quarta-feira, 16 de março de 2016

COLONIZAÇÃO DA GUINÉ 1570-1599







1570
O rei de Portugal D. Sebastião introduz grandes limitações à escravização de ameríndios.
ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA Natural de Cabo Verde Cavaleiro da Ordem de Cristo (1598, 1603) Mulato / Neto de uma mulher preta e de João Álvares de Almada. Filho de Ciprião Álvares de Almada e de uma parda Foi casado duas vezes Falecido (1624) – “André Alvares de Almada cavaleiro que foi do habito de Cristo” Procurador do Povo de Santiago (1580) – Eleito pelo povo de Santiago para ir a Portugal tratar com o governo de D. Filipe sobre o modo como povoar a Serra Leoa. Esteve em Lisboa para pedir a ida dos Jesuítas para Cabo Verde. Mercador. Esteve no reino de Casamança (1570). Esteve no Rio Gâmbia (1578). Capitão de uma companhia (1591, 1595, 1598) Escreve o “Tratado breve dos rios da Guiné do Cabo Verde desde o rio Sanaga até aos baixos de Sant´Ana” (1594). Procurador de moradores reinóis (1591, 1601)
JOÃO TAVARES SOUSA Fidalgo da Casa Real Casado com Madalena Robalo Faleceu a 7 de Abril de 1570 - Enterrado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Ribeira Grande onde foram enterrados sua mulher e seus herdeiros.
FILIPE RODRIGUES TRAVASSOS Cavaleiro da Casa Real (1576) Encontra-se em Lisboa em Maio de 1583 Meirinho da correição das ilhas de Cabo Verde (1570-1576) Deu a Manuel Dias Henriques 100.000 rs. para a compra de escravos (1576)
1570/01/21
MANUEL CORREIA é capitão donatário da Praia
1570/10/12
Regimento das companhias de ordenanças de D. Sebastião de 1570 (1). Este regimento regulamentava as formas de eleição e de actuação dos capitães-mores, sargentos-mores e de outros postos militares, a começar pelos capitães que lhes eram subordinados, na formação das companhias de ordenanças
1 Datado de 10 de Dezembro de 1570, o regimento sebástico teve um aditamento de 15 de Maio de 1574. Foi depois sucessivas vezes reeditado no período filipino. Consultámos as edições de 1598 e de c. 1610, da primeira (exemplar da BNL): Regimento dos Capitães Mòres,& mais Capitães, & Officiaes das companhias da gente de pè, & de cauallo: & da ordem que terão em se exercitarem, [s.l.], [s.n.].
1570/12/10
O passo definitivo na organização da Milícia local ou ordenanças foi dado com o Regimento dos capitães-mores de 10 de Dezembro de 1570 ("'Regimento dos capitçães-mores e mais ofitiais das companhias de gente de cavalo e de pé, e da ordem que devem ter se exercitarem" ou "Regimento das companhias de ordenanças (Ordenanças Sebásticas) ". Carlos Selvagem. Portuga/ Militar. Lisboa, 1931, pp. 323,326 e 383·388) A instituição criada por esse regulamento manteve-se activa no Reino e nos territórios ultramarinosdurante quase três séculos, sendo extinta pela revolução liberal (1830).
Esse Regimento criou em todo o Reino e territórios sob administração portuguesa distritos de recrutamento, as Capitanias-mores, comandadas por capitães-mores, geralmente os senhores da terra ou, na falta destes, os fidalgos ou homens nobres eleitos pela câmara municipal de cada distrito 53 A organização militar, que era assim instalada, tinha um carácter miliciano, já que era comandada por oficiais honorários. Nela as tropas locais continuavam a não ter uma cadeia permanente e organizada de comando, mas aumentavam as obrigações e responsabilizavam severamente os faltosos. O Regimento dos Capitães descreve claramente a forma e a quantia que devia ser paga pelos reticentes em irem aos exercfcios e rebates. Eram os cabos-de-esquadra que apontavam os faltosos, remetiam listas de nomes aos capitães de suas companhias e cobravam as peoas. 4
No topo da hierarquia das ordenanças, encontrava-se o capitão-mor coadjuvado pelo sargento-mor, que tinham como obrigação o alistamento de todos os homens válidos (com mais de 16 e menos de 60 anos) para a formação de companhias. Eram excluídos desse recrutamento os privilegiados e os doentes. Os homens assim recrutados poderiam ser escolhidos para o exército de primeira linha ou reservados para actuarem localmente como milícia, quando tal fosse necessário. Cada companbja de infantaria era constituída por 250 homens, dividida em 10 esquadras com 25 homens cada. A companhia era comandada por um capitão de ordenanças (comandante de companhia), que tinha sob as suas ordens urn alferes, um sargento e, às vezes, um meirinho e um escrivão. As esquadras eram chefiadas por 10 cabos-de-esquadra. Todos esses oficiais eram escolhidos e propostos pelo capitão-mor ou pelas câmaras e nomeados por carta-patente do rei.
Existia também uma companhia de cavalo, para enquadrar militarmente a gente nobre do concelho. A mesma lei estruturou a organização dos serviços de vigilância dos portos para os concelhos do litoral que estavam expostos ao perigo de ataque dos corsários.
A representação exterior da hierarquia revestia aspectos meramente formais, mas com grande significado sociaL Em 15de Maio de 1574, o rei determinava que os fidalgos, escudeiros de linhagem, criados da Casa Real, da rainha ou dos infantes que por pobreza não pudessem ter cavalo, constituiriam unidades (esquadras ou companhias) que deviam formar sempre no lugar de honra. A mesma provisão régia excluiu dos cargos de ordenanças os oficiais de justiça e fazendas.
1571
«Tomás de Mercado, um frade dominicano espanhol, economista da Escola de Salamanca e que crescera no México, publicou em 1571 o tratado Summa de tratos y contratos, que contém o capítulo «Del trato de los negros de Cabo Verde». Nesse texto, considera lícito o tráfico de não-cristãos, desde que tenham sido feitos escravos em três situações específicas: em resultado de guerras justas; corno castigo imposto pelos reis por delitos públicos; vendidos pelos pais em caso de necessidade, para bem dos filhos. Mas não deixa de reconhecer ser «pública voz y fama que en resgatar, sacar y traer los negros de su tierra para Índias o para acá [para Espanha] hay dos mil enganos y se hacen mil rabos y se cometen mil fuerzas».
ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS, O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos xXV a XIX, Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera do Livro, Lisboa, 2013, pg. 43
ANTÓNIO DE FIGUEIRA Vereador da Câmara da Ribeira Grande (1571±)
BELCHIOR DE BARCELOS Escrivão do corregedor e provedor das fazendas dos defuntos de Santiago (1571-1573)
ANDRÉ DONELHA, seu pai esteve na Serra Leoa em 1560 Vizinho da rua São Pedro da Ribeira Grande Sogro de Brás Fernandes Esteve na Serra  Leoa em 1574 Em 1585 esteve no Rio Gâmbia No ano de 1634 Encontra-se na ilha do Fogo   Faleceu antes de 1638 Teve como condiscípulo “na escola de ler e escrever” o filho do rei Becamoregrande senhor em sua terra e primo del Rey Becacaya”, rei sape Capitão de navio (1571-1625) Prático de Guiné – Em 1625 escreve a “Descrição da Serra Leoa e dos Rios da Guiné do Cabo Verde”. Proprietário rural na ilha do Fogo – “Aos 27 de Junho de 1738 na vila de S. Filipe da ilha do Fogo, nas casas e moradas do reverendo vigário padre religioso Fr. Luís de S. Nicolau; estava presente Brás Fernandes que afirmou que seu sogro André Donelha já tinha falecido e que tinha uma (capela?) no sítio de monte Tabor, da banda das hortas com obrigação de 2 missas rezadas por ano e que ele queria tomar posse da dita terra /…/”
ANTÓNIO DE FIGUEIRA Vereador da Câmara da Ribeira Grande (1571±) Teve diferenças com um tal Gaspar Rebelo – "/…/ que elle for a acusado pela justiça na cydade de Santiagua na ylha do Cabo Verde por se dizer que sobre huma postura que fizerão os juizes e vereadores tivera deferemça com Antonio Figueyra huu dos vereadores de tall tempo /…/
DOMINGOS DE FREITAS Moço da Câmara do Rei Almoxarife da cidade da Ribeira Grande (1571-1577) Tinha procurador no Reino (1572) Procurador de Filipe de Aguiar, morador da cidade de Lisboa (1577-1579)
TOMÉ GOMES, Teve uma filha mulata, Úrsula Gomes, com uma escrava que legitima em 1571  Clérigo de missa Chantre da Sé de Santiago (1571)
PÊRO TRAVASSOS, Nasceu em 1569 Cidadão da Ribeira Grande Irmão de António de Lila Travassos Capitão-mor para a vila da Praia (?) Foi assassinado por Pêro Fernandes e Simão Fernandes que recebem carta de perdão em 1571
ANTÓNIO VELHO TINOCO é corregedor de Cabo Verde.
1572
ANTÓNIO GOMES, Natural de Évora Cavaleiro da Casa Real Escrivão dos contos e almoxarifado da ilha de Santiago (1572-1580) No ano de 1580 um certo António Gomes faleceu no mar quando viajava de Cabo Verde para Índias de Castela
DUARTE HOMEM DA COSTA Pai de Diogo Homem da Costa (seu filho menor, ilegítimo) ao qual deixou de herança toda a sua fazenda em Capela - O rei legitima-o em 1573 Falecido (1572)  Proprietário rural – vinculou sua fazenda em capela Fez um empréstimo de 100.000 reais para o pagamento das dívidas de Flandres – após sua morte esse dinheiro pertence a seu filho menor Diogo Homem da Costa.
 VALENTIM SOARES, Escrivão do almoxarifado da Ribeira Grande (1572-)
1572/03/24

Confirmação da doação da capitania da Praia, ilha de Santiago, a MANUEL CORREIA
1573
DIOGO HOMEM DA COSTA Natural de Santiago Vizinho da vila da Praia. Filho ilegítimo de Duarte Homem da Costa com Lucrécia Duarte, mulher solteira, moradora em Santiago. Em 1573 recebe Carta de Legitimação Escrivão dos órfãos, da Câmara e almoçataria da Praia (1573, 1579) Proprietário rural - Seu pai deixa-lhe sua fazenda em capela a qual não podia herdar por ser ilegítimo, mas em 1573 o rei legitima-o Herda 100.000 reais do empréstimo que seu pai fez para o pagamento das dívidas de Flandres Proprietário rural – tem terras (abaixo da Ribeira dos Garçotes) vizinhas da fazenda de Rui Barrasa (1591)
GASPAR LEITÃO, Moço da Câmara do Rei Escrivão do provedor das fazendas dos defuntos e ausentes das ilhas de Cabo Verde (1573-) Escrivão do capitão e governador António Velho Tinoco (1592)
DIOGO DA COSTA DOS MOSQUITOS Licenciado Filho do licenciado Duarte Dias Casado com Beatriz Nunes Sanchez Pai de Bartolomeu da Costa dos Mosquitos Falecido em 1603  Proprietário rural – Herda o morgado (Aguas Belas de Santiago) de André Rodrigues dos Mosquitos Morgado (1573) 
MATEUS RIBEIRO, Moço da Câmara da Infanta D. Maria Morador de Lisboa (1573) Casado com Antónia de Rego Pai de Diogo Ribeiro Falecido (1592) Alcaide do mar da ilha de Santiago (1573-1592) – nomeado por casamento Procuração a Júlio Dinis, morador em Lisboa a quem ele era devedor de 8.650 rs, para que possa arrecadar de seus inquilinos, João Miranda e Francisco Fernandes, os alugueis de suas casas até perfazerem a quantia devida (1579)
1573/06/02
A 2 de Junho de 1573 confirmam-se as leis anteriores, nomeadamente a de 1567, que será confirmada em 1610 proibindo os cristãos-novos de sair e ir para as possessões portuguesas que, a acreditar no triénio de duração de cada norma, revela toda uma regência do inquisidor-mor D. Henrique e início do reinado do jovem rei pautadas pela exigência e manutenção dos cristãos-novos em Portugal continental.
1574
Os avençadores ou sub-arrendatários dos contratos podem ser de qualquer Português ou estrangeiros. Em muitos casos, eles na verdade eram comerciantes espanhóis, os titulares de licenças comerciais concedidos pelo rei espanhol a introdução de escravos para as colônias espanholas americanas quem precisava estabelecer contratos com os portugueses Contratadores no controle das áreas de monopólio comercial. Por exemplo, António Nunes do Algarve e Francisco Nunes de Beja, Contratadores do monopólio real, Cabo Verde e Guiné, entre 1574 e 1580 assinou um contrato com João de Gusmão, em nome de vários vizinhos do México, concedendo-lhes permissão para comprar 500 escravos na região da Guiné-Bissau e transportá-los para o México. João de Gusmão era titular de uma licença comercial real do rei espanhol a introdução de escravos para as colônias espanholas americanas. O carregamento dos escravos na Região de Guiné-Bissau iria ser supervisionada pelos fatores da Contratadores servindo nesta região; enquanto o pagamento dos direitos sobre os escravos tinha de ser feitas no porto de San Juan de Úlva (México) com os proxies dos portugueses Contratadores no local, dentro de um prazo de dois meses. O valor dos pagamentos teve que ser enviado para Sevilha através da Frota real espanhola em dinheiro ou mercadoria (prata, ouro ou pérolas.
Por outro lado, o acesso às áreas de monopólio real na África ocidental só foi possível para os habitantes dos arquipélagos e os comerciantes segurando licenças comerciais emitido pela coroa ou a Contratadores trocar temporariamente na área. Muitos comerciantes de Portugal e outras áreas estabeleceram parcerias comerciais com os comerciantes-cidadãos de ambos os arquipélagos, pelo menos até a década de 1590.
Por 1574 havia uma rota estabelecida a partir d Cabo Verde para Cartagena na América do Sul espanhola. João Ferreira – conhecido localmente como Ganagoga – casou com a filha do rei dos fulas Futa Toro e teve um filho com ela. Green argumenta que no século 16 os cristãos-novos se identificavam como "outros" em vez de "brancos".
Muitos desses novos cristãos lançados adaptavam rapidamente a práticas culturais da África Ocidental. Já, como vimos, por 1546 os cristãos-novos da Guiné foram ditos estar adoptando elementos da religião africana. Da mesma forma, o mais poderoso em Português a região Senegambian no meio do século 16 , conhecido como Ganagoga , era um Cristão-novo que tinha feito uma aliança matrimonial com o rei Fulani ( Almada , 1994: 36 , ver também Carreira 1972 : 67-8 ) . Isso só pode ter sido possível através da vontade de Ganagoga de assimilar para a atmosfera cultural dominante da Fulani de Futa Toro.
Source: Tobias Green, Centre of West African Studies, University of Birmingham. MASTERS OF DIFFERENCE: Creolization and the Jewish Presence in Cabo Verde, 1497-1672, Tables 1-4. 
ANDRÉ DONELHA esteve na Serra Leoa na armada de ANTÓNIO VELHO TINOCO
DOMINGOS ANES, Residente em Cabo Verde Morador da Brava (1574) Morador de Santiago (1584) Sua filha, Bárbara Domingues (ou Medeiros) herda seus bens Falecido no mar quando viajava de Santiago para a ilha da Madeira (1591†) Rendeiro das ilhas desertas de Cabo Verde (1574) Arrendou a D. Maria Mendes, tutora de Francisco Correia a ilha da Boa  Vista (1582) Rendeiro e contratador das ilhas de Barlavento de Cabo Verde (1585) Rendeiro da ilha da Boa Vista (1590) Mercador Fez uma procuração ao advogado na Corte e a outros moradores de Lisboa para o representarem (1574) Constituiu procuradores no Funchal e na cidade de Angra (1585) Possuía casas e fazendas na ilha de Santiago e na do Fogo
ANTÓNIO DÓRDIO, Cidadão da cidade da Ribeira Grande  Mercador – compra escravos para serem carregados para a Índia de Castela (1574)
MARTIM SEQUEIRA, Nasceu em 1514 Casado com Maria Simoa. Desobedeceu ao corregedor Manuel de Andrade por isso foi condenado a 2 anos de degredo para fora da ilha de Santiago - Carta de perdão (1574) Serviu de capitão nas armadas reais “em que gastará muito do seu” Proprietário rural - Instituidor de uma capela juntamente com sua mulher. Em 1645 sua capela é administrada por Joana Coelha

1574/03/19
Falecimento de D.FRANCISCO DA CRUZ, bispo da diocese de Cabo Verde
1575
O silêncio das informações só chega a ser quebrado com uma única indicação sobre a existência de um escrivão da fazenda dos defuntos na vila de São Filipe pelos anos de 1575. Trata-se de AMBRÓSIO DE SOUSA, dado, naquela altura, em pleno exercício do ofício (1).
(1)- ANTT, Cartório Notarial 7A, liv. 1577, Fev. 25, Abr. 2, fls. 117 vº-120 vº, 20Mar1577.
D. BARTOLOMEU LEITÃO foi nomeado quarto bispo de Cabo Verde, em 1575, para onde foi residir no ano seguinte. Sobre este bispo recaíram acusações de corrupção, negligência na administração, devassidão e imoralidade, sendo que o papa Gregório XIII (1572 -1585) mandou por breve ao arcebispo de Lisboa, D. Jorge, proceder judicialmente contra ele. O bispo acabou por permanecer em funções até a sua morte em 9 de Fevereiro de 1587, uma vez que as acusações não foram de todo provadas.
JOÃO LEITE PEREIRA é capitão-mor de Arguim
1575/10/20
O padre jesuíta GARCIA SIMÕES escreveu de Luanda ao Provincial jesuíta, a 20 de Outubro de 1575 dizendo que em Angola ”quase todos concordam que a conversão destes bárbaros não se alcançará por amor, senão que só depois que por armas forem sujeitos a vassalos do Rei Nosso Senhor”. Um outro jesuíta, o padre FRANCISCO DE GOUVEIA, escreveu que estes selvagens bárbaros não podem ser convertidos por métodos de persuasão pacífica… O cristianismo em Angola deve ser imposto pela força”.
Na realidade estes conceitos racistas marcam as atitudes dos missionários cristãos em todo o mundo, só com excepção dos países em que os colonizadores não tinham o poder militar nas suas mãos.
1576
Em 1576 teria havido um saque com incêndio em duas localidades da ilha do Maio, que foram incendiadas pelo corsário inglês ANDRÉ BACKER, em resposta a uma afronta perpetrada por elementos ali residentes para com um dos seus homens. Pelos mesmos motivos do anterior tratado com a França, o rei de Portugal e a rainha de Inglaterra assinaram também um acordo - o “Tratado de abstinência”, de 1576:
(...) um documento da mais alta importância pelo qual a nascente potência marítima que era a Inglaterra, que tendo abraçado o protestantismo não reconhecia a validade das bulas papais em que se afirmava o direito exclusivo português às suas conquistas ultramarinas, reconhecia formalmente esse domínio português.”(1)
Contudo, este Tratado tinha a duração de apenas três anos. Nessas circunstâncias, os ingleses alimentaram a esperança de o renovar e de fazer alterações às disposições deste acordo. Não podemos saber se essas pretensões se efectuariam porque entretanto o rei de Portugal faleceu em 1578, na sequência de uma trágica batalha em Alcácer-Quibir, ainda antes de expirar a validade deste. Tratado, ficando Portugal numa grave crise de sucessão. Só devido a estas situações imprevisíveis, que deixaram o país à mercê, aconteceu a ocupação espanhola e a impossibilidade de renovação destes acordos com a França ou com a Inglaterra, que não se viram obrigados a respeitá-los no futuro, retomando-se o contexto anterior que os portugueses repudiaram e quiseram evitar a todo o custo.
(1) J. C. MAGALHÃES (1990), Op. Cit., pp. 55
1576/02/16
Confirmação papal da nomeação de D. BARTOLOMEU LEITÃO como bispo da diocese de Cabo Verde
1577
CRISTÓVÃO SOARES DE MELO é corregedor de Cabo Verde.
FRANCISCO DE ANDRADE Um dos homens mais ricos de Santiago esteve na Guiné (1581)  Mordomo da Sé da cidade da Ribeira Grande (1577) Procurador em Santiago da Condessa de Portalegre (1580) Sargento-mor de Santiago (1581-1582) Escreveu a “Relação sobre as ilhas de Cabo Verde” para ser entregue ao Rei (1582)
JORGE GONÇALVES, Clérigo de missa da Sé de Santiago Procurador de moradores do reino (1577)
MANUEL DE MANCELOS Em 1588? encontra-se em Cartagena das Índias de Espanha  Cónego da Sé de Santiago (1577) Procurador de moradores do reino (1577, 1578) Arcediago da Sé de Santiago (1590-1601)
GONÇALO PEREIRA, Morador de Lisboa Casado com Maria Borges Escrivão da correição e chancelaria de Santiago (1577) Devia certa quantia ao mercador lisboeta Belchior Martins (1579)

ANTÓNIO VAZ, Falecido na Ribeira Grande (1577)  Padre Clérigo de missa Mestre-escola da Sé de Santiago (1577)
 GIÃO VAZ, Teve como manceba a uma mulata (1577) Padre Deão da Sé de Santiago (1577)
1578
1578-1585 TINOCO, António Velho e Padre Fernão REBELO / Licenciado, Capitão-corregedor de Cabo Verde / padre jesuíta / “Capitanes y otras personas graves”
ANÓNIMO: Relação da gente que vive desde ò cabo dos Mastos teè Magrabomba na Costa de Guiné ☻ A principal mercadoria para o resgate d'ouro são as manilhas e todas as mais nomeadas atraz; tirando vinho, (que o não bebem por serem religiosos) e cavallos. Todas as mais servem.
Indo eu a este resgate no anno de 78, porque algumas pessoas punhão em duida se estes mercadores vinhão por ordem do Turco a resgatar esta manilha de cobre para fundir della artilharia, informei-me bem dos mercadores, onde ião fazer este resgate deste ouro, e para o que querião lá as manilhas; e soube de certo que as manilhas lhes não servem para mais que ornamento e arreio de suas pessoas, e as trazem nos braços e pernas; em tanta estima as tem e em mais do que cá temos o ouro; o não usamdo ouro porque o não estimão, pelo haver muito naquellas terras. E sem falta nenhuma vem este ouro e o que vai a Tumbocutum das Serras de Sofala; porque falando com Anhadelen capitão daquella cafila, perguntando-lhe miudamente onde hião e ondo levavão as manilhas, me disse, que aos Cafres – nomeando-os por este proprio nome. Perguntando-lhe para que as queriâo - disse que para trazerem nas pernas. Perguntando-lhe quanto lhe davâo por cada manilha, respondeu que isso me não diria, porque não erão elles tão pecos mercadores que se não ganhassem muito nellas que as levassem tão longe; porque punhão muitos dias no caminhoe passavam por muitas terras com muito risco de suas pessoas.
Estes mercadores poem mais de sels meses nas suas viagens, mas como são negros e flegmaticos não he d'espantar não porem muito mais tempo. Fazem o seu caminho por huma estrada que fica cingindo a todos os negros do nosso Guiné por cima, e vão por ordem d'hum lmperador negro a quem todos os negros deste Guiné de que tratamos dão obediencia,que se chama o Manimança, não visto até hoje de nenhum dos nossos. E tanto que nomêão este nome logo se descobrem todos os negros que o ouvem nomear; tão obedecido he. E chamão os da Mina a este rei o Elefante Grande, tão conhecido he de todos os negros que obedecem ao seu nome mais de 300 legoas.
Deixei neste resgate entonces 5 arrobas e oito arráteis de ouro que havia vindo naquella cafila, por não ter mercadorias com que o resgatar. Está hoje este resgate perdido, porque ha 8 annos que a elle não foi navio nenhum, e estes mercadores devem de correr com os de Tumbocutum, vendo que lhes falta o resgate. Neste resgate vão ter alguns mouros, e levão ouro, e o resgatão a troco de panno vermelho e de outras cousas. Os vestidos destes mercadores são da mesma maneira como os dos Mandingas, mas o vestido desta gente de guarda que vem com elles he diferente, porque são as roupetas grandes e os calções grandes; que vem a ficar os fundilhos mais de palmo por de baixo dos giolhos; e dahi para baixo vão estreitando ao modo de canhões e cobrem toda a perna. E trazem pelas roupetas multas plumas de aves e pelas carapuças que trazem. Trazem espadas curtas como as dos outros negros, e duas facas huma na cinta e outra atada no bucho do braço esquerdo. Trazem frechas, as quaes são curtas e os arcos pequenos. Dizem que as trazem desta maneira, para que não sirvão aos imigos, por serem os seus arcos grandes, - as dos imigos a elles sim. E posto que sejãm os arcos pequenos, sacodem bem frechas. Trazem tambem azagaias e adargas de verga e rota muito fortes.
1578
Acções corsárias de Francis Drake, comandando então cinco navios, no início da sua viagem de circum-navegação à volta do Mundo.
Mantendo-se com o seu escrivão, o Tesoureiro da fazenda dos defuntos com assento na capital das ilhas tenderá a acumular, juntamente com este seu coadjutor, os cargos da mamposteria dos cativos. Assim é que CRISTÓVÃO CORREIA, por dois Alvarás de lembrança emitidos quase que em simultâneo (1578), concentraria em si a serventia dos ofícios de Tesoureiro dos defuntos da cidade de Santiago e ilha do Cabo Verde e de mamposteiro mór dos cativos na ilha do Cabo Verde. (1) A todos que se lhe seguem é feita a mesma mercê ficando os dois ofícios anexados definitivamente.
(1) Os Alvarás de lembrança estipulavam que Cristovão Correia só havia de assumir estas serventias na vagante dos providos. ANTT, Chanc. D. Seb. e D. Henr., Doações, liv. 42, fl. 33 vº, 13-Fev-1578; fl. 34, 14Abr1578.
MEM RIBEIRO DE ALMEIDA Filho de Tristão de Mascarenhas Irmão de Vicente Ribeiro Casado com Leonor Cardosa Pai de Joana Ribeiro Falecido (1589) Recebedor da feitoria e trato, quartos e vintenas da ilha de Santiago – Obteve o ofício pelo casamento (1578-1589)
JOÃO CARDOSO, Pai de Pêro, mulato, seu filho e de uma sua escrava por nome Lucrécia – em 1582, ela recebe carta de legitimação a seu pedido Clérigo de Missa (1578)
PÊRO DIAS, Moço da Câmara Meirinho da correição da Ribeira Grande (1578)
DIOGO FRAGOSO, Escrivão e chanceler da correição de Santiago por dois anos (1578) Inquiridor, contador e distribuidor da Ribeira Grande (1582)
AIRES GODINS, Ver o capital necessário para a compra de um navio Proprietário de um navio (1578)
MANUEL NUNES PETRARCA Casado em Cabo Verde com Leonor Alvares, filha e herdeira do mercador Gonçalo Nunes Fez um conserto com Bento Henriques, alfaiate sobre a fazenda deixada por seu sogro no arquipélago (1578) Mercador – associado com Salvador Dias para comerciar em Cabo Verde – companhia (sociedade) (1579) Procurador de mercadores moradores de Lisboa (1590,1594)
1578/01/30
GASPAR DE ANDRADE - provido corregedor por carta de 30 de Janeiro de 1578.
1579
DIOGO DIAS MAGRO é corregedor de Cabo Verde. Com o último dos capitães desta fase “de transição”, o doutor Diogo Dias Magro, pomposamente aludido como “capitão mór da cidade da Ribeira Grande da ilha de Santiago do Cabo Verde que a ela e as mais ilhas do Cabo Verde e conquista dos Rios de Guiné [veio] com alçada administrar justiça e prover em sua fazenda e nas dos defuntos. E a outras cousas de seu serviço etc”. (1), a evidência de não se tratar mais de um mero corregedor das ilhas com funções adicionais, é ainda maior (2).
(1) - AHU, Cabo Verde, cx. 1, doc. 13, 13-Fev-1584.
(2) - Referindo-se a estes capitães já com poderes de governadores, diz o Anónimo de 1784: “No princípio da povoação (sic!) destas ilhas tiveram aqueles que as governavam o nome de capitães, e não de Governadores”. António Carreira (Apresentação, notas e comentários), Notícia corográfica e cronológica do bispado de Cabo Verde..., Edição do Instituto Caboverdeano do Livro, Lisboa, 1985, p. 62.
1579/05/22
OS JESUÍTAS TRAFICANTES DE ESCRAVOS?
Trata-se de uma pergunta retórica. Em todos os espaços do Império, entre os séculos XVI e XVII, não há praticamente nenhuma ordem religiosa que não esteja comprometida, de uma forma ou de outra, com o tráfico de cativos.
Em Angola, os próprios franciscanos, apesar do rigorismo da sua regra, aparecem a comprar e a vender escravos.
Em Cabo Verde, no início do século XVII, vemos os padres da Companhia de Jesus a enviar escravos para Cartagena das Índias como forma de angariarem receitas para o seu trabalho evangélico no arquipélago, que procuravam alargar ao continente africano. E, neste caso, com o pormenor muito curioso de um dos seus agentes na América Central ser, nem mais nem menos, o padre Alonso de Sandoval, um outro jesuíta, que ficou famoso por ter escrito De instauranda Aetiopum salute, um livro, que já citámos várias vezes, sobre os problemas religiosos levantados pelo tráfico de escravos e muito crítico em relação à desumamdade deste. No melhor pano cai a nódoa.
A exportação (neste caso de escravos; no caso do Brasil, de açúcar) era particularmente atrativa, devido ao facto de os jesuítas estarem isentos do pagamento de direitos alfandegários por carta régia de D. Henrique (22 de maio de 1579), confirmada por D. Filipe III (19 de junho de 1634), dada de «esmola às casas e colégios da Companhia de Jesus e aos religiosos dela», em todos os bens móveis que «comprarem, venderem ou escambarem, em quaisquer partes dos meus reinos, que forem para maneio e uso das ditas casas e colégios e religiosos delas»
Os superiores da Companhia tinham as maiores dúvidas sobre a bondade da participação dos jesuítas em qualquer tipo de tráfico de escravos. Em 1586, o procurador das missões Jerónimo Cardoso, numa carta dirigida ao padre Cláudio Aquaviva, prepósito-geral da Companhia de Jesus em Roma, manifestava a sua oposição e procurava a solidariedade do responsável máximo. Nessa carta, escrita de Lisboa, em castelhano, o padre Cardoso diz desejar que «os nossos» que tratam do ministério da confissão não deem ofensa nem uma acerca de comprar e vender os índios (creio que se deve entender a expressão o sentido geral de indígenas ) segundo os costumes daquelas partes.
1580
 Passando o Porto de Cacheo por hum esteiro acima o Nortevão dar em S. Domingos, terra dos Banhuns, no quallugar, no beira-mar deste esteiro, está huma aldeia grande, povoada de muitos negros e muitos dos nossos, por causa do muito trato que havia nesta terra dos escravos, mantimentos, e cera mais que em nenhuma das partes de Guiné; mas os negros desta aldeia por serem muito entendidos e praticos da nossa lingua, tratavão muito mal aos nossos, dando-lhes mutas pancadas, e capeando-os, tomando-lhes os chapeos e as espadas em toda a hora do dia, e fazendo muitos roubos importantes, com algumas mortes.
Estes Banhuns ficão cingidos por baixo dos Buramos, e pelas alas e por cima dos Casangas, e se estendem huns aos outros e usão as mesmas armas e os mesmos vestidos e juramentos da agoa vermelha. Ficão perto destes Banhuns ao Noroeste por outro esteiro, outros negros da mesma Nação chamados Chãos, os quaes tem sempre tesa guerra com estes outros; e são muito belicosos e dão muitos assaltos na terra destes outros, fazendo muitas prezas de noute e della. E o rei destes Chãos he muito amigo dos nossos, e folga muito com elles. Estão muitos na sua terra, na qual acodem muitos escravos, mantimentos, cera e marfim, e as mesmas mercadorias que valem e correm na terra dos Buramos valem da mesma maneira na dos Banhuns. Usão também estes  dos mesmos choros, e perguntarem aos mortos, quando morrem, quem os matára.
Erão tão máos estes negros da aldeia do BUGUENDO para os nossos e os tratavão tão mal que se não podia sofrer, e não se tinha por honrado negro que lhes não tomava os chapeos e lhes desse bofetadas e pancadas. E havia muitos negros da casa do rei chamados, huns, Reinaldos, e outros, Roldões, e outros nomes desta qualidade; e quando vinhão a esta aldeia traziam huma esquadra de negros velhacos e vadios dianre deles, que vinhão dizendo aos nossos: "Lá vem Reinaldo, lá vem Roldão;” para que lhes fizessem prestes e aparelhassem o que lhes avião de dar; e tanto que não havião isto os tratavam muito mal. E com todas estas cousas sofriam os negros.
Haverá como 10 annos que FRANCISCO D’ANDRADE, Sargento-Mor da Ilha de S. Tiago, indo as ditas partes, e vendo o mao tratamento que os negros fazião aos nossos, se concertou com o Rei de Casa-mança, chamado Masatamba, amigo nosso, e passou os nossos, que estavão nesta aldeia, a um porto deste Rei, que está indo pelo Rio de Farim acima, e faz ali hum braço pequeno, que vai dar na primeira terra deste Rei chamada Sarar; no qual fizérão uma aldeia, a que puzérão o nome de S. Felippe, por amor de S. Magestade, por haver muito pouco tempo que tinha tomado posse dos Reinos de Portugal. A aldeia de Buguendo, donde se mudarão os nossos, he terra muito enferma, onde sempre morria muita gente: esta de S. Feplippe, para onde se mudarão os nossos, não he sadia, por ser lugar alagadiço e de muitos charcos de agoa, mas he terra muito segura, onde se não faz mal a cousa nenhuma; e estão os nossos nella muito seguros. He toda coberta de arvoredos de palmares e outras arvores e tem boas aguas, e alguma ribeiras frescas. D’ahi a Brucama, que he Côrte do Rei de Masa-tamba, he jornada de hum dia.
☻ Para além do que já ficou dito, que nos chegou pelas penas de Pedro de Sarmiento de Gamboa — que o denomina “fidalgo portugues” e, o diz “teniente e sargento-mayor” do governador (i.e., na época o capitão-corregedor) e ainda “uno de los alcaldes” da Ribeira Grande 21 — e de Diego Flores de Valdés, pouco mais sabemos sobre Francisco de Andrade. Era, como já vimos, vizinho da Ribeira Grande, age como procurador dos moradores reinóis em 1580 8 (1) e o seu rastro perde-se na documentação em 1582.
(1)Cfr. Iva Cabral, “Vizinhos da cidade da Ribeira Grande de 1560 a 1648”, HGCV, II, p. 517.
☻ Nos finais do século XVI, a articulação Guiné – Cabo Verde traduziu-se na formação do governo-geral de Cabo Verde, onde se enquadrou a administração do “distrito” dos Rios da Guiné. A criação de um Governo e de uma Ouvidoria gerais corresponderam de facto a uma segunda fase da história institucional das ilhas 7. A administração filipina inaugurada em 1580 por ser mais centralizada conduziu a esta nova fase do governo das ilhas, o que de resto aconteceu noutras partes do império.
FILIPA DA SILVA [b. 1550 - d. 1590] a 4 ª condessa de Portalegre, ela foi a donatária de São Vicente e São Nicolau, de 1580 até sua morte em 1590.
PAIO FERREIRA, Padre Procurador em Santiago de moradores no reino (1580)
ANTÓNIO DA GUARDA Vizinho da vila da Praia Faleceu em Santiago (1594) Herdeiros: Francisco Martins, Manuel Ribeiro e Manuel Fernandes de Lião Clérigo de missa / Vigário da vila da Praia na igreja de Nossa Senhora da Graça (pelo menos 1580-1594)
1581
Os «tratos da Guiné» distribuem-se por três zonas –  Costa do Jalofo (do Rio Senegal ao Rio Berbecim), os Rios de Guiné (daí ao Cabo Sagres) e a Serra Leoa, que pelo sul confina com a Costa da Malagueta (a qual vai até ao Cabo dasPalmas). Comercia-se com os negros em numerosos pontos; em 1581, FRANCISCO DE ANDRADE indica dez «tratos» principais, que são, de norte para sul, Bezeguiche (angra de Cabo Verde), Porto d'Ale e Joala (na Costa do Jalofo), Rio Berbecim, Rio Gambia, Rio de S. Domingos com o Rio Casamansa, Rio Grande, I. Bijagós e Rio Nuno (nos Rios de Guiné) e a Serra Leoa (com vários locais); o Rio Senegal, onde de começo houve um bom comércio, já está abandonado aos franceses. Obtêm-se escravos (por toda a parte, mas sobretudo nos tratos do Rio S. Domingos e Rio Grande), ouro (sobretudo no Gâmbiae Serra Leoa), marfim, cera, além de mantimentos (arroz,milho), ferro, panos e anil, usados estes últimos noutros locais da mesma área.
☻ André Álvares de Almada foi tratar com Massatamba, “Rei de Casamança” da mudança dos portugueses da aldeia de Buguendo (S. Domingos) para a de Sarar, a montante do rio de Farim (ou rio Cacheu)
Dado o conteúdo da “Relação”, não nos basta a dimensão de homem de guerra para compreender a escolha de Francisco de Andrade para a elaborar. Ele é um homem de Santiago e também um “prático de Guiné” que, a fiarmo-nos na memória de André Álvares de Almada, ainda no ano anterior, 1581, se deslocara à terra firme. O motivo da viagem é conhecido: tratar com Masatamba, “Rei de Casamança” da mudança dos Portugueses da aldeia de Buguendo (S. Domingos) para a de Sarar, a montante do rio de Farim (ou rio Cacheu) 26. Não é tanto o “oficial régio”(1) que intervem na costa, mas antes o oficial ilhéu, eleito e investido localmente de autoridade e com poder militar que lá vai em socorro duma comunidade de lançados. Muitos deles eram, possivelmente, cabo-verdianos de origem, testemunhando-se, deste modo, os fortes elos entre este tipo de comunidades e os moradores da ilha (2). As conversações que desenvolveu com Masatamba pressupunham um know-how luso-africano. Era também por este conhecimento da costa, para mais dispondo de informações recentes, a que se juntava o desempenho de funções oficiais, que Andrade era a pessoa indicada para fazer a relação pretendida.
(1) Orlando Gama, Do Rio Senegal à Serra Leôa…, p. 102.  Numa perspectiva semelhante António Leão Correia e Silva designa Francisco de Andrade por “Homem de Estado” (cfr. Histórias de um Sahel insular, p. 133).
(2) Nesta perspectiva, a deslocação de Francisco de Andrade à costa não se afigura propriamente uma “possível ingerência do Estado na organização do espaço político” como aventa Orlando Gama, ibidem, p. 102. Mais adiante no seu texto (p. 104), o autor citado não deixa, porém, de implicitamente equacionar a iniciativa de Andrade como “autónoma” e correlata dos interesses dos moradores.
A evidência documental sobre a presença dos lançados nas margens do Rio Cacheu, nomeadamente junto ao Rio Grande e ao Rio Pequeno de São Domingos, nas povoações de Sarar (1581) e Buguendo (1582), leva-nos a supor que foram estes lançados, que estiveram na génese da fortaleza e povoação de Cacheu.
No caso da aldeia de Sarar, André Álvares de Almada diz que os lançados se mudaram para “terra muito enferma, (…) esta de São Felipe, para onde se mudaram os nossos, não é sadia, por ser lugar alagadiço mas é terra muito segura, donde se não faz mal a coisa nenhuma. E estão os nossos nela muito seguros” (Almada/Brásio, 1594-1964:77).
 1582
 A Conta das Ilhas de Cabo Verde, de Francisco Andrade, fornece provas do crescimento das comunidades de escravos em Cabo Verde. Andrade agrupa a população combinada do Fogo e de Santiago, 13 408 pessoas, em categorias. Estas incluem 508 "vezinhos" (habitantes), donos de 5 000 escravos, e 200 rendeiros, donos de 1 000 escravos. Os colonatos no interior eram compostos por 600 brancos e pardos (de sangue misto), 400 negros livres casados e 5 000 escravos. A população do Fogo era dada como sendo de 300 rendeiros e 2 000 escravos. Apenas 12,7% dos habitantes de Santiago e do Fogo eram pessoas livres.
Em meados do Séc. XVI, a arte da fiação assentou raízes em Cabo Verde. O pano de algodão, tingido de anil e fiado nas Ilhas, tornou-se parte da carteira de produtos trocados no comércio de escravos. Os artesãos africanos que foram trazidos para Cabo Verde para fundarem a "indústria da fiação" eram Jalof (Walof), Mandinga, Seninkes, Biafares, Sassos (Susu), Felupes (Fulani), Papeis (Papels) e Banhuns. António Carreira, o distinto historiador caboverdiano, relata que os melhores fiadores eram do povo Mnadingo. Os panos eram tecidos em teares de pedal de banda horizontal estreita.
Entre 1550 e 1600 Apesar das proclamações reais portuguesas que previam penas severas, o comércio caboverdiano com a África Ocidental expandiu-se significativamente à medida que relações mutuamente vantajosas eram estabelecidas com grupos africanos associados com os Banyun-Bak, Biafada-Sapi e Mande.
Quanto à Ribeira Grande que nos anos de 1582 e 1583 havia sido saqueada pela armada inglesa, composta de mil homens sob comando de Francis Drake, continuou à mercê dos piratas. Estas incursões predatórias constituíram-se em forte razão para que os habitantes do litoral, tanto vila  da Praia, como cidade da Ribeira Grande se dirigissem para o interior, tentando proteger-se pelo relevo montanhoso. Santa Catarina, no interior da ilha de Santiago, passou assim a ocupar o lugar da demolida cidade da Ribeira Grande por também oferecer a possibilidade do cultivo de produtos como o milho e o algodão, tanto para a subsistência da população local, como para o abastecimento de navios. Quanto aos escravos fugiram para as montanhas, formando pequenos povoados, onde cultivaram suas parcas lavouras de subsistência, onde comunidades de africanos livres se formavam já nos meados do Séc. XVI. Estas gentes tornaram-se conhecidas como "badius" (vadios).
1582    FRANCISCO DE ANDRADE, Sargento-mor de Santiago [Relação das ilhas de Cabo Verde e da Guiné]
A Conta das Ilhas de Cabo Verde, de Francisco Andrade, fornece provas do crescimento das comunidades de escravos em Cabo Verde. Andrade agrupa a população combinada do Fogo e de Santiago, 13 408 pessoas, em categorias. Estas incluem 508 "vezinhos" (habitantes), donos de 5 000 escravos, e 200 rendeiros, donos de 1 000 escravos. Os colonatos no interior eram compostos por 600 brancos e pardos (de sangue misto), 400 negros livres casados e 5 000 escravos. A população do Fogo era dada como sendo de 300 rendeiros e 2 000 escravos. Apenas 12,7% dos habitantes de Santiago e do Fogo eram pessoas livres.
Embora se desconheça a introdução deste sistema em Cabo Verde, quando Filipe II, por volta de 1582, se inteira da situação militar e administrativa do seu novo reino, o que fez de forma meticulosa e impecável, aparecem já referidas cinco companhias de ordenanças no arquipélago. Existiam assim três companhias de ordenanças na cidade da Ribeira Grande, uma na vila da Praia e ainda uma outra na ilha do Fogo. Em causa esteve, por certo, as sucessivas invasões corsárias desta época, que levaram à necessidade imperiosa dos habitantes se organizarem para fazer face aos diversos perigos que, nos anos seguintes, não pararam de aumentar.
O quadro de mobilização entre os finais do século XVI e os inícios do XVII é referido por várias testemunhas, embora restando saber até que ponto correspondia a uma realidade, isto é, à informação que se pretendia transmitir para Lisboa. O sargento-mor FRANCISCO DE ANDRADE refere, em 1582, para Filipe II, as quatro companhias de Santiago, mas a que o padre jesuíta Baltasar Barreira, em 1606, já amplia para sete. Pouco depois de 1625, outro padre jesuíta já refere a existência de doze, o que a imaginar que cada companhia de ordenanças implicaria, aproximadamente, um efectivo de 250 homens, teríamos um total de 3 mil homens em armas na ilha de Santiago, o que nos parece excessivo para a época. Ao longo do século XVII, confrontando as informações dos governadores D. FRANCISCO DE MOURA, em 1619 e, FRANCISCO DE VASCONCELOS DA CUNHA, em 1624, vemos que a média de 250 homens raramente era atingida, devendo as companhias andarem pelos 150 a 170 homens.
Carta de DIEGO FLOREZ DE VALDEZ a D. Filipe I sugerindo a melhoria da defesa da ilha e a mudança do porto principal para a vila da Praia. A cidade conta 508 vizinhos, "5700 escravos de confissão, afora os menores" e para a sua defesa dispõe de três baluartes de vigia: o da Vigia, o da Ribeira e o de São Brás (BRÁSIO, 1958).
ANTÓNIO DE ALMEIDA Pai de Maria de Almeida, casada com Pedro de Andrade que herda o ofício de meirinho da correição (1616) Em 1590 esteve em Lisboa Faleceu (1609) Escrivão das fazendas dos defuntos e ausentes de Santiago (1582-1584) Meirinho da correição de Santiago (proprietário do ofício) (1590-1609) Procurador de mercadores, moradores na cidade de Lisboa (1590, 1597) Feitor ou procurador de Francisco de Paiva - devia entregar 30 peças de escravos ao mestre do navio pertencente a Francisco de Paiva (1604).
A evidência documental sobre a presença dos lançados nas margens do Rio Cacheu, nomeadamente junto ao Rio Grande e ao Rio Pequeno de São Domingos, nas povoações de Sarar (1581) e Buguendo (1582), leva-nos a supor que foram estes lançados, que estiveram na génese da fortaleza e  povoação de Cacheu. A feitoria de Buguendo, inicialmente funcionaria a bordo de um navio fundeado no meio do rio de São Domingos. O sargento-mor Francisco de Andrade, na sua «Relação» datada de 1582, indica como motivo para ser o navio, o local onde se procedia à transação das mercadorias porque os negros eram “inquietos e soberbos”, além de mais não havia nenhum forte onde pudesse estar a feitoria e os brancos. O facto de a feitoria estar sediada no rio e a ausência de um forte enquanto elemento de poder económico e político que marque uma posição firme em terra demonstra haver insegurança relativamente ao espaço e à sua gente.
Por sua vez, André Donelha, referindo-se a Buguendo afirma ter sido este o porto principal de resgate com “muito trato”, contudo no tempo das “guerras se passaram os tangomaus a Cacheu, terra dos bramos, da outra banda do rio” (Donelha/Mota, Hair,1625-1977:166). Na Etiópia Menor, do padre Manuel Álvares, também observamos uma alusão a esta mudança, “abrasando a Buguendo, que este e o nome do sitio da Feitoria, ou Rio de S. Domingos, pelo que tem recebido dos Portuguezes (…) se levantou daqui a Caza para Cacheu” (Álvares, 1646:fl.18/18v).
1582/01/19
Nomeação de GASPAR DE ARAÚJO no cargo de escrivão da feitoria da cidade da Ribeira Grande, ilha de Santiago. Escrivão - Oficial público encarregado de escrever autos, atas, termos de processo e outros documentos legais junto a diversas autoridades, tribunais, corpos administrativos etc.
1582/01/26
A “Relação” de FRANCISCO DE ANDRADE, datada de 26 de Janeiro de 1582, foi feita a pedido de um vassalo de Filipe II, de passagem pela ilha de Santiago, Pedro Sarmiento de Gamboa:
“Esta Relaçaõ fiz eu Francisco d’Andrade, Sargento-mor desta ylha de Santiaguo do Cabo Verde, a pedimento de PEDRO SARMENTO DE GAMBOA, gouernador e capitaõ geral do estreito de Magalhais, para la S. C. R. Magestade del Rey noso Senhor” 1.Confirma-o o próprio Sarmiento, na sua carta a António de Eraso, Secretário do Consejo de Indias, datada de 31 de Janeiro seguinte2. A “Relação” foi feita durante a estadia da armada de SARMIENTO DE GAMBOA e de DIEGO FLORES DE VALDÉS em Santiago, que decorreu entre 9-12 de Janeiro e 2 de Fevereiro de 15823
1 AGS, Guerra Antigua, legajo 122, doc. 180 [Santiago], 26 de Janeiro de 1582, in MMA, III, p. 107. Cfr. Quadro II e Anexo: 1582 — ANDRADE. Cita-se infra a ed. da MMA.
1583
Em um outro ataque radical registrado na Ribeira Grande no ano de 1583, os piratas franceses, capitaneados por Duguay-Trouin, roubaram até os sinos da Sé Catedral.
Os próprios portugueses não se coibiram de participar na sequência de pilhagens, a pretexto de um duvidoso irredentismo: em Janeiro de 1583, forças supostamente fiéis a D. António Prior do Crato (que se reclamava herdeiro da coroa de Portugal e, como tal, a disputava a Filipe II de Castela), desembarcaram na ilha de Santiago e pilharam a Ribeira Grande – logo depois da ilha de Fogo, que ocuparam durante algum tempo. Do saque nada, ou quase nada, resultou em benefício do pretendente da coroa – os homens, comandados por EMANUEL SERRADAS, apoderaram-se de quanto podiam.
Desembarque de EMANUEL SERRADAS ( pouco se conhece da sua vida, além da sua participação nas campanhas ao lado do Prior do Crato – foi um dos poucos portugueses que não foi comprado pelo ouro de Espanha. Terá acompanhado D. António, quando este criou nos Açores (ilha Terceira) uma bolsa de resistência ao domínio filipino – foi daí que Serradas partiu para o ataque às ilhas de Santiago e Fogo. Cavaleiro Hospitalário, terá combatido em Alcácer Kibir. Ignora-se se acompanhou D. António de Portugal para o exílio em França, depois que este foi derrotado por um desembarque castelhano nos Açores, comandado por Álvaro Banzano (ocorrido enquanto Serradas se encontrava em Cabo Verde, o que de certo modo explica o fracasso desta campanha, que de resto se confrontara com a oposição dos senhores da Ribeira Grande, que tomaram partido pelo Rei Filipe) e partidários de D. António Prior do Crato na vila da Praia e assalto à Ribeira Grande. A terra é "saqueada de toda a riqueza que tinha" (BRÁSIO, 1958).
MANUEL DA SILVA COUTINHO  (Santarém, 1541Angra13 de Agosto de 1583), conde de Torres Vedras (por D. António), mais conhecido por conde Manuel da Silva, foi o principal apoiante de D. António, Prior do Crato, entre a aristocracia portuguesa. Acompanhou o Prior do Crato no exílio para França, tendo depois sido seu lugar-tenente na ilhaTerceira até à submissão da ilha a Filipe II de Espanha na sequência do desembarque da Baía das Mós. Feito prisioneiro, foi decapitado por ordem de D. Álvaro de Bazán, marquês de Santa Cruz de Mudela. Biografia Manuel da Silva Coutinho: nasceu em Santarém, no ano de 1541, no seio de uma família ilustre, pois descendia dos senhores da Chamusca e Ulme, famílias ligadas à alta aristocracia portuguesa e castelhana. Seu avô materno era Rui Dias de Sousa, por antonomásia o Cid, o valente alcaide que morreu nas fronteiras de África. Seu pai, Brás da Silva, comendador de Castelejo, é o bravo de quem fala Damião de Góis na Crónica de D. Manuel. Não participou na expedição que teve como desfecho a batalha de Alcácer Quibir, tendo optado por permanecer em Portugal, aparentemente por razões financeiras e familiares.]A adesão ao partido antonino Sendo fronteiro-mor de Santarém, desencadeada a crise de sucessão de 1580, é dos primeiros e mais eloquentes partidários do filho de Violante Gomes, D. António, Prior do Crato. Nas cortes de Lisboa de 1579 e nas de Almeirim (1580), convocadas pelo cardeal-rei, advoga estrenuamente os direitos de D. António. Está com ele em Santarém na qualidade de fronteiro-mor quando o aclamam rei, sendo por isso perseguido pelos governadores do reino. Quando o povo de Santarém vacila em sustentar o grito que vitoriara, Manuel da Silva força os seus conterrâneos, com a espada na  mão, a manterem a sua adesão à causa antonina. Tendo acompanhado D. António no seu périplo pelo país, participa na batalha de Alcântara com patente de general, é do grupo dos fugitivos que seguem o Prior ferido e derrotado na sua fuga para norte. A elevação a conde de Torres Vedras Durante este período, foi feito conde de Torres Vedras, quando o legítimo conde de Torres Vedras, D. Martim Soares de Alarcão, se mostrou hostil o D. António, acastelando-se contra ele. Juntamente com o título, o Prior do Crato deu-lhe a casa do conde rebelde — posse que nunca Manuel da Silva fruiu. Foi já feito conde que acompanhou o Prior do Crato na sua retirada para França. Embora o título não tenha sido registado, e não seja aceite como válido pela generalidade dos genealogistas, foi como conde Manuel da Silva que passou à História.
Vendo-se o conde Manuel da Silva com todos os poderes de El-Rei D. António, cuidou de se fazer respeitar, e, para melhor dizer, adorar dos habitantes e dos defensores da ilha Terceira, servindo-se com estado real, e escoltando-se pelas diferentes partes onde saía, com guardas francesas e inglesas[1]. Tinha em seu serviço todos os oficiais, como há na casa do rei. Fez capitão da gente de cavalo a Gaspar de Geão, homem respeitável; e capitão da infantaria em que entravam os nobres, a António da Silva, sobrinho dele conde, mancebo solteiro, e grande militar. Porque o mesmo conde Manuel da Silva era mui destro cavaleiro, passava a maior parte do tempo em divertimentos e exercícios de cavalaria, deixando de cuidar em outras coisas que muito lhe convinham, a fim de repelir os golpes da constante adversidade; mas como tudo isto e muito mais fazia sem conselho de pessoa alguma, deu lugar a continuadas murmurações, e a supor-se muito mal do fim de seu governo.
Deste desmesurado amor próprio resultou que, depois de haver partido El-Rei D. António para França, chegasse a esta ilha certa embarcação em que vinha um Amador Vieira[2], trazendo cartas de El-Rei de Castela a seu primo D. António. Porém o conde, abusando do poder que lhe fora confiado, as guardou consigo todas, abrindo-as, e lendo-as sem as mandar a seu amo; procedimento arbitrário, que ofendeu a todos quantos pensavam livremente; e que na verdade foi a causa principal de que a ilha não gozasse dos excelentes partidos e mercês oferecidos ainda por esta vez. Acresceu a isto que o dito enviado não mostrou empenho algum em cumprir a importante comissão de que fora encarregado; antes pelo contrário, desprezando as ordens que trazia, se deixou seduzir pelo conde, e com afagos e promessas se sujeitou ao seu serviço, descobrindo-lhe traiçoeiramente a muitos homens que naquela ocasião lhe haviam manifestado seus intentos[3]. E julgando não ser conveniente estarem paralisadas tantas forças de seu comando, quis pô-las em acção e distraí-las da ociosidade, no intuito de lucrar alguma coisa em benefício dos cofres públicos, que estavam exaustos.
Para isto formou logo uma armada de 10 velas, guarnecidas pela maior parte de soldados franceses; e lhe deu por comandante a um MANUEL SERRADAS, da ilha da Madeira, e capitão particular em cada nau: ordenando-lhes que levassem a bandeira portuguesa em cada uma delas; e que em nome de El-Rei D. António apreendessem todos os navios de qualquer nação que lhe não obedecessem, trazendo-os à ilha Terceira prisioneiros. Que outrossim fossem ao castelo de Arguim, o tomassem, e embarcassem consigo todas as munições de guerra e artilharia nele existentes; e que passando às ilhas de Cabo Verde lhes não fizessem dano  algum, mas concordassem nos meios com que as pudessem trazer à obediência de El-Rei D. António; e a respeito de tudo isto lhes deu regimento escrito, e por ele assinado. Quase todas as embarcações eram francesas, e a capitânia era uma formosa nau por nome Amberle.
Saíram estas em direitura ao castelo de Arguim, o qual tomaram de surpresa por estar a guarnição a sono solto. Apreenderam também muitos navios de pescaria, e naus de grande porte, os quais mandaram para a Terceira com soldados portugueses e franceses de guarnição. Acontecendo porém tomar conta de uma destas naus um piloto natural da Terceira, por serem em pouco número os portugueses, e a gente da nau muita mais, se levantou esta em certa noite, assassinando os portugueses que pela maior parte dormiam. Fazendo-se a nau então no rumo da ilha da Madeira, ali chegou a salvamento, e logo foram enforcados o dito piloto e o cabo do mar, que era natural de Angra[4].
Em outra nau meteram-se alguns soldados franceses, e da mesma forma contra eles se levantaram os da maruja, que eram portugueses. Contudo não foram tão bem sucedidos estes como os da outra nau, porque estando os franceses senhores das armas, em breve espaço mataram a maior parte, e os poucos que trouxeram vivos os mandou o conde açoitar, tomando-lhes as fazendas que haviam saqueado. Deste modo pagaram na mesma moeda, e pela mesma forma, quanto haviam roubado a seus donos.
Continuando a sua derrota chegou MANUEL SERRADAS às ilhas de Cabo Verde com 6 naus, porquanto as outras andavam ao corso naqueles mares: e mandando recado a terra pelo padre MANUEL RODRIGUES TEIXEIRA, certificando ser aquela armada de El-Rei D. António, e querer lhe prestassem obediência, apenas ele desembarcou, logo os da ilha começaram a persegui-lo, e o levaram preso à cadeia.
Já naquele tempo haviam saltado em terra furtivamente perto de 200 soldados, e vinham marchando pela falda de uma montanha, dispostos em ordem de batalha, figurando muito maior número do que na verdade era. Logo que os da cidade os avistaram puseram-se em retirada; em consequência do que foi a mesma cidade entrada livremente, e saqueada. Entraram depois na cadeia, tirando dela o dito padre Manuel Rodrigues, a quem supunham já morto. Pouco depois fez-se à vela para a Terceira o capitão-mor Serradas com esta armada carregada de tudo que achou naquela terra, trazendo consigo também muitos escravos forros e cativos. Ao Bispo lhe não deixaram coisa alguma, e correu fama de que até os soldados franceses o maltrataram. Todavia ao recolher-se esta expedição não foi a sua vitória louvada pelos terceirenses, nem tão pouco aplaudida pelos homens de melhor entendimento[5]; e sem embargo de que esta aventura os animava, não era suficiente para remover-lhes o desassossego em que andavam, esperando o termo fatal em que devia acabar esta contenda tão porfiosa e aturada.
Os casos mais conhecidos são, no século xvi, os do padre MIGUEL GARCIA, professor de Teologia, de origem castelhana, e do padre GONÇALO LEITE, natural de Bragança, primeiro professor do curso de Artes no Colégio da Baía, que foram mandados sair do Brasil e voltar à Europa, uma vez que se recusavam a confessar quem possuísse escravos, inclumdo os proprios superiores, padres e irmãos do colégio. Miguel Garcia, o mais combativo dos dois, defendia que «nenhum escravo da África ou do Brasil era justamente cativo». Segundo ele, «a multidão de escravos que a Companhia [de Jesus] tem nesta rovíncia...é coisa que e  maneira nenhuma posso tragar, por não poder entrar no meu entendimento serem licitamente havidos.»
O visitador padre CRISTÓVÃO DE GOUVEIA, em missão de inspeção no Brasil (1583-1589), assustado com a possibilidade de contágio destas «opiniões novas em coisa de tanto peso», reuniu-se com os padres do Colégio e apresentou pareceres (que já trazia consigo ou eram públicos) dos padres de Angola, do bispo de São Tomé, da Mesa da Consciência e Ordens, em Lisboa, e de vários letrados e teojuristas da Europa, entre os quais Fernão Peres, Gaspar Gonçalves e o célebre Luís de Molina. Nenhum deles duvidava, segundo concluíram, de que poderia haver cativeiros justos.
Desta forma, segundo o visitador, «vendo que as opiniões do padre Garcia eram muito opostas ao comum de todos, perigosas e escandalosas nestas partes e que ele estava muito aferrado a elas sem querer dar lugar à razão nem crédito a tantos padres, nos pareceu a todos que não tinha remédio nesta província e que de todo é inútil nela e que fazia dano nela com as suas opiniões tão escrupulosas ( ... ), sem querer ceder na sua opinião», tendo sido determinado, com parecer de todos os outros padres, enviá-lo à sua província.  E Miguel Garcia lá seguiu para Sevilha e daí para Toledo, afastado do terreno em que a sua voz era mais perturbadora
Ataque de corsários franceses à cidade da Ribeira Grande, ilha de Santiago
JOÃO BARBOSA DE BARROS Moço da Câmara do Rei Cavaleiro fidalgo da Casa Real (1585) Filho de Pedro Barbosa de Barros, morador em Viana Faleceu (1604) – Foi sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário na Ribeira Grande. Seus herdeiros foram sepultados na mesma sepultura Almoxarife da ilha de Santiago (23 de Abril de 1587 até último dia de Junho de 1591) Prestou serviços à Coroa quando dos ataques dos corsários franceses a ilha de Santiago (1583).
GREGÓRIO LOURENÇO, Casado com Maria Borges de Vasconcelos - Antónia de Crasto da Cal, moradora em Leiria, herda a capela que ele instituiu (1684). Proprietário rural - Instituidor da capela do Castelo na ilha de Santiago (1583) – Registo da capela do Castelo na freguesia de S. João Baptista, ilha de Santiago por Maria Borges de Vasconcelos e seu marido Gregório Lourenço – Descrição: alforria de 8 escravos mulatos
GASPAR PEREIRA MELOEscudeiro fidalgo da Casa Real Tesoureiro da fazenda dos defuntos da Ilha de Santiago por 3 anos (1583-1588) Memposteiro mor da rendição dos cativos da ilha de Santiago (serventia / 3 anos) (1583-1588)
CONSTANTINO DE PAZMoço da Câmara do Rei Casado com Catarina Coutinha Falecido (1598) Almoxarife da ilha de Santiago (1583-1584)
ÁLVARO PEDREIRA, Moço da Câmara do Real Escrivão da correição, chanceler e promotor de justiça na ilha de Santiago (1583) Procurador do mercador lisboeta, Diogo Fernandes (1584)
FRANCISCO TOSCANO, Moço da Câmara do Rei Meirinho da correição de Cabo Verde (junto a Diogo Dias Magro) (1583) Procurador de moradores de Lisboa (1584)
DIOGO XIMENES VARGAS Cavaleiro Fidalgo da Casa Real sefardita Casado com Catarina Fernandes Homem poderoso - “pessoa nobre e de grande casa” Falecido (4 de Janeiro de 1624) – deixa seus bens à Companhia de Jesus Procurador da cidade da Ribeira Grande em Portugal (1603?) Assinou uma carta da Câmara da Ribeira Grande (1614) Vereador da Câmara da cidade da Ribeira Grande (1615,1616) Mercador de Cabo Verde Mercador de escravos Lutou contra os simpatizantes de Dom António (1583) Proprietário de um navio (1583, 1604) Preso e degredado para o Reino (1589-1593) Armador (1608) Preso na cadeia da Ribeira Grande (1614) Proprietário rural Senhor de engenho no Espírito Santo no Brasil
1583 (ant. a)         BRAZ PEREIRA BRANDÃO, Livro de armaria feito por Braz Pereira Brandão
1583/03/13
DIOGO DIAS MAGRO - nomeado corregedor em 13 de Março de 1583.
1583/11/05
Carta perdão de D. Fillipe aos habitantes da ilha do Fogo
Carta de perdão geral de 5 de Novembro de 1583, publicada na Chancellaria mór a 16 de Dezembro do mesmo anno, dada aos moradores da Ilha do Fogo; "e isto pelo sabido motivo de não quererem reconhecer ElRei D. Filippe I., nem obedecer-lhe, logo que destes Reinos tomou posse.(Real Archivo da Torre do T., liv. 1. de Leis de 1576 até 1612 , fol. 87).
1584
«O rio quando sahe fora vai muito acoompanhado com grande guarda de frecheiros, e ás vezes com pouca; e posto que andem muitos Mandingas Cacizes entre estes Beafares, dizendo muitas cousas, não tem que fazer com elles; seguem a sua gentilidade, e não poem duvida a serem christãos: e alguns se fazem na propria sua terra, assim homens como molheres; dos que servem aos nossos e andão com elles, dos quaes está esta terra povoada de muitos que nella habitão, delles aposentados no longo do Rio no Porto da Cruz, que he em Guinalá, a par de uma força que ali fizerão os nossos para defensão dos navios, que ali os vinhão tomar os Francezes; e dos negros que estão aldeados ao longo deste forte; e á mingoa de não haver quem pregue a palavra de Deos se não salvão muitos gentios destes, e estão muitos dos nossos lançados vivendo em peccado mortat sem se apartarem delle, morrendo nelle por falta de rnedicos da alma. Verdade he que o Bispo da Ilha de S. Tiago manda todos os annos visitar neste Rio como faz no de S. Domingos, mas nenhum fructo resulta da tal visitação. Se se póde dizer, tenho para mim que he causadora de viverem da manejra que vivem; porque não he de mais fructo que pagarem os lançados com pena pecuniaria a culpa commetida, e flcão sempre vivendo no mesmo pecado, servindo de casas do aluguer que todos os annos lhe vão dobrando as penas. Fallo nisto outra vêz, porque me péza ver entre Christiãos tanto desamparo. Bem podia, Sua Magestade sendo servido, povoar-se este lugar do Rio Grande, e para isso não tem necessidade de mais, que mandar que haja nelle Justiça e pôr Clerigos que residão nelle, homens de boa vida, que edifiquem as suas obras e vida.
Nesta aldeia dos nossos estivérão no anno de 84, obra de quatro ou cinco mezes, huns frades carmelitas descalços, que com seu modo de vida e doutrina fazião grande fructo; por onde me parece que por falta de quem pregue a Doutrina e Palavra de Deos nâo ha hoje nestas partes muita Christandade. Queira Deos por quem he, que em dias de S. Magestade se veja naquellas partes muito augmento na fé.
Nào deixará de alterar-se o preço dos escravose das outras mercadorias povoando-se esta terra; mas he necessario que se acuda mais ao serviço de Deos que ao proveito dos homens. Digo isto porque depois que os nossos se aldeárão e se pozérão todos a par do forte, comprão-se os escravos e o mais que na terra ha por mais preço do que soia ser porque antigamente estavão afastados, aposentados em casas de fidalgos huma legoa, e meia, huns dos outros, e erão guardadas suas pessoas dos seus hospedes e de seus parentes. Hoje saindo os nosso a fora da aldeia tratao-os os negros mal, e não são seguros como dantes, dizendo que querem estar por força na sua terra. Chamo tratar mal, se fizerem os nossos ou seus escravos qualquer desaguisado não o sofrem os negros, e sobre isto há muitas brlgas, e ás vezes mortes; o que não era dantes, estando aposentados com elles; e com tudo povoando-se e havendo Justiça não consentira fazerem-se desordens, por onde haverá paz entre huns e outros: e como a não ha, da fazenda e de quem mais pode he a justiça.» GASPAR DE ANDRADE,  corregedor de Cabo Verde e primeiro capitão-mor das ilhas.
SEBASTIÃO RODRIGUES DE ANDRADE Casado Proprietário de imóveis na Ribeira Grande – tinha umas casas situadas ao pé da Câmara que vendeu em 1593. Foi condenado pelo corregedor das de Cabo Verde, Gaspar de Andrade, em 2 anos de degredo para África por ter dito más palavras contra o alcaide (1584)
GASPAR FERREIRA, Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1584, 1585)
DIOGO ALVARES MACEDO Recebedor na ilha de Santiago (Abril/1584-Abril 1586) Tesoureiro dos defuntos da ilha de Santiago (1584-1591)
LUÍS DE OLIVEIRA Natural de Montemor-o-Novo Tesoureiro das fazendas dos defuntos e ausentes e mamposteiro-mor dos cativos da ilha de Santiago (1584)
LUÍS PENALVO, Escrivão da Alçada da cidade da Ribeira Grande (1584) (tabelião)
FRANCISCO RAMIRES, Falecido (1594) Procurador do trato Escrivão do trato (-1594) Procurador de moradores de Lisboa (1584) Passa letras de câmbio (1589) Feitor de Duarte Furtado, mercador de Lisboa (1591)
1585
JOÃO DE MELO Escudeiro Fidalgo da Casa Real Mercê de um cargo “que lhe cauba em sua pessoa” (1585) Procurador da Fazenda Real (1600) Prestou serviços ao Rei no tempo das alterações – Foi preso pelos sequazes de Dom António Prior do Crato na ilha do Fogo – recebeu mercê por isso de um cargo “que lhe caiba em sua pessoa” (1585)
SEBASTIÃO DA MOTA Moço da Câmara Real Avô de Manuel de Pina Cunha Tesoureiro dos defuntos e mamposteiro-mor dos cativos de Cabo Verde – por 3 anos (1585-1588) Prestou serviços nas armadas do Reino e ser cativo de batalha de África
BRÁS DIAS REIMÃO Nasceu em 1552 Moço da Câmara do Rei Vai para Cabo Verde em 1587 Cidadão da Ribeira Grande Foi à Costa da Guiné (1601) Encontra-se na Ribeira Grande (1603) Morador de Lisboa (1610, 1612) Viveu 23 anos em Santiago Contador dos contos do Reino Escrivão dos contos e do almoxarifado da ilha de Santiago (1585-1592) Escrivão do tesoureiro das fazendas dos defuntos da ilha de Santiago (1588) Almoxarife da ilha de Santiago (1596-1597) – ao prestar as suas contas apresentou um saldo negativo de 2.030 cruzados Almoxarife das obras da fortaleza de São Filipe na Ribeira Grande (1597 até 20 de Outubro de 1597) Mercê do cargo de escrivão do almoxarifado (1598)
ANDRÉ DONELHA esteve no Rio Gâmbia e é provável que tenha feito outras viagens à Guiné. André Donelha aparece-nos como capitão de naus do trato (i. e. do contrato de Cabo Verde) em 1585, fazendo o inventário da fazenda de uma outra nau dos contratadores, que manda entregar a Diogo Henriques (1), que seria então feitor daqueles (2).
(1) Cfr. Donelha, Descrição, pp. 154/156.
(2) Corresponde certamente ao Diogo Henriques que terá contrato já em 1590-1594, cfr. a lista dos contratos em M. M. F. Torrão, Tráfico de escravos entre a Costa da Guiné e a América Espanhola…, vol. I, p. 283. Donelha refere-o ainda na condição de feitor do contratador. 
1585/11/17
Francis Drake, com uma força de cerca de 1000 homens, desembarca em S.Martinho, durante a noite percorre a distância que separa da Ribeira Grande, atacada na madrugada de 17 de Novembro. A população já abandonara a cidade e o saque não terá sido o que os corsários esperavam: por desforra, tudo rapinam, até os sinos das igrejas, e incendeiam Ribeira Grande.
1586
O manejo das peças de artilharia envolvia conhecimentos especiais, não só para o doseamento da pólvora, como para a pontaria das bocas-de-fogo, sendo a direcção destes artífices entregues a um homem de reconhecida competência, geralmente designado por condestável dos artilheiros. O lugar foi ocupado em Santiago, desde 1586, por um elemento de origem italiana, JOÃO REBELO, que o ocupou por cerca de 20 anos. Ao condestável e a um ou outro ajudante, competia coordenar o treino dos artilheiros, que não eram militares, sendo pagos à parte, fazendo, inclusivamente “exercícios de barreira”, onde se testavam os homens e as bocas-de-fogo.
Quanto ao padre GONÇALO LEITE, considerado «inquieto» pelas suas posições incómodas sobre o mesmo assunto, foi obrigado a regressar a Portugal em 1586. Já na casa de São Roque, em Lisboa, escreveu ao geral da Companhia, dizendo: «Bem se podem persuadir os nossos padres que vão ao Brasil que não vão a salvar almas mas a condenar as suas. Sabe Deus com quanta dor do coração isto escrevo, porque vejo os nossos padres confessar homicidas e roubadores da liberdade, fazenda e suor alheio, sem restituição do passado, nem remédio dos males futuros, que da mesma forma cada dia se cometem.»
MANUEL RODRIGUES JORGE Nasceu em 1564 Cidadão da cidade da Ribeira Grande  Mercador Procurador de moradores da cidade de Lisboa (1586, 1588) Em Março de 1610 recebeu da Costa da Guiné 700 alqueires de milho Alferes da gente de cavalo (1614) 
JOÃO NUNES MACHADO Estante em Lisboa (1596) Faleceu sem deixar filhos (1616) Tem a seu cargo a fortificação da ilha de Santiago (1586) Foi por mandado do tesoureiro dos defuntos ao rio São Domingos, arrecadar a fazenda dos defuntos (1594) Meirinho da correição da Ilha de Cabo Verde (1609, 1611) Tem procurador em Lisboa (1589) Contratador do sabão na Ilha de Santiago juntamente com Simão Nunes, morador em Lisboa (1596) Deve 500 cruzados ao ex-corregedor, Amador Gomes Raposo (1597) Serviu o Rei, em Santiago, com armas cavalos e escravos a sua custa “quando da guerra dos inimigos” (1609)
JOÃO RABELO, Italiano Reside em Cabo Verde (1586) Pede mercê de guarda-mor da alfândega da Ilha de Santiago (1607) Condestável das artilharias e de mestre dos repairos de Cabo Verde (1609)
ANDRÉ SOUSA, Vizinho de Santiago Pai de Heitor de Sousa Miranda que herda sua fazenda Faleceu em Santiago (1586) Proprietário rural – tinha uma fazenda na ilha de Santiago que estava dividida em duas partes: 1ª no Tarrafal e a 2ª na Praia Formosa
1587
O cargo de governador-geral foi criado em 1587 (1), sempre com a residência oficial em Santiago. A nomeação para este cargo era régia e tinha uma duração de 3 anos e, pelo menos até 1844, foram sempre nomeados os “filhos de Portugal”(2).
Até 1587, as ilhas de Cabo Verde e os territórios adjacentes eram governados pelos Capitães-Mores; a partir desse período criaram o Governo-Geral, cujos governadores recebiam o título de Capitães-Generais (3), título do qual tinham sido privados, e só reassumidos pelo Decreto de 26 de Março de 1808, no 2º governo de D. ANTÓNIO COUTINHO DE LENCASTRE.
(1) A propósito do processo da criação do Governo-Geral ver Zelinda Cohen, “Administração das Ilhas de Cabo Verde e o seu Distrito no Segundo Século de Colonização (1560-1640)”, História Geral de Cabo Verde, vol. II, coordenação de Maria Emília Madeira Santos, Lisboa-Praia, Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, Instituto de Investigação Científica Tropical, Direcção Geral do Património Cultural, Instituto Nacional de Investigação Cultural, 1995, pp. 189-224, pp. 221-224.
(2) Em 1841, Chelmick & Varnhagen relembra que os governadores tinham de ser “filhos de Portugal”, cf. J. C. C. de Chelmicki e F. A. de Varnhagen, op. cit., Tomo II, p. 259.
(3) Sobre os Capitães-Mores e Governadores que tem tido o arquipélago de Cabo Verde até 1784, cf. Notícia corográfica e cronológica do bispado de Cabo Verde […], op. cit., p. 62 e ss. 82
Ao Capitão-general era atribuído amplos poderes, Chelmicki e Varnhagen escrevem em 1841: “nomeava os Capitães-Mores ou Governadores particulares de cada uma das ilhas, bem como feitores ou administradores da urzela. Era prezidente da Junta da Fazenda e principal arrecadador das rendas do estado: nomeava todos os oficiaes milicianos e os de linha até ao posto de capitão, inclusive, e decidia também em casos judiciaes civis e criminosos, posto que esta repartição dependesse d’outra personagem de magistratura” (1).
(1) Cf. J. C. C. de Chelmicki e F. A. de Varnhagen, op. cit., Tomo II, p. 238.
As obras de construção da fortaleza Real de São Filipe devem ter sido iniciadas em 1587, quando chega à Ribeira Grande o mestre-das-obras reais João Nunes, nomeado a 12 de Junho de 1586, e proveniente de Tânger, onde, em 1577, substituíra o mestre Jorge Gomes. João Nunes acompanhara o rei D. Sebastião à malograda batalha de Alcácer Kibir, tendo ali caído prisioneiro, juntamente com os engenheiros Nicolau de Frias, António Mendes, depois mestre de São Julião da Barra e Filipe Térzio, então engenheiro-mor do reino. A planta de que era portador, quase obrigatoriamente, teria de ser projecto de Filipe Térzio, embora com a colaboração dos outros engenheiros então em serviço na provedoria das obras reais.
Com o fortificador João Nunes também se desloca à Ribeira Grande o capitão português Gaspar Luís de Melo, que prestara serviço nas forças do duque de Alba que haviam invadido Lisboa e, depois, no Funchal, com o corregedor António Leitão, em 1582 e regressara depois a Lisboa, após a instalação do conde de Lançarote na Madeira. Era igualmente um especialista em fortificações, pois no seu regresso a Lisboa, foi ele que forneceu as informações sobre as defesas do Funchal que D. Francês de Alava enviou depois para Filipe II com dois desenhos, que pensamos feitos pelo mesmo capitão.
Este ano de 1587 marca igualmente a reestruturação do governo de Cabo Verde, com a criação do lugar de governador e capitão general das ilhas de Cabo Verde, assim como a especificação das atribuições do oficial superior de justiça de que passou a ser acompanhado, o corregedor. Definia-se assim uma nova estrutura de poder, poucos anos antes, em 1584, ensaiada na Madeira, com o envio do antigo capitão do Oriente e alcaide de São Julião da Barra, Tristão Vaz da Veiga. Delimitava-se assim os poderes dos antigos capitães-donatários, que passam a ser, vagamente, representados por ouvidores, ou nem isso, limitando-se a usufruir das verbas das suas antigas capitanias, mas a que nem sempre tinham acesso, dadas as quebras gerais dos rendimentos do comércio de Cabo Verde
FORTALEZA DE CACHEU
As primeiras casas da povoação foram erguidas para os “nossos” se alojarem, após a construção do forte por volta de 1587-88. Além do forte e das casas, entre 1596-1065, observamos que se procedeu à construção da igreja de N. S. do Vencimento e de outras estruturas associadas aos ofícios religiosos: capela, coro, sacristia, pátio e casa sobradada.
Por volta de 1587-8, com o pretexto de erguer um forte para puderem responder aos ataques dos corsários, o cabo-verdiano Manuel Lopes Cardoso com astúcia, consegue junto do rei da terra autorização para a dita construção. A localização deste forte e da pequena povoação situada “ao longo do Rio, entre a aldeia dos negros e ele” (Almada/Brásio, 1594-1964:71) para onde se mudaram os lançados, indica que a escolha do local para a sua implementação não foi aleatória, antes pelo contrário revela um profundo conhecimento do território e dos mecanismos comerciais da região. Relativamente aos materiais utilizados na construção do forte, numa primeira fase ter-se-á recorrido às matérias-primas locais disponíveis, tais como a madeira e o barro. Almada não indica quais os materiais usados na construção do primeiro forte todavia, refere que “as casas da dita povoação são de taipa.” Deste modo, julgamos que o forte tivesse também sido construído em taipa, esta técnica vernacular tem por base a argila e o cascalho. Um dos problemas que os europeus enfrentaram na África Ocidental foi a ausência de materiais locais adequados para a construção das suas estruturas. Na maioria dos lugares do litoral a pedra era muito dura ou quebradiça para ser cortada facilmente em blocos rectangulares, obrigando os europeus a recorrerem aos materiais e técnicas locais africanas. Os portugueses não foram excepção e enfrentaram as mesmas questões em Cacheu. Como solução elegeram a madeira como o material de construção de eleição dada a existência de uma extensa área de mangues na região. A biodiversidade do mangal traduz-se num ecossistema riquíssimo, nomeadamente em moluscos, como as ostras.
Como nem sempre do reino chegava o material solicitado a Cacheu, no caso concreto da cal colmatou-se o problema recorrendo à produção de cal conchífera, através do esmagamento das cascas de ostras que posteriormente terão sido incluídas na argamassa.
JERÓNIMO BARBUDO, Casado com Cristina da Veiga, moradora de Santiago Teve dois filhos: Manuel Barbudo e Jerónimo Vaz da Veiga Capitão da 1ª companhia das ilhas de Cabo Verde (?-1587) Defendeu a ilha de Santiago dos franceses – faleceu nessa luta
MANUEL BARBUDO, Natural de Santiago Filho de Jerónimo Barbudo e de Cristina da Veiga, ambos moradores da Ilha de Santiago Irmão de Jerónimo Vaz da Veiga
MANUEL DIAS DA CALHETA Nasceu em 1533 ± Cavaleiro Fidalgo da Casa Real Tio de João Dias Liote Vive no Bairro de São Brás na cidade da Ribeira Grande Mercê de uma tença de 15.000 reais (1587, 1588) Procurador de Santiago (1588) Provedor das fazendas dos defuntos e ausentes de Santiago (1588, 1598) Ouvidor Geral das ilhas de Cabo Verde e limites de Guiné (1598, 1599) – Primeiro ouvidor geral O capitão-mor das ilhas de Cabo Verde mandou que ele, como ouvidor geral, tomasse a vara ao juiz ordinário da vila da Praia, Gaspar Fernandes Lucas e o prendesse (8 de Março de 1598) No ano de 1599, manda fazer um auto a Luís da Fonseca, juiz e capitão interino da Praia que foi condenado por ter abandonado o exercício de seu ofício, deixando a vila sujeita a qualquer ataque
TOMÉ FIDALGO, Filho de Manuel Fidalgo Procurador de moradores reinóis (1587)
CIPRIÃO CARVALHO DA FONSECA Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1584, 1587, 1591)
ANTÓNIO DE MIRANDA Escrivão do almoxarifado da ilha de Santiago (1587) Escrivão da provedoria dos defuntos da ilha de Santiago (serventia por 6 anos) (1587-1593?)
FERNÃO SANCHES, Em 1585 já se encontra em Cabo Verde Casado com Catarina Lopes Cristão-novoAcusado pelo Bispo de Cabo Verde, Pedro Brandão de ser “homem de nação” Irmão de Simão de Oliveira
GARCIA MENDES (1598) Feitor na ilha do Maio do rendeiro da ilha (1592) Feitor dos contratadores da ilha de Santiago (1593,1594) Mercador Procurador de moradores de Lisboa (1587- 1601) Comprou 1.215 peles da ilha da Boa Vista (1596) Passou procuração a seu irmão Simão de Oliveira e a Pêro Vaz de Lemos para negociarem nos Rios de Guiné certas mercadorias e as trocarem por escravos para Cartagena (1601)
DUARTE LOBO DA GAMA no cargo de capitão e governador das ilhas de Cabo Verde. A honra de carregar as insígnias, de receber regimento condigno e de prestar preito e menagem pelo cargo de capitão e governador de Cabo Verde estava reservado não aos doutores mas sim aos fidalgos da Casa Real. Jurou-o, pela primeira vez, no ano de 1587, Duarte Lobo da Gama (362). A partir desta nomeação, com a qual “se processa a unificação política e administrativa da Capitania” (363), o cargo passa a ser provido por três anos, não tendo mais estes oficiais, agora adstritos à gestão civil e militar do arquipélago, responsabilidades específicas com o exercício da justiça naquela circunscrição.
362 - ANTT, Chanc. D. Filipe I, liv. 12, fls. 333 vº-334 vº, in Brásio, MMA, 2ª série, vol. III, doc. 59, 07-Ago-1587; Chanc. D. Filipe I, Doações, liv. 15, fl. 416, 11- Nov-1587.
363 - António Carreira (Apresentação, notas e comentários), Notícia corográfica e cronológica do bispado de Cabo Verde..., p. 62.
Aos capitães-donatários sucederam os governadores (primeiro chamados de capitães-gerais) de Cabo Verde. Este ano de 1587 marca a reestruturação do governo de Cabo Verde, com a criação do lugar de governador e capitão general das ilhas de Cabo Verde, assim como a especificação das atribuições do oficial superior de justiça de que passou a ser acompanhado, o corregedor. Definia-se assim uma nova estrutura de  poder, poucos anos antes, em 1584, ensaiada na Madeira, com o envio do antigo capitão do Oriente e alcaide de São Julião da Barra, Tristão Vaz da Veiga. Delimitava-se assim os poderes dos antigos capitães-donatários, que passam a ser, vagamente, representados por ouvidores, ou nem isso, limitando-se a usufruir das verbas das suas antigas capitanias, mas a que nem sempre tinham acesso, dadas as quebras gerais dos rendimentos do comércio de Cabo Verde.
AMADOR GOMES RAPOSO foi o último dos corregedores das ilhas. A sua nomeação, realizada em simultâneo com a do primeiro capitão-governador (1), fez com que se retardasse, por alguns anos, a instituição da ouvidoria geral que acabaria por suceder, definitivamente, à antiga corregedoria.
(1) - Ao mesmo tempo em que se nomeia o licenciado Amador Gomes Raposo para ir servir de corregedor às ilhas de Cabo Verde (ANTT, Leis, liv. I, fls. 182 vº - 184, 27-Jul-1587), é feita mercê a Duarte Lobo da Gama, fidalgo da Casa Real, do cargo de “capitão das ilhas do Cabo Verde” (ANTT, Chanc. D. Filipe I, liv. 12, fls. 333 vº-334 vº, 07-Ago-1587). Ambas as cartas foram publicadas pelo Pe. Brásio, MMA, 2ª série, vol. III, docs. 57 e 59, respectivamente, encontrando-se ainda aquela em Barcellos, op. cit., pp. 161-163 .
1587/01/27
No período da Monarquia Dual nomeadamente em 27 de Janeiro de 1587 confirmou-se uma lei de D. Sebastião e uma provisão declarada nela mandando que pessoa alguma de nação, naturais ou estrangeiras, de qualquer qualidade ou condição ou idade saísse para fora dos reinos e senhorios de Portugal por mar ou terra para qualquer parte, conquistas e senhorios do reino de Portugal sem sua licença, dando fiança e com a condição de voltar em certo tempo, nem vendessem a dita licença, seus bens de raiz, juros, tenças, rendas que tivessem nos reinos e senhorios. Esta lei segue a de 1579 que revogava a de 1567 passada em Sintra
1587/02/09
Falecimento do bispo da diocese de Cabo Verde, D. BARTOLOMEU LEITÃO
1587/07/28
Amador Góis Raposo - nomeado a 28 de Julho de 1587, corregedor e provedor dos órfãos, das obras e hospital. Em 17 de Março de 1588 recebeu um extenso regimento que, salvo pequenas alterações, servia de norma para o desempenho desse cargo. Dizia este regimento: «Alem de poderes que por minhas ordenações são concedidos aos corregedores das comarcas dos meus reinos, de que usareis, useis de poder e alçada adeante declarada: Alçada sobre os fidalgos para os degredar até dois anos e nos cavalheiros e escudeiros, ainda que sejam de linhagem, até 4 anos; nos oficiais mecânicos e peões, que não forem de soldada, até 5 anos. Aos peões que ganharem dinheiro por sua braçagem tereis alçada para mandar açoitar e degredar até 7 anos, ou para as galés até três e meio anos. Devassareis as pessoas que andam nos Rios de Guiné ou em outras partes feitos tangomãos e trabalhareis pelos prender...e porque sou informado que nas ditas Ilhas e Rios andam muitos homens casados que foram deste reino ha muitos anos sem quererem vir fazer vida com suas mulheres, nem as prover do necessario, vivendo mal e dissolutamente, informar-vos-eis disso e achando que ha lá alguns dos ditos homens, fareis embarcar para o Reino... e assim vos informareis se nas ditas Ilhas e Reinos Comarcões andam alguns clérigos ou outras pessoas que sejam prejudiciais ao meu serviço, fareis embarcar os leigos e quanto aos clérigos direis da minha parte aos bispos que lhes agradecerei manda-los vir ... ». Além disso o regimento dava ao ouvidor  geral alçada sobre os escravos até a pena de morte, salvo o recurso a El-Rei. Nos feitos cíveis tinha alçada até à quantia de 40$000 réis nos bens de raiz e até 50$000 réis nos móveis, sem apelação. Finalmente o ouvidor resolvia os recursos vindos dos juízes ordinários.
1587/08/01
DUARTE LOBO DA GAMA - Durante o reinado dos Filipes, foi primeiro nomeado Capitão das Ilhas de Cabo Verde em 1 de Agosto de 1587. Depois, 1588, foi nomeado Capitão e Governador-geral de Cabo Verde. Deixou o cargo a 25 de Março de 1591.
1587/08/07
«Autonomia dos serviços de administração geral e militar e sua entrega a governadores de nomeação régia. Separação dos serviços judiciais
Duarte Lobo da Gama - fidalgo da Casa Real, nomeado em 7 de Agosto de 1587, capitão geral de todas as ilhas, podendo acumular todos os cargos de justiça e de fazenda que estivessem vagos. Ordenado 300$000 reis.» João Barreto
1587/09/03
«Um alvará régio de 3 de Setembro de 1587, manda que JOÃO PINTO, «natural de Guiné, enquanto ele estiver e residir no sertão das Ilhas do Cabo Verde e contingentes a elas, na conversão dos gentios da dita ilha, tenha e haja da minha fazenda sessenta mil reais cada um ano, que lhe serão pagos no almoxarifado da ilha do Cabo Verde» (1).
ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA, após breve prólogo, dedica o primeiro capítulo do seu clássico Tratado Breve dos Rios de Guiné aos negros jalofos, «que começam do Rio de Sanagá [Senegal], da banda do Sul dele». O manuscrito 525 da Biblioteca Nacional de Lisboa (Fundo Geral), que passa por ser resumo, feito no século XVII (2), do Ms. 297 (o segundo manuscrito mais importante do Tratado Breve), traz a seguinte passagem, que lhe é exclusiva:
«Esta nação dos jalofos é a mais dificultosa em receber a fé de Jesus Cristo N. S. que todas as outras nações dos negros de Guiné, porque quase todos seguem a seita de Mafoma, ou muitas cousas dela, e são mouros, e raramente se vai um fazer cristão, se não é depois de ser cativo dos cristãos. E no ano de 1589 foi um clérigo preto por nome JOÃo PINTO, da mesma nação, àquele reino para os fazer cristãos, e não fez fruto algum neles, e por isso se foi para outras nações, em que baptizou muitos, mas pela má ordem que nisso tinha o mandou chamar o bispo» (3).
No capítulo IX, ao tratar do reino dos Buramos (4), ALMADA cita de novo o nome do Padre JOÃO PINTO e o conflito com o bispo de Cabo Verde. Fixara-se o padre jalofo nas bandas de Cacheu, onde MANUEL LOPES CARDOSO construíra um forte e uma aldeia com a licença do «rei» da terra, o nosso conhecido Chapala. A esta «feitoria de S. Domingos», cuja existência consta pelo menos duma certidão, passada pela Casa da Mina a JORGE CORREIA a 10 de Setembro de 1535 (5), vinha todos os anos um padre de Cabo Verde, enviado pelo bispo, fazer a desobriga pascal. «Esta povoação dos nossos, escreve ALMADA (6), está povoada de muita gente e quaresma em que se confessam 700 a 800 pessoas».
Tais «visitas» rendiam grosso cabedal para os escolhidos do bispo e para a própria diocese de Cabo Verde. Esta a razão principal de o «etíopus» Padre JOÃO PINTO não ser bem visto em Cacheu. É bem claro o texto de ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA:
«O bispo da ilha de Santiago, cuidando que o padre lhe apoquentasse a sua chancelaria, porque costuma mandá-la visitar todos os anos, assim neste Rio de S. Domingos como nos mais, as quais visitações não vemos fazer mais fruto que na sua chancelaria sõmente, que se acrescenta e se lhe vai dobrando cada vez mais, mas estão os mesmos lançados de contínuo no mesmo pecado, sem se apartarem dele nem se virem para suas mulheres; cuidando, como digo, o bispo, que pela razão do clérigo se lhe diminuiria a chancelaria, o mandou suspender e que não usasse das suas ordens e se fosse logo caminho da ilha de Santiago, o qual logo obedeceu e se foi. E falando com o bispo, perguntando-lhe quem o mandara ir à Guiné, respondeu o padre que quem mandara ir o dito bispo à ilha o mandara a ele, que era S. Majestade; basta que o teve suspenso e mandou que se livrasse e quisesse formar culpas, dizendo todos em geral que a não tinha; andando o clérigo neste livramento faleceu» (7).
O «rei» Chapala, referido quando se tratou do carmelita Fr. CIPRIANO, pasmava quando via o feitor de Cacheu e todos os mais brancos da feitoria prestarem honras ao clérigo preto. O feitor, logo que o via, levantava-se da cadeira em que estava sentado e oferecia-lha.
Anota ALMADA a seguir: «Dizia o rei e os mais fidalgos que, sem embargo daquele homem ser preto como eles, lhe faziam os nossos tanta honra porque falava com Deus. E o rei ia muito ao forte quando se dizia missa». «Este rei, o dia de Natal, dizendo o padre, que ali estava entonces, missa, lhe ofereceu na oferta uma escrava moça muito boa e fermosa» (8).
O Ms. 297 (Fundo Geral), da Biblioteca Nacional de Lisboa, comenta largamente o episódio, relevando a reverência prestada pelos brancos ao padre jalofo, facto que demonstra os portugueses nunca terem sido racistas, apreciando as pessoas pelos seus méritos reais e não pela cor da pele.
O autor do Tratado Breve dos Rios de Guiné dói-se da morte do P. JOÃO PINTO pelo muito fruto nas almas e serviço a Nosso Senhor e porque vivia mui exemplarmente. E comenta: «Tenho para mim que se não convertem muitos gentios destes é por falta de não haver quem lhes instrua e declare a nossa lei e doutrina porque eles não têm seita mais que serem idólatras».
Outros pretos da Costa da Guiné tentaram a ascensão ao sacerdócio ministerial de Cristo, conforme consta da própria Crónica dos Descobrimentos. Este é um dos trechos exclusivos do MS. 297, da B. N. L. (F. G.), que António Brásio coloca, em nota, no fim do capítulo IX e a edição de Luís Silveira traz em apenso, p. 92 s. Feitos da Guiné, de GOMES EANES DE ZURARA (10). Que saibamos, o Padre JOÃO PINTO foi o primeiro a atingi-lo.
(1) lbid., p . 153.
(2 lbid., na Introdução, p. X.
(3) lbid., p. 233, nota l . A edição de Luís Silveira não traz esta divergência textual.
(4) Consideram-se os buramos os antepassados das três raças afins: brames ou manchanas, papéis e manjacos. Almada, neste capítulo, informa que aos buramos se dava também o nome de papéis.
(5) P. ÀNTÓNIO BRÁSIO, Monumenta Missionária Africana, 2.ª rie, vol. II, p. 275. Note-se que a «feitoriê muito mais antiga que o «forte».
(6) Tratado Breve dos Rios da Guiné, cap. IX, p. 46.
(7) Este é um dos trechos exclusivos do MS. 297, da B.N.L. (F.G.), que António Brásio coloca, em nota, no fim do capítulo IX e a edição de Luís Silveira trnz em apenso, p. 92 s.
(8) A. A. ÀLMADA, Tratado Breve..., p. 92 (Ms. 297).

(9) H. PINTO REINA, A primeira evangelização da Guiné 1434-1533, em Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, n.º 83 (1966), p. 347 s.»
Henrique Pinto Rema, As primeiras missões da Costa da Guiné, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Vol. XXII, N.os 87-88, Julho-Outubro 1967
1588
André Álvares de Almada, refere os vexames a que os comerciantes portugueses estão sujeitos em Cacheu.
Instalação no porto de Cacheu (Guiné) de uma feitoria fortificada destinada sobretudo ao tráfico de escravos.
Cacheu povoação fundada e fortificada em 1588 por MANUEL LOPES CARDOSO, natural da Ilha de S. Tiago MANUEL SEMEDO CARDOSO?
Não encontrei nenhum dado sobre ele. Mas aparece na documentação, na mesma época um Manuel Lopes Cardoso, morador na Ilha de Santiago. Em 1588, encontra-se nos Rios de Guiné onde contribuiu para a construção da povoação e forte de Cacheu. André Alvares de Almada diz que ele foi o «autor e se fazer este forte e aldeia» e que isso só foi possível porque ele «por industria houve licença do rei da terra chamado Mapala, para fazer no dito sitio o forte /... /. Foi feitor do contrato de Guiné e Cabo Verde no Rio São Domingos (1593, 1594).
António Brásio, MMA, 2ª série, vol. III, Lisboa, 1964. doc. 92, p. 300; IAN/TT, Cartório Notarialnº 1. Lº 1579, Setembro 30-Novembro 23, fls. 13-14, 6 deOutubro de 1579; IAN/TT, Cartórlo Notarialnº lI. Lº 18, fls. 101 v.-102, 26 de Dezembro de 1593.
Em 1588 foi criada a primeira companhia inglesa de comércio com a “Guiné”, principalmente, a partir da iniciativa de mercadores de Londres e de Exeter, que já participaram activamente das expedições comerciais no estuário da Gâmbia. Entretanto, nada permite afirmar que esta companhia se tenha desenvolvido muito. Talvez, os ingleses pensassem, no fim do século XVI, que a pilhagem dos navios castelhanos, nas águas do Atlântico, lhes renderia mais do que o comércio com a África.
Em 1588, o rei instruiu o corregedor AMADOR GOMES RAPOSO no sentido de fazer com que os “muitos homens casados que foram deste reino há muitos anos sem quererem vir fazer vida com suas mulheres, nem as proverem do necessário, vivendo mal e desolutamente, fossem remetidos a Portugal”. Leis, liv. I, fls. 180-182, de 17 de Março de 1588.
Mantida, posteriormente, nas mãos dos capitães-corregedores, a provedoria dos defuntos das ilhas, que havia também de ser dos ausentes, resíduos e capelas (1), passou a contar, a partir da nomeação de MANUEL DIAS CALHETA (1588) (2), com um oficial exclusivo. Há que reparar na inclusão da superintendência das capelas, instituição vincular de grande importância para realização de obras pias e religiosas (3), inicialmente adstrita à jurisdição da provedoria dos órfãos.
(1) - ANTT, M.C.O., liv. 32 do Registo de Consultas, fl. 66, 24-Jan-1632.
(2) - ANTT, Chanc. D. Filipe, Doações, liv. 17, fl. 141 vº, 05-Fev-1588.
(3) - Acerca desta instituição V. António Correia e Silva, «Espaço Ecologia e Economia Interna», in HGCV, vol. I, p. 204 e segs.
ÁLVARO CORESMA, Nasceu em 1568 Natural de Santiago Irmão de Simão Coresma e de Manuel Coresma Em 1588 é morador em Lisboa na Praça da Palha Em 1594 volta para Santiago. Mora defronte à Misericórdia da Ribeira Grande (rua do Calhau) No ano de 1615 encontra-se em Lisboa Tesoureiro das fazendas dos defuntos e ausentes da ilha de Santiago (1611) Mercador – mercador de escravos (1588, 1596, 1598) Procurador de moradores e comerciantes reinóis (1594-1597) Tem autorização para que possa “…vender cartas de jogar …” em Santiago e no Fogo (1600). Tem relações comerciais intensas com as Canárias (1607), para onde vende escravos e outras mercadorias. No ano de 1610, recebeu 316 alqueires milho da Costa da Guiné. Mordomo da Confraria Nome de Jesus (1612)
SIMÃO CORESMA Natural de Santiago Irmão de Álvaro Coresma e de Manuel Coresma Fez uma companhia de comércio com Nuno Fernandes de Alvito (1588)
AMADOR GOMES RAPOSO é corregedor de Cabo Verde.
ANTÓNIO MARQUES, Moço da Câmara Real Casado com Isabel Palha da qual teve 3 filhos Faleceu em Cabo Verde (1589) Recebedor das obras das fortificações mandadas fazer na Ribeira Grande (1588-1589)
PÊRO CORREIA DE MESQUITA Nasceu em 1565 Escrivão do tesoureiro das fazendas dos defuntos e memposteiro dos cativos de Santiago (1588) Inquiridor na Ribeira Grande (1598) Meirinho da correição de Santiago (1598, 1599)
SIMÃO RODRIGUES DE MANTUA,  Nasceu em 1565 Português Filho de Afonso Fernandes de Mantua, que foi mercador estante em Santiago Irmão de António Rodrigues de Mantua, também estante na ilha de Santiago Em 1601 vai para Santiago Casado com Isabel daCosta de Oliveira Faleceu em Cabo Verde (a.1616) sua viúva csa-se com Pedro Sodré de Gâmboa Feitor e recebedor na Ribeira Grande do contratador da ilha de Santiago (1608-1615)  Mercador – Foi a Guiné negociar escravos em parceria com D. Pedro Brandão, Bispo de Cabo Verde (1598) Procurador de vários comerciantes europeus (1601-1613) Arrendatário das ilhas de Barlavento (1602-1606) Em 1610 recebeu da Costa da Guiné 132 alqueire de milho Feitor de João Soeiro, contratador do trato – cobra de cada navio que vai para a Costa da Guiné 4.000 reis (1613-1615) Acusado de subornar os oficiais régios e roubar a fazenda real (1616)
Início das obras de fortificação da ilha de Santiago
Data provável do início de DUARTE LOBO DA GAMA no exercício do cargo de capitão e governador-geral de Cabo Verde.
O comércio desenvolveu-se com a criação de feitorias ao longo dos rios S. Domingos, Grande Cacheu e Grande de Buba. Foi o caso da primeira fortaleza em Cacheu, construída em 1588 pelo cabo-verdeano MANUEL LOPES CARDOSO, com autorização do régulo Chapaia. Poder-se-á considerar que Cacheu foi a primeira capital portuguesa em terras da Guiné.
Data provável do início de AMADOR GOMES RAPOSO no exercício do cargo de corregedor de Cabo Verde. O tempo em que a pena de morte vigorou sobre os negros cativos não é possível determinar. No entanto, sabemo-la suspensa aquando do envio do corregedor Amador Gomes Raposo às Ilhas (1588) que, no tocante a este particular, teve por Regimento o seguinte: “...vos dou toda a alçada sobre escravos cativos em todos os crimes que cometerem, tirando casos de morte natural e nos outros em que não couber a dita pena de morte natural, dareis vossas sentenças e execução sem apelação nem agravo, e sendo os tais casos de furtos os podereis degredar para as galés por quatro anos”.
ANTT, Leis, liv. I, fls. 180-182 vº, in Brásio, MMA, 2ª série, vol. III, doc. 62, 17-Mar-1588 (também em Barcellos, op. cit., pp. 163-166).
1588/08/08 - D. FR. PEDRO BRANDÃO, carmelita, que foi designado bispo de Cabo Verde a 8 de Agosto de 1588. Chegou a ilha de Santiago no ano seguinte.
1589
Tem este reino do Budumel muitos portos do mar, afora os do Rio de Sanagá, e começando delle, correndo pela costa até o Sereno, dos principaes he a Angra de Biziguiche, que he buma bahia muito formosa,  rnorada continua dos lnglezes, e Francezes, onde podem estar muitas náos sem perigo do tempo por ser abrigada dos ventos; e amesma Angra tem hum ilheo que a abriga dos ventos, e entre ella e a terra firme fica canal mui grande onde podem invernar as náos: e entre este ilheo e a terra fugirão ja algumas vezes as Francezes ás nossas galeotas.
Neste ilheo se podia fazer hum porto muito bom o com pouco custo, porque da banda da terra tica o mesmo ilheo amurado com a rocha que a mesma natureza fez, e pelo lado do mar com pouco custo fica fortificado, e sendo fortificado defendia as náos dos imigos terem porto,e com bargantins (que são embarcações de pouco custo) defendiam aos lançados darem carga e despacho como hoje dão aos imigos. Serve este ilheo aos lnglezes e Francezes de ribeira, onde concertão as suas náos e embarcações; e he garganta por onde passão os mais dos navios dos imigos, assim os que passão á Serra Leoa como á Costa da Malagueta, ao Brazil, o ás lndias de Castella; - todos tomão esta Angra, e nella espalmão os seus navios e os concertão, e habitão nella, e a tem por sua, como se fora huma das abrasde Inglaterra ou de França; em tanto que os negros destes portos do mar desta costa fallâo muito bem Francêz, e forão muitos a França muitas vezes, e agora, depois de terem amizade com os lnglezes, forão já a Inglaterra aprender a lingua Ingleza e ver a terra, por mandado do Alcaide do porto d' Ale que serve de veador da fazenda d'el Rei.
Está esta angra quasi na ponta do Cabo Verde, entre elle e o Cabo dos Mastros, mais chegado no Cabo Verde. Antigamente o maior trato que tinhão os moradores da Ilha de Santiago era para esta terra do Budumel, no tempo que nella reinava hum rei chamado Nhogor, muito amigo dos nossos, no tempo do qual houve tamanha fome naquella costa causada dos gafanhotos, que se vendião os escravos por meio alqueire de milho ou feijão, e tiravão as mãis os filhos de ai, e os vendião a troco de mantimentos, dizendo que mais valia viverem, ainda que cativos, que não morrerem á pura fome. E da Ilha do Cabo Verde hião todos os anos carregados de cavallos e de outras mercadorias a este resgate.Succedeu neste reino o Rei chamado Budumel Bixirim, o qual não bebia vinho nem comia carne de porco. Este residia continuo na sua côrte de Lambaya, longe do mar, o fazia máos pagamentos aos nossos, e recolhia nos seus portos os Francezes, e folgava com elles; e por essa causa deixarão os moradores da ilha esse resgate, o qual está occupada hoje mais de lnglezes que de Francezes, por serem mais poderosos e botarem do resgate os Francezes; aos quaes, huns e outros, dão despacho muitos Portuguezes nossos, e alguns eslrangeiros, que estão de assento no porto de Joala, terra dos Barbacins, do Reíno do Ale-Embiçane. E estes Portuguezes são os que dão despacho aos lnglezes e Francezes, adquirindo-lhes os despachos de rio em rio, e muitas legoas pelo sertão. E todos os annos tirão os lnglezes e Francezes muita somma de couros vaccuns e de bufaros e gazelões, e outros animais chamados no Rio de Gambia, Dacoy; o qual dizemque he a verdadeira anta; e assim muito marfim, cera, gomma, amber, algalcai e ouro,e outras cousas; tratando com ferro e outras mercadorias que trazem de lnglaterra e França; e andão estes nossos Portuguezes lançados muito mimoso a destes ímigos. E o dia de elles receberem as pagas e entregarem as suas mercadorias, lhes dão os Inglezes em terra banquetes, com muita musica de violas d’arco e outros instrumentos musicos; e por esta causa estão estes resgates de toda esta costa do Cabo Verde até ao Rio de Gamba perdídos. E não tratão  nelles senão estes lançados com os imigos, os quaes tem companhias no Rio de S. Domingos e no Rio Grande com os que nelles habitão, para onde mandão o ferro e o mais que hão, e deles lhes vem os despachos para despacharem aos imigos; e se não forão estes Portuguezes lançados, não tiverão estas duas nações tanto trato em Guiné nem commercio como tem hoje, porque o gentio nao tem habilidade para lhes dar tão largos despachos; pois havendo-os da mão delles não erão importantes po não navegarem nem trazerem as mercadorias do sertão senão de muito perto, por onde não podião dar senão muito pouco despacho. Hoje atravessão estes Portugueses lançados todos os rios o terras dos negros, adquirindo tudo o que achão nellas para estas náos de seus amigos, em tanto que ha homem nosso que se metteo pelo sertão até o Reino do Gran-Fulo, que são muitas legoas, e delle manda muito marfim ao rio do Sanagá, onde mandão tomar as náos que estão na Angra pelos seus pataxos. Este lançadoPortuguez se foi ao Reino do Gran-Fulo por ordem do Duque de Casão, que he hum negro poderoso que habita neste porto pelo rio de Gambia acima 60 legoas do mar. Este o mandou por sua ordem com gente sua e na corte do Gran-Fulo se casou com huma filha sua, da quial teve huma filha, e, querendo se tornar para os portos do mar lhe deu o sogro licença que a trouxesse comsigo, e chama-se JOÃO FERREIRA, natural do Crato, da naçao, - e chamado pelos negros o GANAGOGA, que quer dizer dizer na lingoa dos Beafares, homem que fala todas as lingoas, como defeito falla a dos Negros, e póde este homem atravessar todo o sertão do nosso Guiné de quaesquer negros que seja. E com estas ajudas dos lançados vão accrescentando neste trato de Guiné os imigos, e se vai de todo acabando o que com eles tínhamos.
MARTIM TAVARES, Casado com Joana Ribeiro, filha de Mem Ribeiro de Almeida Falecido (1595) Recebedor da feitoria, trato e dos quartos e vintenas da ilha de Santiago (1589-1595) – Nomeado por ter casado com Joana Ribeiro
Em 1589, foi colocada ao inquisidor geral a questão de como comportar-se com os portugueses que “tratam misticamente com feiticeiros gentios”. A resposta fornecida marcou uma viragem no último, atormentado, decênio de Quinhentos: Acerca das pessoas que consultam os pagodes dos gentios, e lhes offerece[m] ofertas e presentes, e tratam com os bramenes e feiticeiros gentios, que se inquira meudamente dellas e, sendo suas culpas de modo que pertençao ao Santo Officio por serem notoriamente heresias, ou que sapiant haeresim manifeste, se castiuem conforme a ellas com o rigor e severidade que os casos requerem, e achando que pertencem somente ao ordinario, e não ao Santo Officio, os poderão remetter […].
1590
Em 1590, Almada afirma que "a povoação dos nossos (Cacheu) está habitada de muita gente, e há quaresma em que se confessam 700 e 800 pessoas entre brancos e pretos e não falta mais que por S. Magestade justiça nela querendo-a fazer vila" (ALMADA, 1946: 46).
Logo após a fundação da "praça" (como se passou a dizer depois), os negros tentaram atacá-la, mas os seus habitantes foram avisados por "duas negras ladinas da própria terra, que de noite secretamente vieram ter ao forte e habitação dos nossos, e disseram o que determinavam fazer os negros". Com isso, puderam os portugueses defender-se e, dos cerca de 10.000 negros que se lançaram contra eles, muitos foram mortos, sendo que do lado dos portugueses não houve nenhuma baixa (p. 45). 
Após o combate, sobreveio uma relativa tranqüilidade à praça de Cachéu. A tal ponto que o próprio "rei Chapala, que é o principal deste Rio, todas as vezes que se acha na aldeia dos nossos, estando clérigo nela, todas as vezes que se diz Missa a ouve com muita quietação, fazendo o sinal da Cruz, e benzendose..." (ALMADA, 1946: 46). O rei da aldeia vizinha, dos sapes, "é Cristão: chama-se VENTURA DE SEQUEIRA; sabe ler e escrever por se criar na Ilha de Santiago". E o que é mais, "os mais negros da sua Aldeia são Cristãos; os meninos que nela nascem a todos manda baptizar, e todas as noites se ensina a doutrina Cristã em sua aldeia em voz alta, onde também acodem alguns filhos de negros ladinos da terra, posto que não sejam Cristãos" (p. 47).
HENRIQUE PEREIRA TENÓRIO
(Funchal, 1562 - Amesterdão, 1624)
Filho de António Pereira e de Maria Rodrigues, Henrique era advogado, formado na Universidade de Coimbra, mas também um importante negociante estabelecido em Lisboa. Os seus avós matemos eram Manuel Rodrigues e Maior Fernandes. Do lado do pai, era neto de Inigo Lopes. Na sessão de genealogia do seu Processo inquisitorial (13 de Julho de 1601), Henrique disse ser apenas cnstão-novo por parte da família materna.
Do lado da sua mãe, referiu três tios: Jorge Rodrigues, morador em Pernambuco; Duarte Rodrigues, escrivão em Tânger; e António Rodrigues, boticário da Rainha. Naquele momento, tinha apenas quatro irmãos vivos: Agostinho Pereira, mercador nas lndias de Castela e na Guiné;Maior Rodrigues, casada com Gaspar Lopes Homem e mãe de Manuel, António e Francisco Lopes Pererra e de Justa Pereira (b); Ana Rodrigues e Isabel Pereira, ambas solteiras e residentes na casa de Henrique.
Quanto aos irmãos já falecidos em 1601, Henrique mencionou: Diogo Lopes Pereira, mercador na ilha da Madeira· Manuel Pereira, residente em S. Miguel; Simão Fernandes, falecido na Guiné; e Justa Pereira, esposa de António Mendes Fidalgo e mãe de Afonso e Rodrigo Fidalgo e de Diogo Mendes Fidalgo.
Era casado com Maria Rodrigues e à data do seu processo inquisitorial, ainda não tinha filhos. Henrique liderava urna rede de comércio internacional ligada ao trato de açúcar, escravos e outros géneros comerciais, constituída, principalmente pelos sobrinhos Afonso, Rodrigo e Diogo Mendes Fidalgo. Efectuava a maioria das transacções a partir de Lisboa, enviando vinhos para Pernambuco e comprando escravos para serem trocado por açúcar. Henrique responsabilizava o sobrinho Afonso pela aquisição do açúcar. Serve de exemplo a transacção desta mercadoria registada numa carta que o biografado enviou ao sobrinho, a 8 de Maio de 1595. A carta deveria ser entregue a Manuel Lopes Homem, contratador de Amesterdão, caso Afonso estivesse impossibilitado de a receber. A 10 de Março de 1601 Henrique Pereira Tenório foi preso pela Inquisição de Lisboa. Residia, então, naquela cidade, junto às Pedras Negras. Alguns dos seus parentes já haviam sido apanhados nas malhas da inquisição, como eram os casos das irmãs Maior Rodrigues, Ana Rodrigues e Isabel Pereira e do sobrinho Afonso Fidalgo. Henrique foi acusado de tentar promover a fuga do cunhado Gaspar Lopes Homem e dos sobrinhos. Sebastião Dias, mestre da embarcação em que se daria essa fuga, contou como tudo se processara. No dia 11 de Março de 1601, fora contactado por António Rodrigues, tendeiro cm Lisboa, para levar, na sua caravela, sete  ou oito pessoas para fora dos Cachopos, de onde embarcariam numa nau flamenga. O preço desse frete foi tratado na casa de Henrique, o qual lhe deu 36 mil réis. Depois, seguiram todos para a casa de Gaspar Lopes Homem, onde combinaram que o serviço seria feito dali a três dias. Nessa noite, Sebastião embarcou os tripulantes na sua caravela mas antes avisou o Licenciado Arnão da Silveira que as foi esperar, entregando-as ao Tribunal da Inquisição. Maior Rodrigues confessou que o seu marido, cinco dos seus filhos e doi escravos haviam embarcado para seguir rumo à Flandres, onde ela tinha outro dois filhos, Maria Nunes e Manuel Lopes Pereira. O seu irmão Henrique acompanhara-os até ao embarque, tal como Francisco Nunes Homem sobrinho do seu marido.
Henrique acabou por confessar que apenas fora induzido pelo cunhado Gaspar a ajudá-lo. Este dissera-lhe que pretendia partir para o Ruão e dali seguir para Roma, onde negociaria o seu perdão. O facto de ter tratado das condições para a fuga, oferecendo 36 mil réis ao barqueiro, foi a única culpa que Henrique confessou. De resto, apresentou a sua defesa, alegando ter sido sempre um bom e fiel cristão. A 17 de Janeiro de 1605, beneficiou do Perdão-Geral e foi posto em liberdade
Segundo Gonçalves Mello, Henrique teria fugido, mais tarde, na companhia do sobrinho Afonso Fidalgo, para Amesterdão, onde viria a falecer.
AFONSO (JOÃO) ANTUNES Natural de Cabo Verde Possuía uma “logea” onde vivia que estava situada na Praça Velha da dita cidade da Ribeira Grande Em 1605 encontra-se em Lisboa na casa de seu parceiro Gonçalo de Araújo Mercador na cidade da Ribeira Grande Procurador de moradores do reino (1590, 1596) Parceiro de Gonçalo de Araújo, Cavaleiro Fidalgo da Casa Real e morador de Lisboa, numa companhia comercial (1593) Constituição da Companhia de Comercio feita por Gonçalo de Araújo, Marcos de Quintal (mercadores de Lisboa) e Afonso Antunes (2 de Outubro de 1602)
MATEUS MACIEL, Casado com Beatriz Louçana, moradora da Ribeira Grande. Mestre-cirurgião em Santiago – exerce medicina não só em Santiago mas também nas restantes ilhas (1590) Tem como procurador no Reino a Gonçalo de Araújo (1597)
PÊRO DE PINA Em 1590 encontra-se em Santiago Tabelião do público e judicial da cidade da Ribeira Grande (1610) Serviu o Rei durante 20 anos nas ocasiões de rebates de guerra (1590 - 1610)
 FRANCISCO GONÇALVES DE SENA Licenciado Em 1590 reside na vila de Mértola, no Reino Falecido (1628) Clérigo (1590) Cónego da Sé de Santiago (1590) Em 1610 recebeu da Costa da Guiné 54 alqueires de milho Mestre-escola (1610 - 1615) Membro do cabido da Sé de Santiago (1614-1619)
MANUEL VAZ, Casado com Catarina Vaz Falecido (1591) Mercador – ”tratante do Cabo Verde” (1590, 1591) Procurador em Santiago da viúva de Pallos Dias (1590)
FRANCISCO MARTINS FREIRE Nasceu em 1568 Vizinho da vila da Praia Diz que é pessoa de “qualidade” (1607) Sua sobrinha era casada com o filho de Gaspar Fernandes Lucas Juiz ordinário da vila da Praia (antes de 1607) Capitão na vila da Praia (-1607 Capitão da vila da Praia (1610) – Esse cargo foi-lhe doado por seis anos, com 40.000 reais de ordenado e com a obrigação de residir na vila. Serve desde 1590 ao rei na ilha de Santiago – serviu na guerra que houve contra os corsários Condenado ao degredo  para África – Foi inculpado de sendo juiz ordinário não mandou tirar devassa da morte de dois escravos – Carta de perdão (9 de Abril de 1607) Em 1610 recebeu 50 alqueires de milho vindos da Costa da Guiné 1590 (c.)    
MANUEL DE ANDRADE CASTELO BRANCO, Instrucion que a V. Magestad se da, para mandar fortificar el mar Oceano, y defender se de todos los contrarios Piratas, ansi Franceses, como Ingleses, en todas las navegaciones de su Real Corona dentro de losTropicos. Cargos eclesiásticos em Santiago: Ex-provisor e vigário geral, vigário igreja colegiada da vila da Praia; carreira eclesiástica no Brasil 
1591
GASPAR DIAS DE ALMEIDATabelião do público e judicial da cidade da Ribeira Grande (1591)
JERÓNIMO CORESMA Encontra-se em Santiago (1591) Casado com Guiomar Fernandes – teve um filho, Bento, que herdou mil cruzados em móveis e dinheiro Falecido em Santiago (1598)  Mercador Mandou da Ribeira Grande a João Fernandes Quaresma, morador em Vila Nova de Portimão, a quantia de 50.000 reais (1591) Possuía bens na ilha de Santiago
DOMINGOS DA FONSECA, Mora rua de São Pedro da cidade da Ribeira Grande Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1591)
MANUEL VAZ, Alcunha: “do Pico” Cavaleiro Fidalgo da Casa Real Tem casa na Ribeira Grande (1591) Tem uma casa na rua da Carreira na cidade da Ribeira Grande (onde se joga e fazem almoedas) (151598) Morador na ilha do Fogo (1595) Sua mulher é Constância Pais Mercador Proprietário rural na ilha do Fogo Seu procurador em Lisboa é Gonçalo Araújo, cavaleiro fidalgo da Casa Real (1595) Procurador de moradores do reino (1596, 1602, 1606) Vendeu em nome de João Carvalho Pereira, fidalgo de geração, vários escravos por 83.000 rs. (1605)
1591/03/25
«Braz Soares de Melo - nomeado capitão geral em 25 de Março de 1591, com o mesmo ordenado, foi o primeiro capitão que tomou posse na Câmara da Ribeira Grande.» João Barreto
1591/03/26
1591 BRÁS SOARES DE MELO, capitão-corregedor de Cabo Verde Apontamentos de Bras Soares capitão do Cabo Verde Capitão e Governador-geral de Cabo Verde desde 26 de Março de 1591.Exercia então o cargo de capitão-geral Brás Soares de Melo, o segundo fidalgo designado para o efeito, desde que em 1587 fora criada esta figura cimeira da administração régia insular
1592
O atraso, no entanto, não excederia ao tempo do segundo governador. Seguindo a vontade régia, manifestada em 1592, de, daí por diante, deverem as cousas de justiça correr pelos ouvidores mandados do Reino e não mais pelos corregedores (1), antes do findar da década o designio já começaria a ser cumprido. Primeiramente com a feitura, levada a efeito pelo próprio capitão-governador, de MANUEL DIAS DA CALHETA – cavaleiro fidalgo da Casa Real e morador de Santiago – “Ouvidor em todas estas ilhas do Cabo Verde e limites de Guiné” (2). Logo depois, com a instituição de letrados para o mesmo cargo, a partir da nomeação do bacharel LUIS ÁLVARES DA NÓBREGA (3).
Também o mandato destes últimos, tal qual o dos capitães-governadores, estava previsto para um triénio “e além deles o que mais eu houver por bem” (4). Começariam com duzentos mil réis anuais, à custa da Fazenda real (5), contra os trezentos mil que teriam aqueles (6).
(1) - ANTT, CC, I-112 –131, in Brásio, MMA, 2ª série, vol. III, doc. 83, 18-Out-1592. O que se pode ler, literalmente, nesta carta d’el-Rei ao capitão-governador BRÁS SOARES, é o seguinte: “hei por bem que por ora se escusem nessas ilhas Corregedores, e que a administração das cousas da justiça corra por vós e pelo ouvidor que servir convosco, que se vos enviará deste Reino”.
(2) - ANTT, CC, II-290 - 210, in Brásio, MMA, 2ª série, vol. III, doc. 105, 10Jun1598.
(3) - ANTT, Chanc. D. Filipe II, Doações, liv. 18, fl. 110, 02-Mar-1606.
(5) (4)370 - Ibidem.
(6) - ANTT, Chanc. D. Filipe I, liv. 12, fls. 333 vº - 334 vº, in Brásio, MMA, 2ª série, vol. III, doc. 59, 07-Ago-1587.
1593
«O jesuíta espanhol Luís de Molina, que foi professor em Coimbra e Évora de 1563 a 1583, desenvolveu, no seu livro De justitia et jure (primeira edição publicada, em Cuenca, entre 1593 e 1609), urna teoria geral do Direito, tendo em atenção os problemas jurídico-económicos do seu tempo. Nesse sentido, não lhe escapa a questão da escravatura, que, também ele, admite ser justificável em certas circunstâncias que não diferem muito das de Mercado: prisioneiros em guerra justa; pena por delito grave; venda de si mesmo por um adulto consciente e livre; por nascimento.
Em contrapartida, considera que o tráfico de escravos (de que se informara bem em Portugal quando por cá andara) era injusto e ilícito e que aqueles que se dedicavam ao dito negócio, vendedores e compradores, estavam em pecado mortal, sujeitos, por isso, à condenação eterna.»
ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS, O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos xXV a XIX, Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera do Livro, Lisboa, 2013, pg. 43
Conclusão das obras de construção da fortaleza real de São Filipe da Ribeira Grande, ilha de Santiago
JOÃO RODRIGUES DA COSTA Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1604-1615) Escrivão da fazenda e feitoria real da ilha de Santiago (1610, 1612) Oficial da Câmara da Ribeira Grande (1616) Juiz da Câmara da Ribeira Grande (1619) Escrivão do almoxarifado da Ribeira Grande (1624, 1634) Serviu durante 18 anos em Santiago (desde 1593) – serviu com suas armas e cavalos nas ocasiões de guerra Recebeu da Costa da Guiné 133 alqueires de milho (1610) Mordomo da confraria Santíssima Trindade (1612)? Irmão da Casa da Misericórdia da cidade da Ribeira Grande (1619) Escreveu várias cartas juntamente com o padre jesuíta Sebastião Gomes ao padre Diogo Veloso (1624)
JOÃO PAULO FRANÇA Natural de Veneza Casou em Santiago. Prestou serviços em Cabo Verde e noutros lugares durante dezoito anos como bombardeiro e em outros cargos de guerra (desde 1593) Bombardeiro na fortaleza de Santiago (1611) Artilheiro na ilha de Santiago – Pede ao Rei para ter "/…/ escola de artilharia na ilha afim de nela ensinar como se hão de fazer os repairos /…/" (1616) Condestável de artilharia de Cabo Verde (1618)
MANUEL FERNANDES DE LEÃO Foi para Santiago em 1593 Um dos herdeiros do Padre António da Guarda (1597) Em 1597 encontra-se em Lisboa Tesoureiro das fazendas dos defuntos e ausentes de Santiago (1593, 1597)
ANTÓNIO DA COSTA Filho de Garcia de Andrade Falecido (1598) – Morto por Manuel Lopes durante uma briga Escrivão do almoxarifado da ilha de Santiago (1593-1598)
1594
«Já em 1594 os portuguezes residentes na Guiné andavam associados com francezes e inglezes, sendo causa d'isto «o terem os porluguezes de cá deixado de ir áquelle resgate» como diz Alvares de Almeida. Por longo tempo acreditaram os portuguezes, que só pretos se podiam exportar da Guiné; e, em quanto nós pensávamos assim, outros tiravam d'aquelle território oiro, marfim e outras mercadorias valiosas. D. Pedro II, no intuito de acudir a este estado de decadência do commercio portuguez na Guiné, creou a Companhia de Gacheu e Cabo Verde, a que a fazenda emprestou 200:000 patacas para a exportação de escravos destinados ás colónias hespanholas. Esta ephemera creação de uma economia barbara, fundada sobre a escravatura e o monopólio, extinguiu-se em poucos annos.» 
Estudos Sobre as Províncias Ultramarinas, por JOÃO DE ANDRADE CORVO, Volume I, LISBOA, POR ORDEM E NA TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS, 1883, pg.50
O Bispo de Cabo Verde desde 1588, o frade carmelita D. FREI PEDRO BRANDÃO, já se retirara para Lisboa em 1594 devido a desinteligências com as autoridades administrativas. Em certa altura, o Governador LOBO DA GAMA pretendeu substituir na Catedral a cadeira do Bispo pela sua, o que foi recusado pelo Cabido. Este acabou mesmo por se retirar para outra igreja distante três léguas da cidade de Ribeira Grande, onde o Governador os cercou. Por essa razão foi rendido. Entretanto, só resignou a mitra mais de 10 anos depois de ter abandonado a sede do bispado, em 22.12.1606, sob ameaça do rei lhe suspender os rendimentos. Faleceu a 14.06.1608 no convento do Carmo. Durante um período de quase 15 anos, a diocese permaneceu sem bispo.
GOMES DE ABREU CARVALHO Tabelião do público e judicial da cidade da Ribeira Grande (1594)
ROQUE LOPES CASTELO BRANCO, Natural da ilha de Santiago Esteve no Rio Grande, Costa da Guiné, onde matou um elefante a facada. Sobre isso André Alvares de Almada diz o seguinte: “Não deixarei de dizer aqui o que aconteceu a hum Roque Lopes de Castelo Branquo, natural da ilha de Santiago, o quall indo por este rio abaixo em hua barca, passavão dous helefantes da terra de Bisegue pera Biguba a nado; elle os foi seguyndo com a barqua he chegando perto se botou a nado com hua faqua grande nas mãos, se pos sobre hum delles e lhe foi dando com a faqua, e abrindo com a furia do ferir... e com a matinada que fizerão os da barqua hacodirão muitos negros hao longo do Rio e ajudarão a matar o ellefante em que elle hia...e o outro ellefante se foi. Era esse Roque Lopes Castelo Branco tão valente homem e esforçado nas armas, que ho chamavão os negros daquellas partes sopracanta, que quer dizer raio...” (1594)
DOMINGOS DINIS Vizinho da vila da Praia Casado com Isabel de África Falecido na Praia (1596) Barbeiro e cirurgião Procurador de moradores em Lisboa (1594)
PÊRO LOPES, Alcunha: o Velho Tem sua pousada na Rua do Calhau da Ribeira Grande 1608) Irmão de Margarida Lopes e de Diogo Lopes Ferro, moradores de Lisboa. Mercador – Tem uma “logea” na rua do Calhau Procurador de moradores do reino (1594) Testamento (±1595-1597) Recebeu da Costa da Guiné 40 alqueires de milho (1610)
PÊRO AFONSO DE LUBO Contador, inquiridor na cidade da Ribeira Grande e seus termos (1594)
DOMÍNICO SPÍNOLA DE SEQUEIRA Nasceu ±1574 Natural de Cabo Verde Sua mãe “viúva velha” vivia em Cabo Verde. Milícia Serviu o Rei, em Cabo Verde, com suas armas e cavalos Condenado a 2 anos de degredo para África por ter dado uma bofetada a João Fernandes, homem do mar Carta de perdão (1594)
MANUEL RODRIGUES VARELA Natural de Cabo Verde Filho de um homem nobre “O Cónego” (1614) Cura na Igreja de São João da ilha de Santiago (1594-1606) Pede a conezia vaga na ilha de Santiago (1606) – “/…/ se diz que na see da ilha de Cabo Verde esta vaga hua Conesia, e que a pede Manuel Roiz Varela, que consta aver mais de doze anos que serve de cura na Igreja de São João, e em outras daquele Bispado, e que he filho de um nobre, e se diz que o Cabido da ditta see por cartas que escreve em seu favor a V. Mag. diz que he pessoa de bom exemplo /…/” Cónego da Sé de Santiago (1607-1619) Membro do Cabido de Santiago (1614-1619) Secretário do Bispo (1619)

ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA, Capitão [prático dos Rios de Guiné]
 Tratado breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde des do Rio de Sanaga ate os baixos de Santa Anna de todas as nações de negros que ha na ditta costa e de seus costumes armas trajos juramentos g[u]erras feito pelo capitão (…) natural da Ilha de Santiago de Cabo Verde prático, e versado nas ditas partes.
Em 1594 escreveu André Alvares d'Almada o melhor livro até hoje conhecido, sobre a Guiné, ao qual deu o título de Tratado breve dos Reynos de Guiné e Cabo Verde.


Dedicou esse livro aos governadores do Reino, e estes mandaram-no ao bispo D. Fr. Pedro Brandão, que estava em Lisboa, para que o examinasse e desse o seu parecer, o qual testemunhou numa carta ser digníssimo da luz pública. Só logrou -la em 1733, embora a impressão do tão precioso trabalho saísse totalmente diversa do estilo e ordem primitivos, como facilmente se pode verificar pelo manuscrito existente na Biblioteca de Lisboa. Além do titulo, que foi todo alterado, ainda lhe trocaram o apelido ÁIvares por Gonçalves.
1594/10/26
«Uma carta da Mesa da Consciência e Ordens aos Governadores de Portugal, com a data de Lisboa, 26 de Outubro de 1594, refere-se aos visitadores das partes da Guiné, que o bispo de Cabo Verde manda visitar e sacramentar, os quais se recusavam a absolver, no foro da consciência, sem primeiro pagarem cinco cruzados de pena, as pessoas que confessavam terem tido ajuntamento carnal com gentias. Semelhante atitude considerava-se reprovável. Queixa idêntica, repete-se em carta régia de 3 de Abril de 1595, dirigida aos Governadores de Portugal. Cf. P. ANTÓNIO BRÁSIO, Op. cit., 2.ª série, vol. III, pp. 226 e 379.»
Henrique Pinto Rema, As primeiras missões da Costa da Guiné, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Vol. XXII, N.os 87-88, Julho-Outubro 1967
1595
Mercadores portugueses asseguram, até 1640, o asiento, o fornecimento exclusivo de escravos à América Espanhola.
Em 1595, o carmelita Cipriano denunciou, à Inquisição de Lisboa, HENRIQUE LOPES, mercador cristão-novo activo no porto de Cacheu, então vivo centro do comércio de escravos na costa da moderna Guiné-Bissau. Acusava-o de ter vendido ao soberano não cristão da vizinha Bichangor um escravo negro depois de o fazer baptizar.
BALTAZAR MONTEIRO, Serviu 12 anos nas armadas do Reino como soldado bombardeiro e condestável. Foi ferido pelos ingleses na “briga que com eles teve D. Afonso de Noronha o ano de 95 na armada de que era capitão-mor o Conde da Feira” (1595) Condestável da fortaleza de São Filipe da Ilha de Santiago (1605)
FERNÃO NOVAIS DE QUEIROGA Nasceu de 1562 Reinol Irmão de Baltazar de Macedo e de Faustino de Macedo Em 1597-1598 encontra-se no reino Encontra-se na Corte de Madrid “servindo nos negócios do santo ofício” (1598) Em 1604 encontra-se novamente no Reino Clérigo de missa Tesoureiro mor da Sé de Santiago (1595, 1597) Denuncia à Inquisição em Lisboa como cristãos novos a moradores de Cabo Verde e da Guiné Manuel Nunes, Nunes Francês da Costa (1596) Vigário e tesoureiro da igreja de N. Sª do Vencimento do Rio de São Domingos, porto de Cacheu (1590-1600) Capelão e tesoureiro da Sé de Santiago (1602) Promovido a vigário de S. Miguel de Sintra (1605)
JERÓNIMO COELHO, Residia, em 1611, no interior de Santiago, apesar de ser vereador da Câmara da cidade da Ribeira Grande (1611) Almoxarife e Provedor da Fazenda Real em Santiago (1595, 1599) Vereador mais velho da Câmara da Ribeira Grande (1611) Procuração passada por Amador Gomes Raposo a Fernão de Almeida, Francisco Lopes Carrilho e Filipe Unhão, moradores na ilha de Santiago, para ai receberem tudo o que lhe deve, por sentença régia, Jerónimo Coelho, almoxarife da dita ilha (1599)
ANTÓNIO LOPES FERREIRA Cunhado de Vera da Cruz de Cabedo, moradora de Santiago Meirinho do eclesiástico do Bispado da ilha de Santiago (1595)
MARCOS DE QUINTAL Reinol Em 1595 vai para Santiago Em 1604 encontra-se em Lisboa Cirurgião (1595) Mercador - Fez uma companhia comercial com Gonçalo Araújo que tinha como objectivo enviar mercadorias para João Antunes em Santiago que as negociava, devendo o lucro ser dividido entre os três. Cada um dos constituintes entraria para a companhia com 450.000 rs., ficando o capital social no valor de 900.000 rs., entrando João Antunes com o trabalho. A companhia devia durar 5 anos (1602-1607) Em 1604 Gonçalo de Araújo, por ter de se ausentar do reino trespassa a Marcos de Quintal a sua parte pelos mesmos 450.000 rs. e mais 50% dos lucros já obtidos (1604)
AMBRÓSIO RIBEIRO, Escrivão do tesoureiro das fazendas dos defuntos e do mamposteiro mor dos cativos da ilha de Santiago (1595)
PÊRO NUNES TEIXEIRA Casado com Luísa Viegas Falecido (1609) Escrivão da correição e chanceler das ilhas de Cabo Verde (1595-1604) Preso em Lisboa na cadeia da Corte (1604)
FRANCISCO FOGAÇA, Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1595)
«Amador Gomes Raposo - que era corregedor de Sant'Iago, acumulou interinamente o cargo de capitão geral com a retirada de Braz Soares» João Barreto
No contexto da Dinastia Filipina (1580-1640), a partir de 1595 o apoio à navegação feito aos arquipélagos de Cabo Verde e de S. Tomé e Príncipe relevou para segundo plano a habitual escala na ilha da Palma (Goreia). Desse modo, a presença portuguesa na ilha continuou, mas com menor interesse..
1596
Mais outro corsário britânico, Anthony Shirley (nascido em 1565, foi filho segundo de um nobre britânico (Sir Thomas Shirley) que as circunstâncias de herança atiraram para uma vida aventureira e de viajante, levando-o a combater em diferentes expedições (Países Baixos, Normandia, Navarra, Mediterrâneo) em busca de fortuna. Em 1596, conduziu uma campanha de pilhagens na costa ocidental africana, passando então pela Ribeira Grande, dirigindo-se depois para a América Central – aí, foi surpreendido pelo motim dos seus marinheiros, vendo-se compelido a regressar a Londres apenas com um único dos seus navios. Em 1605, passou para o serviço da coroa de Espanha, tendo sido nomeado almirante – depois de algumas campanhas desastrosas, foi destituído. Morreu em Madrid em 1635.), ataca a cidade de Santiago.
As primeiras casas da povoação foram erguidas para os “nossos” se alojarem, após a construção do forte de CACHEU por volta de 1587-88. Além do forte e das casas, entre 1596-1065, observamos que se procedeu à construção da igreja de N. S. do Vencimento e de outras estruturas associadas aos ofícios religiosos: capela, coro, sacristia, pátio e casa sobradada.
ANTÓNIO VAZ CAMELO Almoxarife da ilha de Santiago (ant. de 1596)
ASCENSO CARVALHO, Sargento-mor na ilha de Santiago (1596)
DOMINGOS LOPES, Cirurgião (1596) Procurador de moradores em Lisboa (1596)
DOMINGOS LEOTTE MERULLO Nasceu em 1549 Natural de Mecina - Reino da Sicília Doutor em medicina pela universidade de Piza Encontra-se em Cabo Verde desde 1596 Solteiro Cristão velho Denuncia Francisco Lobo da Gama, capitão e governador das Ilhas de Cabo Verde – acusa-o de querer  mandar no eclesiástico. Refere incidentes entre o capitão e o clero (1601) Pede o ofício de recebedor da fazenda real da ilha de Santiago (1607) Físico italiano – Cirurgião médico municipal da cidade da Ribeira Grande – com ordenado da Câmara (1596 – 1601) Proprietário em Santiago - Passa procuração a moradores de Santiago para poderem vender todos os seus haveres, escravos, cavalos, animais excepto duas escravas, e cobrar dívidas, tanto na ilha como na Guiné (1601) Procurador de mercadores portugueses e castelhanos em Santiago (1602, 1604) Pede o cargo de sargento-mor da ilha de Santiago (1607)
JOÃO RODRIGUES DA ROCHA Falecido antes de 1624 Tabelião do judicial e notas da cidade da Ribeira Grande (1596-1599) Em 1610 recebeu da Costa da Guiné 20 alqueires de milho Sua filha, afilhada de Diogo Ximenes Vargas, recebeu deste último 80.000rs. (1623)
FILIPE DE UNIÃO Nasceu em 1553 Falecido (1610) Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (1600, 1601) Procurador de moradores no Reino (1596, 1599)
ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA
Como capitão de uma companhia (actividade que também o seu pai já exercera), Almada prestou serviços relevantes à Coroa. Em resultado destes já era cavaleiro-fidalgo da Casa Real em 1591 (1). Em consequência de serviços não especificados e, sobretudo, na defesa de Santiago contra um ataque inglês em 1596, foi agraciado por Filipe III (II), em 1599, com o hábito da Ordem de Cristo efectivamente recebido c. 1603. Para isso terá contribuído também a circunstância do seu pai ter recebido o hábito da Ordem de Santiago. Os cavaleiros de Cristo recebiam uma tença para manter condignamente o seu estatuto e tinham alguns privilégios nomeadamente no domínio jurídico, mas o hábito de Cristo era, acima de tudo, uma distinção honorífica muito importante. Aquela insígnia que era, então, bem mais relevante, que a de Santiago (2), daria a Almada algum do prestígio e aceitação social que ele desejaria obter nos meandros políticos da sociedade “branca” de Lisboa. A ela se tinha deslocado antes de receber o hábito, nos anos 90, altura em que, para fazer vingar os seus pontos de vista sobre os problemas da Guiné, terá dado forma final ao seu tratado.
Almada era mulato e era raro o hábito de Cristo ser concedido a mulatos (15): para tal tinha que ser provada a “pureza” do “sangue” e no caso de origem gentia (categoria que incluía o “sangue negro”) era necessária dispensa régia para ultrapassar esse “defeito” (o termo é coevo) (3). No contexto ibérico, remontando aos séculos XIII-XIV, todos os infiéis que não fossem nem Judeus, nem Mouros eram classificados, genericamente, como Gentios. Muitos dos africanos negros eram integrados nesta categoria antropológica. No entanto, o Negro, mesmo muçulmano, era considerado da geração de Gentios (4). À luz dos dados conhecidos, Almada poderá ter sido o primeiro mestiço de Cabo Verde a receber o hábito (5)
(1) Cfr. ANTT, Cartório Notarial de Lisboa, nº 3 [antigo nº 11], livro de notas nº 9, 14 de Setembro de 1591 (cota apud Iva Cabral, “Política e sociedade…”), fl. 66.
(2) Cfr. por outros, Francis Dutra, “The Order of Santiago and the Portuguese Atlantic Islands: 1492-1777”, Portos, Escalas e Ilhéus no relacionamento entre o Ocidente e o Oriente. Actas do Congresso Internacional Comemorativo do Regresso de Vasco da Gama a Portugal (Ilha Terceira e S. Miguel, 11-18 de Abril de 1999), S. Miguel, Universidade dos Açores — CNCDP, 2001, 2 vols., vol. II, pp. 257-277, p. 257.
(3)Segundo Fernanda Olival (Universidade de Évora) em comunicação pessoal, baseada na investigação sistemática que tem desenvolvido sobre a Ordem de Cristo nos séculos XVI e XVII. Os dados suplementares (que vão além das referências já publicadas) relativos a homens ligados à Ordem de Cristo que aqui se utilizam foram facultados pela autora, a quem, mais uma vez agradeço. Nas listas de oficiais régios de Cabo Verde até 1562, compiladas por Ângela Domingues e Iva Cabral (“Apêndice. Quadro de oficiais régios até 1562”, HGCV, I, pp. 431-446), nenhum hábito de Cristo é mencionado. Segundo a longa lista de “vizinhos” da Ribeira Grande publicada por Iva Cabral (cfr. “Vizinhos…”, HGCV, II), que cobre o período seguinte até 1648, Almada é o primeiro mulato a receber o hábito de Cristo. Só em 1638 dois outros nativos de Cabo Verde o recebem. De um deles, possivelmente um mulato, D. António de Moura, apenas sabemos que teve a mercê do hábito; sobre o outro, Baltazar Teixeira Cabral, que de facto o recebeu (para a diferença entre a mercê do hábito e a sua efectiva recepção, ver a nota infra), não temos informação sobre as suas origens. O mesmo se aplica a um terceiro homem, João Sanchez, cavaleiro da Ordem de Cristo (mencionado como tal em 1579). Na lista do alto-funcionalismo da ilha no mesmo período, compilada por Zelinda Cohen (cfr. “Funcionários cimeiros da administração das Ilhas,” HGCV, II, pp. 511-512), apenas o Capitão Governador Francisco Vasconcelos da Cunha, um reinol, contemporâneo de Almada, foi também cavaleiro da mesma ordem. Mas Almada provavelmente recebeu o hábito das mãos de um governador anterior, Fernão de Mesquita de Brito (reinol), o qual, segundo um documento de c. 1603 (um dos pub. por A. Brásio sobre Almada), foi cavaleiro de Cristo pois era a única pessoa em Santiago que podia investir Almada na mesma dignidade. Todos estes elementos disponíveis mostram bem o grande significado social do estatuto de Almada.
(4) Em muitos casos o hábito podia ser concedido pelo rei mas não ser efectivamente recebido, dado que a Mesa da Consciência e Ordens, o orgão que, depois de consultado o monarca, decidia estes casos, verificava as origens “raciais” (Judeu, Mouro, Gentio, etc.) do requerente. Cfr. Fernanda Olival: "Para um estudo da nobilitação no Antigo Regime: os cristãos-novos na Ordem de Cristo (1581-1621)" in As Ordens Militares em Portugal: actas do 1º Encontro sobre Ordens Militares, Palmela, Câmara Municipal de Palmela, 1991, pp. 233-244 (cfr. a dispensa régia para sangue “gentio”, pp. 234-235); idem,"A Ordem de Cristo e a sociedade portuguesa dos séculos XVI-XVIII", D. Manuel I a Ordem de Cristo e a Comenda de Soure. V Centenário da subida ao trono de D. Manuel. Actas , Soure, CNCDP, Câmara Municipal de Soure, 1997, pp. 11-18 e Francis A. Dutra, "Blacks and the search for rewards and status in seventeenth-century Brazil", Proceedings of the Pacific Coast Council on Latin American Studies. "Revolution in the Americas", vol. VI, 1977-1979, pp. 25-35.
(5) Sobre este assunto, cfr. François de Medeiros, Judaïsme, Islam et Gentilité dans l'oeuvre de Raymond Lulle, dissertação zum Erlangung der Doktorwürde der Evangelisch - Theologischen Fakultät der Universität München, 1976, pp. 170-177; José da Silva Horta, "A imagem do Africano pelos portugueses…”, in O Confronto do Olhar…, pp. 43-70 e idem, A representação do Africano…, principalmente pp. 258-259.
(6) Tendo em conta o contexto histórico de Santiago, esta é a conclusão mais provável a partir dos dados disponíveis. Isto apesar de não nos terem chegado os livros de Chancelaria da Ordem de Cristo para os anos de 1551-1571, 1578-1582 e 1599-1607, lacunas não exaustivamente supridas pelos livros de matrículas dos cavaleiros (informação pessoal de Fernanda Olival).
1596/05/15
«Francisco Lobo da Gama - nomeado por carta de 15 de Maio de 1596. Por carta régia de 7 de Junho de 1596 foram alargadas as atribuições dos capitãis-generais, sendo-lhes facultado prover os cargos vagosJoão Barreto
1597
Manuel Dias Calheta - nomeado em 1597, ouvidor como os outros que lhe seguiram.
Data provável do início de FRANCISCO LOBO DA GAMA no exercício do cargo de capitão e governador-geral de Cabo Verde
FILIPE DA COSTA Cavaleiro fidalgo da Casa Real Cunhado de Francisco da Cunha Falecido (1603) Almoxarife da ilha de Santiago (1597-1603) Estivera em Lisboa aquando do ataque dos ingleses e servirá no ano anterior de pagador da gente de guerra da vila de Cascais e da de Cavalo de Lisboa (?) Procurador de moradores de Lisboa em Santiago (1597)
FRANCISCO DA CUNHA Cunhado de Filipe da Costa Feitor do contrato da ilha de Santiago (1604) Procurador de moradores de Lisboa em Santiago (1597) Tem procurador em Lisboa e em Valhadolid (1604) Feitor em Santiago de Luís Fernandes Gramaxo, Luís Rodrigues de Paiva e Francisco de Paiva – ficou de entregar 120 peças de escravos para serem levados para Cartagena, onde cada peça custava 6.000 reais (1604) Recebeu 78 alqueires de milho da Costa da Guiné (1610)
FERNÃO DE LEIRIA Almoxarife da ilha de Santiago (de Dezembro de 1597 até meados de 1598)
DIOGO RIBEIRO Nasceu em 1575 Reinol Filho de Mateus Ribeiro Em Janeiro de 1597 ainda está em Lisboa Encontra-se em Lisboa (1601) Alcaide do mar da ilha de Santiago (1597 – 1601) Seu pai, falecido em 1592, deixa-lhe 420.000 rs. em dinheiro, mas como ele era menor na data do falecimento de seu pai (1589), Estêvão Luís foi nomeado seu tutor com a obrigação de o agasalhar em sua casa, alimentar a custa dos 420.000 rs. e a custa dos rendimentos das casas que deixou em Lisboa
MANUEL RIBEIRO, Nasceu em 1574 Morador na rua de Calhau na cidade da Ribeira Grande Herdeiro do padre António da Guarda (1597) Recebe 131 alqueires de milho da Costa da Guiné (1610) Boticário (1614, 1616) Procurador de mercadores de Lisboa (1615)
MANUEL TEIXEIRA, Tesoureiro das fazendas dos defuntos e ausentes das ilhas de Cabo Verde e Rios de Guiné (1597, 1604)
1598
Primeira acção conhecida de corsários holandeses nas águas de Santiago, atacando e saqueando a Ribeira Grande. Essas forças desembarcaram junto à vila da Praia e andaram vários dias a saquear as pequenas povoações das costas da ilha de Santiago. Acabaram, no entanto, por ser expulsas pelas forças locais, sob o comando do governador FRANCISCO LOBO DA GAMA e não constando que tivessem acometido a cidade da Ribeira Grande, nem mesmo a vila da Praia.
Logo em c. 1598-1600, na Relacion y breve suma delas cosas del Reyno del Gran Fulò, um anónimo, na Corte, sustentava o interesse duma intervenção diplomática e político-militar no rio Senegal. Retomavam-se, assim, antigos projectos régios e particulares que, em boa parte, resultavam da convicção (equívoca) de que existia uma ligação fluvial entre o baixo Senegal e Tombuctu, a grande metrópole do comércio aurífero (1).
(1) Sobre estes projectos relativos ao eixo rio Senegal-Tombuctu, cfr. T. da Mota, “A malograda viagem de Diogo Carreiro a Tombuctu em 1565”, BCGP, vol. XXV, nº 97, 1970, pp. 3-23 e idem, "Un document nouveau pour l'histoire des Peuls au Sénégal pendant les XVème et XVIème siècles", BCGP, vol. XXIV, nº 96, 1969, pp. 781-860, nas pp. 783-791.
LUCAS DE ABREU Nasceu em 1571 Inquiridor na cidade da Ribeira Grande (1598, 1599)
LUÍS DA FONSECA Morador da vila da Praia Capitão interino da Praia (1598,1599) Vereador da vila da Praia (1598) Juiz da Câmara da Praia (1598, 1599) Milícia Proprietário rural
FERNÃO MARTINS DE BEJA Casado com Maria Cardosa Filhos: André Fernandes Viegas, estante em Santiago e Manuel Mendes Cardoso, morador em Lisboa Falecido na ilha de Santiago (1601) Recebedor do trato da ilha de Santiago (1598) Procurador de moradores de Lisboa em Santiago (1598) Sua viúva fez, em Lisboa, uma procuração a André Fernandes Viega, seu filho, estante em Santiago para ai receber e nos Rios de Guiné tudo que ficou por herança de seu marido tal como mercadorias, escravos e escravas, letras de câmbio, algodões.
MANUEL CALADO, Nasceu em 1564 Falecido (1609) Tabelião do público e judicial da Ribeira Grande (proprietário do ofício) (1598-1609) Testemunha no auto instaurado pelo Governador das ilhas de Cabo Verde, a Nicolau Rodrigues da Costa, juiz ordinário da cidade da Ribeira Grande (1598)
NICOLAU RODRIGUES DA COSTA Dizem que ele é “da nação de cristão-novo” Juiz ordinário da Câmara da Ribeira Grande (1598) Proprietário rural O governador das ilhas de Cabo Verde, Francisco Lobo da Gama, mandou fazer-lhe um auto “/…/ atestando ele que Nicolau Rodrigues da Costa e seus sagazes se juntavam em Manuel Vaz, a comer beber e difamar toda a gente causando escândalo pelo desrespeito que tinham pelo culto divino /…/” (1598) O governador manda que ele se exile na sua fazenda que fica a seis léguas da cidade da Ribeira Grande e que de la não saia sem sua ordem expressa (1598)
LUÍS DA FONSECA Vizinho da vila da Praia Juiz da Câmara da vila da Praia (1598) – era vereador, mas foi nomeado juiz no lugar de Gaspar Fernandes Lucas que estava preso Juiz e capitão interino da Praia (1599) Capitão interino da vila da Praia (1598) Foi condenado pelo ouvidor das Ilhas de Cabo Verde, Manuel Dias Calheta, por ter abandonado seu posto e deixado a vila da Praia sujeita a qualquer ataque do inimigo (1598)
ALEIXO FERNANDES, Filho de Gaspar Fernandes Lucas, capitão da vila da Praia e juiz ordinário da mesma vila em 1598 Casado com uma sobrinha de Francisco Martins Freire, que se tornaria capitão da mesma vila no ano de 1610
PÊRO FERNANDES Freire Meirinho da serra da ilha de Santiago (1598)
GASPAR FERNANDES LUCAS Vizinho da vila da Praia Pai de Aleixas Fernandes Capitão da Vila da Praia (1598) Juiz ordinário da vila da Praia (1598) É levantado auto contra ele por negligência culposa no abastecimento da dita vila e pelos insultos que dirigiu ao capitão (1598) Encontra-se “preso por mandado do senhor capitão e governado Francisco Lobo da Gama” (Abril de 1598)
VICENTE MADEIRA, Nasceu em 1561 Tabelião do público e judicial da cidade da Ribeira Grande (1598) Testemunha do auto que mandou fazer o ouvidor Manuel Dias da Calheta (1598)
FRANCISCO MARQUES, Reinol Criado do Bispo D. Pedro Brandão (1598) Cunhado de Diogo Pires, alfaiate em Lisboa Cónego na Sé de Santiago (1611) Membro do cabido da Ribeira Grande (1619)
ROQUE GONÇALVES NETO Nasceu entre 1566/1570 Reinol Veio para Santiago com o capitão-mor Francisco Lobo da Gama (1597) Sogro de Apolinário Ferreira Sargento-mor da Ribeira Grande (1598-1601) Foi mandado pelo capitão-mor à freguesia de São Domingos cercar a Igreja onde os padres vindos da Ribeira Grande faziam os ofícios divinos como se fosse a Sé. Estando os padres todos dentro da igreja os soldados a cercaram por tempo de 40 horas e só foram embora quando “/…/ acudiu muita gente em favor dos padres a qual gente era toda preta, e com isso se foi o dito capitão da Ribeira Grande /…/ com toda a gente que trazião e os padres ficarão na dita freguesia em choupanas de palha em que vivem os negros..." Nessa operação perdeu a mão direita – “O sargento-mor cumprindo as ordens, bateu a pederneira, que só pegou fogo quando a arma já não estava apontada, e disparando levou a mão direita do sargento”.
PÊRO VAZ DE OLIVEIRA Reinol Mora na Praça Velha da cidade da Ribeira Grande Falecido (1609) Mercador da Ribeira Grande (1598, 1614) – possui logea e casa na Praça Velha da cidade Passa letras de câmbio (1604)
FRANCISCO DA ROCHA Nasceu em 1539 Em 1566 encontra-se em Coimbra Morador de Lisboa (1598) Cavaleiro Fidalgo da Casa Real (1598) Casado com Ana da Gama Vai para Cabo Verde em Dezembro de 1598 Falecido (1600) Mamposteiro mor dos cativos e resíduos da ilha de Santiago (1598-1600?) – é obrigado a “/…/ correr todos os lugares da referida ilha e fazer neles arrecadação de todo o dinheiro proveniente da redenção dos cativos que enviará ao tesoureiro da rendição dos cativos de Lisboa sendo lhe dada a respectiva quitação /…/” Tesoureiro das fazendas dos defuntos e ausentes da cidade da Ribeira Grande (1598-1600) Em 1566, diz ter estado em Cabo Verde em casa de Jerónimo Fernandes o qual denuncia à Inquisição como sendo cristão-novo Passa procuração a Ana da Gama, sua mulher, a João Pires Brandão e a Lopo Rodrigues de Lisboa, para arrecadarem toda a fazenda, escravos, letras de câmbio que mandar da ilha de Santiago (1598)
FRANCISCO MENDES SÁ Padre Vigário Geral da Sé de Santiago (1598)
DIOGO LOPES VALLASTEGUI Nasceu em 1571 Vizinho da vila da Praia Falecido (1622) Tabelião da vila da Praia (1598-1622) Escrivão da Câmara da Praia (1598-1622) Proprietário rural – Foi administrador da Capela de Nossa Senhora do Rosário, terras de Monfaleiro, instituída por Beatriz Vaz. A Capela consta “/…/ de terras de sementeira com casas de morada em o dito sítio de Monfaleiro, onze peças de escravos e um bocado de montados e curral no sítio de Castelo. E como a dita instituidora não deixou herdeiro algum descendente nem ascendente, /…/ porque tinha sido escrava, e se libertou por seu dinheiro /…/. Nomeou e ordenou para a administração da dita capela a Diogo Lopes Blestiguim Escrivão da Villa da Praia pessoa estranha a quem ella tinha instituído seu testamenteiro e herdeiro espontaneamente, só afim da conservação da sua capella que tinha instituído, mandando ali fazer a Ermida ou Capella de Nossa Senhora do Rosário /…/” (1622)
ANDRÉ VAZ, Nasceu em 1573 Alcaide da cidade da Ribeira Grande (1598) Pessoa que vai a Guiné (1612)
GASPAR DIAS VIÇOSO Nasceu em 1562 Vive na Praça da cidade da Ribeira Grande (1614) Procurador em Santiago de mercadores de Lisboa (1598, 1607) Recebeu 85 alqueires de milho da Costa da Guiné (1610)
LOPO SOARES DE ALBERGARIA faz Relaçam de (…) sobre o Guiné do Cabo Verde e collegio que aly convem fazer   Doutor (Teologia), Deão da Capela Real, Deputado da Mesa da Consciência e Ordens e da Inquisição de Lisboa
1598-1600 (c.) ANÓNIMO [português?] Relacion y breve suma dela [sic] cosas del Reyno del Gran Fulò, y succeso del Rey Lamba, que oy es cristiano, por la misericordia de Dios, cuias noticias carecen de toda duda [informador fula: D. Tomás Lamba]
1598/02/20
VIGARIO DA IGREJA DE CACHEU (20-2-1598)
SUMÁRIO – El-Rei apresenta o cura da igreja de Nossa Senhora do Vencimento de Cacheu, rio de S. Domingos,
Dom Filipe etc. Como gouernador etc., faço saber a vos reverendo Padre Frei dõ Pedro Brandaõ, bispo da Cidade de Santiago da Ilha do Cabo Uerde (l). e do meu conselho, que por necessidade que [h] á de auer hú uigairo na jgreja de nossa Senhora do Uécimento do porto de Q[u ]acheu do Rio de Sam Domingos, pera curar as almas e lhe[ s] administrar os Santos Sacramentos, por cõfiar de Fernaõ Navais de Quiroga, clérigo de missa que seruirá a dita vigairia e jgreja como cúpre o serviço de nosso Senhor e bem das almas dos freg [u] eses della visto o que.constou de sua sufíciencia, vida e costumes por vosa êformaçao, ey por bem e me apzaz de o apresentar como de feito apresento na dia vigairia e jgreja, e ·vos emcomedo que nella o confirmeis e lhe paseis uosa carta de cõfirmaçaõ em forma, na qual se fará expresa e delarada méçaõ de comoo comfirrmastes a minha apreseritaçaõ, pera guardá e conseruaçaõ do direito e antiga pose; e desta e deste theor lhe mandey pasar outra carta pera ire por duas vias huã dellas averá efeito. / / · ·
Dada na cidade de Lisboa, a uinte de fevereiro, Jorge Coelho de Andrade a fez, ano do nacimento de noso Senhor Jesus Christo de mil e quinhentos nouéta e oito.
Registada por mim Guomez d·Azeuedo.
ATT -Chancelaria da Ordem de Cristo. liv. 10, fls. 216 ... 216 \'.
1598/09/13
Morreu D. Filipe I a 13 de Setembro de 1598 e ficou o governo entregue ao arcebispo de Lisboa D. Miguel de Castro ao conde de Portalegre D. João da Silva, ao conde de Santa Cruz D. Francisco Mascarenhas, ao conde de Sabugal D. Duarte de Castelo Branco e ao escrivão da Paridade Miguel de Moura.
Assim esteve o país entregue nas mãos de governadores, que se sucediam uns aos outros, durante 21 anos, em que deu entrada em Lisboa D. Filipe II no mês de Julho de 1619.
1599
Aos capitães-donatários sucederam os corregedores, criados em Cabo Verde em fins do séc. XVI, que agiam na esfera judicial e em serviços administrativos.
FERNÃO DE ALMEIDA Cavaleiro Fidalgo da Casa do Rei Casado com D. Joana Ribeiro, filha de Mem Ribeiro de Almeida Recebedor da feitoria e  trato, quartos e vintenas da ilha de Santiago (1599) Procurador de moradores do reino (1599)
RAFAEL REIMÃO, Escrivão do tesoureiro das fazendas dos defuntos da ilha de Santiago (1599, 1603).













1 comentário:

  1. excelente trabalho de recolha e sistematização de dados....de grande utilidade

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