terça-feira, 8 de março de 2016

COLONIZAÇÃO DA GUINÉ 1504-1512


1504
Um documento, alusivo à missão realizada por dois outros agentes régios (1504) – ANTÓNIO BARBOSA, inquiridor, e LOPO RODRIGUES, provavelmente Escrivão. António Barbosa chegara, efectivamente a Ribeira Grande com “poderes de V. Alteza” para: 1) inquirir acerca de certos casos, sendo o mais grave o do arroído e morte em que se achavam implicados o meirinho (então preso), o contador e o respectivo irmão; 2) tirar uma devassa geral.
ANTT, CC, I-4-49 in HGCV-CD, vol. I, doc. 51, 06-Jan-1504.
LOPO RODRIGUES, Clérigo de Missa (1504) Importa mercadorias da Costa da Guiné
AFONSO RIBEIRO inicia as suas funções no cargo de capitão de Alcatrazes, ilha de Santiago
1504/06/10
O capitão RODRIGO AFONSO vendeu os seus direitos na ilha de Maio à família Coelho.
1505
GONÇALO DE FONSECA é capitão-mor de Arguim até 1508. Nos anos de 1505 a 1508 a guarnição do castelo de Arguim era composta por 41 pessoas, das quais 18 eram soldados e 5 eram marinheiros. Em 1569 a guarnição tinha-se reduzido a 30 pessoas.
 - Da viagem de Dom Francisco viso rey…, de Mayr/Valentim Fernandes (1505-1506);
- Crónica da Guiné [versão da], de Valentim Fernandes (1506);
- Descripçam de Cepta por sua costa…, de Valentim Fernandes (1506-1507);
- Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira (1505-1508).
1505/01/03
PERO CORREIA é capitão donatário da Boavista.
1506
Por volta de 1506/1510, já havia feiras no que veio a ser São Domingos e Cachéu. Usando a forma "Caticheo" por "Cachéu", VALENTIM FERNANDES diz que os indígenas locais "tem tãbém feyra e vam aa feyra dos banhuns e os banhuns a estes" (FERNANDES, 1951: 74, 164). Vê-se, portanto, que no começo do século XVI já existia, na região de Cachéu, uma interação relativamente intensa das etnias locais entre si bem como com os portugueses. A respeito da região de São Domingos, disse o mesmo autor:
...aqui estão christãos mercadores estantes (p. 68).
Um outro autor que nos fornece muitas informações sobre os povos locais, seus usos e costumes, bem como sobre a ação dos portugeses entre eles é ANDRÉ ÁLVARES DE ALMADA. Referindo-se à região da atual Cachéu, ele afirma o seguinte:
Antigamente habitavam os nossos com estes negros (isto é, brames) na mesma aldeia debaixo da palavra e guarda de seus hóspedes, e eram muito avexados deles como de outros da mesma nação que desciam do sertão, e houve já muitas mortes e roubos importantes que cada dia recebiam; mas haverá como cinco anos que estão os nossos em aldeia separada dos negros, e tão fortes que querendo eles, podem fazer muito mal e dano aos negros. E estão ao longo do rio entre a aldeia dos negros e ele, e ali fizeram uma força sem ajuda de S. Majestade, e a fortificaram com alguma artelharia que para isso buscaram, com a qual defendem a entrada aos Ingleses e Franceses para que não tomem os navios como dantes faziam. O autor de se fazer este forte e aldeia em que estivessem os nossos, foi um MANUEL LOPES CARDOSO, vizinho da Ilha de S. Tiago, o qual por industria houve licença do Rei da terra chamado Chapala, para fazer no dito sitio o forte (ALMADA, 1946: 45).
1506/04/19
NESTA DATA, NA CIDADE DE LISBOA, DAVA-SE UMA ENORME MATANÇA DE CRISTÃOS-NOVOS. 4.000 TALVEZ.
1507/02/06
Arrendamento das ilhas de Santiago, Fogo e Maio, efectuado entre D. Manuel e AFONSO LOPES DOS COUROS, a 6 de Fevereiro de 1507 37
37 Cópia do alvará de arrendamento das ilhas de Santiago, Fogo e Maio efectuado entre D. Manuel I e Afonso Lopes dos Couros, publicado in História Geral de Cabo Verde - Corpo Documental, ob. cit., vol. I, pp. 169-172.
1508
FRANCISCO DE ALMADA é capitão-mor de Arguim até 1511
GIL ÁLVARES é corregedor de Cabo Verde
RODRIGO VARELA é capitão donatário de Alcatrazes

       
SEBASTIÃO ÁLVARES DE LANDIM inicia as suas funções no cargo de capitão da Ribeira Grande, ilha de Santiago
JOÃO DE ALMEIDA Escudeiro da Casa Real Escrivão do almoxarifado da vila da Ribeira Grande (1508)
JORGE ANES, Falecido antes de 1508 Proprietário rural - ficou devendo de dízimo da terra 233 quintais e meia de algodão (1508)
TOMÉ FALCÃO, Casado com a filha de João Cordeiro Falecido (1539) Escrivão do almoxarifado de Alcatrazes (1508-1510) Meirinho da Serra da ilha de Santiago (1º) (1534) Proprietário rural
DIOGO FERNANDES, Falecido (1508) Boticário (1508) Proprietário rural
JOÃO MARTINS, Proprietário rural – Deve de dízimo em 1508: 227 quintais e meia arroba de algodão, 228 e meia arroba de algodão sujo Importador de mercadorias africanas da Costa da Guiné (1528)
PIRES NUNO Tabelião público e judicial da Ribeira Grande (1508)
RODRIGO VARELA, Capitão da vila de Alcatrazes Proprietário rural – pagou de dízimo 168 quintais e ½ de algodão (1508)
1508/01/05
Mas, apesar de não serem bem vistos, aos lançados era dada a possibilidade de obter uma carta de perdão régio, mediante a entrega total ou parcial dos bens e o pagamento de uma taxa de 10 cruzados; esta carta de perdão permitia, àqueles que assim o desejassem, o regresso às suas terras de origem do reino ou ilhas. Dinheiro e fazendas assim obtidos revertiam, por doação régia, para o Hospital Real de Todos-os-Santos, criando-se um vínculo específico entre esta instituição do reino e a região das ilhas de Cabo Verde e dos rios de Guiné. Nesse sentido, por alvará de 5 de Janeiro de1508, o rei, tendo em consideração o relevante serviço de assistência (cura, criação de enjeitados e outras obras de misericórdia) que se fazia nesta instituição do reino, fez esmola e doação “de todas as fazendas daquelas pessoas cristãos [sic] que andam lançados na Serra Leoa, as quais pelo dito caso se perdem para nós.
1509
Entretanto, em 1509, vinha a lume um outro texto, desta vez da autoria de Balthasar Springer, um alemão que participou na expedição de D. Francisco d'Almeida à Índia (1505). Agente das casas comerciais Welser, Fugger, Hochstetter e Imhoff, Springer não só cuida dos interesses destas empresas, como ainda se inteira da viagem, deixando um importante relato, onde apontou particularidades da costa africana e decreveu aspectos dos povos visitados. Publicado em latim, viria ainda a prelo em flamengo, alemão 19 e inglês. 20 Na costa ocidental africana, a região que Balthasar Springer descreve, como mais pormenores é a que denomina de "Byssegicks" (Bezeguiche).
No dia sete de Abril lançam ferro perto de um local chamado "Byssegicks"; o rei e a população, como informa, usariam os troncos de árvores como navios para pescarem. Alguns africanos aproximar-se-iam em dois navios e como falavam muito bem o português logo compreenderam perfeitamente o negócio. Springer relata ainda que viu neste reino e ilhas muita gente - de ambos os sexos - maravilhosa e sem vergonha, pelo que andavam uns com os outros como os animais selvagens; alguns tapavam somente as vergonhas, outros nus, todos negros; as casas compara-as às cabanas da gente pobre nas aldeias da sua terra e conta que eles levariam as casas para onde queriam e conforme lhes dava mais gosto; nesta terra encontrar-se-ia ouro, do qual o rei de Portugal mandaria fazer moeda e curiosamente os íncolas destas terras não o trabalhavam nem nele reparavam; eles não precisariam de dinheiro, mas apenas de coisas como espelhos, argolas de latão, cristais azuis, ou muitas outras coisas idênticas, e o que acha mais estranho é que, quando lhe as levam, dão em troca boas mercadorias das que têm e do que ali cresce apesar do cuidado e atenção que lhes tem. 21 Cotejando esta realidade com a sua, parte do seu padrão de conhecimento que assim o ajuda a julgar a novidade; daí que a inexistência de determinados elementos seja compreendida como uma falta.
19. Publicação esta que teria um título bastante elucidativo: Die Merfart nd erfahrung nüwer Schiffung und Wege zu viln onerkanten Inseln und konigreichen/ von dem großmechtigen Portugalichen Kunig Emanuel Erforscht/ bestritten und Ingenommen/ Auch wunderbarliche Streyt/ ordenung/ leben wesen handlung und wunderwercke/ des volcks und Thyrer darin wonende/ findstu in diessein Buchlyn warhaftliglich beschrybern un abkunterffeyt/ wie ich Balthasar Sprenger sollichs selbs: in kurtzuerschynenzeiten. gesehen un erfahren habe, etc.
(Encontras neste livro a navegação e conhecimento de novas rotas e caminhos disputados e conquistados pelo magnífico rei de Portugal Emanuel, a maravilhosa luta, ordem, vida ser, trato e obras maravilhosas dos povos sírios que aí moram, verdadeiramente descrita e desenhada como eu Balthasar Sprenger próprio vi e conheci em pouco tempo, etc.)
20. A edição latina foi publicada em 1507, não se sabendo o local, a flamenga em Anvers, 1508, a alemã provavelmente em Augsburgo, 1509 e a inglesa sem local no ano 1520/21.
21. "Uff dem Siebenden tag des Aprillen da furen wie den Kaben ferrehynein inn der Moren land vnd wurffen vnser aencker vß/ vff drey meyln bey einem marckt heißt Byssegicks do ist der Moren kunig wohnafftig/ das volck hat hol bawn zu schiffung dar inn sie fischen Ir fyer furen mit tzweien der angetzeigten schiflein zu vns/ vnd retten gut Portugalisch sprach mit vns also das wir ein ander ganz in allen hendeln wol verstunden/ Wir sahen auch in diessetz Kungreich vnd Inseln wunderbar onschamhafft menschen beyderlei geschlecht vndereinander als die wilden Thyr: etlich allein die Scham bedecken die andern nackend/ all schwartz als die wir bei vns Moren nennen vmbaluffen: der Moren land sich auch da anheben: Ire wonungen und hüser geleichen sich den hütten als die armen dorfleut in vnsern landen über die backöffen machen: welch hüser die inwohner noch irem willen tragen wo hyn sie zu wonen lust haben. [...] Und sunderlich erscheint und felt der ende vil golts/ do von der Portugalisch Kunig sein Guldin Muntz schlagen und muntzen leßt Aber die ynlendischen diesser Inseln das golt nit arbeiten noch verwercken kunnen. Diß Volck braucht noch nympt bei ynen gantz kein gelt/ sunder allein seltzam auenturige ding/ als Spigel Messing ring/ lang blawe Cristallein &c. vnn der geleichen manigerlei was yn seltzam ist vnd ynen do hyn bracht wirt/ do geben sie ware umb ware/ vnnd was sie haben vnd bei yn wechst stuck vor stuck: noch yrer liebe vnd zymlicher achtung der selben ding/ Gewechs der bawm seyn übertreffener grösse". Balthasar Springer, Merfart, 1509. Veja-se Adam Jones, The Earliest German Sources for West African History (1504-1509). In: Paideuma 35, 1989, pp. 145-154.
1509/09/25
No ano seguinte, porém, por alvará de 25 de Setembro dirigido aos rendeiros da Serra Leoa, João de Lila e João de Castro, determina a doação ao Hospital de apenas metade dos bens apreendidos aos lançados. A confusão gerada por estas duas detenninações, tanto quanto à região abrangida como ao montante a ser doado, levou a divergências entre as autoridades de Santiago:> que não quiseram dar cumprimento ao alvará conforme o interpretavam., e os procuradores do Hospital, que entendiam que a lei alcançava toda a Guiné. Foi necessário outro alvará explicativo, em que se declarava que a determinação abrangia toda a Guiné; mas, mesmo assim, durante o reinado de D. João III sucessivas cartas régias foram emitidas, tendo em consideração a relutância e dúvidas que se ofereciam na execução daquelas determinações.
1510
Carta a el-rei expondo diversas irregularidades ocorrendo no trato da Guiné propondo medidas concretas para resolvê-las
1511/07/11
Os privilégios outorgados aos moradores e capitães de Santiago pelo infante D. Fernando foram confirmados pela Carta Régia de D. Manuel aos moradores e capitães de Santiago, em 11 de Ju1ho de 1511: Pydindonos por merçee os ditos capitaees da dita ilha, e moradores della, que posto que a dita carta, privylegios e merçees deila fosem comçedidos e outorgados á pesoa do Infante meu senhor e padre, que samta gloria aja, e per seu falleçimento vagassem, nos prouvesse comfirmar a dita carta e todas as graças, merçees, privilegios, liberdades nella comthiudas, á dita ilha e aos capitãees e moradores deila.
1512
O rei D. Manuel I proibiu que fossem desembarcados fora de Lisboa quaisquer escravos trazidos a Portugal.
AFONSO LOPES MARIZ é corregedor de Cabo Verde.
Corregedores – nomeados pelo rei, com função primordialmente investigatória e recursal, inspecionando, em visitas às cidades e vilas que integravam sua comarca, como se dava a administração da Justiça., julgando as causas em que os próprios juízes estivessem implicados.
ABRAVANEL, HENRIQUE FERNANDES ABRAVANEL (séculos XV-XVI) Membro da importante família dos Abravanel, com significativas relações com o meio cortesão português, Henrique era descendente do célebre Isaac Abravanel, neto de Jacob Abravanel e sobrinho de Judas Abravanel. No entanto, apesar da sua importância social, possuímos escassas informações biográficas sobre este mercador.
No reinado de D. Manuel, Henrique beneficiou de uma restituíção da dívida que a coroa tinha para com a sua família. Assim, em 1512, recebeu 400.000 reais, parte da dívida de 1.540.404 reais que a coroa tinha para com Jacob, do trato das moradias e da vintena da Guiné, que haviam sido arrendadas, em 1482 e 1483, a Judas Abravanel. Para além do rei D. Manuel, as boas relações que Henrique detinha na corte estendiam-se à infanta D. Beatriz e, inclusivamente, a vários elementos da Casa de Bragança.
As suas actividades comerciais centravam-se, provavelmente, em Lisboa, estabelecendo ligações com os mais importantes mercadores da cidade.
Em 1514, é mencionado num documento em parceria com FRANCISCO MENDES. Os dois mercadores fizeram uma procuração na qual encarregavam mestre Duarte e o bacharel Gomes Vaz de procederem à cobrança de certas quantias. Este documento mostra uma clara ligação comercial de Henrique à Casa Mendes, uma das mais importantes casas comerciais Sefarditas da sua época.
Estudos Maria José Ferro Tavares, Os Jude us em Portugal no século XV, vol. 1, Lisboa, Universidade ova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e l lumanas, 1982, pp. 68-288.
40 Fontes ANTI, Corpo Cronológico, parte 1, maço 10, doe. 165.
Ibidem, Corpo Cronológico, parte li, maço 53, doe. 61.
Apesar de vigiados pela Santa Inquisição, os da estirpe continuavam atuantes. O alto negócio da pimenta os atrai. JOÃO CARLOS AFAITATI, juntamente com os DI NIGRO e os irmãos DIOGO MENDES (em Antuérpia) e FRANCISCO MENDES (em Lisboa), além de outros aliados, monopolizam a  especiaria. Anos mais tarde, novo grupo, encabeçado por Tomás Ximenes (1592-1596), lidera as transações.
A henrique fernandes abravanel, mercador, morador em lisboa, confirmação de um aforamento de umas casas do armazém do reino, situadas na rua que vai para o poço da fótea, com as confrontações e condições declaradas e com foro anual de 588 reais e 9 pretos (14 libras da moeda antiga) ou seu justo valor. Mercê concedida pela apresentação de um instrumento de aforamento feito a 12 de Dezembro de 1516, nas Tercenas e Armazém do reino, por Diogo Lopes, escudeiro do rei, na presença de André Dias Feo, cavaleiro da Casa d'el-Rei e recebedor do armazém e das testemunhas Afonso Luis, carpinteiro e João Fernandes, morador na Charneca, no qual consta um alvará feito em Lisboa, a 28 de Novembro de 1516, por Diogo Vaz, sabendo-se que essas casas lhe ficaram por morte de Leonor Fernandes, sua tia, que as houvera de Abraão Beacar e que este as houvera por título de compra, com consentimento de Diogo de Lemos que foi almoxarife do armazém em 1470, de Isaque Abete, judeu, que as trazia aforadas por 14 libras. Como perdeu o título, Henrique Fernandes Abravanel pede que lhe passem a carta de aforamento. El-rei o mandou pelo barão de Alvito, do seu Conselho e vedor da fazenda. Diogo Vaz a fez. COTA ATUAL Chancelaria de D. Manuel I, liv. 10, fl. 4
A henrique fernandes abravanel e a inês fernandes, sua mulher, morador em lisboa, confirmação do emprazamento de umas casas, situadas nessa cidade, ao poço da fótea, com as confrontações e condições declaradas, que são do morgado e capela de álvaro esteves, abade que foi de s. martinho de mouros e cónego de braga, por foro anual de 3.000 reais pagos ao administrador da sucessão do morgado e capela, Graviel Barreiros, morador no Porto (por procuração que tem de sua mulher, Isabel Queimada feita a 16 de Janeiro de 1499, no Porto, por João Barbosa, tabelião judicial nessa cidade e geral nessa bispado e das testemunhas, Diogo Anes, bainheiro, André Anes e Bastião Dias, cutileiros, moradores na rua da Bainharia). O instrumento de emprazamento e inovação (porquanto as casas estiveram emprazadas a Leonor Fernandes, tia de Henrique Fernandes) foi feito em Lisboa, a 23 de Agosto de 1503, abaixo da igreja de S. Cristovão, nas pousadas do doutor Diogo Lopes de Carvalho, do desembargo do rei, por Brás Afonso, tabelião, na presença das testemunhas João Pires, porteiro diante o ouvidor de Guimarães, morador em Solis, e de André Lopes, amo de Rui da Grã, morador no Porto.Gonçalo Mendes a fez. COTA ATUAL Chancelaria de D. Manuel I, liv. 2, fl. 41v1513


1513
 Registos oficiais de recenseamento da população da Vila de Ribeira Grande, apenas cinquenta anos após o início da colonização, começam a reflectir a forma da futura demografia de Cabo Verde: 162 residentes, incluindo 58 "brancos", 12 pastores, 16 "negros livres", soldados e condenados portugueses, e cerca de 13 000 escravos. Entre 1513 e 1515, um total de 2 966 cativos foram trazidos para Santiago por 29 navios. Muitos foram levados para Portugal, outros vendidos a navios espanhóis em rota para as Canárias ou para as Índias Ocidentais.
N'esse mesmo anno de 1513, sahindo para a Guiné, Gaspar Dias, almoxarife da jurlsdicção e villa dos Alcatrazes, e ficando esta abandonada da autoridade que devia assistir ao quartejamento dos rendimentos, mandou o contador das ilhas Ruy Lopes, cavalleiro da ordem de Santiago, que Alvaro Dias, almoxarife da villa da Ribeira Grande, tomasse o carrego (conta) d'aquelle almoxarifado para a boa arrecadação das rendas d'El-Rei.
Regista-se o tráfico de 565 escravos da Guiné.
 Os escravos  vendidos no mercado de Santiago eram classificados em três tipos. Por ordem crescente de valor, eram boçais (de boçal: ignorante), escravos recém-importados que falavam apenas as suas línguas nativas; ladinos, escravos residentes há mais tempo em Santiago que tinham aprendido Kriolu, tinham sido baptizados e "ensinados a trabalhar"; e naturais, os nascidos em Cabo Verde (Carreira 1972: 267 citado por Meintel).
PÊRO DE GUIMARÃES inicia as suas funções no cargo de corregedor de Cabo Verde. Trata-se de Pero de Guimarães, que terá chegado às ilhas entre fins de 1512 e início de 1513. Entre as várias incumbências que tinha destacam-se: o conhecimento de práticas irregulares existentes na terra tais como a posse ilícita do dinheiro dos defuntos, o uso de pôr o dinheiro dos órfãos a ganho e a exportação de peles das ilhas de Santiago e do Fogo para lugares fora do Reino; o levantamento do número de vizinhos das ilhas e a proibição do emprego de marinheiros e pilotos estrangeiros nas armações de Guiné. ANTT, CC, I-12-120, in HGCVCD, vol. I, doc. 80, 22-Mai-1513.O corregedor Pêro Guimarães queixa-se assim ao rei por ter sido chamado de volta para o Reino por causa de queixas feitas contra ele pelos homens poderosos de Santiago: “…fui eu daqui emprazado a vossa corte por ditos de testemunhas falsas e pessoas /…/ que contra mim testemunharam /…/ perante vosso corregedor da corte por cujo respeito me mandar ir [e] andei e acerca de um ano me mostrei inocente e livre por vossa sentença em que gastei muita parte de minha fazenda …” Para que os corregedores possam exercer o poder que lhes foi delegado, Pêro Guimarães aconselha que o rei: “… por si se informasse deles (corregedores) e sem ouvir contra eles outra pessoa os castigasse” já que “ nesta ilha há pessoas que dizem que se o corregedor que Vossa Alteza a ela mandar não for de suas vontades que com mui boas testemunhas falsas os farão sair mais que a passo …”
1514
Regista-se o tráfico de 978 escravos da Guiné
1514/04/25
Provisão para o almoxarife dos escravos que vêm da Guiné dar a Jorge de Vasconcelos um escravo de preço de 10.000 réis. 1514-04-25. Portugal, Torre do Tombo, Corpo Cronológico, Parte 11, mç. 46, n.º 117.
Provisão do rei D. Manuel por que mandou ao recebedor dos escravos que vêm deGuiné, desse a Francisco Velho, escrivão do armazém da lndia, um escravo de preço maior de seu ordenado. 1514-07-12. Portugal, Torre do Tombo, Corpo Cronológico,Parte li, mç. 49, n.0 69.
1514/06/28
 Ao regulamentar o comércio da Guiné e da Mina, em 28 de Junho de 1514, o rei D. Manuel não deixa margem para dúvidas quanto à ameaça que representavam os lançados: "E daqui em diante nenhuma pessoa de qualquer qualidade e condição que seja não se lance com os negros em nenhuma parte de Guiné, nem se deixe lá ficar com os ditos negros por nenhuma necessidade nem razão que por ela possa alegar, sob pena que fazendo-o morra por morte natural e perca todos os seus bens móveis e de raiz para nós."
1515
Regista-se o tráfico de 1515 escravos da Guiné
FERNÃO MENDES inicia as suas funções no cargo de capitão da Ribeira Grande, ilha de Santiago
1515/10/24
Daí partiam em grandes contingentes e acondicionados em carga, numa difícil travessia que para muitos foi fatal, em direcção a Lisboa, convertida no eixo de uma vasta rede de ligações comerciais. Esta posição da capital foi consolidada com a lei manuelina de 24 de Outubro de 1512, tornando-se Lisboa no único local autorizado para praticar o rentável negócio da Guiné. De facto, possuía a infra-estrutura necessária, a Casa dos Escravos, uma repartição da Casa da Guiné, situada junto ao Tejo, que além das salas do almoxarife e do escrivão dos escravos, dispunha de prisão e vários pavilhões onde após o desembarque se procediam às formalidades de avaliação e divisão por lotes para posterior leilão. 5 Seguia-se a exposição em praça pública onde eram sujeitos a uma avaliação por vezes exaustiva e eram vendidos por correctores de escravos, conforme ilustrou o mercador florentino FILIPE SASSETI no final do século XVI, que embora não questionando a validade moral deste comércio, testemunhou a “miséria daqueles brutos e a desumanidade dos seus senhores.” 6 Após a aquisição, assentava-se a propriedade na mesa dos escravos das Sete Casas, na Alfândega, a mesma entidade que estava habilitada a passar certidão de liberdade sempre que se era alforriado.
Muito embora no século XVI com a colonização do Brasil e as possessões espanholas na América, se tenham traçado novos rumos do comércio de escravos, 7 os navios negreiros continuaram a aportar e a ter mercado na cidade de Lisboa, cuja mercadoria continuou indispensável, pelo menos até ao estabelecimento das leis pombalinas de limitação ao comércio de escravos, conforme atesta a quantidade de escravos de primeira geração sujeita ao acto sacramental de baptismo nas paróquias de Lisboa
5 Ao cargo de almoxarife, entre outras atribuições, cabia a vistoria das embarcações da coroa ou por ela fretadas, à sua chegada, a logística e a venda dos escravos, bem como a venda de licenças a particulares, o arrendamento de monopólios de regiões africanas e a concessão de contratos de exploração das ilhas de Cabo Verde e golfo da Guiné. Quando os impostos da vintena (5%) e do quarto (25%) não eram cobrados na alfândega de Cabo Verde, ou no Golfo da Guiné, onde previamente passavam os escravos procedentes da costa africana era o almoxarife dos escravos que arrecadava esse imposto. A dízima e a sisa cobrados na alfândega de Lisboa constituíam outra valiosa fonte de lucro com o comércio de escravos aqui desembarcados. A Câmara Municipal de Lisboa tinha a seu cargo a designação do corretor “dos mouros, e mouras negros e alvos que se ouuessem de vender em a dita cidade e seus termos”.
6 LAHON, cit. Filipe Sasseti, 1999:33.
7 ALEXANDRE, 1979.

Nos anos de 1511 a 1513 (no reinado de D. Manuel I) passaram por aquela Casa 1.265 escravos de ambos os sexos, pertencentes ao rei, avaliados em 8.086.795 reais.
1510
ANDRÉ RODRIGUES MOSQUITOS, Mosquito é alcunha Cavaleiro da Casa do Rei (1526) Avô de André Rodrigues dos Mosquitos Teve 3 filhos ilegítimos: Nicolau, Nuno, Jerónimo Sua cunhada é Isabel Lopes, mãe de Branca Rodrigues Irmão de Bernardo Rodrigues dos Mosquitos Contador das ilhas de Cabo Verde (1524-1528) Feitor do trato de Santiago (1526-27 de Novembro de 1527) Ordem ao almoxarife da Ribeira Grande, Rodrigo Alvares de Óbidos (1526) Recebedor dos dinheiros recolhidos pelos moradores de Santiago para ajudar a pagar as dívidas de Flandres (1545, 1546) Testemunha do lanço das ilhas de Cabo Verde feito por António Rodrigues Mascarenhas por 3 anos (23 Outubro de 1510) Proprietário rural – Fundador do morgadio dos Mosquitos (fundador do morgado do Engenho; Aguas Belas situados na ribeira de Aguas Belas ou Engenho) (9 de Novembro de 1531) Escreveu uma carta dirigida ao rei (1549) na qual lamenta o desinteresse da Coroa por Cabo Verde que é o ponto convergente na navegação da América.
Mandado de André Rodrigues dos Mosquitos, contador e feitor das ilhas de Cabo Verde para Simão Fernandes, almoxarife da vila da Praia, entregar todas as peças de escravos que tiver em seu poder
ANTÓNIO RODRIGUES MASCARENHAS, Rendeiro das ilhas de Santiago, Fogo e Maio, juntamente com Nicolau Rodrigues e André Rodrigues (1510 a 1513) Armador (1513, 1514) Proprietário rural e de imóveis na ilha de Santiago
NICOLAU RODRIGUES, Rendeiro das ilhas de Santiago e Fogo (1510) Proprietário do navio (1513) Armador (1514, 1515) Fiador de Francisco de Lião (1515)
1510/10/23
Alvará de arrendamento, de 23 de Outubro de 1510, a ANTÓNIO RODRIGUES, das rendas e direitos das ilhas de Santiago, Fogo e Maio pela quantia de 900 000 reais, a partir do dia de S. João de 1510 até ao mesmo dia de 1513
Navio Santa Catarina, do armador ANTÓNIO RODRIGUES
1511 - JOÃO ALVES DE SANTA CLARA, Armador (±1511, 1514) Proprietário rural


1512

Das 51 viagens negreíras identificadas, 41 partiram de Arguírn com mais de 100 escravos. De entre os 6 298 escravos embarcados em Arguím, temos notícia de que 6 042 chegaram vivos a Lisboa. O que representa uma taxa média de mortalidade de 4,24%, um valor muito baixo, sobretudo se tivermos em conta que os escravos "moços" e "crianças", ou seja com menos de 18 anos, representavam uma percentagem significativa dos escravos embarcados. 
A carreira Arguím-Lísboa funcionava em circuito fechado numa travessia que, em média, durava pouco mais de 3 semanas. Na realidade tratavam-se de viagens pendulares, um mesmo capitão e um mesmo navio efectuavam uma série ininterrupta de idas-voltas entre Arguím e Lisboa. No conjunto das 51 viagens, 13 foram efectuadas pelo navio Santiago e 12 pelo navio Conceição. Ou seja, metade das viagens foram realizadas por estes dois navios. No que aos capitães diz respeito, as 51 viagens foram efectuadas por 2 pilotos: Pero Anes de Leiria e Pero Ribeiro, tendo cada um, efectuado pessoalmente 11 travessias, o que corresponde a mais de metade do total das viagens. 


A reivindicação de direitos civis e políticos é uma realidade que acompanha a trajectória histórica da população do arquipélago e, mais particularmente, dos filhos da terra, desde os primórdios da colonização. Elucida-o o fato de já em 1512 os oficiais da Câmara da Ribeira Grande solicitarem ao rei que não mandasse mais corregedores, porque os que aí serviam “[...] danaram esta terra e despeytaram o povo de tal maneira que poseram a terra em muita estreiteza”.
Pelo quadro que foi possível elaborar sobre a composição do senado da câmara durante a segunda e terceira décadas do século XVl, período de crescente prosperidade da terra, podemos verificar que entre quinze membros, oito são grandes empresários do tráfico (armadores); cinco são membros da nobreza, desde o simples criado do bispo até ao fidalgo da Casa d'·el-Rei; dos sete que não são armadores, três são proprietários rurais (dos quais um é também mercador), um é capitão de navio, dois são mercadores e o último, embora se desconheça a sua fonte de rendimentos, é o próprio João Jorge, procurador do concelho, escudeiro da Casa Real, homem que detém o acesso directo ao rei, seu senhor.



No início do século XVI , a família de Noli floresceu na colónia de Cabo Verde onde viviam como governadores, membros da nobreza portuguesa, vereadores da cidade, cavaleiros da Ordem de Santiago, donos de plantações , e ricos mercadores possuidores de navios. Por exemplo, em 1512 dois vereadores da cidade em Ribeira Grande, DOM JOHAM DE NOLI e o segundo Antonio de Noli pertenciam ao governo do capital de Cabo  Verde. Dom Joham de Noli foi um Fidalgo português e também um cavaleiro da Ordem de Santiago. Seu título , Dom, mostra que ele era um nobre .
Como é que Dom Joham de Noli se tornou um cavaleiro e um nobre ? Alguma coisa está muito estranha, pois os documentos de arquivo portugueses não identificam Dom Joham com pais ou irmãos dos de Noli. Isso é muito incomum em Portugal, onde os nobres eram identificados como filhos de outros nobres, cujos nomes foram escritos em livros armazenados nos cofres da família bem preservados. No entanto, não há nenhum arquivo para a Família Noli, e muitos documentos sobre a família estão faltando. Isso por si só chama a atenção para Dom Joham de Noli .

Dom Joham de Noli possuía vastas propriedades imobiliárias na ilha de Santiago . Em 1515 pagou 33.400 réis em impostos imobiliários, que se traduz em uma grande propriedade. Está assinado Dom no pagamento das taxas da sua propriedade. 59 A sua assinatura também é encontrada na carta da Câmara Municipal de Ribeira Grande ao rei de Portugal em 1512 . Dom Joham de Noli tinha a opção de pagar impostos sobre a propriedade em algodão ou em dinheiro, o que sugere que ele cultivou algodão. Homens que possuíam fazendas de algodão no início da colónia de Cabo Verdea também exploroavam o trabalho de escravos africanos para o cultivo de algodão e tecer fazendas. 60 Cana de açúcar irrigada e algodão produziam duas safras anualmente, enquanto as fazendas regulares colhiam apenas uma vez.
 ANTÓNIO RODRIGUES DE AZEVEDO Assina carta dos oficiais da Câmara da vila da Ribeira Grande (1512)
AFONSO DIAS Português irmão de Álvaro Dias Assina a carta da Câmara da vila da Ribeira Grande (1512) Mercador (1514, 1515) Armador Escrivão de navio (1515, 1516) Proprietário do navio (1516)
ÁLVARO DIAS  Escudeiro do Rei Irmão de Afonso Dias Falecido (1539) Almoxarife da Ribeira Grande (1512-1523) Armador (1516) Álvaro Dias, que conseguiu manter-se como proprietário do ofício por mais de um quarto de século, não obstante algumas suspensões e demissões de permeio (1), infringiu, de todas as maneiras possíveis, as normas da organização. As acusações contra ele vão desde ter mandado resgatar à Guiné certas mercadorias defesas (2) até a utilização indevida do produto dos impostos régios que recolhia: “dízimos em algodão, cavalos, manteigas, queijos, cousas e outras muitas mercadorias que iam dos Reinos de Castela os quais recebia em si e atribuía [em] seu proveito [s]em dar verdadeira conta”. E mesmo escravos que arrecadava para a fazenda régia - duzentos ou cento e cinquenta, segundo vinham nos navios –, “levava para a sua casa e os tinha muitos dias e se servia deles e morriam em seu serviço alguns os quais lançava em despesa contando mais os mantimentos que lhe dava a comer, servindo deles podendo-os logo vender” (3).
Os impostos pagos em Santiago, quer os cobrados sobre as transações comerciais, quer os provenientes da produção agro-pecuária local e que Álvaro Dias retinha em seu poder, causava grandes transtornos aos negócios da fazenda régia. Sobretudo às armações oficiais mantidas pela Coroa no circuito Santiago-Costa e que haviam de contar, sempre, com o algodão oriundo dos dízimos para o seu abastecimento. A retenção abusiva praticada pelo almoxarife, que mantinha os ditos algodões arrecadados “atribuidos em seu proveito”, condicionava toda a actividade, obrigando o feitor a suprir a carência pela compra do género, ao preço que encontrasse, com evidente prejuízo para o trato oficial (4).
A primeira grelha classificatória dos comportamentos abrangidos pela categoria de desvios genericamente apresentados como “as transgressões do oficialato à volta do tráfico”, parece se esboçar. No entanto, “o caso” Álvaro Dias, com outras modalidades de comportamentos desviantes fornece ainda  matéria que há-de enriquecer o quadro. Comportamentos, aliás, tal como os até agora apontados, que viriam a ser experimentados por um número não desprezável de oficiais semelhantes.
Pesam sobre Álvaro Dias, para além das já mencionadas acusações, o cometimento de outras infracções que também poderão ser contabilizadas como de “imoralidade profissional e económica”(5). Com expedientes diversificados e indo muito além do modesto engenho de “trazer encomendas de Guiné por algumas pessoas e sua mulher por outra, não podendo trazer mais que em cada navio uma” (6), o oficial, tal qual GASPAR DIAS (que armou para a Costa “o que ele não podia fazer” por ordem expressa do contador e “regimento do dito Senhor”), organizou as suas armações (614), em parceria com João Lopes Chaynho, morador da mesma ilha (615), e “com um Afonso Dias, seu irmão” (7).
Segundo Iva Cabral, dos 37 navios oriundos de Guiné aportados em Santiago entre 1513-1516, em 20 deles teriam vindo por encomenda a ÁLVARO DIAS 46 escravos. «A Fazenda Real, campo de contradições...», in Stvdia, nº 51, p. 182.
Álvaro Dias contrariou as leis do comécio e da organização não só por encomendar de Guiné um número de mercadorias muito superior ao que lhe era permitido como almoxarife, dentre as quais algumas defesas, como por ter utilizado, para aquisição desses produtos, o que também se achava expressamente proibido pela legislação da época: o algodão da ilha do Fogo. Na lista das infracções praticadas por esse oficial pode-se encontrar ainda o arrendamento que fazia (a si próprio) da cobrança dos quartos e vintenas de Guiné; a venda a fiado de escravos pertencentes à fazenda régia, “sem irem a pregão”; a sonegação de impostos; o não lançamento em receita de certas multas pagas pelos lançados de Guiné, destinadas à manutenção do Hospital de Todos os Santos (de Lisboa) e ainda a nomeação do seu sobrinho, que se achava homiziado, para escrivão de um navio “não estando ele GOMES DIAS ao despacho para fazer livro das mercadorias, homens e armas como mandávamos no Regimento do dito almoxarife e isto pelo dito Gomes Dias matar uma moça” (8). Evidentemente que para a realização de todas estas transgressões, e talvez de muitas mais que aí não se acham nomeadas, não podia o almoxarife dispensar a ajuda e conivência dos oficiais que lhe eram mais próximos, nomeadamente, do escrivão do almoxarifado que, por dever de ofício, devia acompanhá-lo em todas as operações que efectuasse em nome da fazenda régia. É a esse título que fica atribuído a ÁLVARO DIAS o crime adicional de consentir “a um escrivão dante si que chamam LUÍS CARNEIRO que escrevesse certas falsidades no livro de seu recebimento” (9).
1 - As concertações entre os denunciantes dos “erros no ofício” e os oficiais denunciadoseram frequentes. Daí, serem “inúmeros os oficiais que perderam os lugares por denúncia e que depois nos continuam a aparecer despreocupadamente no cargo. Alguns sobrevivem a duas ou três delações” e isto “porque o denunciado se congrassou com o denunciante, pagando-lhe o silêncio e impedindo a investigação”. Luís Miguel Duarte, Justiça e Crimininalidade no Portugal Medievo (1459-1481), p. 32; 200-202.
2 - ANTT, Chanc. D. Manuel, liv. 25, fl. 76, in HGCV-CD, vol. I, doc. 95, 11Jun1516.
3 - ANTT, Chanc. D. João III, liv. 37, fl. 76, 10-Jun-1524.
4 - Ibidem.
5 - V. Luís Miguel Duarte, Justiça e Crimininalidade no Portugal Medievo (14591481) p. 200.
6 - ANTT, Chanc. D. João III, liv. 37, fl. 76, 10-Jun-1524. Segundo Iva Cabral, dos 37 navios oriundos de Guiné aportados em Santiago entre 1513-1516, em 20 deles teriam vindo por encomenda a Álvaro Dias 46 escravos. «A Fazenda Real, campo de contradições...», in Stvdia, nº 51, p. 182.~
7 - ANTT, Chanc. D. Manuel, liv. 25, fl. 76, in HGCV-CD, vol. I, doc. 95, 11-Jun-1516.
8 - ANTT, Núcleo Antigo, nº 757, in HGCV-CD, vol. II, p. 193. Também citado por Iva Cabral, «A Fazenda Real, campo de contradições...», in Stvdia, nº 51, p. 181.
9 - ANTT, Chanc. D. João III, liv. 37, fl. 76, 10-Jun-1524.
JOÃO FILIPE GODINHO  Oficial da Câmara da vila da Ribeira Grande (1512) Testemunha do arrendamento dos 2/3 dos dízimos do algodão (2 de Maio de 1515)
DUARTE LOPES Casado na ilha de Santiago Assina carta dos oficiais da Câmara da Ribeira Grande (1512) Capitão do navio (1513, 1514, 1515) Importa mercadorias da Costa da Guiné Tem um escravo de confiança – António
GOMES LOPES, Morador da vila da Praia Assina carta dos oficiais da Câmara da vila da Ribeira Grande (1512) Importa peças e mercadorias da Costa da Guiné
RODRIGO LOPES, Assina a carta dos oficiais da Câmara da Vila da Ribeira Grande ao Secretário do Reino (1512)
RUI LOPES, Cavaleiro da Ordem de Santiago Falecido entre 1520-1524 Contador das ilhas de Cabo Verde (1512-1520) Importa mercadorias da Costa da Guiné Tem escravos de confiança - Rodrigo e Álvaro
ANTÓNIO LUÍS, Sua mulher também é moradora de Santiago Assina a carta dos oficiais da Câmara da Ribeira Grande (1512) Vereador da Câmara da Ribeira Grande (1521) Mercador – Importa e exporta peças e mercadorias da Costa da Guiné (1513, 1528)
FRANCISCO MARTINS (o Moço) Francisco Martins (O Velho) é seu irmão Cristão-novo? Assina a carta da Câmara da Ribeira Grande (1512) Feitor de Francisco Martins (O Velho) (1513-1515). Rendeiro dos 2/3 dos rendimentos de Santiago, Fogo e Maio (1514-1516) Rendeiro dos quartos e vintenas de Santiago (1523-1525) Rendeiro das ilhas desertas (1519-1522?) Armador (1514, 1515) Teve como seus fiadores Fernão de Melo e D. Brígida Prova desse poder económico é a disponibilidade que ele e D. Brígida tiveram para servir de fiadores do comerciante português, Francisco Martins (o Moço), quando este arrenda 2/3 das rendas das ilhas:
“/.../ porquanto o dito Francisco Martins não tem dado fiança abastante para poder receber) as rendas e as avenças) e quando o dito Francisco Martins, o Moço, lá nessa ilha acabar y a mulher de Fernão de Mello (D. Brigida) que outorgue em uma fiança que cá fez o dito Fernão de Mello a Francisco Martins cavaleiro sobre esta renda e vos parecer que a fazenda do dito Fernão de Mello e da dita sua mulher vale tanto que pudesse pagar o que nessa renda se perdesse /…/ em tal caso o dito Francisco Martins, o Moço, possa arrecadar sua renda /.../” 18
LOURENÇO MELO, Assina a carta dos oficiais da Câmara da Ribeira Grande (1512)
FRANCISCO MONTEIRO, Assina a carta da Câmara da Ribeira Grande (1512) Escrivão do almoxarifado da vila da Ribeira Grande (17 de Agosto de 1514-1515)
FERNÃO MOURA, Assinou a carta da Câmara da Ribeira Grande (1512) Escrivão dos contos e almoxarifados da Ilha de Santiago (? antes de 1537)
JOÃO DA NOLI, Cavaleiro da Ordem de Santiago Parente de António e de Rafael da Noli Tem mulher e filha em Santiago Assina a carta da Câmara da Ribeira Grande (1512) Armador (1528) Proprietário (rural e de imóveis) da ilha de Santiago
JOÃO PACHECO, Cunhado de Manuel Vaz Escrivão diante o corregedor das ilhas de Cabo Verde (? -1512) Capitão do navio – Pede autorização para ir a Guiné como capitão. Importa mercadorias da Costa da Guiné
JOÃO PEÇANHA, Vizinho da vila da Ribeira Grande Escrivão da Câmara da Ribeira Grande (1512) Tabelião da vila da Ribeira Grande (1513, 1514) Escrivão da correição das ilhas de Cabo Verde (de Maio de 1513 a fins de Agosto de 1514) Importa peças e mercadorias da Costa da Guiné (1513, 1514, 1515)
RUI PEREIRA, Fidalgo da Casa do Rei Casado e tem uma filha na ilha de Santiago Falecido (1537) Assina a carta dos oficiais da Câmara (1512) Armador (1513, 1514, 1515, 1527, 1528) Contrabandista Proprietário rural em Santiago e no Fogo
ANTÓNIO PIRES, Criado do Bispo de Lamego Assina carta da Câmara da Ribeira Grande (1512) Mercador (1515) 1512
GARCIA RODRIGUES, Assina carta da Câmara da Ribeira Grande (1512) Juiz ordinário da Câmara da Ribeira Grande (1521) Escrivão de navio (1528)
JOÃO RODRIGUES, Faleceu na Guiné (1515) Assina a carta da Câmara da Ribeira Grande (1512) Importa mercadorias da Costa da Guiné Piloto de navio (1513) Capitão de navio (1514, 1515)
ÁLVARES ANES SANTA ANA, Alcaide na Ilha de Santiago Assina a carta da Câmara da vila da Ribeira Grande (1512) Armador (1514) Mestre do navio (1514) Proprietário rural
DIOGO FERNANDES DE SANTA ANA Assina a carta dos oficiais da Câmara da Ribeira Grande (1512) Escrivão da Alfândega e Almoxarifado (1519-1521) Escrivão da Feitoria do trato em Santiago (1526-1528) Armador ou proprietário de um navio (1514, 1515) Piloto de navio (1515) Proprietário rural Administrador da capela de Rodrigo de Vilharam (1515)
ÁLVARO TAVARES, Assina carta da Câmara da Ribeira Grande (1512)
DIOGO TELES, Assina a carta da Câmara da Ribeira Grande (1512)
PERO VAZ, Irmão de Gonçalo Vaz Assinou a carta da Câmara da Ribeira Grande (1512) Importa peças e mercadorias da Costa da Guiné (1515)
1512/07/15
Constituíam receita do Hospital de Todos os Santos várias mercadorias, nomeadamente escravos, açúcar, cera e marfim, que eram uma considerável fonte de receitas, bem como a multa de 100 cruzados, instituída pelo alvará de 15 de Julho de 1512, a aplicar a todos aqueles que, ao transportarem escravos da Guiné, os desembarcassem sem baptizar.
Podemos dizer que a primeira elite deteve o poder económico e político no arquipélago e na costa da Guiné durante todo o período em que dominou a sociedade santiaguense, tendo assim desempenhado um papel fundamental na instauração do império colonial português no Atlântico.
O exemplo mais acabado dessa elite é FERNÃO DE MELO JUSARTE, fidalgo da casa do real, membro de uma família da alta nobreza portuguesa que segundo os genealogistas era de origem inglesa, tinha passado por Castela antes de se estabelecer em Portugal por volta de 1476 (1). Seu avô paterno João Jusarte serviu de alcaide-mor de Monforte no reinado de D. Afonso V.
O avô materno (2), seu homónimo, foi alcaide-mor e depois Senhor de Arraiolos. Seu pai PÊRO JUSARTE ocupou o mesmo cargo em Évora. Sua mulher é DONA BRÍGIDA DE GOUVEIA (conhecida por Brígida do Cabo Verde, ou Briolanja dama de Cabo Verde) (3), grande proprietária rural e, também, armadora. A filha desta última, GUIOMAR GONÇALVES era casada com ANTÓNIO VAZ, escudeiro do rei, grande armador de Santiago, que serviu de juiz ordinário na Câmara da Ribeira Grande, posto que utilizou para defender os membros da família e seus negócios (4).
Este membro da nobreza portuguesa em 1513, já se encontra em Cabo Verde (5). Como vizinho da ilha de Santiago, torna-se armador, comerciante de escravos e grande proprietário rural 1(6), transformando-se num dos homens mais ricos e poderosos do arquipélago. Prova desse poder económico é a disponibilidade que ele e D. Brígida tiveram para servir de fiadores do comerciante português, Francisco Martins (o Moço), quando este arrenda 2/3 das rendas das ilhas:
“/.../ porquanto o dito FRANCISCO MARTINS não tem dado fiança abastante para poder receber) as rendas e as avenças) e quando o dito FRANCISCO MARTINS, O MOÇO, lá nessa ilha acabar y a mulher de Fernão de Mello (D. Brigida) que outorgue em uma fiança que cá fez o dito Fernão de Mello a Francisco Martins cavaleiro sobre esta renda e vos parecer que a fazenda do dito Fernão de Mello e da dita sua mulher vale tanto que pudesse pagar o que nessa renda se perdesse /…/ em tal caso o dito Francisco Martins, o Moço, possa arrecadar sua renda /.../” (7)
FERNÃO DE MELO teve seis irmãos, mas apenas ESTÊVÃO JUSARTE esteve em Cabo Verde. Este último também armou navios na ilha de Santiago mas durante muito pouco tempo, já que foi acusado de contrabandista e pirata.
Os actos desse aventureiro tiveram o conluio de FERNÃO DE MELO:
Em 1514, ESTÊVÃO JUSARTE e FERNÃO DE MELO viajam para o Congo num navio (pertencente ao este último) juntamente com um certo D. Gonçalo sobrinho do rei do Congo, D. Afonso. Os dois irmãos apresentam-se a esse príncipe como sendo familiares do rei de Portugal. Por causa desse embuste são recebidos na Corte de D. Afonso com todas as honras e são-lhes confiadas prendas para D. Manuel que, claro, nunca chegaram ao destino. O rei congolês, apercebendo-se da impostura de que foi alvo queixou-se deles ao soberano português.
No ano de 1515, os irmãos Jusartes, ainda, se encontram, impunes em Cabo Verde. ESTÊVÃO JUSARTE continua a cometer actos de pirataria nos mares das ilhas e da costa fronteira (8). Dois anos depois, após ter fugido para a Espanha é extraditado, julgado na cidade do Porto e condenado á decapitação. O juiz que o julgou foi sequestrado e morto pelos irmãos Jusarte, que em seguida fugiram para Castela (9).
Em 1520, FERNÃO DE MELO envia de Castela um navio com mercadorias para Santiago (10) D. BRÍGIDA DE GOUVEIA, sua mulher, falece a 8 de Novembro de 1543 na cidade da Ribeira Grande. Sua lápide ainda se encontra na igreja de Nossa Senhora do Rosário (11).
(1) Esta é a opinião de Genevieve Bouchon e Luís Filipe Thomaz, de cujo estudo «Excursus. Recherches sur l’identité des personnages» estamos retirando os dados sobre essa família. In Voyage dans les deltas du Gange et L’Irraouaddy (présenté et édité par Geneviève BOUCHON e Luís Filipe THOMAZ), Paris, Fondation Calouste Gulbenkian, Centre Culturel Portugais, 1988, pp. 395-403.
(2) Pai de D. Maria de Castro. Cf. Idem, Ibidem.
(3) Gavetas da Torre do Tombo, 5537.XX, 6-56
(4) Idem.
(5) Nessa data ele recebe escravos da costa da Guiné. História Geral de Cabo Verde - Corpo Documental, vol. II, Lisboa, Instituto de  Investigação Científica Tropical - Direcção Geral do Património Cultural de Cabo Verde, 1990, p. 103.
(6) Por volta de 1516 ele estava disposto a pagar 50.000 reis de dizimo de toda a sua fazenda. 14 de Novembro de 1520, IAN/TT, Chancelaria D. João III, liv. 47, fl. 132, doc. 3, in História Geral de Cabo Verde - Corpo Documental cit., vol. I, doc. 116, pp. 321-323.
(7) 1515, História Geral de Cabo Verde - Corpo Documental cit., vol. II, p. 208.
(8) Nesse ano ele saqueia 7 navios de Cristovão de Haro que tinha autorização de D. Manuel para comerciar na costa da Guiné. Genevieve BOUCHON, e Luís Filipe THOMAZ,, «Excursus. Recherches sur l’identité des personnages» cit., pp. 395-403
(9) Idem, Ibidem.
(10)18 de Maio de 1520, IAN/TT, CC-II-89-121, IAN/TT, CC-II-89-122.
(11) Na actual Cidade Velha da ilha de Santiago
1512/10/17
Alvará de 17 de Outubro de 1512, pelo qual FRANCISCO MARTINS arrematou as rendas e direitos das ilhas de Santiago, Fogo e Maio, os direitos da terra, as entradas, quartos e vintenas da Guiné, para os três anos que começam no S. João de 1513 e acabam no mesmo dia de 1516, pela quantia de l 450 000 reais cada ano
1512/10/25
Os moradores suplicaram para que fosse enviado um corregedor para a ilha de Santiago em uma Carta da Câmara da Ribeira Grande para o secretário António Carneiro, de 25 de Outubro de 1512, já que os que lá haviam estado faleceram ou foram levados presos para o reino.
1512/10/30

Alvará de 30 de Agosto de 1512, ao DOUTOR MESTRE FILIPE, pelo qual o rei recebe e aceita o lanço de 1 233 333 reais, por ele apresentado para o arrendamento das rendas e direitos das ilhas de Santiago, Fogo e Maio. O feitor das ilhas em Lisboa ê encarregado de apregoar e fazer subir o lanço














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