terça-feira, 12 de abril de 2016

COLONIZAÇÃO DA GUINÉ 1780-1799


1780
Lei de abolição gradual da escravatura na Pensilvânia (EUA).
1780/03/00
Francisco de Sá Sarmento, desembargador, provido ouvidor em Março de 1780, faleceu no ano seguinte.
1780/09/18
Criação de uma junta de arrecadação e distribuição da fazenda real em Cabo Verde.
1781
«O terceiro ciclo de colonização do arquipélago trouxe a chancela da rainha D. Maria Primeira que, em 1781, através de um decreto, ordenou o povoamento das chamadas desertas de Cabo Verde: São Vicente, Santa Luzia e a Ilha do Sal. De fraca potencialidade para a prática agro-pecuária, a ilha de São Vicente só conheceu, na segunda metade do século XVIII, um povoamento efectivo, graças ao seu porto natural. Desta forma, a ilha mal conheceu a experiência angustiante de escravatura e não acolheu no seu seio uma população significativa de negros e escravos.
A riqueza dos principais das ilhas apresentada, em 1781, como vinda de "muitas rendas e seus escravos e o rendimento do que trabalho asi na cultivacão dos asucares e algodoins como na Roupa que fazem pera Guiné /... /”. AHU, Cabo Verde, Papéis Avulsos, cx. 6ª, doc. 169, 24 de Outubro de 1681.
A ilha de S. Vicente, em 1781, foi mandada povoar regularmente, assim como as demais ilhas desertas do archipelago, o que todavia só se levou a efeito em 1795, quando JOÃO CARLOS DA FONSECA, proprietario da ilha do Fogo, obteve licença para a ir povoar com vinte casais daquella ilha, sendo nomeado capitão mór. Mas, apesar das despezas feitas por aquelle capitão-mor, tão superiores ás suas forças que chegou quase à mendicidade, não obstante os esforços do governo da metrópole, e sem embargo do grande empenho que nisto poz o governador JOSÉ DA SILVA MALDONADO DE EÇA, não se obteve senão a aglomeração de umas poucas de choupanas, a que se deu o nome de Povoação de D. Rodrigo.»

Africa Occidental, Noticias e Considerações, por Francisco Travassos Valdez, impresso por ordem do Ministerio da Marinha e Ultramar, Tomo I, Lisboa, Imprensa Nacional,1864, pg. 119.
1781/02/10
Chegada de D.FREI FRANCISCO DE SÃO SIMÃO como bispo da diocese de Cabo Verde (tinha sido nomeado em 1778)
1781/02/19
Posse do capitão e governador-geral de Cabo Verde DUARTE DE MELLO DA SILVA E CASTRO DE ALMEIDA. Morreu no dia 19 de Março do ano seguinte.
O TERCEIRO GOVERNO DO CORONEL JOÃO FREIRE DE ANDRADE (1781-1783)
Invocando a sua posição de coronel mais antigo das forças milicianas, João Freire de Andrade acedeu novamente ao poder com uma junta governativa meramente simbólica. Recusou liminarmente o representante eclesiástico no governo, o cónego Francisco Robalo que servia de deão e embora o 1º juiz camarário fizesse parte do governo, só o coronel era reconhecido por governador interino e só em seu nome se passavam os passaportes para as outras ilhas e se confirmaram algumas patentes.14 Exerceu o poder de forma absoluta, não admitindo qualquer contestação à sua autoridade. Apoiava-se no domínio da maioria das forças milicianas já que, além do seu Regimento, podia contar com o do seu cunhado, o coronel Manuel Tavares da Silva que entraria para o triunvirato governador a partir da eleição dos pelouros de Dezembro de 1782. Dos três Regimentos militares existentes, apenas um era comandado por um membro da facção oponente ou o que dela restara, o coronel José Maria Cardoso.

Um ano depois continuava a governar com o juiz ouvidor, seu cunhado, quando a rainha D. Maria I encarregou o bispo do governo interino das ilhas “não obstante o alvará régio que regulava a sucessão do governador.” A carta régia, datada de Agosto, só foi promulgada em Novembro de 1782 e enquanto a ordem não chegava Santiago, João Freire de Andrade continuava a governar. Tudo parecia conjugar a favor do coronel. A burocracia, a distância, a residência do Bispo em São Nicolau facilitavam as ambições do coronel e a sua manutenção no poder. E não só; uns tantos militares, sobretudo capitães, regressaram ao Reino e alguns óbitos de militares detentores de cargos de chefia permitiram ao coronel reforçar em postos chave a rede de clientelas com os seus parentes e partidários. Multiplicavam-se as patentes que se tinham transformado num lucrativo negócio durante este governo interino. É sintomático verificar que nas petições os impetrantes escrevem “o governador das ilhas de Cabo Verde,” ou até “o governador João Freire de Andrade” em vez de “os governadores” ou “a junta governadora.” Algumas provisões e patentes são assinadas apenas pelo coronel João Freire de Andrade e esta situação de poder individual e absoluto permaneceu até 12 de Abril de 1783 quando o Bispo D. Frei Francisco de São Simão, depois de um périplo pelas ilhas, chegou finalmente a Santiago.
1782/11/16
FR. FRANCISCO DE SÃO SIMÃO substituiu o governador por Carta Régia desta data.Na História Geral de Cabo Verde, vol. III, pág. 333 vem o seguinte: "O novo bispo D. FR. FRANCISCO DE S. SIMÃO só chegaria a Santiago em 1781, tendo residido sempre numa remota fazenda em Ribeira da Prata, junto do então longínquo porto do Tarrafal, no extremo oposto da sede do bispado, 5 meses depois. A partir desta data, os bispos alternam a sua residência por diversas ilhas, nomeadamente S. Nicolau, onde residiram D. FREI CRISTOVÃO DE S. BOAVENTURA (1786-1798) ..."
ART. II. – Duas Cartas Régias, um Decreto, e um Aviso, que nomeão o Exm. Bispo D. Fr. Francisco de S. Simão, Governador interino das Ilhas de Cabo Verde,  e dão providências sôbre vários objectos.
Aviso
Levei á Real Presença da Rainha Nossa Senhora a Carta que V. Exc. me-escreveo com data de 9 de Junho do presente anno, em que dá conta do que tem praticado depois que chegou a essas Ilhas, que tudo mereceo a Real Approvação de S. M.; de sorte que Vendo a Mesma Senhora o zêlo, e actividade com que V. Exc., tem procurado não só o bem espiritual dos seus súbditos, mas tambem a sua felicidade temporal, promovendo o trabalho, e a indústria; e Querendo S. M. facilitar todos os meios para que V. Exc. possa melhor adiantar estes importantes objectos, Foi Servidanomear a V. Exc. Governador interino d' essas Ilhas, como V. Exc. já saberá pelas Cartas Régias que lhe-expedi por uma Embarcação, que saío á poucos dias, e de que remetto aqui as Cópias.Com o mesmo fim de dar a V. Exc. os meios de fundar o Seminario,e de fazer as mais obras, que julgar necessarias a benefício d’essa Igreja, Ordenou S. M., pelo Decreto da Cópia inclusa, á Junta da Admínistração dos Fundos da Companhia do Pará entregasse á disposição de V. Exc. o producto do Espolio, e Congruas do Bispo D. Fr. Pedro Jacintho Valente, que estão debaixo de sequestro em poder da referida Junta, e importão em onze contos e tantos mil réis. A' mesma Junta se Ordena de seguir as ordens de V. Exc. a respeito do modo de lhe fazer a remessa da dita importancia. S. M. Vio com particular satisfação o que V. Exc. Refere das disposições, que tem feito para dar principio á obra do Semínario, e a Mesma Senhora Manda recommendar a V. Exc., que adiante quanto for possivel este Estabelecimento, destinando principalmente para éstas despesas o producto do Espolio do Bispo defunto; e para não perder tempo, póde V. Exc. ir logo cuidando em fazer os Estatutos porque se ha-de governar o mesmo Seminario,e remettel-os a ésta Secretaria d’Estado para S. M. os Approvar, e Confirmar, Sendo Servida. A respeito do que V. Exc, refere, de que não ha mais que dois Conegos na Sé capazes de servir, e que ha tres para quatro annos se lhes não pagão as suas Congruas, expdir-se-hão as Ordens necessarias para que estes pagamentos se fação com regularidade; em quanto á falta de Conegos d’aqui não se pode remediar esta necessidade, por não haver quem queira ír viver a essas llhas, e até o Clerigo que V. Exc. mandou por Capellão do seu Navio, foi necessario obrigal-o por força a voltar n'elle. N’estes termos não ha outio recurso mais que servir-se V. Exc. dos Clerigos, e Frades que ahi tiver, e for criando, e promover interinamente aquelles que julgar mais capazes ás Igrejas, e Conesias, dando conta a S.M., para a Mesma Senhora, Sendo Servida, lhe-mandar passar as suas Cartas de Apresentação. Em quanto ao concerto que necessitava este Navio, S.M. em consideração do bom uso que V. Exc. tem feito, e ha de continuar a fazer d'elle, o Mandou concertar no Arsenal da Ribeira á custa da Real Fazenda. Do dinheiro que V. Exc. remetteo, ou do seu emprêgo, dará conta o Religioso Leigo, que volta no mesmo Navio. Deos Guarde a V. Exc. Palacio de Nossa Senhora d'Ajuda em 24 de Dezembro de 1782.- Martinho de .Mello e Castro. – Sr. Bispo das Ilhas de Cbo Verde.
Carta Régia
Juiz, Vereadore, e Procurador da Camara da Cidade de S. Thiago de Cabo Verde: Eu a Rainha vos envio muito Saudar. Attendendo ao prestimo , e zêlo com que se tem distinguido no Meu Real serviço o Bispo d'essas Ilhas, D. Fr. Francisco de S. Simão, fui Servida Encarregal-o interinamente do Govêrno das mesmas llhas; não obstante o Alvará de 12 de Dezembro de 1770, que regulou a successão dos Governadores d'ellas, para o que Hei por bem Derogal-o por ésta vez sómiente para o dito effeito, ficando aliás sempre em seu vigor; o que Me pareceo Participar-vos, para que assim o fiqueis entendendo, e façaes executar pelo que vos pertence. Escrita no Palacio de Nossa Senhora d' Ajuda em 16 de Novembro de 1782 - RAINHA. 
Carta Régia
Reverendo Bispo das Ilhas de Cabo-Verde, do Meu Conselho: Eu a Rainha vos Envio muito Saudar. Sendo-Me presente o zelo, e prestimo com que vos-empregaes no Meu Real Serviço Sou Servida Encarregar-vos interinamente do Governo d'essas Ilhas: não obstante o Alvará de Successão dos Governadores das mesmas Ilhas; para o que Hei por bem Derogal-o por ésta vez somente para o dito effeito, ficando aliás sempre em seu vigor: o que Me pareceo Participar-vos, e o mesmo Faço á Gamara d’essa Cidade. Escrita no Palacio de Nossa Senhora d' Ajuda em 16 de Novembro de 1782. - RAINHA. 
Decreto
Sou Servida , que o dinheiro provenlente do Espolio, eCongruas do último Bispo de Cabo-Verde, D. Fr. Pedro Jacintho Valente, que se-acha em sequestro em poder dos Administradoresdos Fundos da Companhia do Grão-Pará , e Maranhão, seja entregueá disposiçlo do actual Bispo Governador interino das mesmas llhas, para que o-empregue no concerto, e reparo d’aquella Igreja,e mais no Seminario, e casas dos Prelados, e outras obras,que entender mais uteis, e neccssarias a benefício da mesma Igreja. A Junta da Administração dos Fundos da referida Companhiado Grão-Pará, e Maranhão o-tenha assim entendido, e o-execute pondo-se de acôrdo com o dito Bispo sôbre o modo mais conveniente de lhe-fazer as remessas do referido dinheiro. Palacio deNossa Senhora d'Ajuda cm 17 de Dezembro de 1782. - Com a Rúbrica de S. M.
De certa forma, a posição de Feijó era privilegiada, equiparando-se à de ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA, uma vez que não acumulava, como Silva e como Galvão, as tarefas científicas com as de burocrata. Ferreira e Feijó não foram enviados como secretários de estado, mas apenas como naturalistas. No entanto, é perceptível que a missão de Feijó era encarada como algo menor em relação às demais. Todos os outros encabeçavam equipes compostas por jardineiros e desenhistas, enquanto Feijó foi enviado sozinho. Além do mais, foi-lhe reservada uma pequena armadilha. Ele foi colocado ostensivamente na condição de tutelado do bispo do arquipélago, D. Francisco de São Simão, que acumulava o governo de Cabo Verde. Pode-se especular um pouco sobre os motivos que levaram Martinho de Mello e Castro a estabelecer tal tutela. É provável que houvesse alguma coisa no comportamento passado do naturalista que o tivesse levado a isso, no entanto é mais provável que tenha pesado um facto mais simples e prosaico: a idade de Feijó.
V. Ex.ª tomará à sua conta esse moço; que não tendo mau gênio nem sendo inerte na profissão, a mais leve sombra lhe parece um gigante e o prende para não fazer o que deve, e não deixará de ser muito desagradável que não havendo aqui coisa alguma que diga respeito às produções naturais das Ilhas de Cabo Verde, e tendo-se um Naturalista para as haver, se reduza todo o fruto dessa providência a Palavras e Relações inúteis do dito Naturalista, a nada, ou pouco mais de nada, daquilo para que foi mandado.
A documentação, com frequência, refere-se a ele como “jovem” ou “moço”. Os erros que lhe foram imputados são atribuídos à sua condição de moço, coisa que não acontece com os seus colegas enviados a outras partes do Império. Como diversos outros dados de sua vida, as referências a respeito da idade de Feijó são difíceis de precisar.  Blake afirma ter ele nascido no Rio de Janeiro, em 1760. Se o dado é verdadeiro, o naturalista teria entre 23 e 24 anos quando inicia a sua expedição. Se for considerado que GALVÃO DA SILVA e RODRIGUES FERREIRA tinham 28, não parece ser grande a diferença. Todavia, estes 4 ou 5 anos, na época, parecem ser decisivos no estatuto de cada um. Se for observado, ainda, que ele foi recrutado para o Real Gabinete com algo em torno de 18 anos de idade, é possível entender melhor o porquê do seu persistente enquadramento na categoria de jovem. Caso a da Acta de nascimento que lhe é atribuída esteja correta, ele começou a cursar matemática em Coimbra com 16 anos e, em finais de 1778, quando aparece matriculado em Filosofia, tinha 18.24 Tudo isto torna mais evidente o porquê de ter-se tornado Feijó o jovem e da relação severa e paternal que o ligava a Martinho de Mello e Castro. Assim como todos os outros, ele teria que enfrentar a batalha para ver reconhecida localmente a sua condição autónoma de homem de ciência. No entanto, ao mesmo tempo, ele buscaria escapar da tutela que lhe era imposta devido à sua juventude. Esta dupla batalha inicia assim que Feijó desembarca, quando começam os pequenos incidentes com o frei Francisco de São Simão a quem estava submetido. No afã de se fazer valer, o naturalista comete um erro crasso na estratégia que adopta para enfrentar o bispo: escolhe o texto filosófico como arma. Os historiadores, ávidos pelas fontes escritas, tendem a dar à produção escrita desses naturalistas uma importância que necessariamente não lhe era atribuída pelas personagens que dominavam a cena administrativa do período. Martinho de Mello e Castro era explícito quanto a isto. As “palavras inúteis” de um naturalista eram “nada, ou pouco mais de nada”. O que lhe interessava era o envio regular e bem acondicionado de minerais, vegetais e animais. Note-se que o ministro era detentor do forte espírito coleccionista que caracteriza o período. Como já foi mencionado, As explorações em Cabo Verde do naturalista luso-brasileiro JOÃO DA SILVA FEIJÓ, nomeado secretário do governador geral, para se impor na categoria de secretário e daí subir de posto, quem sabe?, vai criticar o governo das ilhas. Com razão ou sem ela, o seu papel será o de acusar de mau governo o seu mais directo superior, D. FRANCISCO DE S. SIMÃO. E como a administração das ilhas está entregue a outros prelados, o resultado geral da crítica exprime-se por um forte anti-clericalismo. Vejamos, em registo de língua actual, extractos de cartas em que o bispo é objecto de censura, atribuindo-se-lhe até sinistras intenções:
“Uns montes áridos, vermelhos, cortados de inumeráveis vales, terminados pela parte do mar em elevadas, escarpadas rochas a pique, foi a primeira ideia que concebi desta ilha [S. Nicolau] logo que se me representou do mar. Saltei em terra, e dali fui conduzido a Povoação, distante deste porto boas duas léguas pela ilha dentro, onde fui hospedado pelo Exmº Bispo destas ilhas, D. Fr. Francº de S. Simão, a quem eu tive a honra de ser recomendado por V. Exª, o qual tinha ali a sua residência.”“A demora que aqui tive, que foram 2 meses, dar-me-ia muito lugar a comunicar agora a V.Exª algumas observações filosóficas desta ilha, e remeter ao Real Gabinete amostras de suas produções, se não se antepusesse a este meu desejo a sinistra intenção daquele prelado, a cujas ordens vim cometido, o que deixo para quando se me oferecer ocasião, pois tentando eu dar logo por ali princípio, me não quis permitir, dizendo-me que havia dar princípio pela ilha Brava, ao que o respeito, a subordinação me fez obedecer, em prejuízo meu, pois assim quis a minha fortuna para que mais tempo andasse por uns países tão desgraçados como este.”“Passados os 2 meses, a 16 de Abril parti em companhia do dito prelado para Santiago, com escala pela ilha do Maio, onde no dia seguinte, 17, surgimos no porto do Pau Seco, e ali se demorou o dito Bispo no interesse das suas madeiras, fragmentos de uma nau dinamarquesa, que ali deu à costa, nos baixos chamados do Galeão, que ficam a Norte da ilha, cuja madeira ele havia arrematado como quis à Fazenda Real, com não pouco prejuízo da mesma.”“Não posso deixar de reflectir aqui neste lugar a lástima que me causou aquele espectáculo de tanta riqueza perdida: tanta madeira, aduelas de tonéis, ainda sem trabalho; 60 e tantos mastros reais de 5 e mais palmos de diâmetro, inteiros, e novos, grande número de vergas, peças inumeráveis de cabo, ferro, chumbo, 100 e tantos barris de pez, grandes carretas de peças de artilharia, etc., amontoados por aquele areal ocupavam uma boa légua de distância, excepto o que dizem estar espalhado por toda aquela baía, como caixões compridos, que mostram ser de armamento, artilharia; peças de amarras, etc., que a negligência daqueles habitantes, e do feitor da Fazenda Real ali deixa perder.”[…]“Passados os 8 dias, partimos para Santiago, e em 6 horas surgimos em o porto da Vila da Praia, onde estavam fundeadas umas poucas de naus holandesas e inglesas: desembarcámos pela tarde, e logo tomámos o caminho da cidade onde chegámos pelas 8 da noite.”“Ali nos detivemos, enquanto se passavam os dias santos da Páscoa, em que o Prelado, em razão do seu ministério, tinha obrigação de ali assistir; passada a última oitava recebeu o dito Prelado a posse do governo interino destas ilhas, em que Sua Majestade tinha feito a honra de o promover.”“Recebida a posse, e deixando em seu lugar para o governo da ilha o oficial de maior patente, partimos para a Ribeira de PrActa, sítio junto ao Tarrafal, que ele havia escolhido como o mais saudável daquela ilha para a sua residência e fundação de um seminário que devia servir para educação da mocidade destas ilhas” [...].“Num lugar muito desabrido, muito cálido, estéril, doentio, e deserto, onde só se vêem rochas escarpadas, povoadas de inumeráveis cabras bravas, e chusmas de macacos devoradores e destruidores de todos os frutos que ali se pudesse produzir: eis aqui, Senhor, em poucas palavras, a verdadeira descrição do belo sítio que este prelado, contra o parecer de todos os principais da ilha, tem escolhido para uma plantação de Letras, desprezando então um dos sítios mais aprazíveis, mais frescos e mais férteis daquela ilha, qual é a Ribeira da Trindade, de que a mesma Mitra é senhora.”
O naturalista JOÃO DA SILVA FEIJÓ, do mesmo grupo de Galvão em Coimbra, também sofreu com desavenças dentro do poderio local. Apesar de não ter sido enviado como Secretário, executando apenas o seu cargo de naturalista, JOÃO DA SILVA FEIJÓ, em Cabo Verde, não era bem quisto por ser uma pessoa bem sucedida apresentando uma idade muito jovem. A inveja lhe rondava de tal forma que lhe foram feitas denúncias administrativas - que serviam de instrumento nas lutas de poder entre as facções locais e os emissários da Coroa - nas quais era acusado de escândalos e roubos. De início, o seu texto como naturalista não impressionava o seu tutor e governador de Cabo Verde, D. Francisco de São Simão, e muito menos Martinho de Mello e Castro, que valorizava o envio de exemplares para o Museu de História Natural. A falta de interesse no trabalho de Feijó levou-o a fazer pequenas intrigas contra o Governador ocasionando como conseqüência o aumento de sua fama como desordeiro. Suas palavras eram vistas como desobedientes levando a denúncias de não cumprimento das ordens da Coroa. Esses episódios da trajetória de Feijó em Cabo Verde foram estudados por Magnus Pereira no artigo “Um  jovem naturalistas num ninho de cobras: a trajetória de João da Silva Feijó em Cabo Verde, em finais do século XVIII.” Revista História: Questões e Debates, Curitiba: Editora UFPR, n. 36, p.29-60. ‘Usos do Passado’ — XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006:  6Feijó recebeu uma carta de advertência de Mello e Castro, fruto de denúncias da elite local, por não ter pago pelo transporte utilizado quando estava trabalhando. Acusaram-no também de excesso de autoridade e de ter exigido mais algodão para empacotar as remessas de animais para Lisboa. A população se sentiu muito ofendida com tal abuso. Porém, a versão de Feijó é completamente diferente: com a morte do governador, ele ficou sem saber o que fazer e como voltar da Ilha de Fogo, local onde estava para o reconhecimento da fauna e flora. Tentou conseguir o transporte com os representantes da Companhia do Grão-Pará, porém o seu pedido foi rejeitado. Depois de um tempo, novos administradores da Companhia chegaram e, ao lhes refazer o pedido, aceitaram fazer o transporte, por ser este do serviço da Coroa. Tais fatos só demonstram e reforçam o carácter competitivo e de intrigas administrativas vividas por Feijó, ou seja, como nas palavras de Magnus Pereira, “um verdadeiro ninho de cobras”. Feijó se sentia tão amedrontado pela força de elite local que chegou a exigir uma escolta militar pessoal. Porém, isso não foi suficiente para impedir o seu envenenamento que, por sorte, não levou à sua morte. Sua vida melhorou quando encontrou no novo governador Faria e Maia, um aliado, que o defendeu perante a localidade e a Martinho de Mello e Castro. Essa pequena comparação foi só para demonstrar em que tipo de ambiente estavam inseridos estes naturalistas. Com a chegada destes letrados vindos de Portugal, a elite sente-se ameaçada por este corpo de alguma maneira próxima à Coroa, gerando uma grande competitividade entre a elite e os novos oficiais. No caso de Galvão, outro “funcionário” deveria ocupar cargo de Secretário de Governo, alguém ligado à elite de Moçambique, capaz de administrar os acontecimentos de acordo com seus interesses e os da elite, e não necessariamente os  da Coroa. Afinal, formado na Universidade de Coimbra com alto grau de instrução e aptidão, esse naturalista tinha um poder de interferência em suas mãos que poderia prejudicar os interesses locais. William Simon levanta a hipótese que o governador interino queria ver nomeado para o posto de Galvão, JOSÉ NOGUEIRA DE ANDRADE. Para este autor, como Manuel estava em uma colônia portuguesa que utilizada mão-de-obra escrava africana, ele não se ajustaria ao modo de vida de Moçambique, que tinha sua maior base de comércio na exportação de escravos. Mas esta hipótese tem problemas, uma vez que hoje sabemos que o próprio GALVÃO DA SILVA acabará por se inserir nessa  economia, dedicando-se ele próprio ao tráfico de escravos. Em 1793, Galvão possuía um navio negreiro chamado Bazaruco. Sendo assim, é possível pensarmos que MANUEL GALVÃO DA SILVA encontrou, assim como seu colega Feijó, dificuldades para se inserir no panorama das disputas locais, No caso de Galvão, contudo, ele acabou por se aproximar do governador DIOGO DE  SOUZA COUTINHO, ou seja de algum modo ele encontrou brechas e acabou por se inserir, não pela via do apoio da Coroa ao Caso da Ata de nascimento que lhe é atribuída esteja correta, ele começou a cursar matemática em Coimbra com 16 anos e, em finais de 1778, quando aparece matriculado em Filosofia, tinha 18.24 Tudo isto torna mais evidente o porquê de ter-se tornado Feijó o jovem e da relação severa e paternal que o ligava a Martinho de Mello e Castro. Assim como todos os outros, ele teria que enfrentar a batalha para ver reconhecida localmente a sua condição autónoma de homem de ciência. No entanto, ao mesmo tempo, ele buscaria escapar da tutela que lhe era imposta devido à sua juventude. Esta dupla batalha inicia assim que Feijó desembarca, quando começam os pequenos incidentes com o FREI FRANCISCO DE SÃO SIMÃO a quem estava submetido. No afã de se fazer valer, o naturalista comete um erro crasso na estratégia que adota para enfrentar o bispo: escolhe o texto filosófico como arma. Os historiadores, ávidos pelas fontes escritas, tendem a dar à produção escrita desses naturalistas uma importância que necessariamente não lhe era atribuída pelas personagens que dominavam a cena administrativa do período. Martinho de Mello e Castro era explícito quanto a isto. As “palavras inúteis” de um naturalista eram “nada, ou pouco mais de nada”. O que lhe interessava era o envio regular e bem acondicionado de minerais, vegetais e animais. Note-se que o ministro era detentor do forte espírito coleccionista que caracteriza o período. Como já foi mencionado, Isto sofreria uma certa mudança nos anos subsequentes. Com a publicação das Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa, e mais ainda durante o consulado Souza Coutinho, o texto filosófico ganharia um outro estatuto. Embora desse continuidade à política de recolha e mesmo a ampliasse, o conde de Linhares era antes um ávido coleccionador de memórias do que de “curiosidades naturais”. Neste período subsequente, Feijó teria a sua produção literária reconhecida e publicada. Todavia, quando elaborou os seus primeiros relatos não fez mais que irritar o seu patrono. O texto “científico” do naturalista entrou pelos canais administrativos por onde fluíam as denúncias de desmando dos agentes da coroa e foi acolhido exactamente da forma como o eram todos os outros. O jovem fazia intrigas contra o seu tutor, o bispo-governador, o qual, aparentemente, contava com a simpatia de Mello e Castro.O principal documento a informar os movimentos iniciais de Feijó no arquipélago e que foi simultaneamente a causa de seus primeiros dissabores é o Itinerário Filosófico que contém a Relação das Ilhas de Cabo Verde disposto pelo método epistolar. Como o título sugere, este relato é composto de um conjunto de cartas endereçadas a Martinho de Mello e Castro, dando conta de suas atividades. Apesar de ser o mais importante texto de Feijó sobre aquelas ilhas, permaneceu inédito, até onde pode-se alcançar, e desconhecido por parte dos antigos historiadores de Cabo Verde.
 1783
Petição dos quakers ao Parlamento inglês contra o tráfico de escravos.
JOSÉ ANTÓNIO PINTO, Capitão-mor de Bissau, aquando de uma insubordinação dos soldados teve de fugir para Geba para salvar a vida.
JOSE DE ARAUJO GOMES nasceu em Lisboa, chegou ao Arquipelago de Cabo Verde em 1783 e viajou para a Guine em 1790 (?) Fizeram-no capitão de infantaria em 1793, serviu como tesoureiro da Real Fazenda de Bissau de Maio de 1793 ate Junho de 1795, e em Dezembro de 1803 tinha13 anos de serviço em Africa; foi escrivao da Índia e Mina (Junho de 1801) e fez de govemador de Bissau em Maio de 1803. Em 1803 visitou Pará no brigue Pensamento d'America acompanhado pelo seu filho ANTONIO MONIZ DE ARAUJO GOMES, por seu genro GONÇALO CARDOSOe por sua sobrinha THOMAZIA MARIA, mais tres criados: VALENTIM GOMES (preto, de 16 anos); JOÃO ANTONIO GOMES (preto, de 8 anos); VIOLANTE GOMES (preta, de 19/20 anos, solteira), e por MANUEL DE SOUSA CARDOSO, homem pardo, nascido em Bissau, solteiro, de 20 anos de idade. De Para foi para Lisboa. Foi capitão-mor da ilha do Fogo de 1807 a 1819 e nomeado comandante de Cacheu em 1820, de que tomou posse a 13 de Abril de 1821 ja no posto de coronel.
1783/01/02
Criação da Sociedade de Comércio das ilhas de Cabo Verde
«Terceira Companhia de Cabo Verde e Guiné
Em 1783, resolvia o Govêrno central arrendar a cobrança dos rendimentos públicos a uma emprêsa particular, a Sociedade do Comercio das Ilhas de Cabo Verde, à qual já antes disso havia sido concedido o exclusivo do comércio na mesma província. O contrato, assinado em 2 de Janeiro de 1783, continha as seguintes disposições:
O acôrdo começava em Janeiro dêsse ano e deveria vigorar durante 4 anos. Pertencia à Sociedade arrecadar todos os rendimentos reais, ou sejam, os direitos alfandegários, dízimos, foros e outras quaisquer rendas do Estado, tanto em Cabo Verde como na Guiné. A cobrança era feita pelos empregados nomeados pela Sociedade sem qualquer intervenção dos governadores. Além disso a Sociedade continuava a gozar do exclusivo do comércio em Cabo Verde e Guiné.
Em contra-partida oferecia ao govêrno a contribuíção anual de 5.000$000 réis e transporte gratuíto para o material do Estado e degredados. A contribuíção era paga em Cabo Verde e Guiné e destinava-se a satisfazer as folhas dos vencimentos e mais despezas.
Era evidente que o rendimento de 5.000$000 era mais que insuficiente para cobrir as despesas dos dois distritos. Tanto em Cabo Verde como na Guiné, a média anual dos gastos indispensáveis regulava por 6.000$000, sendo portanto necessários pelo menos 12.000$000 para uma administração regular.
Enquanto não surgissem novas fontes de receitas públicas, tornava-se indispensável que a metrópole auxiliasse a colónia.
Infelizmente o Govêrno central não prestava grande atenção a esta situação e a província teve de se remediar com os seus próprios recursos.
Como a franqueza da sua economia não permitia suportar a acumulação dos deficits, foi forçada a reduzir os serviços ao mínimo, o que importa dizer que tanto o Govêrno de Cabo Verde como nas capitanias de Cacheu e Bissau viram-se quási abandonadas.
No arquipélago, com a actividade comercial reduzida ao mínimo, não conseguia a Sociedade cobrar sequer um conto de réis de impostos. Nestas condições, embora tivesse os benefícios do monopólio comerdal, a Sociedade abriu falência em 1786, antes de completar o prazo de 4 anos.
Para a decadência da nossa colónia e morte das iniciativas portuguesas contribuiu poderosamente o desenvolvimento do comércio e navegação da Inglaterra, que ao tempo tinha, por assim dizer, um monopólio do tráfico de escravos para a América e o domínio no comércio em geral.»

João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pgs. 158-159
1783/04/23
O GOVERNO DO BISPO D. FREI FRANCISCO DE SÃO SIMÃO (ABRIL A AGOSTO DE 1783)
A 23 de Abril de 1783 a Câmara dava posse ao bispo D. Frei Francisco de São Simão. Todavia, o governo do Bispo durou pouco mais de 3 meses mas o prelado ainda conseguiu pôr em prática uma ideia antiga, a da construção de um seminário para a educação de jovens. Escolheu o sítio da Ribeira da Prata do Tarrafal, 18 léguas distante da cidade, onde passou a residir e deu início à construção do seminário e onde também faleceu a 10 de Agosto de 1783. Aí foi sepultado, conforme determinou em seu testamento.
1783/08/10
Falecimento de Frei Francisco de São Simão.
O QUARTO GOVERNO DO CORONEL JOÃO FREIRE DE ANDRADE (1783-1785)
A sorte favorecia de novo João Freire de Andrade que, como coronel de patente mais antiga, pôde avocar novo governo interino. Tal como na vacância anterior, rejeitou o representante eclesiástico que devia fazer parte do triunvirato e governou juntamente com o seu cunhado, o coronel Manuel Tavares da Silva que continuava a servir de juiz ouvidor. Com efeito, as numerosas patentes são assinadas apenas por estes dois membros da junta governadora e só seis meses depois comunicaram ao governo central o óbito do bispo D. Frei Francisco de São Simão.20
Logo após o falecimento do bispo inventariaram os seus bens em Santiago e São Nicolau e mandaram-nos vender, não respeitando as instruções precisas que o prelado dera sobre a não ingerência das justiças seculares na inventariação dos seus bens, precisamente para evitar que fossem vendidos, com excepção dos comestíveis que seriam destinados aos pobres. Por isso tinha determinado que o cabido haveria de nomear um juiz eclesiástico que depois entregaria tudo ao procurador da mitra,21 mas o novo governo de Freire de Andrade não honrou os seus últimos desejos.
No que diz respeito à actuação como governo, muito se poderia dizer acerca da recepção e extravio dos ofícios expedidos pela Secretaria do Estado e das incumbências solicitadas que possibilitaram a recepção de géneros e arrecadação de 1.472$000 (um conto, quatrocentos setenta e dois mil réis), importância de uma barra de ouro que ficou em poder do coronel João Freire de Andrade.
Como qualquer governo regular, alargaram as suas jurisdições às restantes ilhas, tendo procedido ao provimento de capitães da guarnição da ilha do Fogo. Mas foram longe de mais quando, em virtude do falecimento do comandante da praça de Cacheu em Dezembro de 1783, o nomeado para o substituir foi o coronel Manuel Tavares da Silva,22 cunhado de João Freire de Andrade e segundo membro do governo interino.
Dois factos alteraram então as relações de força e de poder estabelecidas na ilha. A chegada do novo capitão-mor da vila da Praia, Luís Pedro de Araújo e Silva e do ouvidor-geral José Ferreira da Silva.
O primeiro, reinol recém-nomeado capitão-mor da vila da Praia, contestou energicamente a legitimidade do coronel no poder, o que lhe valeu pouco depois uma ordem de prisão. Não desistiu e em diversas cartas endereçadas ao poder central questionou a primazia do posto do coronel Freire de Andrade sobre a sua patente militar. Segundo, as ilhas tinham estado cerca de sete anos sem ouvidor-geral o que permitia a João Freire de Andrade orientar toda a jurisdição judicial em segunda instância sempre que podia colocar na Câmara um partidário como primeiro magistrado camarário que passava a desempenhar essas funções do ouvidor-geral. A partir de 21 de Abril de 1784 mudaram as circunstâncias com a chegada do novo magistrado, José Ferreira da Silva. Inteirando-se da situação insólita, um triunvirato governativo em teoria mas na prática um único membro reconhecido por governador interino, dispôs-se a cumprir as determinações régias e procedeu a uma reorganização do governo (que o coronel Freire de Andrade vivamente impugnou) dando posse ao tesoureiro-mor que ocupava o cargo de deão, como adjunto do governo. Durante os restantes meses até à chegada do governador António Machado de Faria e Eça (1 de Abril de 1785) o coronel não teve grande margem de manobra, vendo-se obrigado a governar em triunvirato com o ouvidor-geral e o representante eclesiástico.
1784
JOÃO PEREIRA BARRETO capitão-mor de Cacheu, interino, até 1786
AMBRÓSIO DA COSTA ALVARENGA e a sua consorte, ISABEL LOPES DA CONCEIÇÃOsão lembrados como patronos da capela de Cacheu por uma inscrição comemorativa da morte da ultima em 23 de Abril de 1784.
Entre 1784 e 1789, todo o Fouta foi assolado por uma guerra violenta, resultante de um levantamento de animistas, com um exército tão vasto que certas tradições chegam a estimá-lo composto por quatrocentos mil homens (o que é certamente um exagero mas transmite uma noção da sua dimensão), que reagiram às campanhas dos “almany” (chefes dos fulas) Karamoko Alfa (contra o Gabú e Konkodougou) e Ibrahima Sory Maoudo (para Leste), demasiado destrutivas e frequentes contra as suas aldeias. Os animistas (incluindo fulas não islamizados), conduzidos por Koné Bouréma Sidibé quase exterminaram os muçulmanos mas, confiantes na vitória definitiva, não perseguiram nem capturaram Sory Maoudo que conseguiu reunir tropas e contra-atacar Kondé Bouréma em plena estação das chuvas, vencendo-o. O Fouta estava salvo, e os fulas prepararam um exército forte, condição de sobrevivência necessária do Estado muçulmano rodeado por vizinhos animistas.
1784/04/21 José Ferreira da Silva, desembargador, tomou posse como ouvidor em 21 de Abril de 1784. Provocou vários conflitos de jurisdição com o Governador Faria e Maia, enfileirando-se entre os partidários dos Freires de Andrade; foi forçado a embarcar para o Reino, sendo substituído por Gregório de Vasconcelos Martins que serviu interinamente até 1793.
1784/04/30
Nomeação de D.FREI CRISTOVÃO DE SÃO BOAVENTURA como bispo da diocese de Cabo Verde. Partiu a 2.05.1786. Residiu sempre na ilha de São Nicolau. Nesta ilha fundou escolas de gramática e moral.
1784/08/23
ANTÓNIO MACHADO DE FARIA E MAIA capitão e governador-geral de Cabo Verde. Esteve até 1789. No seu tempo foi renovada pelo Alv. de 14 de Abril de 1785 a proibição aos Governadores, Ouvidores e mais pessoal de comerciarem tanto com estrangeiros como com nacionais, de todo e qualquer modo.
Tenente-coronel António Machado de Faria e Maia foi nomeado governador das ilhas de Cabo Verde a 23 de Agosto de 1784, tomou posse a 1 de Abril de 1785. Foi mais um governo atribulado, cheio de intrigas, queixas e acusações. O governador António Machado de Faria e Maia queixava-se constantemente de estar a sofrer moléstias das ilhas e que muitas vezes o deixava inactivo e temia bastante que estas moléstias o levasse para a sepultura, “o que desarranjaria bastante os interesses particulares de um sobrinho e dois irmãos, pois, talvez, não podem recolher a metade do meu espolio devido á confusão lastimosa, e as aves de rapina que abundam naquelas ilhas […]”. Quando terminou o governo, em 1788, foi o próprio a representar e a pedir o envio do seu sucessor.
Ao tempo da chegada de Feijó ao arquipélago, a lição pombalina já parecia um tanto esquecida e os conflitos envolvendo a elite local e os emissários da coroa tinham voltado à sua turbulenta rotina, movimentada exactamente pelas mesmas personagens do passado. Após a morte do bispo, o governo foi assumido por ANTÓNIO FARIA E MAIA, que passa a se degladiar indiscriminadamente com a elite local, com o clero, com os militares e, principalmente, com o ouvidor das Ilhas. Este, por sua vez, faz uma aliança com o clã de JOÃO FREIRE DE ANDRADE, que havia escapado da razia pombalina e continuava a ser o maior potentado das ilhas. Ambos seriam os principais responsáveis pela campanha de descrédito conduzida em Lisboa contra Feijó. É interessante perceber que o naturalista era provavelmente encarado como um homem do governador. Feijó, inicialmente, parece ter entrado em conflito com Freire e Maia. “Não sei que mal tenho feito a este senhor que aqui governa, que não faz mais que me ultrajar,” queixava-se a Mello e Castro. No entanto, aos poucos foi-se estabelecendo uma aliança entre os dois, pois o governador passa a defender activamente Feijó das acusações vindas do Reino. Outras das queixas levadas a Lisboa era a de Feijó exigir uma escolta militar pessoal. Pode-se ver duas dimensões nesta exigência. Uma primeira era o medo de ser eliminado pela facção local desgostosa com ele. É a partir do retorno das Ilhas de Barlavento que Feijó encontraria um aliado em Faria e Maia. Na sua luta por se afirmar no arquipélago, o governador conseguiu, por algum tempo, anular todos os seus concorrentes. Acabou prendendo o ouvidor e mandando-o de volta a Lisboa. Conseguiu, também, enquadrar os comandos militares locais e parte do clero. Ao fazer esta razia livrou Feijó de seus contendores. Além disso, assumiu pessoalmente a defesa do naturalista frente a Mello e Castro. Escreve ao ministro dizendo que Feijó, “por falta de malícia, ou dos conhecimentos do homem, tem praticado algumas rapaziadas, mal pensadas sim” mas que não era malévolo ou temerário. Tendo chegado o naturalista à estas Ilhas, e devendo sempre empregar-se debaixo da direção do Reverendíssimo Bispo D. Frei São Simão, principiou a sua desgraça pela morte deste Prelado; não só porque não pôde justificar muitas ordens que recebeu localmente, mas porque lhe faltou muito cedo uma pessoa de maior idade e mais conhecimento do mundo, que fosse pouco a pouco dando-lhe a conhecer quais deviam ser ou seus verdadeiros cuidados e quais poderiam ser os seus princípios. É certo que nas Ilhas de Santo Antão e São Nicolau houveram queixas do referido naturalista porque ele entreprendeu um numeramento dos gados todos; e achando que muitos diminuíam o número que lhes pertencia, fazia passar para a Fazenda Real o acréscimo destes gados, dizendo que não tinham dono e que consequentemente pertenciam à Real Fazenda, o que participou ao Administrador JOSÉ LOPES QUARESMA. O naturalista diz que recebera ordens a este respeito do Prelado defunto. Faria e Maia insiste que Feijó não era culpado da maior parte das coisas de que fora acusado e que realmente tinha andado muito doente. “Mesmo na minha casa o vi sofrer sezões muito fortes, que o impediam até de voltar à sua por muitas horas.” Neste estado, ele teria embarcado para as Ilhas de Barlavento. Note-se o tratamento quase paternal(ista) dispensado ao naturalista. Por ordem de Mello e Castro, Feijó passaria, desde então, a ser tutelado pelo coronel JOSÉ MARIA CARDOSO. Este oficial havia feito anteriormente, por conta própria, uma remessa de curiosidades naturais para o Gabinete da Ajuda, a qual foi considerada de óptima qualidade. Não há indícios de que tenham ocorrido maior conflito entre os dois. É mesmo provável que Feijó tenha encontrado nele o auxiliar de que sentia falta. Desde o retorno a São Tiago, torna-se mais difícil acompanhar os passos de Feijó, uma vez que, aparentemente, ele abandonou a escrita de seu Itinerário filosófico. Se ele o continuou, a sequência está hoje desaparecida. O ano de 1786 ele gastaria refazendo os passos de suas primeiras viagens, tentando, assim, se redimir perante os seus superiores em Lisboa. Uma das queixas que recebera era de não ter dado suficiente atenção ao salitre da Brava e ao enxofre do Fogo, de que mandara amostras insignificantes sem a indicação de existirem, ou não, jazidas economicamente aproveitáveis. No início do ano, por instrução de JULIO MATTIAZI, retorna à Brava. Ali ele e Cardoso concluem que não é viável a exploração de salitre. Passa a seguir ao Fogo, para ver de perto a erupção do vulcão que era responsável pelo nome da ilha e estudar a possibilidade de explorar enxofre. A observação do fenómeno está relatada em sua Memória sobre a erupção do Fogo. Originalmente, ele pensou este relato como uma continuidade do Itinerário Filosófico, percorrendo para isso 2/3 da circunferência da ilha, segundo informação de Faria e Maia. Todavia, este texto ganharia autonomia e é uma de suas obras mais conhecidas, tendo sido publicada, com algumas variações em relação ao original, no Rio de Janeiro.
O GOVERNO DE ANTÓNIO MACHADO DE FARIA E EÇA (1785-1790)
Pouco depois do início do seu mandato, estalavam as clássicas discórdias entre o governador e o ouvidor-geral de Andrade no sentido do aliciamento do magistrado régio. Enredado por D. Violante Freire de Andrade, irmã do coronel, o ouvidor-geral “esqueceu-se” dos descaminhos dos bens da Casa da Misericórdia que tanto denunciara inicialmente assim como do despotismo do coronel na monopolização do governo interino que ele próprio teve de reformular.
Não podendo contar com o apoio do ouvidor-geral com quem estava em permanente conflito e tendo de enfrentar os constantes entraves colocados à sua acção governativa pelo coronel e seus correligionários, o governador António Machado de Faria e Eça viu-se obrigado a exercer o poder com grande autoridade e firmeza. O conhecimento detalhado das prisões arbitrárias ordenadas pelo coronel, dos abusos perpetrados pelos partidários da sua facção, da delapidação dos bens da Casa da Misericórdia durante o governo interino e sobretudo, as provocações e as incessantes obstruções ao seu governo (em Lisboa já corria a notícia de um pretenso levantamento do coronel contra o governador) levaram-no a ordenar o degredo do coronel Freire de Andrade para a ilha da Boavista, a proibição de qualquer contacto com pessoas da ilha de Santiago e a prisão domiciliária de D. Violante Freire de Andrade na sua fazenda dos Órgãos de onde nunca poderia sair sem ordem régia, autorizando-a apenas a assistir a missas mas proibindo-a de sair de casa com mais de 8 escravos, não podendo qualquer membro dessa família aparecer armado em parte alguma da ilha de Santiago.23
O governador António Machado de Faria e Eça pôde então dedicar-se à distribuição de mantimentos a diversas ilhas onde a fome se instalara, sobretudo na Boavista. Nesta ilha o coronel degredado actuava, distribuindo recursos e adquirindo partidários, fazendo petições e acusando o governador de administrar com despotismo. Atacado pela doença da terra, o governador incessantemente pedia sucessor o que só se verificou quase um ano depois do cumprimento do seu triénio (1790).
1785
Por ter falecido em 1785 o capitão-mor de Cacheu, Antonio Telles de Menezes, ficou com o governo interinamente o padre João Pereira Barreto, que foi substituído em 26 de maio por Luís Pedro de Araújo e Silva, nomeado interinamente pelo governador.
João Pereira Barreto, fundador de famosa família de Cacheu, era urn luso-africano, nascido em Santiago, onde recebeu o sacerdócio. Foi transferido para a Guine em 1770 (?), provavelmente por causa das suas relações com uma escrava de que lhe nasceram dois filhos (conhecidos).
1786
LUÍS PEDRO DE ARAÚJO E SILVA é capitão-mor de Cacheu em 1786 e 1787
1786/04/21
Nomeação de JOSÉ VICENTE PEREIRA no cargo de capitão-mor da Vila da Praia, ilha de Santiago.
1786/05/17
Luís de Araújo e Silva é capitão-mor de Cacheu
«Em 17 de maio representaram os principaes moradores da ilha de S. Thiago contra o governador Faria e Maia, a quem chamavam despota por querer tratai-os como escravos; que era um doido, pois poucas vezes falava com acerto, usando de linguagem grosseira e obscena, e os castigava com açoites e degredo; que prendera um corpo inteiro dos camaristas tia cidade, ameaçando-os de morte; que vexava e opprimia os officiaes militares com as pa tentes, dando a miado altas a uns e baixas a outros, só para receber os emolumentos que já tinham acabado por lei, sendo dos capitães 8$000 réis, tenentes e alferes 4$000 réis e capitão-mór dos fortes 14$400 réis; supplicavam todos a sua substituição.
Ainda contra o mesmo governador representaram o coronel João Freire de Andrade, degredado na Boa Vista; D. Violante Freire de Andrade, degredada nos Orgãos; o capitão Paulo da Silva Rebello e Candido Almeida Spinola, ambos degredados na Guiné.
Splnola fundamentou largamente a sua queixa contra as tropelias d'esse governador, especie de D. Juan, dizendo que a razão d'elle ter cahido fóra das graças era a Infelicidade de possuir uma mulher que a natureza dotara com os melhores requisitos de formosura, a qual sensibilisara o coração de Faria e Maia, querendo este por bem ou por mal assenhorear-se d'ella,. como já tinha reito com a esposa de Antonio José Baptista.
Esta mulher, com os seus filhos, foi depositada em casa de um caixeiro da sociedade a pedido do governador.
Accusaram-no de mandar vir de Lisboa navios e dinheiro para comprar milho, e os carregava para vender nas Canarias e America.» -
Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte III, pg. 97, Lisboa, 1906
1787
Thomas Clarkson e William Wilberforce fundam em Londres a Society for the Abolition of the Slave Trade (antepassada da British Antislavery Society), modelo de outras associações similares em vários países da Europa e da América.
1788
«A escrituração minuciosa da Companhia do Grão-Pará e Maranhão dá-nos números muito significativos para um período em que se esperariam valores muito mais baixos, permitindo-nos projectar para os séculos anteriores quantitativos próximos ou eventualmente superiores. Entre 1756 e 1788, os agentes da Companhia compraram na região entre o Casamansa e a Serra Leoa (os chamados «rios da Guiné») 2.404 escravizados, entre adultos e crianças pequenas, dos quais morreram 192 antes do embarque, isto é, 7,9%. Mais a sul, nos reinos de Angola e Benguela, adquiriram 8.913 indivíduos, de que, na mesma situação, faleceram 641 (7,1 %). E isto apesar de, nas instruções da direcção da Companhia para os seus representantes, se insistir em que fosse dado bom tratamento aos escravos e se recomendar «particular cuidado de resgatar escravos que sejam livres de queixas e como tais de fácil venda», devendo fazer-lhes «as necessárias acomodações para se conservarem com cautelas e livres de doenças até haver condição de se transportarem»
ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS, O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos xXV a XIX, Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera do Livro, Lisboa, 2013, pg. 107
É fundada em Paris a Sociedade dos Amigos dos Negros, que tinha como objetivo acabar com o tráfico de escravos.
Arquivo do Tribunal de Justiça do MA. Inventários post mortem de Bento da Cunha, 1788:
[...] Escravos
MANOEL, Benguela, de idade de quarenta anos, avaliado em cento e vinte mil réis ...120$000
RITA, Mina, sua mulher, vinte e cinco anos, avaliada em cento e quarenta mil réis 140$000
BONIFÁCIO, mandinga, de idade de vinte e oito anos, avaliado em sessenta mil réis...... 60$000
LUZIA, Caxeu, sua mulher, de idade de vinte e cinco anos, avaliada em cento e vinte mil réis..... 120$000
ÚRSULA, crioula, filha dos ditos, de idade de seis anos, avaliada em sessenta mil réis .... 60$000
A minha neta Raimunda Isabel deixo-lhe uma rapariga crioula por nome MARIA COTA (...) Tenho uma mulata chamada RITA a deixo a minha irmã Margarida Mendes, e a dita mulata está em seu poder para servi-la durante a sua vida, e depois de morta a deixo [a muacta] a minha afilhada e neta Ana Francisca, filha de meu genro Francisco das Chagas, com todos os produtos que poderá ter a dita mulata(...) Deixo a um menino que criou minha irmã Margarida Mendes, chamado Antonio David, um rapaz por nome RAIMUNDO, nação Bijagó, como tão bem cinqüenta mil réis para o seu vestuário, e tudo o faço pelo amor de Deus. (Arquivo Público do Estado do Maranhão, testamento de Felipe Carvalho Matos).
1789
O rei de Espanha concede liberdade de comércio a espanhóis e a estrangeiros para o tráfico de escravos com as ilhas de Cuba, São Domingos, Porto Rico e província de Caracas.
Rejeitada pelo Parlamento inglês a primeira moção propondo a abolição do tráfico de escravos.
Situação de fome na ilha da Boavista
1789/04/02
Nomeação de FRANCISCO JOSÉ TEIXEIRA CARNEIRO no cargo de capitão e governador-geral de Cabo Verde. Chegou à ilha a 18 de Janeiro de 1790.

1790

1790/01/21
FRANCISCO JOSÉ TEIXEIRA CARNEIRO Governador de Cabo Verde e da Guiné, nomeado a 2 de Abril de 1789 mas só  tomou posse a 21 de Janeiro de 1790.
O GOVERNO DE FRANCISCO JOSÉ TEIXEIRA CARNEIRO (1790- 1795)
Tendo tomado posse em 21 de Janeiro de 1790, uma das primeiras medidas do governador Francisco José Teixeira Carneiro, foi a concessão do deferimento da petição do coronel João Freire de Andrade que imediatamente concretizou o seu regresso à ilha de Santiago. Durante o seu mandato, Francisco José
Teixeira Carneiro deixou-se manobrar pelo coronel Freire de Andrade que aproveitando-se da sua fraqueza, revitalizou o seu partido e procurou colocar os seus correlegionários em postos civis e militares de chefia. Francisco José Teixeira Carneiro foi substituído pelo governador José da Silva Maldonado de Eça em 19 de Junho de 1795 que apenas governou perto de três meses, tendo falecido a 10 de Setembro do mesmo ano da supradita doença da terra.
1792, Dezembro, 7, Queluz AVISO (minuta) do [secretário de estado da Marinha e Ultramar], Martinho de Melo e Castro, ao provedor da Casa da Índia [e Guiné, D. JOSÉ JOAQUIM LOBO DA SILVEIRA], transmitindo a ordem real para que se admitisse, pelo Consulado da Saída, o despacho de armas que João Teixeira de Barros pretendia mandar para Guiné, Benguela e Angola A partir do início da década de 1790, FEIJÓ começaria a acumular interinamente algumas funções burocráticas. Aparece em documento de 1793, como Secretário do Governo da Capitania de Cabo Verde e Escrivão da Matrícula da Gente de Guerra. No mesmo período, começa a fazer gestões para retornar a Portugal. Vai utilizar como intermediário o governador FRANCISCO JOSÉ TEIXEIRA CARNEIRO, que escreve a Martinho de Mello e Castro “Este pobre naturalista, que já se acha aqui a dez para onze anos se tem comportado em todo o tempo do meu governo, digno de que V. Ex.ª o atenda, e o felicite.” Ao mesmo tempo, é enviado ao Conselho Ultramarino um atestado do governador, confirmando que Feijó tinha urgentíssimos motivos para ir ao Rio de Janeiro, tratar dos bens herdados pela morte do pai e da mãe. Ele também contou com a cumplicidade de sua mulher, que intercedeu, com sucesso, directamente à D. Maria I.
1791
Rebelião dos escravos da parte francesa da ilha de São Domingos (actual Haiti} e consequente abolição da escravatura.
Em 1791 é publicado um volume de narrativas que serviu de base para os esforços em extinguir o tráfico negreiro inglês, (1) dando sequência a uma série de colectâneas publicadas pelo Legislativo britânico. (2)
Nos relatos da colectânea de 1791, guerra, roubo, adultério e pilhagem eram citados como formas corriqueiras de se conseguir escravos. Quase todos esses modos de captura eram comuns em lugares como a foz dos rios Senegal e Gâmbia. Era para lá que os mouros (moors) que dominavam o tráfico com o interior levavam as caravanas de escravos - compostas de prisioneiros de guerra, condenados por crimes ou produtos de pilhagens, de acordo com Dalrymple. (3) Os soldados negros muçulmanos atacavam uma vila e prendiam quantos podiam - um número variável entre trezentos e 3 mil de cada vez. (4) Tais informações sobre os mecanismos para se conseguir escravos seriam úteis na definição de uma estratégia inglesa de combate às bases do tráfico negreiro no litoral africano, tanto em termos militares quanto diplomáticos. Fosse para atacar os barracões, fosse para propor um acordo aos soberanos locais, era preciso conhecer em detalhes o funcionamento da captura.
(1) An Abstract of the Evidence Derivered before a Selected Committee of the House of Commons in the Years 1790, and 1791: on the Part of Petitioners for the Abolition of the Slave Trade. Londres, James Phillips, 1791.
(2) Outra coletânea fora publicada dois anos antes, reunindo depoimentos de pessoas ligadas ao tráfico na África, no Brasil e nas Antilhas. Ver Grã-Bretanha, Board of Trade. Report of the Lords of the Committee of Council Appointed for the Consideration of Ali Masters Relating of Trade and Foreign Plantations. SI 1, s/e, 1789. Até meados do século XIX, outros volumes seriam editadas pelo Parlamento inglês.
(3) W. Dalrymple é o autor de Traveis through Spain and Portugal in 1774, editado em Londres em 1776.
(4) An Abstract ... , pg. 2.




1792
Abolição do tráfico negreiro na Dinamarca (primeiro país a fazê-lo), com efeitos dentro de dez anos.
Em Inglaterra, uma moção para abolição do tráfico é aprovada na Câmara dos Comuns mas rejeitada na dos Lordes.
Os Bijagós escravizam cidadãos ingleses, vendendo-os depois pelo mesmo preço dos outros escravos.
JOSÉ DA SILVA CARDOSO era um dos «principais comerciantes» de Bissau em 1792, quando Philip Beaver e outros colonos britânicos estiveram em Bolama. Beaver era associado com a firma de Lisboa Pedro Nolasco Gaspar & Irmãos quando morreu em 1805 (?).
A concorrência estrangeira no comércio da Guiné continuou muito forte, a tal ponto que, em Agosto de 1739, houve uma tentativa dos franceses para se apoderarem de algumas áreas de Bissau e, em 1792, algumas centenas de ingleses fundaram uma colónia na ilha de Bolama. Dois anos mais tarde abandonaram-na devido a retaliações fortes por parte da população indígena.

João Dias da Mota (1744 - 1793) - Nasceu em Vila Rica. Foi capitão do Regimento da Cavalaria Auxiliar da Vila de S. João e fazendeiro. Era amigo de Tiradentes. Morreu em Setembro de 1793, nove meses após chegar a Cacheu, de uma epidemia que assolou a região.
Inconfidente da revolta do Tiradentes foi degredado para Cacheu em 1792
Depois da execução brutal de Tiradentes, condenado à morte, enforcado e esquartejado em 21 de Abril de 1792, os outros inconfidentes foram exilados para Portugal e África. Entre eles estavam os mineiros José de Resende Costa (pai), João Dias da Mota e Domingos Vidal de Barbosa. Os três foram enviados para Lisboa em Junho de 1792. De Portugal, seguiram para o degredo na África -dois para Cabo Verde e outro (João Dias da Mota) para a Vila de Cacheu, Guiné Portuguesa, uma região inóspita onde viviam algumas tribos.
O inconfidente José de Rezende Costa (1728-1800)- um dos heróis da Inconfidência Mineira, o prestigioso lavrador, da fazenda dos Campos Gerais, que tomara parte saliente na Inconfidência Mineira e, por isso, condenado que com baraço e pregão fosse conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morresse morte natural para sempre. A pena, entretanto, fora comutada para o degredo em Bissau, na África, por 10 anos, aí morrendo, dele compartilhando o Conselheiro José de Rezende Costa, filho do Capitão José de Rezende Costa, que falecera em 1789, com a idade de 72 anos. De regresso á pátria, José de Rezende Costa fora investido de importantes cargos públicos: Administrador da Fábrica de Lapidação de Diamantes, Contador Geral do Erário. Escrivão da Mesa do Tesouro e, ainda, agraciado com a Comenda da Ordem de Cristo. UT (Gumbleton Daunt, VIl) .
1793/05/04
FRANCISCO JOAQUIM DE ALMEIDA HENRIQUES capitão-mor de Cacheu desde Maio de 1793 até 1798
TEMPOS DE PERTURBAÇÃO NA GUINÉ
Chamava-se JOSÉ ANTÓNIO PINTO e governava Bissau desde Maio de 1793 o capitão-mor que negociou com o tenente Beaver a aquisição dos bens deixados em Bolama quando se extinguiu a aventura britânica de colonização. Zeloso da regularidade administrativa, logo demonstrara isso após a sua entrada em exercício pois seus primeiros cuidados consistiram no exame dos livros de escrituração da capitania que achou num lamentável estado de abandono. Zeloso também na defesa dos rendimentos da fazenda pública.
JOSÉ ANTÓNIO PINTO tomou o comando de capitão-mor de Bissau em 4 de Maio de 1793. Deixou-o quando os soldados se amotinaram. Em Junho de 1803 obteve a nomeação de comandante de Cacheu, com o seu filho NARCIZO EDUARDO PINTO, que servia como tenente de artilharia.
Pela “obrigação do fiel vassalo que é e grato aos benefícios” que tem recebido o rei obriga, por volta de 1806, o ex-Feitor da Fazenda Real José António Pinto a “dar-nos uma notícia das terras [ilhas de Cabo Verde e Guiné]” em que teve a honra de comandar, representando o “carácter que as domina”. A “notícia” cujo marco cronológico se iniciara a 4 de Maio de 1793, dia em que chegou a Bissau e até 1797, fim da sua missão, é também consagrada às ilhas de Cabo Verde. O documento intitula-se “Relato do feitor da Fazenda Real, em Bissau, que serviu como subalterno em Cabo Verde, de 1795 a 1797”67, apresentado, anotado e comentado por António Carreira, editado em Documentos para a história das ilhas de Cabo Verde e “Rios de Guiné”: séculos XVII e XVIII (1).
Não tendo muitas referências sobre este autor, confia-se no que diz António Carreira, mesmo sem citar as fontes. Segundo Carreira, José António Pinto foi um oficial do exército, nomeado Capitão-mor e Provedor da Fazenda Real da ilha de Bissau, tendo tomado posse no dia 4 de Maio de 1793 e ocupou o cargo até ao segundo semestre de 1795, período em que passou como subalterno às ilhas de Cabo Verde até 1797; depois da missão, regressou a Portugal e redigiu o seu “Relatório” nove anos depois, isto é, aproximadamente em 1806. Deduz-se, também por Carreira, esta data a partir de um trecho da parte final do “Relato” em que diz o seguinte: “esta observação e sentimentos já têm de idade 9 anos”, ou seja, 9 anos depois de 1797 corresponde aproximadamente a 1806.
No AHU encontram-se duas referências sobre José António Pinto fora das duas datas em que situa o Relato: uma é de 1789 em que este suplica na condição de Ajudante do Nº 1 do Regimento da Cidade da Ribeira Grande das Ilhas de Cabo Verde e Coronel do mesmo Regimento, e a segunda é de 1807, referida pelo Governador D. António Coutinho de Lencastre como Comandante de Cacheu. Porém, não se encontrou dados suficientes para afirmar que se trata da mesma pessoa. Contudo, o Relato de José António Pinto que se refere aqui aborda os dois sítios onde o mesmo diz ter laborado: o primeiro a ilha de Bissau e, em segundo lugar, as ilhas de Cabo Verde.
 (1) Vide Documentos para a história das ilhas de Cabo Verde e "Rios de Guiné": séculos XVII e XVIII, Apresentado por António Carreira, Lisboa, [s.n.], 1983.
1793/09/27
Nomeação de JOSÉ DA SILVA MACHADO DE EÇA no cargo de capitão e governador-geral de Cabo Verde.
1793/10/29  

Dizimada a expedição inglesa pela malária. O resto dos colonos estabelecidos na Ponta Oeste de Bolama exige do seu chefe, tenente Beaver, o regresso a Inglaterra. Das 300 pessoas que a compunham no início apenas meia dúzia conseguiu ser repatriada.
1793/11/00
FRANCISCO CORREIA nasceu na área de Geba, filho de português e rnandinga; era um rnestre que teve urna porção de pequenos barcos e visitou nurnerosas vezes o Arquipélago de Cabo Verde e Portugal. Comprou mercadorias a Philip Beaver quando a feitoria britânica de Bolama foi desfeita em Novembro de 1793, agindo como intermediário dos cornerciantes estabelecidos em Bissau.
1793/11/29  
O tenente inglês Beaver, desiludido após a grande mortalidade de que foram vítimas quase todos os membros da expedição que chefiava e se estabele­cera na Ponta Oeste, resolve regressar à Serra Leoa.
1794
No seguimento da revolta no Haiti, a convenção republicana francesa declara a abolição da escravatura, legislação revogada por Napoleão em 1802.
Reunião em Filadélfia de todas as sociedades abolicionistas dos Estados Unidos.
José dos Reis Borges, coronel de milícias, exerceu em comissão interina as funções de ouvidor com pequenas interrupções, de 1794 a 1800, revelando bom senso e serenidade no meio da agitação e indisciplina social que lavrava na província.
A partir de 1974 intensifica-se o povoamento da ilha de São Vicente, com a chegada de casais de madeirenses e outros.


1794/04/25
O capitão-mor JOSÉ ANTÓNIO PINTO procura aumentar os réditos da Fazenda Real
Caótico deveria ser o estado da administração em Bissau quando JOSÉ ANTÓNIO PINTO assumiu as funções de capitão-mor; livros de escrituração com falta de folhas e de assentos, o Foral da Alfândega que, pelo seu conteúdo, era uma verdadeira pauta aduaneira, não existia.
Em 25 ds Abril de 1794 teve conhecimento que tinham aportado a Bissau três navios vindos de Lisboa, a fim de carregarem escravos destinados ao Maranhão, sem que tivessem passado pela ilha de Santiago para, na respectiva Alfândega e dando cumprimento à lei, darem a fiança referente aos direitos da escravatura; perante este facto ordenou que pagassem na Alfândega de Bissau os direitos que deveriam ter satisfeito na de Santiago, permitindo-se assim que em Bissau pudessem efectuar-se pagamentos a dinheiro, em vez de ter de recorrer a passar letras sobre o Real Erário para o pagamento das despesas; questão que veio a solucionar-se quando, com a nomeação do Governador MALDONADO DE EÇA para Cabo Verde, em 7 de Março de 1795, o ministro Marquês de Ponte de Lima salientou que, não obstante «a jurisdição do Governador das ilhas de Cabo Verde se estendia a todas as referidas praças e portos », (Bissau e Cacheu), os Governadores de Cabo Verde não deveriam exigir que os navios que fossem negociar a Bissau, Cacheu e outros portos da Guiné fossem a Santiago pagar os direitos, visto que os navios deveriam pagar os direitos nos portos onde carregassem, não devendo ser obrigados a regressar por alguma das ilhas de Cabo Verde.
Para aumentar os réditos da Fazenda Real, mandou subir de 5 % para 10 % os direitos que as mercadorias pagavam quando entravam em Bissau, ao mesmo tempo que ordenou a supressão dos 5 % que os moradores da terra, que as levavam ao sertão para as trocarem por escravos, pagavam até então, decisão que lhe acarretou dissabores, pois contra ela reclamaram junto do governo da metrópole os comerciantes de Lisboa que negociavam com os portos da Guiné.
 Em face das representações dos comerciantes foi por ordem régia cancelada a inovação.
1794/06/13
É possível, mesmo muito provável, que este capitão-mor comungasse nos anseios de separações relativamente ao governo conjunto de Cabo Verde e Guiné, que animavam os demais, visto que e esse sentimento, dando-o como generalizado, se referia o Governador TEIXEIRA CARNEIRO num oficio dirigido ao governo a 13 de Junho de 1794, solicitando que o isentassem da autoridade que tinha sobre os capitães-mores da Guiné, visto eles não obedecerem a seus mandados, pedido que, todavia, não foi deferido. Essa aspiração, se realmente viveu no espírito de JOSÉ ANTÓNIO PINTO, foi nele parceira dum certo autoritarismo, traduzido nas violências de que se queixavam os soldados. Aquele foi o motivo apresentado ao insubordinarem-se os soldados e por forma tal que ele resolveu pôr-se a salvo e foi para Geba.
1795




1795/09/10
Falecimento do capitão e governador-geral de Cabo Verde JOSÉ DA SILVA MALDONADO DE EÇA
O ÚLTIMO GOVERNO DO CORONEL JOÃO FREIRE DE ANDRADE (1795-1796)
O coronel João Freire de Andrade assumiu então o seu último governo interino, já numa situação política bastante fragilizada porque o novo Bispo, Frei Cristóvão de São Boaventura, recusou-se a partilhar com ele o governo e o juiz ouvidor eleito em pelouro, Francisco da Silva Pereira, rejeitou pactuar com as suas arbitrariedades e corajosamente denunciou os vários atropelos à lei, a apropriação do selo real, a recusa em devolvê-lo à Câmara, sua inata depositária, assim como o aliciamento da maioria dos oficiais camarários.
Configurava-se nos últimos anos de setecentos uma natural luta pelo poder em Santiago, protagonizada pelos 3 coronéis dos Regimentos existentes, 2 reinóis e 1 natural de Santiago, de olhos postos no ambicionado posto de capitão-mor da vila da Praia, cargo que, para além de outras benesses inerentes, possibilitava o acesso ao governo interino local em caso de vacatura. Apesar de ter concorrido a esse cargo, o descrédito a que tinha sido votado e a avançada idade do coronel João Freire de Andrade colocavam-no já fora da corrida pelo poder. Tentou jogar uma última cartada mas sem grande sucesso, procurando aliar-se ao emergente coronel de cavalaria, o recém-nomeado capitão-mor da vila da Praia, Marcelino António Basto. Este militar e antigo escrivão da Fazenda Real não teve de esperar por qualquer vacatura; de modo insólito, a 13 de Agosto de 1796, foi nomeado pela Coroa governador efectivo de Cabo Verde.

Deste modo terminaram as ambições políticas e os governos interinos do coronel João Freire de Andrade que haveria de falecer durante o segundo mandato do governador Marcelino António Basto. Para além dos 8 anos e 2 meses de participação ou chefia de governos interinos, não há dúvida que deixou profundas marcas nos anais da história das ilhas da segunda metade do século XVIII.
1795/12/00
A ordem para que Feijó retornasse a Portugal foi assinada em 9 de junho de 1795 e partiu directamente do Palácio de Queluz.55 Todavia, ela chegou a Cabo Verde apenas em Dezembro de 1795, em óptimo momento para Feijó, pois JOÃO FREIRE DE ANDRADE, um de seus principais desafectos, assumira interinamente o governo do arquipélago. Os velhos rancores não tinham sido esquecidos e o próprio FREIRE DE ANDRADE anunciava que estava no comando e que iria retaliar.
Ora Excelentíssimo Senhor permita-nos V. Ex.ª de por na Sua presença o que há a respeito do dito Naturalista. A ordem ou licença para se retirar o livrou de alguma que poderia experimentar; porque justamente ao tempo que a recebemos nos vimos consternados com requerimentos contra ele, em que uns se queixavam de opressões, que lhes fazia no emprego de Juiz de Órfãos em que ilegitimamente se tinha introduzido, ofício este incompatível ao seu destino a esta Ilha, e outras aleivosias e intrigas, que vergonhosamente fomentava já contra este, já contra aquele. (1)
Para marcar bem a sua posição, FREIRE DE ANDRADE não se esqueceu de anexar uma cópia da carta, de 1784, em que Martinho de Mello e Castro apontava, ao então governador FREIRE E MAIA, todos os pontos frágeis do naturalista e as acusações que sofria. A este tempo Feijó era Sargento-mor da Praça de Ribeira Grande, a cidade fantasma que oficialmente ainda era a capital do arquipélago, e Juiz de Órfãos, o que fazia prever que a disputa que se avizinhava iria mesmo ser portentosa. Ambos os cargos eram muito apreciados pela elite local, principalmente o segundo, que eram uma das maiores fontes de enriquecimento ilícito. A ascensão do naturalista na estrutura política das ilhas pode ser creditada à política que adoptara de aliança com os governadores. No entanto, os cargos que obtivera não iriam continuar com ele de mão-beijada. Feijó, a essa altura, não era mais o menino desamparado e pensava seriamente no futuro, procurando acumular o seu pé-de-meia. Apesar da conjuntura desfavorável, não embarcou às pressas para Portugal quando recebeu permissão para tanto. Permaneceu por mais algum tempo no arquipélago para não ter “grave prejuízo, pelo pequeno prazo que têm para se preparar, em razão de ter muitos bens de que dispor e apurar.” (2)
Desde então, a documentação não mais fornece referências que atestem a presença de Feijó em Cabo Verde ou que permitam saber com exactidão quando partiu. Por despacho do Conselho Ultramarino, de 11 de Junho de 1796, foi-lhe concedida licença não remunerada de um ano para ir tratar de seus negócios no Rio de Janeiro. Neste mesmo ano morre Martinho de Mello e Castro. E se era o velho ministro que mantinha Feijó em exílio branco nas ilhas, como chegou a afirmar Faria e Maia, o caminho estava livre para o naturalista, que passaria a integrar as hostes científicas espalhadas pelo império agora sob o comando de D. Rodrigo de Sousa Coutinho.
(1) AHU, Cabo Verde, cx. 48, n. 82. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 36, p. 29-60, 2002. Editora UFPR PEREIRA, M. R. de M. Um jovem naturalista num ninho de cobras... 
(2) Este que foi o seu mais famoso estudo, apareceu nas Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa apenas em 1815. FEIJÓ, J. da S. Ensaio económico sobre as Ilhas de Cabo Verde. Memorias Económicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa (MEARSL), v. 5, 1815. O mesmo volume das Memórias da Academia traz outro estudo de Feijó, intitulado “Memória sobre a urzela de Cabo Verde”.
1796/06/27
Ataque de uma esquadra holandesa à Vila da Praia, ilha de Santiago
1796/08/03
MARCELINO ANTÓNIO BASTO de capitão e governador-geral de Cabo Verde.Governador de Cabo Verde e da Guiné, desde 3 de Agosto de 1796 a 29 de Outubro de 1802, data em que faleceu. Durante o seu governo teve só 60 soldados no arquipélago; quando morreu deixou em cofre mais de 20.000 cruzados.

OS GOVERNADORES DAS ILHAS DE CABO VERDE ENTRE 1767
E 1796


1797/03/23
Termo passado pelo escrivão do meirinho do Conselho Ultramarino, José Teotónio Correia Ramos, da entrega de uma botica recebida pelo contra mestre da galera Leoniza, Manuel João dos Santos, destinada ao provedor da Fazenda Real da praça de Cacheu. AHU_CU_035, Cx. 11, D. 860.
1797/12/00
ANTÓNIO PEREIRA foi nomeado capitão do Baluarte de Farim em Dezembro de 1797.
1798
O estado da Geórgia (EUA) suspende o comércio de escravos.
LOPO DE ALMEIDA HENRIQUES é capitão-mor de Cacheu
1798/01/28
Ataque de piratas franceses à ilha Brava
1798/04/29

Falecimento do bispo da diocese de Cabo Verde D. FREI CRISTÓVÃO DE SÃO BOAVENTURA.
Introdução da cultura do café em Santiago e em Santo Antão.
1799
JOÃO DAS NEVES LEÃO é capitão-mor de Bissau, até 1803
«Para a Praça de Bissau seguiu em 1799 o novo commandante José das Neves Leão, que commonicou a sua chegada alli e não ter encontrado quem lhe entregasse o commando, porque o seu antecessor, José Antonio Pinto, já em Lisboa, havia abandonado o logar, fugindo para o gentio de Fá por os soldados, na Praça, se terem levantado contra elle pelas delápidações e opressões que exercera em todo o tempo do seu commando.» -
 Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte III, pgs. 154-155, Lisboa, 1906
Entre 1799 e 1870 o Fouta viveu um período estável, embora Estados animistas como Solima, Sankaran e Tamba o tenham atacado regularmente e, sobretudo, apesar de algumas dificuldades internas como a oposição dos muçulmanos ortodoxos da confraria Kadiryia (1) aos almany do Fouta e de Timbo. Este núcleo de resistência (a sua capital, Boketo, só foi conquistada e destruída em 1884) na estrada entre Timbo e a actual Freetown terá levado os almany a intensificarem as suas campanhas a Norte, contra o Gabú que dominava o território entre a Gambia e o Rio Nunes.
O Fouta Djalon desempenhava um papel relevante na vida económica da sub-região da Guiné-Gâmbia, enquanto centro de comércio de gado, de cereais, de algodão e de mel, e mercado de escravos. Os ingleses (em Freetown), os franceses (junto aos rios Nunes e Pongo) e os portugueses (há muito estabelecidos nos estuários dos rios Grande e Casamansa) competiam na atracção das caravanas que provinham do Fouta.
(1) Confraria ainda hoje presente na África Ocidental, fundada no Iraque por Abd al-Qadir al-Jilani, no século XII, com vista a converter os povos ao verdadeiro islamismo. Vide THORAVAL, Yves, L’ABCdaire de l’Islam, Ed. Flammarion, Paris, 2003, pp. 49, e BARRY, Boubacar, La Sénégambie du XVe au XIXe Siècle, L’Harmattan, 1988
Erupção vulcânica na ilha do Fogo


1799/04/15
«Da numerosa familia Medina, da ilha da Madeira, que habita em Cabo Verde, ha uma grande descendencia de Manuel Alexandre de Medina e Vasconcellos e de seus irmãos Anastacio Florindo, Theodoro Justiniano, Sabina, Maria, Emiliana, e de Francisco de Paula Medina e Vasconcellos, illustre poeta.
Manuel Alexandre teve nomeaçã de ajudante da companhia do Terço auxiliar da villa de S. Vicente, distrito do Funchal, em 16 de novembro de 1790; por resolução régia de 24 de fevereiro de 1797 e por decreto de 14 de novembro de 1798 teve a mercê do cargo de sargento-mór commandaote da ilha do Fogo, por tres anos, tendo chegado á Praia em 16 de março de 1799, prestado juramento nas wãos do governador Marcellino Basto em 17 do mesmo mez e tomado posse na villa de S. Filippe da ilha do Fogo em 15 de abril d'esse anno.
N'esla ilha casou com D. Luzia Filippa de São Thiago e com ela teve quatro filhos: Joaquim Rufino, que morreu pelos annos de 1835 a 1836 em alferes; Antonio, Ernygdio e Thereza deixaram filhos, que estabeleceram, de preferencia, a sua resideocia na ilba de S. Thiago.
Manuel Alexandre subiu os postos até coronel graduado addido ao estado maior do exercito, e tendo sido rerormado no posto de brigadeiro, pelo decreto de 20 de julho de 1822, n'elle morreu em 1826.
Exerceu os seguintes cargos de nomeação regia, além do acima dito: de ajudante de ordens do governador, com a mesma patente de sargento-mor (rnajor), por decreto de 13 de maio de 1811; de commandante da villa da Praia, por decreto de 17 de maio de 1813; por nomeação dos governadores exerceu importantes commissões.
Fôra um militar digno e honrado e por isso morreu pobre.
A viuva, n'um requerimento que dirigiu a el-rei, mostrando as precarias circumstancias em que tinha ficado, sem um monte-pio para sustentar a filha e um filho menor, pois que dois já eram officiaes, impetrava-lhe para conceder o fôro de fidalgo cavalleiro com o habito de Christo áquelle que casasse com a sua filha Thereza, de 11 annos de edade, em attenção aos serviços prestados pelo pae d'esta e como dotação decretada por el-rei em beneficio da mesma orphã, porque vivia amargurada de tal indigencia e de maiores perigos que poderiam dar-se fallecendo ella e deixando a filha na miseria.
Não foi deferida a pretensão e a filha não foi muito feliz.
Dos irmãos de Manuel Alexandre já era capitão-commandante da companhia de infanteria de Cabo Verde em 1826 Anastacio Florindo e feitor da real fazenda, do Fogo, Tbeodoro Justiniano.
Francisco de Paula foi casado duas vezes· e teve os seguintes filhos: Canclido, que em t8i6 era terceiro escripturario da Junta de fazenda, e Maria; e de D. Margarida Cassanaia, natural da Madeira, segunda mulher, teve Servulo, José, Constança, Camilla e Carolina, ignorando-se o nome de um outro filbo que em Cabo Verde morreu ainda creança.» -

Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte III, pgs. 334-335, Lisboa, 1906
1799/07/03
«O governador commonicou em 24 de agosto de 1800 a presença de uma esquadra franceza no porto da Praia em 3 de julho de 1799, que alli fôra para atacal-o, composta das fragatas Concordia e Franceza, com 44 peças de calibre 18, cada uma com 500 homens, e a fragata Medea com 40 peças de calibre 12 e com 500 homens e 1:000 soldados.
Sabendo os francezes que em terra estava tudo preparado para a lucta, e temendo uma derrota, sahiram do porto sem dispararem um tiro.
Estes navios fizeram muitas presas na costa da Guiné, armando em guerra algumas e outras eram queimadas; apresaram quatro navios portuguezes, dois americanos e onze inglezes, e armaram a Sartaro com 36 peças de 12, Peregrino com 16 de 12, Amphytrite com 14 de 12, Stag com 12 de 12 e Adrianna com 20 de 12.» -
Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné,  por Christiano José de Senna Barcellos,  parte III, pg. 159, Lisboa, 1906





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