segunda-feira, 7 de março de 2016

DESCOBRIMENTO DA GUINÉ 1445


1445
Em 1445 - Como tivessem já decorridos mais de seis meses sôbre o desembarque de João Fernandes no Rio do Ouro, o cavaleiro Antão Gonçalves propôs ao Infante ir recolhê-lo, procurando ao mesmo tempo trazer alguma prêsa como compensação das despesas da viagem.
Preparou-se uma expedição de três caravelas que se dirigiram primeiro à ilha da Madeira com a intenção de se abastecer.
Antão Gonçalves era parente de Gonçalves Zarco, capitão-donatário da ilha, e a colonização da Madeira estava nesse tempo em pleno desenvolvimento.
Depois de passado o arquipélago, a frota foi apanhada por um violento temporal e dispersou-se. Diogo Afonso, que fôra o primeiro a chegar ao Cabo Branco, lembrou-se de colocar em terra uma grande cruz, feita de madeira, como aviso da sua passagem para os outros dois navios. Esta cruz pode ser considerada como o primeiro padrão deixado pelos nossos descobridores na Costa de África.
Agrupadas as três caravelas, foram às ilhas de Arguim, onde aprisionaram 25 indígenas e dirigindo-se para o local previamente combinado com João Fernandes para a sua recolha, encontraram-no são e salvo, depois de 7 meses de permanência entre os mouros, que sempre o trataram com deferência e amizade.
Nessa ocasião apareceram alguns indígenas, conhecidos do Fernandes, com escravos negros e ouro em pó para serem trocados por mercadorias que os nossos levavam a bordo. O local situado ao sul do Cabo Branco, em que se efectuou esta transacção puramente comercial, passou a ser conhecido como Cabo do Resgate.
Não contente com isso, Ano Gonçalves aprisionou mais 55 azenegues, no Cabo Branco, e aportou directamente em Lisboa, onde pela primeira vez a população da capital teve ocasião de assistir ao desembarque de cativos africanos. Depois de se retirar a quinta parte do espólio devida ao Infante D. Henrique, os capitãis dos três navios venderam os seus prisioneiros aos mercadores da cidade. Já nesse tempo o pôrto de Lisboa começava a ser o centro de venda e exportação de escravos pretos para outros países europeus.
À vista dos cativos desembarcados em Lisboa animou os moradores desta cidade. Gonçalo Pacheco, pai do célebre Duarte Pacheco, homem de grande actividade e prestígio, obteve do Infante licença para enviar três navios seus, sob o comando de Diniz Eanes da Grãa, seu sobrinho, Alvaro Gil, ensaiador de moeda, e Mafaldo, morador de Setubal. Esta expedição fez larga colheita entre os mouros: 53 nos ilhéus de Arguim e 52 nas alturas de Cabo de Santa Ana, mais ao Sul.
Dali, as três caravelas avançaram mais 80 léguas até às proximidades do Cabo Verde, onde todavia, não puderam desembarcar, tanto por motivo do mau tempo, como por causa da atitude hostil e guerreira dos jalofos. Na  viagem de regresso prenderam 12 mouros. Mas numa sortida que fizeram em terra, os nossos expedicionários perderam sete homens em luta com os indígenas.
No relato que Azurara faz desta viagem, atribue aos tripulantes a seguinte observação: «Mas que vamos à terra dos negros, onde já Dinis Dias, com um só navio, no ano passado foi fazer presa; e que mais não façamos senão ver a terra, contando depois novas dela ao senhor Infante, parte será de nossa honra.» (capítulo XLIV).
Desta passagem parece lícito concluir-se que a viagem de Diniz Dias, de que resultou a descoberta do Cabo Verde, se realizou de facto no ano anterior, isto é, em 1444.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 27-29
☻ ÁLVARO FERNANDES passou além do Cabo Verde (cabo), Goreia e chegou ao “Cabo dos Mastros” (Cabo Roxo? Provavelmente entre o Cabo Verde e o rio Gâmbia).
Viagem descrita por ZURARA e BARROS. Depois da identificação feita por ARMANDO CORTESÃO (B 12, págs.11-15), não restam dúvidas de que o local atingido foi o Cabo Vermelho (Red Cape, Cap Rouge).
Acrescentamos contudo que, antes de JUAN DE LA COSA (1500), DUARTE PACHECO (c. 1505) e VALENTIM FERNANDES (c. l507), já outras fontes mencionavam o Cabo dos Mastos (identificado por ARMANDO CORTEZÃO com o Cabo Vermelho):
1- Carta portuguesa anónima da Biblioteca Esfense de Modena (c. 1471) - «Cabo dos Mastos».
2- Cartas de Christophero Soligo (c. 1486) - «Capo Verde dos Mastos».·E ainda:
3 - Carta portuguesa anónima da Biblioteca Nacional de Paris (c. 1500) - «C. dos Mastos».
4- Carta portuguesa anónima da Biblioteca Estense de Modena (conhecida por Carta de Cantino (1502) - «C. dos Mastos».
☻ Neste anno mandou o Infante a GONÇALO DE CINTRA (1), seu Escudeiro, e homem valeroso, Commandante de hum navio, para continuar os descobrimentos, o qual indo em demanda de Cabo Branco, para passar á Ilha de Arguim, em que hum Mouro Azenegue (2), que levava por interprete, lhe prometia boas presas, entrou em huma Bahia cousa de dezeseis léguas ao Norte daquele Cabo onde o Azenegue lhe fugio e sobre o desgosto deste acontecimento, teve outro, porque vindo hum Mouro velho pedir-lhe o levasse a Portugal por estarem lá cativos, segundo dizia, alguns seus parentes, depois que examinou à sua vontade o navio (único fim a que viera), desertou igualmente.
Agastado, e corrido Gonçalo de Cintra destes enganos, a que o arrastára a sua nímia fé, intentou vingar-se assaltando huma Aldea vizinha; e guarnecendo a sua lancha com doze homens, entrou nessa noite por hum esteiro, onde na vasante ficou em seco, e sendo visto de manhã pelos naturaes, o atacárão mais de duzentos, e alli o matarão, com LOPO DE ALVELLOS, e LOPO CALDEIRA, ambos Moços da Camara do Infante; o Piloto ALVARO GONÇALVES, e outros quatro homens, salvando-se o resto deles a nado. Estes forão os primeiros Portuguezes, que acabaram naqueles descobrimentos. A Caravela voltou logo para o reino só com alguns marinheiros, e duas mulheres que havião cativado em terra, ficando áquelle lugar o nome de Angra de Gonçalo de Cintra. O Infante sentiu por extremo este desastre.
☻ Parece, que neste mesmo anno, por ordem do Infante, se começou a construir hum forte na Ilha de Arguim, que era então o centro do Commercio daquela Costa, o qual se concluiu, ou ampliou muitos anos depois (3).
☻ No mesmo anno de 1445 fez LUIZ DE CADAMOSTO a sua primeira viagem á Costa de Africa.
Achando-se em Veneza, sua pátria, com quasi vinte dous anos de idade, e alguma pratica da navegação do Mediterraneo, determinou fazer huma segunda viagem a Flandres (onde já estivera), para buscar a fortuna, que na Italia lhe faltava, e munido de mui pouco cabedal, embarcou-se em humas Galés Venezianas, que hião para aquelles Estados, comandadas por Marco Zen. Sahio elle de Veneza a 8 de Agosto de 1444, e chegando ao Cabo e S. Vicente, e não podendo dobra-lo pela força do vento (provavelmente Norte), pairárão as Galés ao socairo do Cabo. Neste meio tempo veio a bordo Antonio Gonçalves, Secretario do Infante D. Henrique (4), cuja habitação estava nas proximidades daquele sitio, e em sua companhia o Consul de Veneza em Portugal, trazendo amostras de assucar da Madeira, sangue de Drago, e outros produtos das Ilhas, de que o Infante era Senhor, e se povoavam então; e relatou aos seus compatriotas as grandes navegações, e descobertas de novos Paizes, que por ordem do mesmo Infante se fazião, e os interesses excessivos que tiravão dellas os que as emprehendião; de que Cadamosto ficou tão penhorado, que depois de certificar-se da honra, e bom gasalhado que o Infante fazia em geral aos Estrangeiros, e quanto folgaria de empregar alguns Venezianos, pela intelligencia que tinhão do Commercio das especiarias, se animou a ir com o Secretario, e o Consul á sua presença. O modo como este Principe recebeo a Cadamosto, foi para elle tão lisonjeiro, que voltando a bordo da sua Galé, dispoz dos effeitos que trazia, comprou outros que lhe seriam necessários para a viagem, que intentava, e estabeleceo-se logo em terra.
Passados alguns mezes, no decurso dos quaes sempre o Infante o tratou honradamente, mandou-lhe este armar uma pequena Caravela nova de 45 toneladas, com algumas peças de artilharia, de que era Commandante VICENTE DIAS, e nella partiu de Sagres CADAMOSTO a 22 de Março de 1445, com vento N.N.E., em demanda da Ilha da Madeira, seguindo o rumo de S.O. 4 º., e a 25 ancorou na Ilha de Porto Santo, da qual era Governador Bartolomeo Perestrello, cuja distancia ao Cabo de S, Vicente avaliou com bastante, mas desculpável erro, em seiscentas milhas; e soube haver sido descoberta dia de Todos os Santos (5) de 1417.
Examinadas miudamente as produções desta Ilha, os seus artigos de Commercio, abundancia de peixe, e extraordinário numero de coelhos, sahio dalli Cadamosto a 28 de Março, e no mesmo dia surgio em Machico, pequeno Porto da Ilha da Madeira, que diz se povoára em 1420, e que tinha na época da sua chegada oitocentos homens, inclusos cem de cavallo.
Nesta Ilha fez as mesmas indagações, sobre a sua excessiva fertilidade, beleza de Clima, e abundancia de todas as coisas necessárias á vida.
Seguindo a sua derrota para o Sul, avistou as Canarias, e destas visitou Gomeira, Ferro, e Palma, e dirigindo o seu rumo para Cabo Branco, por evitar ensacar-se na grande Enseada que forma a Costa de Africa para o Norte delle, o avistou em poucos dias. Alem deste Cabo a Costa se recolhe para o S.E., fazendo hum golfo bastante fundo, chamado a Furna de Arguiim, que tomou delle o nome, e a única que tem agua doce, a Branca, a das Garças, e a dos Corações, todas pequenas, arenosas, e desabitadas. Na de Arguim se construía então um Forte por ordem do Infante, e ex-aqui o motivo. Os Portuguezes em outro tempo corrião as Costas desde Cabo Branco ao Senegal, desembarcávão onde se lhes ntohava, assaltavam as Aldeas dos pescadores, e os levavão cativos; esta guerra durou treze, ou quatorze annos. O Infante mudou este systema, prohibio cativar os Azenegues, e contratou com algumas pessoas particulares concentrar-se todo o Commercio na Ilha de Arguim, por meio de huma Feitoria alli estabelecida, onde só as Caravelas dos interessados são admittidas. A Feitoria recebe os géneros, que ellas trazem. Que são tapetes, pannos, sedas, trigo, prata, e outras mercadorias, e os vende aos Arabes das Caravanas, que para este efeito vem á Costa do mar, a troco de ouro em palhetas, e de escravos Negros de que levão cada anno a Portugal de setecentos a oitocentos. Para proteger este trafego, he que se construiu aquelle Forte.
Os Azenegues eram tão ignorantes na época em que os primeiros Portuguezes alli chegarão, que  vendo os seus navios á véla, cuidárão que erão pássaros com azas brancas; os outros, vendo-os com o pannom ferrado, os tiveram por grandes peixes, e outros finalmente por espectros nocturnos, porque na mesma noite os vinhão saltear em lugares distantes huns dos outros.
Do Cabo Cantim para o Sul começa o deserto, a que os Arabes chamam Sahara, e confina desta parte com os Negros da Ethiopia, e pela do Norte com as montanhas que cercam a Barbaria. A Costa deste deserto he toda baixa, alva, e arenosa. Cabo Branco, assim chmado dos Portuguezes pela côr do seu terreno, he cortado em triangulo na sua frente, formando tres pontas, distando huma da outra perto de huma milha.Toda esta Costa he abundantíssima de peixe. No Golfo de Arguim ha pouco fundo, com muitos baixos de aréa, e alguns de pedra, e muitas correntes, por cuja causa se navega só de dia, e com a sonda na mão.
Na direitura de Cabo Branco pela terra dentro, seis jornadas de camelo, há huma Cidade sem muralhas chamada Guadem, que serve de escala de Caravanas de Tombutu, e de outros Estados de Negros trazem para Barberia ouro, e malagueta, e levão em retorno prata, cobre, e outros géneros. Seis jornadas de Guadem estão as minas de sal de Tageza, d’onde partem muitas Caravanas carregadas deste pecioso género para Tombutu, que dista quarenta jornadas, e desta Cidade vão a Melli, distante outras trinta jornadas, e alli trocão o sal por ouro em pó.
De Cabo Branco seguiu Cadamosto a Costa para o Rio Senegal, que extrema os Negros dos Azenegues; e as terras áridas destes, das terras ferteis daquelles. Este Rio tinha sido descoberto cinco anos antes (em 1440) por tres Caravelas do Infante, que nelle entrarão, e começarão logo a traficar com os Negros, e depois tem continuado a vir alli embarcações. A sua foz he de mais huma milha de largo, com bastante fundo, e pouco mais ao Sul faz outra boca, com huma Ilha no meio, e destas duas fozes sahem ao mar alguns bancos de aréa, e alguns parcéis quasi huma milha. De Cabo Branco a este Rio são duzentas e oitenta e cinco milhas. As marés são por aqui regulares de seis em seis horas, e a enchente sobe mais de trinta e cinco milhas pelo Rio acima; e só com ella se pode entrar, por causa dos parcéis. Todo o Paiz he mui viçoso, e cheio de arvoredo.
Na margem Austral deste rio começa o primeiro Reino dos Negros da Baixa Ethiopia, cujos Povos são mui azevichados, altos, membrudos, e bem apessoados, e se chamam Jalofos (6). Alguns são Mahometanos, outros sem Religião. A maior parte deles anda nús, apenas cingidos com huma pelle de cabra: os mais ricos vestem-se de algodão, que nasce no Paiz.
Cadamosto, e as principais pessoas daquela expedição, querião prosseguir o descobrimento do Rio, que já sabião ser o Gambia, porém os marinheiros instárão por voltarem para o Reino; e não os podendo reduzir á obediência, sahírão do Rio no dia seguinte, e costeando Cabo Verde, seguirão viagem para Portugal.
(1)Vede Faria e Sousa, Asia Portugueza, tomo I, no fim – Soares da Silva ns Memorias de D. João I, tomo I, cap. 84 – Barros, década I, L.º I, Cap. 9 – Galvão, pag.24 – Goes, Chronica do Principe D. João, Cap. 8, onde coloca esta viagem no anno de 1444.
(2)Os antigos Portuguezes chamavam Azenegues aos Povos, que habitavão da margem do Rio Senegal para o Norte, os quaes parecem ser huma raça mixta de Arabes, e Mouros Barberescos, e são da côr de mulatos escuros. Entendião por Costa da Guiné o espaço compreendido entre o Senegal (onde começão os Negros) e a Serra Leoa. A Costa da Malagueta estendia-se desde o Cabo Ledo até Cabo de Palmas: a Costa dos Quaçuas desde este Cabo até ao das Tres Pontas: a Mina desde este até ao Cabo Formoso: o Calabar desde este até ao Cabo de Lopo Gonçalves; e Costa de Loango deste para o Sul até Cabo Negro.
(3)Eu sigo aqui a Cadamosto (Primeira Viagem, Cap. 10), que diz positivamente, que neste anno de 1445, que elle correo aquellas Costas, se trabalhava no Forte por ordem do Infante. Manoel de Faria e Sousa (nos dous lugares da sua Asia já citados) faz ir Soeiro Mendes a esta comissão no anno de 1449. Barros (na Decada I, Lª2, Cap.I) diz, que foi em 1461, e Galvão (pag.25) diz, que em 1462. Damião de Goes (Cap. 8) inclina-se á opinião de Cadamosto, e crê que em 1461 mandou ElRei acabar o Castello começado pelo Infante.
(4)He mais provável, que fosse Antão Gonçalves, eu Escrivão da Puridade.
(5)Cadamosto attribue o nome de Porto Santo a ser descoberta no dia de Todos os Santos; porem he mais natural, que os seus Descobridores lhe dessem esse nome, por acharem nella o abrigo que carevia a sua frágil, e destroçada embarcação. De resto, elle conta o que ouvio dizer. Eu creio, fora de toda a duvida, que ella foi achada em outro dia.
(6)O Rei dos Jalofos, quando alli chegou Cadamosto, cahmava-se Zucholim, e era de vinte e dous anos de idade.
«Rio Gambia, denominado pelos oriundos Badiman; o Rio Grande, que comparo com o Ganges, pelas suas muitas bôcas, caturhamado pelos naturaes do interior Comba, (onde he situada a nossa Colonia de Bissáo) e outros mais…»
DESCRIPÇAO DE SERRA-LEOA E SEVS CONTORNOS. ESCRIPTA EM DOZE CARTAS A' QUAL SE AJVNTÃO OS TRABALHOS DA COMMISSÀO-MIXTA PORTUGUEZA E INGLEZA, ESTABELECIDA NAQUELLA COLONIA. O. D. C. À SOCIEDADE LITTERARIA E PATRIOTICA O ClDADÃO JOAQUIM CÉSAR DE FlGANIÉRE E MORÃO Membro da mesma Sociedade Ex-Commissario Arbitro de S.M.F. em Serra-Leôa. LISBOA, Na Impressão de João Baptista Morando Anno 1822.
☻ Notável foi também o ano de 1445 e, entre outras, é organizada a segunda expedição de Lançarote, com 13 navios, também saídos do portode Lagos que foram tentar fortuna para os mares de Cabo Branco e arquipélago de Arguim, onde fizeram boas presas. Da ilha da Madeira e de Lisboa também saíram diversos barcos destinados ao resgate da costa negra. Zurara afirma terem sido armados neste ano de 1445,destinados àqueles mares 26 caravelas.
Começava-se a entrar na fase do delírio; a cobiça e a miragem de fortes lucros estavam dando sinal de si. Neste ano, tão fértil em número de barcos saídos para a região do sul na mira de filharem mouros ounegros, uma só caravela, a caravela de ÁLVARO FERNANDES, segundo instruções dadas porJOÃO GONÇALVES, seu tio o armador da caravela, fora mais  além de Cabo Verde, atingindo o Cabo dos Mastros, correspondendo hoje ao Cabo Vermelho, situado um pouco mais a sul daquele, sem qualquer outro intuito que não fosse bem servir a causa do Infante.
O ponto términus da viagem de DINIS DIAS fora assim ultrapassado por Álvaro Fernandes. «E esta foi a caravela que, em este aano foi mais avante que todas as outras que àquela terra passara», afirma Zurara.
☻ Em primeiro lugar, existe a possibilidade de que um ou mais ilhas em Cabo Verde pode ter sido descoberto por VICENTE DIAS em 1445. Ele foi um navegador durante o tempo do Infante D. Henrique e ele também era um comerciante em 1445. Esta possibilidade é baseado em referências disponíveis por escrito, com relação a ele, o que é enfatizado na Crónica da Guiné, por Gomes Eanes de Azurara (26). Esta crónica dá uma conta o comerciante / mariner anteriormente mencionado, que participou de um grande expedição, organizada pela LANZAROTE DE LAGOS e ALVARO FREITAS no ano 1445 de acordo com o seguinte [...]: "E assim foi: de que estar com eles, VICENTE DIAS, de quem já falamos", que na Guiné foi ferido (sons como se houvesse uma escaramuça com os povos indígenas da região e um dos nativos era feridos de o termo Guiné foi usado para descrever nativos desta região em particular da África) na praia do Nilo ( Rio de Nilo foi usado durante este período de tempo para descrever o Rio Senegal que se acreditava, segundo a lenda, flua em um lago na vizinhança onde o rio Nilo originou) tinha de sair em uma expedição com os outros e quando a noite chegou, ele não conseguiu localizar os outros, enquanto isso ele navegou sozinho (27). De acordo com Albuquerque, apesar de uma hesitação inicial, V. Dias era um dos homens na frota que decidiram continuar a navegação após a conclusão do objetivo comercial, que foi proposto inicialmente por todos, para chegar à costa Arguim. (28) De acordo com a descrição dada pelo cronista, V.Dias navegou sozinho durante um lapso de tempo que não é clara e sem qualquer referência para este navegador... O navegador não viu nenhuma terra; No entanto, num esforço para sugerem que havia uma possibilidade de que Dias poderia ter sido o descobridor de um das ilhas (o que é, provavelmente, a ilha de Santiago) em 1445 no curso de esta navegação em negrito, que teria sido feita fora de quaisquer planos anteriores. Aqueles que defendem essa teoria virar para o mapa geográfico de Andreia Bianco de 1445 ou 1448. Neste mapa é possível notar o desenho de uma faixa de terra que se projeta sobre Atlântico que parece ser incompleta e com defeitos locais, mas pode ser lido como: ixola otinticha (autentica ilha ou ilha autêntica (29)
26 AZURARA, Gomes Eanes de – «Crónica do descobrimento e conquista da Guiné», CapituloLXIV, segundo o manuscrito de Biblioteca Nacional de Paris, modernizada com notas,Glossário
27 A " Crónica da Guiné " (no trecho acima), que foi escrito por Gomes, Eanes de Azurara, até 1466, com ênfase em uma determinada passagem; alude a dois capitães e Vicente Dias durante Suas atividades ao longo da costa da Guiné, mas não faz qualquer referência ao Cabo Verde Islands.No extracto Acima Destacado da «Crónica da Guiné» de Gomes Eanes Azurara e da Escrita Ate O ANO DE 1466, um dado Passo alude AOS Dois capitães e Vicente Dias nn SEUS Feitos NAS costas da Guiné mas Localidade: Não HÁ nenhuma Referência como Ilhas de Cabo Verde.
28 ALBUQUERQUE, Luís de - «O descobrimento das Ilhas de Cabo Verde». Em Op . Cit . p.27 29 Cf. . Carta Geográfica de Andreia Bianco de 1445 UO 1448, em que é possível ver um desenho de uma área de terra que se projeta sobre o Atlântico, com uma inscrição: ilha autêntica. Esta é uma parte de «Cartas das Ilhas de Cabo Verde», que Valentim Fernandes poderia ter compilados entre 1506 e 1508, começando com desenhos elaborados, principalmente, por cartógrafos da época. Neste caso, Andreia Bianco tinha  um fundo para fazer desenhos do mar, o que os navegadores portugueses começaram a fazer no final do século 15 eo No início do século 16. Este mapa ficou conhecido nos tempos modernos por Antonio Fontoura da Costa, cuja obra « Carta das Ilhas de Cabo Verde » por Valentim Fernandes , 1506 - 1508 foi publicado pela Agência Geral das Colónias em 1939 , pp 56 -57
À hipótese de VICENTE DIAS ter descoberto a ilha de Santiago em 1445, defendida pelo historiador holandês F. C. Wieder e exposta por A. Fontoura da Costa, (30) Vitorino Magalhães Godinho, das análises que fez da fundamentação de F. C. Wieder, conclui que “[...] não há quaisquer provas de descobrimento das ilhas de Cabo Verde anteriormente a 1448, embora esse descobrimento não fosse impossível”.31
31 GODINHO, Vitorino Magalhães (Organização e notas de) – «Documentos sobre a Expansão Portuguesa». Vol. III. Lisboa: Edições Cosmos, [Ano?], Nota nº 4, p. 276.
☻ Fazendo fé em VALENTIM FERNANDES, a ilha de Arguim foi descoberta por GONÇALO DE SINTRA em 1445
«O senhor Infante D. Henrique fez nesta ilha de Arguim um contrato por dez anos, deste modo; que ninguém pudesse entrar no golfo para traficar com os Árabes, salvo aqueles que entrassem no contracto, o qual tem uma feitoria na dita ilha, e Feitores, que compram e vendem àqueles Árabes, que vêm à marinha; dando-lhes diversas mercadorias, como são panos tecidos, prata e alquiceis, que são uma espécie de túnicas, tapetes e sobretudo trigo, do qual estão sempre famintos, e recebem em troca Negros, que os ditos alarves trazem da Negraria, e ouro Tiber. De modo que este Senhor Infante faz actualmente trabalhar em uma fortaleza na dita ilha, para conservar este comércio para sempre; e por esta razão todos os anos vão e vêm caravelas de Portugal à Ilha de Arguim.
Têm também estes Árabes muitos cavalos silvestres, com os quais traficam: e os conduzem às terras dos Negros, que lhes dão em troco escravos, e vendem os ditos cavalos por dez ou vinte cabeças de escravos cada um, segundo a sua qualidade. Igualmente compram sedas mouriscas, que se fabricam em Granada, e em Tunes de Barbaria; prata e muitas outras causas, e obtêm pelo seu resgate quantidade de Negros, e alguma soma de ouro. Estes escravos chegam à escala, e lugar do Hodem [Uadan], e daí se dividem; indo parte deles aos montes da Barca, donde chegam a Sicília, e alguns outros a Tunes, e depois se estendem por toda a costa da Barbaria; finalmente a outra porção é conduzida a este lugar de Arguim, e vendida aos Portugueses do contrato; de modo que cada ano se trazem para Portugal de setecentos a oitocentos escravos. Antes que se estabelecesse este contrato, costumavam as caravelas de Portugal vir ao golfo de Arguim armadas, umas vezes quatro, outras mais; e de noute desembarcavam, saíam sobre algumas aldeias de pescadores, e faziam correria pela terra; de modo que prendiam estes Árabes tanto machos como fêmeas, e os traziam a vender em Portugal.»
CADAMOSTO, "Navegação Primeira" in GODINHO, VITOR MAGALHÃES. Documentos sobre a Expansão Portuguesa, vol. III, p. 125-126.
☻ Sobre a feitoria de Arguim, construída em 1445, diz-nos a mesma fonte que o Infante D. Henrique (1394-1460) arrendara esta região por dez anos ao comerciante FERNÃO GOMES, a fim de controlar as iniciativas comerciais dos arábes e ainda para obter uma base de apoio para novas viagens e descobertas ao longo da costa africana. Em troca de panos, prata e cereais, os portugueses adquirem, sobretudo, ouro e escravos, os produtos mais cobiçados.
Mais além chegaram a um lugar que agora tem o nome de Arguim. (...) A ilha tem muitos lugares onde nasce água doce na areia. Por causa disso, o senhor Infante mandou depois fazer aí uma fortaleza. Pôs aí gente segura de cristãos com um sacerdote de nome Polono, da vila de Lagos, o qual foi o primeiro que celebrou os ofícios divinos na Guiné (...). Esta fortaleza foi construída no ano de 1445.”77
77 D. G. SINTRA (1484-1496); Op. Cit., pp. 59 e 61
Foi o lugar escolhido preferencialmente pelos navegadores, pelas condições mais favoráveis que oferecia à presença humana, ficando a meio caminho entre o que conheciam (que não ia além da Serra Leoa) e Portugal. Parece representar, assim, uma estratégia para abranger e controlar melhor a totalidade dos territórios descobertos, geridos unicamente pelos portugueses, naquela altura.
Desde cedo as caravelas levarão para Arguim tecidos e cereais, mas também cavalos, e voltarão com ouro e muitos escravos. Aí os portugueses instalaram a sua primeira feitoria em África, e em 1455, por iniciativa do infante D. Henrique, começaram a erguer uma fortaleza, concluída cerca de uma década depois, quando a capitania-mor da ilha foi entregue a SOEIRO MENDES de Évora. O modelo do castelo de São Jorge da Mina, mais tarde erguido no golfo da Guiné, seguiu, em boa parte, a lição da fortaleza de Arguim. Mas seria exatamente o sucesso de outras zonas comerciais, mais perto da origem das rotas caravaneiras, que acabaria por ditar a decadência da presença portuguesa em Arguim, o que se começou a fazer-se sentir a partir de 1530. Os escravos adquiridos em Arguim, que nos melhores anos atingiram os 2000, eram encaminhados sobretudo para o continente europeu, primeiro para Lagos, depois para Lisboa, embora alguns também fossem vendidos na Madeira e nas Canárias.
☻ Tal foi importante o comércio da Guiné que foi criada, em 1445, a «Casa da Guiné» com sede em Lagos (Algarve) que tinha a seu cargo o movimento das mercadorias da costa africana. Por volta de 1480, a sua sede foi transferida para Lisboa, tendo adoptado várias designações à medida que os descobrimentos avançavam por toda a costa africana até à Índia: «Casa da Guiné e Mina», «Casa da Guiné e Índia», ou só «Casa da Índia». Em anexo a esta Casa, existia um departamento específico para os escravos – a «Casa dos Escravos» - onde era administrado o negócio e colhiam as rendas.
                          Mercado de escravos em Lagos
Edifício de Lagos no local onde se ergueu provavelmente a «Casa da Guiné». Aqui, segundo uma tradição nunca confirmada, teria funcionado o mercado de escravos. (Postal ilustrado. Fototeca Municipal de Lagos)

                            Casa da Guiné e Índia         
 Morte de Gonçalo de Sintra
«…E depois algum tempo da vinda de Lançarote, fez o Infante armar uma caravela, na qual mandou aquele Gonçalo de Sintra por capitão, avisando-o antes da sua partida que fosse «directamente à Guiné...» (Chronica, cit. cap. 27.º).
Depois de tocar no Cabo Branco, Gonçalo de Sintra (ou Gonçalo Affonso de Sintria) preferiu, contra a vontade dos seus companheiros, atacar os habitantes das ilhas de Arguim. Passou pela ilha de Tider e em seguida desembarcou na ilha de Naar com 12 companheiros, procurando rivalizar as façanhas dos expedicionários de Lançarote.
Mas os indígenas, que além das experiências anteriores, haviam sido avisados por um mouro fugido de bordo, reüniram-se em número superior a 200 e derrotaram o pequeno grupo de Gonçalo Sintra, o qual pereceu na contenda, com mais seis dos seus companheiros. Os restantes cinco conseguiram, com dificuldade, alcançar o bote e com êle a caravela. Desanimados com a morte do seu capitão, os tripulantes regressaram imediatamente para o Reino.

Entre os comentadores da Chronica de Zurara não há acordo sôbre a data do falecimento de Gonçalo de Sintra, fixando-a uns nos princípios do ano 1444 (Armando Cortesão e José de Bragança) outros, no ano de 1445 (Visconde de Santarém, R. H. Major etc., sem falar de João de Barros que a descreve nesse último ano).
Uma análise detida do texto àa Chronica leva-nos à admitir que o desastre teria efectivamente ocorrido no ano 1444. Conclue-se também que o facto deu-se no arquipélago de Arguim, embora mais tarde se tivesse dado o nome de Angra de Sintra a uma larga baía situada no continente, ao norte do Cabo Branco
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 23
Segunda Expedição de Lançarote
O capítulo XLIX da Chronica de Azurara abre com uma exposição que o almoxarife Lançarote dirige ao Infante solicitando autorização para os principais moradores de Lagos organizarem uma expedição com o fim de castigar os indígenas da «Ilha de Tider, na qual... foi morto Gonçalo de Sintra, porquanto os Mouros da dita Ilha podem fazer em pacho a vossos navios, queremos, se for vossa mercê, armar sobre eles, e ou por morte ou prisão, quebrantarmos sua fôrça e poder...
E se Deus trouxer o feito a fim da vitoria poderemos fazer, sobre a destruição dos nossos contrarios, presas de grande valor, pelas quais do vosso quinto podereis receber grande proveito...
E disto, senhor, vos praza havermos vossa resposta, para despachadamente seguirmos nossa viagem, enquanto o verão nos dá tempo para isso».
Tratava-se pois de uma expedição não inteiramente comercial, mas com certo carácter militar, destinada a fazer respeitar o pavilhão português. (a) Preparou-se, por isso, uma importante frota de 13 navios, em que tomaram parte Soeiro da Costa, alcaide da vila de Lagos e sôgro de Lançarote, Gil Eanes da Vila-Lobos, Alvaro Freitas, cavaleiro e comendador da Ordem de Santiago, Rodrigues Eanes Travassos, criado do Regente D. Pedro, Estevão Afonso, Lourenço Dias e outros homens experimentados.
Além do distintivo da Ordem de Cristo, que as caravelas costumavam levar, o Infante entregou ao chefe da expedição, Lançarote, a bandeira da Cruzada, com os privilégios concedidos pelo papa Eugénio IV. A frota saiu de Lagos em 10 de Agôsto de 1445, com rumo directo para Cabo Branco. Encontraram ali os três navios de Gonçalo Pacheco, de Lisboa, que se preparavam para regressar. Depois de retinidas tôdas as fôrças, empreenderam os seus ataques à ilha de Tider e ainda a outros pontos no continente, mas os indígenas ofereceram pouca resistência, abandonando as suas povoações e fugindo à aproximação do inimigo.
Todavia fizeram 65 prisioneiros.
Depois desta batida, os navios menores e menos resistentes, de Soeiro da Costa, Gil Eanes, etc., regressaram a Lagos, ao passo que séis dos barcos maiores prosseguiram a viagem para o Sul, em busca do falado rio Nilo dos pretos, o actual rio de Senegal.
Segundo as noções geográficas da época, o rio Nilo teria duas embocaduras, uma no Mediterrâneo, e outra ainda desconhecida, no Atlântico. As instruções de D. Pedro e D. Henrique eram buscar esta última embocadura, que aliás já tinha sido ultrapassada por Diniz Dias, no ano anterior, sem todavia a reconhecer.
Com efeito, encontraram a foz do rio procurado, a 20 léguas ao Sul do local denominado de Duas Palmeiras, que servia aos marítimos de ponto de referência. Dali seguiram até ao Cabo Verde, exploraram as ilhas próximas, notaram a diversidade da flora e fauna local, admirando o desenvolvimento descomunal do embomdeiro, cuja descrição não escapou ao cronista Azurara e, tendo mais uma vez experimentado a ferocidade e fôrça muscular dos indígenas jalofos que encontraram nas suas tentativas de desembarque, resolveram aproar em direcção ao Reino.
Nêste mesmo ano de 1445, e aproximadamente na mesma época, saíram da ilha da Madeira três caravelas capitaneadas por Tristão Vaz, Álvaro Dornelas e Álvaro Fernandes, sobrinho de João Gonçalves. De Lisboa, partia Diniz Dias, pela segunda vez, e João de Castilho em duas caravelas armadas respectivamente pelo camareiro-mór e pelo aio do Rei. Evidentemente, êstes armadores particulares não procuravam mais do que os lucros que poderiam colher com os mouros resgatados ou aprisionados à fôrça. O mesmo, porém, não se pode dizer da viagem empreendida por Álvaro Fernandes, que era enviado pelo seu tio com a missão exclusiva de descobrir novas terras.
Álvaro Fernandes seguiu directamente para o rio Senegal e dali para o Cabo Verde. Demorou-se alguns dias na ilha de Gorêa, onde com grande dificuldade conseguiu capturar dois indígenas.
Nas árvores da ilha deixou gravadas as armas e a divisa do Infante, que foram achadas pelos tripulantes de Lançarote, quando por ali passaram algum tempo depois. Continuando a derrota, Álvaro Fernandes alcançou um Cabo, onde se viam algumas palmeiras sem copa, ao qual por êsse motivo, deu o nome de Cabo ·de Mastos (b).
Dali regressou à Madeira e foi depois a Lisboa dar conta do seu feito ao Rei e ao Infante. «E esta foi a caravela que êste ano foi mais avante que todolas outras que àquela terra passaram.» (Azurara; cap. LXXV).
(a)O visconde de Santarém supõe que esta expedição de Lançarote saíu de Lagos no ano de 1447. Dada, porém, a circunstância da própria Crónica de Guiné se referir ao ano em que D. Pedro de Portugal, filho do Regente D. Pedro, foi armado cavaleiro e enviado a Castela (capítulo LI), deve-se concluir que a expedição saiu no ano 1445. Como na petição de Lançarote não se faz menção do· desastre sucedido aos homens de Gonçalo Pacheco e se fala apenas na morte de Gonçalo de Sintra, devemos admitir que na primavera de 1445, não era ainda conhecida em Portugal a notícia da morte dos sete tripulantes embarcados em Lisboa.
De facto, os expedicionários de Gonçalo Pacheco não tinham ainda regressado e foram encontrados por Lançarote nas ilhas de Arguim.
Admitindo, pois, que êstes acontecimentos se passaram no ano 1445, como claramente se deduz ainda da seqüência de outros capítulos, devemos concluir que a primeira viagem de Diniz Dias, e portanto a descoberta do Cabo Verde, realizou-se no ano 1444. Diniz Dias fez a sua segunda viagem para a Guiné quási na mesma época em que saíu a frota de Lançarote em 1445. Portanto a sua primeira viagem deveria ter sido feita, pelo menos, no ano 1444.
Da exposição de Lançarote deduz-se também que a morte de Gonçalo de Sintra deu-se no arquipélago de Arguim.»
(b) No «Boletim da Agência Geral das Colónias», n.º 76, de 1931, o sr. Armando Zuzarte Cortesão, depois de discutir largamente a questão da identificação dêste cabo, termina por concluir que o antigo cabo dos Mastos, ou de Mastros, corresponde ao cabo Vermelho (Red Cap ou Cape Rouge) dos geógrafos modernos. Às informações contidas nesse artigo temos a acrescentar o seguinte: O sr. G. G. Beslier no seu livro Le Sénégal, editado em Paris em 1935, reproduz um mapa sob o título - Le Sénégal en 1664 -, sem indicação do autor da carta nem da procedência da gravura. Neste mapa encontra-se nitidamente desenhado o aludido cabo com a designação de Cap de Mas, fechando ao sul a baía de Gorêa. Daqui podemos concluir que entre os mareantes franceses da época (1664) vigorava ainda a designação de Cap de Mas, evidente corrupção de Mastos.»
João Barreto, HISTÓRIA DA GUINÉ 1418-1918, edição do autor, Lisboa, 1938, pg. 29-32
1445/03/22
«Em 1445 a 22 de Março sahio de Portugal ao descobrimento de novas terras em Africa huma caravela do Infante D. Henrique, de que era Patrão Vicente Dias de Lagos, e nella, com licença, e aprazimento do Infante, se embarcou o Veneziano Luiz de Cadamosto, que para isso se offerecera.
Abordou á ilha de Porto Santo, que diz ter sido descoberta haveria vinte e sete annos.
Passou á ilha da Madeira, da qual diz que o Infante a fizera povoar ha vinte e quatro annos para cá.
D'ahi foi ás Canárias, e destas ilhas passou ao Cabo-branco, já descoberto pelos Portuguezes.
Entrou no golfo de Arguim, aonde diz elle que erão já conhecidas 4 ilhas: a saber, a 1.ª chamada de Arguim, que deo nome ao golfo: a 2.ª que os Portuguezes tinhão denominado ilha Branca, por ser toda arenosa: a 3.ª das Garças: e a 4.ª que elle diz ter sido denominada dos Corações, todas pequenas, arenosas, deshabitadas, e sem agoa doce, excepto a 1.ª
Continuando a navegar chegou ao Senegal, que segundo elle diz, tinha sido descoberto cinco annos antes por três caravelas do infante, que entrarão por elle acima.
D'ahi passou á terra de Budomel, também já conhecida dos Portuguezes, aonde esteve em terra muitos dias, tratando, e comerciando com os senhores do lugar e com os negros que ali concorrião.
Estando para partir d'aqui, e navegar avante teve o encontro de duas caravelas, em que hião António de Nola, grande navegador e gentil homem genovêz, e alguns Portuguezes criados do Infante: e acordando-se todos, resolverão hir em conserva adiantar os descobrimentos.
Chegarão ao Cabo-verde, que Cadamosto diz haver sido descoberto pelos Portuguezes hum anno antes, que elle fosse áquellas partes.
Correndo pela costa para o sul, descobrirão a boca de hum rio, a que derão o nome de rio Barbacim a 60 milhas do Caboverde: e este foi o primeiro descobrimento novo que fizerão as três caravelas.
Passando ainda adiante avistarão outro rio, que lhes pareceo não menor, que o Senegal; mas não sendo bem recebidos dos negros, navegarão mais ao sul, e descobrirão o paiz de Gambia, e o rio do mesmo nome, pelo qual entrarão algum espaço. Este era o paiz, que determinadamente buscavão por expressa ordem do Infante, que delle tinha informações pelos negros que já havia em Portugal.
Os navegantes quizerão entrar mais acima pelo rio; mas como a gente do mar repugnasse a este intento, resolverão voltar ao reino. (Relação 1.ª de Cadamosto)
Neste mesmo anno hum criado do Infante, por nome Gonçalo de Cintra, descobrio adiante do rio do Ouro a angra, que do seu nome se ficou chamando Angra de Gonçalo de Cintra, notada nas taboas de Ortelio com as palavras «G. de Goncintra» querendo dizer, segundo parece, «golfo de Gonçalo de Cintra».
Este infeliz navegante, entrando por hum esteiro na ilha de Arguim, e ficando em sêcco á vasante da maré, foi accommettido pelos bárbaros, e morto com alguns seus companheiros.»
Índice chronologigo das navegações, viagens, descobrimentos e conquistas dos portuguezes nos paizes ultramarinos desde o principio do século xv. Francisco de S. Luiz, Lisboa, na Imprensa Nacional, 1841, pg.31-33                  

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