domingo, 13 de março de 2016

TRÁFICO DE ESCRAVOS 1530-1599




1532
ÁLVARO FERNANDES GAGO Cavaleiro fidalgo da Casa Real Filho de Francisco Anes Gago. Em 1533 era menor de idade, Filha legítima: D. Mécia de Carvalho. Filha ilegítima de uma mulher solteira: Francisca de Andrade – legitima-a em 1573. Contador e juiz dos resíduos e provedor dos órfãos, hospitais e capelas, confrarias e gafarias das ilhas de Cabo Verde e Santiago (1533). Condenado a 1 ano de degredo para os lugares de África por ter matado 2 escravas suas com castigos cruéis. A 19 de Dezembro de 1539 recebeu uma carta de perdão.
1533/05/26
O Alvará de 26 de Maio de 1533 defendeu que nenhuma pessoa da ilha de Cabo Verde comprasse ou vendesse cousa alguma a escravos captivos da dita ilha sob pena de perder tudo o que comprasse ou vendesse anoveado para as obras do Conselho da dita ilha.
1534
O cargo de meirinho da serra parece com os anos ter perdido a importãncicia na medida em que o número de escravos decresceu. Tal evolução pode seguir-se através do ordenadoe da categoria social dos indivíduos que exercem esse cargo. Se no século XVI, em 1534, foi nomeado como meirinho da serra TOMÉ FALCÃO, vizinho de Santiago, que era proprietário rural e tinha servido o cargo de almoxarife.
Da injustiça à revolta vai um passo... e da revolta nasce a violência, que tende, naturalmente, a exacerbar-se num regime de servidão. As hordas de escravos «vadios» (homiziados ou andando a monte pela ilha de Santiago) não se contentavam com pilhar hortas e currais para se sustentarem. Ai das escravas ou outras donzelas apanhadas desprevenidas nas herdades da «casa grande»! Mais do que «servirem-se» pela desonra, no seu íntimo vingavam-se os «Vadios» das injúrias dos antigos senhores. E vivendo de roubos e de rapinas, tão pouco poupavam o simples viandante que, assaltado na estrada, ficava sem a roupa que levava no corpo! Nenhum meirinho da serra, oficial encarregado de os prender (o ofício de meirinho da serra foi criado em 1534), lograva intimidar esses indomáveis marginais. E assim foram semeando o pânico e colhendo o ódio numa sociedade que os temia e desprezava, respondendo as autoridades com frequentes batidas e expedições punitivas ao seu encontro.
Havia uma feitoria flutuante no rio S. Domingos (Cacheu)ESTÊVÃO DE LAGOS é corregedor de Cabo Verde até 1536. Corregedor Estevão de Lagos, cujo Regimento é aberto com o seguinte ítem: “Primeiramente nos casos crimes vos dou todo o poder e alçada sobre os negros cativos das ditas ilhas, que os possais condenar em toda [a] pena criminal, até morte natural inclusive, fazendo eles e cometendo tais casos porque segundo minhas ordenações lhe seja dada expressa pena de morte”.
ANTT, Leis Extravagantes (Casa-Forte), liv. 3, fls. 218-219, in Brásio, MMA, 2ª série, vol. II, doc.87, 15-Set-1534.
O tempo em que a pena de morte vigorou sobre os negros cativos não é possível determinar.
1535
«Em 1535 - segundo se lê nas interessantes cartas de Nicolau Gleynaerts - os escravos negros eram em Portugal innumeraveis. Todos os serviços eram feitos por escravos: porque a preguiça e indolência invadira a população e lhe corrompera profundamente os costumes. O fausto externo era a quasi única preoccupação dos portuguezes d'aquelle século; todos eram, ou aspiravam a ser, fidalgos; faziam-se acompanhar nas ruas por uma multidão de servidores, não tendo muitas vezes que lhes dar de comer. A importação annual de escravos negros em Lisboa ascendia a mais de 10:000; sendo em 1573 calculada em 40:000 escravos a importação em Portugal.»
Estudos Sobre as Províncias Ultramarinas, por JOÃO DE ANDRADE CORVO, Volume I, lisboa, por ordem e na typographia da academia real das scienciaS, 1883, pg.13
1537
Roubos de franceses em navios de AFONSO DE TORRES, arrendatário dos tratos da Guiné (1537-1538) - Neste período os tratos da Guiné estavam arrendados ao rico mercador castelhano (naturalizado) AFONSO DE TORRES, que se sabe ter desempenhado na época importante papel no comércio de Cabo Verde, Guiné e S. Tomé. No ano de 1537 foram-lhe roubadas, nas águas da Guiné e Açores, por franceses cargas dos seguintes navios: «Santo António», vindo de Cantor (Gambia) (roubaram a artilharia, coiros e marfim); nau «Misericórdia», vinda da Guiné (roubaram cera, marfim e couros, deixando os escravos); caravela «Santa Catarina», também vinda da Guiné (roubaram marfim, coiros, cera, arroz e gergelim); «Anunciada», da Guiné (roubaram a mercadoria e a própria água, o que provocou a morte de escravos); uma nau vinda de S. Tomé com açucar. Ao todo, 6 ou 7 navios do arrendatário, em parte já roubados,tiveram de ficar refugiados nos Açores perto de 2 meses, enquanto não chegou a armada real para os comboiar, e as perdas sofridas excederam 5.000 cruzados. O mestre e um marinheiro da «Misericórdia» foram levados para Diephe, onde os submeteram a tormentos para que declarassem que a mercadoria roubada era de castelhanos. No ano seguinte, 1538, uma ou duas naus com urna zabra, franceses, fizeram os seguintes estragos aos navios do mesmo AFONSO DE TORRES na Guiné: obrigaram 4 navios a refugiarem-se por longo tempo no Rio dos Barbacins, impedindo-os de comerciar; obrigaram a encalhar em Bezeguiche, destruindo-lhe depois a mastreação, uma nau, roubando-lhe toda a mercadoria, tendo a tripulaçãoe os escravos (já tinham concluido a armação) de se refugiarem e os negros; roubaram a «Anunciada» (que já havia sido roubada no ano anterior), vinda com armação do Rio Grande, levando-lhe marfim, coiros, cera, panos, manilhas e margarideta, deixando os escravos. No mesmo ano de 1538, JOÃO AFONSO FRANCES, comandando 3 galeões franceses, roubou e avariou, ao largo do Cabo Roxo, a «S. Sebastião», vinda dePortugal pela ilha de Santiago, onde metera algodão para ir comerciar no Rio de S. Domingos. Os prejuizos causados em 1538 excederam 10.000 cruzados. É de notar, neste mesmo ano, que pilotam ou comandam os franceses dois pilotos portugueses, um deles o afamado JEAN ALPHONSE SANTONGEOIS, o que pode explicar a facilidade com que localizaram os navios em resgate ou no caminho. Muitos dos navios que regressavam a França proclamando trazerem produtos comerciados directamente no ultramar, carregavam afinal bens roubados aos portugueses. Carta a el-rei sobre o preço dos escravos em Lisboa de 1535 a 1537 ter diminuído por os levarem para as Antilhas e Castela, sugerindo-se que a lei de el-rei seu pai fosse executada e os escravos viessem da Guiné e Bezeguiche a Lisboa
1541/06/00
Só um exemplo desse tráfego. Entre junho de 1541 e dezembro de 1546 saíram do porto da Ribeira Grande 68 navios com destino às Índias Espanholas, levando a bordo um total de 7442 escravizados
1545/10/11
Ficamos ainda a saber pelo Regimento que o feitor Afonso Vasquez levou para Cabo Verde, datado de 11 de Outubro de 1545 (documento A), que, por sentença, os filhos mulatos dos homens brancos lançados na Guiné eram cativos do HOSPITAL DE TODOS OS SANTOS; porém, provada a sua paternidade, era agora determinada a possibilidade de eles obterem a carta de alforria, mediante o pagamento de 2000 reais a reverter para o Hospital.
1549
GIL SARDINHA deixou de ser capitão-mor de Arguim
CRISTÓVÃO DE ROSALES é capitão-mor de Arguim
A terra está muito rica de escravos da Guiné e o hospital que ali existe "tem os dinheiros muito sonegados" (BARCELLOS, 1899)
1550
JUSTA PEREIRA  (morreu antes de 1597) Filha do mercador de açúcar António Pereira e de Maria Rodrigues. Justa tinha vários irmãos, entre os quais Diogo Lopes Pereira, Mor Rodrigues, que se casaria com Gaspar Lopes Homem, e Henrique Pereira Tenório. Justa foi baplizada cm Janeiro de 1552. Em 1564, casou com António Mendes Fidalgo. Deste casamento nasceram os seguintes filhos: Afonso Fidalgo Pereira, Rodrigo Fidalgo Pereira, Diogo Fidalgo, Leonor Fidalga, Manuel Fidalgo e Gabriel Fidalgo.
JUSTA participava nos negócios da sua família, que envolviam uma rede comercial de base familiar que operava por todo o AtlânticoDois filhos seus, RODRIGO FIDALGO PEREIRA e AFONSO FIDALGO PEREIRA, estabeleceram-se em Pernambuco, relacionando-se com o tráfico de escravos entre a Guiné e o Brasil.
PEDRO RODRIGUES VEIGA (Antuérpia [?] - Roterdão [?]) Pedro Rodrigues Veiga era filho do cônsul de Antuérpia, Luís Fernandes, e de Leonor Rodrigues Veiga. Era, assim, irmão de Gabriel Fernandes (Veiga) ou Moisés Touro, burguês de Antuérpia e membro da guilda de S. Lucas e em cuja descendência se contam os Rocamora, Gaspar Fernandes (Veiga), António Fernandes Veiga, Rafael Fernandes, Manuel Rodrigues Veiga, primeiro burguês de Amesterdão, Duarte Fernandes Veiga, e Graça Fernandes Veiga ou Graça Rodrigues Veiga, casada com Gaspar Sancho, um dos compradores do terreno em Roterdão para o cemitério judaico.
Pedro começou por ser caixeiro do cunhado Gaspar Sanches, tal como o seu irmão Gaspar, integrando provavelmente a casa comercial Rodrigues Veiga e Sanches na medida em que também estavam relacionados comercialmente com o irmão Manuel Rodrigues Veiga. Em 1599 estabelece-se em Amesterdão e segue depois para a Baía, de onde enviava gengibre e açúcar ao irmão. Em 1610 já se encontrava de novo nos Países Baixos, pois é-lhe dada uma procuração para reclamar bens vindos de Cabo Verde defendendo interesses de Gaspar Sanches e Gaspar Nunes em Roterdão ou Haia. Nesse ano, obtém contratos com Portugal e Guinéassociado a outro irmão, GASPAR FERNANDES, e ao cunhado, GASPAR SANCHES. Estes e seus agentes comerciavam também escravos, ouro e marfim.
Na Baía, PEDRO comprou a Jorge Cabral um engenho de açúcar chamado Santo Cosmas situado em Petinqua por 2.550 cruzados em que MANUEL RODRIGUES VEIGA também participou, assim como LOPO e ANTÓNIO SANCHES do engenho. No entanto, Pedro tinha de pagar 18.000 cruzados a diversos mercadores (7.000 a Luís Vaz Paiva, 3.000 a Duarte Mendes de liveira, 2.000 a Jerónimo 'haves,e 2.000 a Leonard de Becr) tendo já investido cerca de 17.500 cruiados cm equipamento. O engenho tinha 62 escravos, cerca de 40 animais bovinos, dois navios, material de cobre e outro equipamento para fazer açúcar. Manuel Rodrigues Veiga recebeu os lucro referente a 6.575 cruzados que investiu no engenho.
1551
MENDO PINTO, Casado com Maria de Matos Pai de Antónia Madureira Genro de JOÃO DE MATOS Meirinho da correição das Ilhas de Cabo Verde (1551-1578) denuncia à inquisição BALTAZAR VILELA (foi feitor real de Santiago) por ter vendido uma escrava cristã “aos negros gentios” na Costa da Guiné (1568)
1551/02/05
Alvará de 5 de Fevereiro de 1551
Que degredados irão para as galés
Ordenou o dito senhor que os homens que daí em diante fossem julgados nas casas da Suplicação c do Cível, ora fossem de casos que se nela tratassem por acção nova, ora que à dita Casa viessem por apelação, que fossem de idade de 18 até 55 anos, não sendo escudeiros ou daí para cima, e por suas culpas merecessem ser degredados para o Brasil, fossem condenados para servirem nas galés aquele tempo que aos julgadores parecesse que mereciam, tendo respeito na condenação que aqueles que merecessem ser condenados em dois anos de degredo para o Brasil fossem condenados em um ano para o serviço das ditas galés. E os que merecessem ser condenados para sempre para o Brasil fossem condenados em dez anos para as galés.
Item mandou o dito senhor que nas sentenças dos escravos que na dita Casa fossem condenados que se vendessem para fora do Reino, se declarasse que querendo o provedor do armazém de Guiné e Índias comprar os tais escravos para serviço das ditas galés, lhe fossem vendidos pelo preço em que fossem avaliados por duas pessoas que o bem entendessem, a que seria dado juramento dos Santos Evangelhos que os avaliassem bem e verdadeiramente, os quais teriam na avaliação respeito a serem os ditos escravos condenados que se vendessem para fora do Reino para mais não poderem entrar nele. E não os querendo o dito provedor e oficiais comprar, que então se vendessem para fora do Reino. Por um alvará de 5 de Fevereiro de 1551 (fol. 153 do livro 3 da Suplicação).
1552
Um pirata que passou para história como o primeiro contrabandista do comércio de escravos foi o inglês JOHN HAWKINS. Financiado por comerciantes londrinos, Hawkins adquiriu três barcos, em 1562, com uma guarnicão de 100 homens, navegou da Inglaterra para as Costas da Guiné. Através de guerra e saques, Hawkins conseguiu, após algum tempo na costa,  aprisionar mais de 300 pessoas. Após o que, John Hawkins, navegou com destino as Índias Ocidentais onde vendeu os prisioneiros como escravos e comprou mercadorias para vender na Europa.
A coroa inglesa não queria, em princípio, saber nada das aventuras de Hawkins e também nada do comércio de escravos. Mas, quando a Rainha Elisabeth resolveu investir na caçada de escravos de Hawkins, JOHN HAWKINS recebeu da Rainha Elisabeth um navio negreiro batizado de ”Jesus” (!) destinado a sua segunda expedição escravista à África. A John Hawkins foi concedido, mais tarde o título de nobreza por serviços prestados à Grã-Bretanha e escolheu como símbolo, o escudo d’armas, um negro escravo algemado e de joelhos!
1553
Mas envolvidos com o tráfico não estiveram somente os oficiais da fazenda. Já mencionamos o caso de MENDO PINTO, meirinho da correição que tratava na Costa com mercadorias defesas. Evoquemos, agora, o nome de DIOGO BARRASA, que sendo escrivão dos órfãos e dos defuntos de Santiago comprava, “peças d’escravos, vacas, cabras, porcos, manteiga, roupas, móveis e teadas para o trato de Guiné por menos preço do que valiam, sendo fazenda de órfãos de que ele era escrivão de seus inventários”, [...] e mesmo comprara e houvera outras peças d’escravos e muitas pipas de vinho e sacas d’algodão, roupas feitas de panos e cores e de linho e outras mercadorias que tinha comprado por terceiras pessoas nas almoedas dos ditos defuntos sendo ele escrivão de seus inventários e almoedas no que tinha ganhado muito dinheiro por as haver por muito menos preço do que valiam e as mandava vender para o trato de Guiné” (1).
(1) - ANTT, Chanc. D. Seb. e D. Henr., Doações, liv. 1, fls. 278 vº - 280, 13Mar1559.
1555
As boas consciências
Em todas as épocas há sempre alguém um passo à frente do seu tempo. Na circunstância, sirva-nos de exemplo FERNANDO DE OLIVEIRA (c.1507-c.1582), um frade dominicano português e pouco ortodoxo. Já é espantoso que tenha sido ele quem, depois de ter escrito a mais antiga Gramática da Língua Portuguesa e antes de organizar a primeira História de Portugal, tenha editado o tratado Arte da Guerra do Mar e redigido, com o rigor dos obstinados, o Livro da Fábrica das Naus, uma enciclopédia sistemática sobre náutica e construção naval. Mas tão ou mais surpreendente é que tenha escrito isto em 1555:
«Não se achará nem a razão humana consente que jamais houvesse no mundo trato público e livre de comprar e vender homens livres e pacíficos, como quem compra e vende alimárias, bois ou cavalos e semelhantes. Assim os tangem, assim os constrangem, trazem, e levam, e provam, e escolhem com tanto desprezo e ímpeto, como faz o magarefe ao gado no curral. Não somente eles, mas também seus filhos e toda a sua geração, mesmo depois de cá nascidos e cristãos, nunca têm remissão.»
Em português publicado, é a única voz deste tempo que não só se atreveu a denunciar a escravatura, como até alguns dos argumentos com que as boas consciências procuravam justificar o injustificável:
«E não é boa escusa dizer que eles se vendem uns aos outros, pois não deixa de ter culpa quem compra o mal vendido e as leis humanas desta terra e doutras o condenam, porque, se não houvesse compradores, não haveria maus vendedores, nem os ladrões furtariam para vender. Assim, somos nós que lhes damos ocasião para se enganarem uns a outros e se roubarem, e forçarem, e venderem, pois os vamos comprar.»
Outro argumento mil vezes repetido que justificava o tráfico de escravos como meio de conduzir para a verdadeira fé, logo para a salvação, aqueles que viviam nas trevas demoníacas, é também denunciado pelo padre FERNANDO DE OLIVEIRA: «Dizemos que os fazemos cristãos e trazemos a estado de salvação, e as almas valem mais do que o serviço e liberdade corporal, e pois [se] lhes ministramos espiritualidade não é muito receber deles temporalidades.» Mas ele desconfia dessa cruzada salvífica: «Os que vão buscar esta gente não pretendem sua salvação e consta que, se lhes tirarem o interesse, não irão lá. [...] Nem se deve fazer mal para vir bem. Fazer-lhes sem justiça para os trazer a estado da salvação, não é doutrina apostólica, nem São Paulo a admite por sua. E a mim me parece que o seu cativeiro é da nossa parte bem fora de razão, porque eles não nos ofendem, nem nos devem, nem temos justa causa para lhes fazer guerra, e sem justa guerra não os podemos cativar, nem comprar a quem não pertencem.»
A justificação da escravatura como punição divina merece também o repúdio do dominicano gramático e militar. “Se eles o merecem [o cativeiro], não somos nós juízes disso, nem Deus nos fez verdugos da sua ira, mas manda que preguemos a sua fé com caridade e modéstia. De tão injusto cativeiro como este, diz São João no Apocalipse: Quem cativar será ele também cativo. [...] E dos escravos diz Jeremias: Os escravos nos senhoriaram, e não havia quem nos resgatasse de seu poder.»

FERNANDO DE OLIVEIRA é uma voz clamando no deserto. Não há de ter sido só por isso, mas também por isso, que o padre, três meses após a publicação da Arte da Guerra do Mar, onde, ao longo de todo um capítulo, fazia as denúncias de que acabámos de dar exemplos, foi parar, pela segunda vez, aos cárceres da Inquisição, onde amargará um ror de anos
1556
Em finais do ano de 1555, ou princípios de 1556a feitoria de Arguim foi atacada pelo pirata português BRÁS LOURENÇO.
DIOGO DE CASTRO (n. século XVI, m. 30/06/ 1575) Seria, provavelmente, filho de Duarte Tristão, armador cristão-novo.Traficante de escravos, residia em Lisboa onde, ao mesmo tempo, se dedicava ao trato de ouro e prata. Encontrâmo-lo a fazer entregas destes metais preciosos na Casa da Moeda entre 1531 e 1556.
A importante rede mercantil em que estava inserido era, acima de tudo, uma rede familiar. Consta que Diogo contratava vários familiares, irmãos, tios e primos, para seus feitores, distribuídos por diferentes interpostos comerciais e envolvidos na entrega e abastecimento de mercadorias para as suas embarcações.
Sabe-se que era sócio do importante mercador MANUEL CALDEIRA, com quem, em 1556, se tomou procurador do traficante de escravos em Cabo Verde, BENTO RODRIGUES. O negócio tinha por base a venda de cerca de 100 escravos africanos, que deveriam ser entregues a um contratador de Sevilha. Já na segunda metade do século XVI é armado cavaleiro da Ordem de Cristo, recebendo uma carta de D. Catarina para se tomar Fidalgo de Solar, título que foi atribuído também ao seu irmão Luís de Castro e outros parentes. A concessão destes privilégios deve-se aos vários empréstimos feitos à Coroa: de navios e outros bens, socorro da cidade de Diu e outros financiamentos importantes.
Em Outubro de 1562, Diogo recebe um alvará de lembrança, com a promessa de receber um foro de Fidalgo com 2000 réis de moradia por mês e um alqueire de cevada por dia. Deveria receber tudo após a partida das armadas para a Índia, no ano de 1563 para 1564.
Estudos ----------Fernanda Olival, Juristas e Mercadores à conquista das Honras. Quatro Processos de Nobilitações Quinhentistas, separata da Revista de História Económica e Social, 2.ª série, n.º .1 , 2.º semestre, 2002.
Fontes ANTT. Chancelaria de D. Sebastião. Privilégios, Lº 2, fls. 58 a 59 v.
ÁLVARO DE AGUIAR Almoxarife da vila da Praia (1556) Procurador ou feitor de mercadores sevilhanos (1556) Mercador de escravos (1556)
DIOGO DE CASTRO, Procurador do mercador de escravos BENTO RODRIGUES como tal compromete-se, juntamente com MANUEL CALDEIRA a entregar 100 peças de escravos em Santiago ao feitor de JERÓNIMO LEÃO, mercador sevilhano (1556) No testamento de Francisco Dias pode ler-se o seguinte: “Disse que um mancebo por nome Garcia Fernandes criado de Diogo de Castro lhe deve 30 cruzados que lhe emprestou...” (1559)
1557
Os franceses aparecem na Mina.
Na regência de D. Catarina (1557-1562) desconhece-se qualquer tipo de diploma sobre saídas e eventuais perdões ou fintas, contudo existem indícios de que se verificou o pagamento de serviços à rainha feitos pelos cristãos-novos cujo dinheiro foi recolhido pelo tesoureiro ANTÓNIO FERNANDES DE ELVAS. Muito provavelmente trata-se de António Fernandes de Elvas, o Surdo, filho de Jorge Fernandes e Beatriz Vaz Coronel, tesoureiro de D. Maria e que foi feito cavaleiro da Casa Real por D. Manuel. António foi contratador da pimenta com seu genro Tomás Ximenes de Aragão e era avô do contratador de escravos de Angola e de Cabo Verde seu homónimo.
Esta família cristã-nova ascendeu à nobreza e estava ligada por laços matrimoniais a outras famílias sefarditas e nobres como os Gomes de Elvas, os Solis, os Coronel e os já mencionados Ximenes de Aragão.
Os serviços prestados à rainha devem ter sido empréstimos e não se sabe até que ponto isso se traduziria em benefícios para os cristãos-novos e se isso lhes poderia dar alguma liberdade de saída de Portugal. Mas, o mais provável é que para a governante lhe era mais conveniente a manutenção sobre sua alçada dos principais financiadores.
A ILHA DA MADEIRA E O TRÁFICO NEGREIRO DO SÉCULO XVI
A primeira referência ao envio de um escravo de Cabo Verde surge em 1557 (1) no testamento de ISABEL DE SOUSA onde diz ter entregue dez cruzados e sete ou oito bocetas de marmelada  a DIOGO RODRIGUES para lhe trazer um escravo de Cabo Verde. Em 1587 um LORENZO PITA de Gran Canaria surge em Cabo Verde a compra a troco de vinho. Manuel Lobo Cabrera aponta, a este propósito, que os portugueses tinham uma participação activa no trato das Canárias com a Guiné (2).
A prova da existência deste activo comércio de escravos entre a Madeira e Cabo Verde temo-la em 1562 (3) e 1567 (4). Nesta década as dificuldades sentidas na cúltura do açúcar levaram os lavradores a solicitarem junto da coroa facilidades para o provimento de escravos na Guiné, com o envio de uma embarcação para tal efeito. O rei acedeu a esta legitima aspiração dos lavradores madeirenses e ordenou que, após o terminus do contrato de arrendamento com António Gonçalves Duarte Leão, isto é, em 1562, aqueles pudessem enviar anualmente uma embarcação a buscar escravos. Em 1567 foi necessário regulamentar, de novo, o privilégio atribuído aos madeirenses, sendo-lhes concedido o direito de importar anualmente, por um período de cinco anos, de Cabo Verde e dos Rios de Guiné , cento e cinquenta peças de escravos.
Na Madeira são vários os indivíduos com o apelido Dias associados ao sector comercial, havendo dois como o nome Francisco. Destes apenas um, LOPO DIAS, é conhecido como judeu (5). O mesmo se poderá dizer em relação aos Açores, onde encontramos onze, sendo três judeus (6). Neste grupo poder-se-á incluir os Dias de S. Miguel, a que se encontra associado o DR. GASPAR FRUTUOSO, considerado filho de um FRUTUOSO DIAS, activo mercador da cidade de Ponta Delgada.
Em Cabo Verde é também evidente a presença destes, relacionados com a administração e tráfico negreiro. Assim surgem dois como almoxarifes (ÁLVARO DIAS e GASPAR DIAS), outro como contador (DAMIÃO DIAS) e dois envolvidos no tráfico negreiro (FRANCISCO DIAS e VICENTE DIAS). Também aqui esta comunidade judaica era por demais evidente, o que terá levado ANTÓNIO CORREA DE SOUSA, o capitão da cidade de Ribeira Grande, a afirmar que a Guiné estava «perdida, por causa desta ilha e Guiné estar coalhada de christãos novos que levam para lá muitas mercadorias, que se deve ao corregedor que os traz tão favorecidos» (7). Por isso não será difícil enquadrar a figura de FRANCISCO DIAS nesta comunidade de cristãos novos das ilhas. Note-se que é sintomático o facto de o mesmo não fazer no testamento qualquer referência aos seus progenitores.
Não é conhecida a data em que FRANCISCO DIAS se fixou em Santiago, todavia é pouco provável que seja o mesmo que em 1513 surge a declarar ao almoxarife duas peças, avaliadas em dez mil réis, que trouxe no navio «Conceição», armado por RUI VICENTE DIAS (8). Caso haja coincidência. então, teremos Francisco Dias, ainda jovem a fazer comércio nestas paragens, onde teria permanecido quarenta e seis anos.
Todo o empenho de FRANCISCO DIAS estava no trafico com avizinha costa da Guiné, sendo  os cargos de memposteiro-mor dos cativos e escrivão do almoxrife um meio mais para reforçar a sua posição (9).
Os contactos com a costa africana eram realizados pelo próprio, em companhia de outros, como LOPO FERNANDES (10)ANTÓNIO GONÇALVES e MANUEL ARAGÃO, por intermédio do seu escravo António (11), ou, indirectamente, por iniciativa de mercadores, como sucedia com DIOGO FERNANDES (12) do Rio Grande.
Tudo nos indica que FRANCISCO DIAS, a exemplo dos demais vizinhos da Ribeira Grande, estivesse integrado na rede de trato de escravos com a Costa da Guiné, como mercador e armador. No seu caso era evidente a existência de uma rede de negócios, tendo como principais eixos as ilhas (Açores, Cabo Verde e Madeira), a Costa da Guiné e as Antilhas espanholas. Aqui estávamos perante uma empresa de tipo familiar, onde actuavam, por exemplo, Álvaro, Diogo, João. Jorge, e LOPO FERNANDES. Este JOÃO FERNANDES, que era seu sobrinho e filho de ÁLVARO FERNANDES, morreu, ainda jovem, quando se encontrava em missão comercial na Costa da Guiné, deixando os seus negócios entregues ao tio. Do outro lado do Atlântico os contactos com os mercados negreiros das Antilhas representavam-no MANUEL DIOGO CAVALHEIRO e ÁLVARO DIAS. Outro destino importante das suas operações era a Madeira, onde as dívidas de uns madeirenses (JOÃO GONÇALVES e JERÓNIMO DIAS) poderão iniciar um activo trafico negreiro. Neste traçado os produtos de troca consistiam em «miudezas e panos da produção local ou importados da Bretanha, que se trocavam por escravos, extenso testemunho da sua vivência de negreiro em Cabo Verde, não sendo esquecido o mais ínfimo pormenor das operações comerciais. A partir dos empréstimos, dívidas e doações é possível reconstituir parte da sua fortuna, avaliada em mais de três milhões de réis. Ele enuncia 11 devedores, que totalizavam 135$650 réis assim distribuídos: 
A isto associam-se alguns créditos recentes, resultantes de operações comerciais em curso na Costa da Guiné, Antilhas e Madeira, o que denota estar mesmo em plena actividade quando caiu doente:



Francisco Dias para além dos seis escravos ao seu serviço em Santiago e na Madeira, declara outros vinte e quatro, em dívidas dos seus parceiros deste trato na Costa da Guiné e Honduras.




As dividas eram superiores aos créditos e resultavam, certamente.de compromissos que havia assumido em algumas operações de troca de escravos por vinho ou manufacturas;



a vultuosa fortuna, acumulada por Francisco Dias em todos os anos de actividade na Ribeira Grande, avaliada em mais de dois contos, 2332$000 réis foram distribuídos pelos  familiares mais próximos, escravos e testamenteiros, ou doações pias:

 FRANCISCO DIAS morreu no Outono de1559 deixando um vazio nas suas operações comerciais. Entregou tudo nas mãos do seu testamenteiro a quem incumbira de encerrar as suas contas, não deixava descendentes para dar continuidade às suas operações. Mas outros madeirenses seguiram o seu encalço, afirmando-se como destacados intervenientes do contrabando de escravos para as colónias castelhanas. No século dezassete as terras ocidentais galvanizaram toda a atenção, tornando-se no principal pólo de animação da vida comercial do Novo Mundo. Mais uma vez a Madeira e as suas gentes são activos protagonistas.
(1) A.R.M.. Misericórdia do Funchal nº 710. fs. 308-309, testamento de 3 de Fevereiro de 1557.
(2) A.H.P.I.P. Lorenzo de Palenzuela. Nº 844. fl. 109; Manuel LOBO CABRERA «Los mercadores y la trata de esclavos en Gran Canaria», ln Homenage o Alfonso Trujillo, II, Santa Cruz de Tenerife. 1982, 39 e 71.
(3) A.R.M. Documentos Avulsos, cx. 2. Nº 194.
(4) Idem. C.M.F. I. 3, fl 137 vol. 138. em anexo documental, nº 30.
(5) Confronte-se o nosso estudo O comércio inter-insular, séculos XV e XVI, Funchal, 1987, págs. 167-168.
(6) Ibidem, pág. 177.

(7) Rodrigo RODRIGUES, '"Notícia biográfica do Dr. Gaspar Frutuoso”. in Livro primeiro das Saudades da Terra,  Ponta Delgada. 1966, págs. XV.CXVII: Confronte-se António Ferreira de SERPA, Suum Quique (…). Porto. 1925: e Maria Ana M. G. Borges COUTlNHO, ''Cristãos-Novos nos Açores. O caso de Gaspar Dias". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo I. Angra do Heroísmo. 1988. Págs. 625-664.
(8) Citado por J. de Senna BARCELLOS. Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné, Iª. parte. Lisboa. 1899, pág. 120.
(9) História Geral de Cabo Verde, corpo documental, vol II, págs. 62, 121, 190. 
(10) Organizou várias expedições à Costa da Guiné, algumas delas de parceria com RUI PEREIRA, confronte-se História Gerral de Cabo Verde, corpo documental. Tomo II, págs. 57-58, 91. 93. 126-127. 163.
(11) Era hábito o uso pelos mercadores de escravos para os auxiliarem nas operações da costa africana. Esta situação resultava das facilidades no contacto com as gentes africanas, mercê do conhecimento da língua e da geografia da área.
(12) Parece-nos haver vários com o mesmo nome, sendo um vizinho da Terceira, que em 1514 armou um navio para as partes da Guiné. Aquele que nos interessa era em 1512 escrivão e feitor em Santiago surgindo inúmeras vezes no tráfico de escravos, de dentes de marfim nos anos de 1513 a 1516. Confronte-se História Geral de Cabo Verde, corpo documental, t. II, págs. 87, 111, 126-127, 154
1558
Os franceses sobem o Senegal
GASPAR RODRIGUESMora na Rua de São Pedro da Ribeira Grande Casado com Vera da Cruz de Cabedo. Pai de Domingos Rodrigues Viegas Escrivão da correição (1558) Almoxarife de Santiago (desde Maio de 1559-1572) Tesoureiro dos dinheiros dos defuntos de Santiago (1563-1566?) Tabelião da cidade da Ribeira Grande (1578) Dono de navio (1564) Proprietário de escravos (1567) Ouvidor e mordomo da confraria de Nossa  Senhora da Conceição e de São Pedro (1577) Herda de seus sogros uma capela na vila de Moura (1595)
1559
LUÍS DE CARVALHAL Genro de MIGUEL NUNES, representante do rei em S. Domingos no negócio do tráfico negreiro (1560) Tesoureiro das fazendas dos defuntos e ausentes da ilha de Santiago (1559-1562) Mercador (1560) No ano de 1562 obteve licença real para ir à Corte por dois anos “negociar seus negócios”
DUARTE RODRIGUES, Escudeiro do Rei Irmão de Manuel Rodrigues Casado com Catarina Fernandes de Andrade Teve 3 filhos legítimos e 6 filhos naturais de suas escravas que serão também seus herdeiros. Falecido em 1574 – Foi sepultado na Ribeira Grande, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na capela onde jazia sua mulher Recebedor dos empréstimos do Rei (1560/1562) – “Digo que do tempo que fui recebedor dos empréstimos que Sua alteza mandou lançar nesta ilha, havia dez ou doze annos /…/ eu fiquei devendo ao dito Senhor cento e seis mil reis os quaes entreguei a Lopo Fernandes, que Deus tem vedor (feitor) do trato que foi nesta ilha /…/” Irmão da Santa Casa da Misericórdia - tem um leito (cama) que sustenta no hospital da Misericórdia (1559) Teve negócios em Sevilha e no reino: Procurador de mercadores do reino e de Sevilha (1559, 1572) Proprietário rural – instituidor da capela da Nora, em S. Domingos Testamento (1572) – Diz que tem em casa “em ouro amontoado sete mil seiscentos cruzados, pouco mais ou menos…”; em dinheiro tem “oito mil seiscentos cruzados, pouco mais ou menos”
1562
Roubos dos ingleses na Guiné, Serra Leoa e ilhas de Cabo Verde (1562-8) - As vítimas principais toram ANTÓNIO GONÇALVES DE GUSMÃO e DUARTE LEÃO, que eram então os contratadores da Guiné. Trata-se das bem conhecidas viagens de John Hawkins e John Lowell, do ciclo inglês das chamadas «viagens triangulares». Nestas viagens não há propriamente gastos feitos na Inglaterra para comércio na Guiné; mais realisticamente, o dinheiro era despendido em fortes e bem artilhados navios (alguns eram mesmo da Rainha) e em aguerridas tripulações, que se iam encher de glória em roubar desarmados e desprevenidos navios dos «aliados» portugueses espalhados pela Guiné em pacíficas fainas de comércio. Depois de esvaziados das cargas, ou eram levados, para engrossar a bélica armada a caminho da América, ou eram destruídos em  parte, e as tripulações, depois de maltratadas, eram largadas em terra. Antes disso, porém sob a ameaça de torturas, tinham de assinar declarações em que afirmavam que tinham vendido os bens na realidade roubados (esta prática também surge com frequência em documentos relativos a roubos de franceses). Chegou-nos o processo organizado pelo juiz da Guiné e Índia, relativo aos roubos feitos na Guiné neste período por quatro armadas inglesas, e dele respigamos os seguintes elementos:
JOHN HAWKINS, 1562-1563: roubados 1 navio no Riodas Pedras, 2 no Rio Caces e 3 no Rio Mitombo (Serra-Leoa), no valor total de 62.000 ducados.
John Hawkins, 1565-1566: roubados 11 navios no Rio Mitombo e Rio Caces, no valor total de 53.000 ducados. Um dos navios capturados no Rio Caces estava carregado de cola; é a mais antiga referência conhecida ao comércio marítimo de cola entre a Serra Leoa e os rios do norte (Gâmbia ao Grande), importante rota marítima que «dobrava uma antiga e importante rota terrestre, e cujo segredo e exclusivo os portugueses conseguiram guardar por muito tempo.
JOHN LOWEL, 1566-1267: além de roubar um navio junto da península de Cabo Verde, roubou 4 nas águas do arquipélago de Cabo Verde (um deles na lha de Maio, carregado de sal), no valor de 28.000 ducados.
John Hawkins, 1567-1568: roubados 6 navios dentro do Rio S. Domingos e assaltada a povoação de Cacheu (ficamos a saber que já ai havia uma feitoria em terra. Total dos prejuízos: 57.000 ducados. Roubados 3 navios na Serra Leoa, no valor de 24.000 ducados, além de feitos assaltos em terra.
Os principais artigos roubados eram escravos, cera e marfim. Os escravos eram levados para a América Central, a fim de os espanhóis os trocarem a bem ou a mal pelos seus produtos.
JOHN HAWKINS (ou Hawkyns: nascido em - lymoutth em 1532 de uma família muito próxima do trono britânico (o pai, William Hawkins, foi confidente de Henrique VIII e um dos seus principais comandantes da armada), foi primo segundo de Francis Drake. Construtor naval, mercador e navegador, Hawkins fez três viagens de corso – na primeira, em 1562/63, circulou pelas costas de África (da Serra Leoa a Cabo Verde) e pelas Caraíbas; na segunda, em 1564/65, voltou aos mares de Cabo Verde e devastou armadas espanholas nas Caraíbas e nas costas da Florida; na terceira, 1567/69, não há notícia de ter passado por Cabo Verde, centrando-se então pela América do Sul (principalmente em San Juan de Ulua). Nomeado Almirante pela Rainha Isabel I, foi ele o idealizador da táctica naval que destroçou a “Invencível Armada” espanhola em 1588. Foi Hawkins quem iniciou o tráfico de escravos negros em Inglaterra e também ele quem incentivou Drake a incursões nos mares africanos), ataca ao largo da Ribeira Grande.
1563
DIOGO DE AVELAR Estante em Bugendo, Guiné (1563) Casado com Maria Duarte, mulata, filha natural de DUARTE RODRIGUES Recebe de dote de matrimónio 1500 cruzados, várias peças de escravos, pagamento de dívidas que possuía, jóias de ouro etc Proprietário rural - Administrador da Capela instituída por Duarte Rodrigues (seu sogro) e tutor de seus filhos (1574)
1565/07/15
Por alvará de 15 de Julho de 1565, a coroa volta a confirmar os direitos do HOSPITAL DE TODOS OS SANTOS de Lisboa ao espólio dos tangomaus falecidos na Guiné.
É tão interessante um artigo que encontrámos do sr. J. Tavares de Macedo no Boletim do conselho ultramarino relativamente ao que eram os tangomãos de Guiné, de que fala uma provisão regia de 15 de Julho de 1565 extractada por DUARTE NUNES DE LEÃO na sua compilação das Leis extravagantes.
«Estes tongomãos eram uma sorte de gente que, ainda que no nação eram portugueses e na religião ou baptismo cristãos, viviam porém de tal maneira, como se não fossem nem uma cousa nem outra. Muitos deles andavam nus, e para mais se acomodarem com os naturais riscavam, como os gentios, o corpo todo com um ferro, ferindo-o até tirarem sangue, e fazendo nele muitos lavores que depois untavam com o sumo de certas ervas representando várias e muito extravagantes figuras.
Desta maneira andavam por toda a Guiné tratando e comprando escravos por qualquer título que os podiam haver, bom ou mau, e tão esquecidos de Deus e de sua salvação como se fossem os próprios gentios do país, passando nesta vida vinte e trinta anos sem se confessarem nem se livrarem de outra vida neste mundo 
De forma que os missionários, vendo a perdição desta gente, quando acontecia os tangomãos virem a locais onde havia igrejas, tratavam de os encaminhar, mostrando-lhes o mau estado em que andavam para os reduzir a melhor vida, resultando que conseguiram confessar e fazer arrepender alguns. Tanto assim, que sendo reputados ilícitos os bens adquiridos, não permitiam as nossas leis que os filhos e mais parentes herdassem senão em caso de haverem obtido o perdão dos ministros de Deus e do governode contrário era a sua fazenda aplicada para o hospital de Todos os Santos da cidade de Lisboa.
Depreende-se disto que, embora ainda no meado do século XVII houvesse portugueses em Guiné entregues, sem temor de Deus e dos homens, a uma vida tão brutal, não sóeram os seus bens em castigo applicados para uma obra tão pia como o tratamento da pobreza enferma; mas tambem que o governo portuguez não se esquecia de chamar os tangomãos quanto lhe era possivel á vida civilisada e christã, abominando-se não só o esquecimento de todos os pensamentos de religião, como os meios ilícitos empregados pelos tangomãos para haver os escravos
1570
rei de Portugal DSebastião introduz grandes limitações à escravização de ameríndios.
1571
«TOMÁS DE MERCADOum frade dominicano espanhol, economista da Escola de Salamanca e que crescera no México, publicou em 1571 o tratado Summa de tratos y contratos, que contém o capítulo «Del trato de lonegros de Cabo Verde». Nesse texto, considera lícito tráfico de não-cristãos, desde que tenham sido feitos escravos em três situações específicas: em resultado de guerras justas; corno castigo imposto pelos reis por delitos públicos; vendidos pelos pais em caso de necessidade, para bem dos filhos. Mas não deixa de reconhecer ser «pública voz y fama que en resgatar, sacar y traer los negros de su tierra para Índias para acá [para Espanhahay dos mil enganos y se hacen mil rabos y se cometen mil fuerzas».
TOMÉ GOMESTeve uma filha mulata, Úrsula Gomes, com uma escrava que legitima em 1571  Clérigo de missa Chantre da Sé de Santiago (1571)
1574
Os avençadores ou sub-arrendatários dos contratos podem ser de qualquer Português ou estrangeiros. Em muitos casos, eles na verdade eram comerciantes espanhóis, os titulares de licenças comerciais concedidos pelo rei espanhol a introdução de escravos para as colónias espanholas americanas quem precisava estabelecer contratos com os portugueses Contratadores no controle das áreas de monopólio comercial. Por exemplo, ANTÓNIO NUNES DO ALGARVE e FRANCISCO NUNES DE BEJAContratadores do monopólio real, Cabo Verde e Guiné, entre 1574 e 1580 assinou um contrato com João de Gusmão, em nome de vários vizinhos do México, concedendo-lhes permissão para comprar 500 escravos na região da Guiné-Bissau e transportá-los para o México. JOÃO DE GUSMÃO era titular de uma licença comercial real do rei espanhol a introdução de escravos para as colônias espanholas americanas. O carregamento dos escravos na Região de Guiné-Bissau iria ser supervisionada pelos factores da Contratadores servindo nesta região; enquanto o pagamento dos direitos sobre os escravos tinha de ser feitas no porto de San Juan de Úlva (México) com os proxies dos portugueses Contratadores no local, dentro de um prazo de dois meses. O valor dos pagamentos teve que ser enviado para Sevilha através da Frota real espanhola em dinheiro ou mercadoria (prata, ouro ou pérolas.
Por outro lado, o acesso às áreas de monopólio real na África ocidental só foi possível para os habitantes dos arquipélagos e os comerciantes segurando licenças comerciais emitido pela coroa ou a Contratadores trocar temporariamente na área. Muitos comerciantes de Portugal e outras áreas estabeleceram parcerias comerciais com os comerciantes-cidadãos de ambos os arquipélagos, pelo menos até a década de 1590.
ANTÓNIO DÓRDIO, Cidadão da cidade da Ribeira Grande  Mercador – compra escravos para serem carregados para a Índia de Castela (1574)
1579/05/22
OS JESUÍTAS TRAFICANTES DE ESCRAVOS?
Trata-se de uma pergunta retórica. Em todos os espaços do Império, entre os séculos XVI e XVII, não há praticamente nenhuma ordem religiosa que não esteja comprometida, de uma forma ou de outra, com o tráfico de cativos.
Em Angola, os próprios franciscanos, apesar do rigorismo da sua regra, aparecem a comprar e a vender escravos.
Em Cabo Verde, no início do século XVII, vemos os padres da Companhia de Jesus a enviar escravos para Cartagena das Índias como forma de angariarem receitas para o seu trabalho evangélico no arquipélago, que procuravam alargar ao continente africano. E, neste caso, com o pormenor muito curioso de um dos seus agentes na América Central ser, nem mais nem menos, o padre Alonso de Sandoval, um outro jesuíta, que ficou famoso por ter escrito De instauranda Aetiopum salute, um livro, que já citámos várias vezes, sobre os problemas religiosos levantados pelo tráfico de escravos e muito crítico em relação à desumamdade deste. No melhor pano cai a nódoa.
A exportação (neste caso de escravos; no caso do Brasil, de açúcar) era particularmente atrativa, devido ao facto de os jesuítas estarem isentos do pagamento de direitos alfandegários por carta régia de D. Henrique (22 de maio de 1579), confirmada por D. Filipe III (19 de junho de 1634), dada de «esmola às casas e colégios da Companhia de Jesus e aos religiosos dela», em todos os bens móveis que «comprarem, venderem ou escambarem, em quaisquer partes dos meus reinos, que forem para maneio e uso das ditas casas e colégios e religiosos delas»

Os superiores da Companhia tinham as maiores dúvidas sobre a bondade da participação dos jesuítas em qualquer tipo de tráfico de escravos. Em 1586, o procurador das missões Jerónimo Cardoso, numa carta dirigida ao padre Cláudio Aquaviva, prepósito-geral da Companhia de Jesus em Roma, manifestava a sua oposição e procurava a solidariedade do responsável máximo. Nessa carta, escrita de Lisboa, em castelhano, o padre Cardoso diz desejar que «os nossos» que tratam do ministério da confissão não deem ofensa nem uma acerca de comprar e vender os índios (creio que se deve entender a expressão o sentido geral de indígenas ) segundo os costumes daquelas partes.
1580




«Passando o Porto de Cacheo por hum esteiro acima o Norte vão dar em S. Domingos, terra dos Banhuns, no quallugar, no beira-mar deste esteiro, está huma aldeia grande, povoada de muitos negros e muitos dos nossos, por causa do muito trato que havia nesta terra dos escravos, mantimentos, e cera mais que em nenhuma das partes de Guiné; mas os negros desta aldeia por serem muito entendidos e praticos da nossa lingua, tratavão muito mal aos nossos, dando-lhes mutas pancadas, e capeando-os, tomando-lhes os chapeos e as espadas em toda a hora do dia, e fazendo muitos roubos importantes, com algumas mortes.
Estes Banhuns ficão cingidos por baixo dos Buramos, e pelas alas e por cima dos Casangas, e se estendem huns aos outros e usão as mesmas armas e os mesmos vestidos e juramentos da agoa vermelha. Ficão perto destes Banhuns ao Noroeste por outro esteiro, outros negros da mesma Nação chamados Chãos, os quaes tem sempre tesa guerra com estes outros; e são muito belicosos e dão muitos assaltos na terra destes outros, fazendo muitas prezas de noute della. E o rei destes Chãos he muito amigo dos nossos, e folga muito com elles. Estão muitos na sua terra, na qual acodem muitos escravos, mantimentos, cera e marfim, e as mesmas mercadorias que valem e correm na terra dos Buramos valem da mesma maneira na dos Banhuns. Usão também estes  dos mesmos choros, e perguntarem aos mortos, quando morrem, quem os matára.
Erão tão máos estes negros da aldeia do BUGUENDO para os nossos e os tratavão tão mal que se não podia sofrer, e não se tinha por honrado negro que lhes não tomava os chapeos e lhes desse bofetadas e pancadas. E havia muitos negros da casa do rei chamados, huns, Reinaldos, e outros, Roldões, e outros nomes desta qualidade; e quando vinhão a esta aldeia traziam huma esquadra de negros velhacos e vadios diante deles, que vinhão dizendo aos nossos: "Lá vem Reinaldo, lá vem Roldão;” para que lhes fizessem prestes e aparelhassem o que lhes avião de dar; e tanto que não havião isto os tratavam muito mal. E com todas estas cousas sofriam os negros.
Haverá como 10 annos que FRANCISCO D’ANDRADE, Sargento-Mor da Ilha de S. Tiago, indo as ditas partes, e vendo o mao tratamento que os negros fazião aos nossos, se concertou com o Rei de Casa-mança, chamado Masatamba, amigo nosso, e passou os nossos, que estavão nesta aldeia, a um porto deste Rei, que está indo pelo Rio de Farim acima, e faz ali hum braço pequeno, que vai dar na primeira terra deste Rei chamada Sarar; no qual fizérão uma aldeia, a que puzérão o nome de S. Felippe, por amor de S. Magestade, por haver muito pouco tempo que tinha tomado posse dos Reinos de Portugal. A aldeia de Buguendo, donde se mudarão os nossos, he terra muito enferma, onde sempre morria muita genteesta de S. Feplippe, para onde se mudarão os nossos, não he sadia, por ser lugar alagadiço e de muitos charcos de agoa, mas he terra muito segura, onde se não faz mal a cousa nenhuma; e estão os nossos nella muito seguros. He toda coberta de arvoredos de palmares e outras arvores e tem boas aguas, e alguma ribeiras frescas. D’ahi a Brucama, que he Côrte do Rei de Masa-tamba, he jornada de hum dia.» Pedro de Sarmiento de Gamboa
1581
Os «tratos da Guiné» distribuem-se por três zonas –  Costa do Jalofo (do Rio Senegal ao Rio Berbecim), os Rios de Guiné (daí ao Cabo Sagres) e a Serra Leoa, que pelo sul confina com a Costa da Malagueta (a qual vai até ao Cabo dasPalmas). Comercia-se com os negros em numerosos pontos; em 1581, FRANCISCO DE ANDRADE indica dez «tratos» principais, que são, de norte para sul, Bezeguiche (angra de Cabo Verde), Porto d'Ale e Joala (na Costa do Jalofo), Rio BerbecimRio Gambia, Rio de S. Domingos com o Rio Casamansa, Rio Grande, I. Bijagós e Rio Nuno (nos Rios de Guiné) e a Serra Leoa (com vários locais); o Rio Senegal, onde de começo houve um bom comércio, já está abandonado aos francesesObtêm-se escravos (por toda a parte, mas sobretudo nos tratos do Rio S. Domingos e Rio Grande), ouro (sobretudo no Gâmbia e Serra Leoa), marfim, cera, além de mantimentos (arroz,milho), ferro, panos e anil, usados estes últimos noutros locais da mesma área.
1582
Quanto à Ribeira Grande que nos anos de 1582 e 1583 havia sido saqueada pela armada inglesa, composta de mil homens sob comando de Francis Drake, continuou à mercê dos piratas. Estas incursões predatórias constituíram-se em forte razão para que os habitantes do litoral, tanto vila  da Praia, como cidade da Ribeira Grande se dirigissem para o interior, tentando proteger-se pelo relevo montanhoso. Santa Catarina, no interior da ilha de Santiago, passou assim a ocupar o lugar da demolida cidade da Ribeira Grande por também oferecer a possibilidade do cultivo de produtos como o milho e o algodão, tanto para a subsistência da população local, como para o abastecimento de navios. Quanto aos escravos fugiram para as montanhas, formando pequenos povoados, onde cultivaram suas parcas lavouras de subsistência, onde comunidades de africanos livres se formavam já nos meados do Séc. XVI. Estas gentes tornaram-se conhecidas como "badius" (vadios).
 A Conta das Ilhas de Cabo Verde, de Francisco Andrade, fornece provas do crescimento das comunidades de escravos em Cabo Verde. Andrade agrupa a população combinada do Fogo e de Santiago, 13 408 pessoas, em categorias. Estas incluem 508 "vezinhos" (habitantes), donos de 5 000 escravos, e 200 rendeiros, donos de 1 000 escravos. Os colonatos no interior eram compostos por 600 brancos e pardos (de sangue misto), 400 negros livres casados e 5 000 escravos. A população do Fogo era dada como sendo de 300 rendeiros e 2 000 escravos. Apenas 12,7% dos habitantes de Santiago e do Fogo eram pessoas livres.
Em meados do Séc. XVI, a arte da fiação assentou raízes em Cabo Verde. O pano de algodão, tingido de anil e fiado nas Ilhas, tornou-se parte da carteira de produtos trocados no comércio de escravos. Os artesãos africanos que foram trazidos para Cabo Verde para fundarem a "indústria da fiação" eram Jalof (Walof), Mandinga, Seninkes, Biafares, Sassos (Susu), Felupes (Fulani), Papeis (Papels) e Banhuns. António Carreira, o distinto historiador caboverdiano, relata que os melhores fiadores eram do povo Mnadingo. Os panos eram tecidos em teares de pedal de banda horizontal estreita.
Carta de DIEGO FLOREZ DE VALDEZ a D. Filipe I sugerindo a melhoria da defesa da ilha e a mudança do porto principal para a vila da Praia. A cidade conta 508 vizinhos, "5700 escravos de confissão, afora os menores" e para a sua defesa dispõe de três baluartes de vigia: o da Vigia, o da Ribeira e o de São Brás (BRÁSIO, 1958).


ANTÓNIO DE ALMEIDA Pai de Maria de Almeida, casada com Pedro de Andrade que herda o ofício de meirinho da correição (1616) Em 1590 esteve em Lisboa Faleceu (1609) Escrivão das fazendas dos defuntos e ausentes de Santiago (1582-1584) Meirinho da correição de Santiago (proprietário do ofício) (1590-1609) Procurador de mercadores, moradores na cidade de Lisboa (1590, 1597) Feitor ou procurador de Francisco de Paiva - devia entregar 30 peças de escravos ao mestre do navio pertencente a FRANCISCO DE PAIVA (1604).
1583
Os casos mais conhecidos são, no século xvi, os do padre MIGUEL GARCIA, professor de Teologia, de origem castelhana, e do padre GONÇALO LEITE, natural de Bragança, primeiro professor do curso de Artes no Colégio da Baía, que foram mandados sair do Brasil e voltar à Europa, uma vez que se recusavam a confessar quem possuísse escravos, incluindo os próprios superiores, padres e irmãos do colégio. MIGUEL GARCIA, o mais combativo dos dois, defendia que «nenhum escravo da África ou do Brasil era justamente cativo». Segundo ele, «a multidão de escravos que a Companhia [de Jesus] tem nesta rovíncia...é coisa que e  maneira nenhuma posso tragar, por não poder entrar no meu entendimento serem licitamente havidos.»
O visitador padre CRISTÓVÃO DE GOUVEIA, em missão de inspeção no Brasil (1583-1589), assustado com a possibilidade de contágio destas «opiniões novas em coisa de tanto peso», reuniu-se com os padres do Colégio e apresentou pareceres (que já trazia consigo ou eram públicos) dos padres de Angola, do bispo de São Tomé, da Mesa da Consciência e Ordens, em Lisboa, e de vários letrados e teojuristas da Europa, entre os quais FERNÃO PERES e o célebre LUÍS DE MOLINA. Nenhum deles duvidava, segundo concluíram, de que poderia haver cativeiros justos.
1585
ANDRÉ DONELHA esteve no Rio Gâmbia e é provável que tenha feito outras viagens à Guiné. André Donelha aparece-nos como capitão de naus do trato (i. e. do contrato de Cabo Verde) em 1585, fazendo o inventário da fazenda de uma outra nau dos contratadores, que manda entregar a Diogo Henriques (1), que seria então feitor daqueles (2).
(1) Cfr. Donelha, Descrição, pp. 154/156.
(2) Corresponde certamente ao DIOGO HENRIQUES que terá contrato já em 1590-1594, cfr. a lista dos contratos em M. M. F. TORRÃO, Tráfico de escravos entre a Costa da Guiné e a América Espanhola…, vol. I, p. 283. Donelha refere-o ainda na condição de feitor do contratador. 
1587
GARCIA MENDES (1598) Feitor na ilha do Maio do rendeiro da ilha (1592) Feitor dos contratadores da ilha de Santiago (1593,1594) Mercador Procurador de moradores de Lisboa (1587- 1601) Comprou 1.215 peles da ilha da Boa Vista (1596) Passou procuração a seu irmão SIMÃO DE OLIVEIRA e a PERO VAZ DE LEMOS para negociarem nos Rios de Guiné certas mercadorias e as trocarem por escravos para Cartagena (1601)
1588
ÁLVARO CORESMA, Nasceu em 1568 Natural de Santiago Irmão de Simão Coresma e de Manuel Coresma Em 1588 é morador em Lisboa na Praça da Palha Em 1594 volta para Santiago. Mora defronte à Misericórdia da Ribeira Grande (rua do Calhau) No ano de 1615 encontra-se em Lisboa Tesoureiro das fazendas dos defuntos e ausentes da ilha de Santiago (1611) Mercador – mercador de escravos (1588, 1596, 1598) Procurador de moradores e comerciantes reinóis (1594-1597) Tem autorização para que possa “…vender cartas de jogar …” em Santiago e no Fogo (1600). Tem relações comerciais intensas com as Canárias (1607), para onde vende escravos e outras mercadorias. No ano de 1610, recebeu 316 alqueires milho da Costa da Guiné. Mordomo da Confraria Nome de Jesus (1612)
1590
HENRIQUE PEREIRA TENÓRIO (Funchal, 1562 - Amesterdão, 1624) Filho de António Pereira e de Maria Rodrigues, Henrique era advogado, formado na Universidade de Coimbra, mas também um importante negociante estabelecido em Lisboa. Os seus avós matemos eram Manuel Rodrigues e Maior Fernandes. Do lado do pai, era neto de Inigo Lopes. Na sessão de genealogia do seu Processo inquisitorial (13 de Julho de 1601), Henrique disse ser apenas cristão-novo por parte da família materna.
Do lado da sua mãe, referiu três tios: Jorge Rodrigues, morador em Pernambuco; Duarte Rodrigues, escrivão em Tânger; e António Rodrigues, boticário da Rainha. Naquele momento, tinha apenas quatro irmãos vivos: Agostinho Pereira, mercador nas Índias de Castela e na Guiné;Maior Rodrigues, casada com Gaspar Lopes Homem e mãe de Manuel, António e Francisco Lopes Pereira e de Justa Pereira (b); Ana Rodrigues e Isabel Pereira, ambas solteiras e residentes na casa de Henrique.
Quanto aos irmãos já falecidos em 1601, Henrique mencionou: Diogo Lopes Pereira, mercador na ilha da Madeira· Manuel Pereira, residente em S. Miguel; Simão Fernandes, falecido na Guiné; e Justa Pereira, esposa de António Mendes Fidalgo e mãe de Afonso e Rodrigo Fidalgo e de Diogo Mendes Fidalgo.
Era casado com Maria Rodrigues e à data do seu processo inquisitorial, ainda não tinha filhos. HENRIQUE liderava urna rede de comércio internacional ligada ao trato de açúcar, escravos e outros géneros comerciais, constituída, principalmente pelos sobrinhos AFONSO, RODRIGO e DIOGO MENDES FIDALGO. Efectuava a maioria das transacções a partir de Lisboa, enviando vinhos para Pernambuco e comprando escravos para serem trocado por açúcarHenrique responsabilizava o sobrinho Afonso pela aquisição do açúcar. Serve de exemplo a transacção desta mercadoria registada numa carta que o biografado enviou ao sobrinho, a 8 de Maio de 1595. A carta deveria ser entregue a Manuel Lopes Homem, contratador de Amesterdão, caso Afonso estivesse impossibilitado de a receber. A 10 de Março de 1601 Henrique Pereira Tenório foi preso pela Inquisição de Lisboa. Residia, então, naquela cidade, junto às Pedras Negras. Alguns dos seus parentes já haviam sido apanhados nas malhas da inquisição, como eram os casos das irmãs Maior Rodrigues, Ana Rodrigues e Isabel Pereira e do sobrinho Afonso Fidalgo.
Henrique acabou por confessar que apenas fora induzido pelo cunhado Gaspar a ajudá-lo. Este dissera-lhe que pretendia partir para o Ruão e dali seguir para Roma, onde negociaria o seu perdão. O facto de ter tratado das condições para a fuga, oferecendo 36 mil réis ao barqueiro, foi a única culpa que Henrique confessou. De resto, apresentou a sua defesa, alegando ter sido sempre um bom e fiel cristão. A 17 de Janeiro de 1605, beneficiou do Perdão-Geral e foi posto em liberdade
Segundo Gonçalves Mello, Henrique teria fugido, mais tarde, na companhia do sobrinho Afonso Fidalgo, para Amesterdão, onde viria a falecer.
1593
«O jesuíta espanhol LUÍS DE MOLINA, que foi professor em Coimbra e Évora de 1563 a 1583, desenvolveu, no seu livro De justitia et jure (primeira edição publicada, em Cuenca, entre 1593 e 1609), uma teoria geral do Direito, tendo em atenção os problemas jurídico-económicos do seu tempo. Nesse sentido, não lhe escapa a questão da escravatura, que, também ele, admite ser justificável em certas circunstâncias que não diferem muito das de Mercado: prisioneiros em guerra justa; pena por delito grave; venda de si mesmo por um adulto consciente e livre; por nascimento.
Em contrapartida, considera que o tráfico de escravos (de que se informara bem em Portugal quando por cá andara) era injusto e ilícito e que aqueles que se dedicavam ao dito negócio, vendedores e compradores, estavam em pecado mortal, sujeitos, por isso, à condenação eterna.»
ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS, O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos xXV a XIX, Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera do Livro, Lisboa, 2013, pg. 43
1594
«Já em 1594 os portuguezes residentes na Guiné andavam associados com francezes e inglezes, sendo causa d'isto «o terem os porluguezes de cá deixado de ir áquelle resgate» como diz Alvares de Almeida. Por longo tempo acreditaram os portuguezes, que só pretos se podiam exportar da Guiné; e, em quanto nós pensávamos assim, outros tiravam d'aquelle território oiro, marfim e outras mercadorias valiosas. D. Pedro II, no intuito de acudir a este estado de decadência do commercio portuguez na Guiné, creou a COMPANHIA DE CACHEU E CABO VERDE, a que a fazenda emprestou 200:000 patacas para a exportação de escravos destinados ás colónias hespanholas. Esta ephemera creação de uma economia barbara, fundada sobre a escravatura e o monopólio, extinguiu-se em poucos annos.» 
Estudos Sobre as Províncias Ultramarinas, por JOÃO DE ANDRADE CORVO, Volume I, LISBOA, POR ORDEM E NA TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS, 1883, pg.50
1595
Mercadores portugueses asseguram, até 1640, o asiento, o fornecimento exclusivo de escravos à América Espanhola.
Em 1595, o carmelita Cipriano denunciou, à Inquisição de Lisboa, HENRIQUE LOPES, mercador cristão-novo activo no porto de Cacheu, então vivo centro do comércio de escravos na costa da moderna Guiné-Bissau. Acusava-o de ter vendido ao soberano não cristão da vizinha Bichangor um escravo negro depois de o fazer baptizar.


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