1570
O rei de
Portugal D. Sebastião introduz grandes limitações à escravização de ameríndios.
ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA Natural de Cabo Verde Cavaleiro da Ordem de Cristo (1598,
1603) Mulato / Neto de uma mulher preta e de João Álvares de Almada. Filho de Ciprião Álvares de Almada e de uma parda Foi casado duas vezes
Falecido (1624) – “André Alvares de Almada cavaleiro que foi do habito de
Cristo” Procurador do Povo de Santiago (1580) – Eleito pelo povo de Santiago
para ir a Portugal tratar com o governo de D. Filipe sobre o modo como povoar a
Serra Leoa. Esteve em Lisboa para pedir a ida dos Jesuítas para Cabo Verde. Mercador. Esteve no reino de Casamança
(1570). Esteve no Rio Gâmbia (1578). Capitão de uma companhia (1591, 1595,
1598) Escreve o “Tratado breve dos rios
da Guiné do Cabo Verde desde o rio Sanaga até aos baixos de Sant´Ana”
(1594). Procurador de moradores reinóis (1591, 1601)
JOÃO TAVARES SOUSA Fidalgo da Casa Real Casado com Madalena Robalo Faleceu a 7 de Abril de 1570 - Enterrado na Igreja
de Nossa Senhora do Rosário da Ribeira Grande onde foram enterrados sua mulher
e seus herdeiros.
FILIPE RODRIGUES TRAVASSOS Cavaleiro da Casa Real (1576) Encontra-se em Lisboa em
Maio de 1583 Meirinho da correição das ilhas de Cabo Verde (1570-1576) Deu a Manuel Dias Henriques 100.000 rs. para
a compra de escravos (1576)
1570/01/21
MANUEL CORREIA é capitão donatário da Praia
1570/10/12
Regimento das companhias de ordenanças de D. Sebastião de
1570 (1).
Este regimento regulamentava as formas de eleição e de actuação dos
capitães-mores, sargentos-mores e de outros postos militares, a começar pelos
capitães que lhes eram subordinados, na formação das companhias de ordenanças
1 Datado de 10 de Dezembro de 1570, o regimento sebástico
teve um aditamento de 15 de Maio de 1574. Foi depois sucessivas vezes reeditado
no período filipino. Consultámos as edições de 1598 e de c. 1610, da primeira
(exemplar da BNL): Regimento dos Capitães Mòres,& mais Capitães, &
Officiaes das companhias da gente de pè, & de cauallo: & da ordem que
terão em se exercitarem, [s.l.], [s.n.].
1570/12/10
O passo definitivo na organização da Milícia local ou
ordenanças foi dado com o Regimento dos capitães-mores de 10 de Dezembro de 1570 ("'Regimento dos
capitçães-mores e mais ofitiais das companhias de gente de cavalo e de pé, e da
ordem que devem ter se
exercitarem" ou "Regimento das companhias de ordenanças (Ordenanças
Sebásticas) ". Carlos Selvagem. Portuga/ Militar. Lisboa, 1931, pp.
323,326 e 383·388) A instituição criada por esse regulamento manteve-se activa
no Reino e nos territórios ultramarinosdurante quase três séculos, sendo
extinta pela revolução liberal (1830).
Esse Regimento criou em todo o Reino e
territórios sob administração portuguesa distritos de recrutamento, as
Capitanias-mores, comandadas por capitães-mores, geralmente os senhores da
terra ou, na falta destes, os fidalgos ou homens nobres eleitos pela câmara
municipal de cada distrito 53 A organização militar, que era assim instalada,
tinha um carácter miliciano, já
que era comandada por oficiais honorários. Nela as tropas locais continuavam a
não ter uma cadeia permanente e organizada de comando, mas aumentavam as
obrigações e responsabilizavam severamente os faltosos. O Regimento dos Capitães
descreve claramente a forma e a quantia que devia ser paga pelos reticentes em
irem aos exercfcios e rebates. Eram os cabos-de-esquadra que apontavam os
faltosos, remetiam listas de nomes aos capitães de suas companhias e cobravam
as peoas. 4
No topo da hierarquia
das ordenanças, encontrava-se o capitão-mor coadjuvado pelo sargento-mor, que
tinham como obrigação o alistamento de todos os homens válidos (com mais de 16
e menos de 60 anos) para a formação de companhias. Eram excluídos desse
recrutamento os privilegiados e os doentes. Os homens assim recrutados poderiam
ser escolhidos para o exército de primeira linha ou reservados para actuarem
localmente como milícia, quando tal fosse necessário. Cada companbja de
infantaria era constituída por 250 homens, dividida em 10 esquadras com 25
homens cada. A companhia era comandada por um capitão de ordenanças
(comandante de companhia), que tinha sob as suas ordens urn alferes, um sargento
e, às vezes, um meirinho e um escrivão. As
esquadras eram chefiadas por 10 cabos-de-esquadra. Todos esses
oficiais eram escolhidos e propostos pelo capitão-mor ou pelas câmaras e
nomeados por carta-patente do rei.
Existia também uma
companhia de cavalo, para enquadrar militarmente a gente nobre do concelho. A
mesma lei estruturou a organização dos serviços de vigilância dos portos para
os concelhos do litoral que estavam expostos ao perigo de ataque dos corsários.
A representação
exterior da hierarquia revestia aspectos meramente formais, mas com grande
significado sociaL Em 15de Maio de 1574, o rei determinava que os fidalgos,
escudeiros de linhagem, criados da Casa Real, da rainha ou dos infantes que
por pobreza não pudessem ter cavalo, constituiriam unidades (esquadras ou
companhias) que deviam formar sempre no lugar de honra. A mesma provisão régia
excluiu dos cargos de ordenanças os oficiais de justiça e fazendas.
1571
«Tomás de
Mercado, um frade dominicano espanhol, economista da Escola de Salamanca
e que crescera no México, publicou em 1571 o tratado Summa de tratos y contratos, que contém
o capítulo «Del trato de los negros de Cabo Verde». Nesse texto, considera lícito o tráfico
de não-cristãos, desde que tenham sido feitos escravos em três situações específicas: em resultado de
guerras justas; corno castigo imposto pelos reis por delitos públicos;
vendidos
pelos pais em caso de necessidade, para bem dos filhos. Mas não deixa de
reconhecer ser «pública voz y fama que en resgatar, sacar y
traer los negros de su tierra para Índias o para
acá [para Espanha] hay dos mil enganos y se
hacen mil rabos y se cometen mil fuerzas».
ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS, O
comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos xXV a XIX, Arlindo
Manuel Caldeira, A Esfera do Livro, Lisboa, 2013, pg. 43
ANTÓNIO DE FIGUEIRA Vereador da Câmara da Ribeira Grande (1571±)
BELCHIOR DE BARCELOS Escrivão do corregedor e provedor das fazendas dos
defuntos de Santiago (1571-1573)
ANDRÉ DONELHA, seu pai esteve na Serra Leoa em 1560 Vizinho da rua São
Pedro da Ribeira Grande Sogro de Brás
Fernandes Esteve na Serra Leoa em
1574 Em 1585 esteve no Rio Gâmbia No
ano de 1634 Encontra-se na ilha do Fogo
Faleceu antes de 1638 Teve como condiscípulo “na escola de ler e
escrever” o filho do rei Becamore “grande senhor em sua terra e primo del Rey
Becacaya”, rei sape Capitão de navio (1571-1625) Prático de
Guiné – Em 1625 escreve a “Descrição da
Serra Leoa e dos Rios da Guiné do Cabo Verde”. Proprietário rural na ilha do Fogo – “Aos 27 de Junho
de 1738 na vila de S. Filipe da ilha do Fogo, nas casas e moradas do reverendo
vigário padre religioso Fr. Luís de S. Nicolau; estava presente Brás Fernandes que afirmou que seu
sogro André Donelha já tinha falecido e que tinha uma (capela?) no sítio de
monte Tabor, da banda das hortas com obrigação de 2 missas rezadas por ano e
que ele queria tomar posse da dita terra /…/”
ANTÓNIO DE FIGUEIRA Vereador da Câmara da Ribeira Grande (1571±) Teve
diferenças com um tal Gaspar Rebelo –
"/…/ que elle for a acusado pela justiça na cydade de Santiagua na ylha do
Cabo Verde por se dizer que sobre huma postura que fizerão os juizes e
vereadores tivera deferemça com Antonio Figueyra huu dos vereadores de tall
tempo /…/
DOMINGOS DE FREITAS Moço da Câmara do Rei Almoxarife da cidade da Ribeira
Grande (1571-1577) Tinha procurador no Reino (1572) Procurador de Filipe de Aguiar, morador da cidade de
Lisboa (1577-1579)
TOMÉ GOMES, Teve uma filha
mulata, Úrsula Gomes, com uma escrava que legitima em 1571 Clérigo de missa Chantre da Sé de Santiago (1571)
PÊRO TRAVASSOS, Nasceu em 1569 Cidadão da Ribeira Grande Irmão de António de Lila Travassos Capitão-mor
para a vila da Praia (?) Foi assassinado
por Pêro Fernandes e Simão Fernandes que recebem carta de perdão em 1571
ANTÓNIO VELHO TINOCO é corregedor de Cabo Verde.
1572
ANTÓNIO GOMES, Natural de Évora Cavaleiro da Casa Real Escrivão dos
contos e almoxarifado da ilha de Santiago (1572-1580) No ano de 1580 um certo
António Gomes faleceu no mar quando viajava de Cabo Verde para Índias de
Castela
DUARTE HOMEM DA COSTA Pai de Diogo Homem
da Costa (seu filho menor, ilegítimo) ao qual deixou de herança toda a sua
fazenda em Capela - O rei legitima-o em 1573 Falecido (1572) Proprietário rural – vinculou sua fazenda em
capela Fez um empréstimo de 100.000 reais para o pagamento das dívidas de
Flandres – após sua morte esse dinheiro pertence a seu filho menor Diogo Homem
da Costa.
VALENTIM SOARES, Escrivão do
almoxarifado da Ribeira Grande (1572-)
1572/03/24
Confirmação da doação da capitania da
Praia, ilha de Santiago, a MANUEL
CORREIA
1573
DIOGO HOMEM DA
COSTA Natural de Santiago Vizinho da vila
da Praia. Filho ilegítimo de Duarte
Homem da Costa com Lucrécia Duarte, mulher solteira, moradora em Santiago.
Em 1573 recebe Carta de Legitimação Escrivão dos órfãos, da Câmara e almoçataria
da Praia (1573, 1579) Proprietário rural - Seu pai deixa-lhe sua fazenda em
capela a qual não podia herdar por ser ilegítimo, mas em 1573 o rei legitima-o
Herda 100.000 reais do empréstimo que seu pai fez para o pagamento das dívidas
de Flandres Proprietário rural – tem terras (abaixo da Ribeira dos Garçotes)
vizinhas da fazenda de Rui Barrasa (1591)
GASPAR LEITÃO, Moço da Câmara do Rei Escrivão do provedor das fazendas
dos defuntos e ausentes das ilhas de Cabo Verde (1573-) Escrivão do capitão e governador
António Velho Tinoco (1592)
DIOGO DA COSTA DOS MOSQUITOS Licenciado Filho do licenciado Duarte Dias Casado com Beatriz
Nunes Sanchez Pai de Bartolomeu da
Costa dos Mosquitos Falecido em 1603
Proprietário rural – Herda o morgado (Aguas Belas de Santiago) de André Rodrigues dos Mosquitos Morgado
(1573)
MATEUS RIBEIRO, Moço da Câmara da Infanta D. Maria Morador de Lisboa
(1573) Casado com Antónia de Rego
Pai de Diogo Ribeiro Falecido (1592)
Alcaide do mar da ilha de Santiago (1573-1592) – nomeado por casamento
Procuração a Júlio Dinis, morador em
Lisboa a quem ele era devedor de 8.650 rs, para que possa arrecadar de seus
inquilinos, João Miranda e Francisco
Fernandes, os alugueis de suas casas até perfazerem a quantia devida (1579)
1573/06/02
A 2 de Junho de 1573 confirmam-se as leis anteriores, nomeadamente a de 1567, que será confirmada em
1610 proibindo os cristãos-novos de sair
e ir para as possessões portuguesas que,
a acreditar no triénio de duração de cada norma, revela toda uma regência do inquisidor-mor
D. Henrique e início do reinado do jovem rei pautadas pela exigência e manutenção dos cristãos-novos em Portugal continental.
1574
Os avençadores ou
sub-arrendatários dos contratos podem ser de qualquer Português ou
estrangeiros. Em muitos casos, eles na verdade eram comerciantes espanhóis, os
titulares de licenças comerciais concedidos pelo rei espanhol a introdução de
escravos para as colônias espanholas americanas quem precisava estabelecer
contratos com os portugueses Contratadores no controle das áreas de
monopólio comercial. Por exemplo, António
Nunes do Algarve e Francisco Nunes
de Beja, Contratadores do monopólio real, Cabo Verde e Guiné, entre
1574 e 1580 assinou um contrato com João de Gusmão, em nome de vários vizinhos
do México, concedendo-lhes permissão para comprar 500 escravos na região da
Guiné-Bissau e transportá-los para o México. João de Gusmão era titular de uma
licença comercial real do rei espanhol a introdução de escravos para as
colônias espanholas americanas. O carregamento dos escravos na Região de
Guiné-Bissau iria ser supervisionada pelos fatores da Contratadores servindo nesta região;
enquanto o pagamento dos direitos sobre os escravos tinha de ser feitas no
porto de San Juan de Úlva (México) com os proxies dos portugueses Contratadores
no local, dentro de um
prazo de dois meses. O valor dos pagamentos teve que ser enviado para Sevilha
através da Frota real espanhola em dinheiro ou mercadoria (prata, ouro ou
pérolas.
Por outro lado, o
acesso às áreas de monopólio real na África ocidental só foi possível para os
habitantes dos arquipélagos e os comerciantes segurando licenças comerciais
emitido pela coroa ou a Contratadores trocar temporariamente na área.
Muitos comerciantes de Portugal e outras áreas estabeleceram parcerias
comerciais com os comerciantes-cidadãos de ambos os arquipélagos, pelo menos
até a década de 1590.
Por 1574
havia uma rota estabelecida a partir d Cabo Verde para Cartagena na América do
Sul espanhola. João Ferreira –
conhecido localmente como Ganagoga –
casou com a filha do rei dos fulas Futa Toro e teve um filho com ela. Green
argumenta que no século 16 os cristãos-novos se identificavam como
"outros" em vez de "brancos".
Muitos desses novos cristãos lançados adaptavam
rapidamente a práticas culturais da África Ocidental. Já, como vimos, por 1546
os cristãos-novos da Guiné foram ditos estar adoptando elementos da religião africana. Da mesma forma, o mais poderoso em Português a região Senegambian no
meio do século 16 , conhecido como Ganagoga , era um Cristão-novo que tinha
feito uma aliança matrimonial com o rei Fulani ( Almada , 1994: 36 , ver também
Carreira 1972 : 67-8 ) . Isso só pode ter sido possível através da vontade de
Ganagoga de assimilar para a atmosfera cultural dominante da Fulani de Futa
Toro.
Source: Tobias Green, Centre of West African Studies, University of Birmingham. MASTERS OF DIFFERENCE: Creolization and the Jewish Presence in Cabo Verde, 1497-1672, Tables 1-4.
1574/03/19
Source: Tobias Green, Centre of West African Studies, University of Birmingham. MASTERS OF DIFFERENCE: Creolization and the Jewish Presence in Cabo Verde, 1497-1672, Tables 1-4.
ANDRÉ
DONELHA
esteve na Serra Leoa na armada de ANTÓNIO
VELHO TINOCO
DOMINGOS ANES, Residente em Cabo Verde Morador da Brava (1574) Morador
de Santiago (1584) Sua filha, Bárbara
Domingues (ou Medeiros) herda seus bens Falecido no mar quando viajava de
Santiago para a ilha da Madeira (1591†) Rendeiro das ilhas desertas de Cabo
Verde (1574) Arrendou a D. Maria Mendes,
tutora de Francisco Correia a ilha
da Boa Vista (1582) Rendeiro e
contratador das ilhas de Barlavento de Cabo Verde (1585) Rendeiro da ilha da
Boa Vista (1590) Mercador Fez uma procuração ao advogado na Corte e a outros
moradores de Lisboa para o representarem (1574) Constituiu procuradores no
Funchal e na cidade de Angra (1585) Possuía casas e fazendas na ilha de
Santiago e na do Fogo
ANTÓNIO DÓRDIO, Cidadão da cidade da Ribeira Grande Mercador – compra escravos para serem
carregados para a Índia de Castela (1574)
MARTIM SEQUEIRA, Nasceu em 1514 Casado com Maria Simoa. Desobedeceu ao corregedor Manuel de Andrade por isso foi
condenado a 2 anos de degredo para fora da ilha de Santiago - Carta de
perdão (1574) Serviu de capitão nas armadas reais “em que gastará muito do seu”
Proprietário rural - Instituidor de uma capela juntamente com sua mulher. Em
1645 sua capela é administrada por Joana
Coelha1574/03/19
Falecimento
de D.FRANCISCO DA CRUZ, bispo da
diocese de Cabo Verde
1575
O silêncio das
informações só chega a ser quebrado com uma única indicação sobre a existência
de um escrivão da fazenda dos defuntos
na vila de São Filipe pelos anos de 1575. Trata-se de AMBRÓSIO DE SOUSA, dado, naquela altura, em pleno exercício do
ofício (1).
(1)- ANTT, Cartório Notarial 7A, liv. 1577, Fev. 25, Abr. 2, fls. 117
vº-120 vº, 20‑Mar‑1577.
D.
BARTOLOMEU LEITÃO
foi nomeado quarto bispo de Cabo Verde, em 1575, para onde foi residir no ano
seguinte. Sobre este bispo recaíram acusações de corrupção, negligência na administração, devassidão e imoralidade,
sendo que o papa Gregório XIII (1572 -1585) mandou por breve ao arcebispo de
Lisboa, D. Jorge, proceder judicialmente contra ele. O bispo acabou por permanecer em funções até a sua morte em 9 de
Fevereiro de 1587, uma vez que as acusações não foram de todo provadas.
JOÃO LEITE
PEREIRA é
capitão-mor de Arguim
GIÃO VAZ, Teve como manceba
a uma mulata (1577) Padre Deão da Sé de Santiago (1577)
1575/10/20
O padre jesuíta GARCIA SIMÕES escreveu de Luanda ao
Provincial jesuíta, a 20 de Outubro de 1575 dizendo que em Angola ”quase
todos concordam que a conversão destes
bárbaros não se alcançará por amor, senão que só depois que por armas forem
sujeitos a vassalos do Rei Nosso Senhor”. Um outro jesuíta, o padre FRANCISCO DE GOUVEIA, escreveu que ”estes selvagens bárbaros não podem ser
convertidos por métodos de persuasão pacífica… O cristianismo em Angola
deve ser imposto pela força”.
Na realidade estes conceitos racistas marcam as
atitudes dos missionários cristãos em todo o mundo, só com excepção dos países
em que os colonizadores não tinham o poder militar nas suas mãos.
1576
Em 1576 teria
havido um saque com incêndio em duas localidades da ilha do Maio, que
foram incendiadas pelo corsário inglês ANDRÉ BACKER, em resposta a uma
afronta perpetrada por elementos ali residentes para com um dos seus homens. Pelos
mesmos motivos do anterior tratado com a França, o rei de Portugal e a rainha
de Inglaterra assinaram também um acordo - o “Tratado de abstinência”, de 1576:
“ (...) um documento
da mais alta importância pelo qual a nascente potência marítima que era a
Inglaterra, que tendo abraçado o protestantismo não reconhecia a validade das
bulas papais em que se afirmava o direito exclusivo português às suas
conquistas ultramarinas, reconhecia formalmente esse domínio português.”(1)
Contudo, este Tratado
tinha a duração de apenas três anos. Nessas circunstâncias, os ingleses
alimentaram a esperança de o renovar e de fazer alterações às disposições deste
acordo. Não podemos saber se essas pretensões se efectuariam porque entretanto
o rei de Portugal faleceu em 1578, na sequência de uma trágica batalha em
Alcácer-Quibir, ainda antes de expirar a validade deste. Tratado, ficando
Portugal numa grave crise de sucessão. Só devido a estas situações
imprevisíveis, que deixaram o país à mercê, aconteceu a ocupação espanhola e a
impossibilidade de renovação destes acordos com a França ou com a Inglaterra,
que não se viram obrigados a respeitá-los no futuro, retomando-se o contexto
anterior que os portugueses repudiaram e quiseram evitar a todo o custo.
(1) J. C. MAGALHÃES (1990), Op. Cit., pp. 55
1576/02/16
Confirmação
papal da nomeação de D. BARTOLOMEU LEITÃO
como bispo da diocese de Cabo Verde
1577
CRISTÓVÃO SOARES
DE MELO é corregedor de Cabo Verde.
FRANCISCO DE ANDRADE Um dos homens mais ricos de Santiago esteve na Guiné (1581)
Mordomo da Sé da cidade da Ribeira Grande (1577) Procurador em Santiago
da Condessa de Portalegre (1580) Sargento-mor de Santiago (1581-1582) Escreveu
a “Relação sobre as ilhas de Cabo Verde” para ser entregue ao Rei (1582)
JORGE GONÇALVES, Clérigo de missa da Sé de Santiago Procurador de
moradores do reino (1577)
MANUEL DE MANCELOS Em 1588? encontra-se em Cartagena das Índias de
Espanha Cónego da Sé de Santiago (1577)
Procurador de moradores do reino (1577, 1578) Arcediago da Sé de Santiago
(1590-1601)
GONÇALO PEREIRA, Morador de Lisboa Casado com Maria Borges Escrivão da correição e chancelaria de Santiago (1577)
Devia certa quantia ao mercador lisboeta Belchior
Martins (1579)
ANTÓNIO VAZ, Falecido na Ribeira Grande (1577) Padre Clérigo de missa Mestre-escola da Sé de
Santiago (1577)
1578
1578-1585 TINOCO, António Velho e Padre Fernão REBELO
/ Licenciado, Capitão-corregedor de Cabo Verde / padre jesuíta / “Capitanes y
otras personas graves”
ANÓNIMO: Relação da gente que vive desde ò cabo dos
Mastos teè Magrabomba na Costa de Guiné ☻ A principal mercadoria para o resgate d'ouro são as manilhas e todas as mais
nomeadas atraz; tirando vinho, (que o não bebem por serem religiosos) e cavallos.
Todas as mais servem.
Indo eu a este resgate
no anno de 78, porque algumas pessoas punhão em duida se estes mercadores
vinhão por ordem do Turco a resgatar esta manilha de cobre para fundir della
artilharia, informei-me bem dos mercadores, onde ião fazer este resgate deste
ouro, e para o que querião lá as manilhas; e soube de certo que as manilhas
lhes não servem para mais que ornamento e arreio de suas pessoas, e as trazem nos
braços e pernas; em tanta estima as tem e em mais do que cá temos
o ouro; o não usamdo ouro porque o não estimão, pelo haver muito naquellas
terras. E sem falta nenhuma vem este ouro e o que vai a Tumbocutum das
Serras de Sofala; porque falando com Anhadelen capitão daquella
cafila, perguntando-lhe miudamente onde hião e ondo levavão as manilhas, me
disse, que aos Cafres – nomeando-os por este proprio nome. Perguntando-lhe para
que as queriâo - disse que para trazerem nas pernas.
Perguntando-lhe
quanto lhe davâo por cada manilha, respondeu que isso me não diria, porque não
erão elles tão pecos mercadores que se não ganhassem muito
nellas que as levassem tão longe; porque punhão muitos dias no caminhoe
passavam por muitas terras com muito risco de suas pessoas.
Estes mercadores poem
mais de sels meses nas suas viagens, mas como são negros e flegmaticos não he
d'espantar não porem muito mais tempo. Fazem o seu caminho por huma estrada que
fica cingindo a todos os negros do nosso Guiné por cima, e vão por ordem d'hum
lmperador negro a quem todos os negros deste Guiné de que tratamos dão
obediencia,que se chama o Manimança, não visto até hoje de nenhum dos nossos.
E tanto que nomêão este nome logo se descobrem todos os negros que o ouvem
nomear; tão obedecido he. E chamão os da Mina a este rei o Elefante Grande, tão
conhecido he de todos os negros que obedecem ao seu nome mais de 300 legoas.
Deixei neste resgate entonces
5 arrobas e oito arráteis de ouro que havia vindo naquella cafila, por não ter
mercadorias com que o resgatar. Está hoje este resgate
perdido, porque
ha 8 annos que a elle não foi navio nenhum, e estes mercadores devem de correr com os de Tumbocutum, vendo que
lhes falta o resgate. Neste resgate vão
ter alguns mouros, e levão ouro, e o resgatão a
troco de panno vermelho e de outras cousas. Os vestidos destes mercadores são
da mesma maneira como os dos Mandingas, mas o vestido desta gente
de guarda que vem com elles he diferente, porque são
as
roupetas grandes e os calções grandes; que vem a ficar os fundilhos mais de
palmo por de baixo dos giolhos; e dahi para baixo vão estreitando ao modo de
canhões e cobrem toda a perna. E trazem pelas
roupetas multas
plumas de aves e pelas carapuças que trazem. Trazem espadas
curtas como as dos outros negros, e duas facas huma na cinta e outra atada
no bucho do braço esquerdo. Trazem frechas, as quaes são curtas e os arcos
pequenos. Dizem que as trazem desta maneira, para que não sirvão aos
imigos, por serem os seus arcos grandes, - as dos imigos a
elles sim. E posto que sejãm os arcos pequenos, sacodem bem frechas.
Trazem tambem azagaias e adargas de verga e rota muito fortes.
1578
Acções corsárias de
Francis Drake, comandando então cinco navios, no início da sua viagem de
circum-navegação à volta do Mundo.
Mantendo-se com o seu
escrivão, o Tesoureiro da fazenda dos defuntos com assento na capital das ilhas
tenderá a acumular, juntamente com este seu coadjutor, os cargos da mamposteria
dos cativos. Assim é que CRISTÓVÃO
CORREIA, por dois Alvarás de lembrança emitidos quase que em simultâneo
(1578), concentraria em si a serventia
dos ofícios de Tesoureiro dos defuntos da cidade de Santiago e ilha do Cabo
Verde e de mamposteiro mór dos cativos na ilha do Cabo Verde. (1)
A todos que se lhe seguem é feita a mesma mercê ficando os dois ofícios
anexados definitivamente.
(1) Os Alvarás de lembrança estipulavam que
Cristovão Correia só havia de assumir estas serventias na vagante dos providos. ANTT, Chanc. D. Seb. e D. Henr., Doações, liv. 42, fl. 33 vº,
13-Fev-1578; fl. 34, 14‑Abr‑1578.
MEM
RIBEIRO DE ALMEIDA
Filho de Tristão de Mascarenhas
Irmão de Vicente Ribeiro Casado com Leonor Cardosa Pai de Joana Ribeiro Falecido (1589) Recebedor
da feitoria e trato, quartos e vintenas da ilha de Santiago – Obteve o ofício
pelo casamento (1578-1589)
JOÃO
CARDOSO,
Pai de Pêro, mulato, seu filho e de uma
sua escrava por nome Lucrécia – em 1582, ela recebe carta de legitimação a
seu pedido Clérigo de Missa (1578)
PÊRO DIAS, Moço da Câmara
Meirinho da correição da Ribeira Grande (1578)
DIOGO
FRAGOSO,
Escrivão e chanceler da correição de Santiago por dois anos (1578) Inquiridor,
contador e distribuidor da Ribeira Grande (1582)
AIRES
GODINS,
Ver o capital necessário para a compra de um navio Proprietário de um navio
(1578)
MANUEL
NUNES PETRARCA
Casado em Cabo Verde com Leonor Alvares,
filha e herdeira do mercador Gonçalo
Nunes Fez um conserto com Bento
Henriques, alfaiate sobre a fazenda deixada por seu sogro no arquipélago
(1578) Mercador – associado com Salvador
Dias para comerciar em Cabo Verde – companhia (sociedade) (1579) Procurador
de mercadores moradores de Lisboa (1590,1594)
1578/01/30
GASPAR DE ANDRADE - provido
corregedor por carta de 30 de Janeiro de 1578.
1579
DIOGO
DIAS MAGRO é corregedor de
Cabo Verde. Com o último dos capitães desta fase “de transição”, o doutor Diogo Dias Magro, pomposamente
aludido como “capitão mór da cidade da Ribeira Grande da ilha de Santiago do
Cabo Verde que a ela e as mais ilhas do Cabo Verde e conquista dos Rios de
Guiné [veio] com alçada administrar justiça e prover em sua fazenda e nas dos
defuntos. E a outras cousas de seu serviço etc”. (1), a evidência de não
se tratar mais de um mero corregedor das ilhas com funções adicionais, é ainda
maior (2).
(1) -
AHU, Cabo Verde, cx. 1, doc.
13, 13-Fev-1584.
(2) - Referindo-se a estes capitães já com
poderes de governadores, diz o Anónimo de 1784: “No princípio da povoação
(sic!) destas ilhas tiveram aqueles que as governavam o nome de capitães, e não
de Governadores”. António Carreira (Apresentação,
notas e comentários), Notícia
corográfica e cronológica do bispado de Cabo Verde..., Edição do Instituto Caboverdeano do Livro,
Lisboa, 1985, p. 62.
1579/05/22
OS JESUÍTAS
TRAFICANTES DE ESCRAVOS?
Trata-se de uma
pergunta retórica. Em todos os espaços do Império, entre os séculos XVI e XVII,
não há praticamente nenhuma ordem religiosa que não esteja comprometida, de uma
forma ou de outra, com o tráfico de cativos.
Em Angola, os próprios
franciscanos, apesar do rigorismo da sua regra, aparecem a comprar e a vender
escravos.
Em Cabo
Verde, no início do século XVII, vemos os padres da Companhia de Jesus a enviar
escravos para Cartagena das Índias como forma de angariarem receitas para o seu
trabalho evangélico no arquipélago, que procuravam alargar ao continente africano.
E, neste caso, com o pormenor muito
curioso de um dos seus agentes na América Central ser, nem mais nem menos, o
padre Alonso de Sandoval, um outro jesuíta, que ficou famoso por ter
escrito De instauranda Aetiopum salute, um livro, que já citámos várias
vezes, sobre os problemas religiosos levantados pelo tráfico de escravos e
muito crítico em relação à desumamdade deste. No melhor pano cai a nódoa.
A exportação (neste
caso de escravos; no caso do Brasil, de açúcar) era particularmente atrativa, devido
ao facto de os jesuítas estarem isentos
do pagamento de direitos alfandegários por carta régia de D. Henrique (22 de
maio de 1579), confirmada por D. Filipe III (19 de junho de 1634), dada de
«esmola às casas e colégios da Companhia de Jesus e aos religiosos dela», em
todos os bens móveis que «comprarem, venderem ou escambarem, em quaisquer
partes dos meus reinos, que forem para maneio e uso das ditas casas e colégios
e religiosos delas»
Os superiores da
Companhia tinham as maiores dúvidas sobre a bondade da participação dos
jesuítas em qualquer tipo de tráfico de escravos. Em 1586, o procurador das
missões Jerónimo Cardoso, numa carta dirigida ao padre Cláudio Aquaviva,
prepósito-geral da Companhia de Jesus em Roma, manifestava a sua oposição e
procurava a solidariedade do responsável máximo. Nessa carta, escrita de
Lisboa, em castelhano, o padre Cardoso diz desejar que «os nossos» que tratam
do ministério da confissão não deem ofensa nem uma acerca de comprar e vender
os índios (creio que se deve entender a expressão
o sentido
geral de indígenas ) segundo os costumes daquelas partes.
1580
1580
Passando o Porto de Cacheo por hum esteiro
acima o Nortevão dar em S. Domingos, terra dos Banhuns, no quallugar, no
beira-mar deste esteiro, está huma aldeia grande, povoada de muitos negros e
muitos dos nossos, por causa do muito trato que havia nesta terra dos
escravos, mantimentos, e cera mais que em nenhuma das partes de Guiné; mas os negros desta aldeia por serem muito entendidos
e praticos da nossa lingua,
tratavão muito mal aos nossos, dando-lhes mutas pancadas, e capeando-os, tomando-lhes os chapeos e as espadas em toda
a hora do dia, e fazendo muitos roubos importantes, com algumas mortes.
Estes Banhuns ficão
cingidos por baixo dos Buramos, e pelas alas e por cima dos Casangas,
e se estendem huns aos outros e usão as mesmas armas
e os mesmos vestidos e juramentos da agoa vermelha. Ficão perto destes Banhuns
ao Noroeste por outro esteiro, outros negros da mesma Nação chamados Chãos,
os quaes tem sempre tesa guerra com estes outros; e são muito belicosos e dão
muitos assaltos na terra destes outros,
fazendo muitas prezas de noute e della. E o rei destes Chãos he muito amigo dos nossos, e folga
muito com elles. Estão muitos na sua terra, na qual acodem muitos
escravos, mantimentos, cera e marfim, e as mesmas mercadorias que valem e
correm na terra dos Buramos valem da mesma maneira na dos
Banhuns. Usão também estes dos mesmos
choros, e perguntarem aos mortos, quando morrem, quem os matára.
Erão tão máos estes negros da aldeia do BUGUENDO para os nossos e os tratavão tão mal que se
não podia sofrer, e não se tinha por honrado negro que lhes não tomava os chapeos e lhes
desse bofetadas e pancadas. E
havia muitos negros da casa do rei chamados, huns, Reinaldos, e outros, Roldões, e outros nomes desta
qualidade; e quando vinhão a esta aldeia
traziam huma esquadra de negros velhacos e vadios dianre deles, que
vinhão dizendo aos nossos: "Lá vem Reinaldo, lá vem Roldão;” para que lhes fizessem prestes e aparelhassem o que lhes avião de dar; e tanto que não havião
isto os tratavam muito mal. E com todas estas cousas sofriam os negros.
Haverá como 10 annos
que FRANCISCO D’ANDRADE,
Sargento-Mor da Ilha de S. Tiago, indo as ditas partes, e vendo o mao tratamento
que os negros fazião aos nossos, se concertou com o Rei de Casa-mança, chamado Masatamba, amigo nosso, e passou os
nossos, que estavão nesta aldeia, a um porto deste Rei, que está indo pelo Rio
de Farim acima, e faz ali hum braço pequeno, que vai dar na primeira terra
deste Rei chamada Sarar; no qual
fizérão uma aldeia, a que puzérão o nome de S.
Felippe, por amor de S. Magestade, por haver muito pouco tempo que tinha
tomado posse dos Reinos de Portugal. A
aldeia de Buguendo, donde se mudarão os nossos, he terra muito enferma, onde
sempre morria muita gente: esta de
S. Feplippe, para onde se mudarão os nossos, não he sadia, por ser lugar
alagadiço e de muitos charcos de agoa, mas he terra muito segura, onde se não
faz mal a cousa nenhuma; e estão os nossos nella muito seguros. He toda
coberta de arvoredos de palmares e outras arvores e tem boas aguas, e alguma
ribeiras frescas. D’ahi a Brucama,
que he Côrte do Rei de Masa-tamba, he jornada de hum dia.
☻ Para além do que já
ficou dito, que nos chegou pelas penas de Pedro
de Sarmiento de Gamboa — que o denomina “fidalgo portugues” e, o diz
“teniente e sargento-mayor” do governador (i.e., na época o capitão-corregedor)
e ainda “uno de los alcaldes” da Ribeira Grande 21 — e de Diego Flores de Valdés, pouco mais sabemos sobre Francisco de Andrade. Era, como já vimos,
vizinho da Ribeira Grande, age como procurador dos moradores reinóis em 1580 8
(1) e o seu rastro perde-se na documentação em 1582.
(1)Cfr. Iva Cabral, “Vizinhos da cidade da Ribeira Grande de
1560 a 1648”, HGCV, II, p. 517.
☻ Nos finais do século
XVI, a articulação Guiné – Cabo Verde
traduziu-se na formação do governo-geral de Cabo Verde, onde se enquadrou a
administração do “distrito” dos Rios da Guiné. A criação de um Governo e de
uma Ouvidoria gerais corresponderam de facto a uma segunda fase da história
institucional das ilhas 7. A
administração filipina inaugurada em 1580 por ser mais centralizada conduziu a
esta nova fase do governo das ilhas, o que de resto aconteceu noutras
partes do império.
FILIPA DA SILVA [b. 1550 - d. 1590] a 4 ª condessa de Portalegre, ela foi
a donatária de São Vicente e São Nicolau, de 1580 até sua morte em 1590.
PAIO FERREIRA, Padre Procurador em Santiago de moradores no reino (1580)
ANTÓNIO DA GUARDA Vizinho da vila da Praia Faleceu em Santiago (1594)
Herdeiros: Francisco Martins, Manuel
Ribeiro e Manuel Fernandes de Lião
Clérigo de missa / Vigário da vila da Praia na igreja de Nossa Senhora da Graça
(pelo menos 1580-1594)
1581
Os «tratos da Guiné» distribuem-se por três zonas – Costa do Jalofo (do Rio Senegal ao Rio
Berbecim), os Rios de Guiné (daí ao
Cabo Sagres) e a Serra Leoa, que
pelo sul confina com a Costa da Malagueta (a qual vai até ao Cabo dasPalmas).
Comercia-se com os negros em numerosos pontos; em 1581, FRANCISCO DE ANDRADE indica dez «tratos» principais, que são, de
norte para sul, Bezeguiche (angra de
Cabo Verde), Porto d'Ale e Joala (na Costa do Jalofo), Rio Berbecim, Rio Gambia, Rio de S. Domingos com o Rio Casamansa, Rio Grande, I. Bijagós e Rio Nuno (nos Rios de
Guiné) e a Serra Leoa (com vários
locais); o Rio Senegal, onde de começo
houve um bom comércio, já está abandonado aos franceses. Obtêm-se escravos (por toda a parte, mas
sobretudo nos tratos do Rio S. Domingos e Rio Grande), ouro (sobretudo no
Gâmbiae Serra Leoa), marfim, cera, além de mantimentos (arroz,milho), ferro,
panos e anil, usados estes últimos noutros locais da mesma área.
1582
☻ André
Álvares de Almada
foi tratar com Massatamba, “Rei de
Casamança” da mudança dos portugueses da aldeia de Buguendo (S. Domingos)
para a de Sarar, a montante do rio de Farim (ou rio Cacheu)
Dado o conteúdo da
“Relação”, não nos basta a dimensão de homem de guerra para compreender a
escolha de Francisco de Andrade para
a elaborar. Ele é um homem de Santiago e também um “prático de Guiné” que, a
fiarmo-nos na memória de André Álvares
de Almada, ainda no ano anterior, 1581, se deslocara à terra firme. O
motivo da viagem é conhecido: tratar com Masatamba, “Rei de Casamança”
da mudança dos Portugueses da aldeia de Buguendo (S. Domingos) para a de Sarar,
a montante do rio de Farim (ou rio Cacheu) 26. Não é tanto o “oficial régio”(1) que intervem na costa, mas antes o oficial ilhéu, eleito e investido localmente
de autoridade e com poder militar que lá vai em socorro duma comunidade de
lançados. Muitos deles eram, possivelmente, cabo-verdianos de origem,
testemunhando-se, deste modo, os fortes elos entre este tipo de comunidades e
os moradores da ilha (2). As conversações que desenvolveu com Masatamba pressupunham
um know-how luso-africano. Era também por este conhecimento da costa,
para mais dispondo de informações recentes, a que se juntava o desempenho de
funções oficiais, que Andrade era a pessoa indicada para fazer a relação
pretendida.
(1) Orlando Gama, Do
Rio Senegal à Serra Leôa…, p. 102. Numa perspectiva semelhante António Leão
Correia e Silva designa Francisco de Andrade por “Homem de Estado” (cfr. Histórias de um Sahel insular, p.
133).
(2) Nesta perspectiva, a deslocação de Francisco de Andrade à
costa não se afigura propriamente uma “possível ingerência do Estado na
organização do espaço político” como aventa Orlando Gama, ibidem, p. 102. Mais adiante no seu
texto (p. 104), o autor citado não deixa, porém, de implicitamente equacionar a
iniciativa de Andrade como “autónoma” e correlata dos interesses dos moradores.
A evidência documental
sobre a presença dos lançados nas
margens do Rio Cacheu, nomeadamente junto ao Rio Grande e ao Rio Pequeno de São
Domingos, nas povoações de Sarar (1581)
e Buguendo (1582), leva-nos a supor
que foram estes lançados, que estiveram
na génese da fortaleza e povoação de Cacheu.
No caso da aldeia de Sarar, André Álvares de Almada diz que
os lançados se mudaram para “terra muito enferma, (…) esta de São Felipe,
para onde se mudaram os nossos, não é sadia, por ser lugar alagadiço mas é
terra muito segura, donde se não faz mal a coisa nenhuma. E estão os nossos
nela muito seguros” (Almada/Brásio, 1594-1964:77).1582
A Conta das Ilhas de Cabo Verde, de Francisco
Andrade, fornece provas do crescimento das comunidades de escravos em Cabo
Verde. Andrade agrupa a população combinada do Fogo e de Santiago, 13 408
pessoas, em categorias. Estas incluem 508 "vezinhos" (habitantes),
donos de 5 000 escravos, e 200 rendeiros, donos de 1 000 escravos. Os colonatos
no interior eram compostos por 600 brancos e pardos (de sangue misto), 400
negros livres casados e 5 000 escravos. A população do Fogo era dada como sendo
de 300 rendeiros e 2 000 escravos. Apenas 12,7% dos habitantes de Santiago e do
Fogo eram pessoas livres.
Em meados do Séc. XVI,
a arte da fiação assentou raízes em Cabo Verde. O pano de algodão, tingido de
anil e fiado nas Ilhas, tornou-se parte da carteira de produtos trocados no
comércio de escravos. Os artesãos africanos que foram trazidos para Cabo Verde
para fundarem a "indústria da fiação" eram Jalof (Walof), Mandinga,
Seninkes, Biafares, Sassos (Susu), Felupes (Fulani), Papeis (Papels) e Banhuns.
António Carreira, o distinto historiador caboverdiano, relata que os melhores
fiadores eram do povo Mnadingo. Os panos eram tecidos em teares de pedal de
banda horizontal estreita.
Entre 1550 e 1600
Apesar das proclamações reais portuguesas que previam penas severas, o comércio
caboverdiano com a África Ocidental expandiu-se significativamente à medida que
relações mutuamente vantajosas eram estabelecidas com grupos africanos
associados com os Banyun-Bak, Biafada-Sapi e Mande.
Quanto à Ribeira
Grande que nos anos de 1582 e 1583 havia sido saqueada pela armada inglesa,
composta de mil homens sob comando de Francis Drake, continuou à mercê dos
piratas. Estas incursões predatórias constituíram-se em forte razão para
que os habitantes do litoral, tanto vila da Praia, como cidade da Ribeira Grande se
dirigissem para o interior, tentando proteger-se pelo relevo montanhoso. Santa Catarina, no interior da ilha de
Santiago, passou assim a ocupar o lugar da demolida cidade da Ribeira Grande
por também oferecer a possibilidade do cultivo de produtos como o milho e o
algodão, tanto para a subsistência da população local, como para o abastecimento de
navios. Quanto aos escravos fugiram para
as montanhas, formando pequenos povoados, onde cultivaram suas parcas lavouras
de subsistência, onde comunidades de africanos livres se formavam já nos
meados do Séc. XVI. Estas gentes
tornaram-se conhecidas como "badius" (vadios).
1582 FRANCISCO
DE ANDRADE, Sargento-mor de Santiago [Relação das ilhas de Cabo Verde e da
Guiné]
A Conta
das Ilhas de Cabo Verde, de Francisco Andrade, fornece provas do crescimento das comunidades de escravos em Cabo
Verde. Andrade agrupa a população combinada do Fogo e de Santiago, 13 408
pessoas, em categorias. Estas incluem 508 "vezinhos" (habitantes),
donos de 5 000 escravos, e 200 rendeiros, donos de 1 000 escravos. Os colonatos
no interior eram compostos por 600 brancos e pardos (de sangue misto), 400
negros livres casados e 5 000 escravos. A população do Fogo era dada como sendo
de 300 rendeiros e 2 000 escravos. Apenas 12,7% dos habitantes de Santiago e do
Fogo eram pessoas livres.
Embora se desconheça a
introdução deste sistema em Cabo Verde, quando Filipe II, por volta de 1582,
se inteira da situação militar e administrativa do seu novo reino, o que fez de
forma meticulosa e impecável, aparecem já referidas cinco companhias de
ordenanças no arquipélago. Existiam assim três companhias de
ordenanças na cidade da Ribeira Grande, uma na vila da Praia e
ainda uma outra na ilha do Fogo. Em causa esteve, por certo, as sucessivas
invasões corsárias desta época, que levaram à necessidade imperiosa dos
habitantes se organizarem para fazer face aos diversos perigos que, nos anos
seguintes, não pararam de aumentar.
O quadro de mobilização
entre os finais do século XVI e os inícios do XVII é referido por várias
testemunhas, embora restando saber até que ponto correspondia a uma realidade,
isto é, à informação que se pretendia transmitir para Lisboa. O sargento-mor
FRANCISCO DE ANDRADE refere, em 1582, para Filipe II, as quatro
companhias de Santiago, mas a que o padre jesuíta Baltasar Barreira, em 1606,
já amplia para sete. Pouco depois de 1625, outro padre jesuíta já
refere a existência de doze, o que a imaginar que cada companhia de
ordenanças implicaria, aproximadamente, um efectivo de 250 homens,
teríamos um total de 3 mil homens em armas na ilha de Santiago, o que
nos parece excessivo para a época. Ao longo do século XVII, confrontando as
informações dos governadores D. FRANCISCO DE MOURA, em 1619 e, FRANCISCO
DE VASCONCELOS DA CUNHA, em 1624, vemos que a média de 250 homens
raramente era atingida, devendo as companhias andarem pelos 150 a 170 homens.
Carta de DIEGO FLOREZ DE VALDEZ a D. Filipe I
sugerindo a melhoria da defesa da ilha e a mudança do porto principal para a
vila da Praia. A cidade conta 508 vizinhos, "5700 escravos de confissão,
afora os menores" e para a sua defesa dispõe de três baluartes de vigia: o
da Vigia, o da Ribeira e o de São Brás (BRÁSIO, 1958).
ANTÓNIO
DE ALMEIDA
Pai de Maria de Almeida, casada com Pedro de Andrade que herda o ofício de
meirinho da correição (1616) Em 1590 esteve em Lisboa Faleceu (1609) Escrivão
das fazendas dos defuntos e ausentes de Santiago (1582-1584) Meirinho da
correição de Santiago (proprietário do ofício) (1590-1609) Procurador de
mercadores, moradores na cidade de Lisboa (1590, 1597) Feitor ou procurador de Francisco de Paiva - devia entregar 30
peças de escravos ao mestre do navio pertencente a Francisco de Paiva (1604).
A evidência documental sobre a presença dos lançados nas margens do
Rio Cacheu, nomeadamente junto ao Rio Grande e ao Rio Pequeno de São Domingos,
nas povoações de Sarar (1581) e Buguendo
(1582), leva-nos a supor que foram
estes lançados, que estiveram na génese da fortaleza e povoação
de Cacheu. A
feitoria de Buguendo, inicialmente
funcionaria a bordo de um navio fundeado no meio do rio de São Domingos. O sargento-mor Francisco de Andrade, na sua «Relação»
datada de 1582, indica como motivo para ser o navio, o local onde se
procedia à transação das mercadorias porque os negros eram “inquietos e
soberbos”, além de mais não havia nenhum forte onde pudesse estar a
feitoria e os brancos. O facto de a feitoria estar sediada no rio e a
ausência de um forte enquanto elemento de poder económico e político que marque
uma posição firme em terra demonstra haver insegurança relativamente ao espaço
e à sua gente.
Por sua vez, André
Donelha, referindo-se a Buguendo
afirma ter sido este o porto principal de resgate com “muito trato”,
contudo no tempo das “guerras se passaram os tangomaus a Cacheu, terra dos
bramos, da outra banda do rio” (Donelha/Mota, Hair,1625-1977:166). Na
Etiópia Menor, do padre Manuel Álvares, também observamos uma alusão a esta
mudança, “abrasando a Buguendo,
que este e o nome do sitio da Feitoria, ou Rio de S. Domingos, pelo que tem
recebido dos Portuguezes (…) se levantou daqui a Caza para Cacheu” (Álvares,
1646:fl.18/18v).
1582/01/19
Nomeação
de GASPAR DE ARAÚJO no cargo de
escrivão da feitoria da cidade da Ribeira Grande, ilha de Santiago. Escrivão - Oficial público encarregado
de escrever autos, atas, termos de processo e outros documentos legais junto a
diversas autoridades, tribunais, corpos administrativos etc.
1582/01/26
A “Relação” de FRANCISCO DE ANDRADE, datada de 26 de
Janeiro de 1582, foi feita a pedido de um vassalo de Filipe II, de passagem
pela ilha de Santiago, Pedro Sarmiento de Gamboa:
“Esta Relaçaõ fiz eu Francisco d’Andrade,
Sargento-mor desta ylha de Santiaguo do Cabo Verde, a pedimento de PEDRO SARMENTO DE GAMBOA, gouernador e
capitaõ geral do estreito de Magalhais, para la S. C. R. Magestade del Rey noso
Senhor” 1.Confirma-o o próprio Sarmiento, na sua carta a António de Eraso, Secretário do Consejo de Indias, datada de 31 de
Janeiro seguinte2. A “Relação” foi feita durante a estadia da armada de SARMIENTO DE GAMBOA e de DIEGO FLORES DE
VALDÉS em Santiago, que decorreu entre 9-12 de Janeiro e 2 de Fevereiro de
15823
1 AGS, Guerra Antigua, legajo 122, doc. 180 [Santiago], 26 de
Janeiro de 1582, in MMA, III,
p. 107. Cfr. Quadro II e Anexo: 1582 — ANDRADE. Cita-se infra a ed. da MMA.
1583
Em um outro ataque
radical registrado na Ribeira Grande no ano de 1583, os piratas franceses, capitaneados por Duguay-Trouin, roubaram até os
sinos da Sé Catedral.
Os próprios portugueses não se
coibiram de participar na sequência de pilhagens, a pretexto de um duvidoso
irredentismo: em Janeiro de 1583, forças
supostamente fiéis a D. António Prior do Crato (que se reclamava herdeiro da
coroa de Portugal e, como tal, a disputava a Filipe II de Castela),
desembarcaram na ilha de Santiago e pilharam a Ribeira Grande – logo depois da
ilha de Fogo, que ocuparam durante algum tempo. Do saque nada, ou quase
nada, resultou em benefício do pretendente da coroa – os homens, comandados por
EMANUEL SERRADAS, apoderaram-se de
quanto podiam.
Desembarque de EMANUEL SERRADAS ( pouco se conhece da sua
vida, além da sua participação nas campanhas ao lado do Prior do Crato – foi um
dos poucos portugueses que não foi comprado pelo ouro de Espanha. Terá
acompanhado D. António, quando este criou nos Açores (ilha Terceira) uma bolsa de resistência ao
domínio filipino – foi daí que Serradas partiu para o ataque às ilhas de
Santiago e Fogo. Cavaleiro Hospitalário, terá combatido em Alcácer Kibir.
Ignora-se se acompanhou D. António de Portugal para o exílio em França, depois
que este foi derrotado por um desembarque castelhano nos Açores, comandado por
Álvaro Banzano (ocorrido enquanto Serradas se encontrava em Cabo Verde, o que
de certo modo explica o fracasso desta campanha, que de resto se confrontara com a oposição dos senhores da Ribeira
Grande, que tomaram partido pelo Rei Filipe) e
partidários de D. António Prior do Crato na vila da Praia e assalto à Ribeira
Grande. A terra é "saqueada de toda a riqueza que tinha" (BRÁSIO, 1958).
MANUEL DA SILVA COUTINHO (Santarém, 1541 – Angra, 13 de Agosto de 1583), conde de Torres Vedras (por D. António), mais
conhecido por conde Manuel da Silva, foi o principal
apoiante de D. António, Prior do Crato, entre a aristocracia
portuguesa. Acompanhou o Prior do Crato no exílio para França, tendo depois sido
seu lugar-tenente na ilhaTerceira até à submissão da ilha
a Filipe II de Espanha na sequência do desembarque
da Baía das Mós. Feito
prisioneiro, foi decapitado por ordem de D. Álvaro de Bazán, marquês de Santa Cruz de Mudela.
Biografia Manuel da Silva Coutinho: nasceu em Santarém, no ano de 1541, no seio de
uma família ilustre, pois descendia dos senhores da Chamusca e Ulme, famílias
ligadas à alta aristocracia portuguesa e castelhana. Seu avô materno era Rui
Dias de Sousa, por antonomásia o Cid, o valente alcaide que morreu
nas fronteiras de África. Seu pai, Brás da Silva, comendador de Castelejo, é o bravo de quem fala Damião de Góis na Crónica de D. Manuel.
Não participou na expedição que teve como desfecho a batalha de
Alcácer Quibir, tendo
optado por permanecer em Portugal, aparentemente por razões financeiras e familiares.]A
adesão ao partido antonino Sendo fronteiro-mor de Santarém, desencadeada
a crise de
sucessão de 1580, é dos
primeiros e mais eloquentes partidários do filho de Violante Gomes, D. António,
Prior do Crato. Nas cortes de
Lisboa de 1579 e nas
de Almeirim
(1580), convocadas
pelo cardeal-rei, advoga estrenuamente os direitos
de D. António. Está com ele em Santarém na qualidade de fronteiro-mor quando o
aclamam rei, sendo por isso perseguido pelos governadores do reino. Quando o
povo de Santarém vacila em sustentar o grito que vitoriara, Manuel da Silva
força os seus conterrâneos, com a espada na mão, a manterem a sua adesão à causa antonina. Tendo acompanhado D. António no seu
périplo pelo país, participa na batalha de Alcântara com patente de general, é do
grupo dos fugitivos que seguem o Prior ferido e derrotado na sua fuga para
norte. A elevação a conde de Torres Vedras Durante este período, foi
feito conde de Torres Vedras, quando o legítimo conde de Torres
Vedras, D. Martim Soares de Alarcão,
se mostrou hostil o D. António, acastelando-se contra ele. Juntamente com o
título, o Prior do Crato deu-lhe a casa do conde rebelde — posse que nunca
Manuel da Silva fruiu. Foi já feito conde que acompanhou o Prior do Crato na
sua retirada para França. Embora o título não tenha sido registado, e não seja
aceite como válido pela generalidade dos genealogistas, foi como conde
Manuel da Silva que passou à História.
Vendo-se o conde Manuel da Silva com todos os
poderes de El-Rei
D. António, cuidou de se fazer
respeitar, e, para melhor dizer, adorar dos habitantes e dos defensores da ilha
Terceira, servindo-se com estado real, e escoltando-se pelas diferentes partes
onde saía, com guardas francesas e inglesas[1]. Tinha em seu serviço todos os oficiais, como
há na casa do rei. Fez capitão da gente de cavalo a Gaspar de Geão, homem respeitável; e capitão da infantaria em que
entravam os nobres, a António da Silva,
sobrinho dele conde, mancebo solteiro, e grande militar. Porque o mesmo conde
Manuel da Silva era mui destro cavaleiro, passava a maior parte do tempo em divertimentos e exercícios de cavalaria,
deixando de cuidar em outras coisas que muito lhe convinham, a fim de repelir
os golpes da constante adversidade; mas como tudo isto e muito mais fazia sem
conselho de pessoa alguma, deu lugar a continuadas murmurações, e a supor-se
muito mal do fim de seu governo.
Deste desmesurado amor próprio resultou
que, depois de haver partido El-Rei
D. António para França, chegasse a
esta ilha certa embarcação em que vinha um Amador
Vieira[2], trazendo cartas de
El-Rei de Castela a seu primo D. António. Porém o conde, abusando do poder que
lhe fora confiado, as guardou consigo todas, abrindo-as, e lendo-as sem as
mandar a seu amo; procedimento arbitrário, que ofendeu a todos quantos pensavam
livremente; e que na verdade foi a causa principal de que a ilha não gozasse
dos excelentes partidos e mercês oferecidos ainda por esta vez. Acresceu a isto
que o dito enviado não mostrou empenho algum em cumprir a importante comissão
de que fora encarregado; antes pelo contrário, desprezando as ordens que
trazia, se deixou seduzir pelo conde, e com afagos e promessas se sujeitou ao
seu serviço, descobrindo-lhe traiçoeiramente a muitos homens que naquela
ocasião lhe haviam manifestado seus intentos[3]. E julgando não ser
conveniente estarem paralisadas tantas forças de seu comando, quis pô-las em
acção e distraí-las da ociosidade, no intuito de lucrar alguma coisa em
benefício dos cofres públicos, que estavam exaustos.
Para isto formou logo uma armada de 10 velas,
guarnecidas pela maior parte de soldados franceses; e lhe deu por comandante a
um MANUEL SERRADAS, da ilha da
Madeira, e capitão particular em cada nau: ordenando-lhes que levassem a
bandeira portuguesa em cada uma delas; e que em nome de El-Rei D. António
apreendessem todos os navios de qualquer nação que lhe não obedecessem,
trazendo-os à ilha Terceira prisioneiros. Que
outrossim fossem ao castelo de Arguim, o tomassem, e
embarcassem consigo todas as munições de guerra e artilharia nele existentes; e
que passando às ilhas de Cabo Verde lhes não fizessem dano algum, mas concordassem nos meios com que as
pudessem trazer à obediência de El-Rei D. António; e a respeito de tudo
isto lhes deu regimento escrito, e por ele assinado. Quase todas as embarcações
eram francesas, e a capitânia era uma formosa nau por nome Amberle.
Saíram
estas em direitura ao castelo de Arguim, o qual tomaram de surpresa por estar a
guarnição a sono solto. Apreenderam também muitos navios de pescaria, e naus de
grande porte, os quais mandaram para a Terceira com soldados portugueses e
franceses de guarnição. Acontecendo porém tomar conta de uma destas naus um
piloto natural da Terceira, por serem em
pouco número os portugueses, e a gente da nau muita mais, se levantou esta em
certa noite, assassinando os portugueses que pela maior parte dormiam.
Fazendo-se a nau então no rumo da ilha da Madeira, ali chegou a salvamento, e
logo foram enforcados o dito piloto e o cabo do mar, que era natural de Angra[4].
Em outra nau meteram-se alguns soldados
franceses, e da mesma forma contra eles se levantaram os da maruja, que eram
portugueses. Contudo não foram tão bem
sucedidos estes como os da outra nau, porque estando os franceses senhores das
armas, em breve espaço mataram a maior parte, e os poucos que trouxeram vivos
os mandou o conde açoitar, tomando-lhes as fazendas que haviam saqueado.
Deste modo pagaram na mesma moeda, e pela mesma forma, quanto haviam roubado a
seus donos.
Continuando a sua derrota chegou MANUEL SERRADAS às ilhas de Cabo Verde com 6 naus, porquanto as
outras andavam ao corso naqueles mares: e mandando recado a terra pelo padre
MANUEL RODRIGUES TEIXEIRA, certificando ser aquela armada de El-Rei D. António,
e querer lhe prestassem obediência, apenas ele desembarcou, logo os da ilha
começaram a persegui-lo, e o levaram preso à cadeia.
Já
naquele tempo haviam saltado em terra furtivamente perto de 200 soldados, e
vinham marchando pela falda de uma montanha, dispostos em ordem de batalha,
figurando muito maior número do que na verdade era. Logo que os da cidade os
avistaram puseram-se em retirada; em consequência do que foi a mesma cidade
entrada livremente, e saqueada. Entraram depois na cadeia, tirando dela o dito
padre Manuel Rodrigues, a quem supunham já morto. Pouco depois fez-se à
vela para a Terceira o capitão-mor Serradas com esta armada carregada de tudo
que achou naquela terra, trazendo consigo também muitos escravos forros e
cativos. Ao Bispo lhe não deixaram coisa alguma, e correu fama de que até os
soldados franceses o maltrataram. Todavia ao recolher-se esta expedição não foi
a sua vitória louvada pelos terceirenses, nem tão pouco aplaudida pelos homens
de melhor entendimento[5]; e sem embargo de que
esta aventura os animava, não era suficiente para remover-lhes o desassossego
em que andavam, esperando o termo fatal em que devia acabar esta contenda tão
porfiosa e aturada.
Os casos mais conhecidos são, no século
xvi, os do padre MIGUEL GARCIA,
professor de Teologia, de origem castelhana, e do padre GONÇALO LEITE, natural de Bragança, primeiro professor do
curso de Artes no Colégio da Baía, que foram mandados sair do Brasil e voltar à
Europa, uma vez que se recusavam a
confessar quem possuísse escravos, inclumdo os proprios superiores, padres e
irmãos do colégio. Miguel Garcia, o mais combativo dos dois, defendia que
«nenhum escravo da África ou do Brasil era justamente cativo». Segundo ele, «a
multidão de escravos que a Companhia [de Jesus] tem nesta rovíncia...é coisa
que e maneira nenhuma posso tragar,
por não poder entrar no meu entendimento serem licitamente havidos.»
O visitador
padre CRISTÓVÃO DE GOUVEIA, em
missão de inspeção no Brasil (1583-1589), assustado com a possibilidade de
contágio destas «opiniões novas em coisa de tanto peso», reuniu-se com os
padres do Colégio e apresentou pareceres
(que já trazia consigo ou eram públicos) dos padres de Angola, do bispo de São
Tomé, da Mesa da Consciência e Ordens, em Lisboa, e de vários letrados e teojuristas da Europa, entre os quais Fernão
Peres, Gaspar Gonçalves e o célebre Luís de Molina. Nenhum deles duvidava,
segundo concluíram, de que poderia haver cativeiros justos.
Desta forma, segundo o visitador, «vendo
que as opiniões do padre Garcia eram muito opostas ao comum de todos, perigosas
e escandalosas nestas partes e que ele estava muito aferrado a elas sem querer
dar lugar à razão nem crédito a tantos padres, nos pareceu a todos que não
tinha remédio nesta província e que de todo é inútil nela e que fazia dano nela
com as suas opiniões tão escrupulosas ( ... ), sem querer ceder na sua
opinião», tendo sido determinado, com parecer de todos os outros padres,
enviá-lo à sua província. E Miguel Garcia lá seguiu para Sevilha e daí
para Toledo, afastado do terreno em que a sua voz era mais perturbadora
Ataque de
corsários franceses
à cidade da Ribeira Grande, ilha de Santiago
JOÃO BARBOSA DE
BARROS Moço da Câmara do Rei Cavaleiro fidalgo da Casa
Real (1585) Filho de Pedro Barbosa de Barros, morador em Viana Faleceu (1604) –
Foi sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário na Ribeira Grande. Seus
herdeiros foram sepultados na mesma sepultura Almoxarife da ilha de Santiago
(23 de Abril de 1587 até último dia de Junho de 1591) Prestou serviços à Coroa
quando dos ataques dos corsários franceses a ilha de Santiago (1583).
GREGÓRIO LOURENÇO, Casado com Maria Borges de Vasconcelos - Antónia de Crasto da Cal,
moradora em Leiria, herda a capela que ele instituiu (1684). Proprietário rural
- Instituidor da capela do Castelo na ilha de Santiago (1583) – Registo da
capela do Castelo na freguesia de S. João Baptista, ilha de Santiago por Maria
Borges de Vasconcelos e seu marido Gregório Lourenço – Descrição: alforria de 8
escravos mulatos
GASPAR PEREIRA MELOEscudeiro fidalgo da Casa Real Tesoureiro da fazenda dos defuntos da Ilha
de Santiago por 3 anos (1583-1588) Memposteiro mor da rendição dos cativos da
ilha de Santiago (serventia / 3 anos) (1583-1588)
CONSTANTINO DE PAZMoço da Câmara do Rei Casado com Catarina Coutinha Falecido (1598)
Almoxarife da ilha de Santiago (1583-1584)
ÁLVARO PEDREIRA, Moço da Câmara do Real Escrivão da correição, chanceler e promotor de
justiça na ilha de Santiago (1583) Procurador do mercador lisboeta, Diogo
Fernandes (1584)
FRANCISCO
TOSCANO, Moço da Câmara do Rei Meirinho da correição de Cabo Verde (junto a
Diogo Dias Magro) (1583) Procurador de moradores de Lisboa (1584)
DIOGO XIMENES
VARGAS Cavaleiro Fidalgo da Casa Real sefardita
Casado com Catarina Fernandes Homem poderoso - “pessoa nobre e de grande
casa” Falecido (4 de Janeiro de 1624) – deixa seus bens à Companhia de Jesus
Procurador da cidade da Ribeira Grande em Portugal (1603?) Assinou uma
carta da Câmara da Ribeira Grande (1614) Vereador da Câmara da cidade da
Ribeira Grande (1615,1616) Mercador de Cabo Verde Mercador de escravos Lutou
contra os simpatizantes de Dom António (1583) Proprietário de um navio
(1583, 1604) Preso e degredado para o Reino (1589-1593) Armador (1608) Preso
na cadeia da Ribeira Grande (1614) Proprietário rural Senhor de engenho no
Espírito Santo no Brasil
1583 (ant. a) BRAZ PEREIRA BRANDÃO, Livro
de armaria feito por Braz Pereira Brandão
1583/03/13
DIOGO DIAS MAGRO - nomeado
corregedor em 13 de Março de 1583.
1583/11/05
Carta perdão de D. Fillipe aos
habitantes da ilha do Fogo
Carta de perdão geral de 5 de
Novembro de 1583, publicada na Chancellaria mór a 16 de Dezembro do mesmo anno,
dada aos moradores da Ilha do Fogo; "e
isto pelo sabido motivo de não quererem reconhecer ElRei D. Filippe I., nem
obedecer-lhe, logo que destes Reinos tomou posse." (Real
Archivo da Torre do T., liv. 1. de Leis de 1576 até 1612 , fol. 87).
1584
«O rio quando sahe fora vai muito acoompanhado
com grande guarda de frecheiros, e ás vezes com pouca; e posto que andem muitos
Mandingas Cacizes entre estes Beafares, dizendo muitas cousas, não tem que fazer com elles; seguem a sua
gentilidade, e não poem duvida a serem christãos: e alguns se fazem na propria
sua terra, assim homens como molheres; dos que servem aos nossos e andão com
elles, dos quaes está esta terra povoada de muitos que nella habitão, delles aposentados no longo do Rio no Porto da Cruz, que he em Guinalá, a par de uma força que ali
fizerão os nossos para defensão dos navios, que ali os vinhão tomar os
Francezes; e dos negros que estão
aldeados ao longo deste forte; e á mingoa de não haver quem pregue a palavra de
Deos se não salvão muitos gentios destes, e estão muitos dos nossos lançados vivendo em peccado mortat sem se
apartarem delle, morrendo nelle por falta de rnedicos da alma. Verdade he
que o Bispo da Ilha de S. Tiago manda todos os annos visitar neste Rio como faz
no de S. Domingos, mas nenhum fructo resulta da tal visitação. Se se póde dizer, tenho para mim
que he causadora de viverem da manejra que vivem; porque não he de mais fructo que pagarem os lançados com pena
pecuniaria a culpa commetida, e flcão sempre vivendo no mesmo pecado, servindo
de casas do aluguer que todos os annos lhe vão dobrando as
penas. Fallo nisto outra vêz, porque me péza ver entre Christiãos tanto desamparo.
Bem podia, Sua Magestade sendo servido, povoar-se este lugar do Rio Grande, e
para isso não tem necessidade de mais, que mandar que haja nelle Justiça e pôr Clerigos
que residão nelle, homens de boa vida, que edifiquem as suas obras
e vida.
Nesta aldeia dos nossos estivérão no
anno de 84, obra de quatro ou cinco mezes, huns frades carmelitas descalços,
que com seu modo de vida e doutrina fazião grande fructo; por onde me parece
que por falta de quem pregue a Doutrina e Palavra de Deos nâo ha hoje nestas
partes muita Christandade. Queira Deos por quem he, que
em dias de S. Magestade se veja naquellas partes muito augmento na fé.
Nào deixará de alterar-se o preço dos escravose
das outras mercadorias povoando-se esta terra; mas he
necessario que se acuda mais ao serviço de Deos que ao proveito dos homens. Digo
isto porque depois que os nossos se aldeárão e se pozérão todos
a par do forte, comprão-se os escravos e o mais que na terra ha por mais preço
do que soia ser porque antigamente estavão afastados, aposentados em casas de fidalgos
huma legoa, e meia, huns dos outros, e erão guardadas suas pessoas dos seus
hospedes e de seus parentes. Hoje saindo
os nosso a fora da aldeia tratao-os os negros mal, e não são seguros como
dantes, dizendo que querem estar por
força na
sua terra. Chamo tratar mal, se fizerem os nossos
ou seus escravos qualquer desaguisado não o sofrem os negros, e sobre isto há muitas
brlgas, e ás vezes mortes; o que não era
dantes,
estando aposentados com elles; e com tudo
povoando-se e havendo Justiça não consentira
fazerem-se
desordens, por onde haverá paz entre huns e outros: e como a não
ha, da fazenda e de quem mais pode he a justiça.» GASPAR DE
ANDRADE, corregedor de Cabo Verde e primeiro
capitão-mor das ilhas.
SEBASTIÃO
RODRIGUES DE ANDRADE
Casado Proprietário de imóveis na Ribeira Grande – tinha umas casas situadas ao
pé da Câmara que vendeu em 1593. Foi
condenado pelo corregedor das de Cabo Verde, Gaspar de Andrade, em 2 anos de
degredo para África por ter dito más palavras contra o alcaide (1584)
GASPAR
FERREIRA,
Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1584, 1585)
DIOGO
ALVARES MACEDO
Recebedor na ilha de Santiago (Abril/1584-Abril 1586) Tesoureiro dos defuntos
da ilha de Santiago (1584-1591)
LUÍS DE
OLIVEIRA
Natural de Montemor-o-Novo Tesoureiro das fazendas dos defuntos e ausentes e
mamposteiro-mor dos cativos da ilha de Santiago (1584)
LUÍS
PENALVO,
Escrivão da Alçada da cidade da Ribeira Grande (1584) (tabelião)
FRANCISCO
RAMIRES,
Falecido (1594) Procurador do trato Escrivão do trato (-1594) Procurador de
moradores de Lisboa (1584) Passa letras de câmbio (1589) Feitor de Duarte
Furtado, mercador de Lisboa (1591)
1585
JOÃO DE MELO Escudeiro Fidalgo da Casa Real Mercê de um
cargo “que lhe cauba em sua pessoa” (1585) Procurador da Fazenda Real (1600)
Prestou serviços ao Rei no tempo das alterações – Foi preso pelos sequazes de Dom António Prior do Crato na ilha do Fogo
– recebeu mercê por isso de um cargo “que lhe caiba em sua pessoa” (1585)
SEBASTIÃO
DA MOTA Moço
da Câmara Real Avô de Manuel de Pina
Cunha Tesoureiro dos defuntos e mamposteiro-mor dos cativos de Cabo Verde –
por 3 anos (1585-1588) Prestou serviços nas armadas do Reino e ser cativo de
batalha de África
BRÁS DIAS
REIMÃO Nasceu
em 1552 Moço da Câmara do Rei Vai para Cabo Verde em 1587 Cidadão da Ribeira
Grande Foi à Costa da Guiné (1601)
Encontra-se na Ribeira Grande (1603) Morador de Lisboa (1610, 1612) Viveu 23
anos em Santiago Contador dos contos do Reino Escrivão dos contos e do
almoxarifado da ilha de Santiago (1585-1592) Escrivão do tesoureiro das
fazendas dos defuntos da ilha de Santiago (1588) Almoxarife da ilha de Santiago
(1596-1597) – ao prestar as suas contas apresentou um saldo negativo de 2.030
cruzados Almoxarife das obras da fortaleza de São Filipe na Ribeira Grande
(1597 até 20 de Outubro de 1597) Mercê do cargo de escrivão do almoxarifado
(1598)
ANDRÉ
DONELHA
esteve no Rio Gâmbia e é provável que tenha feito outras viagens à Guiné. André Donelha aparece-nos como capitão de naus do
trato (i. e. do contrato de Cabo Verde) em 1585, fazendo o inventário da
fazenda de uma outra nau dos contratadores, que manda entregar a Diogo Henriques (1), que seria então
feitor daqueles (2).
(1) Cfr. Donelha, Descrição,
pp. 154/156.
(2) Corresponde certamente ao Diogo Henriques que terá contrato já em 1590-1594, cfr. a
lista dos contratos em M. M. F. Torrão, Tráfico
de escravos entre a Costa da Guiné e a América Espanhola…, vol. I, p.
283. Donelha refere-o ainda na condição de feitor do contratador.
1585/11/17
Francis Drake, com uma força de cerca de
1000 homens, desembarca em S.Martinho, durante a noite percorre a distância que
separa da Ribeira Grande, atacada na madrugada de 17 de Novembro. A população
já abandonara a cidade e o saque não terá sido o que os corsários esperavam:
por desforra, tudo rapinam, até os sinos das igrejas, e incendeiam Ribeira
Grande.
1586
O manejo das peças
de artilharia envolvia conhecimentos especiais, não só para o doseamento da
pólvora, como para a pontaria das bocas-de-fogo, sendo a direcção destes
artífices entregues a um homem de reconhecida competência, geralmente designado
por condestável dos artilheiros. O lugar foi ocupado em Santiago, desde 1586,
por um elemento de origem italiana, JOÃO REBELO, que o ocupou por
cerca de 20 anos. Ao condestável e a um ou outro ajudante, competia coordenar o
treino dos artilheiros, que não eram militares, sendo pagos à parte, fazendo,
inclusivamente “exercícios de barreira”, onde se testavam os
homens e as bocas-de-fogo.
Quanto ao padre
GONÇALO LEITE, considerado «inquieto» pelas suas posições incómodas sobre o
mesmo assunto, foi obrigado a regressar
a Portugal em 1586. Já na casa de São Roque, em Lisboa, escreveu ao geral da Companhia,
dizendo: «Bem se podem persuadir os
nossos padres que vão ao Brasil que não vão a salvar almas mas a condenar as
suas. Sabe Deus com quanta dor do coração isto escrevo, porque vejo os
nossos padres confessar homicidas e roubadores da liberdade, fazenda e suor
alheio, sem restituição do passado, nem remédio dos males futuros, que da mesma
forma cada dia se cometem.»
MANUEL RODRIGUES JORGE Nasceu em 1564 Cidadão da cidade da Ribeira Grande Mercador Procurador de moradores da cidade de
Lisboa (1586, 1588) Em Março de 1610 recebeu da Costa da Guiné 700 alqueires de milho Alferes da gente de cavalo (1614)
JOÃO
NUNES MACHADO Estante
em Lisboa (1596) Faleceu sem deixar filhos (1616) Tem a seu cargo a fortificação
da ilha de Santiago (1586) Foi por mandado do tesoureiro dos defuntos ao rio
São Domingos, arrecadar a fazenda dos defuntos (1594) Meirinho da correição da
Ilha de Cabo Verde (1609, 1611) Tem procurador em Lisboa (1589) Contratador do
sabão na Ilha de Santiago juntamente com Simão
Nunes, morador em Lisboa (1596) Deve 500 cruzados ao ex-corregedor, Amador
Gomes Raposo (1597) Serviu o Rei, em Santiago, com armas cavalos e escravos a
sua custa “quando da guerra dos inimigos”
(1609)
JOÃO
RABELO,
Italiano Reside em Cabo Verde (1586) Pede mercê de guarda-mor da alfândega da
Ilha de Santiago (1607) Condestável das artilharias e de mestre dos repairos de
Cabo Verde (1609)
ANDRÉ
SOUSA,
Vizinho de Santiago Pai de Heitor de
Sousa Miranda que herda sua fazenda Faleceu em Santiago (1586) Proprietário
rural – tinha uma fazenda na ilha de Santiago que estava dividida em duas
partes: 1ª no Tarrafal e a 2ª na Praia Formosa
1587
O cargo de governador-geral foi criado em 1587 (1), sempre com a
residência oficial em Santiago. A nomeação para este cargo era régia e tinha
uma duração de 3 anos e, pelo menos até 1844, foram sempre nomeados os “filhos
de Portugal”(2).
Até 1587,
as ilhas de Cabo Verde e os territórios adjacentes eram governados pelos
Capitães-Mores; a partir desse período criaram o Governo-Geral, cujos
governadores recebiam o título de Capitães-Generais (3), título do qual tinham
sido privados, e só reassumidos pelo Decreto de 26 de Março de 1808, no 2º
governo de D. ANTÓNIO COUTINHO DE
LENCASTRE.
(1) A propósito do processo da criação do
Governo-Geral ver Zelinda Cohen, “Administração das Ilhas de Cabo Verde e o seu
Distrito no Segundo Século de Colonização (1560-1640)”, História Geral de Cabo Verde, vol. II, coordenação de Maria
Emília Madeira Santos, Lisboa-Praia, Centro de Estudos de História e
Cartografia Antiga, Instituto de Investigação Científica Tropical, Direcção
Geral do Património Cultural, Instituto Nacional de Investigação Cultural,
1995, pp. 189-224, pp. 221-224.
(2) Em 1841, Chelmick & Varnhagen relembra
que os governadores tinham de ser “filhos de Portugal”, cf. J. C. C. de
Chelmicki e F. A. de Varnhagen, op.
cit., Tomo II, p. 259.
(3) Sobre os Capitães-Mores e Governadores que
tem tido o arquipélago de Cabo Verde até 1784, cf. Notícia corográfica e cronológica do bispado de Cabo Verde […], op.
cit., p. 62 e ss. 82
Ao
Capitão-general era atribuído amplos poderes, Chelmicki e Varnhagen escrevem em
1841: “nomeava os Capitães-Mores ou Governadores particulares de cada uma das
ilhas, bem como feitores ou administradores da urzela. Era prezidente da Junta
da Fazenda e principal arrecadador das rendas do estado: nomeava todos os
oficiaes milicianos e os de linha até ao posto de capitão, inclusive, e decidia
também em casos judiciaes civis e criminosos, posto que esta repartição
dependesse d’outra personagem de magistratura” (1).
(1) Cf. J. C. C. de Chelmicki e F. A. de
Varnhagen, op. cit., Tomo II, p. 238.
As obras de construção da fortaleza Real de
São Filipe devem ter sido iniciadas em 1587, quando chega à Ribeira
Grande o mestre-das-obras reais João Nunes, nomeado a 12 de Junho de
1586, e proveniente de Tânger, onde, em 1577, substituíra o mestre Jorge Gomes. João Nunes acompanhara
o rei D. Sebastião à malograda batalha de Alcácer Kibir, tendo ali caído
prisioneiro, juntamente com os engenheiros Nicolau
de Frias, António Mendes, depois mestre de São Julião da Barra e Filipe
Térzio, então engenheiro-mor do reino. A planta de que era portador, quase
obrigatoriamente, teria de ser projecto de Filipe Térzio, embora com a
colaboração dos outros engenheiros então em serviço na provedoria das obras
reais.
Com o fortificador João Nunes também
se desloca à Ribeira Grande o capitão português Gaspar Luís de Melo, que
prestara serviço nas forças do duque de Alba que haviam invadido Lisboa e,
depois, no Funchal, com o corregedor António
Leitão, em 1582 e regressara depois a Lisboa, após a instalação do conde de
Lançarote na Madeira. Era igualmente um especialista em fortificações, pois no
seu regresso a Lisboa, foi ele que forneceu as informações sobre as defesas do
Funchal que D. Francês de Alava enviou depois para Filipe II com dois
desenhos, que pensamos feitos pelo mesmo capitão.
Este ano de 1587 marca igualmente
a reestruturação do governo de Cabo Verde, com a criação do lugar de governador
e capitão general das ilhas de Cabo Verde, assim como a especificação das
atribuições do oficial superior de justiça de que passou a ser acompanhado, o corregedor.
Definia-se assim uma nova estrutura de poder, poucos anos antes, em 1584,
ensaiada na Madeira, com o envio do antigo capitão do Oriente e alcaide de São
Julião da Barra, Tristão Vaz da Veiga. Delimitava-se assim os poderes
dos antigos capitães-donatários, que passam a ser, vagamente, representados por
ouvidores, ou nem isso, limitando-se a usufruir das verbas das suas antigas
capitanias, mas a que nem sempre tinham acesso, dadas as quebras gerais dos
rendimentos do comércio de Cabo Verde
FORTALEZA
DE CACHEU
–
As primeiras casas da povoação foram
erguidas para os “nossos” se alojarem, após a construção do forte por
volta de 1587-88. Além do forte e das casas, entre 1596-1065, observamos que se
procedeu à construção da igreja de N. S. do Vencimento e de outras estruturas
associadas aos ofícios religiosos: capela, coro, sacristia, pátio e casa
sobradada.
Por volta de 1587-8, com o pretexto de
erguer um forte para puderem responder aos ataques dos corsários, o cabo-verdiano
Manuel Lopes Cardoso com astúcia,
consegue junto do rei da terra autorização para a dita construção. A
localização deste forte e da pequena povoação situada “ao longo do Rio,
entre a aldeia dos negros e ele” (Almada/Brásio, 1594-1964:71) para onde se
mudaram os lançados, indica que a
escolha do local para a sua implementação não foi aleatória, antes pelo
contrário revela um profundo conhecimento do território e dos mecanismos
comerciais da região. Relativamente aos materiais utilizados na construção do
forte, numa primeira fase ter-se-á recorrido às matérias-primas locais
disponíveis, tais como a madeira e o barro. Almada não indica quais os
materiais usados na construção do primeiro forte todavia, refere que “as casas
da dita povoação são de taipa.” Deste modo, julgamos que o forte tivesse também
sido construído em taipa, esta técnica vernacular tem por base a argila e o
cascalho. Um dos problemas que os europeus enfrentaram na África Ocidental foi
a ausência de materiais locais adequados para a construção das suas estruturas.
Na maioria dos lugares do litoral a pedra era muito dura ou quebradiça para ser
cortada facilmente em blocos rectangulares, obrigando os europeus a recorrerem
aos materiais e técnicas locais africanas. Os portugueses não foram excepção e
enfrentaram as mesmas questões em Cacheu. Como solução elegeram a madeira como
o material de construção de eleição dada a existência de uma extensa área de
mangues na região. A biodiversidade do mangal traduz-se num ecossistema
riquíssimo, nomeadamente em moluscos, como as ostras.
Como nem sempre do reino chegava o
material solicitado a Cacheu, no caso concreto da cal colmatou-se o problema
recorrendo à produção de cal conchífera, através do esmagamento das cascas de
ostras que posteriormente terão sido incluídas na argamassa.
JERÓNIMO
BARBUDO,
Casado com Cristina da Veiga,
moradora de Santiago Teve dois filhos: Manuel
Barbudo e Jerónimo Vaz da Veiga
Capitão da 1ª companhia das ilhas de Cabo Verde (?-1587) Defendeu a ilha de
Santiago dos franceses – faleceu nessa luta
MANUEL
BARBUDO,
Natural de Santiago Filho de Jerónimo
Barbudo e de Cristina da Veiga,
ambos moradores da Ilha de Santiago Irmão de Jerónimo Vaz da Veiga
MANUEL
DIAS DA CALHETA
Nasceu em 1533 ± Cavaleiro Fidalgo da Casa Real Tio de João Dias Liote Vive no Bairro de São Brás na cidade da Ribeira
Grande Mercê de uma tença de 15.000 reais (1587, 1588) Procurador de Santiago
(1588) Provedor das fazendas dos defuntos e ausentes de Santiago (1588, 1598)
Ouvidor Geral das ilhas de Cabo Verde e limites de Guiné (1598, 1599) – Primeiro ouvidor geral O capitão-mor das ilhas
de Cabo Verde mandou que ele, como ouvidor geral, tomasse a vara ao juiz
ordinário da vila da Praia, Gaspar Fernandes Lucas e o prendesse (8 de Março de
1598) No ano de 1599, manda fazer um auto a Luís da Fonseca, juiz e capitão
interino da Praia que foi condenado por ter abandonado o exercício de seu
ofício, deixando a vila sujeita a qualquer ataque
TOMÉ
FIDALGO,
Filho de Manuel Fidalgo Procurador
de moradores reinóis (1587)
CIPRIÃO
CARVALHO DA FONSECA
Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1584, 1587, 1591)
ANTÓNIO
DE MIRANDA
Escrivão do almoxarifado da ilha de Santiago (1587) Escrivão da provedoria dos
defuntos da ilha de Santiago (serventia por 6 anos) (1587-1593?)
FERNÃO
SANCHES,
Em 1585 já se encontra em Cabo Verde Casado com Catarina Lopes Cristão-novo – Acusado
pelo Bispo de Cabo Verde, Pedro Brandão de ser “homem de nação” Irmão de Simão de Oliveira
GARCIA
MENDES (1598) Feitor na ilha do Maio do rendeiro da ilha (1592) Feitor
dos contratadores da ilha de Santiago (1593,1594) Mercador Procurador de
moradores de Lisboa (1587- 1601) Comprou 1.215 peles da ilha da Boa Vista
(1596) Passou procuração a seu irmão Simão
de Oliveira e a Pêro Vaz de Lemos
para negociarem nos Rios de Guiné certas
mercadorias e as trocarem por escravos para Cartagena (1601)
DUARTE LOBO DA GAMA no cargo de capitão e
governador das ilhas de Cabo Verde. A honra de carregar as insígnias, de receber
regimento condigno e de prestar preito e menagem pelo cargo de capitão e governador de Cabo Verde estava reservado
não aos doutores mas sim aos fidalgos da Casa Real. Jurou-o, pela primeira vez,
no ano de 1587, Duarte Lobo da Gama (362). A
partir desta nomeação, com a qual “se processa a unificação política e
administrativa da Capitania” (363), o cargo passa a ser provido por três
anos, não tendo mais estes oficiais,
agora adstritos à gestão civil e militar do arquipélago, responsabilidades
específicas com o exercício da justiça naquela circunscrição.
362
- ANTT, Chanc. D. Filipe I,
liv. 12, fls. 333 vº-334 vº, in Brásio, MMA,
2ª série, vol. III, doc. 59, 07-Ago-1587; Chanc. D. Filipe I, Doações, liv. 15, fl. 416, 11- Nov-1587.
363 - António Carreira (Apresentação, notas e
comentários), Notícia corográfica e
cronológica do bispado de Cabo Verde..., p. 62.
Aos capitães-donatários sucederam os
governadores (primeiro chamados de capitães-gerais) de Cabo Verde. Este ano de 1587 marca a reestruturação do governo de Cabo Verde,
com a criação do lugar de governador e capitão general das ilhas de Cabo Verde,
assim como a especificação das atribuições do oficial superior de justiça de
que passou a ser acompanhado, o corregedor. Definia-se assim uma nova estrutura
de poder, poucos anos antes, em 1584,
ensaiada na Madeira, com o envio do antigo capitão do Oriente e alcaide de São
Julião da Barra, Tristão Vaz da Veiga. Delimitava-se assim os poderes dos
antigos capitães-donatários, que passam a ser, vagamente, representados por
ouvidores, ou nem isso, limitando-se a usufruir das verbas das suas antigas
capitanias, mas a que nem sempre tinham acesso, dadas as quebras gerais dos
rendimentos do comércio de Cabo Verde.
AMADOR
GOMES RAPOSO foi o último dos corregedores das ilhas. A sua nomeação, realizada
em simultâneo com a do primeiro capitão-governador (1), fez com que se
retardasse, por alguns anos, a instituição da ouvidoria geral que acabaria por
suceder, definitivamente, à antiga corregedoria.
(1) - Ao mesmo tempo em que se nomeia o
licenciado Amador Gomes Raposo para ir servir de corregedor às ilhas de Cabo
Verde (ANTT, Leis, liv. I, fls.
182 vº - 184, 27-Jul-1587), é feita mercê a Duarte Lobo da Gama, fidalgo da
Casa Real, do cargo de “capitão
das ilhas do Cabo Verde” (ANTT, Chanc.
D. Filipe I, liv. 12, fls. 333 vº-334 vº, 07-Ago-1587). Ambas as cartas
foram publicadas pelo Pe. Brásio, MMA,
2ª série, vol. III, docs. 57 e 59, respectivamente, encontrando-se ainda aquela
em Barcellos, op. cit., pp.
161-163 .
1587/01/27
No período da Monarquia
Dual nomeadamente em 27 de Janeiro de 1587 confirmou-se uma lei de D. Sebastião
e uma provisão declarada nela mandando
que pessoa alguma de nação, naturais ou estrangeiras, de qualquer qualidade ou
condição ou idade saísse para fora dos reinos e senhorios de Portugal por mar
ou terra para qualquer parte, conquistas e senhorios do reino de Portugal sem
sua licença, dando fiança e com a condição de voltar em certo tempo, nem
vendessem a dita licença, seus bens de raiz, juros, tenças, rendas que tivessem
nos reinos e senhorios. Esta lei segue a de 1579 que revogava a de 1567 passada
em Sintra
1587/02/09
Falecimento
do bispo da diocese de Cabo Verde, D. BARTOLOMEU
LEITÃO
1587/07/28
Amador Góis Raposo - nomeado a 28 de Julho de 1587, corregedor e provedor dos órfãos, das obras e hospital. Em 17 de Março de 1588 recebeu um extenso regimento que, salvo pequenas alterações, servia de norma para o desempenho desse cargo. Dizia este regimento: «Alem de poderes que por minhas ordenações são concedidos aos corregedores das comarcas dos meus reinos, de que usareis, useis de poder e alçada adeante declarada: Alçada sobre os fidalgos para os degredar até dois anos e nos cavalheiros e escudeiros, ainda que sejam de linhagem, até 4 anos; nos oficiais mecânicos e peões, que
não forem de soldada, até 5 anos. Aos peões que ganharem dinheiro por sua braçagem tereis alçada para mandar
açoitar e degredar até 7 anos, ou para as galés até três e meio anos.
Devassareis as pessoas que andam nos Rios de Guiné ou em outras partes feitos tangomãos e trabalhareis pelos prender...e porque sou
informado que nas ditas Ilhas e Rios
andam muitos homens casados que foram deste reino ha muitos anos sem quererem vir fazer
vida com suas mulheres, nem as prover do necessario, vivendo mal e dissolutamente, informar-vos-eis disso e achando que ha lá alguns dos ditos homens, fareis embarcar para o Reino... e assim vos informareis se nas ditas Ilhas e Reinos Comarcões andam alguns clérigos ou outras pessoas
que sejam prejudiciais ao meu serviço, fareis embarcar os leigos e quanto aos clérigos direis da minha parte aos bispos que lhes agradecerei manda-los vir ... ». Além disso o regimento dava ao ouvidor geral alçada sobre os escravos até a pena de morte, salvo o recurso a El-Rei. Nos feitos cíveis tinha alçada até à quantia de 40$000
réis nos bens de raiz e até 50$000 réis nos móveis, sem apelação. Finalmente o ouvidor resolvia os recursos vindos dos juízes ordinários.
1587/08/01
DUARTE LOBO DA GAMA - Durante o reinado dos Filipes, foi
primeiro nomeado Capitão das Ilhas de Cabo Verde em 1 de Agosto de 1587.
Depois, 1588, foi nomeado Capitão e Governador-geral de Cabo Verde. Deixou o
cargo a 25 de Março de 1591.
1587/08/07
«Autonomia dos serviços de administração geral e militar e sua entrega a governadores de nomeação régia. Separação dos serviços judiciais
Duarte Lobo da Gama - fidalgo da Casa Real, nomeado em 7 de Agosto de
1587, capitão geral de todas as ilhas, podendo acumular
todos os cargos de justiça e de fazenda que estivessem vagos.
Ordenado 300$000 reis.» João Barreto
1587/09/03
«Um
alvará régio de 3 de Setembro de 1587, manda que JOÃO PINTO, «natural de Guiné,
enquanto
ele
estiver
e residir no sertão das Ilhas do Cabo Verde e contingentes a elas, na
conversão dos gentios da dita ilha, tenha e haja da minha fazenda sessenta mil reais cada
um ano, que lhe serão pagos no almoxarifado da ilha do Cabo
Verde» (1).
ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA, após
breve prólogo, dedica o primeiro capítulo
do seu clássico Tratado Breve dos Rios de Guiné aos
negros jalofos, «que começam do Rio de Sanagá [Senegal], da banda
do Sul dele». O manuscrito 525 da Biblioteca Nacional
de Lisboa (Fundo Geral), que passa por ser
resumo, feito no século XVII (2), do Ms. 297 (o segundo manuscrito mais importante do Tratado
Breve), traz a seguinte passagem, que lhe é exclusiva:
«Esta nação dos jalofos é a mais dificultosa em receber a fé de Jesus
Cristo N. S. que todas as outras nações dos negros de Guiné, porque quase todos seguem a
seita de Mafoma, ou muitas cousas dela, e são mouros, e raramente se vai um fazer cristão, se não é depois de
ser
cativo dos cristãos. E no ano de 1589 foi um clérigo preto por
nome
JOÃo PINTO, da
mesma nação, àquele reino para os fazer cristãos, e não fez fruto algum neles, e por isso se foi
para outras nações, em que baptizou muitos, mas pela má ordem que nisso tinha o mandou
chamar o bispo» (3).
No capítulo IX, ao tratar do reino dos Buramos (4), ALMADA cita de novo o nome do
Padre JOÃO PINTO e o conflito com o bispo de Cabo Verde. Fixara-se o padre jalofo nas bandas de Cacheu, onde MANUEL LOPES
CARDOSO construíra um forte e uma aldeia com a licença do «rei» da terra,
o nosso já conhecido Chapala. A esta «feitoria de S. Domingos», cuja existência consta pelo menos duma certidão, passada pela Casa da Mina a JORGE CORREIA a 10 de Setembro de
1535 (5), vinha todos os anos um padre de Cabo
Verde, enviado pelo bispo, fazer a desobriga pascal. «Esta povoação dos
nossos, escreve ALMADA (6), está povoada de muita gente e há quaresma em que se confessam
700 a 800 pessoas».
Tais «visitas» rendiam grosso cabedal para os escolhidos do bispo e para a própria diocese de Cabo
Verde.
Esta a razão
principal de o «etíopus» Padre JOÃO PINTO não ser bem visto em Cacheu. É bem
claro o texto de ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA:
«O bispo da ilha de Santiago, cuidando que o padre lhe apoquentasse a sua chancelaria, porque costuma mandá-la visitar todos os anos, assim neste Rio de S.
Domingos
como nos mais, as quais visitações não vemos fazer mais fruto que na sua chancelaria sõmente, que se acrescenta e se lhe vai dobrando cada vez mais, mas estão os mesmos lançados de contínuo no mesmo
pecado, sem se apartarem dele nem se virem
para suas mulheres; cuidando, como digo, o bispo, que pela razão do clérigo se lhe diminuiria
a
chancelaria, o mandou suspender e que não usasse das suas ordens e se fosse
logo caminho da ilha de Santiago, o qual logo obedeceu e se foi. E falando
com o bispo, perguntando-lhe quem o
mandara ir à Guiné, respondeu o padre que quem mandara ir o dito bispo à ilha o mandara a ele,
que era S. Majestade; basta que o teve
suspenso e mandou que se livrasse e quisesse formar culpas, dizendo
todos em geral que a não tinha; andando o clérigo neste livramento faleceu» (7).
O «rei» Chapala, já referido quando se tratou do carmelita Fr.
CIPRIANO, pasmava quando via o feitor de Cacheu e todos
os mais brancos da feitoria prestarem honras ao clérigo preto. O feitor,
logo que o via, levantava-se da cadeira em que estava sentado
e oferecia-lha.
Anota ALMADA a seguir: «Dizia o rei e
os mais fidalgos que, sem embargo daquele homem ser preto como eles, lhe faziam os nossos tanta honra porque falava com Deus. E o rei ia muito ao forte
quando se dizia missa». «Este rei, o dia de Natal, dizendo o padre, que ali estava entonces, missa, lhe ofereceu na oferta uma escrava moça
muito boa e fermosa» (8).
O Ms. 297 (Fundo Geral), da Biblioteca Nacional de Lisboa, comenta largamente o episódio, relevando
a
reverência
prestada
pelos brancos ao padre jalofo, facto que demonstra os portugueses nunca terem sido racistas, apreciando
as pessoas pelos seus méritos reais e não pela cor da pele.
O autor do Tratado Breve dos Rios de Guiné dói-se da morte do P. JOÃO PINTO pelo muito
fruto nas almas e serviço a Nosso Senhor e porque vivia mui exemplarmente.
E
comenta:
«Tenho para mim que se não
convertem muitos gentios destes é por falta de não haver quem lhes instrua e declare a nossa lei e doutrina porque eles não têm
seita mais que serem idólatras».
Outros pretos da Costa da Guiné tentaram
a ascensão ao sacerdócio ministerial de Cristo, conforme consta da
própria
Crónica dos Descobrimentos. Este é um dos trechos exclusivos do MS. 297, da B. N. L. (F. G.), que António Brásio coloca,
em
nota, no fim do capítulo IX e a edição de Luís Silveira traz em apenso, p. 92 s. Feitos da Guiné, de GOMES EANES DE ZURARA
(10).
Que
saibamos, o Padre JOÃO PINTO foi o primeiro a
atingi-lo.
(1) lbid., p . 153.
(2 lbid., na Introdução,
p. X.
(3) lbid., p. 233, nota l . A edição de Luís Silveira
não traz esta divergência textual.
(4) Consideram-se os buramos os antepassados das três
raças afins: brames ou manchanas, papéis e manjacos. Já Almada,
neste capítulo, informa que aos buramos se dava também o nome de papéis.
(5) P. ÀNTÓNIO BRÁSIO, Monumenta Missionária Africana, 2.ª série, vol. II, p. 275. Note-se que a «feitoria» ê muito mais antiga que o «forte».
(6) Tratado Breve dos Rios da Guiné, cap. IX, p. 46.
(7) Este é um dos trechos exclusivos do MS. 297, da B.N.L. (F.G.), que António Brásio coloca, em nota, no fim do capítulo IX e a edição de Luís Silveira trnz em apenso, p. 92 s.
(8) A. A. ÀLMADA, Tratado Breve..., p. 92 (Ms. 297).
(9) H.
PINTO REINA, A primeira
evangelização da Guiné 1434-1533, em Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, n.º 83 (1966), p. 347 s.»
Henrique Pinto Rema, As primeiras missões da
Costa da Guiné, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Vol. XXII, N.os
87-88, Julho-Outubro 1967
1588
André
Álvares de Almada, refere os vexames a que os comerciantes portugueses estão
sujeitos em Cacheu.
Instalação no porto
de Cacheu (Guiné) de uma feitoria fortificada destinada sobretudo ao tráfico de escravos.
Cacheu povoação fundada e
fortificada em 1588 por MANUEL LOPES
CARDOSO, natural da Ilha de S. Tiago MANUEL
SEMEDO CARDOSO?
Não encontrei nenhum dado sobre ele. Mas
aparece na documentação, na mesma época um Manuel Lopes Cardoso, morador na
Ilha de Santiago. Em 1588, encontra-se nos Rios de Guiné onde contribuiu para a
construção da povoação e forte de Cacheu. André Alvares de Almada diz que ele
foi o «autor e se fazer este forte e aldeia» e que isso
só foi possível porque ele «por industria houve licença
do rei da
terra chamado Mapala, para fazer no dito sitio o forte /... /. Foi feitor do contrato de
Guiné e Cabo Verde no Rio São Domingos (1593, 1594).
António Brásio,
MMA, 2ª série, vol. III,
Lisboa, 1964. doc. 92, p. 300; IAN/TT, Cartório
Notarialnº 1. Lº 1579, Setembro 30-Novembro 23, fls. 13-14, 6 deOutubro de 1579; IAN/TT, Cartórlo Notarialnº lI. Lº 18, fls.
101 v.-102, 26 de Dezembro de 1593.
Em 1588
foi criada a primeira companhia inglesa de comércio com a “Guiné”, principalmente, a
partir da iniciativa de mercadores de Londres e de Exeter, que já participaram activamente das expedições comerciais no estuário da Gâmbia. Entretanto, nada
permite afirmar que esta companhia se tenha desenvolvido muito. Talvez, os
ingleses pensassem, no fim do século XVI, que a pilhagem dos navios
castelhanos, nas águas do Atlântico, lhes renderia mais do que o comércio com a
África.
Em 1588, o rei instruiu o corregedor AMADOR GOMES RAPOSO no
sentido de fazer com que os “muitos
homens casados que foram deste reino há muitos anos sem quererem vir fazer vida
com suas mulheres, nem as proverem do necessário, vivendo mal e desolutamente,
fossem remetidos a Portugal”. Leis, liv. I, fls. 180-182, de 17 de Março de
1588.
Mantida,
posteriormente, nas mãos dos capitães-corregedores, a provedoria dos defuntos
das ilhas, que havia também de ser dos ausentes, resíduos e capelas (1), passou a contar,
a partir da nomeação de MANUEL DIAS
CALHETA (1588) (2), com um oficial exclusivo. Há que reparar na inclusão
da superintendência das capelas, instituição vincular de grande importância
para realização de obras pias e religiosas (3), inicialmente adstrita à
jurisdição da provedoria dos órfãos.
(1) - ANTT, M.C.O., liv. 32 do Registo de Consultas, fl. 66, 24-Jan-1632.
(2) - ANTT, Chanc. D. Filipe, Doações, liv. 17, fl. 141 vº, 05-Fev-1588.
(3) - Acerca desta instituição V. António
Correia e Silva, «Espaço Ecologia e Economia Interna», in HGCV, vol. I, p. 204 e segs.
ÁLVARO CORESMA, Nasceu em 1568
Natural de Santiago Irmão de Simão Coresma e de Manuel Coresma Em
1588 é morador em Lisboa na Praça da Palha Em 1594 volta para Santiago. Mora
defronte à Misericórdia da Ribeira Grande (rua do Calhau) No ano de 1615
encontra-se em Lisboa Tesoureiro das fazendas dos defuntos e ausentes da ilha
de Santiago (1611) Mercador – mercador de escravos (1588, 1596, 1598)
Procurador de moradores e comerciantes reinóis (1594-1597) Tem autorização para
que possa “…vender cartas de jogar …” em Santiago e no Fogo (1600). Tem
relações comerciais intensas
com as Canárias (1607), para onde vende escravos e outras mercadorias. No ano de 1610, recebeu 316
alqueires milho da Costa da Guiné. Mordomo da Confraria Nome de Jesus
(1612)
SIMÃO CORESMA Natural de Santiago Irmão de Álvaro Coresma e de Manuel Coresma
Fez uma companhia de comércio com Nuno Fernandes de Alvito (1588)
AMADOR GOMES RAPOSO é corregedor de Cabo Verde.
ANTÓNIO MARQUES, Moço da Câmara Real Casado com Isabel Palha da qual teve 3 filhos Faleceu em Cabo Verde (1589)
Recebedor das obras das fortificações mandadas fazer na Ribeira Grande
(1588-1589)
PÊRO CORREIA DE MESQUITA Nasceu em 1565 Escrivão do tesoureiro das fazendas dos
defuntos e memposteiro dos cativos de Santiago (1588) Inquiridor na Ribeira
Grande (1598) Meirinho da correição de Santiago (1598, 1599)
SIMÃO RODRIGUES DE MANTUA, Nasceu em 1565
Português Filho de Afonso Fernandes de
Mantua, que foi mercador estante em Santiago Irmão de António Rodrigues de Mantua, também estante na ilha de Santiago Em
1601 vai para Santiago Casado com Isabel
daCosta de Oliveira Faleceu em Cabo Verde (a.1616) sua viúva csa-se com Pedro Sodré de Gâmboa Feitor e
recebedor na Ribeira Grande do contratador da ilha de Santiago (1608-1615) Mercador – Foi a Guiné negociar escravos em parceria com D. Pedro Brandão, Bispo
de Cabo Verde (1598) Procurador de vários comerciantes europeus (1601-1613)
Arrendatário das ilhas de Barlavento (1602-1606) Em 1610 recebeu da Costa da Guiné 132 alqueire de milho Feitor de João Soeiro, contratador do trato –
cobra de cada navio que vai para a Costa da Guiné 4.000 reis (1613-1615)
Acusado de subornar os oficiais régios e roubar a fazenda real (1616)
Início das obras de fortificação da ilha de Santiago
Data provável do início
de DUARTE LOBO DA GAMA no exercício
do cargo de capitão e governador-geral de Cabo Verde.
O comércio desenvolveu-se com a criação
de feitorias ao longo dos rios S. Domingos, Grande Cacheu e Grande de Buba. Foi
o caso da primeira fortaleza em Cacheu,
construída em 1588 pelo cabo-verdeano MANUEL LOPES CARDOSO, com autorização do
régulo Chapaia. Poder-se-á considerar que Cacheu foi a primeira capital
portuguesa em terras da Guiné.
Data provável do início
de AMADOR GOMES RAPOSO no exercício
do cargo de corregedor de Cabo Verde. O tempo
em que a pena de morte vigorou sobre os negros cativos não é possível
determinar. No entanto, sabemo-la suspensa aquando do envio do corregedor
Amador Gomes Raposo às Ilhas (1588) que, no tocante a este particular, teve
por Regimento o seguinte: “...vos dou
toda a alçada sobre escravos cativos em todos os crimes que cometerem, tirando casos de morte natural e nos
outros em que não couber a dita pena de morte natural, dareis vossas sentenças
e execução sem apelação nem agravo, e sendo os tais casos de furtos os podereis
degredar para as galés por quatro anos”.
ANTT, Leis, liv. I, fls. 180-182 vº, in
Brásio, MMA, 2ª série, vol.
III, doc. 62, 17-Mar-1588 (também em Barcellos, op. cit., pp. 163-166).
1588/08/08 - D. FR. PEDRO BRANDÃO, carmelita, que foi designado bispo de Cabo Verde a 8 de Agosto de 1588. Chegou a ilha de Santiago no ano seguinte.
1589
Tem este reino do Budumel muitos portos do mar, afora os
do Rio de Sanagá, e começando delle, correndo pela costa até o Sereno,
dos principaes he a Angra de Biziguiche, que he buma bahia
muito formosa, rnorada continua dos
lnglezes, e Francezes, onde podem estar muitas náos sem perigo do tempo por ser
abrigada dos ventos; e
amesma
Angra tem hum ilheo que a abriga dos ventos, e entre ella e a terra firme fica
canal mui grande onde podem invernar as náos: e entre este ilheo e a terra
fugirão ja algumas vezes as Francezes ás nossas galeotas.1588/08/08 - D. FR. PEDRO BRANDÃO, carmelita, que foi designado bispo de Cabo Verde a 8 de Agosto de 1588. Chegou a ilha de Santiago no ano seguinte.
1589
Neste ilheo se podia fazer hum porto muito bom
o com pouco custo, porque da banda da terra tica o mesmo ilheo amurado com a
rocha que a mesma natureza fez, e pelo lado do mar com pouco custo fica
fortificado, e sendo fortificado defendia as náos dos imigos terem porto,e com bargantins (que são embarcações de pouco
custo) defendiam aos lançados
darem carga e despacho como hoje dão aos imigos. Serve este ilheo aos lnglezes
e Francezes de ribeira, onde concertão as suas náos e embarcações; e he garganta por onde passão os mais dos
navios dos imigos, assim os que passão á Serra Leoa como á Costa da Malagueta, ao Brazil, o ás lndias de Castella; - todos tomão esta Angra, e nella espalmão os seus navios e
os concertão, e habitão nella, e a tem por sua, como se fora huma das abrasde Inglaterra ou de França; em tanto que os negros destes portos do mar
desta costa fallâo muito bem Francêz, e forão muitos a França muitas vezes, e
agora, depois de terem amizade com os lnglezes, forão já a Inglaterra aprender a
lingua Ingleza e ver a terra, por mandado do Alcaide do porto d' Ale que serve
de veador da fazenda d'el Rei.
Está esta angra quasi na ponta do Cabo Verde,
entre elle e o Cabo dos Mastros, mais chegado no Cabo Verde. Antigamente o
maior trato que tinhão os moradores da Ilha de Santiago era para esta terra do
Budumel, no tempo que nella reinava hum rei chamado Nhogor, muito amigo dos nossos, no tempo do qual houve tamanha fome naquella costa causada dos gafanhotos,
que se vendião os escravos por meio alqueire de
milho ou feijão, e tiravão as mãis os filhos de ai, e os vendião a troco de
mantimentos, dizendo que mais valia viverem, ainda que cativos, que não
morrerem á pura fome. E da Ilha do Cabo
Verde hião todos os anos carregados de cavallos e de outras mercadorias a este
resgate.Succedeu neste reino o Rei chamado
Budumel Bixirim, o qual não bebia vinho nem
comia carne de porco. Este residia
continuo na sua côrte de Lambaya, longe do mar, o fazia máos pagamentos aos nossos, e recolhia nos seus portos os
Francezes, e folgava com elles; e por essa causa deixarão os moradores da ilha
esse resgate, o qual está occupada hoje mais de lnglezes que de Francezes, por
serem mais poderosos e botarem do resgate os Francezes; aos quaes, huns e
outros, dão despacho muitos Portuguezes nossos, e alguns eslrangeiros, que
estão de assento no porto de Joala, terra dos Barbacins, do Reíno do Ale-Embiçane.
E estes Portuguezes são os que dão despacho aos lnglezes
e Francezes, adquirindo-lhes os despachos de rio
em rio, e muitas legoas pelo sertão.
E todos os annos tirão os lnglezes e Francezes muita somma de couros vaccuns e
de bufaros e gazelões, e outros animais chamados no Rio de Gambia, Dacoy; o qual dizemque he a
verdadeira anta; e assim muito marfim, cera, gomma, amber, algalcai e ouro,e outras cousas;
tratando com ferro e outras mercadorias que trazem de lnglaterra e França; e andão estes nossos Portuguezes lançados muito mimoso a destes ímigos. E o dia de
elles receberem as pagas e entregarem as suas mercadorias, lhes dão os Inglezes
em terra banquetes, com muita musica de violas d’arco e outros instrumentos
musicos; e por esta causa estão
estes resgates de toda esta costa do Cabo Verde até ao Rio de Gamba perdídos. E não
tratão nelles senão estes lançados com
os imigos, os quaes tem companhias no Rio de S. Domingos e no Rio Grande com os que nelles habitão,
para onde mandão o ferro e o mais que hão, e deles lhes vem os despachos para
despacharem aos imigos; e se não forão estes Portuguezes lançados, não tiverão
estas duas nações tanto trato em Guiné nem commercio como tem hoje, porque o
gentio nao tem habilidade para lhes dar tão largos despachos;
pois havendo-os da mão delles não erão importantes po não navegarem
nem trazerem as mercadorias do sertão senão de muito perto, por onde não podião
dar senão muito pouco despacho. Hoje atravessão
estes Portugueses lançados todos os rios o terras dos negros, adquirindo tudo o
que achão nellas para estas náos de seus amigos, em tanto que ha homem nosso que se metteo pelo sertão até o Reino do
Gran-Fulo, que são muitas legoas, e delle manda muito marfim ao rio do Sanagá,
onde mandão tomar as náos que estão na Angra pelos seus pataxos. Este
lançadoPortuguez se foi ao Reino do Gran-Fulo por ordem do Duque de Casão, que he hum negro poderoso que habita neste porto pelo
rio de Gambia acima 60 legoas do mar. Este
o mandou por sua ordem com gente sua e na corte do Gran-Fulo se casou com huma
filha sua, da quial teve huma filha, e, querendo se tornar
para os portos do mar lhe deu o sogro licença que a trouxesse comsigo, e
chama-se JOÃO FERREIRA, natural do Crato, da naçao, - e chamado pelos
negros o GANAGOGA, que quer dizer dizer
na lingoa dos Beafares, homem que fala todas as lingoas, como defeito falla a dos
Negros, e póde este homem atravessar todo o sertão do nosso Guiné de quaesquer
negros que seja. E com estas ajudas dos lançados vão accrescentando neste trato
de Guiné os imigos, e se vai de todo acabando o que
com eles tínhamos.
MARTIM
TAVARES,
Casado com Joana Ribeiro, filha de Mem Ribeiro de Almeida Falecido (1595)
Recebedor da feitoria, trato e dos quartos e vintenas da ilha de Santiago
(1589-1595) – Nomeado por ter casado com Joana
Ribeiro
☻ Em 1589, foi colocada ao inquisidor geral a questão
de como comportar-se com os portugueses que “tratam misticamente com
feiticeiros gentios”. A resposta fornecida marcou uma viragem no último,
atormentado, decênio de Quinhentos: Acerca das pessoas que consultam os pagodes
dos gentios, e lhes offerece[m] ofertas e presentes, e tratam com os bramenes e
feiticeiros gentios, que se inquira meudamente dellas e, sendo suas culpas de
modo que pertençao ao Santo Officio por serem notoriamente heresias, ou que
sapiant haeresim manifeste, se castiuem conforme a ellas com o rigor e
severidade que os casos requerem, e achando que pertencem somente ao ordinario,
e não ao Santo Officio, os poderão remetter […].
1590
Em 1590, Almada afirma
que "a povoação dos nossos (Cacheu)
está habitada de muita gente, e há quaresma em que se confessam 700 e 800
pessoas entre brancos e pretos e não falta mais que por S. Magestade justiça
nela querendo-a fazer vila" (ALMADA, 1946: 46).
Logo
após a fundação da "praça" (como se passou a dizer depois), os negros
tentaram atacá-la, mas os seus habitantes foram avisados por "duas negras
ladinas da própria terra, que de noite secretamente vieram ter ao forte e
habitação dos nossos, e disseram o que determinavam fazer os negros". Com isso, puderam os portugueses
defender-se e, dos cerca de 10.000 negros que se lançaram contra eles, muitos
foram mortos, sendo que do lado dos portugueses não houve nenhuma baixa (p.
45).
Após o combate, sobreveio uma relativa
tranqüilidade à praça de Cachéu. A tal ponto que o próprio "rei Chapala,
que é o principal deste Rio, todas as vezes que se acha na aldeia dos nossos,
estando clérigo nela, todas as vezes que se diz Missa a ouve com muita
quietação, fazendo o sinal da Cruz, e benzendose..." (ALMADA, 1946: 46). O
rei da aldeia vizinha, dos sapes, "é Cristão: chama-se VENTURA DE SEQUEIRA; sabe ler e
escrever por se criar na Ilha de Santiago". E o que é mais, "os mais
negros da sua Aldeia são Cristãos; os meninos que nela nascem a todos manda
baptizar, e todas as noites se ensina a doutrina Cristã em sua aldeia em voz
alta, onde também acodem alguns filhos de negros ladinos da terra, posto que
não sejam Cristãos" (p. 47).
HENRIQUE
PEREIRA TENÓRIO
(Funchal, 1562 - Amesterdão, 1624)
Filho de António Pereira e de Maria Rodrigues,
Henrique era advogado, formado na Universidade de Coimbra, mas também um importante
negociante estabelecido em Lisboa. Os seus avós matemos eram Manuel Rodrigues e
Maior Fernandes. Do lado do pai, era neto de Inigo Lopes. Na sessão de
genealogia do seu Processo inquisitorial (13 de Julho de 1601), Henrique disse
ser apenas cnstão-novo por parte da família materna.
Do lado da sua mãe, referiu três tios:
Jorge Rodrigues, morador em Pernambuco; Duarte Rodrigues, escrivão em Tânger; e
António Rodrigues, boticário da Rainha. Naquele momento, tinha apenas quatro
irmãos vivos: Agostinho Pereira,
mercador nas lndias de Castela e na Guiné;Maior Rodrigues, casada com Gaspar
Lopes Homem e mãe de Manuel, António e Francisco Lopes Pererra e de Justa Pereira (b); Ana Rodrigues e
Isabel Pereira, ambas solteiras e residentes na casa de Henrique.
Quanto aos irmãos já falecidos em 1601,
Henrique mencionou: Diogo Lopes Pereira, mercador na ilha da Madeira· Manuel
Pereira, residente em S. Miguel; Simão
Fernandes, falecido na Guiné; e Justa Pereira, esposa de António Mendes
Fidalgo e mãe de Afonso e Rodrigo Fidalgo e de Diogo Mendes Fidalgo.
Era casado com Maria Rodrigues e à data do seu
processo inquisitorial, ainda não tinha filhos. Henrique liderava urna rede de comércio internacional ligada ao trato
de açúcar, escravos e outros géneros comerciais, constituída, principalmente
pelos sobrinhos Afonso, Rodrigo e Diogo Mendes Fidalgo. Efectuava a maioria
das transacções a partir de Lisboa, enviando vinhos para Pernambuco e comprando escravos para serem trocado por
açúcar. Henrique responsabilizava o sobrinho Afonso pela aquisição do
açúcar. Serve de exemplo a transacção desta mercadoria registada numa carta que
o biografado enviou ao sobrinho, a 8 de Maio de 1595. A carta deveria ser
entregue a Manuel Lopes Homem, contratador de Amesterdão, caso Afonso estivesse
impossibilitado de a receber. A 10 de
Março de 1601 Henrique Pereira Tenório foi preso pela Inquisição de Lisboa.
Residia, então, naquela cidade, junto às Pedras Negras. Alguns dos seus
parentes já haviam sido apanhados nas malhas da inquisição, como eram os casos
das irmãs Maior Rodrigues, Ana Rodrigues e Isabel Pereira e do sobrinho Afonso
Fidalgo. Henrique foi acusado de tentar promover a fuga do cunhado Gaspar Lopes
Homem e dos sobrinhos. Sebastião Dias, mestre da embarcação em que se daria
essa fuga, contou como tudo se processara. No dia 11 de Março de 1601, fora
contactado por António Rodrigues, tendeiro cm Lisboa, para levar, na sua
caravela, sete ou oito pessoas para fora
dos Cachopos, de onde embarcariam numa nau flamenga. O preço desse frete foi
tratado na casa de Henrique, o qual lhe deu 36 mil réis. Depois, seguiram todos
para a casa de Gaspar Lopes Homem, onde combinaram que o serviço seria feito
dali a três dias. Nessa noite, Sebastião
embarcou os tripulantes na sua caravela mas antes avisou o Licenciado Arnão da
Silveira que as foi esperar, entregando-as ao Tribunal da Inquisição. Maior
Rodrigues confessou que o seu marido, cinco dos seus filhos e doi escravos
haviam embarcado para seguir rumo à Flandres,
onde ela tinha outro dois filhos, Maria Nunes e Manuel Lopes Pereira. O seu
irmão Henrique acompanhara-os até ao embarque, tal como Francisco Nunes Homem sobrinho
do seu marido.
Henrique acabou por confessar que apenas
fora induzido pelo cunhado Gaspar a ajudá-lo. Este dissera-lhe que pretendia
partir para o Ruão e dali seguir para Roma, onde negociaria o seu perdão. O
facto de ter tratado das condições para a fuga, oferecendo 36 mil réis ao
barqueiro, foi a única culpa que Henrique confessou. De resto, apresentou a sua
defesa, alegando ter sido sempre um bom e fiel cristão. A 17 de Janeiro de
1605, beneficiou do Perdão-Geral e foi posto em liberdade
Segundo Gonçalves Mello, Henrique teria
fugido, mais tarde, na companhia do sobrinho Afonso Fidalgo, para Amesterdão,
onde viria a falecer.
AFONSO
(JOÃO) ANTUNES Natural
de Cabo Verde Possuía uma “logea” onde vivia que estava situada na Praça Velha
da dita cidade da Ribeira Grande Em 1605 encontra-se em Lisboa na casa de seu
parceiro Gonçalo de Araújo Mercador
na cidade da Ribeira Grande Procurador de moradores do reino (1590, 1596)
Parceiro de Gonçalo de Araújo, Cavaleiro Fidalgo da Casa Real e morador de
Lisboa, numa companhia comercial (1593) Constituição da Companhia de Comercio feita por Gonçalo de Araújo, Marcos de
Quintal (mercadores de Lisboa) e Afonso
Antunes (2 de Outubro de 1602)
MATEUS
MACIEL,
Casado com Beatriz Louçana, moradora
da Ribeira Grande. Mestre-cirurgião em Santiago – exerce medicina não só em
Santiago mas também nas restantes ilhas (1590) Tem como procurador no Reino a Gonçalo de Araújo (1597)
PÊRO DE
PINA Em
1590 encontra-se em Santiago Tabelião do público e judicial da cidade da
Ribeira Grande (1610) Serviu o Rei durante 20 anos nas ocasiões de rebates de
guerra (1590 - 1610)
FRANCISCO GONÇALVES DE SENA Licenciado
Em 1590 reside na vila de Mértola, no Reino Falecido (1628) Clérigo (1590) Cónego da Sé de Santiago
(1590) Em 1610 recebeu da Costa da Guiné 54 alqueires de milho Mestre-escola
(1610 - 1615) Membro do cabido da Sé de Santiago (1614-1619)
MANUEL
VAZ,
Casado com Catarina Vaz Falecido (1591)
Mercador – ”tratante do Cabo Verde” (1590, 1591) Procurador em Santiago da
viúva de Pallos Dias (1590)
FRANCISCO
MARTINS FREIRE Nasceu
em 1568 Vizinho da vila da Praia Diz que é pessoa de “qualidade” (1607) Sua
sobrinha era casada com o filho de Gaspar
Fernandes Lucas Juiz ordinário da vila da Praia (antes de 1607) Capitão na
vila da Praia (-1607 Capitão da vila da Praia (1610) – Esse cargo foi-lhe doado
por seis anos, com 40.000 reais de ordenado e com a obrigação de residir na
vila. Serve desde 1590 ao rei na ilha de Santiago – serviu na guerra que houve
contra os corsários Condenado ao degredo
para África – Foi inculpado de sendo
juiz ordinário não mandou tirar devassa da morte de dois escravos – Carta
de perdão (9 de Abril de 1607) Em 1610 recebeu 50 alqueires de milho vindos da
Costa da Guiné 1590 (c.)
MANUEL DE
ANDRADE CASTELO BRANCO, Instrucion que a V. Magestad se da, para mandar
fortificar el mar Oceano, y defender se de todos los contrarios Piratas, ansi
Franceses, como Ingleses, en todas las navegaciones de su Real Corona dentro de
losTropicos. Cargos eclesiásticos em Santiago: Ex-provisor e vigário geral,
vigário igreja colegiada da vila da Praia; carreira eclesiástica no Brasil
1591
GASPAR DIAS DE ALMEIDATabelião do público e judicial da cidade da Ribeira Grande (1591)
JERÓNIMO CORESMA Encontra-se em Santiago (1591) Casado com Guiomar Fernandes – teve
um filho, Bento, que herdou mil cruzados em móveis e dinheiro Falecido em
Santiago (1598) Mercador Mandou da
Ribeira Grande a João Fernandes Quaresma, morador em Vila Nova de
Portimão, a quantia de 50.000 reais (1591) Possuía bens na ilha de Santiago
DOMINGOS DA FONSECA, Mora rua de São Pedro da cidade da Ribeira Grande Tabelião do público e
judicial da Ribeira Grande (1591)
MANUEL VAZ, Alcunha: “do Pico” Cavaleiro Fidalgo da Casa Real Tem casa na Ribeira
Grande (1591) Tem uma casa na rua da Carreira na cidade da Ribeira Grande (onde
se joga e fazem almoedas) (151598) Morador na ilha do Fogo (1595) Sua mulher é Constância
Pais Mercador Proprietário rural na ilha do Fogo Seu procurador em Lisboa é
Gonçalo Araújo, cavaleiro fidalgo da Casa Real (1595) Procurador de
moradores do reino (1596, 1602, 1606) Vendeu em nome de João Carvalho
Pereira, fidalgo de geração, vários escravos por 83.000 rs. (1605)
1591/03/25
«Braz Soares de Melo - nomeado capitão geral em 25 de Março de 1591, com o
mesmo ordenado, foi o primeiro capitão que tomou posse na Câmara da Ribeira Grande.» João Barreto
1591/03/26
1591 BRÁS
SOARES DE MELO, capitão-corregedor de Cabo Verde Apontamentos de Bras
Soares capitão do Cabo Verde Capitão e Governador-geral de Cabo Verde desde
26 de Março de 1591.Exercia então o cargo de capitão-geral Brás Soares de Melo,
o segundo fidalgo designado para o efeito, desde que em 1587 fora criada esta
figura cimeira da administração régia insular
1592
O atraso, no entanto,
não excederia ao tempo do segundo governador. Seguindo a vontade régia, manifestada em 1592, de, daí por diante, deverem as cousas de justiça correr pelos ouvidores
mandados do Reino e não mais pelos corregedores (1), antes do findar da
década o designio já começaria a ser cumprido. Primeiramente com a feitura,
levada a efeito pelo próprio capitão-governador,
de MANUEL DIAS DA CALHETA – cavaleiro fidalgo da Casa Real e morador de
Santiago – “Ouvidor em todas estas ilhas
do Cabo Verde e limites de Guiné” (2). Logo depois, com a instituição de
letrados para o mesmo cargo, a partir da nomeação do bacharel LUIS ÁLVARES DA NÓBREGA (3).
Também
o mandato destes últimos, tal qual o dos capitães-governadores, estava previsto
para um triénio “e além deles o que mais eu houver por bem” (4). Começariam
com duzentos mil réis anuais, à custa da Fazenda real (5), contra os
trezentos mil que teriam aqueles (6).
(1) - ANTT, CC, I-112 –131, in Brásio, MMA, 2ª série, vol. III, doc. 83, 18-Out-1592. O que se pode
ler, literalmente, nesta carta d’el-Rei
ao capitão-governador BRÁS SOARES, é o seguinte: “hei por bem que por
ora se escusem nessas ilhas Corregedores, e que a administração das cousas da
justiça corra por vós e pelo ouvidor que servir convosco, que se vos enviará
deste Reino”.
(2) - ANTT, CC, II-290 - 210, in Brásio, MMA, 2ª série, vol. III, doc. 105, 10‑Jun‑1598.
(3) - ANTT, Chanc. D. Filipe II, Doações, liv. 18, fl. 110, 02-Mar-1606.
(5) (4)370 - Ibidem.
(6) - ANTT, Chanc. D. Filipe I, liv. 12, fls. 333 vº - 334 vº, in Brásio, MMA, 2ª série, vol. III, doc. 59,
07-Ago-1587.
1593
«O
jesuíta espanhol Luís de Molina, que foi professor em Coimbra e Évora de 1563 a
1583, desenvolveu, no seu livro De justitia et jure (primeira
edição publicada, em Cuenca, entre 1593 e 1609), urna
teoria geral do Direito, tendo em atenção os problemas jurídico-económicos do
seu tempo. Nesse sentido, não lhe escapa a questão da
escravatura, que, também ele, admite ser justificável em certas circunstâncias
que não diferem muito das de Mercado: prisioneiros em guerra justa; pena por delito
grave; venda de si mesmo por um adulto consciente e livre;
por nascimento.
Em contrapartida,
considera que o tráfico de escravos (de que se informara bem em Portugal quando por cá
andara) era injusto e ilícito e que aqueles que se dedicavam ao dito
negócio, vendedores e compradores, estavam em pecado mortal, sujeitos, por
isso, à condenação eterna.»
ESCRAVOS
E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS, O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos
xXV a XIX, Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera do Livro, Lisboa, 2013, pg. 43
Conclusão das obras de construção da fortaleza real de São
Filipe da Ribeira Grande, ilha de Santiago
JOÃO
RODRIGUES DA COSTA
Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1604-1615) Escrivão da
fazenda e feitoria real da ilha de Santiago (1610, 1612) Oficial da Câmara da
Ribeira Grande (1616) Juiz da Câmara da Ribeira Grande (1619) Escrivão do
almoxarifado da Ribeira Grande (1624, 1634) Serviu durante 18 anos em Santiago
(desde 1593) – serviu com suas armas e cavalos nas ocasiões de guerra Recebeu
da Costa da Guiné 133 alqueires de milho (1610) Mordomo da confraria Santíssima
Trindade (1612)? Irmão da Casa da Misericórdia da cidade da Ribeira Grande
(1619) Escreveu várias cartas juntamente com o padre jesuíta Sebastião Gomes ao padre Diogo Veloso (1624)
JOÃO
PAULO FRANÇA Natural
de Veneza Casou em Santiago. Prestou serviços em Cabo Verde e noutros lugares
durante dezoito anos como bombardeiro e em outros cargos de guerra (desde 1593)
Bombardeiro na fortaleza de Santiago (1611) Artilheiro na ilha de Santiago –
Pede ao Rei para ter "/…/ escola de artilharia na ilha afim de nela
ensinar como se hão de fazer os repairos /…/" (1616) Condestável de
artilharia de Cabo Verde (1618)
MANUEL
FERNANDES DE LEÃO
Foi para Santiago em 1593 Um dos herdeiros do Padre António da Guarda (1597) Em 1597 encontra-se em Lisboa
Tesoureiro das fazendas dos defuntos e ausentes de Santiago (1593, 1597)
ANTÓNIO
DA COSTA
Filho de Garcia de Andrade Falecido
(1598) – Morto por Manuel Lopes durante
uma briga Escrivão do almoxarifado da ilha de Santiago (1593-1598)
1594
«Já em 1594 os portuguezes
residentes na Guiné andavam associados com francezes e inglezes, sendo causa
d'isto «o terem os porluguezes de cá deixado de ir áquelle resgate» como diz
Alvares de Almeida. Por longo tempo
acreditaram os portuguezes, que só pretos se podiam exportar da Guiné; e,
em quanto nós pensávamos assim, outros tiravam d'aquelle território oiro,
marfim e outras mercadorias valiosas. D. Pedro II, no intuito de acudir a este
estado de decadência do commercio portuguez na Guiné, creou a Companhia de Gacheu e Cabo Verde, a que
a fazenda emprestou 200:000 patacas para
a exportação de escravos destinados ás colónias hespanholas. Esta ephemera
creação de uma economia barbara, fundada sobre a escravatura e o monopólio,
extinguiu-se em poucos annos.»
Tratado breve dos Rios
de Guiné do Cabo Verde des do Rio de Sanaga ate os baixos de Santa Anna de todas
as nações de negros que ha na ditta costa e de seus costumes armas trajos
juramentos g[u]erras feito pelo capitão (…) natural da Ilha de Santiago de Cabo
Verde prático, e versado nas ditas partes.
Estudos
Sobre as Províncias Ultramarinas, por JOÃO DE ANDRADE CORVO, Volume I, LISBOA,
POR ORDEM E NA TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS, 1883, pg.50
O Bispo de Cabo Verde desde 1588, o
frade carmelita D. FREI PEDRO BRANDÃO,
já se retirara para Lisboa em 1594 devido a desinteligências com as autoridades
administrativas. Em certa altura, o
Governador LOBO DA GAMA pretendeu substituir na Catedral a cadeira do Bispo
pela sua, o que foi recusado pelo Cabido. Este acabou mesmo por se retirar para
outra igreja distante três léguas da cidade de Ribeira Grande, onde o
Governador os cercou. Por essa razão foi rendido. Entretanto, só resignou a
mitra mais de 10 anos depois de ter abandonado a sede do bispado, em
22.12.1606, sob ameaça do rei lhe suspender os rendimentos. Faleceu a
14.06.1608 no convento do Carmo. Durante um período de quase 15 anos, a diocese
permaneceu sem bispo.
GOMES DE
ABREU CARVALHO Tabelião
do público e judicial da cidade da Ribeira Grande (1594)
ROQUE
LOPES CASTELO BRANCO,
Natural da ilha de Santiago Esteve no Rio Grande, Costa da Guiné, onde matou um elefante a facada. Sobre isso André Alvares de Almada diz o seguinte:
“Não deixarei de dizer aqui o que aconteceu a hum Roque Lopes de Castelo
Branquo, natural da ilha de Santiago, o quall indo por este rio abaixo em hua
barca, passavão dous helefantes da terra de Bisegue pera Biguba a nado; elle os
foi seguyndo com a barqua he chegando perto se botou a nado com hua faqua
grande nas mãos, se pos sobre hum delles e lhe foi dando com a faqua, e abrindo
com a furia do ferir... e com a matinada que fizerão os da barqua hacodirão
muitos negros hao longo do Rio e ajudarão a matar o ellefante em que elle
hia...e o outro ellefante se foi. Era esse Roque Lopes Castelo Branco tão
valente homem e esforçado nas armas, que ho chamavão os negros daquellas partes
sopracanta, que quer dizer raio...”
(1594)
DOMINGOS
DINIS
Vizinho da vila da Praia Casado com Isabel
de África Falecido na Praia (1596) Barbeiro e cirurgião Procurador de
moradores em Lisboa (1594)
PÊRO
LOPES,
Alcunha: o Velho Tem sua pousada na Rua do Calhau da Ribeira Grande 1608) Irmão
de Margarida Lopes e de Diogo Lopes Ferro, moradores de Lisboa.
Mercador – Tem uma “logea” na rua do Calhau Procurador de moradores do reino
(1594) Testamento (±1595-1597) Recebeu da Costa da Guiné 40 alqueires de milho
(1610)
PÊRO
AFONSO DE LUBO
Contador, inquiridor na cidade da Ribeira Grande e seus termos (1594)
DOMÍNICO
SPÍNOLA DE SEQUEIRA
Nasceu ±1574 Natural de Cabo Verde Sua mãe “viúva velha” vivia em Cabo Verde.
Milícia Serviu o Rei, em Cabo Verde, com suas armas e cavalos Condenado a 2 anos de degredo para África
por ter dado uma bofetada a João Fernandes, homem do mar Carta de perdão (1594)
MANUEL
RODRIGUES VARELA
Natural de Cabo Verde Filho de um homem nobre “O Cónego” (1614) Cura na Igreja
de São João da ilha de Santiago (1594-1606) Pede a conezia vaga na ilha de
Santiago (1606) – “/…/ se diz que na see da ilha de Cabo Verde esta vaga hua
Conesia, e que a pede Manuel Roiz Varela, que consta aver mais de doze anos que
serve de cura na Igreja de São João, e em outras daquele Bispado, e que he
filho de um nobre, e se diz que o Cabido da ditta see por cartas que escreve em
seu favor a V. Mag. diz que he pessoa de bom exemplo /…/” Cónego da Sé de
Santiago (1607-1619) Membro do Cabido de
Santiago (1614-1619) Secretário do Bispo (1619)
ANDRÉ
ÁLVARES DE ALMADA,
Capitão [prático dos Rios de Guiné]
Em 1594 escreveu André
Alvares d'Almada o melhor livro até hoje conhecido, sobre a Guiné, ao qual deu
o título de Tratado breve dos Reynos de Guiné e Cabo Verde.
Dedicou esse livro aos
governadores do Reino, e estes mandaram-no ao bispo D. Fr. Pedro Brandão, que
estava em Lisboa, para que o examinasse e desse o seu parecer, o qual
testemunhou numa carta ser digníssimo da luz pública. Só logrou vê-la
em 1733, embora a impressão do tão precioso trabalho saísse totalmente diversa do estilo e
ordem primitivos, como facilmente se pode verificar pelo manuscrito existente
na Biblioteca de Lisboa. Além do titulo, que foi todo alterado, ainda lhe
trocaram o apelido ÁIvares por Gonçalves.
1594/10/26
«Uma carta da Mesa da Consciência e Ordens aos Governadores
de Portugal, com a data de Lisboa, 26 de Outubro de 1594,
refere-se aos visitadores das partes da Guiné, que o bispo de
Cabo Verde manda visitar e sacramentar, os quais se recusavam a absolver, no foro da consciência, sem primeiro pagarem cinco cruzados de pena, as pessoas que confessavam terem tido ajuntamento
carnal com gentias. Semelhante atitude considerava-se
reprovável. Queixa idêntica, repete-se
em
carta
régia
de 3 de Abril de 1595, dirigida aos Governadores
de
Portugal. Cf. P. ANTÓNIO
BRÁSIO, Op. cit., 2.ª série, vol. III, pp. 226 e 379.»
Henrique Pinto Rema, As primeiras missões da Costa da Guiné, Boletim Cultural da Guiné
Portuguesa, Vol. XXII, N.os 87-88, Julho-Outubro 1967
1595
Mercadores portugueses asseguram, até 1640, o asiento, o
fornecimento exclusivo de escravos à América Espanhola.
Em 1595, o
carmelita Cipriano denunciou, à Inquisição de Lisboa, HENRIQUE LOPES, mercador
cristão-novo activo no porto de Cacheu, então vivo centro do comércio de
escravos na costa da moderna Guiné-Bissau. Acusava-o
de ter vendido ao soberano não cristão da vizinha Bichangor um escravo negro
depois de o fazer baptizar.
BALTAZAR
MONTEIRO, Serviu 12 anos nas armadas do Reino como soldado
bombardeiro e condestável. Foi ferido pelos ingleses na “briga que com eles
teve D. Afonso de Noronha o ano de
95 na armada de que era capitão-mor o Conde
da Feira” (1595) Condestável da fortaleza de São Filipe da Ilha de Santiago
(1605)
FERNÃO
NOVAIS DE QUEIROGA Nasceu de 1562 Reinol Irmão de Baltazar de Macedo e de Faustino
de Macedo Em 1597-1598 encontra-se no reino Encontra-se na Corte de Madrid
“servindo nos negócios do santo ofício” (1598) Em 1604 encontra-se novamente no
Reino Clérigo de missa Tesoureiro mor da Sé de Santiago (1595, 1597) Denuncia à
Inquisição em Lisboa como cristãos novos
a moradores de Cabo Verde e da Guiné Manuel
Nunes, Nunes Francês da Costa
(1596) Vigário e tesoureiro da igreja de N. Sª do Vencimento do Rio de São
Domingos, porto de Cacheu (1590-1600) Capelão e tesoureiro da Sé de Santiago
(1602) Promovido a vigário de S. Miguel de Sintra (1605)
JERÓNIMO COELHO, Residia, em 1611, no interior de Santiago, apesar de
ser vereador da Câmara da cidade da Ribeira Grande (1611) Almoxarife e Provedor
da Fazenda Real em Santiago (1595, 1599) Vereador mais velho da Câmara da
Ribeira Grande (1611) Procuração passada por Amador Gomes Raposo a Fernão
de Almeida, Francisco Lopes Carrilho
e Filipe Unhão, moradores na ilha de
Santiago, para ai receberem tudo o que lhe deve, por sentença régia, Jerónimo
Coelho, almoxarife da dita ilha (1599)
ANTÓNIO
LOPES FERREIRA Cunhado de Vera da
Cruz de Cabedo, moradora de Santiago Meirinho do eclesiástico do Bispado da
ilha de Santiago (1595)
MARCOS
DE QUINTAL Reinol Em 1595 vai para Santiago Em 1604 encontra-se em Lisboa
Cirurgião (1595) Mercador - Fez uma companhia comercial com Gonçalo Araújo que tinha como objectivo
enviar mercadorias para João Antunes
em Santiago que as negociava, devendo o lucro ser dividido entre os três. Cada
um dos constituintes entraria para a companhia com 450.000 rs., ficando o
capital social no valor de 900.000 rs., entrando João Antunes com o trabalho. A companhia devia durar 5 anos
(1602-1607) Em 1604 Gonçalo de Araújo,
por ter de se ausentar do reino trespassa a Marcos de Quintal a sua parte pelos mesmos 450.000 rs. e mais 50%
dos lucros já obtidos (1604)
AMBRÓSIO
RIBEIRO, Escrivão do tesoureiro das fazendas dos defuntos e do
mamposteiro mor dos cativos da ilha de Santiago (1595)
PÊRO
NUNES TEIXEIRA Casado com Luísa Viegas Falecido (1609) Escrivão da
correição e chanceler das ilhas de Cabo Verde (1595-1604) Preso em Lisboa na
cadeia da Corte (1604)
FRANCISCO
FOGAÇA, Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1595)
«Amador Gomes Raposo - que era corregedor de Sant'Iago,
acumulou interinamente o cargo de
capitão geral com a retirada de Braz Soares» João
Barreto
No contexto da Dinastia Filipina (1580-1640), a partir de 1595 o
apoio à navegação feito aos arquipélagos de Cabo Verde e de S. Tomé e Príncipe
relevou para segundo plano a habitual escala na ilha da Palma (Goreia). Desse
modo, a presença portuguesa na ilha continuou, mas com menor interesse..
1596
Mais
outro corsário britânico, Anthony Shirley (nascido em 1565, foi
filho segundo de um nobre britânico (Sir Thomas Shirley) que as circunstâncias
de herança atiraram para uma vida aventureira e de viajante, levando-o a
combater em diferentes expedições (Países Baixos, Normandia, Navarra,
Mediterrâneo) em busca de fortuna. Em 1596, conduziu uma campanha de pilhagens
na costa ocidental africana, passando então pela Ribeira Grande, dirigindo-se
depois para a América Central – aí, foi surpreendido pelo motim dos seus
marinheiros, vendo-se compelido a regressar a Londres apenas com um único dos
seus navios. Em 1605, passou para o serviço da coroa de Espanha, tendo sido
nomeado almirante – depois de algumas campanhas desastrosas, foi destituído.
Morreu em Madrid em 1635.), ataca a
cidade de Santiago.
☻ As primeiras casas da
povoação foram erguidas para os “nossos” se alojarem, após a construção
do forte de CACHEU por volta de
1587-88. Além do forte e das casas, entre 1596-1065,
observamos que se procedeu à construção
da igreja de N. S. do
Vencimento
e de outras estruturas associadas aos ofícios religiosos: capela, coro,
sacristia, pátio e casa sobradada.
ANTÓNIO VAZ CAMELO Almoxarife da ilha de
Santiago (ant. de 1596)
ASCENSO CARVALHO, Sargento-mor na ilha
de Santiago (1596)
DOMINGOS LOPES, Cirurgião (1596)
Procurador de moradores em Lisboa (1596)
DOMINGOS LEOTTE MERULLO Nasceu em 1549 Natural de Mecina - Reino da Sicília Doutor em medicina
pela universidade de Piza Encontra-se em Cabo Verde desde 1596 Solteiro Cristão
velho Denuncia Francisco Lobo da Gama, capitão e governador das Ilhas de Cabo
Verde – acusa-o de querer mandar
no eclesiástico. Refere incidentes entre o capitão e o clero (1601) Pede o
ofício de recebedor da fazenda real da ilha de Santiago (1607) Físico italiano
– Cirurgião médico municipal da cidade da Ribeira Grande – com ordenado da
Câmara (1596 – 1601) Proprietário em Santiago - Passa procuração a moradores de
Santiago para poderem vender todos os seus haveres, escravos, cavalos, animais
excepto duas escravas, e cobrar dívidas, tanto na ilha como na Guiné (1601) Procurador de mercadores
portugueses e castelhanos em Santiago (1602, 1604) Pede o cargo de sargento-mor
da ilha de Santiago (1607)
JOÃO RODRIGUES DA ROCHA Falecido antes de 1624
Tabelião do judicial e notas da cidade da Ribeira Grande (1596-1599) Em 1610
recebeu da Costa da Guiné 20 alqueires de milho Sua filha, afilhada de Diogo Ximenes Vargas, recebeu deste
último 80.000rs. (1623)
FILIPE DE UNIÃO Nasceu em 1553
Falecido (1610) Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1600, 1601)
Procurador de moradores no Reino (1596, 1599)
ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA
Como
capitão de uma companhia (actividade que também o seu pai já exercera), Almada
prestou serviços relevantes à Coroa. Em resultado destes já era
cavaleiro-fidalgo da Casa Real em 1591 (1). Em consequência de serviços não especificados e, sobretudo, na defesa
de Santiago contra um ataque inglês em 1596, foi agraciado por Filipe III (II),
em 1599, com o hábito da Ordem de Cristo efectivamente recebido c. 1603.
Para isso terá contribuído também a circunstância do seu pai ter recebido o
hábito da Ordem de Santiago. Os cavaleiros de Cristo recebiam uma tença para
manter condignamente o seu estatuto e tinham alguns privilégios nomeadamente no
domínio jurídico, mas o hábito de Cristo era, acima de tudo, uma distinção
honorífica muito importante. Aquela insígnia que era, então, bem mais
relevante, que a de Santiago (2), daria a Almada algum do prestígio e
aceitação social que ele desejaria obter nos meandros políticos da sociedade
“branca” de Lisboa. A ela se tinha deslocado antes de receber o hábito, nos
anos 90, altura em que, para fazer vingar os seus pontos de vista sobre os
problemas da Guiné, terá dado forma final ao seu tratado.
Almada
era mulato e era raro o hábito de Cristo ser concedido a mulatos (15): para tal
tinha que ser provada a “pureza” do “sangue” e no caso de origem gentia
(categoria que incluía o “sangue negro”) era necessária dispensa régia para
ultrapassar esse “defeito” (o termo é coevo) (3). No contexto ibérico,
remontando aos séculos XIII-XIV, todos os infiéis que não fossem nem Judeus,
nem Mouros eram classificados, genericamente, como Gentios. Muitos dos
africanos negros eram integrados nesta categoria antropológica. No entanto, o
Negro, mesmo muçulmano, era considerado da geração de Gentios (4). À
luz dos dados conhecidos, Almada poderá ter sido o primeiro mestiço de Cabo
Verde a receber o hábito (5)
(1) Cfr. ANTT, Cartório
Notarial de Lisboa, nº 3 [antigo nº 11], livro de notas nº 9, 14 de Setembro de
1591 (cota apud Iva Cabral,
“Política e sociedade…”), fl. 66.
(2) Cfr. por outros,
Francis Dutra, “The Order of Santiago and the Portuguese Atlantic Islands:
1492-1777”, Portos, Escalas e Ilhéus
no relacionamento entre o Ocidente e o Oriente. Actas do Congresso
Internacional Comemorativo do Regresso de Vasco da Gama a Portugal (Ilha
Terceira e S. Miguel, 11-18 de Abril de 1999), S. Miguel, Universidade dos
Açores — CNCDP, 2001, 2 vols., vol. II, pp. 257-277, p. 257.
(3)Segundo
Fernanda Olival (Universidade de Évora) em comunicação pessoal, baseada na
investigação sistemática que tem desenvolvido sobre a Ordem de Cristo nos séculos XVI e
XVII. Os dados suplementares (que vão além das referências já publicadas)
relativos a homens ligados à Ordem de Cristo que aqui se utilizam foram
facultados pela autora, a quem, mais uma vez agradeço. Nas listas de oficiais
régios de Cabo Verde até 1562, compiladas por Ângela Domingues e Iva Cabral
(“Apêndice. Quadro de oficiais régios até 1562”, HGCV, I, pp. 431-446), nenhum hábito de Cristo é mencionado.
Segundo a longa lista de “vizinhos” da Ribeira Grande publicada por Iva Cabral
(cfr. “Vizinhos…”, HGCV, II), que cobre o período seguinte até 1648, Almada é o
primeiro mulato a receber o hábito de Cristo. Só em 1638 dois outros nativos de
Cabo Verde o recebem. De um deles, possivelmente um mulato, D. António de
Moura, apenas sabemos que teve a mercê do hábito; sobre o outro, Baltazar
Teixeira Cabral, que de facto o recebeu (para a diferença entre a mercê do
hábito e a sua efectiva recepção, ver a nota infra), não temos informação sobre as suas origens. O mesmo se
aplica a um terceiro homem, João Sanchez, cavaleiro da Ordem de Cristo
(mencionado como tal em 1579). Na lista do alto-funcionalismo da ilha no mesmo
período, compilada por Zelinda Cohen (cfr. “Funcionários cimeiros da
administração das Ilhas,” HGCV,
II, pp. 511-512), apenas o Capitão Governador Francisco Vasconcelos da Cunha,
um reinol, contemporâneo de Almada, foi também cavaleiro da mesma ordem. Mas
Almada provavelmente recebeu o hábito das mãos de um governador anterior,
Fernão de Mesquita de Brito (reinol), o qual, segundo um documento de c. 1603
(um dos pub. por A. Brásio sobre Almada), foi cavaleiro de Cristo pois era a
única pessoa em Santiago que podia investir Almada na mesma dignidade. Todos
estes elementos disponíveis mostram bem o grande significado social do estatuto
de Almada.
(4) Em muitos casos o
hábito podia ser concedido pelo rei mas não ser efectivamente recebido, dado
que a Mesa da Consciência e Ordens, o orgão que, depois de consultado o
monarca, decidia estes casos, verificava as origens “raciais” (Judeu, Mouro,
Gentio, etc.) do requerente. Cfr. Fernanda Olival: "Para um estudo da
nobilitação no Antigo Regime: os cristãos-novos na Ordem de Cristo
(1581-1621)" in As Ordens
Militares em Portugal: actas do 1º Encontro sobre Ordens Militares,
Palmela, Câmara Municipal de Palmela, 1991, pp. 233-244 (cfr. a dispensa régia
para sangue “gentio”, pp. 234-235); idem,"A Ordem de Cristo e a sociedade
portuguesa dos séculos XVI-XVIII", D.
Manuel I a Ordem de Cristo e a Comenda de Soure. V Centenário da subida
ao trono de D. Manuel. Actas ,
Soure, CNCDP, Câmara Municipal de Soure, 1997, pp. 11-18 e Francis A. Dutra,
"Blacks and the search for rewards and status in seventeenth-century
Brazil", Proceedings of the
Pacific Coast Council on Latin American Studies. "Revolution in the Americas", vol. VI, 1977-1979,
pp. 25-35.
(5) Sobre este assunto,
cfr. François de Medeiros, Judaïsme, Islam
et Gentilité dans l'oeuvre de Raymond Lulle, dissertação zum Erlangung
der Doktorwürde der Evangelisch - Theologischen Fakultät der Universität
München, 1976, pp. 170-177; José da Silva Horta, "A imagem do Africano
pelos portugueses…”, in O Confronto do
Olhar…, pp. 43-70 e idem, A
representação do Africano…, principalmente pp. 258-259.
(6) Tendo
em conta o contexto histórico de Santiago, esta é a conclusão mais provável a
partir dos dados disponíveis. Isto apesar de não nos terem chegado os livros de
Chancelaria da Ordem de Cristo para os anos de 1551-1571, 1578-1582 e
1599-1607, lacunas não exaustivamente supridas pelos livros de matrículas dos
cavaleiros (informação pessoal de Fernanda Olival).
1596/05/15
«Francisco Lobo da Gama - nomeado
por carta de 15 de Maio de 1596. Por carta régia de 7 de Junho de 1596 foram alargadas as atribuições dos capitãis-generais, sendo-lhes facultado prover
os cargos vagos.» João Barreto
1597
Manuel Dias Calheta - nomeado
em 1597, ouvidor como os
outros que lhe seguiram.
Data provável do início de FRANCISCO LOBO DA GAMA no exercício do cargo de capitão e
governador-geral de Cabo Verde
FILIPE DA COSTA Cavaleiro fidalgo da
Casa Real Cunhado de Francisco da Cunha Falecido (1603) Almoxarife da ilha de
Santiago (1597-1603) Estivera em Lisboa aquando do ataque dos ingleses e
servirá no ano anterior de pagador da gente de guerra da vila de Cascais e da
de Cavalo de Lisboa (?) Procurador de moradores de Lisboa em Santiago (1597)
FRANCISCO DA CUNHA Cunhado de Filipe da Costa Feitor do contrato da
ilha de Santiago (1604) Procurador de moradores de Lisboa em Santiago (1597)
Tem procurador em Lisboa e em Valhadolid (1604) Feitor em Santiago de Luís Fernandes Gramaxo, Luís Rodrigues de Paiva e Francisco
de Paiva – ficou de entregar 120 peças de escravos para serem levados para
Cartagena, onde cada peça custava 6.000 reais (1604) Recebeu 78 alqueires de
milho da Costa da Guiné (1610)
FERNÃO DE LEIRIA Almoxarife da ilha de
Santiago (de Dezembro de 1597 até meados de 1598)
DIOGO RIBEIRO Nasceu em 1575 Reinol
Filho de Mateus Ribeiro Em Janeiro
de 1597 ainda está em Lisboa Encontra-se em Lisboa (1601) Alcaide do mar da ilha
de Santiago (1597 – 1601) Seu pai, falecido em 1592, deixa-lhe 420.000 rs. em
dinheiro, mas como ele era menor na data do falecimento de seu pai (1589), Estêvão Luís foi nomeado seu tutor com
a obrigação de o agasalhar em sua casa, alimentar a custa dos 420.000 rs. e a
custa dos rendimentos das casas que deixou em Lisboa
MANUEL RIBEIRO, Nasceu em 1574
Morador na rua de Calhau na cidade da Ribeira Grande Herdeiro do padre António da Guarda (1597) Recebe
131 alqueires de milho da Costa da Guiné (1610) Boticário (1614, 1616)
Procurador de mercadores de Lisboa (1615)
MANUEL TEIXEIRA, Tesoureiro das
fazendas dos defuntos e ausentes das ilhas de Cabo Verde e Rios de Guiné (1597,
1604)
1598
Primeira
acção conhecida de corsários holandeses nas águas de Santiago, atacando e
saqueando a Ribeira Grande. Essas forças desembarcaram junto à vila da
Praia e andaram vários dias a saquear as pequenas povoações das costas da
ilha de Santiago. Acabaram, no entanto, por ser expulsas pelas forças locais,
sob o comando do governador FRANCISCO LOBO DA GAMA e não constando que
tivessem acometido a cidade da Ribeira Grande, nem mesmo a vila da Praia.
Logo
em c. 1598-1600, na Relacion y breve
suma delas cosas del Reyno del Gran Fulò, um anónimo, na Corte,
sustentava o interesse duma intervenção diplomática e político-militar no rio
Senegal. Retomavam-se, assim, antigos projectos régios e particulares que, em
boa parte, resultavam da convicção (equívoca) de que existia uma ligação
fluvial entre o baixo Senegal e Tombuctu, a grande metrópole do comércio
aurífero (1).
(1) Sobre estes projectos
relativos ao eixo rio Senegal-Tombuctu, cfr. T. da Mota, “A malograda viagem de
Diogo Carreiro a Tombuctu em 1565”, BCGP,
vol. XXV, nº 97, 1970, pp. 3-23 e idem, "Un document nouveau pour
l'histoire des Peuls au Sénégal pendant les XVème et XVIème siècles", BCGP, vol. XXIV, nº 96, 1969, pp.
781-860, nas pp. 783-791.
LUCAS DE ABREU Nasceu em 1571
Inquiridor na cidade da Ribeira Grande (1598, 1599)
LUÍS DA FONSECA Morador da vila da
Praia Capitão interino da Praia (1598,1599) Vereador da vila da Praia (1598)
Juiz da Câmara da Praia (1598, 1599) Milícia Proprietário rural
FERNÃO MARTINS DE BEJA Casado com Maria Cardosa Filhos: André Fernandes Viegas, estante em
Santiago e Manuel Mendes Cardoso,
morador em Lisboa Falecido na ilha de Santiago (1601) Recebedor do trato da
ilha de Santiago (1598) Procurador de moradores de Lisboa em Santiago (1598)
Sua viúva fez, em Lisboa, uma procuração
a André Fernandes Viega, seu filho, estante em Santiago para ai receber e nos
Rios de Guiné tudo que ficou por herança de seu marido tal como mercadorias,
escravos e escravas, letras de câmbio, algodões.
MANUEL CALADO, Nasceu em 1564
Falecido (1609) Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (proprietário
do ofício) (1598-1609) Testemunha no auto instaurado pelo Governador das ilhas
de Cabo Verde, a Nicolau Rodrigues da
Costa, juiz ordinário da cidade da Ribeira Grande (1598)
NICOLAU RODRIGUES DA
COSTA
Dizem que ele é “da nação de
cristão-novo” Juiz ordinário da Câmara da Ribeira Grande (1598)
Proprietário rural O governador das ilhas de Cabo Verde, Francisco Lobo da Gama, mandou fazer-lhe um auto “/…/ atestando ele
que Nicolau Rodrigues da Costa e seus sagazes se juntavam em Manuel Vaz, a comer beber e difamar
toda a gente causando escândalo pelo desrespeito que tinham pelo culto divino
/…/” (1598) O governador manda que ele se exile na sua fazenda que fica a seis
léguas da cidade da Ribeira Grande e que de la não saia sem sua ordem expressa
(1598)
LUÍS DA FONSECA Vizinho da vila da
Praia Juiz da Câmara da vila da Praia (1598) – era vereador, mas foi nomeado
juiz no lugar de Gaspar Fernandes Lucas
que estava preso Juiz e capitão interino da Praia (1599) Capitão interino da
vila da Praia (1598) Foi condenado pelo ouvidor das Ilhas de Cabo Verde, Manuel Dias Calheta, por ter abandonado
seu posto e deixado a vila da Praia sujeita a qualquer ataque do inimigo (1598)
ALEIXO FERNANDES, Filho de Gaspar Fernandes Lucas, capitão da vila
da Praia e juiz ordinário da mesma vila em 1598 Casado com uma sobrinha de Francisco Martins Freire, que se
tornaria capitão da mesma vila no ano de 1610
PÊRO FERNANDES Freire Meirinho da
serra da ilha de Santiago (1598)
GASPAR FERNANDES LUCAS Vizinho da vila da
Praia Pai de Aleixas Fernandes
Capitão da Vila da Praia (1598) Juiz ordinário da vila da Praia (1598) É
levantado auto contra ele por negligência culposa no abastecimento da dita vila
e pelos insultos que dirigiu ao capitão (1598) Encontra-se “preso por mandado
do senhor capitão e governado Francisco
Lobo da Gama” (Abril de 1598)
VICENTE MADEIRA, Nasceu em 1561
Tabelião do público e judicial da cidade da Ribeira Grande (1598) Testemunha do
auto que mandou fazer o ouvidor Manuel
Dias da Calheta (1598)
FRANCISCO MARQUES, Reinol Criado do
Bispo D. Pedro Brandão (1598)
Cunhado de Diogo Pires, alfaiate em
Lisboa Cónego na Sé de Santiago (1611) Membro do cabido da Ribeira Grande
(1619)
ROQUE GONÇALVES NETO Nasceu entre 1566/1570
Reinol Veio para Santiago com o capitão-mor Francisco Lobo da Gama (1597) Sogro de Apolinário Ferreira Sargento-mor da Ribeira Grande (1598-1601) Foi
mandado pelo capitão-mor à freguesia de São Domingos cercar a Igreja onde os
padres vindos da Ribeira Grande faziam os ofícios divinos como se fosse a Sé.
Estando os padres todos dentro da igreja os soldados a cercaram por tempo de 40
horas e só foram embora quando “/…/ acudiu muita gente em favor dos padres a
qual gente era toda preta, e com isso se foi o dito capitão da Ribeira Grande
/…/ com toda a gente que trazião e os padres ficarão na dita freguesia em
choupanas de palha em que vivem os negros..." Nessa operação perdeu a mão
direita – “O sargento-mor cumprindo as ordens, bateu a pederneira, que só pegou
fogo quando a arma já não estava apontada, e disparando levou a mão direita do
sargento”.
PÊRO VAZ DE OLIVEIRA Reinol Mora na Praça
Velha da cidade da Ribeira Grande Falecido (1609) Mercador da Ribeira Grande
(1598, 1614) – possui logea e casa na Praça Velha da cidade Passa letras de
câmbio (1604)
FRANCISCO DA ROCHA Nasceu em 1539 Em 1566
encontra-se em Coimbra Morador de Lisboa (1598) Cavaleiro Fidalgo da Casa Real
(1598) Casado com Ana da Gama Vai
para Cabo Verde em Dezembro de 1598 Falecido (1600) Mamposteiro mor dos cativos
e resíduos da ilha de Santiago (1598-1600?) – é obrigado a “/…/ correr todos os
lugares da referida ilha e fazer neles arrecadação de todo o dinheiro
proveniente da redenção dos cativos que enviará ao tesoureiro da rendição dos
cativos de Lisboa sendo lhe dada a respectiva quitação /…/” Tesoureiro das
fazendas dos defuntos e ausentes da cidade da Ribeira Grande (1598-1600) Em
1566, diz ter estado em Cabo Verde em casa de Jerónimo Fernandes o qual denuncia à Inquisição como sendo cristão-novo Passa procuração a Ana da Gama, sua mulher, a João Pires Brandão e a Lopo Rodrigues de Lisboa, para
arrecadarem toda a fazenda, escravos, letras de câmbio que mandar da ilha de
Santiago (1598)
FRANCISCO MENDES SÁ Padre Vigário Geral da
Sé de Santiago (1598)
DIOGO LOPES VALLASTEGUI
Nasceu em 1571 Vizinho da vila da Praia Falecido (1622) Tabelião da vila da
Praia (1598-1622) Escrivão da Câmara da Praia (1598-1622) Proprietário rural –
Foi administrador da Capela de Nossa Senhora do Rosário, terras de Monfaleiro,
instituída por Beatriz Vaz. A Capela
consta “/…/ de terras de sementeira com casas de morada em o dito sítio de
Monfaleiro, onze peças de escravos e um bocado de montados e curral no sítio de
Castelo. E como a dita instituidora não deixou herdeiro algum descendente nem
ascendente, /…/ porque tinha sido
escrava, e se libertou por seu dinheiro /…/. Nomeou e ordenou para a
administração da dita capela a Diogo Lopes Blestiguim Escrivão da Villa da
Praia pessoa estranha a quem ella tinha instituído seu testamenteiro e herdeiro
espontaneamente, só afim da conservação da sua capella que tinha instituído,
mandando ali fazer a Ermida ou Capella de Nossa Senhora do Rosário /…/” (1622)
ANDRÉ VAZ, Nasceu em 1573
Alcaide da cidade da Ribeira Grande (1598) Pessoa
que vai a Guiné (1612)
GASPAR DIAS VIÇOSO Nasceu em 1562 Vive na
Praça da cidade da Ribeira Grande (1614) Procurador em Santiago de mercadores
de Lisboa (1598, 1607) Recebeu 85 alqueires de milho da Costa da Guiné (1610)
LOPO SOARES DE ALBERGARIA faz Relaçam de (…) sobre o Guiné do Cabo Verde e collegio
que aly convem fazer Doutor
(Teologia), Deão da Capela Real, Deputado da Mesa da Consciência e Ordens e da
Inquisição de Lisboa
1598-1600
(c.) ANÓNIMO [português?] Relacion y
breve suma dela [sic] cosas del Reyno del Gran Fulò, y succeso del Rey
Lamba, que oy es cristiano, por la misericordia de Dios, cuias noticias carecen
de toda duda [informador fula: D. Tomás Lamba]
1598/02/20
VIGARIO DA IGREJA DE
CACHEU
(20-2-1598)
SUMÁRIO
– El-Rei apresenta o cura da igreja de Nossa Senhora do Vencimento
de Cacheu, rio de S. Domingos,
Dom
Filipe etc. Como gouernador etc., faço saber a vos reverendo Padre Frei dõ Pedro Brandaõ, bispo da
Cidade de Santiago da Ilha do Cabo Uerde (l). e do meu conselho, que por necessidade
que [h] á de auer hú uigairo na jgreja de nossa Senhora do Uécimento do porto
de Q[u ]acheu do Rio de Sam Domingos, pera curar as
almas e lhe[ s] administrar os Santos Sacramentos, por cõfiar de Fernaõ Navais de Quiroga, clérigo de
missa que seruirá a dita vigairia e jgreja como cúpre o serviço de nosso Senhor
e bem das almas dos freg [u] eses della visto o que.constou de sua sufíciencia,
vida e costumes por vosa êformaçao, ey por bem e me apzaz de o apresentar como
de feito apresento na dia vigairia e jgreja, e ·vos emcomedo que nella o
confirmeis e lhe paseis uosa carta de cõfirmaçaõ em forma, na qual se fará
expresa e delarada méçaõ de comoo comfirrmastes a minha apreseritaçaõ, pera
guardá e conseruaçaõ do direito e antiga pose; e desta e deste theor lhe
mandey pasar outra carta pera ire por duas vias huã dellas averá efeito. / / ·
·
Dada
na cidade de Lisboa, a uinte de fevereiro,
Jorge
Coelho de Andrade a fez, ano do nacimento de noso Senhor Jesus Christo de mil e
quinhentos nouéta e oito.
Registada
por mim Guomez d·Azeuedo.
ATT -Chancelaria
da Ordem de Cristo. liv. 10, fls. 216 ... 216 \'.
1598/09/13
Morreu D. Filipe I a 13 de Setembro de 1598 e ficou o governo
entregue ao arcebispo de Lisboa D. Miguel de Castro ao conde de Portalegre
D. João da Silva, ao conde de Santa Cruz D. Francisco Mascarenhas, ao
conde de Sabugal D. Duarte de Castelo Branco e ao escrivão da Paridade
Miguel de Moura.
Assim
esteve o país entregue nas mãos de governadores, que se sucediam uns aos outros, durante 21 anos, em que deu entrada em Lisboa D.
Filipe II no mês de Julho de 1619.
1599
Aos
capitães-donatários sucederam os corregedores, criados em
Cabo Verde em fins do séc. XVI, que agiam na esfera judicial e em serviços
administrativos.
FERNÃO DE ALMEIDA Cavaleiro Fidalgo da
Casa do Rei Casado com D. Joana Ribeiro,
filha de Mem Ribeiro de Almeida
Recebedor da feitoria e trato, quartos e
vintenas da ilha de Santiago (1599) Procurador de moradores do reino (1599)
RAFAEL REIMÃO, Escrivão do
tesoureiro das fazendas dos defuntos da ilha de Santiago (1599, 1603).
excelente trabalho de recolha e sistematização de dados....de grande utilidade
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