segunda-feira, 7 de março de 2016

COLONIZAÇÃO DA GUINÉ 1482-1499







1482
«Alguns desses escravos não chegavam a sair de África pois, comprados pelos portugueses no delta do rio Níger e noutros locais, eram vendidos na Costa do Ouro em troca de metal precioso. Calcula-se que, entre 1482 e meados do século XVI, tenham sido objeto desse comércio inter-regional cerca de 30 mil africanos19
19 Joseph B. Ballong-Wen-Mewuda, “Africains et Portugais: tous des négriers…”, pp. 35-36»
ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS, O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos xXV a XIX, Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera do Livro, Lisboa, 2013, pg. 29
1482- Construção da feitoria fortificada de São Jorge da Mina (depois Elmina Castle).
A angra de Bezeguiche, actual baía de Dakar, é limitada a norte pela península de Cabo Verde. Foi descoberta pelo navegador português Dinis Dias em 1444. Diogo Gomes aí manteve relações com um chefe local denominado Bezeguiche, do qual a angra tomou o nome. Dotada de bons fundeadouros, com vários locais disponde de água (inclusive a ilha da Palma, actual Gorée), desde edo os portugueses comerciaram na região com os nativos, habituando-se a ali procurar abrigo e a sepultar os seus mortos na ilha da Palma, onde ergueram uma capela em 1482.
Teixeira da Mota data estas viagens de COLOMBO à Guiné nos anos de 1482 e 1484. Tais expedições foram fundamentais para o incremento da sua experiência de navegação. Cristóvão teve, assim, a oportunidade de experimentar outras condições climáticas, contactar com outras terras e gentes e de praticar o uso do quadrante e do astrolábio. Aliás, o seu diário de bordo da primeira viagem ao continente americano revela como passou a ter a Guiné como principal ponto de referência e de comparação. Por outro lado, este foi também o momento em que se iniciaram os equívocos que conduziram à identificação da costa de um novo continente com a do Extremo Oriente. Na Guiné, Colombo efectuou medidas utilizando um modo de cálculo que se baseava nas milhas muçulmanas. Ora, o genovês relacionou directamente a milha muçulmana com a romana, muito mais curta. Assim, passou a crer que a circunferência do globo terrestre era bem mais curta do que o que se acreditava na altura e do que efectivamente é.
1483/04/15
DR. BRÁS AFONSO Em 1483.Abril.15 recebe uma tença anual de mantimento de 30.000 reais brancos, consignado no provimento a juiz dos feitos da Guiné e da Mina e do Desembargo e Petições.
1483/05/29
Nesta época, havia em Portugal duas famílias cujas fortunas somadas eram superiores à riqueza da Coroa Portuguesa e por isso queriam impor-lhe a sua vontade e conspiravam contra D. João II: os Duques de Bragança e os Duques de Viseu. A 29 de Maio de 1483, D. Fernando, Duque de Bragança, foi preso e, depois de um processo rápido e julgamento, foi degolado na Praça Pública de Évora a 21 de Junho desse  ano por alta traição. Os seus bens e os bens dos seus seguidores, que fugiram do país, foram confiscados e entregues à Coroa.
1484/08/28
Ao jovem Duque de Viseu, D. Diogo, irmão da sua esposa, D. Leonor, tendo D. João II conhecimento por diversas vias de chefiar conspiração contra ele, o rei, apunhalou-o com as suas próprias mãos, sem prévio julgamento a 28 de Agosto de 1484 no Castelo de Palmela.
O ducado de Viseu e Beja de que as ilhas faziam parte passa por um período de instabilidade porque D. Fernando havia falecido em 1470, sucedendo-lhe o primogênito que veio a falecer em 1472 e D. Diogo, o segundo filho, se mostrou discordante da política centralizadora do rei D. João II, o qual participou inclusive na tentativa de assassina-lo, acabando ele por ser assassinado pelo rei em Agosto de 1484 e o patrimônio confiscado pela coroa. O Arquipélago de Cabo Verde reverte, por morte de D. Diogo, para a Coroa.
- De prima inuentione Guinee…, de Diogo Gomes de Sintra, escrito em Latim (1484-1496)
JOÃO DE SANTARÉM é capitão-donatário de Alcatrazes. Armador (1484-1485). Navegador do século XV. Contratado por FERNÃO GOMES, donatário do comércio da costa de África, assumiu a obrigação de descobrir, anualmente, cem léguas de costa. Parece ter sido, com Pedro Escobar, o descobridor da Costa da Mina, do Calabar e do Gabão, bem como das ilhas de S. Tomé e Príncipe, em 21 de Dezembro de 1470. Em dia de Ano Bom de 1471 descobriu a ilha que, segundo o uso da navegação, recebeu este nome, a qual foi cedida à Espanha, juntamente com a de Fernando Pó, pelo tratado de 11 de Março de 1778.
1485
Afonso Correia Armador e capitão de um navio (1485) Carta de perdão (1487). Foi acusado da morte de um estrangeiro no rio da Gâmbia. É perdoado “contando que ele viva e morra na dita ilha de Cabo Verde dous anos continos”.
1485/01/14
Doção da capitania da metatde setentrional da ilha de Santiago a Rodrigo Afonso, sobrinho de Diogo Afonso, referindi-se que a recebaria “assim e da guisa que a teve Diogo Afondo.”
1486
1486 - É fundada em Portugal a Casa dos Escravos, com o fim de organizar todo o comércio de escravos africanos e cobrar as respectivas receitas régias.
1486-1493 - O banqueiro e armador florentino Bartolomeu Marchionni arrenda, em regime de monopólio, o «rio dos Escravos».
HEITOR MENDES Nomeado almoxarife da ilha de Santiago em 1486. Morre em 1488.
Almoxarifado Ao almoxarifado competia a cobrança do quarto sobre o movimento comercial, controle deste comércio, acompanhamento dos navios à costa ocidental africana para fiscalizar e registrar as trocas processadas. A partir do momento em que as ilhas deixam de ser donatarias senhoriais e foram integradas ao patrimônio real, o almoxarifado passou a cobrar a dízima da terra sobre a produção agrícola e pecuária. O escrivão do almoxarifado tinha por função anotar todo o movimento e passar os conhecimentos e certidões que comprovavam o pagamento ou que isentavam desta obrigação.
Falecimento de João Correia, escrivão do almoxarifado da ilha de Santiago.
Diogo Gonçalves, almoxarifado da ilha de Santiago (1486-1508). Proprietário rural. Falecido antes de 1508.
Tendo a crónica daquele cronista (Zurara) terminado naquele ano de 1448, apenas há informações acerca do comércio de escravos no tempo de D. João II, dando conta que, desde 1486 a 1493, entraram na Coroa vindos da Guiné 3.589 escravos.
1487
Em 1487 foi fundada uma feitoria no interior do continente, na localidade de Ouadane (ou Wadan). Na área foram feitas outras tentativas de fixação de feitorias, nomeadamente na região de Cofia e junto à foz do rio Senegal, todas elas goradas face à hostilidade das populações locais é à dureza do clima.
1488
«O commércio deescravos não era contrario  ás idéas cl'aquelle tempo, e nem a mor l, nem a reli­ gião pareciam conclemnal-o. Os mosteiros e as egre­ jas possuíam escravos; c os venezianos traficavam com escravos christãos no oitavo seculo. As bullas dos papas concediam aos principet-i catho1icos, e concederam ao infante D. Henrique  e a D. Affonso v, a faculdade, entre outras, (le reduzir a perpetuo captiveiro os  sarracenos  pagãos  e  outros  inimigos de Christo. Não  admira, pois, que, de  1441 a  1448, o  numero  de escravos  trazidos  da  Guiné subisse a 927, como se lê na Chronica do descobrimento da Guiné. O que na realidade admira, são os termos em que Azurara reprova e lamenta que os africanos sejam trazidos ao reino como escravos e vendidos como brutos, em mercados públicos. O desejo do infante D. Henrique era converter á fé de Christo os povos gentios; e, para isso, encommendara muito a seus capitães que buscassem trazer-lhe alguma d'aquella gente que povoava a Guiné : mas a cubica dos capitães, e as opiniões que naquelle tempo vogavam em todo o mundo, fizeram com que o resgate dos escravos tomasse rápido incremento, e se tornasse em poucos annos um dos mais lucrativos ramos do commercio da Africa.»
ESTUDOS SOBRE AS PROVÍNCIAS ULTRAMARINAS POR JOÃO DE ANDRADE CORVO Volume I LISBOA POR ORDEM E NA TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS 1883, pp. 12-13
«Após o brutal assassínio do rei dos jalofos, D. JOÃO BEMOIM, em 1488, pelo capitão PERO VAZ DA CUNHA (9), o promissor comércio do rio Senegal foi-nos fechado, e os moradores de S. Tiago, no começo do século XVI, tiveram o seu principal trato nos portos do reino de Budumel, particularmente na angra de Beseguiche, a leste do Cabo Manuel, à sombra da ilha de Goreia, num porto então chamado Porto de Gaspar, mudado mais tarde pelos franceses em Dakar (10).
Estes comerciantes brancos, vindos do Arquipélago, sobretudo de S. Tiago, familiarizaram-se com os negros e com as negras, aprenderam as línguas do país, enriquecendo~as por seu lado com vocábulos da própria língua materna, a língua portuguesa, e confiadamente se lançaram pelo sertão adentro, donde lhes veio o epíteto de Lançados.
«E bem depressa, ganhando as vontades dos povos com quem viviam, se tornaram eles e seus descendentes os únicos correctores por onde as nações da Europa podiam haver de pronto o aviamento de grandes carregações; mas habituando.-se àquele viver solto, esquecidos de Deus e da sua salvação como se foram os próprios negros e gentios da terra (assim os descreve o Padre GUERREIRO), esqueceram também o amor pátrio, e engolfados na cobiça de fazer cabedal se achavam sempre prontos a vender os seus serviços a qualquer que lhos pagasse; e por isso, quando no meado do século XVI entraram a aparecer nestas costas os corsários e piratas franceses e logo depois os ingleses, foi por via destes portugueses lançados que começaram a estabelecer um sistema de inevitável contrabando, o qual com a usurpação de Castela engrossou a ponto tal que os moradores de S. Tiago abandonaram pouco a pouco ao  comércio estrangeiro os portos da Senegâmbia e concentraram as suas especulações ao sul do Cabo de Santa Maria» (11)
 (10) Cf. LEMOS COELHO - Duas Descrições seiscentistas, p. 7.
(11) LOPES DE LIMA, Ensaios sobre a Estatística..., livro I, 2.ª parte, p. 87.»
Henrique Pinto Rema, As primeiras missões da Costa da Guiné, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Vol. XXII, N.os 87-88, Julho-Outubro 1967
«A fortaleza na foz do rio Senegal, à porta dos povos jalofos (pretos), com o apolo do seu rei cristão D. João Bemoim, seria óptimo baluarte e fonte de irradiação duma cristandade dum futuro florescente. O assassínio puro e simples, à punhalada, de Bemoim desfaz não a obra da fortaleza. que saía dos alicerces, mas também a promissora cristandade fora ao ar. Pero Vaz da Cunha escolhera um lugar mau para erguer uma fortaleza, alagadiço e doentio, e temia sobretudo que o mandassem lá ficar depois de concluída.»
Henrique Pinto Rema, As primeiras missões da Costa da Guiné 1434-1533, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, N.os 83, 1966
«Essa ideia de se fazer um forte na foz do Senegal não era nova, pois Pedro Vaz da Cunha, por alcunha o Bisagudo, já levara o encargo de D. João II para ali construir uma fortaleza, quando reconduziu para aquela região o Príncipe Bemoim, baptizado em Lisboa com o nome de João e filho do régulo daquela parte da costa da Guiné. Já estavam a construir a fortaleza, quando o Bisagudo matou o Bemoim dentro do próprio barco; justificou esse crime dizendo que o Príncipe prelo lhe preparava uma traição, mas correu voz de que assim fizera para se livrar do dificultoso encargo de construir um forte em clima tão malsão, tendo-lhe já morrido muita gente (4).
(4)Asia de Joam de Barros, Lisboa, 1552, ff. 30v...33v.»
Francisco Leite de Faria, Relação do Porto de Rio Senegal feita por João Baptista Lavanha, Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, nº 55, 1959
Francisco Geraldes recebeu carta de Escudeiro da Casa do Rei na ilha de Santiago.
Gonçalo Narciso Escudeiro da Casa Real Almoxarife da ilha de Santiago
Por este tempo corria mui prospero o Commercio, que os Portuguezes conservavão com os Negros Jalofos, que povoão o espaço compreendido entre os dous Rios Senegal, e Gambia, cujo Soberano era Bemoy (2) homem prudentee, e sagaz, que conhecendo as vantagens que poderia colher do auxilio de Porrugal, para realizar alguns projecyos políticos, deo-se a cultivar a sua amizade. Para este fim abandonando o sertão, veio esrabelecer·se na Costa maritima, onde concorriam as embarcações Portuguezas com cavallos, e outros generos de muito valor; e tratava os Officiaes, e Feitores com o favor, e verdade, principalmente se erâo de navios d' ElRei, a quem mandava alguns presentes de cousas curiosas, que este Monarcha acceitava, e retribuía com outros. E como ouvio dizer, que Bemoy tinha hum juizo claro, enviava-lhe mensageiros para o persuadirem a deixar o Mahometismo, e abraçar a Religião Catholica, de que elle até alli se escusára, posto que dando sempre algumas esperanças de mudança.
1 Ruy de Pina, Cap. 17. - Barros, Decada 1., Liv. 1, Cap. 6- Faria, Asia, tomo I. Parte I.
Tal era o estado das cousas, quando Bemoy se achou envolvido em huma perigosa guerra civil, em que a fortuna lhe foi contraria; e querendo valer-se do favor d'ElRei, mandou um sobrinho a Lisboa, a pedir-lhe auxilio de armas, e soldados, a cuja proposta respondeo ElReique não o podia  ajudar, senao no casod e fazer-se Christão; e ao mesmo tempo lhe remeteo hum presente de cavallos por Gonçalo Coelho, Commandante de hum navio da Coroa, com o qual se retirou o Embaixador.
Passado mais de hum anno, voltou Gonçalo Coelho a Portugal, trazendo comsigo o mesmo Embaixador, que Bemoy tornava a mandar com hum presente de cem escravos escolhidos (Ruy de Pina diz, que tambem trouxe muito ouro), instando novamente pelo soccorro, e prorogando a sua mudança de Religião para depois da ruina dos seus iniimigos. Mas perrdendo agora huma nova batalha ficou tão derrotado, que tomou por ultimo expediente fugir ao longo do mar para o Castello de Arguim, onde se embarcou em hum navio mercante com alguns seus parentes, e sequazes, e neste anno de 1448 entrou em Lisboa, estando a Corte em Setubal.
ElRei, avisado desta inesperada vinda, o mandou hospedar em Palmella, e a toda a sua comitiva com a maior magnificencia; e no dia que entrou em Setubal, o sahio a receber, e acompanhar o Conde de Marialva, com os Fidalgos, e pessoas Nobres da Corte, vestidos de gala. Estavão ricamente armadas as casas da Alfandega, em que EIRei pousava, e as da Rainha, que erão junto a estas. Achava-se com EIRei o Duque de Béja, e muitos Titulares, Fidalgos, e Prelados; e com a Rainha estava o Principe D. Affonso.
Entrando na Sala Bemoy, que parecia de quarenta annos, alto, e bem apessoado, a barba mui comprida, e a presença agradavel, sahio EIRei dous ou trespassos do Throno, como barrete hum pouco fóra, e assim o levou ao estrado, em que havia huma cadeira, na qual se encostou em pé para o ouvir. Bemoy, e todos os seus se lhe lançárão aos pés, fazendo acçâo de tomar a terra debaixo delles, e de a lançar por cima das cabeças. EIRei o levantou, e por meio de Negros interpretes lhe disse, que fallasse. O Principe Jalofo, com muita discrição, e gravidade, fez hum longo discurso, em que lhe pedio socorro, e justiça, usando de termos, e sentenças tão apropriadas, que não pareciam de hum barbaro; concluindo que afinal, se a esta sua pertenção era obstáculo ser Mahometano, como Sua Alteza por vezes lhe insinuára, elle, e todos os seus que estavão presentes, vinhão a Portugal receber o Baptismo. Respondeo-lhe EIRei em termos breves, mas de tanta sarisfaçâo, que Bemoy bem o mostrou no semblante; e despedindo-se, passou a visitar a Rainha, e o Principe D. Affonso, aos quaes em poucas palavras pedio a sua intercessão para com EIRei; e dalli o acompanhárão todos os Grandes até á casa em que estava aposentado.
Seguirão-se a esta recepção festas de touros, e Canas, e no Paço sardos de momos, e danças, a que assistio Bemoy sentado em cadeira defronte d' El Rei; e depois de instruido na Fé Catholica, foi haptizado a 3 de Novembro na camara da Rainha, e recebeo o nome de D. João, per ser EIRei seu padrinho. No dia 7 o armou ElRei Cavalleiro, e lhe deo por Armas huma Cruz de ouro em campo vermelho, e o escudo orlado com as Quinas de Portugal; com elle se baptizárão outros vinte e quatro dos seus. Neste mesmo dia, em acto solemne, fez homenagem a ElRei dos seus Estados.
1488/09/04
O almoxarife Heitor Mendes, passando a Cabo Verde em 1487, pouco tempo durou, fallecendo em 1488. N'essa vaga foi provido o escudeiro de ElRei, Gonçalo de Novaes, por carta de 4 de novembro de 1488. (Livro 15, D. João 2.º, fl. 3).
1489/05/30
D. João II entrega a D. Manuel, Duque de Beja e futuro rei D. Manuel I, o arquipélago de Cabo Verde.
1490
O tráfico de escravos na Guiné é arrendado a BARTOLOMEU MARCHIONE.
O exército fula de Koli Tenguela invade o território guineense e é derrotado pelos beafadas.
Tentativa de construção de uma fortaleza na foz do rio Senegal, por PEDRO VAZ DA CUNHA (o Bisa­gudo). Seu pai, Luís Álvares Pais, foi Mestre-Sala de D. Duarte I de Portugal e de D. Afonso V de Portugal. Bem colocado desde muito cedo na corte real pela influência de seu pai. D. João II de Portugal encarregou-o em 1489 do comando de vinte caravelas para ajuda a um príncipe senegalês de etnia Wolof ou Jolof, baptizado com nome português, D. João Bemoin. D. João Bemoin tinha a sua autoridade local gravemente afectada. Assim, D. João II, no interesse de estabelecer alianças e autoridade através dos regentes locais, enviou uma armada de 20 caravelas. No entanto, esta decisão ocultava a verdadeira natureza da missão, que era a de construir uma fortaleza nas costas do Senegal, devendo Pero Vaz da Cunha tomar capitania quando terminada. No entanto não foi bem sucedido e a expedição acaba tragicamente. Chegados à foz do Rio Senegal e iniciada a construção da fortaleza, Pero Vaz da Cunha assassina Bemoin por suspeitas de traição. João de Barros diz o seguinte sobre este episódio: "o que mais condenou à morte D. João Bemoin foi começar alguma gente adoecer por seu lugar, doentio que ele, Pero Vaz, mais temeu que a traição, como quem havia de ficar na fortaleza, depois que fosse feita" (Década I, Livro III, Capítulo VIII). Por este facto não mais foi chamado pela coroa para desempenhar qualquer outra missão. Todavia o seu nome aparece ligado ao descobrimento do Brasil, mas apenas devido ao seu interesse pela cartografia. É referido na Carta de Mestre João como detentor de um mapa que indicava "o sytio desta terra, empero aquel mapamundi non certyfica esta terra ser habytada, o no: es mapamundi antiguo e ally hallará vosa alteza escrita tam byen la mina", o que reforça a tese dos que sustentam um anterior conhecimento do Brasil. Presume-se ser o mapa uma reprodução do Andrea Bianco (1448), onde parece indicada a "ixola otinticha, a ponête 1500 mile". Como obteve esse mapa é ainda hoje motivo de especulação. Wikipedia
ÁLVARO DE ORNELAS Álvaro foi um nobre cavaleiro da Casa de D. João II, tendo nascido em Lisboa. Casou-se com Dona Eliva em 1455 na cidade de Lisboa e lá teve seus filhos. Posteriormente passou para a ilha da Madeira, se estabecendo no Caniço. Serviu ao Infante D. Henrique no movimento das descobertas marítimas, principalmente nas Canárias. Faleceu por volta de 1490 nas costas de Gambia no lugar conhecido Alcuzet. Descende de Carlos Magno, de Fernando I de Castela, de Ramiro II Rei de Leão e de Addallah ibn Muhammed Sétimo Emir de Córdova.
Em 1490, um certo Uoulof levou o chefe tribal a expulsar todos os missionários. Os soldados portugueses o mataram por isso, mas a resistência continuou a agir e impediu o estabelecimento de outros missionários.
O primeiro grande chefe dos peuls foi Tenguella Diadié Bah que, contornando o Gabú pelo Leste, atravessou o rio Senegal com o seu exército e, com o apoio dos bambaras, empreendeu a conquista do  Bambouk e do reino de Diarra. O Manding Mansa, Mahmoud II, solicitou a ajuda militar de D. João II que enviou uma embaixada a Niani, em 1490, chefiada por Pêro de Évora e Gonçalo Eanes. Contudo, embora a comitiva presenteasse o Manding Mansa, com ofertas dignas de um grande soberano, Portugal não deu apoio militar, eventualmente porque cedo se apercebera de que o poder do Mansa era mais simbólico do que real 27. O perigo acabaria por ser afastado graças aos songhai – também atraídos pelo comércio atlântico – que derrotaram Tenguella Bah, em Diarra, em 1512. Uma nova investida, em 1535, liderada por Koly Tenguella (filho de Tenguella Diadié Bah e que talvez tenha ficado para a História como o maior chefe peul), daria origem a um novo pedido de apoio de Mansa Mahmoud III, neto de Mahmoud II, a Portugal que, novamente, enviou uma embaixada mas não deu qualquer apoio militar. Das movimentações de Koly Tenguella ficou, entre outros aspectos, o patrónimo Bâ na Casamansa, na Gâmbia e na Guiné.
27 D. T. NIANE, Op. Cit., pp. 61
Ainda assim a da Boavista foi novamente doada em 1490, vitaliciamente, a RODRIGO AFONSO, com a determinação de que aquele capitão era obrigado ao pagamento do dízimo sobre os couros, sebo e carne dos animais ali criados, podendo matar os que bem entendesse, mas disso dando conhecimento ao escrivão da Fazenda. Acredita-se que a condição fosse idêntica na ilha do Maio, tendo o capitão vendido os seus direitos naquela ilha à família Coelho (10 de Junho de 1504).
1491
AFONSO ANES DO CAMPO Escudeiro da Casa do Rei “Descendente de um dos primeiros povoadores e de uma das mais ilustres famílias das ilhas...” Almoxarife de Santiago (1º mandato: 1491-1494) Carta de almoxarife de Santiago (2º mandato: 1496-1508) Assassinado por JOÃO VARELA, mouro preto (1508) – mandado matar por Egas e JOÃO COELHO, rendeiros da ilha do Maio Proprietário rural - O rei fez mercê a Fernão d’Alcáçova da fazenda por ele deixada (1531).
Certidão de AFONSO ANES DO CAMPO, almoxarife na ilha de santiago de cabo verde, em a qual faz saber ao contador e almoxarife da ilha da madeira que AFONSO LOPES de couros recebeu certa quantia de algodão que na dita ilha lhe eram devidos.
GONÇALVES DIOGO. Homem preto Pai do forro Rui Gonçalves  Armador Proprietário rural Foi língua de Guiné no tempo de D. João II (entre 1491-1521?).
Carta de quitação de AFONSO ANES DO CAMPO, almoxarife “da ilha do Cabo Verde”, referente aos anos de 1491 - 93 em que “recebeu na dita ilha os quartos das caravelas que os moradores da dita ilha armaram para a Guiné”.
ANTT, Chanc. D. Manuel, liv. 26, fl. 57 vº, ou Livro das Ilhas, fl. 68, 19-Fev-1496, in HGCV-CD, vol. I, doc. 35.
1492
Em 1492, CATARINA, escrava negra trazida da Guiné com outros escravos no resgate de Bartolomeu Marchione foi vendida a Guedelha Galite, morador em Lisboa, tendo vivido com ele cerca de dez anos. Baptizada não podia residir em casa de judeus, pelo que passara a viver em casa de Marchione.
GONÇALO PINTO Volta para o Reino (1496) Escrivão dos direitos reais de Santiago (1492-1496).
AFONSO DE MOURA é capitão-mor de Arguim até 1495
1493
João de Barros e Fernando Colombo referiram a participação de mestre JOSÉ VIZINHO, natural da Covilhã, na empresa científica das descobertas. De facto, D. João II enviara-o à Guiné para medir a altura do sol no equador. Este judeu participava com D. Diogo Ortiz e mestre Rodrigo, num conselho régio para o estudo do empreendimento dos descobrimentos. A ele deve ter sido agregado Abraão Zacuto, na década de 90, pois dele conhecemos a ordem de pagamento de cinco moedas de ouro, mandada lavrar por aquele soberano e cujo recibo foi assinado em hebraico por ele. Estávamos no ano de 1493. José Vizinho traduziu para castelhano e latim o Almanaque Perpétuo de Zacuto e as tabulas de declinação solar, que viriam a ser editados em Leiria, na tipografia dos judeus Orta.
Maad Saloum Mbegan Ndour, King of Saloum succeeded to the throne.[23]
23. ^ a b Ba, Abdou Bouri. Essai sur l’histoire du Saloum et du Rip. Avant-propos par Charles Becker et Victor Martin. Publié dans le Bulletin de l’Institut Fondamental d’Afrique Noire. pp 10-27
1494
JOÃO LOURENÇO PIMENTEL Almoxarife da ilha de Santiago (antes de 1494).
Em 1494 HIERONYMUS MÜNZER, médico e humanista de Nuremberga, viajou para a Península Ibérica, procurando em Novembro deste ano D. João II na corte real em Évora, onde conversou com o monarca português sobre questões relacionadas com a cosmografia, as viagens dos descobrimentos e aspectos económicos da expansão portuguesa. Münzer seguiu de Évora para Lisboa, onde visitou também a Casa da Mina. No fim do século XV encontramos em Portugal, além de MARTIN BEHAIM e Hieronymus Münzer, outros alemães de Nuremberga e de Augsburgo em Lisboa, todos eles mercadores: HANS STROMER, que aí faleceu em 1490, bem como ANTON HERWART, KASPAR FISCHER E NIKOLAUS WOLKENSTEIN, que acompanharam Münzer na sua viagem à Península Ibérica em 1494/95. Todas as pessoas acima mencionadas praticaram ou observaram o comércio em Portugal. As informações obtidas in loco serviram decerto às casas comerciais da Alta-Alemanha para apostar nas relações económicas com Portugal.
1494/07/07
Em 1493 fez-se o tratado de Tordesilhas entre D. Joio II e os reis de Castella D. Fernando e D. lzabel, que diz: «E como tiveram o consentirnento de sua Santidade, ordenaram a repartição d'esta concordancia, fazendo balança na ilha, das de Cabo Verde, de barlavenlo a mais occidental que se entende ser a de S.to Antonio.» Serviu, pois, esta ilha como um dos pontos de partida a uma das linhas de demarcação do Brazil.
Ficou o tratado concluido a 7 de junho de 1494, pelo qual se ajustou que tirando-se a 370 leguas ao occidenle das ilhas de Cabo Verde uma linha imaginaria, que passasse pelos pólos da terra e dividisse o globo em dois hemispherios, o occidental pertenceria aos reis de Castella e o oriental aos portugoezes para n'elles continuarem descobrimentos e conquistas.
1495
 De inuentione Africae…, do alemão Jerónimo Monetário, escrito em Latim (1495?).
1496
GABRIEL GONÇALVES Escudeiro da Casa Real Escrivão “dos direitos reais de Guiné que se arrecadam em Santiago” (almoxarifado) (1496 -?)
JOÃO GONÇALVES Almoxarife da ilha de Santiago (1496) Proprietário
1497/04/08
«Jorge Corrêa (de Sousa) - casado com D. Branca de Aguiar, filha de António da Nola e herdeira da capitania, por Carta Réfgia de 8 de Abril de 1497. Segundo capitão donatário». João Barreto
ANTÓNIO DE NOLI deixa de ser capitão donatário da Ribeira Grande. Carta régia de 8 de abril de 1497 "Por parte de Myce Antoneo genovés ficou vaga ha dita capitanja "Em 8 de Abril de 1497, existe confirmação da doação da parte Sul, correspondente à Ribeira Grande, a D. BRANCA DE AGUIAR, filha de António da Noli, “que foi o primeiro que a dita Ilha achou e começou a povoar”.
A Dona Branca de Aguiar, filha de micer António (da Noli), genovês, capitão da ilha de santiago, é concedida após a morte de seu pai, aquela capitania, para ser capitão quem com ela casar, pelo que é dada a JORGE CORREIA, fidalgo da casa real, nessa condição.
Governadores Dona Branca de Aguiar e seu marido Dom Jorge Correa de Sousa viveu na capital Ribeira Grande, no início do século XVI. Eles tiveram três filhos, e todos herdaram o cargo de governador de Cabo Verde de seus pais.
O casal nobre governou ilhas de Cabo Verde a partir de 1497 e 1520… O facto de que os únicos nobres regiam ilhas de Cabo Verde foi semelhante às situações nos Açores, Madeiras e São Tome.
Por isso; D. Manoel I. A quantos esta nossa carta virem fazemos saber que por morte de Mice Antonio genoes (genovez) capitão da ilha de Santiago na parte da ribeira Grande ficou vaga a dita capitania porquanto delle nam ficou filho baram que a per direito devesse derdar (herdar) porem avendo nós consiração (consideração) como ho dito Mice Antonio foi o primeiro que a dita Ilha achou e começou de povoar nos prove de fazer mercê da dita capitania a Dona Branca d' Aguiar sua filha para ser capitam quem com ella casasse, o qual casamento ella hade fazer com aquella pessoa que lhe nós pera yso escolhermos e a dita capitania lhe demos pera filho e neto barões lidimos e lhe demos há dita capitania com haquella jurisdiçam, remdas e direitos asy e pelh maneira que tem as capitanias os nossos capitães de nossa Ilha da Madeira e avendo nós aguora respeito aos serviços que de Jorge Correa, fidalgo da nossa casa temos recebidos e ao diamte esperamos receber e asy por symtirmos que há dita Dona Branca d' Aguyar sera delle muy bem casada me praz que tanto que ho dito Jorge Correa com ella casar per palavras de presente e o matrimonio antre (entre) elles de todo for feito e acabado d'aquelh ora por diante o avermos por capitão como de feito avemos e lhe damos e fazemos mercee da dita capitania pêra elle e filho e neto lidimos por linha direita como dito he com aquellas remdas e jurisdiçõees como tem os capitães da dita nossa Ilha da Madeira como há cima é declarado, e acontecendo se que o dito Jorge Correa falleça da vida deste mundo sem delle e da dita Dona Branqua Aguyar ficar filho Baram da dita capitania ficar asy mesmo à dita Dona li'anca d' Aguyar pêra aquém com ella casar com nosso comsyntemento  aver de ser capitão na dita Ilha na maneira sobredita; outro sy, acomtecendo se da dita dona Bramqua falecer da vida deste mundo primeiro que ho dito Jorge Corrêa sem d'elles ficar filho baram que o dito Jorge Correa aja da dita capitania pera sy e filho e neto barõees lidimos que delle descemderem e de todo ho que dito he como se nesta carta contem fazemos doaçam e mercee aos sobreditos dona Branqua d' Aguyar e Jorge Correa e por sua garda (guarda) e seguramça lhe mandamos dar esta carta assignada por nós e assellada do nosso seilo pemdemte. Dada em a nossa cidade d'Evora aos 8 dias do mês de Abril- Lopo Mexia a fez - anno do nascimento de nosso Senhor Jesus Christo de 1497 annos.
3333 ANTT, Chancelaria de D. Manuei Livro 30, f1. 62, de 8 de Abril de 1497.
A TRISTÃO DA CUNHA, fidalgo da casa real, privilégio de vizinho da ilha de Santiago em Cabo Verde. Chancelaria de D. Manuel I, liv. 28, fl. 113v
1497/05/30
Todos os judeus praticavam a sua religião livremente até serem forçados ao baptismo, todavia por lei de 30 de Maio de 1497 estipulava-se que os seus comportamentos religiosos não pudessem ser postos em causa, não podendo inclusivamente ser julgados pelo crime de heresia a não ser em tribunal régio. O confisco de bens que daí adviesse era para ser entregue aos seus descendentes e herdeiros cristãos. Esta lei foi confirmada em 1512 e 1522. Nos termos desta última confirmação, a lei deveria vigorar por 16 anos, ou seja, até 1538, contudo não se pôde confirmar se teve efeito prático depois de se iniciarem as primeiras tentativas para o estabelecimento da Inquisição em Portugal. Apenas se pôde constatar que até 1536 esta lei e consequentes confirmações foram reivindicadas junto à Cúria Romana e inseridas na bula de criação do Santo Ofício naquela data.
1497/09/13
Outros impulsos políticos como a Carta de 13 de Setembro de 1497, proibiu a venda de ferro aos negros, consagrada como uma ''mercadoria defesa".
1497/10/29
Rodrigo Afonso é capitão donatário da Boavista. É-o até 1505/01/03.
.”. Dom Manuel concedeu a Rodrigo Afonso amplos poderes sobre a capitania doada: Dom Manuel &. A quantos esta carta nossa virem fazemos saber que por parte de Rodrigo Afonso do nosso conselho foi apresentada huua nossa carta (...) E querendo lhos em alguma parte gallardoar, assim como é razom e elle merece assim por lhe fazer graça e mercê, tenho por bem e lhe faço doaçam da capetania da minha Ilha de Santhiago daquella parte della que lhe já foi assinada, que he a banda norte (...) Outro sim me praz que elle tenha em a dita terra de sua capitania a jurdiçam por mi e em meu nome do cível e crimee, resalvando moorte ou talhamento de nembro (...) Outrosi me praz que de todo ho que se ouverr de remda na dita terra de sua capitania (...) Item me praz que elle possa dar por suas cartas a terra de sua capitania forra pello forral da dita Ilha a quem lhe prouver tal condiçam que aquelles a quem a derem aproveitem atee cimquo annos, e  nam aproveitamdo que a possam dar a outrem (...).50 A Carta de doação feita por D. Manuel a Rodrigo Afonso, reservava para a Coroa portuguesa o direito de decisão sobre a pena de morte ou a mutilação de membros. Ainda obrigava o donatário a conceder terras a quem julgasse ter melhor condição para explorá-las, oque deveria ser feito em um período de cinco anos, sob pena de as terras serem confiscadas e arrendadas para outra pessoa. Em outros termos, a doação configurava um direito adquirido sob aforma de benefício, mas sempre respeitadas as condições impostas pela Coroa portuguesa. Outrossim, o recurso ao escravo africano, condição necessária para o sucesso da ocupação da ilha de Santiago, tornou-se efetivo pelo privilégio concedido aos moradores de praticarem o livre comércio de escravos na costa africana. Afinal, a própria colonização girava em torno do tráfico de escravos, basicamente concentrado nas mãos dos moradores, “os únicos que podiam adquirir escravos”.51 No decurso dos anos, entretanto, registrou-se a limitação desses privilégios (com a restrição tanto da área exclusiva como também na das mercadorias de troca, outorgada pela Carta de 1472), em parte pelos sucessivos prejuízos causados ao rei pela constante desobediência em relação a área demarcada pelo livre comércio, como também devido à interferência dos “moradores de Santiago” nas áreas comerciais exclusivas dos rendeiros e a50 ANTT, Livro das Ilhas, fl. 69 v.51 AMARAL, Ilídio do. Santiago de Cabo Verde: A Terra e os Homens. Lisboa: Memórias da Junta de Investigação do Ultramar, n. 18, 1964, p. 190. Nas páginas 190 – 193 Este autor observa que a prosperidade de dois dos maiores morgadios do interior da ilha de Santiago, o morgadio de Pico Vermelho e o Morgadio dos Mosquitos (Engenhos),decorria basicamente do fato de serem os seus proprietários os únicos autorizados a adquirir escravos para os seus engenhos.
A primeira fase do povoamento, entendemo-la como a ocupação da Boavista com o gado bravo e escravos para o pastorear. Inicia-se nos finais do século XV, precisamente quando em 1490 o duque de Beja, D. Manuel, doa a Rodrigo Afonso, que já era donatário da metade Norte de Santiago, o gado bravo da ilha da Boavista, para fins de exploração económica dos seus produtos, conforme se diz no próprio alvará de doação de 31 de Maio do referido ano, confirmado pelo próprio D. Manuel, sendo já rei, em carta de doação de 29 de Outubro de 1496.
Senna Barcellos informa que a ilha da Boavista se encontrava deserta à data da doação do gado bravo a Rodrigo Afonso, em 1490. Isto é, antes do ano de 1490 a ilha da Boavista se encontrava desabitada, encontrando-se ali apenas o gado bravo. Cruzando as duas informações, vê-se que Barcelos não considera os escravos referidos por Carreira em número suficiente para os considerar habitantes, pois nem os refere na sua informação.
Dizer que Rodrigo Afonso levou escravos da Guiné para a ilha da Boavista, subentende-se portanto que houve nesses primórdios da ocupação da ilha, sob a sua responsabilidade, alguma importação de escravos directamente do continente africano para essa ilha. Aliás, pela carta régia de 9 de Abril de 1473, ao doar-lhe a capitania do Norte de Santiago, o rei D. Afonso V outorgava-lhe “[…] todolos priuilegios framquezas e liberdades que per noso priuilegio temos outorguados aos moradores da dita ilha […]”, incluindo o de importar escravos da Costa ocidental de África.
A corroborar essa hipótese, Christiano José da Senna Barcellos escreve que, “doada a ilha, n’aquellas condições, a Rodrigo Afonso, foi este, certamente, quem n’ella introduziu os primeiros habitantes oriundos da Guiné, para pastorearem e guardarem o gado”. Neste mesmo sentido, Manuel Múrias diz que “em 1490 Rodrigo Afonso começou a exploração da Boa Vista e Maio, levando para lá escravos da Guiné e outros para a guarda de gado que para lá mandou ir de Santiago”.
Recorde-se que a bordo da 3ª viagem de Colon, na qual atingiu terra firme, seguiam pelo menos dois portugueses. Esta expedição violava de forma ostensiva o Tratado de Tordesilhas. Só pôde ser realizada com a prévia autorização de D. Manuel I, um facto ignorado pela historiografia oficial. Nestas ilhas de Boavista e de Santiago do arquipélago de Cabo Verde os seus navios foram abastecidos de víveres. Rodrigo Afonso, escrivão da fazenda do rei de Portugal, ofereceu-lhe tudo o que havia na ilha da Boavista.
Vão longe os tempos de 1480, em que o português Diogo Gomes e o genovês António di Noli, chegaram à Ilha a que deram o nome de S. Cristóvão. Dezassete anos depois, o capitão levou para ali meia dúzia de pastores. Durante várias décadas, a Ilha viveu da pastorícia.
As tartarugas que nidificam nas suas praias atraíram CRISTÓVÃO COLOMBO, que sofria de lepra - na altura, acreditava-se que a carne e o sangue de tartaruga curavam a doença.
1498
Branca de Aguiar substitui o pai, António de Noli, na capitania da Ribeira Grande.
Como é possível constatar, também a Carta de doação de D. Manuel, de 1497, à Dona Branca d’Aguiar, contraria os argumentos apresentados por Cadamosto. Nesta Carta de D. Manuel, a donatária tinha para além da exigência de contrair casamento digno, a de que somente os filhos varões herdassem. Segundo a vontade da Coroa, Jorge Correa, fidalgo da Casa Real e de digna descendência, tinha a prioridade de escolha para o casamento. Tal doação, ao invés de romper com a descendência de Antonio de Noli, prolongou-a por meio de um casamento consentido pela Coroa. Por outro lado, com esta doação pretendia-se que os bens ficassem sempre na posse de um fidalgo protegido do rei. Nesta Carta de doação, a mesma teria os mesmos direitos, jurisdições e rendas da capitania da ilha de Santiago. Note-se uma sucessão imposta e limitada pelo casamento, tendo como objetivo resguardar a imagem do “descobridor” da ilha de Santiago e fidalgo da Casa Real. Esta imposição por parte da Coroa portuguesa garantia, para sempre a sucessão da capitania para os filhos e netos varões.
Segundo as Ordenações Afonsinas, fidalgos são todos aqueles que descendem de “boa linhagem” até 4º grau, herdando as boas maneiras, evitando a má conduta e do erro, por isso com vergonha da prática de conduta reprovável. Em outros termos, homem de bem (homem bom), mostrando tanto a nobreza como a bondade deve resguardar a prática de determinados atos. Esta “gentileza” se adquiria de três maneiras diferentes: por linhagem, como neste caso, pelo saber ou ainda por bondade. Ordenações Afonsinas, Liv. I, t. LXIII, §§ 6 – 8:  “...filhos-dalgo devem ser escolhidos que venham de direita linha de padre, e de madre, e d’avoo atta quarto graao, a que chamam visavoos...”
Cf. o Diploma de doação de 19 de Setembro de 1462 e a Carta régia de 8 de Abril de 1497, “[…] que faz doação da capitania da Ribeira Grande a quem casasse com D. Branca de Aguiar, filha do mice António genovês que, afirma o Rei, ‘foi o primeiro que a dita ilha [Santiago] achou, e começou a povoar’, segundo fora informado”.
O segundo donatário *** da Ribeira Grande [do Sul Santiago], que hoje é chamado de Cidade Velha, foi BRANCA AGUIAR, filha do fundador da Ribeira Grande Antonio de Noli. BRANCA AGUIAR herdou tudo o que pertencia a seu pai, incluindo seus títulos, ela estava no comando de 08 de abril de 1497 - 27 de outubro de 1526. Ela era casada com Jorge Correia um nobre Português, que se tornou co-regente.
PERO DE GUIMARÃES O corregedor Pêro Guimarães queixa-se assim ao rei por ter sido chamado de volta para o Reino por causa de queixas feitas contra ele pelos homens poderosos de Santiago: “…fui eu daqui emprazado a vossa corte por ditos de testemunhas falsas e pessoas /…/ que contra mim testemunharam /…/ perante vosso corregedor da corte por cujo respeito me mandar ir [e] andei e acerca de um ano me mostrei inocente e livre por vossa sentença em que gastei muita parte de minha fazenda…”  Para que os corregedores possam exercer o poder que lhes foi delegado, Pêro Guimarães aconselha que o rei: “…por si se informasse deles (corregedores) e sem ouvir contra eles outra pessoa os castigasse” já que “ nesta ilha há pessoas que dizem que se o corregedor que Vossa Alteza a ela mandar não for de suas vontades que com mui boas testemunhas falsas os farão sair mais que a passo…”
1499
GONÇALO PAIVA Cavaleiro da Casa Real O rei manda-o à Serra Leoa. Contrabandista – comerciou com ferros nos Rios da Guiné (1499) Armador (1499) Proprietário rural (1499)

FERNÃO SOARES é capitão-mor de Arguim até 1501

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