Em 1445 - Como tivessem já
decorridos mais de seis meses sôbre o desembarque de João Fernandes no Rio do Ouro, o cavaleiro Antão Gonçalves propôs ao Infante ir recolhê-lo, procurando ao mesmo tempo trazer alguma prêsa como compensação das
despesas da viagem.
Preparou-se uma expedição de três caravelas que se dirigiram
primeiro
à ilha da Madeira com a intenção de se abastecer.
Antão Gonçalves era
parente de Gonçalves Zarco, capitão-donatário da ilha, e a colonização da Madeira estava nesse
tempo em pleno desenvolvimento.
Depois de passado o
arquipélago, a frota foi apanhada por um violento temporal e dispersou-se.
Diogo
Afonso, que fôra o primeiro a chegar ao Cabo Branco, lembrou-se de colocar em terra uma grande
cruz, feita de madeira, como aviso da sua passagem para os outros
dois navios. Esta cruz pode ser considerada como o primeiro
padrão deixado pelos nossos descobridores na Costa de África.
Agrupadas as três caravelas,
foram às ilhas de Arguim, onde aprisionaram
25 indígenas e
dirigindo-se para o local previamente combinado com João Fernandes para a sua recolha, encontraram-no são e salvo, depois de 7 meses de permanência entre os mouros, que sempre o trataram com deferência e amizade.
Nessa ocasião
apareceram
alguns indígenas, conhecidos do Fernandes, com escravos
negros e ouro em pó para serem trocados por mercadorias que os
nossos levavam a bordo. O local situado ao sul do
Cabo Branco, em que se efectuou esta transacção
puramente comercial, passou a ser conhecido como Cabo do Resgate.
Não contente com isso, Antão Gonçalves aprisionou
mais 55 azenegues, no Cabo Branco, e aportou
directamente em Lisboa, onde pela primeira vez a população
da
capital teve ocasião de assistir ao desembarque de
cativos africanos. Depois de se retirar a quinta
parte do espólio devida ao Infante D. Henrique, os capitãis dos três navios
venderam os seus prisioneiros aos mercadores da cidade.
Já nesse tempo o pôrto de Lisboa
começava
a
ser
o
centro
de venda e
exportação de escravos pretos para outros países europeus.
À vista dos cativos desembarcados
em
Lisboa animou os
moradores desta cidade. Gonçalo Pacheco, pai do célebre Duarte
Pacheco, homem de grande actividade e prestígio, obteve do
Infante licença para enviar três navios seus, sob o comando
de
Diniz Eanes da Grãa, seu
sobrinho, Alvaro
Gil, ensaiador de moeda, e Mafaldo, morador de Setubal.
Esta expedição fez larga colheita entre os mouros: 53 nos ilhéus de Arguim e 52 nas alturas de Cabo de Santa Ana, mais ao Sul.
Dali, as três
caravelas avançaram mais 80 léguas até às proximidades
do
Cabo Verde, onde todavia, não puderam desembarcar,
tanto
por
motivo do mau tempo, como por causa da atitude hostil e guerreira dos jalofos. Na viagem de regresso prenderam 12 mouros. Mas numa sortida que fizeram em terra, os nossos
expedicionários perderam sete homens em luta com os indígenas.
No relato que Azurara faz desta
viagem, atribue aos tripulantes a seguinte observação: «Mas que vamos à terra dos negros, onde
já Dinis Dias, com um só navio, no ano passado foi fazer
presa; e que mais não façamos senão ver a terra, contando depois
novas dela ao senhor Infante, parte será de nossa honra.» (capítulo XLIV).
Desta
passagem parece lícito concluir-se que a
viagem de Diniz Dias, de que resultou a descoberta do Cabo Verde, se realizou
de facto no ano anterior, isto é, em 1444.»
João Barreto, HISTÓRIA
DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg.
27-29
☻ ÁLVARO
FERNANDES
passou além do Cabo Verde (cabo), Goreia e chegou ao “Cabo dos Mastros” (Cabo Roxo? Provavelmente entre o Cabo Verde e o rio
Gâmbia).
Viagem descrita por ZURARA e BARROS. Depois da
identificação feita por ARMANDO CORTESÃO (B 12, págs.11-15), não restam dúvidas
de que o local atingido foi o Cabo
Vermelho (Red Cape, Cap Rouge).
Acrescentamos
contudo que, antes de JUAN DE LA COSA (1500), DUARTE PACHECO (c. 1505) e
VALENTIM FERNANDES (c. l507), já outras fontes mencionavam o Cabo dos Mastos (identificado
por ARMANDO CORTEZÃO com o Cabo Vermelho):
1-
Carta portuguesa anónima da Biblioteca Esfense de Modena (c. 1471) -
«Cabo dos Mastos».
2-
Cartas de Christophero Soligo (c. 1486) - «Capo
Verde dos Mastos».·E ainda:
3
- Carta portuguesa anónima da Biblioteca Nacional de Paris (c. 1500) - «C. dos Mastos».
4-
Carta
portuguesa anónima da Biblioteca Estense de Modena (conhecida por Carta de
Cantino (1502) - «C. dos Mastos».
☻
Neste anno mandou o Infante a GONÇALO DE
CINTRA (1), seu Escudeiro, e homem valeroso, Commandante de hum navio, para
continuar os descobrimentos, o qual indo em demanda de Cabo Branco, para passar
á Ilha de Arguim, em que hum Mouro Azenegue (2), que levava por interprete, lhe
prometia boas presas, entrou em huma Bahia cousa de dezeseis léguas ao Norte
daquele Cabo onde o Azenegue lhe fugio e sobre o desgosto deste acontecimento,
teve outro, porque vindo hum Mouro velho pedir-lhe o levasse a Portugal por
estarem lá cativos, segundo dizia, alguns seus parentes, depois que examinou à
sua vontade o navio (único fim a que viera), desertou igualmente.
Agastado,
e corrido Gonçalo de Cintra destes
enganos, a que o arrastára a sua nímia fé, intentou
vingar-se assaltando huma Aldea vizinha; e guarnecendo a sua lancha com
doze homens, entrou nessa noite por hum
esteiro, onde na vasante ficou em seco, e sendo visto de manhã pelos naturaes,
o atacárão mais de duzentos, e alli o matarão, com LOPO DE ALVELLOS, e LOPO CALDEIRA, ambos Moços da Camara do
Infante; o Piloto ALVARO GONÇALVES, e outros quatro homens, salvando-se o resto
deles a nado. Estes forão os primeiros Portuguezes, que acabaram naqueles
descobrimentos. A Caravela voltou logo para o reino só com alguns marinheiros,
e duas mulheres que havião cativado em terra, ficando áquelle lugar o nome de
Angra de Gonçalo de Cintra. O Infante sentiu por extremo este desastre.
☻
Parece, que neste mesmo anno, por ordem do Infante, se começou a construir hum
forte na Ilha de Arguim, que era então o centro do Commercio daquela Costa, o
qual se concluiu, ou ampliou muitos anos depois (3).
☻
No mesmo anno de 1445 fez LUIZ DE
CADAMOSTO a sua primeira viagem á Costa de Africa.
Achando-se
em Veneza, sua pátria, com quasi vinte dous anos de idade, e alguma pratica da
navegação do Mediterraneo, determinou fazer huma segunda viagem a Flandres
(onde já estivera), para buscar a fortuna, que na Italia lhe faltava, e munido
de mui pouco cabedal, embarcou-se em humas Galés Venezianas, que hião para
aquelles Estados, comandadas por Marco Zen. Sahio elle de Veneza a 8 de Agosto
de 1444, e chegando ao Cabo e S. Vicente, e não podendo dobra-lo pela força do
vento (provavelmente Norte), pairárão as Galés ao socairo do Cabo. Neste meio
tempo veio a bordo Antonio Gonçalves, Secretario do Infante D. Henrique (4),
cuja habitação estava nas proximidades daquele sitio, e em sua companhia o
Consul de Veneza em Portugal, trazendo amostras de assucar da Madeira, sangue
de Drago, e outros produtos das Ilhas, de que o Infante era Senhor, e se
povoavam então; e relatou aos seus compatriotas as grandes navegações, e
descobertas de novos Paizes, que por ordem do mesmo Infante se fazião, e os
interesses excessivos que tiravão dellas os que as emprehendião; de que
Cadamosto ficou tão penhorado, que depois de certificar-se da honra, e bom
gasalhado que o Infante fazia em geral aos Estrangeiros, e quanto folgaria de
empregar alguns Venezianos, pela intelligencia que tinhão do Commercio das
especiarias, se animou a ir com o Secretario, e o Consul á sua presença. O modo
como este Principe recebeo a Cadamosto, foi para elle tão lisonjeiro, que
voltando a bordo da sua Galé, dispoz dos effeitos que trazia, comprou outros
que lhe seriam necessários para a viagem, que intentava, e estabeleceo-se logo
em terra.
Passados
alguns mezes, no decurso dos quaes sempre o Infante o tratou honradamente, mandou-lhe este armar uma pequena Caravela
nova de 45 toneladas, com algumas peças de artilharia, de que era Commandante
VICENTE DIAS, e nella partiu de Sagres CADAMOSTO a 22 de Março de 1445, com
vento N.N.E., em demanda da Ilha da Madeira, seguindo o rumo de S.O. 4 º.,
e a 25 ancorou na Ilha de Porto Santo, da qual era Governador Bartolomeo
Perestrello, cuja distancia ao Cabo de S, Vicente avaliou com bastante, mas
desculpável erro, em seiscentas milhas; e soube haver sido descoberta dia de
Todos os Santos (5) de 1417.
Examinadas
miudamente as produções desta Ilha, os seus artigos de Commercio, abundancia de
peixe, e extraordinário numero de coelhos, sahio dalli Cadamosto a 28 de Março,
e no mesmo dia surgio em Machico, pequeno Porto da Ilha da Madeira, que diz se
povoára em 1420, e que tinha na época da sua chegada oitocentos homens,
inclusos cem de cavallo.
Nesta
Ilha fez as mesmas indagações, sobre a sua excessiva fertilidade, beleza de
Clima, e abundancia de todas as coisas necessárias á vida.
Seguindo
a sua derrota para o Sul, avistou as Canarias, e destas visitou Gomeira, Ferro,
e Palma, e dirigindo o seu rumo para
Cabo Branco, por evitar ensacar-se na grande Enseada que forma a Costa de
Africa para o Norte delle, o avistou em poucos dias. Alem deste Cabo a Costa se
recolhe para o S.E., fazendo hum golfo
bastante fundo, chamado a Furna de Arguiim, que tomou delle o nome, e a única que tem agua doce, a Branca, a das
Garças, e a dos Corações, todas pequenas, arenosas, e desabitadas. Na de
Arguim se construía então um Forte por ordem do Infante, e ex-aqui o motivo. Os
Portuguezes em outro tempo corrião as Costas desde Cabo Branco ao Senegal,
desembarcávão onde se lhes ntohava, assaltavam as Aldeas dos pescadores, e os
levavão cativos; esta guerra durou treze, ou quatorze annos. O Infante mudou
este systema, prohibio cativar os Azenegues, e contratou com algumas pessoas
particulares concentrar-se todo o Commercio na Ilha de Arguim, por meio de huma
Feitoria alli estabelecida, onde só as Caravelas dos interessados são
admittidas. A Feitoria recebe os géneros, que ellas trazem. Que são tapetes,
pannos, sedas, trigo, prata, e outras mercadorias, e os vende aos Arabes das
Caravanas, que para este efeito vem á Costa do mar, a troco de ouro em
palhetas, e de escravos Negros de que
levão cada anno a Portugal de setecentos a oitocentos. Para proteger este
trafego, he que se construiu aquelle Forte.
Os
Azenegues eram tão ignorantes na época em que os primeiros Portuguezes alli
chegarão, que vendo os seus navios á
véla, cuidárão que erão pássaros com azas brancas; os outros, vendo-os com o
pannom ferrado, os tiveram por grandes peixes, e outros finalmente por
espectros nocturnos, porque na mesma noite os vinhão saltear em lugares
distantes huns dos outros.
Do Cabo Cantim para o
Sul começa o deserto,
a que os Arabes chamam Sahara, e confina desta parte com os Negros da Ethiopia,
e pela do Norte com as montanhas que cercam a Barbaria. A Costa deste deserto
he toda baixa, alva, e arenosa. Cabo Branco, assim chmado dos Portuguezes pela
côr do seu terreno, he cortado em triangulo na sua frente, formando tres
pontas, distando huma da outra perto de huma milha.Toda esta Costa he
abundantíssima de peixe. No Golfo de Arguim ha pouco fundo, com muitos baixos
de aréa, e alguns de pedra, e muitas correntes, por cuja causa se navega só de
dia, e com a sonda na mão.
Na direitura de Cabo
Branco pela terra dentro, seis jornadas de camelo, há huma Cidade sem muralhas chamada
Guadem,
que serve de escala de Caravanas de Tombutu, e de outros Estados de Negros trazem
para Barberia ouro, e malagueta, e levão em retorno prata, cobre, e outros
géneros. Seis jornadas de Guadem estão
as minas de sal de Tageza, d’onde partem muitas Caravanas carregadas deste
pecioso género para Tombutu, que dista quarenta jornadas, e desta Cidade vão a
Melli, distante outras trinta jornadas, e alli trocão o sal por ouro em pó.
De
Cabo Branco seguiu Cadamosto a Costa para o Rio Senegal, que extrema os Negros dos Azenegues; e as terras
áridas destes, das terras ferteis daquelles. Este Rio tinha sido descoberto cinco anos antes (em 1440) por tres
Caravelas do Infante, que nelle entrarão, e começarão logo a traficar com os
Negros, e depois tem continuado a vir alli embarcações. A sua foz he de mais
huma milha de largo, com bastante fundo, e pouco mais ao Sul faz outra boca,
com huma Ilha no meio, e destas duas fozes sahem ao mar alguns bancos de aréa,
e alguns parcéis quasi huma milha. De Cabo Branco a este Rio são duzentas e
oitenta e cinco milhas. As marés são por aqui regulares de seis em seis horas,
e a enchente sobe mais de trinta e cinco milhas pelo Rio acima; e só com ella
se pode entrar, por causa dos parcéis. Todo o Paiz he mui viçoso, e cheio de
arvoredo.
Na
margem Austral deste rio começa o primeiro Reino dos Negros da Baixa Ethiopia,
cujos Povos são mui azevichados, altos, membrudos, e bem apessoados, e se
chamam Jalofos (6). Alguns são Mahometanos, outros sem Religião. A maior parte
deles anda nús, apenas cingidos com huma pelle de cabra: os mais ricos
vestem-se de algodão, que nasce no Paiz.
Cadamosto,
e as principais pessoas daquela expedição, querião prosseguir o descobrimento
do Rio, que já sabião ser o Gambia, porém os marinheiros instárão por voltarem
para o Reino; e não os podendo reduzir á obediência, sahírão do Rio no dia
seguinte, e costeando Cabo Verde, seguirão viagem para Portugal.
(1)Vede Faria e Sousa, Asia Portugueza, tomo I, no fim –
Soares da Silva ns Memorias de D. João I, tomo I, cap. 84 – Barros, década I,
L.º I, Cap. 9 – Galvão, pag.24 – Goes, Chronica do Principe D. João, Cap. 8,
onde coloca esta viagem no anno de 1444.
(2)Os antigos Portuguezes chamavam Azenegues aos Povos, que
habitavão da margem do Rio Senegal para o Norte, os quaes parecem ser huma raça
mixta de Arabes, e Mouros Barberescos, e são da côr de mulatos escuros.
Entendião por Costa da Guiné o espaço compreendido entre o Senegal (onde
começão os Negros) e a Serra Leoa. A Costa da Malagueta estendia-se desde o
Cabo Ledo até Cabo de Palmas: a Costa dos Quaçuas desde este Cabo até ao das
Tres Pontas: a Mina desde este até ao Cabo Formoso: o Calabar desde este até ao
Cabo de Lopo Gonçalves; e Costa de Loango deste para o Sul até Cabo Negro.
(3)Eu sigo aqui a Cadamosto (Primeira Viagem, Cap. 10), que
diz positivamente, que neste anno de 1445, que elle correo aquellas Costas, se
trabalhava no Forte por ordem do Infante. Manoel de Faria e Sousa (nos dous
lugares da sua Asia já citados) faz ir Soeiro Mendes a esta comissão no anno de
1449. Barros (na Decada I, Lª2, Cap.I) diz, que foi em 1461, e Galvão (pag.25)
diz, que em 1462. Damião de Goes (Cap. 8) inclina-se á opinião de Cadamosto, e
crê que em 1461 mandou ElRei acabar o Castello começado pelo Infante.
(4)He mais provável, que fosse Antão Gonçalves, eu Escrivão
da Puridade.
(5)Cadamosto attribue o nome de Porto Santo a ser
descoberta no dia de Todos os Santos; porem he mais natural, que os seus
Descobridores lhe dessem esse nome, por acharem nella o abrigo que carevia a
sua frágil, e destroçada embarcação. De resto, elle conta o que ouvio dizer. Eu
creio, fora de toda a duvida, que ella foi achada em outro dia.
(6)O Rei dos Jalofos, quando alli chegou Cadamosto,
cahmava-se Zucholim, e era de vinte e dous anos de idade.
«Rio Gambia, denominado pelos
oriundos Badiman; o Rio Grande, que comparo
com o Ganges, pelas suas muitas bôcas, caturhamado pelos naturaes do
interior Comba, (onde he
situada a nossa Colonia de Bissáo) e outros mais…»
DESCRIPÇAO
DE SERRA-LEOA E SEVS
CONTORNOS. ESCRIPTA EM DOZE CARTAS A' QUAL SE
AJVNTÃO OS TRABALHOS DA COMMISSÀO-MIXTA PORTUGUEZA E INGLEZA, ESTABELECIDA
NAQUELLA COLONIA. O. D. C. À SOCIEDADE LITTERARIA E PATRIOTICA O ClDADÃO JOAQUIM CÉSAR DE FlGANIÉRE
E MORÃO Membro da mesma Sociedade Ex-Commissario Arbitro de S.M.F. em
Serra-Leôa. LISBOA, Na Impressão de João Baptista Morando Anno 1822.
☻
Notável foi também o ano de 1445 e, entre outras, é organizada a segunda
expedição de Lançarote, com 13 navios, também saídos do portode Lagos que foram
tentar fortuna para os mares de Cabo Branco e arquipélago de Arguim, onde
fizeram boas presas. Da ilha da Madeira e de Lisboa também saíram diversos
barcos destinados ao resgate da costa negra. Zurara afirma terem sido armados
neste ano de 1445,destinados àqueles mares 26 caravelas.
☻
Começava-se a entrar na fase do delírio;
a cobiça e a miragem de fortes lucros estavam dando sinal de si. Neste ano,
tão fértil em número de barcos saídos para a região do sul na mira de filharem
mouros ounegros, uma só caravela, a
caravela de ÁLVARO FERNANDES, segundo instruções dadas porJOÃO GONÇALVES, seu
tio o armador da caravela, fora mais além de Cabo Verde, atingindo o Cabo dos Mastros,
correspondendo hoje ao Cabo Vermelho, situado um pouco mais a sul daquele, sem qualquer
outro intuito que não fosse bem servir a causa do Infante.
O
ponto términus da viagem de DINIS DIAS
fora assim ultrapassado por Álvaro Fernandes. «E esta foi a caravela que, em
este aano foi mais avante que todas as outras que àquela terra passara», afirma
Zurara.
☻ Em primeiro lugar,
existe a possibilidade de que um ou mais ilhas em Cabo Verde pode ter sido
descoberto por VICENTE DIAS em 1445.
Ele foi um navegador durante o tempo do Infante D. Henrique e ele também era um
comerciante em 1445. Esta possibilidade é baseado em referências disponíveis
por escrito, com relação a ele, o que é enfatizado na Crónica da Guiné, por
Gomes Eanes de Azurara (26). Esta crónica dá uma conta o comerciante / mariner
anteriormente mencionado, que participou de um grande expedição, organizada
pela LANZAROTE DE LAGOS e ALVARO FREITAS no ano 1445 de acordo
com o seguinte [...]: "E assim foi: de que estar com eles, VICENTE DIAS, de quem já falamos",
que na Guiné foi ferido (sons como
se houvesse uma escaramuça com os povos indígenas da região e um dos nativos
era feridos de o termo Guiné foi usado para descrever nativos desta região em
particular da África) na praia do Nilo ( Rio de Nilo foi usado durante este
período de tempo para descrever o Rio Senegal que se acreditava, segundo a
lenda, flua em um lago na vizinhança onde o rio Nilo originou) tinha de sair em
uma expedição com os outros e quando a noite chegou, ele não conseguiu
localizar os outros, enquanto isso ele navegou sozinho (27). De acordo com
Albuquerque, apesar de uma hesitação inicial, V. Dias era um dos homens na
frota que decidiram continuar a navegação após a conclusão do objetivo
comercial, que foi proposto inicialmente por todos, para chegar à costa Arguim.
(28) De acordo com a descrição dada pelo cronista, V.Dias navegou sozinho
durante um lapso de tempo que não é clara e sem qualquer referência para este
navegador... O navegador não viu nenhuma terra; No entanto, num esforço para
sugerem que havia uma possibilidade de que Dias poderia ter sido o descobridor
de um das ilhas (o que é, provavelmente, a ilha de Santiago) em 1445 no curso
de esta navegação em negrito, que teria sido feita fora de quaisquer planos
anteriores. Aqueles que defendem essa teoria virar para o mapa geográfico de
Andreia Bianco de 1445 ou 1448. Neste mapa é possível notar o desenho de uma
faixa de terra que se projeta sobre Atlântico que parece ser incompleta e com
defeitos locais, mas pode ser lido como: ixola otinticha (autentica ilha ou
ilha autêntica (29)
26 AZURARA, Gomes Eanes de – «Crónica do descobrimento e
conquista da Guiné», CapituloLXIV, segundo o manuscrito de Biblioteca Nacional
de Paris, modernizada com notas,Glossário
27 A " Crónica da Guiné
" (no trecho acima), que foi escrito por Gomes, Eanes de Azurara, até
1466, com ênfase em uma determinada passagem; alude a dois capitães e Vicente
Dias durante Suas atividades ao longo da costa da Guiné, mas não faz qualquer
referência ao Cabo Verde Islands.No extracto Acima Destacado da «Crónica da
Guiné» de Gomes Eanes Azurara e da Escrita Ate O ANO DE 1466, um dado Passo
alude AOS Dois capitães e Vicente Dias nn SEUS Feitos NAS costas da Guiné mas
Localidade: Não HÁ nenhuma Referência como Ilhas de Cabo Verde.
28 ALBUQUERQUE, Luís de
- «O descobrimento das Ilhas de Cabo Verde». Em Op . Cit . p.27 29 Cf. . Carta
Geográfica de Andreia Bianco de 1445 UO 1448, em que é possível ver um desenho
de uma área de terra que se projeta sobre o Atlântico, com uma inscrição: ilha
autêntica. Esta é uma parte de «Cartas das Ilhas de Cabo Verde», que Valentim
Fernandes poderia ter compilados entre 1506 e 1508, começando com desenhos
elaborados, principalmente, por cartógrafos da época. Neste caso, Andreia
Bianco tinha um fundo para fazer
desenhos do mar, o que os navegadores portugueses começaram a fazer no final do
século 15 eo No início do século 16. Este mapa ficou conhecido nos tempos
modernos por Antonio Fontoura da Costa, cuja obra « Carta das Ilhas de Cabo Verde
» por Valentim Fernandes , 1506 - 1508 foi publicado pela Agência Geral das
Colónias em 1939 , pp 56 -57
À
hipótese de VICENTE DIAS ter
descoberto a ilha de Santiago em 1445, defendida pelo historiador holandês F.
C. Wieder e exposta por A. Fontoura da Costa, (30) Vitorino Magalhães Godinho,
das análises que fez da fundamentação de F. C. Wieder, conclui que “[...] não
há quaisquer provas de descobrimento das ilhas de Cabo Verde anteriormente a
1448, embora esse descobrimento não fosse impossível”.31
31 GODINHO, Vitorino Magalhães (Organização e notas de) –
«Documentos sobre a Expansão Portuguesa». Vol. III. Lisboa: Edições Cosmos,
[Ano?], Nota nº 4, p. 276.
«O senhor Infante
D. Henrique fez nesta ilha de Arguim um contrato por dez anos, deste modo; que
ninguém pudesse entrar no golfo para traficar com os Árabes, salvo aqueles que
entrassem no contracto, o qual tem uma feitoria na dita ilha, e Feitores, que
compram e vendem àqueles Árabes, que vêm à marinha; dando-lhes diversas
mercadorias, como são panos tecidos, prata e alquiceis, que são uma espécie de
túnicas, tapetes e sobretudo trigo, do qual estão sempre famintos, e recebem em
troca Negros, que os ditos alarves trazem da Negraria, e ouro Tiber. De modo
que este Senhor Infante faz actualmente trabalhar em uma fortaleza na dita
ilha, para conservar este comércio para sempre; e por esta razão todos os anos
vão e vêm caravelas de Portugal à Ilha de Arguim.
Têm também estes Árabes muitos
cavalos silvestres, com os quais traficam: e os conduzem às terras dos Negros,
que lhes dão em troco escravos, e vendem os ditos cavalos por dez ou vinte
cabeças de escravos cada um, segundo a sua qualidade. Igualmente compram sedas
mouriscas, que se fabricam em Granada, e em Tunes de Barbaria; prata e muitas
outras causas, e obtêm pelo seu resgate quantidade de Negros, e alguma soma de
ouro. Estes escravos chegam à escala, e lugar do Hodem [Uadan], e daí se
dividem; indo parte deles aos montes da Barca, donde chegam a Sicília, e alguns
outros a Tunes, e depois se estendem por toda a costa da Barbaria; finalmente a
outra porção é conduzida a este lugar de Arguim, e vendida aos Portugueses do
contrato; de modo que cada ano se trazem para Portugal de setecentos a
oitocentos escravos. Antes que se estabelecesse este contrato, costumavam as
caravelas de Portugal vir ao golfo de Arguim armadas, umas vezes quatro, outras
mais; e de noute desembarcavam, saíam sobre algumas aldeias de pescadores, e
faziam correria pela terra; de modo que prendiam estes Árabes tanto machos como
fêmeas, e os traziam a vender em Portugal.»
CADAMOSTO, "Navegação Primeira"
in GODINHO, VITOR MAGALHÃES. Documentos
sobre a Expansão Portuguesa, vol. III, p. 125-126.
☻ Sobre a feitoria de Arguim, construída em 1445,
diz-nos a mesma fonte que o Infante D. Henrique (1394-1460) arrendara esta região por dez anos ao
comerciante FERNÃO GOMES, a fim de controlar as iniciativas comerciais dos
arábes e ainda para obter uma base de apoio para novas viagens e descobertas ao
longo da costa africana. Em troca de panos, prata e cereais, os portugueses
adquirem, sobretudo, ouro e escravos, os produtos mais cobiçados.
“Mais
além chegaram a um lugar que agora tem o nome de Arguim. (...) A ilha tem
muitos lugares onde nasce água doce na areia. Por causa disso, o senhor Infante
mandou depois fazer aí uma fortaleza. Pôs aí gente segura de cristãos com um
sacerdote de nome Polono, da vila de Lagos, o qual foi o primeiro que celebrou
os ofícios divinos na Guiné (...). Esta fortaleza foi construída no ano de
1445.”77
77 D. G. SINTRA (1484-1496); Op. Cit., pp. 59 e 61
Foi
o lugar escolhido preferencialmente pelos navegadores, pelas condições mais
favoráveis que oferecia à presença humana, ficando a meio caminho entre o que
conheciam (que não ia além da Serra Leoa) e Portugal. Parece representar,
assim, uma estratégia para abranger e controlar melhor a totalidade dos
territórios descobertos, geridos unicamente pelos portugueses, naquela altura.
Desde
cedo as caravelas levarão para Arguim tecidos e cereais, mas também cavalos, e
voltarão com ouro e muitos escravos. Aí os portugueses instalaram a sua primeira feitoria
em África, e em 1455, por iniciativa do infante D. Henrique, começaram a erguer uma fortaleza, concluída
cerca de uma década depois, quando a capitania-mor da ilha foi entregue a
SOEIRO MENDES de Évora. O modelo do castelo de São Jorge da Mina, mais
tarde erguido no golfo da Guiné, seguiu, em boa parte, a lição da fortaleza de
Arguim. Mas seria exatamente o sucesso de outras zonas comerciais, mais perto
da origem das rotas caravaneiras, que acabaria por ditar a decadência da presença portuguesa em Arguim, o que se começou a fazer-se
sentir a partir de 1530. Os
escravos adquiridos em Arguim, que nos melhores anos atingiram os 2000,
eram encaminhados sobretudo para o continente europeu, primeiro para Lagos,
depois para Lisboa, embora alguns também fossem vendidos na Madeira e nas
Canárias.
☻ Tal foi importante o comércio da Guiné que foi
criada, em 1445, a «Casa da Guiné» com
sede em Lagos (Algarve) que tinha a seu cargo o movimento das mercadorias
da costa africana. Por volta de 1480, a
sua sede foi transferida para Lisboa, tendo adoptado várias designações à
medida que os descobrimentos avançavam por toda a costa africana até à Índia: «Casa da Guiné e Mina», «Casa da Guiné e
Índia», ou só «Casa da Índia». Em anexo a esta Casa, existia um
departamento específico para os escravos – a
«Casa dos Escravos» - onde era administrado o negócio e colhiam as rendas.
Mercado de escravos
em Lagos
Edifício de Lagos no local onde se
ergueu provavelmente a «Casa da Guiné». Aqui, segundo uma
tradição nunca confirmada, teria funcionado o mercado de escravos. (Postal ilustrado. Fototeca Municipal
de Lagos)
Casa da Guiné e Índia
Morte de
Gonçalo de Sintra
«…E depois algum tempo da vinda de Lançarote, fez o Infante armar uma
caravela, na qual mandou aquele Gonçalo de Sintra por capitão, avisando-o antes da sua
partida que fosse «directamente à Guiné...» (Chronica, cit. cap. 27.º).
Depois de tocar no Cabo Branco, Gonçalo de Sintra (ou Gonçalo
Affonso de Sintria) preferiu, contra a vontade dos seus
companheiros, atacar os habitantes das ilhas de Arguim. Passou pela ilha de Tider e em seguida
desembarcou na ilha de Naar com 12 companheiros,
procurando rivalizar as façanhas dos expedicionários de
Lançarote.
Mas os
indígenas, que além das experiências
anteriores, haviam sido avisados por um mouro fugido de bordo,
reüniram-se em número superior a 200 e derrotaram o pequeno
grupo de Gonçalo Sintra, o qual
pereceu na contenda, com mais seis dos seus companheiros. Os
restantes cinco conseguiram, com dificuldade, alcançar o bote e com êle a caravela.
Desanimados com a morte do seu capitão, os tripulantes regressaram
imediatamente para o Reino.
Entre os comentadores da Chronica de Zurara não há acordo sôbre a data do falecimento de Gonçalo de Sintra,
fixando-a uns nos princípios do ano 1444 (Armando Cortesão
e José de Bragança) outros, no ano de 1445 (Visconde de
Santarém, R. H. Major etc., sem falar de João de Barros que a descreve
nesse último ano).
Uma análise detida do texto àa Chronica leva-nos à admitir
que o desastre teria efectivamente ocorrido no ano 1444. Conclue-se também
que o facto deu-se no arquipélago de Arguim, embora mais tarde se
tivesse dado o nome de Angra de Sintra a uma
larga baía situada no continente, ao norte do Cabo Branco.»
João Barreto, HISTÓRIA
DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 23
Segunda
Expedição de Lançarote
O capítulo XLIX da Chronica de Azurara abre com
uma exposição que o almoxarife Lançarote dirige ao Infante solicitando
autorização para os principais moradores de Lagos organizarem uma
expedição com o fim de castigar os indígenas da «Ilha de Tider, na
qual... foi morto Gonçalo de Sintra,
porquanto os Mouros da dita Ilha podem fazer em pacho a vossos navios, queremos, se for vossa
mercê, armar sobre eles, e ou por morte ou prisão, quebrantarmos
sua fôrça e poder...
E se Deus trouxer o feito a fim da vitoria
poderemos fazer, sobre a destruição dos nossos contrarios, presas de grande valor, pelas
quais do vosso quinto podereis receber grande proveito...
E disto, senhor, vos praza havermos vossa resposta, para despachadamente
seguirmos nossa viagem, enquanto o verão nos dá tempo para
isso».
Tratava-se pois de uma expedição não inteiramente comercial, mas com
certo carácter militar, destinada a fazer respeitar o
pavilhão português. (a) Preparou-se, por isso,
uma importante frota de 13 navios, em que tomaram parte Soeiro da Costa, alcaide
da vila de Lagos e sôgro de Lançarote, Gil Eanes da
Vila-Lobos, Alvaro Freitas, cavaleiro e comendador da Ordem de Santiago, Rodrigues Eanes Travassos, criado
do Regente D. Pedro, Estevão Afonso, Lourenço Dias e outros homens experimentados.
Além do distintivo da Ordem de Cristo, que as caravelas
costumavam
levar,
o
Infante
entregou
ao
chefe da expedição, Lançarote, a bandeira da Cruzada, com os
privilégios concedidos pelo papa Eugénio IV. A frota saiu de Lagos em 10 de Agôsto
de 1445, com rumo directo para Cabo Branco. Encontraram ali os três navios de Gonçalo Pacheco, de
Lisboa, que se preparavam para regressar. Depois de retinidas
tôdas
as
fôrças,
empreenderam
os
seus ataques à ilha de Tider e ainda a outros pontos no continente, mas os indígenas
ofereceram pouca resistência, abandonando as suas
povoações e fugindo à aproximação do inimigo.
Todavia
fizeram 65 prisioneiros.
Depois desta batida, os navios menores e menos resistentes, de Soeiro
da Costa, Gil Eanes, etc., regressaram a Lagos, ao passo que séis
dos barcos maiores prosseguiram a viagem para o Sul, em busca do falado rio Nilo dos pretos, o
actual rio de Senegal.
Segundo as noções geográficas da época,
o rio Nilo teria duas embocaduras, uma no Mediterrâneo, e outra
ainda desconhecida, no Atlântico. As instruções de D. Pedro e D. Henrique eram buscar esta
última embocadura, que aliás já tinha sido ultrapassada
por Diniz Dias, no ano anterior, sem todavia a reconhecer.
Com efeito, encontraram a foz do rio
procurado, a 20 léguas ao Sul do local denominado de Duas Palmeiras, que
servia aos marítimos de ponto de referência. Dali seguiram até ao Cabo Verde, exploraram
as
ilhas próximas, notaram a diversidade da flora e fauna local, admirando
o
desenvolvimento descomunal do embomdeiro, cuja descrição
não escapou ao cronista Azurara e, tendo mais uma vez experimentado a ferocidade
e fôrça
muscular dos
indígenas jalofos
que encontraram nas suas tentativas de desembarque, resolveram aproar em direcção ao Reino.
Nêste mesmo ano de 1445, e aproximadamente na mesma época, saíram da ilha da Madeira três caravelas capitaneadas por
Tristão Vaz, Álvaro Dornelas e Álvaro Fernandes,
sobrinho de João Gonçalves. De Lisboa,
partia Diniz Dias, pela segunda vez, e João de
Castilho em duas caravelas armadas respectivamente pelo camareiro-mór
e pelo aio do Rei. Evidentemente,
êstes armadores particulares
não procuravam mais do que os lucros que poderiam colher com os mouros resgatados ou aprisionados
à fôrça. O mesmo, porém, não se pode dizer da viagem empreendida
por Álvaro Fernandes, que era enviado pelo seu tio com a missão
exclusiva de descobrir novas terras.
Álvaro Fernandes seguiu directamente para o rio
Senegal e dali para o Cabo Verde. Demorou-se alguns dias na ilha de Gorêa, onde com grande dificuldade conseguiu capturar dois indígenas.
Nas árvores da ilha deixou gravadas as armas
e a divisa do Infante, que foram achadas pelos tripulantes de Lançarote, quando por
ali passaram algum tempo depois. Continuando a derrota, Álvaro Fernandes
alcançou um Cabo, onde se viam algumas palmeiras sem copa, ao qual por êsse
motivo, deu o nome
de Cabo ·de Mastos (b).
Dali regressou à Madeira e foi depois a Lisboa
dar conta do seu feito ao Rei e ao Infante. «E esta foi a
caravela que êste ano foi mais avante
que todolas outras que àquela terra passaram.» (Azurara;
cap. LXXV).
(a)O visconde de Santarém supõe que esta expedição de Lançarote saíu de
Lagos no ano de 1447. Dada, porém, a circunstância da própria Crónica de Guiné se referir ao ano em
que D. Pedro de Portugal, filho do Regente D. Pedro, foi armado cavaleiro e
enviado a Castela (capítulo LI), deve-se concluir que a expedição saiu no ano
1445. Como na petição de Lançarote não se faz menção do· desastre sucedido aos
homens de Gonçalo Pacheco e se fala apenas na morte de Gonçalo de Sintra,
devemos admitir que na primavera de 1445, não era ainda conhecida em Portugal a
notícia da morte dos sete tripulantes embarcados em Lisboa.
De facto, os
expedicionários de Gonçalo Pacheco não tinham ainda regressado e foram
encontrados por Lançarote nas ilhas de Arguim.
Admitindo, pois, que
êstes acontecimentos se passaram no ano 1445, como claramente se deduz ainda da
seqüência de outros capítulos, devemos concluir que a primeira viagem de Diniz
Dias, e portanto a descoberta do Cabo Verde, realizou-se no ano 1444. Diniz
Dias fez a sua segunda viagem para a Guiné quási na mesma época em que saíu a
frota de Lançarote em 1445. Portanto a sua primeira viagem deveria ter sido
feita, pelo menos, no ano 1444.
Da exposição de
Lançarote deduz-se também que a morte de Gonçalo de Sintra deu-se no
arquipélago de Arguim.»
(b) No «Boletim da
Agência Geral das Colónias», n.º 76, de 1931, o sr. Armando Zuzarte Cortesão,
depois de discutir largamente a questão da identificação dêste cabo, termina
por concluir que o antigo cabo dos Mastos, ou de Mastros, corresponde ao cabo
Vermelho (Red Cap ou Cape Rouge) dos geógrafos modernos. Às informações
contidas nesse artigo temos a acrescentar o seguinte: O sr. G. G. Beslier no
seu livro Le Sénégal, editado em Paris em 1935, reproduz um mapa sob o
título - Le Sénégal en 1664 -, sem indicação do autor da carta nem da
procedência da gravura. Neste mapa encontra-se nitidamente desenhado o aludido
cabo com a designação de Cap de Mas, fechando ao sul a baía de Gorêa.
Daqui podemos concluir que entre os mareantes franceses da época (1664) vigorava
ainda a designação de Cap de Mas, evidente corrupção de Mastos.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor,
Lisboa, 1938, pg. 29-32
1445/03/22
«Em
1445 a 22 de Março sahio de Portugal ao descobrimento de novas terras em Africa
huma caravela do Infante D. Henrique, de que era Patrão Vicente Dias de Lagos, e nella, com licença, e aprazimento do Infante,
se embarcou o Veneziano Luiz de Cadamosto, que para isso se offerecera.
Abordou
á ilha de Porto Santo, que diz ter
sido descoberta haveria vinte e sete
annos.
Passou
á ilha da Madeira, da qual diz que o Infante a fizera povoar ha vinte e quatro annos para cá.
D'ahi
foi ás Canárias, e destas ilhas
passou ao Cabo-branco, já descoberto
pelos Portuguezes.
Entrou
no golfo de Arguim, aonde diz elle que erão já conhecidas 4 ilhas: a saber, a
1.ª chamada de Arguim, que deo nome
ao golfo: a 2.ª que os Portuguezes tinhão denominado ilha Branca, por ser toda arenosa: a 3.ª das Garças: e a 4.ª que elle diz ter sido denominada dos Corações, todas pequenas, arenosas,
deshabitadas, e sem agoa doce, excepto a 1.ª
Continuando
a navegar chegou ao Senegal, que
segundo elle diz, tinha sido descoberto cinco
annos antes por três caravelas do infante, que entrarão por elle acima.
D'ahi
passou á terra de Budomel, também já
conhecida dos Portuguezes, aonde esteve em terra muitos dias, tratando, e
comerciando com os senhores do lugar e com os negros que ali concorrião.
Estando
para partir d'aqui, e navegar avante teve o encontro de duas caravelas, em que
hião António de Nola, grande navegador e gentil homem genovêz, e alguns
Portuguezes criados do Infante: e acordando-se todos, resolverão hir em
conserva adiantar os descobrimentos.
Chegarão
ao Cabo-verde, que Cadamosto diz
haver sido descoberto pelos Portuguezes hum
anno antes, que elle fosse áquellas partes.
Correndo
pela costa para o sul, descobrirão a boca de hum rio, a que derão o nome de rio
Barbacim a 60 milhas do Caboverde: e este foi o primeiro
descobrimento novo que fizerão as três caravelas.
Passando
ainda adiante avistarão outro rio, que lhes pareceo não menor, que o Senegal;
mas não sendo bem recebidos dos negros, navegarão mais ao sul, e descobrirão o
paiz de Gambia, e o rio do mesmo
nome, pelo qual entrarão algum espaço. Este
era o paiz, que determinadamente
buscavão por expressa ordem do Infante, que delle tinha informações pelos
negros que já havia em Portugal.
Os
navegantes quizerão entrar mais acima pelo rio; mas como a gente do mar
repugnasse a este intento, resolverão voltar ao reino. (Relação 1.ª de
Cadamosto)
Neste
mesmo anno hum criado do Infante, por nome Gonçalo de Cintra, descobrio adiante
do rio do Ouro a angra, que do seu nome se ficou chamando Angra de Gonçalo de Cintra, notada nas taboas de Ortelio
com as palavras «G. de Goncintra»
querendo dizer, segundo parece, «golfo de
Gonçalo de Cintra».
Este
infeliz navegante, entrando por hum esteiro na ilha de Arguim, e ficando em sêcco á vasante da maré, foi accommettido
pelos bárbaros, e morto com alguns seus companheiros.»
Índice chronologigo das
navegações, viagens, descobrimentos e conquistas dos portuguezes nos paizes
ultramarinos desde o principio do século xv. Francisco de S. Luiz, Lisboa, na Imprensa Nacional, 1841,
pg.31-33
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