloto do navio, com a missão de trazer para bordo um pratico, ao mesmo tempo que communicaria ao capitão-mór a sua presença na barra. A lancha encalhou nos baixos, desistindo o piloto de proseguir a viagem, regressando a bordo a 23, pelo melo dia, para novamente sahir com o 2.º piloto e o guardião, mas só com 18 homens de remos.
Em 26 de tarde chegaram a lancha e um hiate de guerra de Cacheu, que salvou ao corsario com cinco tiros, agradecendo este com tres.
O commandante do corsario recebeu uma carta pelo hiate e chamado á camara o capitão-tenente com a maior presteza se mandou safar dezesete reparos que o referido hiate devia receber para Cacheu. A bordo d'este seguiram por ordem do commandante o condestavel, o engenheiro e quatro artilheiros; para trabalhar a bordo guarneceu-se o hiate com mais gente, um sargento, um terceiro condestavel e um capitão-tenente para a mandar. Tudo prompto velejou o biate no dia 27.
O corsario suspendeu o ferro e approximou-se mais da barra, ficando á espera do aviso e do hiate, que appareceram no dia 4 de fevereiro pela tarde. No dia 3 demandava a barra um navio sem bandeira e o hiate obrigou a içal-a, dando-lhe um tiro de bala. Era portuguez e como tivesse içado uma flammula deu-se-lhe segundo tiro porque era navio de guerra desconhecido; chegou á fala e perguntando-se-lhe quem lhe dera licença para içar flammula deante de urna nau de guerra limitou-se a responder, arriando-a, dizendo que tinha sahido com uma frota da Bahia em direitura a Cabo Verde e que levava ferro e madeira para Cacbeo.
O capitão-tenente mimoseou o commandante do corsario com vaccas, por cos, varios generos, um escravo e uma cotia. A 6 de fevereiro velejaram os navios para Bissau, excepto o biate, e em 9 ancoraram proximo do porto, onde estavam surtos outros quatro. A terra salvou á nau e esta correspondeu. Em 10 fundearam no porto perto das oito horas da manhã, salvando a terra com sete tiros, sendo esta salva correspondida com egual numero.
Do que vae lêr-se deprehende-se que a praça de Bissau estava sem capilão-mór de nomeação régia, e que era governada por um preto boçal, que desconhecia a lingua portugueza, pois diz o auctor da Relação: passado pouco tempo foy a terra o Pratico que entendia a lingoa portuguesa, para trazer a bordo o Capitão cabo, que era o que tinha defendido a terra e era o que nella governava, logo veyo a nosso bordo. Fez as soas venias, ou para melhor dizer bosumbays acanilhadas, e se recolheo á camera a conversar com o nosso capitão e officiaes mayores, e dabi a pouco salvamos a terra com onze peças, que a recebeo com as mesmas insando bandeira, a primeira vez divisada naquella terra, o que assim não acontecera se a não pedirão a hum dos navios de que acima rallamos.
…..
No dia seguinte de manhã mandou-se buscar a bordo oito peças, que deveriam ser montadas no local onde arvorara a bandeira, e quando ellas chegavam á praia caminhavam apressadamente para alli alguns soldados que vinham pedir soccorro porque o gentio se levantara.
De bordo, com a maior presteza, desembarcou a gente, ficando apenas doze homens, e dos navios mercantes desembarcaram grande numero para o combate.
A descripção do combate foi tratada na segunda parte da Relação, do mesmo auctor, intitulada: “Do combate que deo e victoria que alcançou do gentio do porto de Bissau, o nosso corsario de guerra N. Senhora da Estrella em este presente anno de 1753.”
O hiate jã havia chegado de Cacheu, trazendo o capitão-mór d'esta Praça e alguns mantimentos que já iam escasseando. O commandante da nau, que já estava em terra, deu um tiro de rebate; de bordo dos navios desembarcou a gente e o capitão-mór que estava no hiate.
O hiate foi fundear no melhor ponto para sacudir os gentios que ocupavam o sitio da fonte, onde os moradores faziam aguada. O Pallanca tinha com muita rapidez mandado construir uma paliçada alli. Ao cabo de um grande numero de tiros do hiate ficou arrasada essa fortificação, pondo-se em debandada os gentios. Mandou o commandante do corsario em seguida vinte soldados e seis artilheiros, com seis peças montadas, defender a fonte; levaram três barracas de campanha.
Entre os gentios mortos na paliçada encontrou-se um dos grandes que os commandava e um outro guerreiro de especial apreço do Pallanca.
De bordo os tiros não cessavam e as pontarias faziam-se aos grupos dos gentios que dispersos rondavam a praça para deitarem fogo nas palhoças proximas da mesma.
Um corpulento e atrevido gentio, empunhando um marrão acceso, caminhava para as palhoças; o capitão-mór de Cacheu, acompanhado de um marinheiro preto, foi ao seu enconlro para lhe embargar o passo; o gentio, armado de um punhal, cravou-o por duas vezes nas costellas do marinheiro, que morreu d'ahi a poucos dias; e dirigindo-se ao capitão-mór para o mesmo fim, este correu para uma das nossas vigias que perto estava, e tirando-lhe a arma da mão fez fogo sobre o gentio, que logo ficou morto.
Parece que da mesma sorte mataram dois soldados do corsario, um ainda moço. A este cortaram-lhe a cabeça espetando-a n'um pau, que levantado ao alto foi conduzido até ao hospicio dos frades, com grande acompanhamento de gentios, que faziam grande alarido, bambaré, solemnisando essa grande proeza.
O hospício estava abandonado dos padres, que tinham recolhido à Praça, onde receberam alimentos, seguindo depois para bordo dos navios mercantes a pedido do capitão da nau.
O outro homem era serralheiro e foi encontrado pelo segundo piloto da nau junto do hospício. O commandante mandou-o enterrar dentro do hospicio, e ao moço junto da fortaleza, tendo sido esse piloto quem, pela meia noite, lhes abriu a sepultura e os enterrou.
Dos navios mercantes não houve mais noticia de quatro homens, que se soppõe terem sido mortos nas proximidades da Praça.
Reconhecendo o commandante da nau os inconvenientes de conservar inactiva a força, e que era necessario dar uma lição aos gentios pelas morte de seis homens, ordenou que na noite de 18 para 19 de fevereiro formasse toda a gente em terra e se dividisse por cinco corpos pelo ambito da ilha, que cada corpo collocasse sentinellas a curtas distancias.
De bordo da nau se dariam tiros pela terra dentro.
Os cinco corpos cercariam o inimigo e as sentinellas fariam signaes para bordo a suspender o fogo.
O facto é que das dez para as onze horas appareceu o inimigo em massa do lado da fonte, fazendo grande gritaria; em terra tocou-se a rebate e a nau começou a fazer fogo. Ao amanhecer encontraram-se nove gentios mortos e entre estes um dos seus grandes. Assim mesmo um gentio approximou-se tanto que deitou fogo a uma das palhotas; o capellão da nau, que estava com uma arma carregada, alvejou-o, mas tão infeliz foi que ao disparar rebentou a arma, levando-lhe um dedo.
No dia 20, pelas dez horas da manhã, mandou o Pallanca uma embaixada a solicitar pazes, offerecendo em troca dos soldados mortos alguns escravos e mais alguma gente que fosse precisa para trabalhar, com a condição, porem, do commandante mandar retirar os soldados, que causavam medo aos gentios que viessem trabalhar.
Concordou-se n'este ajuste de pazes e o capitão-tenente D. Luiz só deixou ficar um certo numero de soldados de guarda. De bordo se mandou vélas para barracas, biscoitos, carnes, bacalhau, caldeiro para rancho, além de artilheria, polvora, bala e metralha, para se dar começo aos trabalhos de fortificação.
Estava todo preparado para evitar uma traição dos gentios e ordenou-se que se deitasse abaixo as palhoças existentes junto da Praça; a bordo apromptaram-se dois mil e dezoito cartuchos. N'este dia mandou o commandante recolher a bordo os doentes que estavam em terra com os pretos que serviam de enfermeiros; estes fugiram para os gentios. Á noile mandou o Pallanca aos navios mercantes trocar duas escravas por aguardente, por ser esta precisa para as festas do choro de um principe, seu sobrinho, que tinha fallecido. Realizou-se essa troca.
Preparavam os gentios uma outra traição. Com o tal choro quizeram persuadir o commandante que elles estavam socegados e que na Praça todos poderiam dormir á vontade. Bem pelo contrario redobrou-se de vigilancia, e tão boa foi que pelas duas horas da noite fizeram as sentinellas signal da aproximação do inimigo, em grande massa, do lado da fonte, tentando duas investidas contra ella; de bordo da nau e do hiate romperam fogo, que durou toda a noite, e ao amanhecer encontraram-se mais de vinte cadaveres, além de muitos feridos. O commandante mandou um cabo com o pratico que tinha vindo de Cacheu ao Pallanca para lhe dizer: Que lhe estranhava muito aquella acção, ao mesmo tempo que se lhe tinha sem reparo concedido a paz, e quando nella se não quizesse conservar, que com a ultima e total demonstração de rigor saberia melhor a Ley em que havia de viver; e que, quando quizesse a guerra, experimentaria que não cessaria com ella emquanto o não metesse nas entranhas da terra.
Parece que este assalto não fora ordenado pelo Pallanca, porque logo mandou uma embaixada desculpando-se de não ter remetido vaccas e gallinhas, como refens, que tinha promettido, por não lhe terem chegado de uma capitação do seu domínio.
Estando em duvidas o commandante sobre o modo de proceder com o Pallanca, e nem podendo calcular o tempo que lhe seria preciso para restabelecer a obediencia em gentios tão indomitos, acudiu primeiro à necessidade de adquirir mais mantimentos e para isso mandou que o hiate seguisse para Cacheu.
Até 21 não houve novos ataques, porém na noite de 22 para 23 as sentinelas ao hospicio dos frades tiveram de fazer fogo sobre uns gentios que fugiram, sabendo-se no dia seguinte que um d'elles era principe e que queria assassinar uns soldados para vingar a morte de um irmão.» -
Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné, por Christiano José de Senna Barcellos, parte III, pgs. 10-16, Lisboa, 1906
1753/02/09
«A segunda
fortaleza de Bissau
De facto, em
Janeiro de 1753, (D.José I) enviava para os rios da Guiné a nau de
guerra, N.a S.a da Estrela, acompanhada de um aviso e mais dois
navios com soldados, operários, boticário com medicamentos, material de guerra
e de construção. O comandante desta pequena esquadra levava
instruções para restabelecer o pôsto de Bissau, de acôrdo com o
capitão-mor de Cacheu.
Os navios
fundearam primeiro neste último pôrto, seguindo dali para
Bissau, em 9 de Fevereiro. Em terra, o govêrno português era representado
por um grumete nomeado cabo de esquadra que correspondeu com várias saudações às salvas
feitas de bordo.
A entrada dos barcos
portugueses provocou grande entusiasmo entre os habitantes
cristãos, que exteriorizaram em manifestações de regozijo durante 10 dias.
Tratou-se de nomear um capitão-tenente para a Praça de Bissau e do desembarque
do material e doentes que se encontravam a bordo.
O régulo
papel, Palanca, veio cumprimentar as autoridades e no dia 17 de
Fevereiro realizou-se a cerimónia de saudação à bandeira portuguesa,
lavrando-se nesta ocasião um auto de fidelidade dos chefes indígenas. No
entanto, esta cerimónia efectuou-se numa atmosfera de mútua desconfiança. O régulo
fez-se acompanhar de 200 guerreiros e, como havia razões para se
duvidar da sua lealdade, o comandante da esquadra desembarcou quási tôda a
tripulação e tomou as necessárias precauções.
Com
efeito, logo no dia seguinte ao da cerimónia, o gentio
papel começou a hostilizar a praça, procurando dificultar as obras
da fortaleza. Houve luta em que as nossas forças perderam 6 homens, mas o ataque dos papeis foi repelido.
Dois dias
depois, tendo o comandante da esquadra disposto as suas fôrças com intenção de atacar as
povoações indígenas, o régulo Palanca enviou seus emissários a pedir paz. Não se fez o
ataque projectado, mas o indígena não deixou de hostilizar a Praça.
A guerra
prolongava-se assim sob a forma de pequenas escaramuças e actos isolados, de
que o régulo procurava desculpar-se sob vários pretextos não deixando de
visitar as autoridades e fazer as suas transacções. Em
troca dos soldados feridos ofereceu o mesmo número de escravos e autorizou a sua
gente a trabalhar nas obras da fortaleza.
Os
operários eram pagos à razão de 400 réis por dia ou 80 fios de contas de vidro. As construções
mais indispensáveis terminaram em 22 de Março e nesse dia se deu posse
ao capitão-cabo de Bissau, na presença do régulo Palanca e mais 300 guerreiros
indígenas. Houve grande algazarra de tambores, clarins e salvas de morteiros.
No dia seguinte, celebrava-se missa a bordo da nau N. S. da Estrêla, comemorando
o acontecimento.
Nas lutas travadas durante êste período de
cêrca de 2 meses haviam perecido 9 soldados portugueses e perto de 500 papeis.
Registaram-se,
além disso, muitos óbitos devido· às febres e ao escorbuto
provocado por falta de alimentos frescos. Entre
as vítimas contava-se o capitão engenheiro que ia a bordo com
o encargo de dar o plano da fortaleza. A nau
de guerra deixou Bissau em 27 .de
Março de 1753, de regresso para Lisboa.
Foi desta
forma restabelecida a capitania de Bissau e para o seu comando foi nomeado, em 16 de Novembro, Nicolau de Pina
Araújo, com a indicação de prestar juramento nas mãos do capitão-mor
de Cacheu, isto é,
considerando-se
subordinado
a esta capitania. Pelo novo
comandante
de Bissau foram enviados 2 baús com fardas e presentes
para
o régulo papel.
Para
completar a guarnição da fortaleza foi determinado em Janeiro de 1754 que o governador
de
Cabo Verde destacasse para Bissau 50 soldados caboverdeanos,
tirados da guarnição de Santiago, que seriam substituídos por outras tantas praças
europeias.
Nesta ordem de ideias, foram enviados de Portugal para Santiago 50 homens
representados por criminosos e indesejáveis.
Por sua vez o governador de Cabo-Verde .enviou
para Bissau 50 soldados dos menos recomendáveis. Em Outubro dêsse mesmo ano, o número destas praças em Bissau estava reduzido a vinte por deserção da
sua maior parte.
Por seu
lado, também os oficiais não se demoravam muito tempo nos seus
postos, por não poderem resistir à malignidade do clima. Em certa altura por falta de um oficial capaz de tomar a direcção das obras do quartel, foi esta
entregue, em 1758, ao padre Manuel Vinhais Sarmento. Tôdas estas construções
eram, porém,
provisórias e imperfeitas. A
verdadeira Fortaleza
de S. José de Bissau, aquela que ainda hoje existe na cidade, só começou a ser construída
no ano dle 1765.»
João
Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ
1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pgs.
150-152
1765/01/24
CARTA do sargento-mor engenheiro MANUEL GERMANO
DA MATA ao rei D. José I informando que chegou a Bissau, após escala em
Cabo Verde, tendo convocado o padre do hospício de Bissau, frei FERNANDO VINHAIS, para que o informasse
do estado da terra; afirmando ter esperado a bordo da nau o consentimento do
rei de Bissau para construção da fortaleza, tendo-a recebido através do fidalgo
Taca, que viera na qualidade de emissário; sobre a saída das embarcações
daquele porto; acerca da chegada de marinhos e soldados para auxiliarem na
construção da fortaleza, juntamente com os homens vindos de Cabo Verde, a gente
preta e os degredados; referindo a chegada do capitão-mor de Cacheu, o capitão
cabo SEBASTIÃO DA CUNHA SOUTO MAIOR;
comunicando que recebendo uma quantia de degredados na corveta Nossa Senhora da
Esperança e iate São Joaquim enviados pelo Bispo de Cabo Verde, na companhia de
alguns homens; dando conta do levantamento
de alguns soldados de Cabo Verde contra o alferes TORREZÃO e de uma revolta dos
gentios da ilha de Bissau com a intenção de matarem os brancos, tendo
ordenado que JOÃO DA COSTA ATAÍDE
ficasse de sentinela numa casa do rei de Bissau; sobre a planta da fortaleza; solicitando
determinações acerca dos criminosos
enviados de Cabo Verde e se era de direito pagar e dar comedorias aos
trabalhadores na época das águas quando interrompiam o trabalho; acerca da
falta de dinheiro para fazer os pagamentos, em virtude da Companhia do Pará e
Maranhão ter mandado verbas insuficientes.
Anexo: relação.
AHU-Guiné, cx. 9, doc.
42; cx. 25, doc. 36.
AHU_CU_049, Cx. 9, D.
774.
1766/04/06
OFÍCIO do sargento-mor engenheiro MANUEL GERMANO DA MATA ao secretário de estado da Marinha e Ultramar Francisco Xavier de Mendonça Furtado sobre os navios que chegariam em Bissau para integrar a expedição; dando conta que chegou naquela praça em Dezembro de 1765, e da agressão sofrida por alguns marinheiros da expedição após terem saído dos limites à procura de palha para as camas dos doentes, reiterando que averiguou a situação e castigou os negros agressores, parentes de três régulos, com a ajuda do capitão tenente JOÃO DA COSTA E ATAÍDE, o capitão cabo SEBASTIÃO DA CUNHA e do seu primo cabo CARLOS DE CARVALHO; informando que as muralhas estavam finalizadas, e do bom serviço do comandante da fragata de guerra LUÍS CAETANO DE CASTRO DE VASCONCELOS na obra da dita fortaleza, dos ferimentos sofridos pelo sargento-mor engenheiro, do elevado número de mortes, a falta de botica e mantimentos; dando conta que o padre presidente do hospício de Bissau e alguns oficiais estavam a trabalhar na reestruturação do edifício do hospício que estava em ruínas; expondo que para aquela expedição foram 12 oficiais de Cabo Verde que regiam as companhias, e muitos criminosos condenados; e sobre a despesa feita com o rei de Bissau e outro régulo seu valido.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 52.
AHU_CU_049, Cx. 9, D. 783.
1766/05/13
OFÍCIO de JOÃO DA COSTA E BONIFÁCIO JOSÉ LAMAS ao provedor e mais deputados da Companhia do Grão-Pará e Maranhão dando conta do cumprimento das ordens contidas na carta de 29 de Março de 1766 e de outras enviadas ao sargento-mor engenheiro MANUEL GERMANO DA MATA; dando conta que enviaria pela galera São Pedro, de que era capitão MANUEL JOSÉ DOS SANTOS, alguns homens incapazes e doentes para a ilha de Santiago; informando que recebeu pela corveta Nossa Senhora da Esperança e pelo iate São Joaquim um carregamento de mantimentos; sobre os desaforos cometidos pela gente de Cabo Verde; dando conta que o capitão ENGENHEIRO ANTÓNIO CARLOS ANDREIS PAIS estava a exercer por impedimento de sargento-mor engenheiro MANUEL GERMANO DA MATA e de um levantamento protagonizado por um preto chamado PEDRO VARELA; acerca da pretensão de se despachar o bergantim São Marçal com os escravos que havia naquela praça com destino a São Luís do Maranhão; pela escuma Nossa Senhora do Rosário se expediram ordens para um porto vizinho pedindo arroz, em virtude da falta de mantimentos em Bissau; solicitando mantimentos da Corte; acerca da construção de uns armazéns; sobre a conta dos gastos feitos pela fragata de guerra e pelo navio São Pedro; acerca de uma botica que ficou na fragata de Guerra e uns botins que serviriam de amostra; sobre um outro levantamento ocorrido em Geba envolvendo o capitão-mor ANTÓNIO FERNANDES LOPES GODINHO SANCHES e tendo tido a intervenção de um sargento-mor de Bissau nomeado pelo governador e capitão-general de Cabo Verde e sobrinho do capitão-mor de Cacheu, que prometeu retaliação aos gentios de Geba; e acerca da eleição de SEBASTIÃO DA CUNHA SOUTO MAIOR para capitão-mor de Cacheu.
AHU-Guiné, cx. 9, doc. 60.
AHU_CU_049, Cx. 9, D. 792.
1766/08/09
OFÍCIO do intendente
dos armazéns da Guiné, Índia e Armadas, José Joaquim de Larre, ao secretário de
estado da Marinha e Ultramar, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, acerca do requerimento
de TERESA JOSEFA, viúva do guardião das
naus de guerra MANUEL DOS SANTOS ESTRELA solicitando pensão de alimentos
para ela e para uma filha menor, em
virtude do seu marido ter sido morto pelo gentio de Bissau.
AHU-Guiné, cx. 9, doc.
66.
AHU_CU_049, Cx. 9, D.
799.
1766/09/26
OFÍCIO do sargento-mor engenheiro MANUEL GERMANO DA
MATA ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, expondo o seu empenho na construção da fortaleza de Bissau; sobre a sua chegada na ilha de Santiago para
integrar a expedição que partiu para Bissau com o intuito de construir a
fortaleza, da qual dava conta do andamento da obra, dos problemas que vinham
experimentando, do pagamento dos homens e os avanços e recuos daquela
empreitada; informando da situação que
levou à prisão do tenente JOÃO DA COSTA DE ATAÍDE; referindo os primeiros
contactos que os membros da expedição tiveram com o rei de Bissau numa
tentativa do régulo permitir a construção da fortaleza e o estabelecimento de
Portugal naquela praça; remetendo cartas que recebeu dos administradores da
Companhia de Grão-Pará e Maranhão JOÃO
DA COSTA e BONIFÁCIO JOSÉ LAMAS, de
quem tinha queixas; comunicando que alguns marinheiros da expedição foram
agredidos mata a dentro, quando foram procurar palha para as camas dos doentes;
dando conta do levantamento dos pretos.
Anexo:
ofício, aviso e folha de pagamento.
AHU-Guiné,
cx. 9, doc. 67 e 62.
AHU_CU_049, Cx. 9, D. 800
1775/06/12
OFÍCIO do sargento-mor e comandante da praça de
Cacheu, ANTÓNIO VAZ DE ARAÚJO, ao secretário de estado da Marinha e
Ultramar, Martinho de Melo e Castro, dando conta dos progressos da batalha que travou contra o gentio da praça
Farim, graças a um socorro que recebeu de Bissau, em virtude de ter
recebido muitos pedidos de ajuda dada a situação
de guerra vivida naquela praça; informando que deixou uma quantidade de
soldados e cem homens de armas em Farim, uma vez que os moradores se ausentaram
alegando moléstias, tendo posteriormente recebido notícias de que o gentio
queria estabelecer a paz naquela praça.
Obs.: o ofício consta
do extrato dos ofícios do sargento-mor comandante da praça de Cacheu.
AHU_CU_049, Cx. 10, D.
861.
AHU-Guiné, cx. 10, doc.
26.
AHU_CU_049, Cx. 9, D.
851.
1776/01/24
OFÍCIO do sargento-mor e comandante da praça de Cacheu, ANTÓNIO VAZ DE ARAÚJO, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro, informando que não chegara nenhuma embarcação do Reino naquela praça, tendo aproveitado a entrada de duas embarcações em Bissau para remeter correspondência; dando conta que tinha restabelecido a paz nas povoações de Farim e Ziguinchor, em virtude de ter ido socorrer as povoações, acudir aos levantamentos e castigar os gentios, advertindo que o excesso de bebidas alcoólicas provocava bulhas e revoltas; expondo que os negros papéis vizinhos de Cacheu, tentaram atacaram aquela praça durante a sua ausência, contudo no seu regresso não intentaram mais avanços; solicitando que fosse tirando daquele governo e mandado para Cabo Verde, de onde poderia deslocar-se para outras partes com maior facilidade; queixando-se que algumas pessoas em Bissau escreviam para o governador e capitão-general de Cabo Verde instigados pelo comandante da praça de Bissau, INÁCIO XAVIER BAIÃO, pelos administradores da Companhia do Grão-Pará e Maranhão JOÃO DA COSTA e ANTÓNIO JOSÉ DE CARVALHO, pelo ministro de Cabo Verde JOÃO GOMES FERREIRA, e por alguns frades missionários de Bissau; e sobre as cobranças das dívidas da Companhia do Grão-Pará e Maranhão.
AHU-Guiné, cx. 11, doc. 1.
AHU_CU_049, Cx. 10, D. 867.
1776/03/03
OFÍCIO do sargento-mor e comandante da praça de Cacheu, ANTÓNIO VAZ DE ARAÚJO, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro, sobre a ida de seis navios franceses ao rio de Ziguinchor fazer negócio com o pretexto de arranjarem mantimentos; informando que foi a Ziguinchor buscar os moradores que estavam na terra dos gentios e levá-los de volta para a praça; acerca do ataque protagonizado pelo gentio vizinho de Cacheu, resultando na morte e ferimentos de muitos soldados e algumas mulheres e no roubo de armas, tendo pedido socorro de homens armas e munições em Bissau; sobre os foros que andavam fora da praça nas terras dos seus parentes; afirmando que todas as praças sob o seu domínio estavam em paz; queixando-se dos obstáculos que os administradores da Companhia do Grão-Pará e Maranhão punham aos governadores das praças da Guiné e que Bissau era na prática governado pelo administrador João da Costa; dando conta que FELICIANO GOMES DE OLIVEIRA, mestre capitão da embarcação que foi a Bissau buscar um socorro, foi agredido pelo comandante daquela praça sem razão aparente; informando que vinha cobrando as dívidas da Companhia do Grão-Pará e Maranhão; remetendo mapa da relação das tropas e munições; acerca da receita e da despesa; advertindo para a necessidade de se regular a actividade dos administradores da Companhia e dos direitos da Fazenda Real; sobre as desordens que ocorreriam na povoação de Geba, que atribuía a presença do administrador JOÃO DA COSTA.
Anexo: relação e mapas.
AHU-Guiné, cx. 11, doc. 5.
AHU_CU_049, Cx. 10, D. 874.
1776/06/17
OFÍCIO do sargento-mor e comandante da praça de Cacheu, ANTÓNIO VAZ DE ARAÚJO, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Martinho de Melo e Castro, dando conta do estado das praças sob o seu comando, queixando-se da difícil situação vivida naquelas partes, do desrespeito do povo e de não ter recebido nenhum socorro da secretária de estado e nem da Companhia do Grão-Pará e Maranhão, referindo os maus procedimentos dos administradores da Companhia em Bissau, JOÃO DA COSTA e PEDRO RODRIGUES.
Anexo: ofício (cópia).
AHU, Guiné, cx. 11, doc. 21; cx. 25, doc. 57.
AHU_CU_049, Cx. 10, D. 889.
1801
Em 1801, em resposta a um apelo de MANUEL DE CARVALHO ALVARENGA, o comandante do Cacheu, MANUEL PINTO DE GOUVEA, enviou uma força de dezassete embarcações fluviais para combater os Balantas. Vale ressaltar que a expedição viajou por água em vez de terra, a uma distância de apenas 40 quilómetros. A expedição contra os Balantas não teve sucesso e foi o assunto de muita recriminação, especialmente em relação a JULIÃO MENDES, um alferes na guarnição Ziguinchor, que foi acusado de traição por ter avisado os Balantas do ataque e vender pólvora e balas. Mendes havia sido um escravo pertencente ao nhara MARIA JOSEFA. Este foi o último caso registado de assistência militar enviada do Cacheu ao Casamança (CX. 15, 16, 18, 19, AHU; Barcellos 1899-1913: 3:162-165).
1801
Em 1801, em resposta a um apelo de MANUEL DE CARVALHO ALVARENGA, o comandante do Cacheu, MANUEL PINTO DE GOUVEA, enviou uma força de dezassete embarcações fluviais para combater os Balantas. Vale ressaltar que a expedição viajou por água em vez de terra, a uma distância de apenas 40 quilómetros. A expedição contra os Balantas não teve sucesso e foi o assunto de muita recriminação, especialmente em relação a JULIÃO MENDES, um alferes na guarnição Ziguinchor, que foi acusado de traição por ter avisado os Balantas do ataque e vender pólvora e balas. Mendes havia sido um escravo pertencente ao nhara MARIA JOSEFA. Este foi o último caso registado de assistência militar enviada do Cacheu ao Casamança (CX. 15, 16, 18, 19, AHU; Barcellos 1899-1913: 3:162-165).
1825/10/02
Levantamento do gentio de Cacanda contra Cacheu.
1825/10/03
A guarnição da praça de Cacheu, constituída por 120 homens, na sua maior parte degredados de Portugal e Cabo Verde, repele com grandes baixas os indígenas que tentaram o assalto da mesma .
1825/10/11
Ao ter conhecimento do levantamento dos gentios de Cacanda e Caió contra a praça de Cacheu, o Governador da mesma, CABRAL GODOLFIM, dispôs a tropa para o combate dirigindo-se para o baluarte de S. José onde com outros oficiais carregou as peças e aguardou serenamente o assalto.
«Em 12 de outubro de 1825 o governador de Cacheu deu parte ao governador Chapuzet de um levantamento dos gentios vizinhos de Cacanda, Cayo, Picau, Boronir e Premor contra essa Praça no dia 2 d'aquelle mez, pelas seis horas da tarde.
O gentio de Cacanda, mais proximo da Praça, conservara-se sempre socegado, devido· aos muitos presentes que recebia do governador e negociantes; porém n'aquelle dia acommeteu a Praça, pretendendo matar o governador e todos os brancos alli residentes.
O governador Cabral Goodolphim tinha dias antes recebido. a visita do rei de Cacanda, que vinha acompanhado de um grande numero de mulheres, e disse-lhe o rei que o seu povo e outros se preparavam para dar um ataque à Praça contra a sua vontade; que o preveniria do dia d'esse ataque, vindo elle pessoalmente com a sua gente, e Ihe solicitava que mandasse abrir o portão da casa forte (residencia do governador e da tropa) a qualquer hora da noite.
O governador comprehendeu. logo que o rei era o chefe d'esse levantamento e que tinha deante de si um traidor; respondeu-lhe que gostava muito de guerras e seria para elle um grande divertimento que essa gente viessem atacar a Praça.
Essa dispunha, no entender de Cabral Goodolphim, de poucos meios de defesa para resistir, e por isso este governador, fazendo ver ao de Cabo Verde essa falta, prevenia-o assim que abandonaria em qualquer circunstancia o seu lugar. Chapuzet increpou-o por isso e fez-lhe vêr que em tempo algum teve a Praça de Cacheu tanta defesa (...).
Esta guerra fora aconselhada por dois mouros que para a Cacanda passaram, vindos da Serra Leoa, onde também levantaram o gentio, aconselhando-o a matar os brancos.
Como não conseguissem os seus desejos de assaltarem a Praça,· esperaram que os soldados fossem à sua povoação comprar porcos e géneros para o rancho, e ali agarraram cinco no dia 2, os quaes foram conduzidos à presença do rei.
A um soldado deram um tiro pelas costas, que ficou logo morto, e depois de cortada a cabeça foi mandado para a sua china; os outros soldados fuglram, conseguindo chegar à Praça, sempre perseguidos, tendo um ficado ferido. Só ás 8 horas da noite é que o governador Goodolphim teve conhecimento d'este facto; dispoz a tropa para combate e dirigiu-se com o major Antonio Tavares da Veiga Santos para o baluarte de S. José, onde, com outros officiaes, carregou as peças, ficando toda a noite de prevenção. No dia 3, pelas 10 horas da noite, veio o gentio, em numero de quinhentos a seiscentos, atacar aquelle baluarte, para onde fizeram tiros, sem resultado algum; do baluarte deram então uma descarga de cincoenta tiros de fuzil e tres de metralha de calibre 3, matando dois gentios e ficando oito feridos, pondo-se em fuga os restantes.
No dia 4 voltaram pelas oito horas da noite e atiraram algumas pedras para o baluarte.
Nunca mais appareceram, esperando-se a continuação da guerra assim que se concluísse a colheita do arroz.
(...)
Chegaram ao encontro do gentio e do gado roubado; ali o juiz do povo opoz-se a que agredissem o gentio, porém os escravos, reconhecendo n'elle um traidor, atiraram-se ao gentio, rehavendo todo o gado.
Cabral Goodolpbim trabalhava activamente para fazer a tabanca, requisitando pranchões para portas.
No brigue Dez de Julho mandou o governador Chapuzet seguir um destacamento de cincoenta praças de infanteria e artilheria. sob o commando do capitão Luiz Antonio Bastos, que levou umas instrucções datadas de 7 de novembro.
Jã antes tinha sido mandada para Cacheu ama força de vinte e três praças de infanteria e doze de artilharia. Toda esta força seguiria para Bissau a restabelecer o socego em Geba assim que se realisasse a paz com o gentio em Cacheu, para a qual o Chapuzet empregava as maiores diligencias para evitar despesas que a provincia de Cabo Verde não podia satisfazer.
O governador de Cacheu, Cabral Goodolphim, tendo sido estranhado pelo governador Chapuzet sobre a pouca energia que parecia mostrar na defesa da Praça, manifestando alli a triste opinião de abandonal-a e de não ter ainda dado principio à tabanca, respondeu-lhe em officio de 18 de novembro de 1825 que as más condições de defesa em que se achava a Praça o forçaram a dizer que a abandonaria, para assim conseguir que de Cabo Verde não lhe faltassem com recursos urgentes, de força militar e de dinheiro; que emquanto á affirmação do Chapuzet, que em Cacheu nunca houve força militar como n'essa epoca para castigar o gentio, mostrou que, se por vezes Cacheu teve pouca força, nem sempre assim foi por ter chegado a duzentos soldados, quasi todos europeus, que para alli eram degredados e que por lei assentavam praça; esta tropa não sahia a campo para pelejar por haver n'aquelles tempos uma população de mais de duas mil almas, composta de homens guerreiros, entre estes o sargento-mor João Pereira Barreto, os capitães Mathias e Seabra, o conego Joaquim de Brito, Maria de Passos e outros que apromptavam para mais de seiscentos escravos armados, que sahiam juntamente com os chrlstãos, que não eram da raça do gentio Papel como era n'esta occasião, e por isso inimigos da Praça e autores de constantes desordens e confictos.
Para a construcção da tabanca havia o Chapuzet remettido 300$000 réis, que foram applicados na restauração dos baluartes, construindo-se a tabanca à custa de Goodolphim e dos principaes moradores, tendo feito à sua parte cem braças d'essa muralha de pau de carvão e sangue, e o major da Praça, Antonio Tavares da Veiga Santos, sessenta; as restantes braças foram repartidas pelas pessoas mais notavels. Esta tabanea era formada por quatro ordens de paus terminados em ponta.
Passou em seguida Cabral Goodolphim a descrever a causa porque o juiz do povo e mais christãos fugiram para o gentio deixando a Praça ao abandono.
No chão dos gentios appareceu o mouro Thoman, que era um dos oráculos, dizendo-lhes que o governador da Praça queria matar os christãos e que por isso deviam fugir. No dia 1 de novembro fugiram todos; por outro lado o mouro fazia constar ao governador que os christãos o queriam assassinar.
O governador ordenou ao major da Praça que avisasse o juiz do povo para se recolher à Praça com a familia e mais christãos. O juiz obedeceu à ordem e veio à presença do governador, contando-lhe que o mouro pretendia acabar com essa Praça.
No dia 4 ordenou o governador que se bombardeasse o campo vizinho, e no dia 6 mandou sair á noite o major da Praça com uma força, a qual se dirigiu ã povoação do referido mouro, que foi feito prisioneiro com oito pessoas da sua familia, dando todos entrada na Praça no dia 7 de manhã. Mandou-se chamar o juiz do povo e pessoas mais notaveis da terra, e alli confessou o mouro ter sido elle o auctor d' essa guerra movida á Praça, concordando todos os assistentes que deviam ser vendidos aquelles prisioneiros, sendo metade do producto d'essa venda para o povo e a outra para a tropa. Foram conduzidos para a prisão com dois pares de ferro; ao anoitecer, porém, o mouro conseguiu safar-se dos ferros e da prisão sem que a primeira sentinella lhe pudesse deitar a mão; a segunda sentinella que estava no baluarte conseguiu feril-o com uma baioneta, mas uma terceira disparou a arma, que o matou immediatamente. O gentio, horrorisado com essa morte, dirigiu-se logo aos reis da Mata e do Churo a rogar-lhes que viessem á Praça interceder com o governador para lhes conceder a paz, porém os referidos reis negaram-se, dizendo-lhe que a Praça tinha razão e que era justo que sofressem o devido casligo.
Este gentio preparava-se para conseguir a paz com a intervenção de outros reis, porém o governador só a concederia se os reis grandes da Mata e do Churo ficassem de fiadores pelo socego e entregassem o autor do assassínio do soldado, assim como a caveira d'este.
Em 5 de dezembro accusava-lhe Chapuzet este officio e prevenia-o que em breve iria a Cacheu.
Por um officio do governador de 27 de janeiro de 1826 se soube de uma outra guerra em Cacheu, tendo os gentios atacado a Praça nos dias 13, 14 e 15 de dezembro de 1826, quando se suppunha que os mesmos estavam pacificados; felizmente não se descuidara Chapuzet de mandar tropa, artilheria e munições a tempo, o que habilitou o commandante de Cacheu a defender-se.
Provocou essa guerra o ex-juiz do povo, Pedro Gomes, arrastando consigo os grumetes ou christãos da Praça.
Pretendia esse ex-juiz renovar uma Junta ou confraria d'essa Praça, para que o commandante da mesma não a governasse.
No primeiro combate que houve no campo, a 13 de dezembro, morreram tres soldados e ficaram gravemente feridos quatro; os gentios perderam, entre mortos e feridos, para mais de quarenta homens. Nos dias 14 e 15 os soldados não sahiram a campo, mas na defensiva da Praça bateram-se com denodo, causando muitas baixas ao inimigo.
Sabendo os gentios que o Governador de Cabo Verde em breve cheqaria a Cacheu com mais tropa, abandonaram o ex-juiz do povo e pediraam perdão á Praça, que lhe foi concedido, menos aos principaes cabeças.
O governador de Cacheu conta o seguinte: que em 10 de dezembro de 1825 fundeara no porto o brigue Dez de Julho, trazendo a bordo um deslacamento de quarenta e nove praças, sob o commando do capitão Luiz Antonio Bastos, e como pratico d'esse navio vinha o ex-juiz do povo, Pedro Gomes, que assim que saltou em terra se dirigiu à tabanca de Cacanda e disse ao rei e mais gentios que vinha tropa para os agarrar.
No dia 13 mandou roçar o mato proximo á Praça, onde o gentio costumava emboscar-se, pelos soldados, sendo estes dirigidos pelo capitão Bastos e pelo alferes José Maria, levando uma peça de artilheria de calibre 6, e todos sob a direcção do major da Praça. E então os gentios romperam o fogo.
O governador Goodolpbim ordenou que os soldados desarmados, que estavam no serviço de roçar o mato, recolhessem á Praça para se armarem; feito isso sahiram a aliviiar os que já estavam no campo.
O combale durou todo o dia de 13, retirando-se o inimigo dos arredores da Praça pelas 7 horas da tarde, mas houve algumas escaramuças até 15, e durante tres dias o baluarle não cessou fogo senão quando appareceu D. Rosa de Carvalho Alvarenga a solicitar paz a pedido dos gentios. Para a resolução d'esta veio à Praça o rei da Matta solicital-a, que disse ao governador Goodolphim que apresentasse as condições, sendo essa feita no dia 29 de dezembro. Os christâos recolheram às suas casas, excepto o traidor Pedro Gomes, que andava fugido em companhia de dois manjacos, tambem cabeças desta sublevação.
A tropa armada que tinha sahido para proteger os soldados que estavam ao serviço da praça compunha-se de seis artilheiros e vinte e cinco infantes. e foi postar-se no sitio denominado Poilão da cavallaria.» -
Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné, por Christiano José de Senna Barcellos, parte III, pgs. 345-348, Lisboa, 1906
1825/12/13 a 15
Novo levantamento, também dominado.
1842/11/00
O capitão-tenente António José Torres tomou posse do governo da Guiné em Novembro de 1842 e passados poucos dias teve um grave conflito com os grumetes da povoação.
Segundo o seu relatório, datado de Junho do ano seguinte, os factos teriam-se passado da seguinte forma: era costume em Bissau, terminado o período das chuvas, retirarem-se as coberturas de palha dos prédios situados nas proximidades da fortaleza, a-fim-de se evitar a propagação de incêndios.
O juiz do povo, encarregado de fazer cumprir esta determinação, mandou pedir, em 30 de Novembro, auxílio ao governador da Praça a fim de prender o grumete Paulo Alves, que se negava a descobrir a sua casa. O comandante enviou uma escolta, que teve de sustentar luta contra os grumetes armados e decididos a impedir a prisão do arguido. Apesar disso a escolta recolheu com o Paulo Alves e mais dois prisioneiros.
Nos dias subsequentes os grumetes, protegidos pelas casas, atacaram a fortaleza, que ripostou obrigando-os a fugir. No dia 4, o negociante João de Barros, entrou na Praça, pedindo que cessasse o fogo pois os revoltosos haviam prendido o seu caixeiro e ameaçado fuzilá-lo e roubar o seu estabelecimento. O governador Torres, convencido de que este comerciante era conivente com os grumetes, aos quais vendia pólvora e armas, encarregou-o de avisar os sediciosos de que castigaria severamente os 3 grumetes prisioneiros, caso eles incomodassem os habitantes de Bissau.
No dia seguinte os revoltosos enviaram dois homens grandes a pedir paz, que foi concertada com quatro condições principais:
a) obediência e respeito pela bandeira e autoridade portuguesa;
b) cumprimento de todas as ordens do governo da Praça;
e) nomeação do juiz de paz escolhido pelo governador;
d) entrega do chefe Paulo Alves, que se tinha evadido.
1842/11/30
«Insurreição dos grumetes de Bissau
(30 de
Novembro de 1842-5 de Dezembro de 1842 [?])
Em 1842
rebenta o primeiro conflito aberto do período, entre os Portugueses e os
autóctones. Se fez correr alguma tinta (130), intrinsecamente é insignificante. Insignificante
no plano operacional, mas revelador, porque o que importa é, não as baixas ou
os motivos, mas a localização (Bissau) e a identidade dos insurrectos (os
grumetes), erguidos contra o governador na sua fortaleza. Por
outras palavras, quem contesta, em 1842, a autoridade portuguesa na sua praça
forte? Gentios que querem expulsá-los? Escravos recusando um embarque? De modo
nenhum. É no interior da comunidade cristã (ou pretendendo sê-lo) da
feitoria que ressoa aquilo a que nos limitaremos a chamar um tiro de pólvora
seca. Trata~se, antes de
mais, de saber quem comanda em Bissau. O governador e os seus caras
feias pingados? Os negociantes brancos ou mestiços e os seus escravos? Os
Papéis possuidores do solo? Os grumetes, intermediários e melhor colocados que quem
quer que seja para desempenhar o papel ambíguo de agentes entre
«civilizados» e «selvagens»? De facto, é uma
reunião de concessões e de compromissos que mantém o edifício colonial de pé, e ninguém possui em Bissau os meios para se impor hegemonicamente.
Concretamente,
o
caso
resume-se em poucas palavras.
Dissemos já que a praça de guerra de Bissau está
ligada à aldeia dos grumetes e dos comerciantes, numa desordem
perigosa. Os riscos de incêndio são ali reais pois que, a 18
de Outubro de 1840, tendo havido fogo na casa de Mãe Júlia, parente de Mãe
Aurélia Correia, a companheira de Caetano José Nosolini, a pólvora
que
estava ali armazenada com a aguardente explodiu,
danificando a maior parte das casas da feitoria e
abatendo mesmo, na fortaleza, a casa do governador, a
igreja e um armazém (131). Em Março de 1842, o distrito da Guiné é de novo cindido em dois distritos: Cacheu e Bissau. O primeiro governador
do novo distrito de Bissau é o capitão-tenente da Marinha António
José Torres que, mal chega ordena, a 12 de Novembro de 1842, aos grumetes, para substituírem os telhados de colmo das suas choupanas por telhas ou que afastem as suas habitações do forte, a fim de
evitar os incêndios. O retirar dos telhados de colmo é
uma prática tradicional quando cessa a estação das chuvas. O Juiz do Povo é encarregado
da aplicação desta medida de utilidade pública.
A 30 de Novembro, a tal se opondo um dos seus
concidadãos considerado como um notável (homem grande) grumete, ele pede
soldados ao governador. Este fornece-lhe sete, depois 15, um sargento e um alferes. O recalcitrante é preso, mas uma
centena de grumetes recebem os soldados a tiro de espingarda,
ferem um e montam cerco em frente da fortaleza de São José
durante uns dias. A artilharia dispara então contra a aldeia. Ardem 19 choupanas.
A 4 de Dezembro de 1842, o governador
envia um oficial para pedir um reforço de 100 homens e material à Praia, em Cabo Verde. A 5 de
Dezembro de 1842, ou a 5 de Janeiro de 1843 (?), os grumetes pedem a
paz. Mas a lentidão das comunicações é tal que, a 23 de Dezembro de 1842, o governador-geral de Cabo
Verde, Francisco
de Paula Bastos, dá a saber ao
seu subordinado que não está contente com ele: agiu
sem discernimento
ao impor uma medida que não tem força para fazer respeitar. Alarmista,
o
governador-geral encara mesmo uma evacuação da cidadela,
um
bombardeamento da feitoria em represália, uma apelo aos velhos salvadores tradicionais: os
negociantes Joaquim António de Matos e Honório Pereira Barreto, e
a conclusão de um tratado com os
Bijagós da ilha de Canhabaque, para que corram a defender Bissau, em caso de ataque
dos Papéis ou de outros inimigos (132). Por outro lado,
reflexo de uma mentalidade e de usos arcaicos no arquipélago,
manda suspender as garantias individuais para proceder, em Cabo Verde, ao
recrutamento
forçado
dos marinheiros e dos soldados necessários ao levantamento do cerco.
Naturalmente,
quando estas tropas chegarem tudo terá voltado à ordem e a
«guerra» que custou 2000$000 réis, deslocou-se entre o governador-geral Francisco de Paula Bastos e o governador do distrito de Bissau, António José Torres, o qual acusa um comerciante,
João de Barros (133), de ter dado ou vendido armas e pólvora
aos grumetes. Várias coisas são obscuras nesta questão menor. Em
primeiro lugar, a data do termo das hostilidades: 5 de Dezembro de 1842 ou 5 de
Janeiro de 1843 (134). Em seguida, não sabemos
como a fortaleza pôde ser abastecida
de água. Se o cerco durou quatro dias, não foi dramático. Mas um mês a
mais exige abastecedores, quer entre os grumetes, quer entre os
Papéis. Em ambos os casos, não houve frente comum entre gentio papel e «primos
cristãos», nem mesmo entre estes últimos. Por outro
lado, sendo os negócios negócios, este João de Barros,
que serve de intermediário aos grumetes para solicitar a paz e que é considerado como cúmplice pelo governador, lembra demasiado esses
pálidos matreiros que envenenam
a sociedade luso-tropical. Na falta de certezas,
esta
insignificante arremetida tem o mérito de vir reforçar a
nossa convicção: nada é branco, nada é preto no claro-escuro das guerras
coloniais portuguesas e, na Guiné, menos que em qualquer outro lado.
Seja como
for,
os grumetes obtêm a paz e aceitam respeitar o pavilhão português e obedecer às ordens do governador. O homem
grande, causa de todo este tumulto, refugiou-se entre os Papéis e seria evidentemente
uma
loucura tentar ir lá buscá-lo. Não se conhece o fim real da insurreição que cicatriza, conservando-se sempre
nas vielas da feitoria o germe de futuros conflitos.
(130) Barcellos: op. cit., Parte IV, pp.
310-315.
(131) Idem, p. 273. O governador de Bissau, na época, um outro polaco, o comandante
Alois [de] Rolla Dziezaski ou Dziesaski (nascido em 1797) teve
-
mais
uma vez - de reconstruir o interior do forte. Com pelo menos dois oficiais polacos no exército português em Cabo Verde e na Guiné nos anos 30-40, seria interessante saber como e porquê tanto Chelmicki, como ele
próprio, se dirigiram para estas regiões inóspitas, e se deixaram alguns escritos na sua língua materna.
(132) Barcellos: op. cit., Parte IV, p. 311.
(133) Provavelmente o João Marques de Barros, nascido em Bolama, citado por António Carreira: O tráfico ... , op. cit. , p. 25 o que levanta um novo problema: havia assimilados ou grumetes, nascidos em Bolama antes da instalação de Nosolini nos anos 30?
(134) A maneira como Barcellos trata os seus documentos inspira-nos uma confiança limitada, quanto ao
que escreveu da sua autoria ou transcreveu. O erro pode provir igualmente do governador António José Torres no seu relatório. Quanto a João Barreto: História .. ., op. cit., p. 211 , não adianta nada, pois não
indica o mês e os seus pormenores, retirados de Barcellos, que nem sequer coincidem com os da sua fonte!»
René
Pélissier, História da Guiné Portugueses e Africanos na Senegâmbia 1841-1936, Volume I, EDITORIAL ESTAMPA, 1997, p.p. 86-89
1844
O régulo de Intim faz
massacrar alguns europeus, provocando uma guerra com Portugueses, tendo
estes pedido o auxílio aos Franceses, Ingleses e Americanos. A guerra demorou
três meses e meio, tendo terminado com um tratado de paz, que foi assinalado com
uma salva de 21 tiros. Quatro meses depois recomeçaram as hostilidades
por mais alguns meses.
Em 1844 estavam ocupados militarmente os seguintes
pontos da Guiné. Bolama com 1 cabo e 6
soldados; Bissau 56 soldados, vários oficiais e sargentos; Geba um 2.º sargento e 7 soldados;
Ganjarra 1 cabo e 7
soldados; Fá, cinco
soldados; Cacheu 33 soldados, com 1 tenente-governador, um
alferes, 3 sargentos, 3 cabos, 2 anspeçadas e 2 tambores: Ziguinchor 3 soldados e um cabo; Farim um segundo
sargento e dois soldados; Bolor, um furriel e dois soldados.
Do restante do batalhão. que se compunha de
424 soldados, estavam na Praia 272 praças e pelas
ilhas apenas pequenos destacamentos.
Sem comentários:
Enviar um comentário